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RESUMO
Os métodos de ensino e aprendizagem tradicionais, traduzidos por uma postura passiva dos estu-
dantes em sala de aula, já não se mostram mais tão eficazes. O objetivo deste estudo consiste em
analisar e comparar, na visão dos discentes, o desenvolvimento de competências, ao cursarem uma
disciplina utilizando metodologias ativas, em relação às demais específicas do curso. A pesquisa en-
volveu 25 estudantes que foram submetidos a aulas expositivas dialogadas, mescladas com princípios
das seguintes metodologias ativas: Problematização; Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e
Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), na disciplina “Processos na Indústria de Bebidas”. Espe-
rava-se que o estudante, ao final do estudo, pudesse compreender o benefício do método vivenciado,
quando comparado às demais disciplinas específicas do curso, no que diz respeito à participação
e aquisição das competências de resolução de problemas, trabalho em equipe, comunicação oral e
escrita. A premissa principal foi constatada, principalmente reforçada pelo retorno positivo dos estu-
dantes quanto ao envolvimento e à aquisição de conhecimento.
Palavras-chave: Metodologias ativas; resolução de problemas; desenvolvimento de competências;
graduação; engenharia.
ABSTRACT
Active teaching-learning methodologies reflected by a student’s passive attitude in the classroom are
no longer effective. The objective of this article is to analyse and compare, from the student’s perspec-
tive, the development of aptitudes when attending a subject using active methodologies, in relation to
other specific subjects. The research involved 25 students who were submitted to expositive classes
combined with principles of the following active methodologies: Problematization, Problem-Based
Learning (PBL), and Case-Based Learning (CBL) in the subject “Processes in the Beverage Indus-
try”. At the end of the study, it was expected that the students could perceive the benefits of the
method when compared to other specific subjects of the course, regarding student’s participation and
achievement of problem solving, teamwork, oral and writing communication skills. These premises
were verified and there was a positive return from the students regarding the involvement and acqui-
sition of knowledge.
Keywords: Actives methodologies; problem solving; development of skills; university graduate; en-
gineering.
uma ruptura com a forma tradicional de ensinar discente dentro da sala de aula, além de desen-
e aprender. volver competências que são importantes para a
Por sua vez, a ABC se apresenta como atuação profissional.
uma estratégia utilizada para o processo de en-
sino e aprendizagem, permitindo a coexistên- METODOLOGIA
cia com outras metodologias. Assim como a
ABP, ela possui seus princípios fundamentais As pesquisas qualitativas em educação,
baseados na capacidade de relacionar teoria e segundo Bogdan e Biklen (1994), apresentam
certas características comuns: o ambiente sendo
prática, de buscar informações e utilizá-las no
o fornecedor para os dados, o caráter descritivo,
processo de tomada de decisão em diferentes
o maior interesse pelo processo do que pelos re-
áreas do conhecimento, além da formação de sultados em si, além de os pesquisadores, nesse
um estudante autônomo (STRUCHINER; GIA- tipo de análise, tenderem a tratar dados de ma-
NELLA, 2005). neira indutiva.
Esse tipo de metodologia surgiu devido Este estudo, realizado no primeiro se-
à preocupação de Barrington (1997) em relação mestre de 2017, apresenta os resultados de
às alterações profundas impostas pela ABP na uma pesquisa-ação estratégica, classificada por
estrutura organizacional do curso de medicina. Franco (2005) como um modelo em que as mo-
O autor propôs a metodologia como estratégia dificações são planejadas sem a participação
de transição entre o currículo tradicional e o direta dos elementos analisados (estudantes),
currículo da ABP. de forma que os resultados e análises são feitos
Esse enfoque baseado em casos permite exclusivamente pelos pesquisadores.
participação ativa do estudante no processo de A pesquisa foi realizada com 25 estudan-
solução, na reflexão sobre os aspectos críticos tes de Engenharia Química da UFV, na discipli-
e, também, nas situações de caso interativo, na optativa “ENQ472 – Processos na Indústria
para obtenção de feedbacks e análise de suas de Bebidas”, com carga horária de 60 horas,
decisões. Para Struchiner e Gianella, a ABC contemplando aulas sobre cerveja, cachaça,
não só possibilita ao estudante o exercício de vinho e refrigerante. Não houve pré-requisitos
para cursá-la e, por esse motivo, a sala de aula
solucionar problemas, mas também
continha ingressantes no curso de 2011, 2012,
[...] que este possa desenvolver uma postu- 2013, 2014 e 2015.
ra que conduza à geração de questões e à Para análise dos dados, agruparam-se os
coleta de informações que o auxiliem para discentes em Grupo 1 (G1) e Grupo 2 (G2). O
que, ele próprio, se torne capaz de definir e G1 envolveu os 25 discentes em sua totalidade.
conceituar os problemas e persiga soluções Já o G2 referiu-se aos discentes que estavam
compatíveis diante de cada nova situação matriculados desde o início do período, com
(2005, p. 38). exceção dos ingressantes de 2015, dado que
De fato, a ABC é uma metodologia ativa eles tiveram menor contato com as disciplinas
específicas do curso e, por isso, foram excluídos
de ensino e aprendizagem, a partir de contex-
para análises que dizem respeito à comparação
tos que envolvem situações reais e a resolução
entre a disciplina ENQ 472 e as demais discipli-
de problemas complexos, proporcionando aos nas de código ENQ, totalizando 18 estudantes.
discentes a oportunidade de se tornarem pensa- Todos assinaram um Termo de Consen-
dores reflexivos que podem utilizar o conheci- timento Livre, autorizando o uso dos dados pro-
mento para fins práticos. duzidos por esta pesquisa e assegurando total
Assim, por meio da aplicação da ABC, sigilo dos envolvidos. Dessa forma, atribuiu-se
com princípios da ABP e da Problematização, um código com letra Ax para cada um deles, em
em uma disciplina optativa do curso de Enge- que x varia de 1 a 25.
nharia Química da UFV, acredita-se que essa Um primeiro questionário (Q1) foi apli-
metodologia de ensino e aprendizagem possa cado aos estudantes no primeiro dia de aula,
contribuir para uma participação mais ativa do com o intuito de avaliar sua posição em rela-
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ção às disciplinas específicas. A primeira aula de cerveja. Foram formadas três equipes de seis
também foi utilizada para ambientação e apre- pessoas e uma equipe composta por sete. Para
sentação da metodologia a ser utilizada para os a apresentação dos resultados, foi solicitado um
estudantes. documento de 15 a 20 páginas e uma apresen-
Optou-se pela implantação de um mo- tação oral, que seguiu um modelo de Banca, no
delo que consistiu em mesclar as diretrizes de qual três pessoas, que tinham afinidade com a
algumas metodologias ativas (ABP, Problema- área em diferentes perspectivas (acadêmica, co-
tização e ABC), com aulas expositivas dialoga- mercial e prática), compuseram-na. Além disso,
das. Tal escolha se justifica pelo fato de as me- foi realizada uma Pré-Banca, em que o profes-
todologias ativas causarem certo desconforto se sor teve o intuito de preparar os estudantes para
implantadas em sua totalidade (ADLER, 2015). a Banca Final, a fim de alinhá-los com os re-
Isso também foi importante para que ocorres- sultados esperados e possíveis questionamentos
se certo nivelamento entre os estudantes, por dos examinadores. Nessa situação, o professor
se tratar de uma turma heterogênea e pelo fato tem papel importante, o qual, segundo Freire
de as aulas expositivas também terem sua rele- (1996, p. 14), é o de viver “[...] a certeza de que
vância no processo formativo, já que permite faz parte de sua tarefa docente não apenas ensi-
“[...] compreender materiais ou assuntos não nar os conteúdos mas também ensinar a pensar
disponíveis por outros meios ou novos conteú- certo”.
dos que ainda não apareceram em livros ou arti- Os problemas menores 1 (P1) e 2 (P2)
gos”, além de conseguir atingir muitos ouvintes apresentaram grau de complexidade inferior em
de uma vez (NEVES JÚNIOR; GUIMARÃES; relação ao PM, com duração média de duas se-
FERNANDES, 2012, p. 4). manas, em que houve aula expositiva dialogada
Para isso, antes da apresentação de cada sobre o tema, seguida de uma sessão tutorial.
problema, o professor lecionava uma aula ex- Nesse caso, formaram-se cinco equipes com
positiva dialogada sobre o tema a ser estudado,
cinco membros cada e, para a apresentação,
seguido das sessões tutoriais que foram emba-
utilizou-se o modelo da dinâmica de rotação,
sadas na ABP. Nestas, os estudantes eram esti-
em que as equipes elaboraram um cartaz sin-
mulados a discutir sobre o problema dado, se-
tetizando suas soluções, seguido de feedback
guindo os passos da metodologia e o professor
atuando como tutor das equipes. dos membros das outras equipes para posterior
A fim de aumentar o dinamismo da dis- preparação e apresentação ao professor. Para o
ciplina e, com isso, se aproximar ainda mais último problema menor (P3), optou-se pela uti-
do ambiente profissional, os prazos, formas de lização de uma dinâmica com duração de um
apresentação dos resultados e divisão das equi- dia, inspirada na já utilizada “One day, one pro-
pes foram variando ao longo do período (RI- blem”, proposta por O’Grady e Alwis (2002).
BEIRO, 2005). O princípio que norteou a di- Dessa vez, três equipes foram formadas.
visão das equipes em todos os problemas foi a Avaliações por pares e autoavaliações
diversidade, relacionada a sexo, ano de ingres- também foram realizadas ao longo da discipli-
so e, principalmente, estilos de aprendizagem, na, sendo utilizadas para cálculo da nota final
sendo estes constatados por meio do teste de por meio de valores ponderados, ou seja, cada
Kolb (KOLB, 2015). Os problemas eram ela- estudante recebeu uma nota diferente, baseada
borados pelo professor da disciplina, buscando na soma do seu desempenho avaliado por si
por temas que despertassem o interesse dos es- mesmo e pelos membros da equipe (RIBEIRO,
tudantes e, ao mesmo tempo, permitissem que o 2005).
conteúdo da ementa fosse cumprido durante as Como forma de complementar o co-
aulas e estudos individuais. nhecimento adquirido, uma prova foi aplicada,
O Problema Maior (PM) foi o mais com- dividida em dois momentos: no primeiro, os
plexo em comparação aos demais e, por isso, estudantes a respondiam individualmente e, no
sua duração foi de aproximadamente dois me- segundo, sentavam-se em equipes e discutiam
ses e meio, com três sessões tutoriais distribuí- as possibilidades de respostas juntamente aos
das ao longo do período e uma visita à produção demais colegas e professor.
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APRESENTAÇÃO E ANÁLISE
DOS RESULTADOS
A aplicação do sistema de avaliação sugere que as disciplinas ENQ não vêm forne-
por pares gera um estímulo ao desempenho in- cendo problemas reais nos quais os estudantes
dividual, ao refletir, na nota final, o empenho possam buscar soluções, concomitantemente à
de cada um dentro do trabalho executado pela integração dos conhecimentos. A metodologia
equipe, estimulando a participação por acredi- aplicada submete os estudantes a uma nova for-
tar que o esforço pessoal será reconhecido. Isso ma de aprender que preza pela aproximação à
está demonstrado na fala de A04: “Estimula o realidade, atrelada a uma escassez de conteúdo
aluno a ser um bom membro dentro da equipe”. previamente lecionado e despertando curiosi-
Entretanto, um ponto a ser melhorado consis- dade e interesse que levam os estudantes a de-
te na importância do retorno dessas avaliações senvolverem aptidões como a resolução de pro-
de forma ágil, a fim de repassar ao estudante blemas (CEPE/UFV, 2016).
o ponto de vista dos demais colegas, conforme Observou-se que, ao longo do semestre,
demonstrado por um deles: “Acho que faltou os estudantes se sentiram mais confiantes ao re-
feedbacks ao longo das aplicações” (A01). ceberem os últimos problemas, por já estarem
Uma forma de aprimorar a participa- acostumados com a metodologia, tendo desen-
ção dos estudantes, nas disciplinas ENQ, seria volvido competências próprias para construir
a mudança na abordagem do conteúdo, evi- o caminho de uma solução: “Eu me senti ani-
denciando como o aluno poderia atuar, com o mada em estudar para resolver os problemas e
conhecimento da disciplina, em sociedade ou ao ler vários arquivos do assunto dado para in-
em benefício de sua própria comunidade. Essa terligar os pontos do processo e abrir um leque
abordagem valoriza o conhecimento transfor- de possíveis soluções” (A25). As variações nas
mando-o em ferramenta. Na ENQ472, esse dinâmicas propostas no tempo para execução,
efeito foi observado em decorrência da contex- membros da equipe, ou mesmo formas de apre-
tualização dos problemas utilizados, convidan- sentação podem ser fatores que aumentaram o
do os estudantes a resolvê-los. interesse, ao diminuir a monotonia, tendo em
No Gráfico 2, observa-se que 15 estu- vista as palavras de A21: “As aulas dinâmicas
dantes acreditaram nas disciplinas ENQ como com interação entre os alunos e professor tor-
estimuladoras do desenvolvimento da habili- nam o ambiente mais agradável, incentivando o
dade em resolver problemas na metade, pou- processo de estudo e aprendizado”.
ca ou nenhuma das vezes. Dos que cursaram Além disso, a formação de um enge-
ENQ472, 17 afirmaram que esse objetivo foi nheiro, seja para a área industrial ou mesmo
cumprido muitas vezes ou plenamente. acadêmica, preza por um profissional que seja
Gráfico 2 – Percepção dos estudantes em relação à ha-
dotado da habilidade em resolver problemas
bilidade de resolução de problemas nas disciplinas de (CNE/CES, 2002) e, sendo assim, o estímulo
código ENQ e na ENQ472. a tal competência se torna importante no seu
processo formativo. É interessante notar que
os próprios estudantes identificam nessa com-
petência algo próximo à realidade que viverão
após a graduação: “A resolução de problemas
reais da indústria nos dá melhor noção de como
o engenheiro químico pode atuar no mercado
de trabalho” (A11).
Além do desenvolvimento da competên-
cia de resolução de problemas, a metodologia
Fonte: Autores desta pesquisa.
se mostrou um eficiente processo para motivar
A dinâmica das aulas das disciplinas e despertar a vontade de aprender do estudante:
ENQ adota um modelo conteudista sem aplica- “A resolução de problemas é bem mais envol-
ções práticas, na maior parte das vezes, como vente do que ‘teorias maçantes’. Agrega mais
manifestado por A10: “[A ENQ472] Permitiu significado ao conteúdo a ser estudado” (A02).
a resolução de problemas práticos, o que não Outro consenso apresentado por esse
se vê nas matérias normais”. A fala do discente documento é reforçado pela proposta da maté-
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ria lecionada. A partir do Gráfico 3, observa-se (A25); “[...] perfis diferentes enriquecem equi-
que 10 estudantes acreditaram que as discipli- pes” (A12).
nas ENQ estimularam metade ou poucas vezes As sessões tutoriais exigiam um contato
um ambiente para desenvolver competências interpessoal dentro de sala, contornando a difi-
de trabalho em equipe. Por outro lado, 12 es- culdade em encontrar horários comuns para dis-
tudantes acreditaram que a ENQ472 estimulou cutir aspectos dos problemas propostos, promo-
plenamente esse ambiente. vendo a entrega de trabalhos produzidos pela
Gráfico 3 – Percepção dos estudantes em relação à habi- contribuição de todos: “[...] difícil encontrar um
lidade de trabalhar em equipe nas disciplinas de código horário, pois cada um é de um ano diferente,
ENQ e na ENQ 472. aí acaba que mesmo sendo em grupo a gente
faz as coisas separados, e nas sessões tutoriais a
gente acaba discutindo” (A14). Tais interações
já foram verificadas positivamente por Herzer
et al. (2015).
Entende-se que os processos avaliativos
também são uma forma de agregar conhecimen-
to e gerar interação entre os discentes, como
ocorreu na aplicação da prova de ENQ472, em
Fonte: Autores desta pesquisa. que foi utilizada não somente avaliação con-
teudista, mas também propiciou ambiente para
Um fator que pode explicar essa dife-
feedbacks imediatos e consolidação do aprendi-
rença é a organização do espaço. Geralmente,
zado em equipe, ao criar um ambiente que per-
a maioria das disciplinas ENQ é ministrada em
salas de aula onde as carteiras são enfileiradas e mitiu a troca de conhecimentos a respeito dos
não há atividades que favoreçam o contato in- conteúdos abordados em sala de aula.
terpessoal. Acredita-se que ceder momentos em
Para o desenvolvimento dessa habili- sala de aula para a promoção da discussão, a
dade, entendeu-se que um bom ambiente seria fim de garantir o intercâmbio de ideias, auxilia
dotado de mesas circulares e materiais com- na construção do conhecimento de forma autô-
partilhados, no qual os discentes fossem esti- noma e colaborativa: “O método me ensinou a
mulados à troca de ideias e discussões, como estudar sozinha e a saber procurar nas fontes
já abordado por Paiva et al. (2016). Com esse disponíveis, além de me aprimorar no quesi-
entendimento, buscou-se uma sala apropriada à to trabalho em equipe e discussão de ideias”
realização das atividades. (A25).
Os três estudantes, que acreditaram que O Gráfico 4 apresenta dados referentes a
as disciplinas ENQ não estimulam um ambien- 14 estudantes, que acreditam, em metade, pou-
te de trabalho em equipe, consideraram as pro- ca ou nenhuma vez, serem as disciplinas ENQ
postas de trabalho em equipe insuficientes para estimuladoras do desenvolvimento de compe-
o desenvolvimento da referida habilidade. tências de comunicação oral e escrita.
Os dados positivos relacionados à Gráfico 4 – Percepção dos estudantes em rela-
ENQ472 podem ser corroborados principal- ção à habilidade de comunicação oral e escri-
mente pela dinâmica das equipes que propu- ta nas disciplinas de código ENQ e na ENQ472.
nham uma intensa variação entre os membros
e estilos de aprendizado, de forma que, ao final
do semestre, cada estudante havia trabalhado
com grande parte dos colegas.
A montagem das equipes pelos pesqui-
sadores, sem autonomia de escolha para os
discentes, foi vista de maneira positiva: “As
equipes mostram os diferentes tipos de pessoas
que encontraremos no mercado profissional” Fonte: Autores desta pesquisa.
Entende-se que algumas disciplinas têm ciplinas ENQ, como já observado por Ribeiro
avaliado o conhecimento dos estudantes somen- (2005) e confirmado, respectivamente, por A13
te por meio de provas escritas, em detrimento e A14: “A única desvantagem é o excesso de
da comunicação oral. Esses 14 discentes acre- trabalho semanal”; “O método demanda mais
ditaram que a avaliação escrita não mensura, de tempo que uma disciplina comum”. O estu-
maneira efetiva, a capacidade de comunicação dante de Engenharia Química da UFV possui
em geral. Essa crença pode ser gerada devido a uma média de disciplinas em torno de 24 horas
disciplinas que se restringem a avaliações es- semanais, além de envolver-se em atividades
sencialmente matemáticas, em que a habilidade extracurriculares, ou seja, a metodologia exige
de comunicação oral é prejudicada. maior carga horária do estudante, e pode preju-
Em relação à ENQ472, 16 estudantes dicar outros compromissos acadêmicos.
acreditam que houve um estímulo para um am- Perguntados se cursariam outra discipli-
biente propício ao desenvolvimento da habili- na nos moldes da ENQ472, 24 estudantes res-
dade de comunicação oral/escrita. A busca pelas ponderam positivamente. Percebe-se que eles
soluções dos problemas despertou nos estudan- veem retorno no modo de aprendizagem utili-
tes uma curiosidade em obter embasamento sa- zado, mesmo que essa demande um tempo aci-
tisfatório, refletindo em um nível de aprofun- ma da média, como relatado por Garcia (2014).
damento teórico maior do que o esperado pelo Uma alternativa, para minimizar esse efeito po-
professor, e também revelado pelos estudantes deria ser a destinação de parte dos créditos da
em estudo realizado por Ribeiro (2005). disciplina ao estudo individual. Dessa forma, as
Nesse sentido, a comunicação escrita foi horas utilizadas para esse estudo seriam conta-
estimulada em consequência do contato cons- bilizadas ao final do semestre.
tante com artigos e materiais científicos da área: Por fim, tratando-se de uma metodolo-
“O fato de buscar diversas fontes também faci- gia dinâmica, foi comum que mudanças ocor-
lita que o aprendizado seja absorvido” (A14). ressem no decorrer da disciplina em benefício
O interesse também refletiu em uma notável da sistemática das aulas: “Erros terem sido
busca pelos feedbacks dos trabalhos, a fim de identificados rapidamente e ter havido esforços
compreenderem seus erros e acertos. para melhorar os pontos levantados” (A23). A
A ENQ472 reforçou a importância da flexibilidade para realizar modificações favore-
comunicação ao propor apresentações orais em ceu um ambiente de desenvolvimento em que
todos os problemas, exigindo também objeti- não só estudantes aprenderam, mas também o
vidade dos estudantes: “[A ENQ472] Fez com professor e pesquisadores.
que cada um desenvolvesse a habilidade de ser
sucinto” (A25). Ou seja, pode-se inferir que o CONSIDERAÇÕES FINAIS
ambiente da disciplina apareceu como um am-
biente para que os estudantes apresentassem e O presente estudo ratifica a importância
defendessem suas ideias, além de favorecer o da aplicação de metodologias ativas de apren-
poder de argumentação, enriquecendo a expe- dizagem na graduação em engenharia, mos-
riência, como evidenciado por Guimarães et al. trando-se eficiente ao oferecer uma disciplina
(2016). (ENQ472) como base de comparação com as
Após as análises com o G2, o G1 foi metodologias tradicionais. Dessa forma, evi-
analisado a fim de se compreender o nível de denciou-se a eficácia do método ativo para atin-
envolvimento gerado pela disciplina. Dentre os gir resultados como: maior participação e enga-
25 estudantes matriculados, 24 responderam jamento dos estudantes, além de promover, na
que se sentiram envolvidos na maioria das ve- percepção destes, um ambiente mais adequado
zes ou plenamente, o que corrobora toda a dis- para o desenvolvimento das habilidades de re-
cussão anterior. solução de problemas, comunicação oral e es-
Outra implicação desse envolvimento crita e trabalho em equipe.
consiste na maior dedicação dos estudantes, Constata-se, ainda, que o aprendizado,
o que reflete em uma carga horária extraclas- a partir da resolução de problemas reais, mos-
se elevada, quando comparada às outras dis- trou-se um forte indicador de motivação nos es-
tudantes, evidenciado pelas respostas aos ques- Carlos. 2015. 154 f. Tese (Doutorado em Ciências)
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