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O Coronel de Infantaria Leal foi declarado aspirante-a- sistema de defesa do Brasil. Como objetivos
oficial pela Academia Militar das Agulhas Negras em 1983. específicos, foram delineados os seguintes:
Possui os cursos de Aperfeiçoamento de Oficiais, de Comando e
Estado-Maior, e de Política, Estratégia e Alta
conhecer a abordagem conceitual do tema;
Administração do Exército. Participou identificar aspectos relevantes deste modal
do Programa de Treinamento Militar e de conflito e conhecer as lições aprendidas do
Cooperação em Inglês, OTAN STANAG caso ucraniano.
6001 (Canadá-2011). Comandou o A seguir, a guerra híbrida será discutida,
Batalhão de Comando e Serviços da
Escola de Sargentos das Armas, o 7º
tendo-se presente que a competência essencial
Batalhão de Infantaria Blindado e o 2º de uma força armada é defender a Pátria,
Batalhão de Infantaria de Força de Paz preparando-se para dissuadir ou vencer
do 16º Contingente Brasileiro no Haiti. potenciais inimigos, devendo essa força, entre
Foi transferido para a reserva remunerada outros aspectos, manter-se atualizada sobre a
em 2013, quando gerente do Projeto Estratégico Guarani, no
Escritório de Projetos do Exército, Estado-Maior do Exército.
evolução da arte da guerra. Finalmente, serão
Atualmente, é analista do Centro de Estudos Estratégicos do apresentados os seus possíveis reflexos para
Exército, que chefiou em 2010 (lealbrabat216@hotmail.com). o sistema de defesa do Brasil.
“Se existe uma postura mais perigosa, que pressu- CONSIDERAÇÕES INICIAIS
por que uma futura guerra será exatamente como Nas palavras de RÁCZ (2015), a expressão
a anterior, é imaginar que ela será tão diferente guerra híbrida foi utilizada pela primeira
que se possa ignorar as lições extraídas dessa últi- vez em 2002. Segundo esse autor, foi o Major
ma.” (SLESSOR, 1936) William J. Nemeth, do Corpo de Fuzileiros
Navais dos Estados Unidos da América (EUA),
Algumas pessoas, certamente, afirmarão quem abordou o tema originalmente em sua
que a guerra híbrida não passa de tautologia, tese intitulada Future War and Chechnya: a
isto é, uso de palavras diferentes para expressar Case of Hybrid Warfare.
uma mesma ideia. É uma possibilidade, mas Caracterizando a falta de alinhamento
que não pode prescindir de estudo visando das percepções referentes ao tema,
a trazer às luzes o conhecimento acerca constata-se que há divergências, dentre
do assunto que, recentemente, ganhou outros aspectos, inclusive com relação
relevo internacional nos meios acadêmico à autoria da denominação desse tipo de
e militar. Embora pouco explorados no conflito. Divergindo de Rácz, estudiosos
Brasil, os conflitos híbridos passaram a ser como GUINDO, MARTÍNEZ e GONZÁLES
melhor focalizados pelos países integrantes (2015, p. 4) atribuem a Mattis y Hoffman a
da Organização do Tratado do Atlântico primeira referência à denominação de guerra
Norte (OTAN) e pela Rússia, ainda que com híbrida, em artigo publicado em 2005, na
denominações diversas, especialmente em revista Proceedings, sob o título Future
razão dos acontecimentos no leste da Ucrânia. Warfare: The Rise of Hybrid Wars, texto
O objetivo geral deste artigo é investigar em que, ao discorrerem sobre os EUA, os
a guerra híbrida e seus reflexos para o autores alertavam que a superioridade desse
novembro de 2009
D
hybrid warfare: 92
Explorar Todo o mundo 2004 - presente Todas as categorias Pesquisa na web do Google Por conseguinte, segundo
esse autor, a expressão
guerra híbrida não foi
Comparar Termos de pesquisa
incorporada à doutrina do
Guerra Hibrida
exército norte-americano,
+Adicionar termo
Termo de pesquisa
que doutrinariamente
considera as operações no
Não há volume de pesquisas suficiente para exibir gráficos. amplo espectro.
Figura 2 – Volume de pesquisas feitas na internet Caracterizando a
rapidez da evolução do
pensamento militar dos EUA, verifica-se que
e pela crescente relevância que o tema tem a sua Estratégia Nacional Militar (EUA, 2015)
assumido no âmbito internacional, devido ao discorre sobre o assunto explicitamente, o
seu alegado emprego no conflito ucraniano,
que cria melhores condições para o preparo
que ele merece ser estudado, a fim de
de suas forças armadas em face desse tipo
identificar-se a sua possível evolução e, dessa
de conflito, que deverá persistir. Segundo
forma, seus reflexos para a defesa brasileira.
esse documento, os conflitos híbridos podem
Em 2013, o então Chefe do Centro de
consistir em ações de forças militares que
Doutrina do Exército publicou artigo sobre
assumem uma identidade não estatal, ou
as operações no amplo espectro, comentando
envolver capacidades combinadas das
sobre a relevância que os estudiosos da
guerra têm dado ao “ambiente híbrido de organizações extremistas violentas. A citada
ameaças”, acrescentando que, nesse contexto, estratégia considera que essa é uma área de
são estabelecidos conceitos como o de guerra conflito em que atores diversos misturam
híbrida, dentre outros (ARAÚJO, 2013). técnicas, capacidades e recursos para atingir
Apesar de citar essa expressão, o autor não seus objetivos. Ela, ainda, esclarece que o
tece outras considerações específicas sobre o conflito híbrido (figura 3) mistura forças
assunto que delineiem o seu conceito. convencionais e irregulares para criar
Como se vê, o tema é atual, relevante e ambiguidade, manter a iniciativa e paralisar
carece de atenção dos estudiosos dos assuntos o adversário, dificultando o processo de
relacionados à defesa nacional. tomada de decisão e reduzindo a velocidade
de coordenação de respostas efetivas. Tal
ABORDAGEM CONCEITUAL modal, de acordo com esse documento, pode
Será a guerra híbrida apenas um nome incluir o uso de forças militares tradicionais
moderno para um procedimento antigo? Essa ou sistemas assimétricos.
é a percepção de BOOT (2015, p. 11), o qual A OTAN tem estudado o tema, conforme
acrescenta que essa prática se tornou mais declarações de militares como o General
Conflito Híbrido:
Emprego combinado de forças conven-
cionais e irregulares para criar confusão,
conquistar a iniciativa e paralisar o inimigo.
Pode incluir o emprego de sistemas milita-
res assimétricos e tradicionais.
PROBABILIDADE
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Mario Lucio Alves de. Operações no Amplo Espectro: novo paradigma do espaço de batalha.
Revista do Exército Brasileiro. Brasília, ano 001, ed. 001, jan. a mar. 2013. Disponível em <http://www.cdoutex.
eb.mil.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=1196>. Acesso em 31 ago. 2015.
BEAUFRE, André. Introdução à Estratégia. Trad. Luiz de Alencar Araripe. Rio de Janeiro: Biblioteca do
NOTAS
[1] Disponível em < https://www.google.com.br/trends/explore#q=Hybrid%20Warfare>. Acesso em 18 set.15.
[2] Alusão jocosa ao Tratado de Ottawa, oficialmente conhecido como a Convenção sobre a Proibição do Uso,
Armazenamento, Produção e Transferência de Minas Antipessoal e sobre a sua Destruição, promulgada no Brasil
pelo Decreto nº 3.128, de 5 de agosto de 1999 (BRASIL, 1999). Para dados da ONU, ver: <https://treaties.un.org/
pages/ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=XXVI-5&chapter=26&lang=en>. Acesso em 2 AGO 15.