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Teoria do teatro e estética teatral

T eoria do teatro e estética teatral

J . Guinsburg

A
o apresentar-me a um concurso de Profes- A Estética Teatral já constava do currícu-
sor-Titular, em Teoria do Teatro e Estética lo da Escola de Arte Dramática na época do Dr.
Teatral, ocorrem-me algumas reflexões so- Alfredo Mesquita e, independentemente dos
bre a matéria que ministro e o seu papel temas esparsos abordados por conferencistas ou
no conjunto das disciplinas do Departa- das questões particulares ventiladas por profes-
mento de Artes Cênicas, no contexto da Escola sores de outras disciplinas, como foi o caso de
de Comunicações e Artes da Universidade de Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi, Au-
São Paulo. gusto Boal e Heleny Guariba, entre outros, cou-
Tendo desenvolvido toda minha ativida- be a Anatol Rosenfeld lecioná-la em cursos bri-
de de professor na Escola de Arte Dramática, lhantes que ficaram na memória de quantos
no Setor Teatro e no atual Departamento de tiveram o privilégio de assisti-los. E ainda hoje,
Artes Cênicas da ECA, e dado o fato de a mi- nesta Escola, há quem pertença a este rol.
nha carreira acadêmica ter evoluído, nas diver- Não se tratava de um programa detalha-
sas titulações, em função do Teatro, é claro que do por ele de modo sistemático. Como era de
meu ângulo de visão está marcado por esta in- seu gosto, dentro de um esquema solto mas
serção. É bem verdade que, por minha forma- consistente, e pautado pela abordagem filosófi-
ção, como já descrevi antes, e pelo trabalho que ca na qual primava, graças a seus amplos conhe-
sempre realizei em diferentes áreas, como o jor- cimentos e à sua incomparável argúcia crítica,
nalismo, a edição e a atuação comunitária, esti- levantava, numa seqüência lógica, itens e ques-
ve em contato com problemas e práticas de vá- tões de importância para a compreensão e a in-
rias espécies, cuja repercussão sobre o meu terpretação do fenômeno estético de que o Tea-
modo de ver não devo menosprezar. Em todo o tro era manifestação. Infelizmente, não fui seu
caso, tais aspectos, no presente âmbito, não pre- aluno nessas aulas e nem sequer tive com ele ses-
cisam ser examinados, apresentando valor espe- sões de estudo ou discussões organizadas sobre
cífico apenas na medida em que tiverem sido, o assunto. Mesmo no minucioso exame que fez
de alguma forma, incorporados à preocupação da Estética de Hegel, ao fim dos seminários de
com a matéria que ensino. filosofia que realizava em minha casa, o tópico

J. Guinsburg é professor emérito do Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP.

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de Arte Dramática não chegou a ser tratado. não tendo ainda uma visão mais abrangente do
Assim, tudo o que eventualmente aprendi dele, campo de estudos, precisei enfrentar o proble-
nesse particular, afora aqueles elementos que ma por outra via.
por certo me transmitiu ao longo de numerosas Perguntei-me o que seria necessário para
conversas informais, proveio principalmente da que a Estética Teatral exercesse a sua função
leitura de seus escritos sobre dramaturgia e es- precípua e se tornasse uma ferramenta útil para
petáculo teatral, em cuja análise sempre entre- o entendimento do fenômeno teatral pelos alu-
teceu considerações estético-estilísticas, e sem nos em seu todo. Desde logo pareceu-me que
dúvida, do estudo de seus quatro ensaios ímpa- não poderia pensar a matéria, do ponto de vista
res, a meu ver, sobre a estrutura da obra literá- do ensino, a não ser na sua relação com o pro-
ria, a literatura e a personagem, o fenômeno te- duto último, didático e artístico, de um curso
atral e a teoria dos gêneros em seu livro sobre o de Teatro, ou seja, a obra teatral. E por obra tea-
teatro épico. Destes textos pude depreender en- tral entendia não apenas o escrito literário, os
tão que se devia atribuir à Estética Teatral um diferentes elementos que se cruzam e se conden-
espaço próprio, com estatuto autônomo. sam nele, em termos dramatúrgicos, cênicos,
Um outro impulso na mesma direção, comunicacionais e filosóficos (éticos, estéticos,
embora vinculado a preocupações menos espe- culturais, políticos e humanos), nem os gêne-
culativas, foi o que recebi de Sábato Magaldi, ros teatrais que são teoricamente agrupados a
que, entre muitos ensinamentos, proporcionou- partir de modalidades literárias ou dramático-
me alguns itens fundamentais de uma biblio- espetaculares, porém a peça de teatro na sua
grafia básica nesse campo, como as obras de Sou- concretude final, isto é, na incorporação e con-
riau, André Veinstein, Sylvain Dhome, Henry substanciação que em todos os sentidos, e por
Ghéon e Henry Gouhier, para citar alguns. todos os componentes de captação pelo espec-
Entretanto, em que pese a relevância de tador, se processa em seu afloramento no palco.
tais subsídios e dos elementos que fui colhendo Só esta realização se me afigurava como o
no correr do tempo, ao contato com as obras verdadeiro objetivo e objeto do trabalho de en-
de Roman Ingarden, Mikel Dufrenne, Roland sino teatral. Assim, embora recorrendo a ele-
Barthes, Jakobson etc., ou do esboço de estru- mentos diversos dos estudos estéticos na Teoria
turação dado à disciplina na EAD, o único an- da Arte e na Literatura, centrei o meu foco, sem
tecedente imediato e concreto que eu dispunha dispensar a referência a seus aspectos menos par-
na ECA, ao assumir em 1970 o curso de Estéti- ticulares, na relação interdisciplinar, comuni-
ca Teatral, depois de ter lecionado Crítica Tea- cacional e sócio-histórica, do próprio fenôme-
tral, eram as aulas que Anatol Rosenfeld (1º se- no teatral.
mestre) e Sábato Magaldi (2º semestre) haviam Por isso, as questões de linguagem, estru-
ministrado em 1969, num curso formalmente tura e valor foram por mim articuladas não so-
sob minha responsabilidade. Tratava-se de um mente como preâmbulos de suas particulariza-
conjunto de preleções que abordava pontos sig- ções na operação teatral e nas subseqüentes
nificativos da Estética Teatral e da Teoria do Te- construções expressivas. Tratava-se, como se ve-
atro, mas que não se prendia a um programa rifica, de formular um ensinamento estético vol-
regular. Ora, a minha tarefa, desde o início, se tado especificamente para o teatro em ato. Tal
fazia mais árdua, visto que surgiu, como era ine- fato, por certo, colocava em jogo as várias teori-
vitável, a exigência de o professor responsável as que intentam explicá-lo e os diferentes esti-
pela disciplina estabelecê-la em termos de um los que, no seu curso histórico, o operacionali-
programa curricular. Não dispondo nem da eru- zaram e o materializaram. Daí a idéia de que a
dição filosófica de Anatol Rosenfeld, nem dos matéria deveria compor-se de cinco segmentos,
conhecimentos teatrais de Sábato Magaldi, e desenvolvidos em quatro semestres: 1) elementos

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de estética geral e de estética teatral; 2) a idéia Seja como for, o corte na programação
de teatro e o fenômeno teatral; 3) as teorias tea- também trouxe algumas vantagens. A conden-
trais; 4) os estilos teatrais; 5) teatro e sociedade. sação obrigou-me a repensar os conteúdos teó-
Tal programa, entretanto, mostrou-se de- ricos em função estrita da substância teatral, o
masiado amplo e inviável no quadro de um cur- que, se resultou em tratamento menos porme-
rículo geral de Teatro ainda em estruturação, norizado do ponto de vista intrínseco e crítico
marcado por sobreposições e por contradições das doutrinas, permitiu abordagem mais cerra-
entre as suas pretensões intensivas e extensivas, da e interiorizada dos elementos e dos referen-
entre os seus alvos informativos e técnicos, en- tes propriamente teatrais, ensejando uma expli-
tre a formação acadêmico-crítica e a preparação cação, uma aferição e uma contextualização
para o fazer teatral. E isso em um curso que con- mais imediatas do processo e dos componentes
tava com os alunos apenas durante meio perío- do fenômeno teatral em si e no seu entrelaça-
do e que abarcava todas as disciplinas de teoria mento com outras formas de comunicação ar-
e prática, mesmo quando diploma visado não tística de massa, como o cinema e a televisão.
era o de diretor ou de professor (e posteriormen- No transcorrer destes anos e das discus-
te o de ator) de teatro, mas sim o de dramatur- sões que mantive com alunos dentro da sala de
gia ou o de crítica, que mais tarde vieram a ser aula, dos inúmeros seminários em que eles de-
conjugados no de teoria do teatro. bateram os tópicos do curso e, fora da sala de
A conseqüência inevitável foi a redução aula, nas trocas de opinião e durante os traba-
desse programa, que passou a ser ministrado em lhos de orientação, pude constatar que, na me-
dois semestres. A diminuição na carga horária dida em que a familiarização dos estudantes
trouxe, é evidente, prejuízos para o ensino ex- com os temas filosóficos e os problemas inter-
tensivo dos conteúdos introdutórios, isto é, os pretativos aumenta e que sua perplexidade ou
da Estética senso lato. Cumpriria focalizá-los, a alheamento iniciais se desfazem e se convertem
meu ver, em outro curso, precedente, como dis- em interesse (e, em teatro, a paixão pelo que se
ciplina básica das áreas de artes, para o preen- faz é pulsão natural), as indagações teóricas e o
chimento dos conceitos essenciais e para o co- exercício crítico põem-se a desempenhar um
nhecimento da história das idéias e principal- papel crescente, mesmo se não percebido como
mente das grandes doutrinas filosóficas, bem tal, nas atividades artísticas que empreendem.
como da filosofia da arte. Seu gosto pela novidade, pela experimentação e
É claro que um maior domínio desse re- pelo vanguardeiro, que é inerente à sua fase de
pertório geral deixaria o estudante menos des- vida, encontra, justamente aí, no discernimento
preparado e menos surpreso, ao defrontar-se e na descoberta dos construtos mentais, das
com o vocabulário, as inter-relações e as aplica- intersecções e distinções de idéias e de tendên-
ções de idéias e noções que ocorrem em um ter- cias, um de seus alimentos estimuladores prefe-
reno como o da Estética e Teoria do Teatro, ridos. Não se trata apenas desta ou daquela cor-
mesmo quando estudado sem ênfase especu- rente significativa ou personalidade excitante:
lativa. Todavia, vale registrar que, nesse particu- Brecht, Stanislavski, Grotowski, Antunes, Ge-
lar, deve-se contar também com o fato de que rald Thomas, Teatro do Absurdo, Living Thea-
nunca deixa de haver – pelo menos tal tem sido tre, teatro antropológico e performático de to-
a minha experiência nas sucessivas turmas – um dos os tipos. Isso vai por si. O importante é que
percentual, até nada desprezível, de alunos que, eles começam a cruzar e a testar, por conta pró-
por predisposição ou interesse, se não por pre- pria, com materiais derivados quer daquilo que
paro anterior, domina com rapidez incrível o é considerado tradicional, quer de todas as ou-
glossário terminológico e conceitual de impor- rivesarias ou lantejoulas do inusitado, para di-
tantes aspectos da filosofia e da estética. zer, e amiúde não chegam a dizê-lo, ou o fazem

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mui canhestramente, algo de original e próprio. volumosos; na verdade, isso se deve mais à
Para tanto, investem em como que sínteses, fecundidade deles do que a algum incentivo de-
inadvertidas freqüentemente, não só procedi- liberado de minha parte. Aliás, muito pelo con-
mentos e práticas não firmados, ou sequer de- trário, em meus escritos pessoais tendo a ser
vidamente adquiridos, porém a capacidade crí- menos extenso, inclusive pela natureza ensaís-
tico-analítica e as curiosidades das estranhezas tica que em geral assumem. De toda maneira,
teóricas que lhe restaram de seus estudos, leitu- se os trabalhos elaborados com tanto alento não
ras e debates em literatura, história, teoria das forem verborrágicos, o que de fato não me pa-
comunicações, sociologia, psicologia e – por recem, nem tem sido essa a opinião das bancas
quê não? – estética e teoria do teatro. examinadoras, então o motivo das largas análi-
É evidente que, em termos mais amplos, ses e exposições deve ser fruto do empenho e da
este registro não oferece grandes novidades, pois motivação de seus autores. Mais ainda, tenho a
pertence à experiência comum de quase todos impressão de que são obra também de um cer-
os professores que lidam com jovens universitá- to pioneirismo nos estudos de Teatro, no míni-
rios. Mas interessa-me aqui, salientar o efeito mo, em termos nacionais. Os já numerosos e
instigador que uma disciplina tão carregada de variados assuntos que foram tema de pesquisa,
pensamentos abstratos, como é a Estética Tea- no CAC, formam, a esta altura, uma biblioteca
tral, pode desempenhar. Não é necessário reite- especializada e de nível, de consulta e de refe-
rar que, ao lado deste papel, ela precisa exercer rência indispensável para o estudioso. Não vou
também dois outros, da maior importância: o arrolar os títulos que a compõem e que dizem
de transmitir informações pertinentes e o de respeito a quase todas as áreas e boa parte das
formalizá-las pela discussão rigorosa. O peso interfaces das artes cênicas, sobretudo em suas
destes, no meu entender, cresce e deve ser enor- manifestações em nosso país. Mas, para cingir-
memente incrementado no trabalho de pós-gra- me àqueles que de algum modo se relaciona-
duação, exatamente dentro do espectro de ques- ram comigo e que, portanto, até certo ponto
tões abrangidas pela área estético-teatral. Se um refletiram algumas de minhas preocupações
alto grau de liberdade, que pode até afigurar-se com a Estética, a Teoria do Teatro e a Lingua-
anárquica, merece, creio eu, estímulo, pelo me- gem Teatral, cumpre-me ressaltar a contribui-
nos como meio de incentivar as primeiras sín- ção de vários de meus pós-graduandos, com tra-
teses pessoais de idéias e de iniciativas artísticas, balhos que não só resgatam capítulos da história
no período de pós-graduação, em contrapartida, do movimento teatral moderno de São Paulo e
a exigência da propriedade das conceituações, do Brasil, ou que estudam, sob um novo pris-
da fundamentação dos argumentos, da verifica- ma, a dramaturgia de figuras seminais do teatro
ção dos dados e da adequação do discurso pre- nacional, como enfrentam a análise de proble-
cisa prevalecer, sem dano, é claro, ao lugar a ser mas candentes da arte do ator na “época da
reservado à criatividade, à invenção, à ousadia e reprodutibilidade técnica”, da estética da dire-
à atração pelo novo. ção, das correntes cênicas atuais até o happening
Foi com esse enfoque que tentei orientar e a performance, e do teatro-educação.
os meus pós-graduandos. Não sou juiz impar- Por outro lado, o acompanhamento do
cial dos resultados, mas nutro a esperança de processo de elaboração destas dissertações e te-
que o conjunto de dissertações e teses elabora- ses e o constante debate em torno de seus temas
das por eles, desde o momento em que fui repercutiram por certo em meus próprios tra-
credenciado, não tenha fugido muito deste alvo. balhos. Assim, se o texto de meu doutoramento
Sou com freqüência objeto de brincadeiras de estava voltado mais para a literatura e apenas
meus colegas que ironizam o fato de vários de associava a ela o teatro, o mesmo não aconteceu
meus orientandos haverem produzido textos com Stanislavski e o Teatro de Arte de Moscou.

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Teoria do teatro e estética teatral

Este estudo, que apresentei em minha livre- de ensaios sobre a estética dos renovadores da
docência, procurava conjugar um esboço da cena russa e reuni-los em livro. Penso também
evolução artística do mestre-encenador russo reescrever e editar em forma de seminários as
com uma análise de seus compromissos natura- aulas de meu curso de Estética Teatral I. Além
listas e de sua simbiose com a dramaturgia de disso, eu e Nanci Fernandes pretendemos con-
Tchekhov, estando endereçada diretamente a cluir no próximo ano o trabalho sobre a contri-
problemas centrais de encenação contemporâ- buição crítica e teatral de Décio de Almeida Pra-
nea. Algo semelhante pode ser afirmado com do. Inscrevem-se no mesmo contexto as tradu-
respeito aos vários estudos que redigi sobre os ções que estou preparando do livro de Richard
grandes do palco russo e soviético dos primei- Boleslavsky, Acting, sobre o método do ator,
ros decênios do século XX, e de uma espécie de bem como de escritos de Nietzsche e Pirandello,
mise au point teórica que empreendi em um pe- e levar a cabo, finalmente, o meu antigo anseio
queno trabalho sobre o Teatro do Gesto e no de verter para o vernáculo algumas das princi-
ensaio de estilística do ator que escrevi com pais obras da dramaturgia judaica.
Maria Thereza Vargas sobre Cacilda Becker. Diante de tudo o que expus até agora,
Não hesito tampouco em apontar igual moti- poder-se-ia julgar que o trabalho na minha dis-
vação até nos artigos que publiquei acerca das ciplina vem atingindo plenamente os seus pro-
origens e do desenvolvimento do Teatro Judeu pósitos. Mas não é o que penso.
e, mais ainda, na minha pesquisa, tradução e Independentemente de futuros desdobra-
reflexão crítica a respeito dos escritos teóricos e mentos curriculares ou reformulações de con-
dramatúrgicos de Leone de Sommi. Diria in- teúdo, um dos ângulos que mereceria maior
clusive que várias de minhas traduções, como a cuidado e desenvolvimento é o que diz respeito
Idéia do Teatro, de Ortega y Gasset, o Teatro Les- ao entrosamento mais orgânico e mais ativo da
te & Oeste, de L. Pronko, e a coletânea de Semio- Estética Teatral com as outras matérias da pró-
logia do Teatro, que organizei com Teixeira Coe- pria área teórica e, sobretudo, da área prática.
lho Neto e Reni Chaves Cardoso, bem como O objetivo seria, de um lado, chegar a um teci-
alguns textos que verti para esta antologia, en- do mais entrelaçado e estendido no que tange
contram-se na mesma linha. Poder-se-ia ainda ao repertório de conhecimentos veiculados e, de
considerar que mesmo a minha atividade como outro, efetuar a aplicação de diferentes segmen-
editor também não escapou a esse apelo, posto tos do arcabouço teórico às exercitações em an-
que tenho dispensado uma atenção não peque- damento nos ensinamentos práticos.
na à bibliografia teatral, tanto estrangeira quan- Se fosse possível promover um programa
to nacional, conforme comprovam as publica- circunstanciado nesse sentido, creio que o ganho
ções da Editora Perspectiva neste campo. não seria apenas da Estética Teatral, pois, desde
Como conclusão para as observações que logo, as seguintes vantagens são descortináveis:
acabo de tecer, permito-me salientar que, em- A carga expositiva desta disciplina e de
bora não tenha me desvinculado dos vários cen- outras integrantes da Teoria do Teatro poderiam
tros de interesse em torno dos quais desenvolvi sofrer um redimensionamento. Não para redu-
o meu trabalho intelectual, ao longo dos anos zir o seu conteúdo teórico e a reflexão crítica,
verificou-se, de minha parte, uma concentração mas, ao contrário, para ampliá-los através de um
crescente não só na área teatral, como mais es- conjunto de trabalhos e exercícios dirigidos em
pecificamente nas questões relacionadas com as pequenos grupos e de estudos individualizados,
disciplinas a que me dediquei como professor. sob a orientação dos professores; mais ainda, os
É natural, pois, que a mesma ênfase se apresen- vários docentes da área ver-se-iam, desta manei-
te em alguns projetos de estudo que venho de- ra, envolvidos em uma atuação interdisciplinar
senvolvendo. Um deles é o de concluir a série e, em momentos previamente selecionados,

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encaminhá-la-iam para o debate dos principais Ao invocar novamente esta idéia, sei que
pontos de intersecção das disciplinas interve- não estou primando pela originalidade. Múlti-
nientes, sem que isso devesse afetar a liberdade plas colocações nesta direção foram formuladas
de condução e o modo pessoal de concepção desde Stanislavski e Copeau até as modernas es-
que constituem princípios básicos da atividade colas de teatro. Não tenho dúvida também de
do professor universitário. que ela está, clara ou insinuada, no espírito da
As realizações da área prática suscitando, maioria dos professores do CAC e da EAD.
como suscitam, questões que não se restringem Entretanto, eu não poderia deixar de aproveitar
ao campo técnico e às operações da produção e a oportunidade que este memorial me oferece
vão, desde a estética da direção e do ator, até para expor um ponto de vista sobre uma didáti-
todo tipo de problemas dramatúrgicos, filosófi- ca e uma metodologia do ensino de teatro e, em
cos e históricos, seriam motivos de exames con- especial, da Estética Teatral e da Teoria do Tea-
jugados, sob o prisma específico do interesse do tro, tanto quanto sobre uma filosofia de uma
momento, em oficinas organizadas pelas duas escola da arte do teatro.
áreas nas matérias implicadas; este enfoque per- Em conseqüência deste modo de pensar,
mitiria um estudo tópico que as disciplinas teó- em que a análise teórica e o exame crítico são a
ricas e, no caso em pauta, especialmente a Esté- contrapartida indispensável do fazer, não posso
tica Teatral requerem para uma transmissão compartilhar da posição daqueles que defen-
imediatamente perceptível e uma captação ca- dem, em nome de uma visão supostamente
paz de mobilizar, de pronto, o interesse do alu- mais atualizada das artes na época da veiculação
no; isto, para não mencionar a extensão que por de massa, uma estrutura curricular que pulve-
aí se daria aos substratos teóricos e os subsídios riza a especificidade de cada arte, remetendo-a
práticos que assim adviriam. a uma pasteurizadora abstração estrutural e se-
A propósito, convém lembrar que algo de miológica, a pretexto imagístico e comunica-
natureza similar já estava na perspectiva dos ex- cional. Não que eu desdenhe as contribuições
perimentos com os ateliês, que se desenvolve- das pesquisas estruturais e semióticas, da teoria
ram, sob a minha direção, no antigo Setor de da informação e da comunicação em caráter
Teatro do CTR da ECA, em 1973, e que, no particular ou interdisciplinar, nem da socio-
seu malogro, por falta talvez de uma estrutura logia dos fenômenos culturais ou das extraor-
de apoio adequada, de um prosseguimento no dinárias lições da lingüística e da antropologia
tempo, de uma discussão e avaliação críticas de nosso tempo, ou que relegue a segundo pla-
construtivas e aptas a indicar soluções mais efi- no o seu impacto e o seu alcance na ação comu-
cazes, não deixaram, apesar de tudo, de causar nitária, nas condições da sociedade brasileira.
viva impressão em alunos e professores que de- Porém, segundo creio, quanto melhor realizada
les participaram, tendo havido mesmo, no de- e caracterizada a formação do estudante de arte
correr dos anos, repetidas sugestões no sentido na “sua arte”, maior será o seu poder de interagir
de que a tentativa fosse retomada. com outras linguagens, estilos, procedimen-
É certo que, em última análise, esta pro- tos e técnicas, de maneira pertinente, criativa e
posta tinha – e eu diria que continua tendo no consciente.
presente contexto – um objetivo em mira: o de Neste sentido, o ideal de uma Escola de
uma instituição de ensino teatral altamente in- Arte Cênica é, e será sempre, para mim, um Ins-
tegrada e capacitada a promover em grau máxi- tituto de Teatro que abarque, na sua proposta
mo a formação não só de um profissional curricular, todos os ensinamentos que concor-
polivalente da cena, mas, sobretudo, de um ho- rem para a construção artística do espetáculo
mem de teatro que reúna no seu saber e fazer a teatral e para a habilitação pragmática e teóri-
teoria e a prática. co-crítica de seus fautores.

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Teoria do teatro e estética teatral

É bem verdade que, nas atuais circunstân- provavelmente, o longo caminho de um proces-
cias e na ideologia produtivista e tecnocrática so incorporador, vale a pena trilhá-lo, acredito.
ora dominante na USP, um projeto deste tipo De minha parte, alimento a esperança de
teria de enfrentar tantos entraves burocráticos que, por exemplo, os atuais Departamento de
que, mais do que uma idealização, afigura-se, Arte Cênicas e Escola de Arte Dramática, de al-
na perspectiva de hoje, quase uma utopia. Con- gum modo integrados, dêem o primeiro passo
tudo, muitas vezes a utopia parece guiar os pas- para tornar mais orgânico e completo o estudo
sos da práxis. Por isso, no presente caso, não se de Teatro nesta Escola.
deveria pô-la de lado. Embora venha a exigir,

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