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IMPLEMENTAÇÃO E ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS

PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS


EM UM GRUPO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA QUÍMICA
A PARTIR DE METODOLOGIAS ATIVAS
IMPLEMENTATION AND ANALYSIS OF STRATEGIES FOR THE DEVELOPMENT
OF COMPETENCES IN A GROUP OF CHEMICAL ENGINEERING STUDENTS
FROM ACTIVE METHODOLOGIES
DOI: 10.5935/2236-0158.20180010

Darlan Pires Dal-Bianco Lamas,1 Guilherme da Silva Costa,2


Alexandre Fontes Pereira,3 Renata dos Santos4

RESUMO
Os métodos de ensino e aprendizagem tradicionais, traduzidos por uma postura passiva dos estu-
dantes em sala de aula, já não se mostram mais tão eficazes. O objetivo deste estudo consiste em
analisar e comparar, na visão dos discentes, o desenvolvimento de competências, ao cursarem uma
disciplina utilizando metodologias ativas, em relação às demais específicas do curso. A pesquisa en-
volveu 25 estudantes que foram submetidos a aulas expositivas dialogadas, mescladas com princípios
das seguintes metodologias ativas: Problematização; Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e
Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), na disciplina “Processos na Indústria de Bebidas”. Espe-
rava-se que o estudante, ao final do estudo, pudesse compreender o benefício do método vivenciado,
quando comparado às demais disciplinas específicas do curso, no que diz respeito à participação
e aquisição das competências de resolução de problemas, trabalho em equipe, comunicação oral e
escrita. A premissa principal foi constatada, principalmente reforçada pelo retorno positivo dos estu-
dantes quanto ao envolvimento e à aquisição de conhecimento.
Palavras-chave: Metodologias ativas; resolução de problemas; desenvolvimento de competências;
graduação; engenharia.

ABSTRACT
Active teaching-learning methodologies reflected by a student’s passive attitude in the classroom are
no longer effective. The objective of this article is to analyse and compare, from the student’s perspec-
tive, the development of aptitudes when attending a subject using active methodologies, in relation to
other specific subjects. The research involved 25 students who were submitted to expositive classes
combined with principles of the following active methodologies: Problematization, Problem-Based
Learning (PBL), and Case-Based Learning (CBL) in the subject “Processes in the Beverage Indus-
try”. At the end of the study, it was expected that the students could perceive the benefits of the
method when compared to other specific subjects of the course, regarding student’s participation and
achievement of problem solving, teamwork, oral and writing communication skills. These premises
were verified and there was a positive return from the students regarding the involvement and acqui-
sition of knowledge.
Keywords: Actives methodologies; problem solving; development of skills; university graduate; en-
gineering.

1 Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal de Viçosa; darlandalbianco@gmail.com


2 Graduando em Engenharia Química, Universidade Federal de Viçosa; guilhermescosta09@gmail.com
3 Docente na Universidade Federal de Viçosa; alexandre.pereira@ufv.br
4 Docente na Universidade Federal de Itajubá – Campus de Itabira; renatasantos@unifei.edu.br

Revista de Ensino de Engenharia, v. 37, n. 2, p. 12-23, 2018 – ISSN 2236-0158


IMPLEMENTAÇÃO E ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS ... [13]

INTRODUÇÃO vas são um método significativo para aprimorar


o processo de ensino e aprendizagem, este es-
As bases ementárias de um curso uni- tudo teve como parâmetro a seguinte motiva-
versitário preveem o cumprimento de determi- ção: as disciplinas específicas do curso de En-
nadas disciplinas e assuntos competentes à sua genharia Química da Universidade Federal de
área de formação. Nesse sentido, a graduação Viçosa (UFV) parecem não estimular interesse
deve estimular um ambiente que passa por ex- nos estudantes, não sendo fonte significativa de
periências de aprendizagem ao ideal de partici- aprendizado de competências extraclasse.
pação mais ativa do estudante no processo de Destaca-se que este estudo, embasado
construção do seu próprio conhecimento. Além em pesquisas como as de Berbel (1998), Cyri-
disso, entre os objetivos, durante a graduação no e Toralles-Pereira (2004) bem como de Stru-
em engenharia, destaca-se a importância em se chiner e Gianella (2005), torna-se de extrema
qualificar um profissional dotado de competên- relevância, uma vez que apresenta os resultados
cias para exercer sua função (CNE/CES, 2002). de uma metodologia desenvolvida em cursos de
O conceito de “competência”, segundo Cotta, engenharia cuja proposta visa ao aprimoramen-
Costa e Mendonça (2015), pode ser entendido to de competências necessárias à carreira pro-
como a capacidade em se utilizar de conheci- fissional, como trabalho em equipe, autoapren-
mentos, valores e atitudes, a fim de possibilitar dizagem e resolução de problemas.
ao indivíduo o preparo para situações que en- Neste estudo, está relacionada uma
volvam a resolução de problemas, sejam elas de pesquisa desenvolvida na disciplina optativa
cunho pessoal ou profissional. ENQ472, do curso de Engenharia Química da
Buscando alinhar o que se espera de UFV, cujos dados coletados permitiram que o
um profissional ao seu processo formativo, as principal objetivo fosse realizado, qual seja:
metodologias ativas de ensino e aprendizagem analisar, segundo a percepção dos discentes, a
cumprem esse papel, visto que se baseiam em participação dos estudantes e o desenvolvimen-
despertar nos estudantes uma motivação em to das competências de resolução de problemas,
aprender, os quais passam a ser os principais trabalho em equipe e comunicação oral/escrita,
responsáveis pelo próprio aprendizado. Desde ao compará-la com as demais disciplinas espe-
problematizações, autonomia no aprendizado, cíficas do curso.
trabalho em equipe, soluções diferenciadas para
um mesmo problema até a própria mudança da
REFERENCIAL TEÓRICO
ementa inicialmente preparada pelo professor,
os procedimentos metodológicos diferenciados A necessidade de se debater o processo
conseguem atrair a atenção dos estudantes, fa- de ensino e aprendizagem é clara, visto que um
vorecendo engajamento, pensamento crítico tem influência sobre o outro. O comum e tra-
e eficácia no ensino (BORGES; ALENCAR, dicional é a existência do processo de transfe-
2014). rência de conhecimento, no qual o professor é
Diante disso, a utilização de metodolo- o detentor do saber, e ao discente só resta a re-
gias ativas em cursos de engenharia tem-se di- petição e a retenção daquilo que foi aprendido,
fundido no Brasil, como vem ocorrendo parcial por meio de uma posição de passividade, que o
e gradativamente em algumas universidades torna um mero espectador sem pensamento crí-
(ARAÚJO et al., 2016; RIBEIRO; ESCRIVÃO tico e reflexão (BEHRENS, 1999). Por sua vez,
FILHO, 2011; TEIXEIRA; SHITSUKA; SIL- um sujeito ativo, que reconhece a sua realidade
VA, 2016). em volta como mutável, adquire a curiosidade
O uso de problemas ou situações reais criativa e indagadora, permitindo-lhe desenvol-
é a base da maioria das estratégias de metodo- ver maior autonomia em seu processo de ensino
logias ativas, como a Aprendizagem Baseada e aprendizagem (FREIRE, 1996).
em Problemas (ABP), a Problematização e a Segundo Morán (2015), para o início de
Aprendizagem Baseada em Casos (ABC). processos mais avançados de reflexão, de gene-
Assim, diante do exposto e tendo em ralização, de integração cognitiva e de reelabo-
vista as evidências de que as metodologias ati- ração de novas práticas, as metodologias ativas
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de aprendizagem se mostram como pontos de mesmos, por meio de (auto)avaliações (BER-


partida. Pautadas no estudante como centro do BEL, 2011).
processo, essas metodologias se apresentam A problematização se iniciou na Univer-
como um modelo educacional mais construti- sidade do Havaí, em 1980, e teve como propos-
vista e participativo (AGUILAR; GONÇAL- ta metodológica a orientação para a resolução
VES, 2015). Além disso, o aprendizado dos de problemas, buscando um currículo no qual
estudantes ocorre a partir do uso de situações era definida a maneira como os estudantes po-
reais e problemas abordados em metodologias deriam adquirir habilidades cognitivas e afeti-
como a ABP, a Problematização e a ABC. vas, além do aprendizado (MITRE et al., 2008).
A metodologia ABP originou-se na es- A referida metodologia está fundamentada nos
cola de Medicina da Universidade McMaster princípios do materialismo histórico-dialético,
(Canadá), no final dos anos 1960, em resposta na pedagogia libertadora de Paulo Freire e no
ao grande tédio e à insatisfação dos estudantes construtivismo de Piaget (CYRINO; TORAL-
em relação às aulas, pois o conhecimento dado LES-PEREIRA, 2004). Segundo Bordenave
em sala de aula estava sendo irrelevante à práti- e Pereira (1982), ela se utiliza do Método do
ca médica (BARROWS, 1996). Segundo Ribei- Arco, de Charles Maguerez, que consiste em
ro (2005), ABP é uma metodologia caracteriza- cinco etapas: Observação da Realidade; Pon-
da pelo aprendizado de conceitos fundamentais tos-chave; Teorização; Hipóteses de Solução e
de determinada área do conhecimento, além do Aplicação à Realidade (prática). Para Berbel,
desenvolvimento de habilidades de solução de essa metodologia se constitui como
problemas e pensamento crítico, a partir do uso [...] um conjunto de métodos, técnicas, pro-
de situações da vida real. Para Bufrem e Saka- cedimentos ou atividades intencionalmente
kima, ABP se apresenta como selecionados e organizados em cada etapa,
de acordo com a natureza do problema em
[...] uma metodologia de ensino e aprendi-
estudo e as condições gerais dos participan-
zagem que propõe situações-problemas aos tes (1998, p. 144).
estudantes e cujas tarefas iniciam-se com
a busca de fontes e formas de resolver as Essas duas metodologias apresentam se-
questões colocadas (2003, p. 353). melhanças: o aprendizado a partir de um pro-
blema, as hipóteses serem formuladas pelos
De maneira geral, os estudantes, previa-
mente separados em equipe, são apresentados estudantes e o fato de eles trabalharem em equi-
a um problema predeterminado pelo professor, pes (BERBEL, 1998). Porém, elas se diferem
sem que haja algum tipo de aula teórica ante- enquanto metodologia de ensino em alguns fa-
rior. tores. A problematização não necessita de gran-
A construção desse problema é outro des mudanças estruturais para sua implementa-
fator importante, pois guiará os objetivos de ção, além de não ser apropriada para todos os
aprendizagem no decorrer da construção de conteúdos, sendo mais comumente utilizada
soluções. De posse do problema, os estudantes para determinados temas.
buscam por termos desconhecidos e possíveis Por outro lado, a ABP necessita de maior
causas para que possam pesquisar adiante, se- envolvimento do corpo docente, acadêmico e
paradamente, sendo tutorados pelo professor, administrativo para seu desenvolvimento, vis-
que tem o papel de guiar e não mais de fornecer to que é uma proposta que demanda alterações
as respostas finais. As equipes se reencontram mais profundas e trabalho integrado das diver-
para discutir o que foi estudado individualmen- sas disciplinas, para que possa direcionar toda a
te e, assim, vão construindo o conhecimento organização curricular de um curso (CYRINO;
ao redor das questões levantadas anteriormen- TORALLES-PEREIRA, 2004). Esses autores
te. Ao final, munidos da solução proposta, esta afirmam que ambas as metodologias estimulam
é apresentada aos demais e os estudantes são uma reorganização da relação teoria e prática e
avaliados pelo professor, pelos colegas e por si a participação dos protagonistas, promovendo

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uma ruptura com a forma tradicional de ensinar discente dentro da sala de aula, além de desen-
e aprender. volver competências que são importantes para a
Por sua vez, a ABC se apresenta como atuação profissional.
uma estratégia utilizada para o processo de en-
sino e aprendizagem, permitindo a coexistên- METODOLOGIA
cia com outras metodologias. Assim como a
ABP, ela possui seus princípios fundamentais As pesquisas qualitativas em educação,
baseados na capacidade de relacionar teoria e segundo Bogdan e Biklen (1994), apresentam
certas características comuns: o ambiente sendo
prática, de buscar informações e utilizá-las no
o fornecedor para os dados, o caráter descritivo,
processo de tomada de decisão em diferentes
o maior interesse pelo processo do que pelos re-
áreas do conhecimento, além da formação de sultados em si, além de os pesquisadores, nesse
um estudante autônomo (STRUCHINER; GIA- tipo de análise, tenderem a tratar dados de ma-
NELLA, 2005). neira indutiva.
Esse tipo de metodologia surgiu devido Este estudo, realizado no primeiro se-
à preocupação de Barrington (1997) em relação mestre de 2017, apresenta os resultados de
às alterações profundas impostas pela ABP na uma pesquisa-ação estratégica, classificada por
estrutura organizacional do curso de medicina. Franco (2005) como um modelo em que as mo-
O autor propôs a metodologia como estratégia dificações são planejadas sem a participação
de transição entre o currículo tradicional e o direta dos elementos analisados (estudantes),
currículo da ABP. de forma que os resultados e análises são feitos
Esse enfoque baseado em casos permite exclusivamente pelos pesquisadores.
participação ativa do estudante no processo de A pesquisa foi realizada com 25 estudan-
solução, na reflexão sobre os aspectos críticos tes de Engenharia Química da UFV, na discipli-
e, também, nas situações de caso interativo, na optativa “ENQ472 – Processos na Indústria
para obtenção de feedbacks e análise de suas de Bebidas”, com carga horária de 60 horas,
decisões. Para Struchiner e Gianella, a ABC contemplando aulas sobre cerveja, cachaça,
não só possibilita ao estudante o exercício de vinho e refrigerante. Não houve pré-requisitos
para cursá-la e, por esse motivo, a sala de aula
solucionar problemas, mas também
continha ingressantes no curso de 2011, 2012,
[...] que este possa desenvolver uma postu- 2013, 2014 e 2015.
ra que conduza à geração de questões e à Para análise dos dados, agruparam-se os
coleta de informações que o auxiliem para discentes em Grupo 1 (G1) e Grupo 2 (G2). O
que, ele próprio, se torne capaz de definir e G1 envolveu os 25 discentes em sua totalidade.
conceituar os problemas e persiga soluções Já o G2 referiu-se aos discentes que estavam
compatíveis diante de cada nova situação matriculados desde o início do período, com
(2005, p. 38). exceção dos ingressantes de 2015, dado que
De fato, a ABC é uma metodologia ativa eles tiveram menor contato com as disciplinas
específicas do curso e, por isso, foram excluídos
de ensino e aprendizagem, a partir de contex-
para análises que dizem respeito à comparação
tos que envolvem situações reais e a resolução
entre a disciplina ENQ 472 e as demais discipli-
de problemas complexos, proporcionando aos nas de código ENQ, totalizando 18 estudantes.
discentes a oportunidade de se tornarem pensa- Todos assinaram um Termo de Consen-
dores reflexivos que podem utilizar o conheci- timento Livre, autorizando o uso dos dados pro-
mento para fins práticos. duzidos por esta pesquisa e assegurando total
Assim, por meio da aplicação da ABC, sigilo dos envolvidos. Dessa forma, atribuiu-se
com princípios da ABP e da Problematização, um código com letra Ax para cada um deles, em
em uma disciplina optativa do curso de Enge- que x varia de 1 a 25.
nharia Química da UFV, acredita-se que essa Um primeiro questionário (Q1) foi apli-
metodologia de ensino e aprendizagem possa cado aos estudantes no primeiro dia de aula,
contribuir para uma participação mais ativa do com o intuito de avaliar sua posição em rela-
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ção às disciplinas específicas. A primeira aula de cerveja. Foram formadas três equipes de seis
também foi utilizada para ambientação e apre- pessoas e uma equipe composta por sete. Para
sentação da metodologia a ser utilizada para os a apresentação dos resultados, foi solicitado um
estudantes. documento de 15 a 20 páginas e uma apresen-
Optou-se pela implantação de um mo- tação oral, que seguiu um modelo de Banca, no
delo que consistiu em mesclar as diretrizes de qual três pessoas, que tinham afinidade com a
algumas metodologias ativas (ABP, Problema- área em diferentes perspectivas (acadêmica, co-
tização e ABC), com aulas expositivas dialoga- mercial e prática), compuseram-na. Além disso,
das. Tal escolha se justifica pelo fato de as me- foi realizada uma Pré-Banca, em que o profes-
todologias ativas causarem certo desconforto se sor teve o intuito de preparar os estudantes para
implantadas em sua totalidade (ADLER, 2015). a Banca Final, a fim de alinhá-los com os re-
Isso também foi importante para que ocorres- sultados esperados e possíveis questionamentos
se certo nivelamento entre os estudantes, por dos examinadores. Nessa situação, o professor
se tratar de uma turma heterogênea e pelo fato tem papel importante, o qual, segundo Freire
de as aulas expositivas também terem sua rele- (1996, p. 14), é o de viver “[...] a certeza de que
vância no processo formativo, já que permite faz parte de sua tarefa docente não apenas ensi-
“[...] compreender materiais ou assuntos não nar os conteúdos mas também ensinar a pensar
disponíveis por outros meios ou novos conteú- certo”.
dos que ainda não apareceram em livros ou arti- Os problemas menores 1 (P1) e 2 (P2)
gos”, além de conseguir atingir muitos ouvintes apresentaram grau de complexidade inferior em
de uma vez (NEVES JÚNIOR; GUIMARÃES; relação ao PM, com duração média de duas se-
FERNANDES, 2012, p. 4). manas, em que houve aula expositiva dialogada
Para isso, antes da apresentação de cada sobre o tema, seguida de uma sessão tutorial.
problema, o professor lecionava uma aula ex- Nesse caso, formaram-se cinco equipes com
positiva dialogada sobre o tema a ser estudado,
cinco membros cada e, para a apresentação,
seguido das sessões tutoriais que foram emba-
utilizou-se o modelo da dinâmica de rotação,
sadas na ABP. Nestas, os estudantes eram esti-
em que as equipes elaboraram um cartaz sin-
mulados a discutir sobre o problema dado, se-
tetizando suas soluções, seguido de feedback
guindo os passos da metodologia e o professor
atuando como tutor das equipes. dos membros das outras equipes para posterior
A fim de aumentar o dinamismo da dis- preparação e apresentação ao professor. Para o
ciplina e, com isso, se aproximar ainda mais último problema menor (P3), optou-se pela uti-
do ambiente profissional, os prazos, formas de lização de uma dinâmica com duração de um
apresentação dos resultados e divisão das equi- dia, inspirada na já utilizada “One day, one pro-
pes foram variando ao longo do período (RI- blem”, proposta por O’Grady e Alwis (2002).
BEIRO, 2005). O princípio que norteou a di- Dessa vez, três equipes foram formadas.
visão das equipes em todos os problemas foi a Avaliações por pares e autoavaliações
diversidade, relacionada a sexo, ano de ingres- também foram realizadas ao longo da discipli-
so e, principalmente, estilos de aprendizagem, na, sendo utilizadas para cálculo da nota final
sendo estes constatados por meio do teste de por meio de valores ponderados, ou seja, cada
Kolb (KOLB, 2015). Os problemas eram ela- estudante recebeu uma nota diferente, baseada
borados pelo professor da disciplina, buscando na soma do seu desempenho avaliado por si
por temas que despertassem o interesse dos es- mesmo e pelos membros da equipe (RIBEIRO,
tudantes e, ao mesmo tempo, permitissem que o 2005).
conteúdo da ementa fosse cumprido durante as Como forma de complementar o co-
aulas e estudos individuais. nhecimento adquirido, uma prova foi aplicada,
O Problema Maior (PM) foi o mais com- dividida em dois momentos: no primeiro, os
plexo em comparação aos demais e, por isso, estudantes a respondiam individualmente e, no
sua duração foi de aproximadamente dois me- segundo, sentavam-se em equipes e discutiam
ses e meio, com três sessões tutoriais distribuí- as possibilidades de respostas juntamente aos
das ao longo do período e uma visita à produção demais colegas e professor.
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Ao final da disciplina, um segundo Gráfico 1 – Percepção dos estudantes em relação a


questionário (Q2) semelhante ao primeiro, foi sua participação nas disciplinas de código ENQ e na
ENQ472.
aplicado para avaliar a evolução dos critérios
analisados para fins comparativos, juntamente
a um último, que incluía questões relacionadas
à satisfação e visão geral sobre a metodologia
utilizada.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE
DOS RESULTADOS

Os quatro parâmetros, apresentados gra- Fonte: Autores desta pesquisa.


ficamente a seguir, foram selecionados para Pode-se inferir que o modelo de aulas
análise por ilustrarem as maiores discrepâncias majoritariamente utilizado nas disciplinas ENQ
entre as respostas para o Q1 e Q2, sendo anali- mantém o estudante em uma posição de passi-
sadas as respostas somente do G2, por se tratar vidade na construção de seu conhecimento, o
do grupo que teve mais vivência das disciplinas que pode contribuir para a redução da proble-
ENQ. Além disso, a identificação das compe- matização do conteúdo e, portanto, sua partici-
tências de resolução de problemas, comunica- pação na aula.
ção e trabalho em equipe se deve ao fato de que O planejamento das aulas e atividades da
elas são consideradas as mais importantes de ENQ472 buscou colocar o estudante como pro-
serem desenvolvidas para o futuro profissional tagonista na construção de seu próprio apren-
dos estudantes (TUOMISTO, 2015). dizado, conforme relatou um dos participantes:
Ao referir-se ao termo “disciplinas “A aula se apresentou mais dinâmica e intera-
ENQ”, entende-se por aquelas específicas do tiva do que outras disciplinas que são dadas no
curso de Engenharia Química que os discentes modo convencional” (A18). O depoimento de
cursaram antes de iniciar o primeiro semestre A18 também pode ser embasado pelas aulas ex-
de 2017. O documento que corrobora as dis- positivas dialogadas até as dinâmicas de apre-
cussões deste estudo afirma a existência de três sentação e tutorias, que criaram um ambiente
consensos a respeito do processo de ensino e propício à participação dos presentes.
aprendizagem:
Além disso, a motivação é reforçada
[...] i) para aprender, é preciso estudar, pre- quando são submetidos a situações da vida real,
ferencialmente em grupo; ii) para estudar e a saber: “A metodologia foi muito positiva para
aprender, é indispensável a vontade, o dese-
que eu ficasse mais interessada e menos disper-
jo; e iii) um eficiente processo para motivar
e despertar a vontade de aprender do estu- sa nas aulas, além de me fazer sentir muito mais
dante é a busca de soluções para problemas à vontade” (A23).
reais, com a integração dos conhecimentos. As aulas expositivas dialogadas incita-
Assim, um caminho comprovadamente efi- vam a participação dos estudantes e a promoção
ciente é o aprendizado ativo e, em especial, de discussões, evitando a monotonia, como ob-
o aprendizado colaborativo e cooperativo, servado pelas frequentes perguntas ao profes-
baseado em problemas e projetos (CEPE/
sor no decorrer das aulas. As sessões tutoriais
UFV, 2016).
foram um ambiente propício para a troca de
Como pode ser observado no Gráfico 1, saberes entre os estudantes, e principalmente
13 respondentes acreditam que as disciplinas atuando como meio para consolidar ainda mais
ENQ estimulam pouco ou na metade das vezes o conhecimento e a interação professor-aluno,
um ambiente para que o estudante seja partici- como expôs o docente: “No começo fiquei meio
pativo. Já em relação à ENQ472, 17 estudantes receoso de como seriam as sessões tutoriais,
disseram que a disciplina estimulou esse am- mas estão me surpreendendo. [Os estudantes]
biente muitas vezes ou plenamente. Estão estudando e são muito participativos”.
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A aplicação do sistema de avaliação sugere que as disciplinas ENQ não vêm forne-
por pares gera um estímulo ao desempenho in- cendo problemas reais nos quais os estudantes
dividual, ao refletir, na nota final, o empenho possam buscar soluções, concomitantemente à
de cada um dentro do trabalho executado pela integração dos conhecimentos. A metodologia
equipe, estimulando a participação por acredi- aplicada submete os estudantes a uma nova for-
tar que o esforço pessoal será reconhecido. Isso ma de aprender que preza pela aproximação à
está demonstrado na fala de A04: “Estimula o realidade, atrelada a uma escassez de conteúdo
aluno a ser um bom membro dentro da equipe”. previamente lecionado e despertando curiosi-
Entretanto, um ponto a ser melhorado consis- dade e interesse que levam os estudantes a de-
te na importância do retorno dessas avaliações senvolverem aptidões como a resolução de pro-
de forma ágil, a fim de repassar ao estudante blemas (CEPE/UFV, 2016).
o ponto de vista dos demais colegas, conforme Observou-se que, ao longo do semestre,
demonstrado por um deles: “Acho que faltou os estudantes se sentiram mais confiantes ao re-
feedbacks ao longo das aplicações” (A01). ceberem os últimos problemas, por já estarem
Uma forma de aprimorar a participa- acostumados com a metodologia, tendo desen-
ção dos estudantes, nas disciplinas ENQ, seria volvido competências próprias para construir
a mudança na abordagem do conteúdo, evi- o caminho de uma solução: “Eu me senti ani-
denciando como o aluno poderia atuar, com o mada em estudar para resolver os problemas e
conhecimento da disciplina, em sociedade ou ao ler vários arquivos do assunto dado para in-
em benefício de sua própria comunidade. Essa terligar os pontos do processo e abrir um leque
abordagem valoriza o conhecimento transfor- de possíveis soluções” (A25). As variações nas
mando-o em ferramenta. Na ENQ472, esse dinâmicas propostas no tempo para execução,
efeito foi observado em decorrência da contex- membros da equipe, ou mesmo formas de apre-
tualização dos problemas utilizados, convidan- sentação podem ser fatores que aumentaram o
do os estudantes a resolvê-los. interesse, ao diminuir a monotonia, tendo em
No Gráfico 2, observa-se que 15 estu- vista as palavras de A21: “As aulas dinâmicas
dantes acreditaram nas disciplinas ENQ como com interação entre os alunos e professor tor-
estimuladoras do desenvolvimento da habili- nam o ambiente mais agradável, incentivando o
dade em resolver problemas na metade, pou- processo de estudo e aprendizado”.
ca ou nenhuma das vezes. Dos que cursaram Além disso, a formação de um enge-
ENQ472, 17 afirmaram que esse objetivo foi nheiro, seja para a área industrial ou mesmo
cumprido muitas vezes ou plenamente. acadêmica, preza por um profissional que seja
Gráfico 2 – Percepção dos estudantes em relação à ha-
dotado da habilidade em resolver problemas
bilidade de resolução de problemas nas disciplinas de (CNE/CES, 2002) e, sendo assim, o estímulo
código ENQ e na ENQ472. a tal competência se torna importante no seu
processo formativo. É interessante notar que
os próprios estudantes identificam nessa com-
petência algo próximo à realidade que viverão
após a graduação: “A resolução de problemas
reais da indústria nos dá melhor noção de como
o engenheiro químico pode atuar no mercado
de trabalho” (A11).
Além do desenvolvimento da competên-
cia de resolução de problemas, a metodologia
Fonte: Autores desta pesquisa.
se mostrou um eficiente processo para motivar
A dinâmica das aulas das disciplinas e despertar a vontade de aprender do estudante:
ENQ adota um modelo conteudista sem aplica- “A resolução de problemas é bem mais envol-
ções práticas, na maior parte das vezes, como vente do que ‘teorias maçantes’. Agrega mais
manifestado por A10: “[A ENQ472] Permitiu significado ao conteúdo a ser estudado” (A02).
a resolução de problemas práticos, o que não Outro consenso apresentado por esse
se vê nas matérias normais”. A fala do discente documento é reforçado pela proposta da maté-
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ria lecionada. A partir do Gráfico 3, observa-se (A25); “[...] perfis diferentes enriquecem equi-
que 10 estudantes acreditaram que as discipli- pes” (A12).
nas ENQ estimularam metade ou poucas vezes As sessões tutoriais exigiam um contato
um ambiente para desenvolver competências interpessoal dentro de sala, contornando a difi-
de trabalho em equipe. Por outro lado, 12 es- culdade em encontrar horários comuns para dis-
tudantes acreditaram que a ENQ472 estimulou cutir aspectos dos problemas propostos, promo-
plenamente esse ambiente. vendo a entrega de trabalhos produzidos pela
Gráfico 3 – Percepção dos estudantes em relação à habi- contribuição de todos: “[...] difícil encontrar um
lidade de trabalhar em equipe nas disciplinas de código horário, pois cada um é de um ano diferente,
ENQ e na ENQ 472. aí acaba que mesmo sendo em grupo a gente
faz as coisas separados, e nas sessões tutoriais a
gente acaba discutindo” (A14). Tais interações
já foram verificadas positivamente por Herzer
et al. (2015).
Entende-se que os processos avaliativos
também são uma forma de agregar conhecimen-
to e gerar interação entre os discentes, como
ocorreu na aplicação da prova de ENQ472, em
Fonte: Autores desta pesquisa. que foi utilizada não somente avaliação con-
teudista, mas também propiciou ambiente para
Um fator que pode explicar essa dife-
feedbacks imediatos e consolidação do aprendi-
rença é a organização do espaço. Geralmente,
zado em equipe, ao criar um ambiente que per-
a maioria das disciplinas ENQ é ministrada em
salas de aula onde as carteiras são enfileiradas e mitiu a troca de conhecimentos a respeito dos
não há atividades que favoreçam o contato in- conteúdos abordados em sala de aula.
terpessoal. Acredita-se que ceder momentos em
Para o desenvolvimento dessa habili- sala de aula para a promoção da discussão, a
dade, entendeu-se que um bom ambiente seria fim de garantir o intercâmbio de ideias, auxilia
dotado de mesas circulares e materiais com- na construção do conhecimento de forma autô-
partilhados, no qual os discentes fossem esti- noma e colaborativa: “O método me ensinou a
mulados à troca de ideias e discussões, como estudar sozinha e a saber procurar nas fontes
já abordado por Paiva et al. (2016). Com esse disponíveis, além de me aprimorar no quesi-
entendimento, buscou-se uma sala apropriada à to trabalho em equipe e discussão de ideias”
realização das atividades. (A25).
Os três estudantes, que acreditaram que O Gráfico 4 apresenta dados referentes a
as disciplinas ENQ não estimulam um ambien- 14 estudantes, que acreditam, em metade, pou-
te de trabalho em equipe, consideraram as pro- ca ou nenhuma vez, serem as disciplinas ENQ
postas de trabalho em equipe insuficientes para estimuladoras do desenvolvimento de compe-
o desenvolvimento da referida habilidade. tências de comunicação oral e escrita.
Os dados positivos relacionados à Gráfico 4 – Percepção dos estudantes em rela-
ENQ472 podem ser corroborados principal- ção à habilidade de comunicação oral e escri-
mente pela dinâmica das equipes que propu- ta nas disciplinas de código ENQ e na ENQ472.
nham uma intensa variação entre os membros
e estilos de aprendizado, de forma que, ao final
do semestre, cada estudante havia trabalhado
com grande parte dos colegas.
A montagem das equipes pelos pesqui-
sadores, sem autonomia de escolha para os
discentes, foi vista de maneira positiva: “As
equipes mostram os diferentes tipos de pessoas
que encontraremos no mercado profissional” Fonte: Autores desta pesquisa.

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[20] IMPLEMENTAÇÃO E ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS ...

Entende-se que algumas disciplinas têm ciplinas ENQ, como já observado por Ribeiro
avaliado o conhecimento dos estudantes somen- (2005) e confirmado, respectivamente, por A13
te por meio de provas escritas, em detrimento e A14: “A única desvantagem é o excesso de
da comunicação oral. Esses 14 discentes acre- trabalho semanal”; “O método demanda mais
ditaram que a avaliação escrita não mensura, de tempo que uma disciplina comum”. O estu-
maneira efetiva, a capacidade de comunicação dante de Engenharia Química da UFV possui
em geral. Essa crença pode ser gerada devido a uma média de disciplinas em torno de 24 horas
disciplinas que se restringem a avaliações es- semanais, além de envolver-se em atividades
sencialmente matemáticas, em que a habilidade extracurriculares, ou seja, a metodologia exige
de comunicação oral é prejudicada. maior carga horária do estudante, e pode preju-
Em relação à ENQ472, 16 estudantes dicar outros compromissos acadêmicos.
acreditam que houve um estímulo para um am- Perguntados se cursariam outra discipli-
biente propício ao desenvolvimento da habili- na nos moldes da ENQ472, 24 estudantes res-
dade de comunicação oral/escrita. A busca pelas ponderam positivamente. Percebe-se que eles
soluções dos problemas despertou nos estudan- veem retorno no modo de aprendizagem utili-
tes uma curiosidade em obter embasamento sa- zado, mesmo que essa demande um tempo aci-
tisfatório, refletindo em um nível de aprofun- ma da média, como relatado por Garcia (2014).
damento teórico maior do que o esperado pelo Uma alternativa, para minimizar esse efeito po-
professor, e também revelado pelos estudantes deria ser a destinação de parte dos créditos da
em estudo realizado por Ribeiro (2005). disciplina ao estudo individual. Dessa forma, as
Nesse sentido, a comunicação escrita foi horas utilizadas para esse estudo seriam conta-
estimulada em consequência do contato cons- bilizadas ao final do semestre.
tante com artigos e materiais científicos da área: Por fim, tratando-se de uma metodolo-
“O fato de buscar diversas fontes também faci- gia dinâmica, foi comum que mudanças ocor-
lita que o aprendizado seja absorvido” (A14). ressem no decorrer da disciplina em benefício
O interesse também refletiu em uma notável da sistemática das aulas: “Erros terem sido
busca pelos feedbacks dos trabalhos, a fim de identificados rapidamente e ter havido esforços
compreenderem seus erros e acertos. para melhorar os pontos levantados” (A23). A
A ENQ472 reforçou a importância da flexibilidade para realizar modificações favore-
comunicação ao propor apresentações orais em ceu um ambiente de desenvolvimento em que
todos os problemas, exigindo também objeti- não só estudantes aprenderam, mas também o
vidade dos estudantes: “[A ENQ472] Fez com professor e pesquisadores.
que cada um desenvolvesse a habilidade de ser
sucinto” (A25). Ou seja, pode-se inferir que o CONSIDERAÇÕES FINAIS
ambiente da disciplina apareceu como um am-
biente para que os estudantes apresentassem e O presente estudo ratifica a importância
defendessem suas ideias, além de favorecer o da aplicação de metodologias ativas de apren-
poder de argumentação, enriquecendo a expe- dizagem na graduação em engenharia, mos-
riência, como evidenciado por Guimarães et al. trando-se eficiente ao oferecer uma disciplina
(2016). (ENQ472) como base de comparação com as
Após as análises com o G2, o G1 foi metodologias tradicionais. Dessa forma, evi-
analisado a fim de se compreender o nível de denciou-se a eficácia do método ativo para atin-
envolvimento gerado pela disciplina. Dentre os gir resultados como: maior participação e enga-
25 estudantes matriculados, 24 responderam jamento dos estudantes, além de promover, na
que se sentiram envolvidos na maioria das ve- percepção destes, um ambiente mais adequado
zes ou plenamente, o que corrobora toda a dis- para o desenvolvimento das habilidades de re-
cussão anterior. solução de problemas, comunicação oral e es-
Outra implicação desse envolvimento crita e trabalho em equipe.
consiste na maior dedicação dos estudantes, Constata-se, ainda, que o aprendizado,
o que reflete em uma carga horária extraclas- a partir da resolução de problemas reais, mos-
se elevada, quando comparada às outras dis- trou-se um forte indicador de motivação nos es-

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IMPLEMENTAÇÃO E ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS ... [21]

tudantes, evidenciado pelas respostas aos ques- Carlos. 2015. 154 f. Tese (Doutorado em Ciências)
tionários e pelos depoimentos, assim como pela - Escola Paulista de Medicina, Universidade Fede-
postura em sala de aula. ral de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em:
O método utilizado exigiu dos estudan- <http://www2.unifesp.br/centros/cehfi/documen-
tes um tempo extraclasse maior, quando com- tos/maristela_tese.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2017.
parado às demais disciplinas. O retorno dos AGUILAR, Maria Teresa Paulino; GONÇALVES,
discentes indicou, por vezes, que era difícil Dayana Keitty Carmo. Metodologias ativas apli-
conciliar as atividades com os outros compro- cadas na disciplina de Saneamento Ambiental no
missos acadêmicos, devido à carga horária de- curso de Engenharia Civil. In: Anais I Congres-
so de Inovação e Metodologias de Ensino, 2015,
mandada pela disciplina. Outrossim, os demais
Belo Horizonte – CIM, Belo Horizonte, MG, 2015.
pontos de melhoria mostram a necessidade de
Disponível em: <https://congressos.ufmg.br/index.
aprimoramentos na metodologia para resulta- php/congressogiz/congresso-giz-2015/paper/down-
dos mais efetivos, como observado nas ques- load/80/83>. Acesso em: 2 jun. 2017.
tões relacionadas aos feedbacks das avaliações
ARAÚJO, Wilson José de et al. Aprendizagem por
por pares e condução das tutorias.
problemas no ensino de Engenharia. Revista Do-
Apesar de não previstos nos objetivos cência do Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 6,
iniciais da disciplina, constatou-se que os pro- n. 1, p. 57-90, abr. 2016.
blemas despertaram interesse e envolvimento
dos discentes nos assuntos além do esperado, BARRINGTON, D. et al. Evaluation of a change
from traditional case studies to patient-based, pro-
aprimorando o uso da pesquisa científica.
blem-based learning: a case study. Medical Tea-
Sugere-se que todo o corpo docente e cher, v. 19, n. 2, p. 104-107, 1997.
discente do curso de Engenharia Química da
UFV continue desenvolvendo estratégias de BARROWS, Howard S. Problem-based learning in
medicine and beyond: a brief overview. New Direc-
metodologias ativas, principalmente as que re-
tions for Teaching and Learning, San Francisco,
forçam a aprendizagem por meio da resolução
n. 68, Winter 1996.
de problemas. Na expectativa de que este estu-
do possa nortear e dar início a outros trabalhos BEHRENS, Marilda Aparecida. A prática pedagó-
que tratem do aperfeiçoamento das experiên- gica e o desafio do paradigma emergente. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, DF,
cias pedagógicas durante a graduação, reco-
v. 80, n. 196, p. 383-403, set./dez. 1999.
menda-se a repetição da disciplina ENQ472 em
semestres futuros, como base para desenvolver BERBEL, Neusi Aparecida Navas. A problematiza-
disciplinas similares que empreguem as meto- ção e a Aprendizagem Baseada em Problemas: di-
dologias ativas, pela experiência positiva repor- ferentes termos ou diferentes caminhos? Interface,
Botucatu, v. 2, n. 2, p. 139-154, fev. 1998.
tada. Seria interessante também a aplicação das
metodologias em uma disciplina obrigatória, BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodolo-
comparando o aprendizado desenvolvido em gias ativas e a promoção da autonomia de estudan-
relação à metodologia tradicional. tes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londri-
Vale ressaltar que o método implantado na, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011.
é apenas uma forma de abordagem, entre vá- BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sari Knopp. In-
rias, de metodologias ativas. A partir do apro- vestigação qualitativa em Educação: uma intro-
fundamento nos conceitos e busca de uma ade- dução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora,
quação às disciplinas, podem-se explorar outras 1994. (Colecção Ciências da Educação).
metodologias, integral ou parcialmente, a fim BORDENAVE, Juan Dias; PEREIRA, Adair Mar-
de validá-las como ferramenta de ensino em tins. Estratégias de ensino aprendizagem. 4. ed.
engenharia. Petrópolis: Vozes, 1982.
BORGES, Tiago Silva; ALENCAR, Gidélia. Me-
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Congresso Brasileiro de Educação em Engenha- 2017.

DADOS DOS AUTORES

Darlan Pires Dal-Bianco Lamas – Graduando em Engenharia Química pela Uni-


versidade Federal de Viçosa (UFV).

Guilherme da Silva Costa – Graduando em Engenharia Química pela Universi-


dade Federal de Viçosa (UFV).

Alexandre Fontes Pereira – Graduação (1) Ciência e Tecnologia de Alimentos


e (2) Tecnologia de Laticínios; Mestre em Ciência e Tecnologia em Alimentos;
Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos; Pós-doutor em Química. Docente
na Universidade Federal de Viçosa.

Renata dos Santos – Doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa, Mestra em


Educação e graduada em Letras e em Pedagogia. Docente de Língua Portuguesa e
Metodologia da Pesquisa na Universidade Federal de Itajubá – Campus de Itabira.

Revista de Ensino de Engenharia, v. 37, n. 2, p. 12-23, 2018 – ISSN 2236-0158

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