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QUESTÃO REGIONAL E URBANIZAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO

ECONÕMICO BRASILEIRO PÕS 1930

Wilson CANO*

Os problemas regionais brasileiros, corno se sabe, só afloram com


maior densidade ã discussão política no final da década de 1950, por duas ra
zÕes marcantes : o flagelo das secas nordestinas em 1958-59 e pela elevada
concentração dos investimentos produtivos industriais em são Paulo,
notadamente no transcurso do período 1956-61 (Plano de Metas) . Naquele
momento, a concentração industrial em são Paulo (5%) passava a ser o "bode
expiratório das chamadas disparidades regionais do desenvolvimento
brasileiro.

Conforme mostrei em outros trabalhos, o diagnostico e a terapêutica


produzida naquele momento foram parcialmente equivocados: a insuficiência da
industrialização periférica nacional e a formulação de políticas de
industrialização por substituição regional de importações . Na verdade, a
maior debilidade do desenvolvimento das demais regiões brasileiras tem
suas raízes em processos históricos distintos antes da ruptura 1929-33,
antes, portanto, da integração do mercado nacional e da instauração do
próprio processo de índus trialização que se dá a partir daquele momento.

O Norte, porque seu enganche mais importante com o comercio interna-


cional se deu pelas exportações de borracha, cujo ciclo áureo entre 1a7u e
1912, foi drasticamente contido pela racionalizada produção gomífera feita pe-
lo capital inglês na Ãsia . Alem disso, as relações sociais de produção (o
aviamento) ali predominantes e a própria forma de produção da borracha extra-
tiva, na selva, não permitiram a superação da crise com urna provável mudança
na estrutura produtiva .

* Professor FECAMP/UNICAMP (Instituto de Economia)

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O Nordeste, depois de atravessar o periodo de fausto do açúcar-século
XVI ã primeira metade do XVII - passou a sofrer violenta concorrência, primei
ro, do açúcar antilhano e mais tarde (século XIX) também como o açucar euro-
peu, de beterraba. Com isto, seu principal produto de exportaç·
ão passou · a se r
marginal no mercado:.internacional, com preços violentamente deprimidos.Seu segu_!!
do principal produto - o algodão - era, até muito recentemente, "cultura de
pobres", feita em bases técnicas e econômicas precárias, sofrendo igualmente
dura concorrência no mercado ·internacional, com o algodão norte americano,com
queda vertiginosa de preço, efeito esse atenuado pela expansão dos mercados
têxteis do Rio e de São Paulo, principalmente.

Acresça-se o fato de que as relações sociais rurais ali predominantes


e a forte concentração da propriedade fundiária entorpeceram o desenvolvimento
capitalista.

O extremo-sul do pais, até 1930, afora a pecuária gaúcha, constit.uia


basicamente uma economia de pequena e média propriedade - tanto na agricult
ra como na indústria - não concentrando o capital, como seria necessário
para gerar um processo industria l de maior vulto. Seus mercados nacionais res
tringiam-se, nao sõ pela falta de compecitividade maior, como, principalmente
pelo fato de que o principal mercado nacional - o de são Paulo - seria abas
tecido pela notável agricultura paulista .

são Paulo foi o espaço em que a cafeicultura se Ímplantaria em bases


capitalistas mais avançadas, desde o Último quartel do século passado, substi
tuindo suas importações de alimentos básicos desde a primeira década do secu
lo atual, e implantando, a partir das duas Últimas décadas do século passado,
aquele que viria a ser o principal parque industrial do país (32% em 1919 e
377. em 1929 do total nacional).

No Rio de Janeiro, a cafeicultura escr.avista entrou em franca derro


cada a partir de 188, e a crise só não teve efeitos ainda mais profundos,pelo
fato de que a i se instalou a sede do governo central - desde o século
XVIII - e a região era o principal centro comercial e financeiro nacional.
A dinâmica de sua economia permitiu-lhe instalar importante parque
industrial,que seria o principal do país, atf. a l guerra mundial, sobre
passado, a partii:

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de então, por são Paulo.

Os dois outros "estados cafeeiros" - Minas Gerais e Espírito Santo


- ao transitarem da economia cafeeira escravista para a de trabalho livre,
o fizeram com base no regime da parceria e da pequena propriedade, incapaz de
induzir as necessárias transformações capitalistas . Minas Gerais, contudo,
ainda teve a seu favor a proximidade dos dois maiores mercados nacionais (
mais
o Rio de Janeiro do que são Paulo) para seu gado e seus alimentos, obtendo as
sim uma pequena integração econômica.

Pouco se pode falar do Centro-Oeste, regiao até então escassamente p


voada e economicamente pouco explorada.

Resumidamente, as distintas regiões brasileiras nao eram comercialmen


te integradas entre si, salvo no que diz respeito a alguns fluxos mais impor
tantes: açúcar e algodão do Nordeste para o Rio e São Paulo; gado de Minas
Gerais e Centro-Oeste para São Paulo e Rio; alimentos do extremo- Jl para o
Rio e algumas áreas urbanas do Nordeste.

A debilidade do desenvolvimento sõcio-econômico periférico nao


ria, assim, gerar uma importante urbanização. O Censo de 1939, já decorridos
portanto 10 anos de intensa industrialização, o primeiro a apresentar da
dos da população urbana -,mostrava o acentuado predomínio d população rural
no país (697.) . As principais áreas urbanas do país, naquela data eram a cida
de do Rio de Janeiro com 1,5 milhão de habitantes e são Paulo, com 1,2 milhão;
seguiam-lhes Recife, com cerca de 300 mil habitantes, Salvador e Porto Alegre,
com mais de 200 mil, e, entre 100 mil e 200 mil, encontavam-se Belo Horizon
te, Belém, .Fortaleza e Curitiba.

o considerável peso da população rural ate 1930 e explicado tanto p


la pequena base industrial quanto pela manutenção de enorme atraso ·na agricul-·
tura periférica mantenedora de inúmeros bolsões demográficos regionais. A pa
tir da crise de 1929, com a subsequente modificação da estrutura agrícola em
São Paulo e com algum avanço na modernização de sua base agrícola começa a to
mar vulto o ·êxodo rural paulista. Contudo, a abertura da fronteira agrícola
paranaense se converteria em importante amortecedor, retardando a velocidad-

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da urbanização. Porem, a piora das condições de vida nas periferias mais atra
sadas (Norte, Nordeste e interior de Minas Gerais) ou o agravamento do pr
blema do fracionamento da terra na economia camponesa do sul ampliaram os fa
tores expulsadores de levas humanas regionais em direção as economias urbanas
do Rio e de São Paulo, alem da citada fronteira do Paraná.

A economia cafeeira capitalista em são Paulo foi a Única célula ex


portadora capaz de gerar uma importante e precoce urbanização tanto no sentido
Capital (São Paulo) litoral (Porto de Santos) quanto na direção do inte-
rior, onde as bases técnicas e econômicas do café exigiram sólida base urbana,
gerando uma formidável rede de cidades de meàio e pequeno porte.

Contudo, como se verá mais adiante, essa urbanização em maior esca-


la no Rio e são Paulo pode se dar de forma suportável ate fins da de
cada de 1950 e, só a partir de então, graças ao agravamento dos problemas urba
nos (habitação, saúde, saneamento, transporte coletivo, etc) é que também Pª.!.
sa a figurar na agenda da discussão política nacional, a questão urbana,_ ao
lado da regional, da agrária e de outros principais problemas nacionais .

Nas paginas seguintes, ã luz das linhas e fatos mais gerais do desen
volvimento sócio-econômico do país posteriores a 1929/33, discuto os princi-
pais problemas atinentes ã questão regional e ã ·urbanização, fenômenos que, c
mo tentarei mostrar, apresentam-se com forte interdependência entre si e
com a questão
agrária.

Na parte I restrinjo-me ao . período 1929-33 a 1962, que constitui a


primeira fase de integração (a mercantil) do mercado nacional e que termina
justamente no momento em que aquelas questões estão sendo problematizadas p
la sociedade brasileira, num dos momentos mais ricos do debate político nacio
nal (1960-1964).

A parte II compreende o período 1962·a 1980, que se inicia imediata-


mente apos a implantação da indústria pesada,passando pelo auge cíclico de
1967-74, terminado no memento da desaceleração da economia nacional (1974-80).
nesse período que se inicia a segunda fase de integração do mercado . nacio
nal (a dominação do capital produtivo) para a periferia nacional e que se ini

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ciam as chamadas políticas de desenvolvimento regional. É também o momento em
que o Brasil deixa de ser uma socied ade basicamente rural passando a ser
predominantemente urbana com sua população rural perfazendo ainda cerca de
33% em 1980.

A Última parte (III)abarca a atual década a do aprofundamento


das crises internacional e brasileira , o momento atual em que se rediscu-
te a transição democrãtica do país, terminando por fazer algumas indagações s
bre os temas regional e urbano no futuro próximo, não como estudo de "tendên-
cia" mas como especulações em torno de mudanças (
ou não) estruturais.

Advirto o leitor que as opinioes que serao apresentadas sao - fruto de


reflexões sobre alguns trabalhos já publicados bem como da observação
crítica sobre o momento atual. Em razão disso, pouparei o leitor não
apresentando ci tações bibliográficas .

I. INDUSTRIALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO DO MERCADO NACIONAL: 1929/33 a 1962

Embora 1929-33 tenha sido o momento da ruptura do antigo padrão de


acumulação o primário exportador, com implantação industrial por ele in
duzida para o novo, com base no investimento autônomo para a industriali
çao, é na década de 1920 que são gestados os determinantes 'da transformação.

Com efeito, o café nas regiões cafeeiras notadamente em são Paulo


assim como os outros principais produtos exportados, na periferia, gera-
ram as transformações possíveis conforme suas distintas potencialidades de
alterar nao so as estruturas produtivas mas também, em certa medida, as so
ciais. Assim, em São Paulo se implantou também uma agricultura não-café e o
·maior parque industrial do país que, justamente com a atividade principal de.
ram surgimento a um processo de urbanização e de terciarização mais avançada
a essa economia. As transformações são também considerãveis no Rio de Janei
ro mais por força do gasto público e de ser a principal praça comercial e fi
nanceira do..país do que por seu aparelho produtivo. As demais regiões também
apresentavam algumas potencialidades de avanço, contidas entretanto por al

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guns obstáculos que a crise iria eliminar.

É uma década em que o parque industrial faz enorme esforço de acumu


lação produtiva e de grande diversificação da produção de bens leves ge
rando, ao final dela acentuado grau de capacidade ociosa. Portanto, 1929 nao
representa apenas a crise de sobreacumulação cafeeira mas também industrial.

A ruptura necessária teria caráter de profunda mudança. Não se alte


ra apenas a fonte direta e principal da acumulação produtiva: alteram-se o
perfil das forças sociais maior pr sença da classe trabalhadora urbana, da
classe média, do segmento militar, mas também dos segmentos econômicos con
solidação do sistema bancário nacional e do Estado que, de liberal-ortodo-
xo passava a ser francamente intervencionista. Passava o Estado a adotar a
bandeira da industrialização e tomava a integração da economia nacional como
necessidade. É nesse sentido que devem ser entendidas as medidas de iní
cio isoladas que vao sendo tomadas desde a prÕpria política de amparo ã
"crise da cafeicultura" .

As clássicas análises de Furtado e de Conceição Tavares nos ensina


ram o transcorrer desse processo de industrialização "(
por substituição de im
portaçÕes Y '.', de crescimento intenso, mas ainda sém a integração vertical
dos bens de capital.

Dado que fora em são Paulo que se haviam desenvolvido os dois maio
res e mais modernos segmentos produtivos do país a agricultura e a indús
tria , era natural que tanto os efeitos da crise poderiam ser mais devastado
res do que no resto do país, quanto, pela decisiva ação do Estado, a recupera-
rao iria concentrar maiormente aí, seus principais frutos.

A política cambial compatível com o desenlace com o passado e a forte


contração do nosso comercio externo tornou o mercado nacional cativo ã nossa
indústria que, ao longo do período 1930-1955 foi se diversificando, introdu.zi
do inclusive parte considerável da produção de insumos (energia, aço·,
cimento,entre as principais ). A indústria, que entre 1919 e 1939 crescera ã
taxa media anual de 5,7% acelera-se para 7,5% entre 1939 e 1949 e para 9,3%
entre 1949 e 1959. A agricultura, passada a crise, respondeu plenamente às
novas ne

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cessidades do pais, crescendo a taxas acima do crescimento demográfico e supo_
tando em parte a crise cafeeira nas contas do setor externo.

o último quinqUênio (1956-1960)do período e sua exitosa consolidação,


com a implantação da indústria pesada e de extraordinária expansão rodoviária.
Com os novos segmentos, a estrutura industrial se alterara significativamente :
os bens de consumo não durável, que em 1919 perfaziam 76% da produção indus-
trial passavam, em 1959, a 53%; os bens intermediários, de 22% para 34% e os
de bens de capital e de comêrcio durável, de menos de 2% para 13%.

O enorme esforço a que foi submetida toda a economia nacional e todos


os seus segmentos, aprofundaram as transformações então latentes no momento da
ruptura. Ampliou-se consideravelmente o mercado de trabalho urbano: entre
1940 e 1950 o setor urbano aumentou em 1,5 milhão seus empregos, enquanto o
rural crescia de apenas 0,5 milhão; entre 1950 e 1960 as cifràs respect ivas se
riam de 3,6 e de 2,0 milhões. evidente que a intensificação da urbanização
fazia o pais transitar de uma sociedade rural para uma industrial, embora, co-
mo veremos, mais concentradas nos espaços do Riq de Janeiro e de são Paulo, fa
zendo com que a participação da População urbana no total, para o conjunto - do
país, atingisse apenas 36% em 1956 e 45%.em 1960.

Esse enorme esforço de urbanização teve o concurso do capital nacio


nal, que, em Última instância construiu o Brasil residencial e.comercial, e do
Estado, que realizou grandioso esforço na construção da infra-estrutura, nota
damente de um ·novo sistema de transportes (
rodoviário) de cunho eminentemente
nacional e integrador.

O início da década de 1960 contudo, ao mesmo tempo em que consolida


esse processo poe a nú o enorme conjunto de problemas econômicos e sociais dos
quais a naçao se desviou ou apenas enfrentou parcialmente. Constitui, na ver
dade, o esgotamento de um longo período de crescimento "fácil". Conseguiu-se
acomodar quase tudo: os interesses externos aos internos; os do setor pÚbli_
co aos do setor privado; a da classe trabalhadora, graças ã grande expansao
do emprego, ao populismo; os d classe media, pelas modificações qualitativas
no emprego que a nova estrutura produtiva exigia.

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Cont udo a nova década é t ambém o momento da reflexão critica
face aos problemas que, finalmente, "vêm à tona", ou sej.a, passara para a age
da da ampla discussão polltica nacional que então se processa . Afloram os con
flitos e a disputa de ·interesses: hã agora maior conlito com o capital exter
no; com os baixos salários dos trabalhadores; com o êxodo rural e a não-refor-
ma agrária; com as carências sociais urbanas não atendidas; com o emperramento
do sistema financeiro; com a questão regional, e outros.

1. A questão regional no período

O novo padrão de acumulação, centrado na industrialização, exigia a


integração do mercado nacional. Este, até então, apresentava tênues ligações
mercantis dificultadas sobremodo, tant:o pelas enormes distâncias e insuficiên-
cia de transportes ·quanto pela existência de impostos interestaduais, que
foram extintos entre 1938 e 1943. No que tange à questão da rede de transpor
tes, a partir da década de 1940 se inicia uma . fase de construção e mode.rniza-
ção rodoviária que atingiria seu ponto máximo no Plano de Metas, quando as
regiões mais distantes (
NO, CO e NE) foram melhor interligadas com o resto do
país.

Esse processo de integração geraria três tipos de efeitos . Os de es


tÍmulo, no sentido de que o avanço da industrialização e da urbanização, embo-
ra acentuadamente concentrada em são Paulo e Rio, passava a exigir do resto o
país, notável esforço de complementaridade agrícola, mineral e industrial, não
só pela sua expansão física mas também porque o abastecimento externo esteve
seriamente contraído durante todo o período, Desta forma, a periferia nacio
nal não apenas aumentava suas compras de mercadorias de são Paulo, mas também
passava a lhe vender mais.

Os de inibição de bloqueio, que consistiu no fato de que,instaurado


o processo de industrializaç·
ão no centro dominante (São Paulo), determina as
atividades jã lã instaladas (
ou que viessem a sê-lo) com capacidade e economia
de escala para operar a nível nacional (ou para abastecer o mercado do centro
dominante)não se repetiriam na periferia, bloqueando ali seu surgimento, por

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longo período de tempo.

O terceiro, os efeitos de destruição, poderiam manifestar-se via con


corrência entre produtores de distintas regiões. Contudo, o fato de que o mer
cado nacional tornou-se cativo ã indústria nacional, pela longa restrição à
importações, de um lado, e, de outro, pela possiblidade de se renovar o par.
que fabril, o mercado; "dava para todos", isto é, era diminuída a competição.
Isto se deu atê o início da década de 1950; porém, a partir do reequipamento
industrial ensejado pelas maciças :importações induzidas pelos fatos da Guerra
da Coreia, a situação se alterou. Com efeito, a partir de meados dessa dêca
da, a velha indústria periférica de bens de consumo nao durável, que pratica-
mente não se reequipara ao contrário da indústria paulista , passaria a
sofrer dura concorrência e quebraria, inexoravelmente.

A agricultura paulista a mais capitalizada do país diversificou


se ainda mais, implantando duas novas culturas em bases técnicas mais modernas
e eficientes : o algodão e a cana-de-açúcar. Com isto, bloqueou a possibilida-
de de estímulo aos congêneres produtores nordestinos . Por isso, a agricultura
paulista apresentou elevado crescimento no período, em que pese a crise cafeei_
ra, e a do Nordeste apresentou-se entre'as de pior desempenho no país. As peri,
ferias mais próximas de São Paulo (PR e CO) beneficiaram-se não sõ da menor
distância mas, principalmente porque suas estruturas produtivas foram mais
propícias à penetração capitalista .

As periferias mais longínquas incluindo-se aqui o interior de Mi


nas Gerais mantiveram as marcas do atraso e da forte concentração fundia
ria, colaborando com isso no colossal aumento dos fluxos migratõrios nacionais,
principalmente os do Norte, do Nordeste e de Minas Gerais. Por isso, foi mui
to diversa a ocupação de mão-de-obra no setor: entre 1940 e 1960, as regiões
NO/NE/MG tiveram pequeno aumento no emprego agrícola; são Paulo, graças a
avanço técnico, diminuiu-o em 5%; a exuberante fronteira do Pararrâ e a do Cen
tro-Oeste, juntas, absorveràm 50% do aumento do emprego do setor primário na
cional. O extremo-sul e o Espírito Santo, frente ao antigo problema do ret
lhamento da pequena produção amiliar em ambos, e pelo avanço da modernização
no primeiro, apresentaram fracos desempenhos ocupacionais e em termos da pr_2
dução nacional, mantiveram níveis de crescimento em torno da média.

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Modernização e atraso, ambos os fatores foram os grandes responsãveis
pelo considerável aumento dos fluxos migratórios inter-regionais. Tais fluxos,
se tomados os acumulados atê 1950, e em termos líquidos (
entradas-saÍdas) ,apr
sentavam elevadas perdas para as populações do NE (-6, 0%) , MG (-13,8% ), ES
(-4,0%) e RS (-3,97%) e acentuados ganhos para SP (6,1%) , PR (27,8%) e e.o
(16,57.).

Quanto à produção industrial, o NE foi a região que menos se benefi-


ciou desse processo, muito mais por suas prõprias condições estrutura so-
cio-econômica, inserção marginal no comercio exterior, concentração funaiãria
, do que por supostos efeitos perversos da integração ou, como alegavam al-
guns, face à concentração industrial em São Paulo. Entre 1919 e 1959, o NE
diminuiu sua participação no produto industrial do país, de 16% para 7% enqua
to SP passava de 32% para 55%, MG de 5,4% para 5,8%, RS de i0,7% para 7% e RJ
de 27% para 177%.

Essas cifras contudo escondem o fato mais importante: nos períodos de


1919/49 e de 49/59 todas as regiões apresentaram crescimento industrial real;
enquanto SP crescera às médias reais de 7,9% e 10,8% bastante acima das médias
nacionais (6,4% e 9,3%), acompanhado de perto apenas por MG, no· primeiro perí
do, e pelo NO, PR e CO, no segundo. Mesmo o NE, ·a região que menos ganhou,c s
cera a 4,47. no pr imeiro e a 6,3% no segundo. Portanto, nenhuma região
estagnou ou regrediu.

O acentuado crescimento ·industrial do período promoveu importantes


mudanças na estrutura industrial regional. A mais importante se deu em SP,
onde o peso do·setor produtor de bens de conumo durável e de capital, que em
1919 perfazia apenas 3% do seu produto industrial, passa, em 1959, a 257. en
quanto o de bens de consumo não durável diminuía de 74% para 39%, jã config;:
rando uma estrutura mais avançada. O rest.ante do Brasil apresentava suas pri
cipais modificações não tanto pela pequena participação do setor .de consumo d
rãvel e de capital mas principalmente pela substancial redução do de bens nao
duráveis de consumo (de 80% para 527.) e pelo substancial aumento na produção
de bens intermediários (de 19% para 417.) , o q ue demon stra a forma de

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articulação que se deu entre o centro dominante e a periferia, nessa primei_
ra fase de integração do mercado nacional.

2. O Avanço da Urbanização

Embora em 1960 a população rural ainda representa 55% do total, no


período 1950-60, o crescimento da população urbana respondeu por 2/3 da
expresão demográfica nacional. Pelo ângulo exclusivamente demográfico,
foram seus principais fatores o êxodo rural e as migrações inter-regionais
(estas, notada mente para o Rio, SP e PR).

Pelo ângulo do emprego existem outras questões que merecem ser apo n_
tadas e, par.a algumas sÕ nos resta formular hipóteses, dado que a informação
empírica é bastante insuficiente.

Para o NO e NE, o aumento do emprego rural e do urbano entre 1940 e


1960 tiveram participações semelhantes, por insuficiência de desenvolvimento
urbano e por manutenção de acentuado atraso agrícola; para o CO e o PR o aumen
to da ocupação rural foi superior a 2/3 do tota1, face a dinâmica dessa fron-
teira agrícola; para as demais regiões, o aumento da ocupação urbana foi, em
media, cerca de 70% do aumento total.

O Rio de Janeiro nao exige maiores explicações, dada a exiguidade de


sua agricultura e seu caráter de grande hospedeiro do setor público. Para as
demais regiões, contudo, seu confronto com são Paulo exige algumas reflexões
adicionais .

Uma primeira questão diz respeito ã agricultura e ã estruturaagra


ria. Nas periferias mais atrasadas a não (ou exígua) muadança nas relações
sociais, na estrutura fundiária e nos padrões técnicos, associada ã menor dina
micidade desse setor, implicaram em crescente aumento do êxodo rural e das mi
graçÕes inter-regionais . Nas agriculturas mais avançadas, por razoes inver
sãs (
maior modernização e crescimento), também houve grande aumento do
êxodo rural, mas não de emigraçao em maior escala. Na "fronteira (PR e CO),
dada a

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colossal taxa de crescimento de sua agricultura, houve imigração rural em lar-
ga escala.

Assim é que entre 1940 e 1960, a taxa de crescimento da PEA primãria


já foi inferior ã do crescimento demográfico das respectivas regiões: moderna
mente baixa no NE e NO pelas razões expostas e em SC e RS por ainda estarem
ocupando o restante de suas fronteiras; muito baixas, em MG e ES; negativas,em
SP e no RJ; moderadamente alta no CO e elevada apenas no PR•

No centro dominante (SP) e na sua fronteira prôxima (SUL e CO), houve


um avanço de modernização e agroindustrialização em maior escala, o que · repe
cutiria dinamicamente na geração maior de empregos urbanos, seja na indústria
(transformação dos produtos primários e produção de insumos e de bens de
capital),seja nas atividades terciárias interdependentes, como o
comercio,finanças, transportes, armazenagem, seguros, reparações mecânicas
etc ..• Nas periferias mais distantes e mais atrasadas este efeito dinâmico
positivo não ocor reu, pelo menos em escala mais .significativa; portanto,
aqui as relações rural/urbano se resumem num efeito de "inchament-011 maior do
Terciário, a menos que a industrialização e a terciarização ganhassem maior
dinamicidade.

O outro ângulo da questão diz respeito ao emprego industrial. Primei-


ramente, em que pese o fato de que o reequipamento foi ma s concentrado em SP,
os indicadores mostram que ele também esteve presente - ainda que reduzido -
no resto do pais. De um lado, a relação "operários/pessoal ocupado" na indus
tria cai sensivelmente entre às décadas de 1939/49 e 1949/59 e a
produtividade media por operário sobe, ambas relações assim se manifestando em
todas as regiões. Isto se deveu não sõ ao reequipamento parcial mas também a
dois outros fatores queimplicaram no comportamento do emprego industrial. O
primeiro teve a ver com o crescimento industrial nos dois períodos : no primeiro
, o setor que mais cresceu foi o de bens de consumo não durável, tradicionalmente
·o grão :_ de celeiro de empregos industriais; no segundo período, além de crescer
menos que os outros setores, reequipou-se e , ainda, suas unidades produtoras
periféricas arcãicas iniciaram um movimento de falências que se estenderia por
mais de duas décadas as seg·uintes, O resultado líquido dísso é que, entre 1919 e 1659
•> Nordeste; por exemplo, apresentou t axa negativa de cresciü1ento do emprego in
dustrial, pelo Censo Econômico.

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A década de 1949/59 se caracteriza pelo intenso crescimento do setor
de bens intermediários, em todas as regiões, mais avançada tecnologicamente e,
portanto, menos gerador de empregos. O setor de bens de capital e de consumo
durável - concentrado em grande medida em São Paulo - é o que melhor desem
penho direto apresenta em termos de empregos, e e por isso que SP apresenta
excelente desempenho ocupacional.

Uma agricultura mais moderna e dinâmica, justamente com uma etrutura


industrial mais completa e moderna promove, como se sabe, melhor interdependên_
c ia estrutural técnica e econômica e portanto ocupacional, entre os se t G1 re s
primário, secundário e terciário, dinamizando assim um processo de urbanização.
Isto porque há que mudar a infra·-estrutura social e econômica .para d ar-lhe
apoio e porque, de outro lado, a maior incorporação produtiva de pessoas exi
ge colossal expansão de atividades complementares de serviços de toda ordem. Is
to, sem dúvida, deu-se substancialmente em SP. Com isto não quero afirmar que
nao existia (e que não existe hoje)em São Paulo, um terciário inchado conviven
do com atividades terciárias modernas, produtivas e funcionais.

No resto do Brasil, contudo, pelas razoes expostas, penso que a magni_


tude dessa inchação já era consideravelmente maior no período analisado. Pri
meiro, porque a agricultura periférica era muito mais atrasada do que hoje; s e
gundo, porque a industrialização ali sô adquire maior impacto no período pÕs
1970. Urna indicação empírica disto pode ser tomada pela relação - via Censo
Demográfico -, "empregos terciários/empregos industriais" . Em 1940 quando o
emprego rural perfazia mais de 7 57. (salvo no Rio, que era de 32% e SP de 597.),
aquela relação era cerca de 1,5 para SP, em torno de 3,5 para o NO e ES e de
cerca de 2,3 para as demais regiões. Esses números bastante superiores ao de
SP parecem·indicar uma dose "excessiva" de emprego terciário em relação ã
dinâmica industrial regional. Em 1960, quando se aprofunda a industrialização ,
aquela cifra atinge 1,9 em SP, mas sobe ainda mais para 4,5 no ES, CO e NO, e
para cerca de 3,1 nas demais regiões. Lembremo-nos que em 1960,' oºpeso do em-
prego rural embora tivesse baixado bastante no Rio (15%) e em SP (33%) era ain
da superior a 2/3 no resto do país. Penso que esses resultados. são mais condi
zentes com a alta regressividade de nossa distribuição pessoal de renda do que
com uma inexistência de .inchação .no terciário.

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Tomado o período 1940-1960, a estrutura ocupacional na periferia pou-
co se alterou: diminui levemente o emprego rural, de mais de 75% para cerca
de 2/3, enquanto o industrial pouco se altera (de 8% para 9%)e o terciário,
de forma um pouco mais pronunciada (de 21% para 26%). No mesmo período, no
Rio, esses mesmos setores passavam de 32% para 14%, de 20 para 21% e de 48%
p ara
&5 % ; em são Paulo, passaram de 59% para 33%, de 16% para 23% e de 25% para 44%.

As taxas de urbanização aumentaram, porem eram ainda tímidas: no Rio,


passaram de 61% a 75%, em são Paulo, de 44% para 63%; porem, no resto do paÍs
pouco mudaram, passando das medias de 25% para 36%. As maiores taxas de cres
cimento da população urbana deram-se exatamente nas regiões onde se processa-
vam as maiores transformações em termos de desenvolvimento econômico: São Paulo
(4,8 anual); Paraná (7,6), Centro-Oeste (7,0)enquanto as demais regiões, em
conjunto, cresceram ã taxa de 4,3%.

Por isso chamei essa urbanização, de "suportável" . Na periferia, po_E


que sua expressao absoluta e relativa ainda era pequena; no centro dominante,
porque ela se deu em paralelo com uma formidável incorporação de mão-de-obra e
com assentamentos humanos bastante concentrados na capital de são Paulo. O
forte aumento do emprego com mobilidade social proporciona ao centro urbano on
de ocorre arrecadação fiscal tambem crescente e municípios com recursos para
resolver boa parte de suas prÕprias carências sociais. Por outro lado, o ate
então não-espraiamento dos assentamentos populares (conturbação pouco
acentuada e baixa periferização em relação ao município da Capital de São
Paulo) permitia ainda ao Estado prover serviços públicos urbanos a custos
aceitáveis e, por outro lado, não favorecia como hoje a desenfreada
especulação imobiliária, o alto custo do transporte coletivo; etc.

Dessa forma, a metropolização se restringia ã regiao da capital pau_


lista e a da antiga capital federal no Rio de Janeiro. Contudo, em São Paulo,
a periferização dos assentamentos industriais já dera importantes passos, em
direção aos municípios vizinhos à Capital e, trás dela, fatalmente iria parte
apreciável da população trabalhadora, e a maioria da população de baixa renda.

80
II. CRISE, "MILAGRE ECONÔMICO" E DESACELERAÇÃO: 1962-1980

O período 1961-64 é de grande complexidade para a sociedade brasilei-


ra. Na economia, representa o agravamento inflacionário, a crise fiscal e fi-
nanceira do Estado, a desaceleração do crescimento industrial e o esgotamento
do manejo instrumental da politica econômica. No plano social, é a tomada de
consciência por amplas respostas da sociedade da gravidade dos problemas maio
res do pais. No plano politico, a ruptura, embora de certa forma rompe com
o passado, contudo não conduz ã modernidade institucional democratizante; antes,
abre o cenário futuro .para vinte e um anos de autoritarismo, a partir do golpe
militar de abril de 1964.

A crise atinge seu ponto mâximo em 1964-65.e, neste Último ano, o go_
verno militar promoveria as principais reformas econômicas e institucionais.Pe
la reforma tributária restaura o poder do gasto público, promovendo inclusive
enorme centralização fiscal e fnanceira junto ao Governo Federal; pela refor
ma bancária e financeira, reordena os instrumentos e instituições do sistema
financeiro nacional, agilizando mais o credito ao consumidor e aos bens de
capital, alem de instituir a correção mónetâria. Pela reforma administrativa,
reordena o complexo aparelho do estado. Altera a legislação trabalhista e im
planta as instituições para promover uma politica habitacional. A partir de
1967, alem de estender ã Amazônia, os incentivos regionais, amplia sobremodo a
"carteira" de investimentos incentivados.,incluindo: turismo,
reflorestamento, pesca, produção aeronáutica estatal, mercado de capitais e
exportações. Tudo ao capital.À classe trabralhadora, sob a "justificativa"
do combate ã inflaçao, deu o maior arrocho salarial até então praticado.

A desaceleração industrial e a politica de incentivos ãs exportações


fariam com que, de inicio, se expandissem bastante as exportações de bens in
dustrializados leve·s; novas brechas no mercado internacional, para : a carne,
ja e seus produtos e suco cítrico, encarregaria-·se·-de também incentivar a ex
portação de tais bens ·E.ntre 1967 e 1970, não sô se elevam substancialmente ·
as exportações, bem como a produção industrial se recupera, enxugando sua ca
pacidade ociosa e acelerando a retomada do investimento privado. Esta fase
de crescimento acelerado se esgota entre 1973-74 e novamente as pressões infla

81
cionãrias e de bal.anço de pagamentos se fazem presente.

O governo militar jã iniciava em 1972, um processo de endividamento


externo em grande parte desnecessário sob o ponto de vista de nossas necessida
des de importação, mas ajustado ã equivocada idéia de converter o país na mais
nova potência industrial. Essa ideia, em parte abalada pelo primeiro choque
do petróleo (1973) induziria ã gestação de uma política para um "Brasil grande';
que implicava, em resumo: substituição energética (PRO-ÁLCOOL); despropositado
acúmulo de capacidade produtiva de bens de capital e de alguns insumos bãsicos;
implantação de energia nuclear; implantação da indústria de produção de nao-
ferrosos; etc.

O reerudecimento inflacionário e o agravamento da crise


internacional, a partir de 1978-79 poria fim a essa política, dado o
descontrole das contas e das finanças públicas e o estrangulamento do balanço
de pagamentos,sumamente agravado tanto pelo segundo choque do petróleo quanto,
principalmente, pelo colossal aumento dos juros da dívida externa.

Em que pesem esses obstáculos, a estrutura indµstrial avançou em va


rios sentidos: modificou e modernizou-se para atender à demanda externa e por
força da implantação de setores novos. Para isso, a base primaria (agrícola e
mineral) do país foi submetida a grande esforço, exigindo expansao e grande
modernização da agricultura - notadamente de São Paulo, do Centro-Oeste e do
Sul - e da exploração de recursos minerais, principalmente no Norte e Nordeste.

Para atender ao esforço exportador e ã modernização em geral, o gasto


público não mediu eforços na ampliação da infra-estrutura de transportes e
de comunicaÇÕes. Não é demais lembrar que nesse conjunto de projetos se ten
tou fazer coisas desnecessárias ou de dimensão inadequada para o momento, o
que comprometeu ainda mais investimento e as contas públicas, forçando incl
sive a paralisação total ou parcial de alguns projetos, tais como no caso da
energia nuclear e nos transportes .

82
No bojo desse esforço de "Brasil Grande", o governo passou a . dar
maior ênfase às políticas regionais, tanta de investimentos produtivos quando
de alguns investimentos sociais, notadamente na periferia. t bom lembrar que
os programas regionalizados se ajustavam ao apoio político que o governo auto
ritãrio necessitava, para manter a chamada "abertura lenta e gradual" e evi
tar que o voto repuzesse o país na rota da democracia.

1. O Desenvolvimento Regional no Perlodo

A implantação da industria pesada em 19Sn-60, ao mesmo tempo que con


solida nossa industrialização, amplia as bases reprodutivas e de valorização
dos capitais. No que tange ã temática regional, cumpre dizer que, a partir
daí, se completa a integração do mercado nacional de mercadorias e ao me smo
tempo, se abre a fase (segunda)de integração, a da migração do capital prod
tivo. Hã nesse sentido, dois fatos que aceleram sobremodo o início dessa fase.

De um lado, a acumulação ampliada do capital industrial, com larga


margem de capacidade ociosa planej ad.a se defrontou com a crise durante a qual
as oportunidades de novos investimentos (e re:investimentos) no próprio centro
dominante estavam obstadas. Urgia, portanto, desbravar novas fronteiras para
a acumulação.

Dt outro e na verdade antecedndo a crise, foi sendo reivindicada


por amplos segmentos da sociedade - notadamente pelas elites regionais - uma
política de. desenvolvimento regional que atraísse investimentos do "Sul" do
país para a industrialização regional. Essa reivindicação foi inicialmente
atendida para a região Nordeste com a criação da Sudene em 1960 e, em 1967,
estendida ã região Amazônica através da Sudam e da Zona Franca de Manaus.

Eliminados os anos agrícolas maus, provocados pelas intempéries, a


agricultura cresceu em torno ã sua taxa historica ( acima de 4%)e, em termos
regionais pode-se dizer que SP e MG perderam posição relatava muito mais do
que o NE; a grande expansão deu-se ate 1980, na fronteira agrÍcQla do NO e
principalmente do CO e no Sul, aqui graças ãs transformações na estrutura
produtiva, com acentuada modernização.

83
Esta modernização tem que ser qualitativamente diferenciada, segundo as
regiões e os cultives. Assim, no Sul e em SP,a transformação da estrutura
produtiva com modernização nas culturas do milho, café e algodão, e a
entrada maciça da soja, da cana-de-açúcar (inicio do Pro-álcool), da
laranja, do trigo, etc. impôs acentuada mecanização, quimificação e
introdução de espécies melhoradas . A própria pecuária paulista viu-se compe
lida a promover acentuada divisão do trabalho, ficando com a engorda e deixan-
do a criação para o e.o.

Com a modernização dos cultives no Sul e SP, a produção de alimentos


simples deslocou-se da região da agricultura mais capitalizada, para as peri_
ferias, alterando as estruturas de preços relativos e provocando, na maior
parte do período, desequilíbrio na oferta de alimentos básicos. Por força
desse deslocamento espacial e tambem pelo desenvolvimento da agroindústria lo
cal, que o NE não sofre perdas relativas acentuadas, continuando ate 1980, a
responder por cerca de 1/5 da produção agrícola nacional.

As transformações modernizadoras, alem dos impactos altamente positi-


vas em termos de demanda por bens de produção industriais e por serviços, cau
saram serio agravamento aos problemas sociais. Seja pela eliminação liquida
de postos de trabalho, acelerando as corrente's migratórias, seja transformando
o antigo trabalhador rural em "bÕia-fria", convertendo-o em morador urbano.

A menor transformação da agricultura, por outro lado (


notadamente no
NE e no interior de MG) ·ao piorar ainda mais as condições de vida de suas pop
lações trabalhadoras, acelerou ainda mais as migrações inter-regionais.

A insensibilidade social do governo autoritãrio diante da questão


agrária fez com que optasse por "paliativos salvadores", como foi a abertura
da fronteira agrícola amazônica e a invenção da Transamazônica, como caminho
·para a suposta redenção do excedente demográfico, notadamente do nordestino.

O fluxo acumulado de migrantes inter-regionais saltou, de 2,ó mi-


lhões em 1950 para 11,9 em 1970 e 16,5 em 1980. O Nordeste (excluído dele o
Maranhão) , que ate 1970 havia perdido 14,4% de sua população, em 1980 ve aumen
tada essa perda para 17,9; Minas Gerais dos 24,5% passava a 24,9%, o Rio Gran

84
de do Sul dos 8,9% passava para 90:; e o Maranhão passava tambem a ter perdas
acentuadas . No transcurso da decada 1910-80, três regiões outrora grandes re
ceptoras de migrantes regionais se transformaram em expulsadoras : do Maranhão
saíram 110 mil pessoas, de Goiás 100 mil e do Paraná 1.320 mil. Por outro
lado, o Rio de Janeiro, que entre 1950 e 910 recebera em termos líquidos, i,4
milhão de imigrantes, entre 1970 e 198O inflete essa capacidade - certamente
por seu menor crescimento econômico e pela piora de sua condição de vida ur
bana - recebendo apenas mais 363 mil.

Pior ainda e que em que pesem os altos gastos cóm a abertura da fron
teira agrícola amazônica, com a elevada especulação com suas terras e os des
caminhos no trato de seu meio ambiente, a região recebeu apenas mais 593 mil
pessoas . Ao mesmo tempo, em que pesem as tentativas de "desconcentrar" a in
dÚstria de são Paulo e de tentar vender a ideia de que "São Paulo precisa P_!
rar", este estado recebeu mais z',7 milhÕes de migrantes, ou seja, quatro e
meia vezes mais do que toda a Amazônia!

As políticas de incentivos para o deenvolvimento regional lograram


êxito, em termos de atração de investimentos industriais, durante a maior Pa r -.
te do período. Na dê.cada de 1970 quando a industrialização avança criando no
vos setores a periferia nacional passaria a ser a maior receptora do investin
to, tanto por sua base de recursos naturais quanto por força de decisões macro-
políticas do governo federal, como foi o caso do polo petroquímico baiano e do
gaúcho.

Tomados os períodos censitários de 1960/70 e de 1970/80 o que se nota


ê que, no segundo período, o crescimento da indústria.esteve·calcado mais
na produção de bens de consumo durável e de capital, secundado pelo de bens
intermediários. Assim sendo, os programas nacionais de insumos básicos haja
vista os não-ferrosos, a petroquímica e o aço - foram substancialmente implaE_
tados na periferia . Na primeira dessas decadas a produção industrial periferi_
ca embora tambem tenha recebido importantes investimentos - naqueles setores, da
do que eles tinham menor peso na estrutura industrial regional, suas taxas me
dias de crescimento industrial não foram maiores do que as observadas na deca
da de 1950/60. A exceÇão se dera apenas com MG, ES, SC e CO, que continuaram
mantendo taxas mais elevavas, os três primeiros, pelo aprofundamento da indus

85
trialização em seus espa9os e o segundo, pelo enorme crescimento da sua
agroindústrias.

E curioso notar que tomadas as decadas de 1950/60 e de 1960/70, qua


do a taxa de crescimento industrial de são Paulo cai, de 10,8% para 7,8% a con
centração industrial em SP aumenta de 55,5% para ·58,3% e ·o crescimento Peri-.
férico desacelera um pouco. N.u período seguinte, embora a produção industrial
"desconcentre" um pouco (caindo para 53,4% em ·SP, em 1980), a taxa de cresci
menta em SP passa de 7,8% par s;o;. e a da periferia assume dimensões raramen
te conhecidas nos diversos processos de industrialização retardatária; ·
o NO
a
cresceu média anual de 21,3%; o NE, a 12,7%; MG e RS, a pouco mais de 10%,PR
a 12,9%; CO a 13,2%; se a 14,2% e o ES a 16,3%! A .Única excéção, no período,
e o RJ: cai de uma taxa em torno de 6% para a de 4,9% acentuand·
o ainda ·mais
seu declínio relativo de longo prazo.

Com isso o NO triplicou sua participação industrial nacional e o ES


a duplica; o NE recuperou boa parte de suas antigas perdas; MG, PR, RS e CO
assumem trajetórias de aumento de suas participações.

A "desconcentração" paulista .merece um exame específico. Em que pese


o discursos desconcentrador e mesmo as medidas econômicas levadas a efeito, o
governo federal acabou se curvando ãs leis mais gerais do capitalismo. O de
senha.de algumas políticas não teve outra alternativa senão enfrentar a fria
lógica do capitalismo.

no estado de São Paulo ·- ou em _sua ·periferia mais próxima - que


se encontra nao apenas o maior mercado nacional como tambêm as melhores e
mais eficientes condições para a produção capitalista agrícola e industrial.
Assim, cabe lembrar· que duas das três refinarias de petróleo foram
implantadas em SP: a de Paulínia (
a maior da América Latina) e a de são José
dos Campos, ao redor das quais induziu-se o surgimento de varias atividades
interdependentes . Os programas de desenvolvimento da produção bélica e
aeronáutica encontraram excelente localização no Vále do ParaÍba. O Pro-
álcool e o desenvolvimento do agro-exportador tiveram na agricultura
paulista - principalmente na região de Campinas e de Ribeirão Preto -
excepcional base produtiva. O elevado nível tecnológico que se desenvolveu
em Campinas - notadamente na UNICAMP -favore

86
ceu ali a implantação de importantes· polo de microeletrônica e informãtica .

Para que se tenha melhor visão do sucedido, basta dizer que enquanto
o estado perdia posição na concentração industrial na Última década,o interior
(estado, exclusive a Grande são Paulo) aumentou-a, aumentando sua participação
na produção industrial paulista, de 29,3% em 1970 para 41,4% em 1980 e 17,17.
do total nacional para 22,9% sendo, depois da Grande são Paulo, a maior con
centração industrial do pais •

.A industrialização resultante na periferia nacional, cabe lembrar,


e de caráter complementar ã do centro dominante, e sua grande dependência
dos mercados (
de insumos e bens de capital e de produtos finais), comprova es
ta assertiva. A despeito de todo esse avanço industrial periférico, como se
verá mais adiante, os problemas sociais se agravaram.

A estrutura da renda interna das distintas regiões se alterou profun_


damente, diminuindo sensivelmente o peso do setor agropecuário, que em 1980
perfazia tão somente cerca de 16% no NO, NE, M, ES, se e RS; cerca de 21% no
PR e eo e apenas 4% em SP. Em contrapartida, o peso do setor industrial aumen
tou substancialmente, sendo que quase 50% em SP e se, jã de 15% no eo e sup
rior a 30% nas demais regiões. e.orno se verã, entretanto, a essa estrutura não
corresponderia a ocupacional.

O processo resultou, ainda, em importante aumento da participação


regional na renda interna: entre 1970 e 1980, somente RJ (de 16,1% para 13,6%),
SP (de 39,4% para 37,7%)e RS (de 8,7% para 8,1%)perdem posição relativa no
contexto nacional.

Entretanto - e principalmente nas periferias mais atrasadas - o avan


ço nao foi capaz de superar as forças econômicas e políticas regionais qu€
sobrevivem ã custa da manutenção dó atraso. A res.peito de uma certa moderniza
ção agrícola, da expansão do credito rural e da industrialização, o capital
mercantil regional somente sofreu abalos marginais em sua dominação. Conti
nuou, infelizmente, . a controlar o credito e a comercialização, a estrutura fun
diária e as benesses do poder pÚblico e pior que tudo, o poder político,
com o que tenta sedimentar e perenizar o velho e surrado discurso
regionalista dos

87
"desequil1brios regionais" e da necessidade de "mais recursos para a regiao",
independentemente do seu uso e do endereço dos beneficiários.

2 - A Urbanização Descontrolada

A desaceleração do crescimento da população rural foi muito mais


sensivel no Rio, SP e MG, onde 'o ·crescimento foi negativo ja no período de
1960/70 e menos acentuada no NO, NE e CO. Contudo, a década seguinte ns tra
ria apenas a região NO e os estados do MA, Pi, BA e MT (
neste, o crescimento
foi de apenas 0,2% anual) como aqueles onde a população rural ·ainda aumentou.
Tais regiões, na verdade, espelhavam o restante da "fronteira" aindi em ocupa
çao. NO e NE mostravam em 1980 as menores taxas de urbanização (cerca de
50%)e mesmo o CO - exclusive o D.F. - apresentava 2/3 de sua população viven
do nas cidades.

A taxa de crescimento do emprego rural que na década 1960/70 fora


muito baixa (salvo no PR e CO) ou mesma negativa, na década seguinte seria po
sitiva e baixa, somente no NE (0,9%) e CO (0,3%) e ainda elevada na Amazônia
(3,2%); nas demais regiões ela já se tornara negàtiva, acentuando sobremodo os
fluxos migratõrios estaduais e inter-regionais .

Nas duas décadas, a intensidade do crescimento do setor industrial


como um todo - mormente a indústria de construção civil - foi alta e, pela pri:_
meira vez na economia do país, as taxas de amento de ocupação industrial su
s do emprego terciário, atingindo 6,0% contra 4,0% na de 1960/70 e
peraram a·
7,3% contra 6,0% na Última, superando inclusive, as taxas de crescimento da
população urbana. Com isso, a relação "emprego terciário/emprego secundário"
diminui sensivelmente em todo o país (2,6.. em 1960, 2,1 em 1970 e 1,9 em 198L \,
salvo no Rio, PR, NO e CO, pela estrutura especifica (
mais· terciária) do pri_
meiro e da situação de fronteira agrícola, dos três Últimos.

Contudo, pode-se temer que essa seja uma situação atípica, face ao
intenso crescimento industrial e também pelo fato de que o arrocho salarial g
neralizado vigente no período pode ter alterado as proporcionalidades de· ofer

88
ta e demanda no mercado de trabalho, questão de alta complexidade e controvér-
sia.
Em que p.ese esse movimentado emprego urbano• a estrutura ocupacional
mantêm ainda em 1980, apreciável contingente no setor primário: desde as meno
res de ·4% no Rio e 13% em SP, de 23% no NO, em torno de 40% no PR. e e.o., de
52% no NE e de cerca de 32% nas demais regiões, revelando o muito que ainda
pode sair do campo. Somente em SP (39%), SC(31%) e na peculiaridade do NO
(57%, com grande influência da ZF de .Manaus), ê que se encontram altos pesos
de ocupação industrial; RS, RJ, MG e ES, aproximam-se dos 25%, estando os de
mais bem abaixo dessa cifra. Convêm lembrar, ainda assim, que tais cifras de
correm do Censo Demográfico, ocultando apreciável contingente de emprego "in-
formal", mesmo no secundaria.

As taxas de crescimento da população urbana, embora altas na década


de 1970 diminuíram acentuadamente em relação às de 1960, salvo na região NO
(6,4% contra 5,3) e no RS (
4,0 contra 3,9)mas ê necessário ter presente ' que,
enquanto a população urbana era ·aumentada de 10,6 milhões na década de 1960
na de 1970 o aumento foi de 28,2 milhões embora a taxa . demográfica total ti
vesse caido de 2,9% para 2,5%.

Se a urbanização da década de 1950 foi "suportável" a da década se


guinte passou a ser problemática e, a da de 1970 "caÕtica" com perda da quali:_
dade do padrão de vida que as cidades ofereciam, .com a perda de qualidade
e a "privatização" da maior parte dos serviços públicos e a incapacidade poli
tica - face ao autoritarismo P ã baixa politização do povo - das populações re
clamarem seus direitos urbanos .

Com o crescimento "anárquico" das cidades, a especulação imobiliária


e a periferização dos assentamentos humanos marcaram o período.

O capital mercantil imobiliário - construtor capturou o estado ·Pª


.!
sanda el'e a comandar o processo de . ocupação e uso do solo, o qual teve a ver
com os seus interesses, e nao com os da população majoritária de baixa ,:renda.
Os assentamentos, agora sob a égide das políticas habitacionais oficiais peri
ferizaram ao máximo - praticamente em quase todas as cidades onde atuaram

8
os núcleos habitacionais, obrigando o estado a prover a infra-estrutura (tran_!
portes, saúde, educação, saneamento, et!c) a custos crescentes e, de outro,obri_
gando o trabalhador a se distanciar cada vez mais do centro e de seu trabalho.
Por outro lado, ao distanciar o assentamento .. popular, com a infra-estrutura
recebida, valorizava, automática e especulativamente, os terrenos "a meio do
caminho", onde esse capital novamente se valorizava, desta vez atendendo à de
manda mais nobre da classe média .

Essa captura do estado, a forma caótica dessa urbanizaçlio e o


centralismo fiscal praticado pelo governo federal culminaram no
comprometimento fi
nanceiro, fiscal e político do estado, que cada vez mais se tornou incapaz
(e insens1vel) para efrentar os problemas sociais mais graves.

A perif.erização dos assentamentos humanos ·e dos industriais e a esp


culação imprimiram importantes modificações no processo de urbanização. A pri
cipal foi o surgimento da conurbação e da subsequente metropolização, fazendo
surgir inclusive as chamadas "cidades-dormitõ.rio", dando um caráter de maior
complexidade institucional à urbanização.

à medida que a especulaÇão retornava mais voraz e que os custos de


sobrevivência tornavam-se insuportáveis a periferização aumentou, fazendo cres
cer sobremodo as cidades vizinhas ao município principal, aí tornando proibiti
va a vivência normal da população de baixa . renda, salvo na condição de ..
.marginais, em favelas ou cortiços.

Não e demais lembrar que nao se pode atribuir essas mazelas, com
exclusividade, ã concentração industrial, nem, por isso.mesmo, pleitear a "des
concentração" para evitar os males da "urbanização saturada" • Compare-se, por
exemplo, a dimensão relativa da indústria e da população das demais regiões
metropolitanas em relação a de são Paulo. A de Fortaleza, que compreende o
·equivalente a doze por cento da população da RMSP, concentra menos·de 3% de·
uma equivalente produção industrial da RMSP; na de Recife, a cifra seria de
18% e 5%; na de Salvador 14% e 6%; na de Curitiba, 17% e aproximadamente 9%.

P. questão na verdade, tem a ver fundamentalmente, com os baixos sal


rios com que se paga a força de trabalho no país, com a mã forma da administr

90
çao pública do urbano e com a voragem da especulação mercantil imobiliária.

As políticas de "descentralização" , com ou sem a criação de Distri


tos Industriais, mesmo quando bem sucedidas, descentalizaram não apenas indÚ
trias mas também as carências, que no caso presente brasileiro, ·.acomp anham
inevitavelmente a classe trabalhadora . A favelização, a carência da escola,
dv osto medico, da segurança, do transporte coletivo, enfim dos problemas que
boje estão presentes não apenas na RMSP mas em todas as cidades de "porte me-
dio" que receberam impacto da industrialização.

l1as está tambêm naquelas zonas urbanas que, embora "carentes" de


indústrias estão abarrotadas de pobres, vitimas, não da explosão industrial,
mas também da não exploração capitalista .

Ainda em 1980, cerca de 89% dos domicílios urbanos do NO e NE nao


contavam com ligações de rede de ésgosto; no ul, a cifra era de pouco mais
de 75%; mesmo em São Paulo e Rio ela ainda era alta, cerca de 40%. O analfa
betismo na população de 15 anos ou mais era tambêm muito elevado : 39% no NO,
47% no NE, 25% no CO, PR, MG e ES e em torno .de 13% no Rio e são Paulo.

III - CRISE ATUAL E AGRAVAMENTO DOS PROBLEMAS PARA O FUTURO

Sem duvida o país ampliou e diversificou sua industrialização, com


o peso desse setor em 1980, representando 36.,9% da renda e com o primário pe.E_
fazendo 10%. A estrut.ura industrial aproximara-se ã de países ·de.senvolvidos
com os bens não duráveis de consumo se reduzindo a 30,6% e os de capital e de
consumo durável atingindo 26,8%. Contudo, a regressividade das políticas sa
lariais, d renda e fiscal agudizaria ainda mais nosso perfil distributivo : O
1% mais rico da população, que em 1960 recebia 11,9% da renda, saltava em
1980 para 16,9% enquanto os 50% mais pobres caíam nestas datas de 17,4% pa-
ra 12,6%. Não é demais lembrar que o 1% mais rico, em media, recebia 67 vezes
mais do que a media dos 50% mais pobres da população!

91
A crise externa entre 1979 e 1982 agravara sobremodo nosso serviço
de dÍvida externa, o dêficit público, o balanço de pagamentos e a inflação. Em
1982, dias apos grandes vitorias eleitorais obtidas pela oposição, o governo
autoritário batia ã porta do FMI.

A recessao do período 1980-83 foi a mais severa atê hoje sofrida p


la economia brasileira . o produto industrial caiu à media anual de 5,4% e o
PIB a 1,7%; a dívida atingiu o montante de 81 bilhões de dolares e a inflação
chegou a 155% em 1983. A partir de 1984 com o colossal aumento das exportações
para os EUA,o país não sõ começou a gerar enormes superávits comerciais, como
também passou a utilizar parte da capacidade ociosa, recuperando o crescimen-
to da produção em 1984 e em 1985 tambêm graças a isso, a graças a uma política
de certa liberalidade salarial.

A crise teve o mérito de precipitar o desgaste politico do governo


autoritário e assim, acelerar o momento para a transição politica.

A transição politica, contudo, fez-s de maneira conservadora, nego


ciada pelas elites - as mesmas do passado - e pelos mlitares: "mudar para ma
ter o poder" eis a sit:itese do acordo, A politica econômica ortodoxa da Nova
República não impediu o - agravamento inflacionãrio e, com a mudança da equipe
econômica, instituiu-se o Plano Cruzado em 2/1986, medida de congelamento que,
alêm de não causar perdas aos trabalhadores, trouxe-lhes ganhos reais. Contu
do, a manutenção do congelamento por tempo excessivo, com vistas às eleições
de 11/1986, e a resistência conservadora às reformas econômicas necessárias,s
botou as possibilidades para debelar a inflação, para a melhor negociação da
dlvida externa e para ·a retomada do investimento.

Se entre 1983-1986 o PIB e o produto industrial cresceram às taxas


medias anuais de 7,4% e ·9,4% em 1987 já diminuiam sensivelmente para 2,9% e
0,2% ameaçando cair ainda mis em 1988.

A guinada conservadora que se reinstaura em 1987, continuou incapaz


de debelar a inflação, que, de 80% em 1986 subiu para 363% em 1987 e a aça fe
cl1ar em 1988 com 750%. A política econômia atual - auto-denominada pelo
governo de "feijão com arroz" - jâ retomou os caminhos da ortodoxia, e
debate-se

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no momento com o populismo e a ingovernança do poder executivo e com o bloco
conservador na Con·stituinte ("UDR - Centrão - Municipalistas - Regionalista .s -
Microempresãrios")que, nq 19 turno da Carta Magna, alem de dificultar a refor
ma agrária, aprovou a descentralização fiscal sem a das serviços; o aumento de
redistrituição regional da receita, a (
vergonhosa) anistia d·a divida dos peq11
nos e médios empresários, e outras medidas inadequadas . A equipe econ.
ômica do
governo, inclusive renegocia a divida, de forma ortodoxa, j.unto ao FMI, BIRD
e Clube de Paris.

O delicado momento interno - politico e econômico - de ameaça de hi


perinflaçÃo e de falta de credibilidade no governo, se defronta com uma situa
ção internacional que jã se encontra diferente daquela vivida .no início da
década. A despeito que a questão ·financeira internacíonal..não ,tenha sido.efeti
vamente enfrentada pelas grandes potências; duas outras questões importantes
já o forçam: a da integração econômica dos grandes blocos e o avanço da rees
truturação industrial.

O MCE integra-se plenamente em 1992' e os EUA têm feito declaraçÕes


r.o sentido de constituir a "Ãrea do Pacifico", com o Canadá - com quem acaba
de negociar a instituição de uma área de livres barreiras - com o México e com
o Japao. Essa agragação sõ complica o caso brasileiro, principalmente pelo
fato de que 60% de nosso saldo comercial se da no mercado norteamericano.

A questão das novas tecnologias e da reco.nversão .industrial, embora


ainda se encontrem " a meio do caminho", ja deram contudo passos muito impor-
tantes nas principais economias capitalistas_. A revolução microeletrônica e
da informática nos principais setores industriais jã é uma realidade e o
Brasil se encontra muito defasado nesse processo, correndo o risco ·- por essa
razão e pela não retomada do nivel anterior do investimento - de perda de
competitividade intermacional e de cres.cente. absol:es.cêriciá . inte;r:n;i.

Portanto, sob o ponto de vista econômico, nossa questão crucial ·e ·


teremos ou não condições de "pegar o bonde da hÍstÕria"'isto e de acompanhar
ou não essa nova revolução industrial?

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Essa questão, contudo, se debate com a delicada situação econômica
interna, onde a continuidade do atendimento ao serviço das duas dívidas, a ex
terna e a interna, encurtam a poupança externa e a do governo, ao mesmo tempo
que transformam o setor privado produtivo em banqueeiro da dívida pública.
I

Voltemos aos dois temas objetivos deste trabalho.

Embora as estatísticas sejam muito precárias, dada a ausência de cen


sos posteriores a 1980, sabe-se que pelo menos no Nordeste, segundo a Sudene,
enquanto a taxa mêdia de crescimento do PIB nacional, entre 1980 e 1986 ; fora
de 2,7% a do NE foi maior, de 7,4%, a região apresentando taxas de crescimen-
to, em todos os setores, superiores ãs medias nacionais .

Isto pode ser entendido pelo fato de que os investimentos públicos


no período, embora reduzidos, privilegiaram muito o NO e NE. Isso decorreu
de dois fatores principais . De um lado, pela continuidade de alguns dos
grandes projetos e maturação de outros de base locacional rígida (fontes de
recur sos naturais)ou de decisão locacional macro-política : as usinas de
Icaipu (
PR) e de Tucurui (NO); o Projeto Carajâs, o Programa do Aço; a
maturação dos pÕlos petroquímicos da BA e do RS, etc.

De outro lado, a necessidade da preservaçao do pode pelo regime au


toritârio, além dos caminhos eleitorais impostos, implicou e'uí reforçadas alian
ças regionalistas conservadoras e parte do "pagamento" foi uma concentração
maior dos investimentos públicos sociais nas periferias - principalmente no
NE - e um atendimento maior em termos de crédito diferenciado subsidiado.

Com a "Nova República" o- processo simplesmente continuou nao tanto


pela origem regional do Chefe do Executivo e de vârios de seus ministros mas
pela necessidade do apoio majoritariamente conservador das bancadas do NO/.
CO/NE e pela cooptação das hostes conservadoras das bancadas do SUL/SUDESTE.

Revelando-se apenas como mais um escândalo sobre o mau uso do dinhei


ro público, . º desperdício e da corrupção, o recente relatõrio da Comissão de
Avaliação dós Incentivos Fiscais (
COMIF) concluiu que, a falta (ou a excessiva)
demora de fiscalização pela Sudam e Sudene acabou fazendo com que fração impor

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tante de recursos alocados para projetos agropecuários foram desperdiçados ou
desviados, face ao grande número de projetos inviáveis aprovados . Além
disso, o programa agravou ainda mais a alta concentração fundiária
principalmente na Amazônia.

No que se refere a projetos industriais do FINOR. os mesmos geraram


poucos empregos diretos, e o total de novas ocupações foi em media 20% menor
do que constava nos projetos aprovados pela Sudene. Por outro lado.além
das empresa .; que sofrem insucesso· (concordatãrias ou falidas) cerca de 40%
de1as encontram-se funcionando em pre·
cãrias condições . Quanto ao FISET ··-
Reflorestamente - e este atuou em todo o território nacional - vale
t:raascrever que, dos recursos recebidos entre. 1975 e 1985 (2 bilhÕes de
dÔlares), cerca da metade foi absolutamente improdutiva, dado que aplicados
em florestamento (ou reflorestamento )economicamente inviáveis por serem
explorados. Quanto ao FISET-PESCA, teve destinação ainda pior, e todos nos
lembramos da .cr·iminosa montagem fotográfica (denunciada pela
imprensa)que a SUDEPE fez para iludir a opinião publica sobre a dimensão da
frota pesquisa nacional e, com isso, tentar.esconder mais um descalabro.

A segunda questão temática - a da urbanização -, emora nao se conte


com novas informações censitárias, · existem outras fonnes - principalmente a
da imprensa diária - que nos permite concluir que a questão urbana se
agravou sobremodo na atual década.

A falência do estado nao se resume à questão financeira e


econômica: ela está manifestada principalmente pela descrença na ação
pública, no que tange ãs-questÕes-de-segurança da favelização, saúde
publica, justiça, habitação, saneamento e transporte coletivo, entre
outros.

Mas ela está presente, agora nao apenas nas grandes aglomerações me
tropolitanas. Está se manifestando tanto nas cidades antes chamadas de médias,
e que passaram a ser grandes, próximas ãs Regiões Metropolitanas quanto tam
bêm nos centros urbanos decorrentes da abertura da fronteira agrícola Amazô:·
nica ou mesmo nos estados de reduzida expansao industrial. Vale dizer : o fe
nomeno da "arrebentação" urbana está presente em todo território nacional in
dependentemente de quais sejam seus determinantes : a industrialização concen

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trada ou nao, a fronteira agrícola, o garimpo, as novas zonas turísticas do
NE, etc.

Embora . as pesquisas demográficas recentes tenham constatado acentua-


da redução na fecundidade da mulher brasileira - em todas as regiões brasi
leiras - e que, por isso a taxa demográfica liquida jã caiu, isso não quer di
zer que "nos livramos 'de nossos males"." Pelo contrário, de um lado, porque o
efeito reducional só se manifestará no longo prazo, enquanto os efeitos acumu
lados estão se multiplicando no curto prazo .

Por outro lado, embora estejam ocorrendo transformações importantes


nesta década, em termos de avanços de alguns espaços agrícolas periféricos
a soja no CO e em MG e a irrigação no NE elas agravarão ainda mais a migr
ções inter-regionais.

A diferença básica que julgo estar ocorrendo jã a partir da década


de 1970 e agravada nesta, é que.parte substancial das migrações estariam, se
periferizando em espaços relativamente próximos às áreas metropolitanas.

Por exemplo na década de 1970, dos 2,7 milhões de imigrantes recebi


dos pelo Estado de são Paulo, provavelmente entre 750 a 900 mil não se fixaram
na Grande são Paulo, dos quais aproximadamente 6ÓO mil se localizaram na re
giâo de Campinas. Isto pode "satisfazer" os descentralistas'/mas não a nõs
que vemos nesse fenômeno, um lado bastante positivo, o da não constituição
do Rio e de SP em MegalÕpolis, mas, ao mesmo tempo, o processo de urbanização
ar rebentar com todo o sistema brasileiro de cidades de mêdio porte, como já
oco;:: reu no estado do Rio de Janeiro, em São Paulo, na região de Campinas,
Ribeirão Preto, Litoral e Vale do Paraíba e .em torno de quase todas as
principais gran- des aglomerações brasileiras.

Resta, neste artigo, especular um pouco sobre o futuro proximo. Não


em termos de extrapolação de tendências mas de reflexão sobre o que necessita-
mos, o que podemos e o que desejamos para um futuro próximo, e o que devemos
evitar.

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A postura otimista nos impele 'para uma .mudança volÍtica profunda,co
dizente e necessária para que peguemos o bonde' da his.tória,para •que no.S 'lllante-.
nhamos_competitivos .internacionalmente •·Mas·nãQ so parte disso .Lembre-nos que essa
guinada política teria, inequivocamente, a necessidade de que sua direção fos
se a da. democracia, não sõ para a retomada do investimento mas também para ', o
resgate da en ·
·re divida social para com a imensa massa de desassistidos.

Mas isto e ·pouco provável, embora seja possivel. Isto requer q.


ue
nossas elites retirem seus "tapas-olhos", e que passem "a pensar grande".. Re
quer profundas mudanças no trato das questões regional, urbana, social,agrâria
e, sobretudo da questão do Estado. Exige um nível de seriedade e responsabili
dade que essas elites e a classe política não têm tido.

Requer, principalmente, que retomemos a abandonada rota que princ.i


piamos a tomar, no que tange à questão da dívida externa, pois temos a certe
za de que servir a dívida e crescer é hoje uma hipótese ilusória.

Requer, por outro lado, um acerto social interno, _que permita nao
apenas enfrentar o curto prazo mas, principalmente, umá profunda reforma fia
cal e financeira para o necessário apoio ao crescimento e ao resgate social.

SÓ assim, penso, seria possível realmente se desenhar e executar p


11ticas serias de desenvolvimento regional·
, e não pollticas para o "desenvolvi
mento econômico" apenas das elites regionais.

Da mesma forma as ·políticas urbanhs tem sido dirigidas ao atendimento


dos interesses dos capitais mercantis imobiliário e construtor, marginalmente
passando pelo interesse social. Isto requer profunda mudança do caráter da r
presentação política local em grande medida deteriorada e superada pelo despr
paro, pela ignorância ou pelos interesses lastreados pelo. financiamento elei
toral. Há que se pensar em novas formas de participações políticas das popu
lações urbanas. Hã que transformá-las de simples meio para a acumulação ·dos
capitais urbanos, em objeto das políticas sociais.

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