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CAPITULO I AS FORCAS ARMADAS NA PRIMEIRA REPUBLICA: Q PODER DESESTABILIZADOR A PRIMEIRA REPUBLICA delimita-se pelos parénteses de duas interven- ses militares, além de pontuarse de varias outras intervencdes de menor conseqiténcia. Em um pafs que de 1831 a 1889 nao vira crise do Governo Central provocada por interferéncia da forga armada, o fato cer- tamente significa mudanga importante que deve ser examinada. A mudan- ga se deu tanto externamente & organizagao militar, isto é na sociedade, como internamente, Os aspectos internos tém merecido pouca atencio dos analiscas do papel dos militares na politica brasileira, Autores hé, por exemplo, que consideram as Forgas Armadas como simples representantes de determinados grupos sociais.! A sociologia tem mostrado exaustiva- mente, no entanto, que organizacOes possuem caracteristicas e vida pro- prias que ndo podem ser reduzidas a meros reflexos de influéncias exter- nas, Isto vale particularmente para as organizagées militares, que, além de serem de grande complexidade, se enquadram no que Goffman chama de instituigdes totais. Estas instituigdes, pelo fato de envolverem todos os aspectos da vida de seus membros, desenvolvem identidade mais marcada, © que aumenta seu grau de autonomia em relagio ao mundo exterior, Quando plenamente desenvolvidas, chegam a requerer de seus membros uma radical transformagdo de personalidade, como pode ser observado em antinomias do tipo “homem velho” versus “homem novo”, “militar” versus“paisano”. A falta de maior conhecimento dos aspectos organizacionais leva a andlises de tipo mais abrangente, seja a atribuir aprioristicamente deter- 10 mais comum € considerarse 0 Exército como porta-vor das classes métlias, A tese é de Santiago Dantas em seu Dols Momentos de Rui Barbosa (Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1949) e foi repetida por virios auto: fs quais Nelson Werneck Sodré ers sua Hiseéria Militar do Brasil (Rio de Janei fo Brasileira, 1965). 788 HISTORIA GERAL OA CIVILIZAGAO BRASILEIRA AS FORGAS ARMADAS NA PRIMEIRA REPUBLICA 798 minados papéis politicos as Forgas Armadas, seja a limitarese a explica- gies ex post facto, No primeiro caso, temos explicagdes mecanicistas em gue o comportamento militar, por mais complexo e diversificado que seja, é sempre reduzido aos limites que lhe foram tragados, com prejuizo para sua melhor compreensao, No segundo, torna-se necessétio recorrer a explicagées ad hoc, 0 que impossibilita qualquer tentativa de predicio. 4 nosso ver, constituir 0 estudo dos aspectos organizacionais passo fundamental, embora iniciel, para 0 eorreto entendimento do comporta- tico das Forcas Armadas.? Seré esta a énfase do presente trabalho, que também nao se deteré na desctigio dos episédios das intervengdes. Esta descriga suficiente amplitude em obras recentes.* Igualmente, o maior peso da and- lise caira sobre 0 Exéscito por sua Sbvia maior importancia politica. A Marinha sera estudada principalmente como elemento de comparagio. Para uma visto panoramica das principais intervenes militares curante 0 periodo, damos a seguir uma relagio dessas intervengdes com algumas de suas caracteristicas (Quadro 1). A simples observag0 do qua- dro jd sugete a importancia de fatores organizacionais. Vé-se, em primeico lugas, que as intervengées variam em relacdo ao escalio hierarquico que as promove dentro da organizacao, e, em segundo lugar, que esta variagio 6 distinta para 0 Exército e a Marinha, No primeiro predominam as inter- vengdes promovidas por oficiais inferiores, o que néo se d4 na Marinha, onde a lideranga das interveng6es claramente se divide entre oficiais e pra- gas. Fica também claro que as intervengSes raramente partem da organi= zaco como um todo, seja do Exército, seja da Marinha, fato que sé uma laces que d#0 maiog importincia a aspectos orga! de Cacvalho, "Organizational Roles, Belief System and ", mimea, Departamento de Ciéncia Politica da de Edmundo Campos Coelho, "Em Busea de Identidade: Relagdes Ci Brasil”, msimeo, IUPER), 1971. Para o texto de Goffman, ver Ervin Goftmn Caractetistics of Toral lasticucions", em Amitai Erion, ed., Complex Organiga York; Holt, Rinchare; and Winston, 1961, pp. 312-340. Para um estado ndo br esta abordagem veja-se, por exemplo, Morris Janowite, The Professional Soldier, Nova ‘York: Free Press, 1965. 2 Vejam-se por exemplo, Glauco Carneiro, Histéria das Revolucoes Brasileiras, Rio de Janeiro: Edigées O Cruzeiro, 2 volumes, 1965; Helio Silva, 1899: A Repiiblica nao Espero 9 Amanbecer, Rio de Jancite: » 19725 ¢ des mesmes autor ¢ editors, 1922; Sangue na Areia de Copacabana, 1964; 1926: A Grande Marcha, 1965; 1930: A Revolugdo Traida, 1966; ¢ ainda de Bdgard Cerone, A Republica Velba (Evolugdo 1971. Neste volume, consulter-se os ise interna poderd esclarecer adequadamente. Esta anélise deveré dar as ra2des ¢ 0 significado destes ¢ de outros fatos. Examinaremos, poz sua maior importancia, as seguintes caracteristicas organizacionais: 0 proces- s0 de recrutamento; 0 treinamento do corpo de oficiais; a estrutura inter- na, © tamanho ¢ a localizagdo geogréfica de organizagao militar; a ideolo- gia organizacional. Ao final, volcaremos ao quadro das intervengdes para estudé-lo contra 0 pano de fundo destas caracteristicas. 1. O REGRUTAMENTO MILITAR Na fase inicial dos exércitos permanentes europeus, em que o grau de profissionalizagdo e especializacao era ainda elementar, o recrutamento era uma varidvel de grande importancia. Através dele se estabelecia a rela- sd0 do Exército com a estrutura de classes da sociedade. Tradicional- mente, por exemplo, 0 corpo de oficiais era recrutado entre a nobreza ¢ as prasas entre as classes baixas, Este mecanismo teve importantes conse- quéncias politicas ao possibilitar, de um lado, a identificagao entre a off. lade e os grupos politicamente dominantes, e, de outro, o isolamento da oficialidade em relagdo as pracas. Ao mesmo tempo que garantia a lealdade dos oficiais ao Governo, impedia que eles se unissem 20s escaldes inferiores, o que aumentaria 0 poder politico da organizagéo.t Entre os exércitos latino-americanos, o brasileiro é talvez o que herdou em maior escala esta tradigio européia. O fato de que a Independéncia do Brasil se tenha verificado sem grandes Iutas ¢ sem grande mobilizagdo militar da populagdo fez com que se preservasse aqui a esteutura do exército portu- gués. Nos pafses em que 0 processo de independéncia exigiu lutas mais prolongadas, grande nimero de pessoas foram incorporadas as Forgas Armadas em todos os escaldes, democratizando-as de certo modo, redu- zindo seu nivel profissional ¢ tornando-as instrumento fécil de manipula- do politica. O fendmeno do caudilhismo, ausente no Brasil, tem neste fato uma de suas causas, Londres ¢ Nova York: McGraw Hill, 1930, p. 229, Consultee também o excelente trabalho de Alired Vagss, A History of t Miliearism, Nova York: The Free Press, 1967, pp. 41-74 200 HISTORIA GERAL DA CIVILIZAGAO BRASILEIRA eg QUADRO 1 INTERVENGOES MILITARES, 1889-1930 Le a ee ere PRINCIPAL PO 1889 1891 1892 1893 1895 1997 1904 1910 1915 1992 1924 1930 ENVOLVIDO Exército~ 1828: Proclamagao da Re lea Marinba~ 1891: Revolta da Esquadra 1892: Manifesto dos 12 Generais 1891: Revolea do *Primeiro de 1892: Revolta do Sargento Margo" 1895; Revolt da Escola Milicar 1892: Masifeso dos 12 Generais 18975 idem 1893: Revolea da Armada 1904: idem 1910: Revolea dos Marinheicos 1915: Revolta dos sergentos 1924 Revolt de Protigenes 1922: Revolt tenenista Guimardes ¢ Hereolino 19242 idem Carcardo 1930: idem 1930; Movimento Pacificador 1930: Movimento Pacificador Examinaremos, a seguir, separadamente, q recrutamento de ofic pragas no Exéreito brasileiro. ise Orecrutamento A origem nobre de muitos oficiais do Exército portugués aeons época da Independéncia & denunciada pelo fato de varios deles cerem passado pelo Colégio dos Nobres de Lisboa, pela Academia de Marinha ow terem pertencido a instituigio do cadetismo. 0 Colégio ¢ a Academia exigiam qualidade de nobreza aos que neles quises- sem ingressar. © cadetismo, criado em 1757, tinha por objetivo favorecer a entrada de nobres no servigo militar através da concessao de privilégios negados a outros grupos sociais. © candidato a cadete tinha que demons- trar nobreza de quatro costados e, uma vez no Exército, recebia logo privi- légios de oficial e vantagens financeiras. O sistema foi abolido em Portugal AS FORGAS ARMADAS NA PRIMEIRA REPUBLICA em 1832 por discriminat6rio e anticonstitucional, mas sobreviveu no Br. até o fim da Monarquia, apesar de padecer aqui dos mesmos vicios.5 (© preco de sua sobrevivencia no Brasil foi o relaxamento dos eritérios de nobreza. Disposigdes de 1809 e 1820 ampliam a faculdade de se alista- rem cadetes aos filhos de oficiais das forgas de linha e das milicias, bem como das ordenangas ¢ de pessoas agraciadas com o habito de ordens ‘Ao lado dos cadetes havia outra instituicdo de origem nobre, os solda- dos particulares. No Brasil se destinava principalmente a filhos da is ou medicina, ¢ a filhos de pessoas abastadas, principalmente comerciantes, O recrutamento militar favorecia assim a entrada para 0 oficialato de representantes de grupos sociais dominantes, pelo prestigio, pela riqueza ou pelo poder. Se as crises regen- ciais, principalmente em torno da Abdicagio, no Rio, evidenciaram certo atrito nativista entre oficiais portugueses e brasileiros, a solucio dada demonstrow a existéncia de outra distingéo importante, separando oficiais € prasas. Os oficiais portugueses que aderiram & causa nacional foram mantidos no Exército. E expurgo feito por Feij6 em 1831 atingiu pr palmente os pragas, como o atesta a formagao logo em seguida do bata- Ihao de oficiais-soldados, comandado pelo futuro Caxias. Os oficiais bra- ‘os tinham suas queixas contra o sistema colonial que os discriminava em termos de carteira em beneficio dos portugueses, mas, politicamente, eram em sua grande maioria leais ao Governo e nao apresentavam reivin- dicagdes de natureza social como os pracas. Feij6 reduziu 0 poder da organizagao milicar mas manteve intacta sua estrutura. Ao longo do Império, o cargter nobre do recrutamento militar ‘modificou-se no sentido de tornar-se cada vez mais endégeno & organiza- io, isto é, a limitar-se cada vez mais & nobreza militar com exclusio da civil. A concesséo do direito ao titulo de cadete a filhos de oficiais favore- cia esta evolugdo, O Quadro 2 ilustra essa mudanga. F Sobre o cadetismo, ver Rui Vieira da Cunha, Estudo da Nobreva Brasileira. I~ Cadetes, Rio de Janciro: Arquivo Nacional, 1966, e General Francisco de Paula Cidade, Cadetes ¢ Alunos Milicares Através dos Tempos, Rio de Janeiro: Biblioteca do Ex¢rcito, 1961

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