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Slavoj Zizek
Para filósofo esloveno Slavoj Zizek,, a curto prazo crise econômica tende a criar
coordenação global e a fortalecer o capitalismo. As pessoas perderam seu
"mapeamento cognitivo", e está em curso uma disputa, ele diz, para ver qual
análise sobre a crise "vai vencer".
Eis o artigo.
Seja como for que você o veja, não há dúvida de que o filósofo esloveno marxista
cultSlavoj Zizek é um polemista intelectual nato. Autor de uma série de livros
provocantes sobre política, psicanálise, ideologia e cinema, ele faz palestras
surpreendentes em todo o mundo justapondo teoria marxista, psicanálise freudiana
e cultura pop.
"Para explicar em meus termos stalinistas, este restaurante não tem um perfil
ideológico claro", ele brinca.
Pergunto a ele sobre a crise financeira, esperando alguma pirotecnia política sobre
os estertores de morte do capitalismo. Será que a crise pressagia a revolução?
"Não, não, não. Sou um marxista extremamente modesto", ele responde em tom
um tanto quanto decepcionante. "Não sou uma pessoa catastrófica. Não estou
dizendo que a revolução esteja à espreita na esquina. Tenho plena consciência de
que qualquer solução comunista à moda antiga está fora de questão."
Ele insiste, porém, que a crise financeira acabou com a utopia liberal que floresceu
após a queda da União Soviética em 1991 e toda a conversa grandiosa sobre o "fim
da história". Os ataques terroristas de setembro de 2001 e o derretimento
financeiro explodiram o mito segundo o qual a economia de mercado e a
democracia liberal têm todas as respostas.
Estado de emergência
Nesse sentido, ele sugere que o progressista Barack Obama poderá um dia ser
incluído no rol dos melhores presidentes conservadores na história dos Estados
Unidos.
Mas, diz Zizek, mesmo que o capitalismo seja temporariamente consertado, isso
não ajudará em nada a resolver suas contradições inerentes. O alarmante colapso
da sociedade levará a novas formas de apartheid e estados de emergência.
E afirma que São Paulo está se metamorfoseando numa versão real do filme
"Blade Runner, o Caçador de Androides" (1982). A cidade hoje tem 70
heliportos, e os ricos se deslocam num nível diferente dos pobres.
O capitalismo, ele acredita, é incapaz de solucionar os maiores desafios de hoje: a
catástrofe ambiental e os abusos da tecnologia de informação, os direitos de
propriedade intelectual e a biogenética. As sociedades precisam inventar novas
formas de propriedade e de bens comuns, ou então irão morrer.
"A principal crítica que faço ao capitalismo liberal não é que ele seja prejudicial,
mas que não pode durar para sempre. O comunismo precisa ser reinventado",
diz Zizek.
Disputa de interpretações
"O problema hoje é que, quando há caos e desordem, as pessoas perdem seu
mapeamento cognitivo. Então é uma disputa aberta para ver qual interpretação vai
vencer", diz ele. "Nunca esqueça que foi assim que Hitler venceu."
De acordo com Zizek, a razão pela qual Hitler chegou ao poder nos anos 1930 foi
que ele ofereceu a interpretação mais atraente de acontecimentos desastrosos. Ele
simplesmente lisonjeou os alemães, afirmando que seu Exército tinha sido traído na
Primeira Guerra Mundial e atribuindo toda a culpa por isso aos judeus.
Pedimos uma salada de frutas. Mas será que pessoas como Zizek deveriam estar
passando tanto tempo procurando entender o mundo, quando, como insistiu Marx,
o xis da questão é mudar o mundo? Zizek, o marxista modesto, diz que os tempos
em que vivemos são tão extraordinários que precisamos compreender plenamente
o que está acontecendo antes de podermos agir de modo sensato. "Precisamos nos
afastar, refletir, pensar", diz ele.
O papel dos filósofos, na visão dele, é ajudar a lançar luz sobre as perguntas que as
sociedades deveriam formular, em lugar de apresentar soluções prontas. "Me sinto
como um mágico que mostra apenas cartolas, nunca coelhos." comenta que o que
o fascina especialmente é a batalha ideológica em torno da interpretação da crise
financeira. A ideologia governante procura transferir a culpa do sistema capitalista
global, como tal, para seus desvios acidentais -como a regulamentação
excessivamente frouxa ou a corrupção das grandes instituições financeiras.