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mund possibilidades
desafpioostasdeetrabalho com adolescentes
uma pro
mundo jovem
desafios e possibilidades
uma proposta de trabalho com adolescentes
00-LMonitor_01-54final_Layout 2 1/18/12 10:44 AM Page 2
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-62058-01-1
CDD 362.796
Apresentação . . . . . . . . . . . . . 05
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . 06
Integração . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Identidade e diversidade . . . . 21
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Corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sexualidade . . . . . . . . . . . . . . 55
Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Drogas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Profissão e trabalho . . . . . . 101
Cidadania . . . . . . . . . . . . . . 121
esentação
apr
riada em 2005, a Fundação Tide Setubal é Nesse contexto, é com muita satisfação que apre-
5
introdução
um pouco de história...
6
ta capaz de se posicionar no mundo. Esse é um oficinas incluíram atividades com vídeos educa-
período de escolhas cruciais, tanto no plano profis- tivos, discussões, jogos, dramatizações, conversas
sional quanto no afetivo; para tanto, é fundamental e propostas lúdicas com materiais de artes. A
que existam espaços de troca que ajudem esses maior parte das atividades foi feita coletivamente
jovens a se apropriar de sua crescente autonomia para que os adolescentes desenvolvessem habili-
e a trilhar caminhos saudáveis, que busquem um dades de convivência em grupo e de cooperação.
equilíbrio entre o desejo de cada um e as possibili-
dades que a realidade oferece. O sucesso do projeto fez com que a equipe siste-
matizasse sua experiência, elaborando um material
A escolha de trabalhar com essa faixa etária tam- que tornou possível reproduzi-la, a fim de multipli-
bém se baseou na idéia de que as políticas públicas car o trabalho, ampliar o seu alcance e, desse modo,
devem criar espaços diferentes das escolas, mas atingir um público maior em todo o país. Este mate-
conectados a elas, objetivando a montagem de uma rial baseia-se, portanto, em atividades já realizadas,
rede efetiva que contribua para a formação de longamente discutidas e avaliadas, e contou com a
sujeitos-cidadãos, aptos a buscar, escolher e participação dos próprios jovens.
inventar um futuro melhor para suas vidas.
Assim, esperamos que este material ajude profis-
Para atingir esses objetivos, foi criada uma sionais interessados na adolescência a formar
metodologia específica, apoiada em atividades com jovens capazes de assumir o mundo adulto com
abordagens diversas, pouco usuais nas escolas. As confiança e autonomia.
7
A quem se destina
8
Como usar este material
9
Os jovens se envolveram intensamente nessa pro- tivamente esse produto é uma forma de os jovens
dução e algumas turmas quiseram apresentá-la se apropriarem ainda mais dos temas trabalhados
para outras pessoas que freqüentavam o mesmo e, ao mesmo tempo, elaborarem uma despedida
espaço onde as oficinas ocorriam. Construir cole- do grupo.
10
integração
11
introdução
Além disso, nesse início de trabalho, é importante que você se aproxime do tema adolescên-
cia, aprofundando seus conhecimentos, questionando-se, por exemplo, sobre quem são
esses adolescentes da atualidade, quais são suas características, necessidades e dificul-
dades. Isso pode ajudá-lo a entendê-los melhor e a se posicionar de uma maneira mais con-
sistente diante do grupo. Para tanto, além dos textos dos especialistas presentes em cada
módulo, sugerimos uma bibliografia ao final, caso você queira se aprofundar ainda mais.
Após o texto do especialista, você encontrará diversas atividades que auxiliam o grupo a se
entrosar, mesmo quando os adolescentes já se conhecem. Algumas delas podem ser reali-
zadas no primeiro encontro como forma de apresentação e outras, ao longo das primeiras
oficinas, para criar um clima amistoso antes da realização das atividades. Cabe ao monitor
avaliar as necessidades de seu grupo.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
• Apresentar o projeto aos jovens e conversar sobre as expectativas de cada um.
• Conhecer o grupo e promover uma integração dos participantes.
• Criar um clima de descontração e confiança, preparando o grupo para as discussões
e reflexões dos temas abordados ao longo do projeto.
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com a palavra...
uem são os adolescentes dos tempos de hoje? Como eles podem estar mais
Escrever sobre adolescência é, sobretudo, lidar com o tema das contínuas transfor-
mações. Adolescência é uma trajetória marcada pela passagem de um mundo infantil,
protegido, no qual sempre há adultos (pais ou seus substitutos) zelando pela criança,
para um mundo adulto no qual cada um tem de se responsabilizar pela sua vida e suas
escolhas. O adolescente se vê, então, obrigado a lidar com todas essas mudanças.
Obrigado porque ele não pode escolher entre crescer ou não: a todos nós, impõe-se a
tarefa de lidar com esse novo lugar no mundo.
E como é essa trajetória que o adolescente constrói, ensaiando novos lugares, jeitos de
ser, possibilidades de futuro? É, antes de tudo, intensa. Recheada de conflitos, crises,
questões. Não é fácil conquistar a autonomia, o engajamento no mundo, e responsabi-
lizar-se pelas próprias atitudes. Tudo isso implica necessariamente um certo tempo.
Tempo para se dar conta, experimentar, testar, questionar, brigar, descobrir, construir
outro jeito. Tempo para aceitar as perdas dos benefícios de ser criança e para descobrir
que também há benefícios em ser adulto.
Assim, por um bom período da vida, as pessoas ocupam um lugar adolescente, marca-
do por mudanças e instabilidades. E, na busca de um espaço na sociedade, muitas delas
tornam-se questionadoras: arriscam-se, provocam, constrangem, perguntam, desafiam,
testam e acontecem. Outras, assustadas, mostram-se apáticas e desinteressadas.
TIDE SETUBAL SOUZA E SILVA é psicóloga e psicanalista, mestre pela Université René Descartes - Paris V, trabalha na
equipe Menina-Mulher/Espaço Jovem da Fundação Tide Azevedo Setubal e coordenou a produção desse material.
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O que podemos fazer então? Qual é o nosso papel? Compreender esse momento é a
primeiro passo para encontrar verdadeiramente esses adolescentes, saber conversar
com eles e saber se fazer escutar por eles. É preciso estar atento ao fato de que, ape-
sar de inúmeras vezes eles se mostrarem muito rebeldes, distantes ou intransigentes,
no fundo estão ávidos por conversas e encontros. E não exclusivamente com os amigos,
que sem dúvida têm um papel fundamental nessa fase, mas também com os adultos.
Com aqueles que podem ser referências, modelos e interlocutores.
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No trabalho com adolescentes, somos continuamente confrontados com um pedido:
“queremos exemplos.” Isso nos indica, entre outras coisas, que nesse percurso de se
tornar adulto os jovens querem ter referências tanto de outros jovens com quem se
identificam horizontalmente, mas também de adultos, pais, familiares, educadores.
Contudo, nos deparamos freqüentemente, na atualidade, com adultos que não sabem
como se relacionar com adolescentes. E esse desencontro pode gerar uma ausência da
figura do adulto de diversas formas. Alguns exemplos: adultos que querem ser tão
jovens quanto os jovens e se colocam de igual para igual em relação a eles; homens que
não assumem o papel de pais e simplesmente não se responsabilizam pela criação de
seus filhos; mães cansadas de tanto trabalhar e cuidar da família que se ausentam não
fisicamente, mas emocionalmente na criação de seus filhos; educadores que, sem
entender seus alunos, não conversam, estimulam, discutem com eles; e até um gover-
no que, sem conseguir cumprir o seu papel, o de investir nos jovens, acaba também por
deixá-los desamparados. Enfim, toda uma série de ausências e desencontros. E diante
de tudo isso, o adolescente sente-se perdido e clama por ajuda. É verdade que não é fácil
escutar esse grito, muitas vezes desesperado, desordenado, violento, sem causa
aparente. Gritos que aparecem em forma de revolta, ações criminosas, uso de drogas,
indisciplina, gravidez precoce ou até suicídio.
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atividades
1. Brincadeira do nome
OBJETIVOS: Estimular a integração do grupo por meio de uma brincadeira com os
nomes dos participantes. Auxiliar a memorização os nomes de cada integrante.
DESCRIÇÃO: Peça a todos que fiquem em pé, em círculo, e que cada um diga o seu nome
um após do outro, pausadamente. Feito isso, explique que na próxima rodada cada um
vai dizer o nome do companheiro que está à sua esquerda.
Depois, faça uma inversão, peça para que digam o nome do companheiro que está do
lado direito. A seguir, proponha que andem pela sala e que refaçam um círculo colo-
cando-se em outros lugares. Repita a brincadeira.
2. O adolescente gosta...
OBJETIVO: Promover interação grupal e criar uma atmosfera agradável que estimule
conhecer o outro e reconhecer-se no outro.
Ao final, é interessante comentar com o grupo o que ocorreu, observando quais carac-
terísticas mencionadas se destacaram (aspectos físicos, atitudes, hábitos; quais tiveram
maior ou menor adesão etc.), como eles reagiram e assim por diante.
3. Apresentando um amigo
OBJETIVO: Promover o conhecimento entre os participantes
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4. Terremoto
OBJETIVO: Promover interação grupal e o conhecimento do outro.
a. Se ele disser casa, as duplas que formam a casa devem procurar outros pares,
trocando de lugar e formando uma nova configuração de duplas na sala;
b. Se disser morador, somente os moradores trocam de lugar;
c. Se disser terremoto, todos os participantes devem mudar de posição e formar novas
casinhas com moradores.
Quando as pessoas trocarem de lugar, aquele que deu a ordem deve adentrar nas for-
mações, obrigando o novo participante que “sobrou” a recomeçar a brincadeira, dizen-
do alguma característica de si mesmo para o grupo.
COMENTÁRIOS: Caso você use a brincadeira como aquecimento de uma oficina, pode
sugerir que a frase inicial tenha a ver com o tema proposto. Por exemplo, se estiver tra-
balhando no Módulo Família, o adolescente pode dizer: “Eu sou o caçula”, “Eu gosto do
meu quarto”, “Em casa eu lavo a louça” e assim por diante.
5. Mapeando o grupo
OBJETIVO: Fazer um mapeamento do grupo e colher dados pessoais de cada participante.
DESCRIÇÃO: Cada participante deve receber uma folha com o quadro abaixo. O objeti-
vo do jogo é que cada um preencha a coluna “resposta” com o maior número de
nomes dos colegas. Para isso, dado o sinal, todos devem circular pela sala simulta-
neamente, fazendo as perguntas propostas, mas cada um só poderá escrever o nome
daqueles que responderem “sim” em cada questão (por exemplo: Maria, Isabel e
Sandra têm bichos de estimação – neste caso, o participante poderá colocar o nome
das três). Quando o monitor perceber que a maioria está terminando, deve dar o sinal
para parar. Quem conseguir responder todas as perguntas e tiver o maior número de
nomes diferentes será o vencedor.
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COMENTÁRIOS: Ao final do jogo, é importante que o monitor socialize as resposta em um
painel ou na lousa, escrevendo os nomes daqueles que responderam afirmativamente
cada pergunta. Juntos, todos podem analisar se há poucos ou muitos nomes em cada
questão, quais os nomes que aparecem mais etc. Isso possibilitará que sejam verificadas
as semelhanças e as diferenças entre si. Naturalmente, você pode modificar as perguntas
de acordo com o seu grupo.
Se o grupo já se conhecer bastante, você pode mudar a proposta, pedindo para que adi-
vinhem quem corresponde à pergunta. Depois eles devem verificar se acertaram.
QUESTIONÁRIO
Nº Pergunta Resposta
8. Você é chocólatra?
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6. Montagem de painel
OBJETIVO: Fazer uma marca pessoal que identifique e apresente cada participante.
DESCRIÇÃO: Peça que cada participante pense em algo que possa ser sua marca pes-
soal – um desenho, uma frase, um logotipo, suas iniciais, seu próprio nome. Distribua
papéis para cada um fazer seu rascunho. Estenda o papel pardo no chão e organize os
materiais de modo que sejam facilmente utilizados. É importante que o papel tenha
um tamanho suficiente para todos ocuparem seu espaço. Quando estiverem prontos,
cada um deve registrar (se preferirem, colar) sua marca no papel pardo, de modo a
formar um único painel.
Ao final, sentados em roda, peça que apresentem sua marca ou desenho, justificando-a
(Por que a escolheu? De que maneira essa idéia o representa? Por que utilizou deter-
minadas formas e cores?). Favoreça os comentários dos colegas.
Se você tiver mais tempo e recursos, também poderá utilizar um grande tecido para
realizar a proposta. Mais tarde, será possível transformá-lo em uma toalha para a hora
do lanche ou uma cortina para a sala onde as atividades são realizadas. Ao final do
projeto, esse pano poderá ser sorteado entre os participantes.
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para se aprofundar...
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idade e
ident
rsidade
dive
introdução
m uma idade de descoberta de si, de afirmação dos desejos, de busca pelos direi-
Nessa fase da vida, construir uma imagem de si mesmo é uma questão fundamental.
O adolescente não é mais aquela criança completamente ligada aos pais, ele começa
a querer levantar vôo próprio, tem opiniões e visões singulares, que são, muitas
vezes, diferentes das de seus familiares. Nesse sentido, o grupo de amigos torna-se
algo essencial. Ter uma turma, uma tribo, adotar um estilo próprio de se vestir, eleger
seu tipo de música preferido são formas de se encontrar, de se organizar e de cons-
truir uma identidade.
A proposta deste módulo caminha nessa direção. Você vai observar que as três
primeiras oficinas são complementares e, por isso, os resultados podem ser mais
interessantes se elas forem trabalhadas em seqüência. Contudo, nada impede que
você escolha apenas alguma delas para trabalhar isoladamente.
Além disso, você vai perceber que a primeira metade deste módulo privilegia as
questões mais individuais e perguntas como: Quem sou eu? Quem eu quero ser? Com
quem me identifico? Já a segunda metade aborda questões mais ligadas ao outro, à
alteridade e à diversidade. Nas oficinas correspondentes à segunda metade do módu-
lo, as questões das diferenças, dos preconceitos e da tolerância ficam mais evidentes.
Além disso, há muitos filmes e músicas que você pode usar de modo a enriquecer
esse tema.
Boa sorte!
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objetivos do módulo:
• Favorecer o olhar do adolescente para o outro de modo que conheça e respeite as dife-
renças entre os seres humanos, ajudando-o a refletir sobre os próprios preconceitos
e abrindo uma nova perspectiva sobre a questão da diversidade como algo positivo e
enriquecedor.
com a palavra...
Intolerância
Yudith Rosenbaum
De um lado, ele quer mostrar que tem personalidade e não se submete ao que os
demais pensam. Os comportamentos exibicionistas e rebeldes mostram essa neces-
sidade de se afirmar e se discriminar de todos para ser ele mesmo. Seria mais ou
menos assim: “Como saber quem sou eu se não me desgrudar dos meus pais, dos
colegas, das figuras de autoridade?” Isso costuma gerar a intolerância do adolescente
com irmãos, pais, professores e amigos. O isolamento ou a antipatia por pessoas que
possam influenciá-lo acaba sendo um jeito de definir sua identidade e não se con-
fundir com os que o rodeiam. É uma fase difícil, sobretudo para os familiares, que não
compreendem a razão de atitudes tão intolerantes.
De outro lado, esse mesmo jovem precisa sentir que é igual aos seus pares e que faz
parte de uma turma, um grupo de referência, diferenciando-se, então, dos jovens de ou-
tros grupos. Para sentir que pertencem a uma comunidade, seja ela qual for (negros,
brancos, punks, evangélicos, roqueiros, gays etc.), muitos adolescentes se mostram
intolerantes com quem não pensa da mesma forma ou tem gostos diferentes. Parece
importante para eles marcar um território no qual sejam incluídos. E o que eles fazem
para ser incluídos? Excluem quem lhes pareça ameaçar a “verdade” do seu grupo, ou
YUDITH ROSENBAUM é psicóloga, formada pela PUC – SP e professora de literatura brasileira na USP. Publicou os seguintes
livros: Manuel Bandeira: Uma poesia da ausência (Edusp/Imago, 1993); Metamorfoses do mal: Uma leitura de Clarice Lispector
(Edusp/Fapesp, 1999); Clarice Lispector (Publifolha, 2002); O livro do psicólogo (Companhia das Letras, 2007).
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seja, hostilizam os que são diferentes nas crenças, nos hábitos, na opção sexual, na
escolha de um time esportivo. Mas por que seria tão ameaçador conviver amistosa-
mente com quem está do outro lado do território demarcado?
Para entender isso, é preciso lembrar que o adolescente está em busca de sua identi-
dade, e nesse processo há muitos aspectos de sua personalidade que ele desconhece
ou quer esconder dele mesmo.
Vamos pensar isso por vários lados. Se, por exemplo, o jovem não aceita em si
mesmo ter dúvidas, hesitar, ficar inseguro, ter medo, como vai respeitar os que são
como ele? Como vai respeitar os velhos se não admite envelhecer? Como vai aceitar
alguém de outra religião se tem a ilusão de que a sua é infalível? O primeiro passo
para uma convivência tolerante é reconhecer que todos somos de fato imperfeitos e que
ser humano significa necessariamente ser incompleto e estar sempre se buscando, se
questionando, enfrentando conflitos e superando impasses.
Nesse sentido, podemos dizer que a intolerância nasce da resistência das pessoas
em perceber nelas aquilo mesmo que rejeitam nos outros. Se não existisse essa
dificuldade, a convivência entre grupos diferentes ou mesmo opostos não acarretaria
violência, agressividade, comportamentos preconceituosos, como forma de expres-
sar superioridade e auto-afirmação. Bastaria cada um ser o que é e deixar os outros
serem o que são em paz.
Justamente por isso, nem todos os grupos são intolerantes. Não é apenas o fato de
participar de um grupo que torna as pessoas intolerantes. Mas quando se formam
gangues, grupos de extermínio, torcidas rivais e outros agrupamentos que ameaçam
e atacam “os de fora”, estamos diante de um fenômeno de intolerância mais sério. E
nesses casos, vale pensar que algo muito incômodo dentro de cada um ou da própria
turma está sendo evitado, encoberto pela intolerância. Um exemplo prático talvez
ajude. Se eu tenho desejo de comer muito mas reprimo, ou seja, tento afastar de
mim essa tendência indesejável, posso começar a desenvolver uma intolerância aos
gordos (que, afinal, realizam o que eu não me permito e nem aceito como um dese-
jo meu). Os gordos, nesse caso, acabam sendo uma espécie de espelho do que eu
não tolero em mim. Outro exemplo: se eu escolhi um time e “visto a camisa” desse
time – ou seja, me identifico com ele e me sinto humilhado quando o time perde (pois
a derrota acaba sendo minha e não do time), sou levado a rejeitar torcidas alheias
que ponham em risco meu lugar invencível.
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Vale lembrar aqui o fato de que ninguém isoladamente se põe a brigar com um grupo
rival. Há atitudes que só existem amparadas pela turma. Cada membro do grupo se
apóia no próprio grupo para vaiar, atacar ou mesmo executar os oponentes, o que
mostra que fora da turma é a fragilidade que predomina. É só lembrar das humi-
lhações coletivas que alguns alunos sofrem na sala de aula, por qualquer motivo: um
defeito físico, um traço de personalidade estranho, um desempenho escolar ruim ou
melhor do que o dos outros...
Talvez fosse interessante dividir os grupos em dois tipos: os que se formam por uma
legítima autodescoberta (gays, roqueiros, anarquistas, ecologistas, hippies etc.) e, por-
tanto, estão juntos por afinidades e descobertas comuns, encontrando seus iguais sem
destruir ou intimidar os que são heterossexuais, sambistas, ou militantes de outros par-
tidos; e um segundo tipo de grupos que se constituem pelo autodesconhecimento, ou
seja, pessoas que buscam fugir do que não querem ver em si e nos outros: anti-gays,
anti-mendigos, racistas, nazistas etc. A intolerância desses últimos revela sua fragili-
dade e sua ignorância em relação às próprias características. A cultura, a mídia e as
desigualdades sociais acabam reforçando esse processo, fazendo das minorias bode ex-
piatório, no qual os grupos mais fortes depositam sua raiva, sua inveja, sua intolerância.
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Oficina 1. Jogo das cartas e preparação para pintura na camiseta
OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletirem sobre si mesmos, buscando características
marcantes que expressem sua identidade.
MATERIAL: Cartolina e canetinhas para fazer as cartas; folhas de sulfite (se possível
recortadas em formato de camiseta), tintas guache e pincéis.
Distribua no chão (ou na mesa) as cartas de modo que o lado com a palavra Identidade fique
voltado para cima. Utilize uma garrafa para servir de “roleta” e sorteie o participante que vai
começar. A pessoa sorteada deve virar uma das cartas. Assim que ela o fizer, leia a questão
correspondente descrita abaixo. Depois que o participante responder, outras pessoas tam-
bém poderão fazê-lo, cabe a você decidir. Repita esse procedimento até que todas as cartas
sejam exploradas.
Em seguida, distribua folhas de sulfite, tintas guache e pincéis. Proponha que os par-
ticipantes pensem em algum desenho, imagem ou palavra que responda a pergunta:
Quem sou eu? Diga que devem levar em conta tudo o que foi conversado na atividade
anterior. Explique que esse desenho também servirá de rascunho para uma pintura de
camiseta que será feita na próxima oficina. Explicar esse objetivo é fundamental,
porque a imagem escolhida, além de ser uma marca pessoal, deve se adequar à pin-
tura em tecido.
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QUESTÕES PARA CADA CARTA:
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Oficina 2. Pintura na camiseta
OBJETIVO: Trabalhar a identidade pessoal por meio da confecção de um produto va-
lorizado pelos adolescentes: a camiseta.
MATERIAL: Camiseta branca; um pedaço de papelão ou saco de lixo; pincéis; tinta para
tecido, trapos e copos para limpar os pincéis. Opcional: aparelho de som para colocar
uma música de fundo.
Se a instituição onde você trabalha não puder adquirir camisetas para todos os parti-
cipantes, peça que cada um traga a sua, usada ou não, de preferência toda branca.
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Oficina 3. Fotografia
OBJETIVO: Promover diferentes situações de registro de marcas pessoais, dentre elas,
a camiseta produzida.
A seguir, disponibilize a maquiagem e as tintas e peça aos jovens que pintem o próprio
rosto livremente. Incentive a ousadia no uso da maquiagem. Esta deve servir como
uma máscara, de tal modo que os participantes da oficina possam representar um
personagem ou sentimentos que os identifiquem. Dê aproximadamente 40 minutos
para a atividade.
Quando todos tiverem terminado, cada um deve escolher um local para tirar sua foto.
Durante a “sessão de fotos”, estimule poses ou expressões faciais significativas, pois
a foto também faz parte da brincadeira da “marca pessoal”. Os adolescentes também
podem tirar fotos uns dos outros, podem ainda registrar uma imagem do tipo “o jeito
que eu me vejo” e outra que mostre “o jeito que o outro me vê”.
DESCRIÇÃO: Distribua uma folha de papel e um lápis a cada participante e peça que lis-
tem dez características pessoais. A seguir, solicite que classifiquem essas caracterís-
ticas em duas categorias: aquelas que lhes trazem facilidades ou dificuldades. Para
isso, podem refazer a lista, dividindo os atributos em duas colunas ou acrescentando
marcas coloridas que as distingam.
Em seguida, forme um círculo e peça para cada um escolher duas ou três dessas
características e comentá-las.
Terminada essa primeira discussão, levante com o grupo as características que mais
apareceram, aquelas que são comuns aos participantes. Com base nessas carac-
terísticas, pergunte: é possível pensar em que “cara” esse grupo tem? Poderíamos
pensar em uma palavra marcante para defini-lo?
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Oficina 5. Diversidade: o que é isso?
OBJETIVO: Discutir a diversidade a partir das características, vivências e conhecimen-
tos do próprio grupo.
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Oficina 6. Debate Homossexualidade
OBJETIVO: Aprofundar o debate sobre o tema diversidade a partir da reflexão sobre
questões polêmicas.
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade informando que nesse encontro eles farão um debate
acerca de um tema polêmico: a legalização da união homossexual. Divida os partici-
pantes em dois subgrupos, distribuindo-os aleatoriamente (você pode atribuir os
números 1 e 2 seqüencialmente e depois pedir que os participantes de mesmo número
se reúnam). Cada grupo deverá ficar responsável por defender um dos lados da
questão. Sorteie quem ficará a favor ou contra. Ressalte que, nesse momento, as
opiniões pessoais não contam, esse é um exercício de argumentação, os participantes
de cada grupo devem defender a idéia que lhes foi atribuída, mesmo que, pessoal-
mente, não concordem com ela.
Para enriquecer o debate, você pode ler alguma reportagem a respeito da legalização
da união homossexual (há vários artigos na internet a respeito). Após a leitura,
entregue uma cópia da reportagem para cada grupinho e solicite que a discutam. Dê
cerca de 20 minutos para que cada grupo pense em argumentos que justifiquem e
embasem sua posição.
Ao final, é importante enfatizar que esse encontro não tem como propósito levantar ban-
deiras contra ou a favor da legalização da união homossexual e muito menos da homos-
sexualidade, mas possibilitar a reflexão sobre a nossa postura diante das diferenças,
assim como entender todas as variáveis que estão ao nosso redor e que interferem em
nossas escolhas e opiniões.
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COMENTÁRIOS: É importante que você levante alguns argumentos contra e a favor da
questão debatida para alimentar a discussão inicial dos grupinhos. Ajude aqueles que
tiverem maior dificuldade em defender uma idéia que não é a sua. A organização do debate
é importante para que a atividade não se torne uma briga entre os grupos. É muito comum
que os adolescentes se envolvam e, às vezes, se exaltem nas dramatizações. Se você
perceber excessos, interrompa a cena e converse com eles.
Mesmo que você dê espaço a todo tipo de opinião, inclusive as preconceituosas, a tolerân-
cia e o respeito são valores inquestionáveis, que devem ser ressaltados. Nada melhor do
que exercitá-los em grupo.
Você também pode fazer esse debate escolhendo outra questão polêmica, por exemplo: o
sistema de cotas nas universidades, a diminuição da maioridade penal etc.
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Oficina 7. Gênero
OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis feminino e masculino.
DESCRIÇÃO: Confeccione previamente seis cartões de cartolina nos quais você deverá
escrever as seguintes frases:
Peça para todos sentarem em círculo (no chão ou em cadeiras). Coloque no centro
desse círculo uma roleta (uma garrafa vazia ou uma caneta podem servir). Um volun-
tário deve girar a roleta improvisada para sortear o participante que vai começar o
jogo. Essa pessoa deverá escolher um cartão e completar a frase proposta (que diz
respeito ao sexo oposto ao seu). Depois que o sorteado responder, o grupo também
poderá fazê-lo, de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até
que todos os cartões sejam explorados.
COMENTÁRIOS: Fornecer elementos históricos pode ser uma boa maneira de fomentar e
contextualizar a discussão entre os participantes da oficina. Conte casos de como eram os
comportamentos de homens e mulheres no início do século XX, por exemplo, em relação
ao casamento, às tarefas domésticas ou ao trabalho.
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Oficina 8. Resolução de conflitos – Injustiças
OBJETIVO: Auxiliar os jovens a refletirem sobre conflitos cotidianos relacionados à
injustiça ou ao preconceito e a pensarem novas possibilidades de solução.
MATERIAL: Cópia da situação de injustiça (ver página 37) para cada pequeno grupo.
Ao final, promova um debate a partir das cenas sobre a questão dos preconceitos, per-
gunte como se sentiram assistindo às dramatizações ou participando delas e o que as
diversas cenas têm em comum.
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para se aprofundar...
Livros Filmes
ABRAMO, Helena. Cenas juvenis, punks e darks American Pie
no espetáculo urbano. Paul Weitz, 1999.
São Paulo: Saiita/ ANPOCS, 1994.
Antonia
COSTA, Cristina. Caminhando contra o vento: Tata Amaral, 2006.
uma adolescente dos anos 60.
São Paulo: Moderna, 1995. Código Desconhecido
Michael Haneke, 2000.
ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987. Crash – No Limite
Paul Haggis, 2004.
FRAGA, Paulo Cesar; JULIANELLI, Jorge (Orgs.).
Jovens em tempo real. Elephant
Rio de Janeiro: DP e A, 2003. Gus Van Sant, 2003.
Educarede:
http://www.educarede.org.br
Museu da Pessoa:
http://www.museudapessoa.net
Mundo Adolescente:
http://www.mundoadolescente.com.br
Onda Jovem:
http://www.ondajovem.com.br
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ANEXOS
Depoimento 1
José Antônio, 17 anos
Eu estava na rua com meus amigos indo para uma balada. A polícia apa-
receu para dar uma batida. Pediu os documentos, a gente mostrou, eles
olharam e nos revistaram. Até aí eu achei normal, mas o policial ficou di-
zendo que a gente era maloqueiro, que ia vender drogas, que a gente era
desocupado, ficou humilhando. Foi bem ruim mesmo... Eu estudo, não
sou desocupado, mas não podia discutir com eles. Depois de ficar com a
gente 15 minutos, resolveram dispensar, mas a gente até perdeu o emba-
lo, nem quis mais ir pra balada. Eu acho muito injusto a polícia tratar a
gente assim, se eu fosse “branquelo”, talvez eles não tivessem feito isso.
Depoimento 2
Maria Eduarda, 15 anos
Tem uma menina na minha classe que é muito metida, ela se acha. Ela
é uma das mais bonitas da escola e eu a odeio. Sempre que pode, ela
esnoba a gente, diz que eu e minhas amigas andamos mal-vestidas, que
a gente é burra, que não vai ser nada na vida. Um dia, eu não agüentei,
acabei brigando e dei um tapa na cara dela logo na saída da escola. Isso
foi para ela aprender a não ser besta e a me respeitar. Se implicar comi-
go de novo, vai levar. Não estou nem ligando se levar suspensão.
Depoimento 3
Aline, 17 anos
Acontece com muita gente, eu sei, mas eu não acho certo. No domingo,
eu fui ao shopping do meu bairro com minhas amigas. A gente não tem
muita grana, mas gosta de ver as vitrines e às vezes alguém compra
alguma coisa. Entrei numa loja para perguntar o preço de uma saia que
eu achei legal. A vendedora, que era um pouco mais velha do que eu, me
mostrou a saia na maior má vontade e quando eu perguntei o preço ela
disse: “não sei se vai caber no seu orçamento, ela custa R$ 70,00.” Eu
fiquei doida de raiva, eu disse que podia embrulhar, só pra mostrar que
eu posso pagar. Mas eu não posso, acabei com o meu orçamento e tive
que fazer uma prestação. Agora nem tenho vontade de usar a tal da saia!
37
corpo
introdução
ste módulo aborda um tema que ocupa boa parte das preocupações adoles-
Além disso, é importante que você dê um lugar ao corpo ativamente, a fim de que os
adolescentes não se limitem a pensar sobre ele, mas possam senti-lo, experimentá-lo
e percebê-lo em todas as suas dimensões. Por essa razão, no início de cada oficina,
estão previstas algumas atividades de aquecimento nas quais sugerimos um pequeno
trabalho corporal.
Você perceberá que este módulo contém menos oficinas que os demais. Nossa
experiência mostrou que algumas questões fundamentais relacionadas ao corpo falam
também da sexualidade. Por esta razão, elas são abordadas a seguir, no módulo dedi-
cado a esse tema.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
40
com a palavra...
A corpo, nas relações familiares, na escola, nas amizades, como também por grandes
incertezas. Um novo corpo surge, uma nova sexualidade e sensorialidade despon-
tam e a pressão do grupo social, amparada na mídia, torna-se extremamente poderosa.
Por estarmos vivendo em uma sociedade que cultua a imagem, o corpo do adolescente
pode acabar se tornando uma prisão. Lócus privilegiado da construção identitária, a
relação com o próprio corpo, em alguns momentos, pode gerar desprazer e até uma
certa obsessão.
A estética nos dias de hoje assume um papel distinto daquele que exercia em outros
tempos. Com o arsenal de técnicas corporais disponíveis e acessíveis a todas as clas-
ses sociais (um bom exemplo é o número de academias de ginástica nas favelas e pe-
riferias), gerou-se a crença de que “só é feio quem quer”. A beleza, antes um atributo
“natural”, passou a ser “moralizada”, sendo agora entendida como uma demonstração
de força de vontade. De atributo físico (“se eu conseguir ser bonito, melhor”), a beleza
tornou-se um dever moral (“se realmente quiser, eu consigo ser bonito”). O fracasso
em ser belo não se deve agora a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma inca-
pacidade individual.
O culto ao corpo
Sabemos que a gordura é, hoje em dia, associada à feiúra e alvo de explícita exclusão
social. Objeto de grande regulação social, os corpos passaram a ser monitorados pelo
viés da saúde (comidas orgânicas, combate aos radicais livre, dietas as mais variadas) e
também da estética. Em uma sociedade na qual os ideais continuam a ser brancos e bur-
gueses, não é de estranhar uma pasteurização nos modelos estéticos tidos como belos.
Os discursos sobre os corpos nos falam de mulheres louras, magras, altas e eterna-
mente jovens que em nada se assemelham ao biótipo da maioria das brasileiras. O
mesmo pode ser dito acerca da imagem que se veicula do homem ideal – “sarado”,
bem-vestido, circulando em praias e dirigindo carros fantásticos – o que gera a ilusão
da saúde perfeita e do sucesso pessoal associado a ela.
JUNIA DE VILHENA, psicanalista e terapeuta familiar, é professora da PUC-Rio e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar
de Pesquisa e Intervenção Social – Lipis da PUC-Rio.
JOANA DE VILHENA NOVAES é doutora em psicologia clínica, pós-doutoranda da UERJ e bolsista da FAPERJ. Coordena o
Núcleo de Doenças da Beleza do Lipis da PUC-Rio.
41
Ora, se observamos a submissão a tal ditadura estética em homens e mulheres mais
maduros, como não imaginar o impacto causado nos adolescentes que não se encai-
xam nesse modelo? Tal marginalização social provoca um profundo sofrimento
psíquico e produz vínculos sociais até então não evidenciados, tais como a profunda
exclusão vivida por jovens que não se sentem pertencentes ao grupo desejado.
42
Alguns caminhos
É possível obter sem grandes dificuldades algumas indicações acerca da existência
de problemas dos adolescentes com seus corpos e sua sexualidade. Podemos con-
vidá-los a falar de possíveis desconfortos com o próprio corpo e a que atribuem isso;
discutir criticamente com eles a cultura que supervaloriza o sucesso midiático;
acompanhar suas interações com os colegas (retraídos, agressivos, violentos?);
observar seu vestuário – se escondem ou se mostram em demasia? Estão
sempre de casaco mesmo em dias muito quentes? Quais hábitos alimenta-
res consideram inadequados e desejariam mudar? Todos esses aspectos
fornecerão algumas indicações acerca de eventuais problemas.
43
Oficina 1. As transformações do corpo
OBJETIVO: Discutir as mudanças corporais da adolescência, os novos cuidados decor-
rentes e as conseqüências sobre a auto-imagem.
Em seguida, cada participante deve escrever, em uma tira de papel, uma mudança que
ocorreu (ou está ocorrendo) em seu corpo após a entrada na puberdade, depois dobrar
a tira e colocá-la em uma caixa. Quando todos tiverem terminado, cada um vai sortear
uma dessas tirinhas (que não seja a sua), lê-la e pensar em uma conseqüência posi-
tiva e outra negativa dessa mudança descrita pelo colega. Por exemplo:
Evidentemente, há mudanças que não são nada agradáveis, o que vai obrigá-los a
descobrir algo de positivo nelas, como no caso abaixo:
Discuta com o grupo sobre cada mudança relatada e as sugestões dos colegas para
lidar com elas. Tentar positivar os problemas não significa desprezar os dramas que
afligem o adolescente, mas permite encarar mudanças temporárias com mais leveza
e bom-humor.
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COMENTÁRIOS: As questões que surgirem darão informações úteis para você encami-
nhar as oficinas subseqüentes. Permita que o próprio grupo busque soluções para as
dificuldades e ansiedades relatadas. Se for necessário, pesquise com especialistas, em
revistas ou livros formas de amenizar os problemas enfrentados, respondendo as ques-
tões em encontros posteriores. As informações abaixo (que também estão presentes no
Livro do adolescente) podem ajudar a desenvolver a atividade:
• Alguns hormônios fazem seu trabalho de forma mais ativa na adolescência. Esse
processo começa entre os 8 e 13 anos para as meninas e entre os 9 e 14 anos para os
meninos.
• Os adolescentes ganham nessa fase de 20 a 25% da altura e 50% da massa corporal
(peso) definitivas.
• O crescimento se acelera primeiramente nas extremidades do corpo (braços, pernas,
mãos e pés) e depois no tronco (para os meninos) e no quadril (nas meninas).
• Na adolescência há o chamado “estirão de crescimento” entre os 10 e 16 anos. Pode-
se crescer até 10 cm por ano nessa fase, durante três anos consecutivos.
• As mudanças corporais costumam durar de dois a quatro anos e meio.
• O timbre de voz dos meninos se altera durante toda a puberdade, em especial nas
fases mais avançadas, por causa do crescimento da laringe.
• O desenvolvimento dos órgãos genitais acontece devagar, em etapas. Nas meninas,
crescem os seios (mamas); nos meninos, o processo começa pelos testículos, que
aumentam de tamanho antes do pênis. Os pêlos crescem devagar, até cobrirem a
região pubiana na fase final de maturação.
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Oficina 2. As funções do corpo
OBJETIVO: Discutir as funções de diferentes partes do corpo de modo a promover maior
conscientização de suas potencialidades.
A seguir, divida os participantes em pelo menos três grupos e distribua uma cartolina e
canetinhas para cada um deles. Peça que dobrem a cartolina em três partes iguais. Diga
que eles devem desenhar, coletivamente, um rosto no primeiro terço da folha e escre-
ver uma palavra relacionada às partes do rosto que desejarem. Por exemplo: sinceri-
dade para os olhos, comunicação para a boca, e assim por diante. Sem mostrar sua
produção para os demais, a folha deve ser dobrada e passada para o grupo do lado que
vai continuar a figura humana no segundo terço da folha, com o desenho do tronco.
Eles também devem escrever atributos para as partes que desejarem (por exemplo,
cintura – "jogo de cintura", flexibilidade, habilidade; braço – força; tórax – acolhimento,
sensibilidade etc.). Novamente peça que dobrem e troquem as folhas entre si, de modo
que o grupo que recebê-la não olhe o que já foi feito pelos demais. Nesse último
desenho, eles devem desenhar as pernas e os pés, atribuindo-lhes também significa-
dos. Ao final, todas as cartolinas devem ser abertas e expostas.
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• Você se lembra de alguma experiência, sua ou de outros, em que os gestos foram
mais importantes que as palavras?
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Oficina 3. Alimentação e nutrição
OBJETIVO: Discutir o tema dos cuidados corporais, abordando-o com o foco na alimen-
tação e no lugar que ela ocupa na vida dos adolescentes.
DESCRIÇÃO: Para afinar o grupo com o tema da oficina, proponha algumas perguntas
norteadoras para uma conversa inicial. Por exemplo: Você acha que se alimenta bem?
Por quê? A sua alimentação mudou desde quando você era criança? Se você fosse
uma comida, o que seria? O que você pensa da frase: Eu sou o que eu como?
Em seguida, peça que os adolescentes abram o seu livro no Módulo Corpo, na pági-
na em que está desenhado um menu, e montem o cardápio do dia, ou seja, que
relatem o que estão acostumados a comer durante o dia (segue abaixo a reprodução
da proposta). Quando todos terminarem, convide-os a falar sobre o cardápio (não é
necessário que todos relatem), marcando as diferenças individuais, fazendo pergun-
tas pertinentes. Chame a atenção para a ingestão de líquidos e para os alimentos que
são consumidos fora das refeições, porque muitos adolescentes não bebem água ou
gostam muito de beliscar.
Por fim, divida os jovens em grupos e solicite que montem um cardápio diário saudá-
vel, equilibrado e, mais importante, viável, a partir das discussões e informações
aprendidas no dia. É preciso usar a criatividade! Para terminar, peça que elejam o
cardápio mais adequado às suas necessidades.
COMENTÁRIOS: Como você pôde perceber, essa oficina exige uma leitura antecipada e
atenta das informações contidas no Livro do adolescente, de modo que você possa aju-
dar os participantes em suas dúvidas. No momento da discussão, procure não ser muito
prescritivo, pois não há adolescente que coma somente alimentos saudáveis; o cardápio
nessa fase da vida é recheado de refrigerantes, doces e salgadinhos que não podem ser
completamente banidos do dia-a-dia. Muitas vezes, vale a pena levá-los a se questionar:
“O que estou fazendo comigo comendo isso?”.
48
MENU
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Oficina 4. Espelho, espelho meu
OBJETIVO: Trabalhar aspectos subjetivos da relação de cada um com seu corpo.
MATERIAL: Aparelho de som, CD de música suave, papel pardo, lápis de cor, canetas
hidrográficas (se desejar, pedaços de papéis coloridos e cola).
DESCRIÇÃO: Em um clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que os
participantes fechem os olhos. Dirija o relaxamento lentamente, começando pelos pés,
seguindo pelas pernas, tronco, membros, até a cabeça. Peça que pensem sobre como
sentem e vêem o próprio corpo. Depois que abrirem os olhos, solicite que formem
duplas. Entregue a cada participante uma folha de papel pardo do tamanho de cada
um. Peça que desenhem, com a ajuda do colega, um molde do próprio corpo. A seguir,
eles devem trocar de lugar, de modo que ambos tenham seu contorno do corpo.
Distribua lápis de cera e hidrográficas (se houver diferentes papéis para colar também
pode ser interessante) a fim de que cada um preencha esse contorno, desenhando rosto,
roupas e quaisquer detalhes que desejar. Quando terminarem, faça as seguintes per-
guntas, que devem ser respondidas no próprio desenho:
Ao final, todos devem colocar seus desenhos no chão e circular pela sala para olhar
os dos colegas. Abra uma roda de conversa para discutir como se sentiram quando
desenhavam o próprio corpo, ressaltando os seguintes pontos: diferenças individuais,
aspectos hereditários, o belo em cada um e o modelo social de beleza, a influência da
mídia na visão que temos do corpo, cuidados e exigências nessa fase da vida etc.
Essa oficina é uma grande oportunidade de discutir as dificuldades que todos, adolescentes
ou adultos, encontram para corresponder ao padrão de beleza veiculado pela mídia.
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Oficina 5. História da beleza
OBJETIVO: Favorecer a reflexão sobre as relações entre beleza e cultura para que o
jovem perceba que os padrões de beleza são historicamente construídos e possa refle-
tir sobre a interferência dos modelos atuais na construção de sua auto-imagem.
Observando esses quadros, qual você acha que era o padrão de beleza em cada uma
dessas épocas? O que era ser bonito?
Quais os detalhes que chamam sua atenção em cada uma das imagens?
Depois que os adolescentes tiverem discutido, peça que respondam uma segunda
questão: O que é ser bonito hoje?
51
para se aprofundar...
Livros Sites
COLASANTI, Marina. O homem que não parava Centro Vergueiro de Atenção à Mulher:
de crescer. São Paulo: Global, 2005. http://www.cevam.org.br
52
Anexo
53
introdução
O adolescente de hoje vive em uma sociedade repleta de apelos eróticos nas músicas,
propagandas, novelas ou na moda, que o obrigam a lidar com diversas demandas de
obtenção de prazer sexual da vida adulta. Frente a essa realidade, a maior parte das
famílias encontra dificuldades para conversar sobre esse assunto. Por todas essas
razões, os jovens precisam encontrar outros interlocutores para conversar sobre suas
dúvidas e angústias.
Além disso, para que o adolescente exerça sua sexualidade de forma responsável, é
preciso não apenas que tenha informações sobre métodos contraceptivos ou sobre a
importância do uso da camisinha, por exemplo, mas também que compreenda o fun-
cionamento de seu corpo e do corpo de seu parceiro.
Bom trabalho!
56
objetivos do módulo:
com a palavra...
Adolescência e gravidez
Miriam Debieux Rosa
MIRIAM DEBIEUX ROSA é psicanalista e professora de psicologia clínica na USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise e
Sociedade, e professora da pós-graduação em psicologia social da PUC-SP, onde coordena com Maria Cristina Vicentim o
Núcleo Violências: Sujeito e política. É autora do livro Histórias que não se contam (Cabral Editora Universitária) e de vários
capítulos de livros e artigos nacionais e internacionais na temática da família, infância e adolescência.
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entre os grupos sociais, ao mundo produtivo e à independência econômica. As esco-
lhas profissionais estão bastante relativizadas, já que imperam a alta competitivi-
dade e a dificuldade de empregar-se. De outro lado, a liberação dos costumes
permite acesso à vida sexual independentemente de compromissos como namoro
ou casamento.
A maternidade e paternidade, por sua vez, também são processos revestidos de cer-
tos imaginários fixos e ideais. Existe a idéia de que há uma ordem correta no com-
prometimento do indivíduo: primeiro vem a responsabilidade pessoal, depois a
capacidade de relação amorosa com o outro e só então a possibilidade de cuidado,
educação e afeto com o filho. Se essa lógica descreve certo percurso razoável, não
impede que outras modalidades de percurso sejam legítimas. Independentemente do
preparo anterior, há que se considerar que o nascimento de uma criança é um evento
público que mobiliza todo o gru
upo social, familiar e processos subjetivos para permitir
sua inclusão como membro da família e da so ociedade.
Em relação aos pais, antecipa um luto pela perda da juventude idealizada com praze-
res e liberdade. A maternidade é vista como o encerramento da adolescência
enquanto processo, já que precipita um modo de entrada na vida social. Gera tam-
bém preocupação com a escolaridade, já que muitos jovens abandonam a escola ou
passam a trabalhar. Essa preocupação encadeia-se com a menor possibilidade de
ascensão e autonomia econômica, com a falta ou adiamento de projetos de inde-
pendência. Outra temática de conflito é com a relação igualitária entre os sexos, con-
quista árdua das mulheres, graças em grande parte à sua participação como
provedora econômica da família – ficaria a jovem dependente do pai da criança? Os
pais oscilam entre a idéia de falta de prontidão do adolescente para a vida amorosa
e a sua total responsabilização pela gravidez e pelos cuidados com o filho.
Quanto aos jovens, a reação à gravidez é muito variada, mas sempre traz sentimen-
tos e atitudes ambivalentes – impotência, medo e susto ladeados de alegria, orgulho
e realização.
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Algumas vezes a gravidez não foi planejada, mas estava vislumbrada como uma reso-
lução imediata para um futuro incerto e longínquo. A jovem sabe que a maternidade
gera problemas, mas pode ser vivida como alívio em face de sua incerteza quanto a
outros modos de inserção social, pois a maternidade é valorizada e impõe certa
respeitabilidade difícil de ser conquistada de outros modos. Para alguns, pode autori-
zar um retorno sem culpa à dependência dos pais, enquanto para outros é um sinal de
independência, já que vão cuidar em vez de ser cuidados. As escolhas nem sempre são
conhecidas pela própria pessoa e a presença dessas dimensões só pode ser esclare-
cida na vigência do próprio acontecimento.
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Oficina 1. Tudo o que você quer saber sobre sexualidade
OBJETIVO: Identificar as dúvidas dos adolescentes sobre sexualidade e abrir a possibilidade
de diálogo sobre o tema.
AQUECIMENTO: Para introduzir esse tema, é interessante organizar uma roda de conversa.
Pergunte aos jovens o que eles entendem por “sexualidade”, com quem conversam sobre
isso e se têm muitas dúvidas a respeito do assunto. A proposta da oficina é responder algu-
mas questões e iniciar um debate que vai se estender ao longo do módulo. Nesse aqueci-
mento, deixe claro que o diálogo sobre sexualidade envolve pensar nas relações amorosas,
beijos, namoros etc., e não apenas no ato sexual em si. Pode ser um bom começo pergun-
tar quem já namorou, quem tem um namorado ou quem quer encontrar um. É preciso ficar
atento para entrar suavemente nesse tema e dar espaço para se conversar também sobre
temas como o primeiro beijo ou as relações amorosas.
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Oficina 2. Funcionamento do corpo e métodos anticoncepcionais
OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre o funcionamento do corpo e os métodos
contraceptivos, oferecendo um espaço para discussão das dúvidas sobre o tema.
Como são muitas informações a serem discutidas e assimiladas, pode ser mais produtivo
dividir essa oficina em duas. Isso vai depender dos conhecimentos prévios do grupo e do
tempo disponível para o encontro.
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Oficina 3. Doenças sexualmente transmissíveis
OBJETIVO: Informar sobre as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), seus sin-
tomas e possíveis tratamentos. Conversar sobre a primeira consulta ao ginecologista.
DESCRIÇÃO: Comece a oficina conversando sobre o que são as DSTs. Faça as pergun-
tas abaixo ao grupo e registre todas as respostas na lousa ou em um papel grande,
sem dar sua opinião a respeito delas.
• Quais são as doenças sexualmente transmissíveis?
• Quais são os principais sintomas? O que fazer quando se tem algum deles? Existe
tratamento? Como prevenir?
• Como se transmite o vírus HIV?
• Como saber quando se está contaminado com o vírus HIV?
• Onde fazer o exame?
• Quando é preciso ir ao ginecologista?
• O que acontece na primeira consulta?
A seguir, abra o Livro do adolescente e leia junto eles as informações dos itens “con-
sulta ao ginecologista” e “DST”, para deixar bastante claro o que é de fato verdade.
COMENTÁRIOS: Muitas questões levantadas pelos jovens devem ter sido contem-
pladas na leitura do livro. Se alguma dúvida persistir, procure levar material (revistas
e livros) para a próxima oficina de modo que eles possam ler ou tente você mesmo
buscar as informações necessárias. Se você tiver um grupo misto e perceber que há
algum constrangimento em discutir essas questões coletivamente, dê um tempo para
que essa conversa aconteça com mais intimidade, em pequenos grupos. Uma outra
possibilidade de organização da atividade é dividir o grupo em dois: um só de meni-
nos e outro só de meninas.
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Oficina 4. Gravidez
OBJETIVO: Trabalhar o tema da gravidez na adolescência e refletir sobre as conseqüên-
cias de uma gravidez não planejada.
COMENTÁRIOS: É importante que você organize as atividades desta oficina de modo que
os adolescentes tenham bastante tempo para a discussão, pois esse é um tema muito
envolvente e eles precisam elaborar suas idéias.
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De acordo com muitos estudiosos, para as meninas, a gravidez na adolescência pode
estar ligada aos seguintes temas:
• a maternidade como projeto de vida, especialmente quando há ausência de sentido
na vida cotidiana ou quando há dificuldade para se pensar o futuro – “agora que
estou grávida eu tenho que me preocupar exclusivamente com o meu filho” ou “se
nos estudos e no trabalho não há nenhuma perspectiva de futuro, na maternidade
ela está garantida”;
• a maternidade como transformação da menina em mulher madura – “quando eu
ficar grávida vou ser uma mulher madura”;
• a gravidez como uma maneira de ser cuidada e olhada por parentes ou pelo pai da
criança;
• a maternidade como um papel social valorizado – “ser mãe é uma forma de me sen-
tir poderosa e de deixar uma marca no mundo”;
• a função materna já é exercida com os irmãos – “sei como é ser mãe porque eu já
cuido dos meus irmãos caçulas. Agora, com o meu filho, eu vou poder fazer como
eu quiser”.
Para os meninos, algumas reações costumam ser freqüentes: “eu não sei se o filho é
meu”; “não estou a fim de ter um filho e se ela quiser, vai ter que cuidar”; “eu sou muito
jovem para ser pai, agora minha vida vai mudar e eu não sei o que fazer”.
Assim, é muito importante que você aborde essas ou outras questões na discussão do
grupo, ainda que elas não surjam espontaneamente, levantando argumentos claros
para discutir cada uma. Por exemplo, se a maternidade aparece associada ao poder,
procure abordar outras maneiras que dariam à mulher a possibilidade de exercer seu
poder no mundo contemporâneo.
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Oficina 5. Amor e sexo
OBJETIVO: Discutir as várias relações entre amor e sexo refletindo sobre os diversos
aspectos presentes numa relação sexual.
DESCRIÇÃO: Para iniciar a atividade, peça para cada participante completar a(s) frase(s):
“Sexo é...” e “Amor é....” e depois ler o que escreveu.
A seguir, leia junto com a turma a letra da canção de Rita Lee, “Amor e sexo”. Você
pode consegui-la na internet. É importante parar para explicar o significado de
palavras pouco comuns ao repertório adolescente (teorema, latifúndio, pagão, patético,
epiléticos, entre outras). Peça que cada um cite a frase de que mais gostou, justificando
sua escolha. Abra uma roda de discussão e converse sobre as diferentes formas que
existem de lidar com esse assunto.
O trabalho fica bem mais interessante se ao final você colocar o CD e cantar a música
com todo grupo.
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Oficina 6. Mídia e sexualidade
OBJETIVO: Refletir sobre o papel dos meios de comunicação na formação de conceitos
e atitudes dos jovens.
MATERIAL: Revistas.
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Oficina 7. Fechamento do tema
OBJETIVO: Refletir sobre os novos conhecimentos aprendidos neste módulo.
Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o
direito de resposta.
A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a
gincana e um prêmio (que fica a critério do monitor).
Sugestões de perguntas (todas as perguntas abaixo foram feitas por adolescentes que
participaram desse projeto):
PERGUNTAS RESPOSTAS
1. É possível sentir tesão 1. Sim, o desejo sexual não está relacionado somente aos cari-
mesmo sem transar? nhos da transa, ele pode ser despertado por fantasias, cheiros,
imagens ou outros estímulos.
2. Penetração dói na menina? 2. A penetração pode doer na primeira vez nas meninas, mas
E nos meninos? a dor não deve ser uma constante no ato sexual. A penetração
também não deve doer para os meninos.
3. É melhor que ele seja 3. Para fazer sexo não é necessário que os jovens tenham
experiente na primeira vez? experiência. Ambos podem fazer suas descobertas juntos.
4. Há uma idade certa para 4. Não há uma idade certa, depende da maturidade do adoles-
transar? cente e de sua capacidade de fazer escolhas responsáveis.
5. O corpo pode mudar depois 5. Não, o corpo muda na fase da puberdade e as mudanças não
de transar? estão relacionadas às relações sexuais.
6. Por que se usa 6. Para evitar a gravidez indesejada.
anticoncepcional?
7. É verdade que 7. Não necessariamente, mas se a pessoa sentir mudanças
anticoncepcional engorda? deve consultar o médico.
8. Masturbar-se dá espinha? 8. Não, masturbação não dá espinhas.
9. Mulher também se 9. Sim, tanto homens quanto mulheres podem se masturbar.
masturba?
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10. O que é orgasmo? 10.Orgasmo é o clímax ou ponto de maior excitação e prazer da
relação sexual.
11. Como se transmite o 11.O HIV é transmitido pelo sangue ou outras secreções do
vírus HIV? corpo que estejam contaminadas pelo vírus. Assim, a conta-
minação pode ocorrer pela relação sexual, pelo uso coletivo de
seringas, agulhas não esterilizadas (tatuagens e piercings),
transfusões ou pela placenta nas mulheres grávidas.
12. É preciso tomar pílula 12.Não, quem escolhe a pílula como método anticoncepcional
sempre que transar? deve tomá-la todo dia, conforme orientado pelo médico, e não
somente quando transa.
13. É verdade que quando se 13.Não, as mulheres podem engravidar enquanto amamentam.
amamenta não se engravida?
14. O que é período fértil e 14.O período fértil ocorre quando a menina ovula. Ele dura uma
quando ele acontece? semana, três dias antes e três depois da data da ovulação.
15. O que são 15.São métodos que evitam que um bebê seja concebido. A
anticoncepcionais? palavra anticoncepcional significa “não concepção”.
16. Cite três tipos de 16.Os mais conhecidos são: pílula, DIU, camisinha masculina e
anticoncepcionais. feminina, injeção mensal e diafragma.
17. Cite três sintomas de 17.Nos meninos: corrimento amarelo-esverdeado, ardor ao
DSTs que levariam uma fazer xixi, verrugas ou bolhas nos genitais.
pessoa ao médico. Nas meninas: corrimento branco ou mal-cheiroso, coceira na
vagina, dor no ato sexual ou para fazer xixi e verrugas na região
próxima à vagina.
18. O que é TPM? 18.TPM significa tensão pré-menstrual. Caracteriza-se pelo
aparecimento de uma série de sintomas, variáveis em cada
mulher. Entre os mais comuns estão: inchaço, dores nas
mamas, alteração no humor.
19. O que é puberdade? 19.A puberdade é uma fase da vida em que ocorrem muitas
mudanças corporais, tais como: aceleração do crescimento e
desenvolvimento dos órgãos genitais e dos caracteres sexuais.
20. É possível engravidar na 20.Sim, por isso é importante se prevenir, mesmo na primeira
primeira relação sexual? vez.
68
para se aprofundar...
AQUINO, Júlio Groppa. Sexualidade na escola. MULLER Laura. 500 perguntas sobre sexo do
Alternativas teóricas e práticas. adolescente.
São Paulo: Summus, 1997. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
ARATANGY, Lídia Rosenberg. Sexualidade: a difícil NICOLELIS, Giselda. O amor não escolhe sexo.
arte do encontro. São Paulo: Moderna, 2002.
São Paulo: Ática, 1995.
SAYÃO, Yara. Refazendo laços de proteção: ações
BOUER, Jairo. O corpo dos garotos. para combater o abuso e a exploração sexual de
São Paulo: Panda, 2006. crianças e adolescentes: manual de orientação
para educadores.
BOUER, Jairo. O corpo das garotas. São Paulo: Cenpec-Childhood – Instituto WCF-
São Paulo: Panda, 2004. Brasil, 2006.
FIGUEIRÓ, Mary. Educação sexual: retomando TAKIUTI, Albertina. A adolescente está ligeira-
uma proposta, um desafio. mente grávida. E agora? Gravidez na adolescência.
Londrina: UEL, 2001. São Paulo: Iglu, 1990.
FISHER, Nick. Beijos: coisas que todo mundo VEIGA, Francisco Daudt da. O aprendiz do desejo:
quer saber. a adolescência pela vida afora.
São Paulo: Melhoramentos, 2005. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
69
Sites Filmes:
AIDS: www.aids.gov.br A Lei do Desejo
Pedro Almodóvar, 1987.
Doenças Sexualmente Transmissíveis:
http://www.dstbrasil.org.br Amigas de Colégio
Lukas Moodysson, 1998.
Gravidez: http://www.gravidez-segura.org
Da Cor do Leite
Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Torun Lian, 2005.
Sexual: http://www.gtpos.org.br/index.asp
Dez Coisas que Eu Odeio em Você
Instituto Kaplan: http://www.kaplan.org.br Gil Junger, 1999.
Sexualidade na Adolescência:
http://www.drauziovarella.ig.com.br
Lembrete importante:
Na próxima semana você vai iniciar um novo módulo: Família. Na primeira ofici-
na está previsto um trabalho com a história de vida dos adolescentes, no qual
é preciso que eles tragam fotos da infância e façam pesquisas em casa.
Portanto, não deixe de ler o item “Apresentação” do novo módulo e solicite esse
material ao final da última oficina do Módulo Sexualidade.
70
Família
introdução
N amplo que envolve uma flexibilização de suas fronteiras. Alguns estudos mos-
tram que o homem é considerado o chefe da família, corporificando a autori-
dade moral. Ele é responsável pela respeitabilidade familiar, conferida pela presença
masculina em casa. A mulher, por sua vez, é a chefe de casa, aquela que mantém a
união do grupo; ela é quem cuida de todos e zela pela organização e funcionamento do
lar, mesmo que trabalhe fora. Contudo, no embate com a realidade cotidiana, nem
sempre homens e mulheres conseguem exercer as funções a que se propõem, seja
porque as condições externas são oscilantes e pouco controláveis, seja porque a
própria dinâmica familiar é mutável.
Dessa forma, discutir com o jovem sobre esse tema envolve, necessariamente, uma
reflexão sobre os ideais de família almejados e valorizados em nossa cultura, as novas
formações familiares, as implicações da presença de adolescentes em uma família e os
recursos afetivos que eles mobilizam nessa fase da vida. A crescente independência do
jovem, as novas responsabilidades, anseios e expectativas quanto ao futuro costumam
gerar conflitos entre pais e filhos, obrigando-os a rever posições, limites e regras.
Por todas essas razões, neste módulo, daremos especial atenção aos aspectos que
interferem na construção da identidade dos adolescentes, oferecendo-lhes a chance de
refletir a respeito dos diversos tipos de família hoje existentes e sobre as relações
familiares, tão essenciais em suas vidas. Procuraremos também resgatar aspectos da
história infantil de cada um, entendendo que essas imagens da infância contribuem
para a afirmação de sua identidade. Relembrando o passado e refletindo sobre o pre-
sente, os jovens têm a chance de imaginar seu futuro e de caminhar, com mais segu-
rança, rumo à vida adulta.
Bom trabalho!
72
DICAS PARA O MONITOR:
• Trabalhar a história de vida dos participantes vai requerer que as atividades
propostas sejam feitas seqüencialmente; você vai perceber que uma fornece
instrumentos para o desenvolvimento da outra.
• Na primeira oficina solicita-se que os adolescentes tragam material de casa,
portanto, devem ser alertados antecipadamente. Peça que tragam uma foto de
quando eram crianças. Peça também que conversem um pouco com os pais
sobre sua “pré-história” (como os pais se conheceram? Como começaram a
namorar? Como foi a gravidez da mãe?) e seus primeiros dias de vida (como foi
o dia do seu nascimento? Como escolheram o seu nome?). Essas informações
serão trabalhadas em grupo.
objetivos do módulo:
73
com a palavra...
Sobre a Família: Território de Origem
Leonel Braga Neto
e você é educador, precisa saber que parte da potência do seu trabalho está no fato de
Todos sabem que para qualquer um de nós existirmos houve alguém que nos quis: uma
relação sexual (ou uma inseminação artificial), uma gravidez que foi a termo, um parto e,
depois disso, a operação humana mais arcaica e poderosa que existe, pela qual um bebê
fabrica uma mãe: a amamentação. Toda pessoa que se torna mãe sabe desse momento
temeroso e emocionante em que se espera que o bebê a confirme aceitando seu leite (ainda
que não venha de seu corpo), seu cheiro, seu calor. É também essa ordem de incerteza que
está em jogo nos processos de adoção, de tal forma que talvez possamos dizer que toda
maternidade é uma operação de adoção recíproca.
Nesse completo estado de entrega mãe/filho se estabelece uma via fundamental pela qual
se transmitirá algo que vai muito além dos nutrientes que alimentam um corpo: um lugar na
imensa comunidade humana, uma vontade de futuro, mais um elo em uma cadeia
transgeracional. Enfim, nasce uma família e nasce-se sempre em uma família, que é ao
mesmo tempo comum e singular.
A curiosidade pela origem, pela cultura produzida e transmitida pela própria família
(brincadeiras, provérbios, figuras míticas), suas estratégias de sobrevivência, as
transformações ocorridas entre uma geração e outra, estará na base do interesse por todo o
conhecimento posterior: a história, a geografia, a biologia, a matemática e a linguagem.
O educador, sabendo que o conhecimento sobre a origem familiar de cada um facilita o
interesse pelo conhecimento humano em geral, pode convidar o jovem a se aproximar de sua
própria história (através das atividades mais diversas) de forma a possibilitar que a
curiosidade encontre seu rumo, como um rio que, correndo em sentido inverso, busque
a nascente para só depois chegar ao mar.
Também sabemos que toda família é um campo de batalhas, palco de rivalidades, de violên-
cias sutis ou explícitas, da força da lei simbólica ou da ausência dela, da imposição moral ou
da luta de resistência ou submissão a ela. Embora muitas vezes idealizada, a família nunca
LEONEL BRAGA NETO. Psicanalista de adolescentes, adultos e famílias. Presidiu, coordenou a equipe clínica e supervisionou
a equipe de professores e terapeutas da Escola de Passagem – equipamento do Centro Integrado de Cuidados ao Adolescente
– Cica do Instituto Therapon Adolescência.
74
é perfeita. Seja porque os filhotes humanos nascem tão desprotegidos e se agarram a essa
figura primordial materna estabelecendo uma ligação de posse recíproca da qual mais tarde
precisarão/desejarão se separar, seja porque a violência e o não-dito vividos pelos pais tam-
bém se transmitem aos filhos, o fato é que as famílias são potencialmente explosivas em
maior ou menor grau. A proximidade com o explosivo das próprias famílias faz com que,
muitas vezes, os educadores construam verdadeiras muralhas em relação ao "explosivo" do
outro (aluno rebelde, apático ou respondão), com o objetivo de se protegerem daquilo que
reconhecem como familiar, nesse outro que lhes parece tão estranho. Saber disso talvez o
ajude a lidar com essas intensidades dos adolescentes de forma a auxiliá-los a encontrar
expressões criativas que lhes permitam modulá-las (a música de protesto e o grafite são
exemplos disso). É com você que esse jovem (e o grupo de jovens) encontrará a oportunidade
de refazer um caminho, transformando uma experiência extremamente significativa para
ele, em algo comunicável que pode encontrar, no campo da cultura/educação, uma saída,
transformando coisas que poderiam ter um destino funesto (marginalidade, doença, violên-
cia) em talentos potenciais (artista/educador/terapeuta/ açougueiro/cirurgião/político/vende-
dor/empresário). A educação é a oportunidade de sonhar com outro destino.
Estamos fazendo aqui um recorte; muitas vezes se lida com situações de violência extrema
nas quais não há a menor condição de conter ou transformar um impulso de destruição,
mas, outras vezes, confunde-se violência com agressividade.
A agressividade, originariamente, é uma força que busca empurrar para fora algo que tenta
impor-se ao sujeito, dominá-lo. É uma tentativa de restabelecer o domínio sobre si.
Diferentemente da apatia (que é quando a agressividade volta-se silenciosamente contra o
próprio sujeito), a agressividade é uma potência transformadora, é vontade de viver ainda
que (ou por causa disso mesmo) correndo riscos. Tão característica da adolescência, a
agressividade visa, internamente, à separação do corpo infantil em direção ao corpo adulto
(o que só acontece à custa de muitos conflitos) e, "externamente", à separação na relação
com os pais em direção ao grupo social (grupo, banda, bando, trabalho). A escola e os demais
espaços de socialização são campos por excelência, onde os conflitos inerentes a esse
processo de separação irão se atualizar cotidianamente buscando uma resolução. O edu-
cador é figura visada e investida e será convocado a "encarnar" os pais. No entanto, deve
aceitar só parte dessa incumbência sem se transformar efetivamente na polaridade do
confronto. O educador comumente acaba por encarnar a lei proibitiva, funcionando como
autoridade, e o adolescente, por vezes, complementa a situação posicionando-se de maneira
submissa (apatia, desinteresse) ou reagindo de forma agressiva. A tarefa do educador é
tentar implicar o adolescente com suas próprias ações e decisões, algo como dizer a ele:
“Você pode fazer ou querer, desde que arque com as consequências e encontre os recursos
para realizar.” O adolescente pode, com seu corpo, efetivamente, realizar mais do que a
criança, mas em contrapartida terá a responsabilidade de cuidar de si e de assumir as
consequências de seus atos. O poder efetivo do jovem deve ser proporcional à sua implicação
e a lei (em vez de ser encarnada por alguém) deve se transformar em um mediador
simbólico, em parâmetros que regulam a sociedade como forma de conter e limitar a
violência. Aqui estamos no campo da ética e da política.
75
Oficina 1. Minha história
OBJETIVO: Favorecer o contato do adolescente com sua própria história.
DESCRIÇÃO: Como você está iniciando uma nova temática, comece batendo um papo
sobre família, tema dos próximos encontros. Investigue quem é o caçula, quem é o
mais velho, quem é filho único, quais as vantagens de cada posição, quantos irmãos
cada um tem etc. Esse tipo de conversa ajuda a criar uma cumplicidade no grupo.
Como foi alertado anteriormente (quadro “Dicas para o monitor”), nessa oficina os
jovens trabalharão com material trazido de casa. Pergunte a eles como foi conversar
com os pais sobre a época em que nasceram e quais as descobertas que fizeram.
Peça que todos coloquem suas fotos de quando eram crianças no centro de um círcu-
lo, viradas de cabeça para baixo. Um dos participantes deve escolher uma foto e ten-
tar adivinhar quem é aquela criança. A seguir, o dono da foto conta por que a escolheu,
onde estava e o que estava acontecendo naquele momento. Continue o jogo até que
todos tenham participado.
A seguir, você vai trabalhar o início da história de vida de cada participante, que deve
ter sido investigada com familiares, conforme fora solicitado. Para sortear quem vai
falar, coloque uma caneta no centro da roda e gire-a como se fosse uma roleta.
Quando ela parar, o adolescente que estiver na direção da tampa contará uma das
histórias pedidas com antecedência (como os pais se conheceram, o dia do nascimen-
to e a escolha do nome). Aquele que estiver do lado oposto deverá perguntar a seu
colega algo sobre a história contada. Isso feito, outras perguntas podem surgir. Repita
esse procedimento até todos contarem pelo menos uma das histórias.
Você pode inventar outra regra caso a caneta aponte mais de uma vez para a mesma
pessoa.
76
Oficina 2. Mapeando a vida
OBJETIVO: Lembrar e compartilhar momentos da infância com o grupo de modo que se
apropriem de marcos importantes da história pessoal.
Peça que os participantes façam, com a massinha de modelar, objetos que represen-
tem cada um dos momentos referidos no quadro. É importante entregar um papelão
ou papel-cartão preto que sirva de base para os objetos que serão posteriormente
expostos. Quando todos tiverem terminado, peça que apresentem seus trabalhos e,
com base neles, inicie a discussão.
77
Oficina 3. A família de hoje e a de amanhã
OBJETIVO: A partir de uma reflexão crítica sobre a própria família, analisar as relações
familiares e discutir a família que desejam construir.
Peça para os participantes desenharem em uma folha de sulfite a família que têm e,
numa outra, a família que desejam construir no futuro. Ao lado do desenho de cada
membro da família atual, eles devem acrescentar um adjetivo relacionado a uma
característica importante dessa pessoa. Em seguida, cada um apresenta o que fez.
Depois, abre-se a roda de conversa.
COMENTÁRIOS: Não se esqueça de pedir para que incluam em seus desenhos animais de
estimação e parentes que convivem com eles em seus desenhos, pois na maior parte das
vezes essas pessoas e os bichos também fazem parte da rede afetiva mais próxima.
Sugerimos também que você observe a realização dos desenhos. Para isso, ande pela sala
e converse com os participantes. É importante que os jovens explorem, ao máximo, as qua-
lidades positivas de cada família; essa é uma maneira de os adolescentes valorizarem
seu lugar de origem e pertencimento. Com base nas discussões, os participantes podem
descobrir que as fantasias e desejos sobre seu futuro familiar constituem um referencial
para a construção do seu projeto de vida.
78
Oficina 4. A grande família
OBJETIVO: Promover a discussão sobre os papéis e as relações familiares, permitindo
que os adolescentes se coloquem no lugar do outro (pai, mãe, irmão) e, dessa forma,
reflitam sobre o seu papel dentro da família.
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Oficina 5. Debate
OBJETIVO: Discutir e refletir sobre alguns papéis habitualmente estabelecidos na relação
pai-mãe-adolescente.
Situação-problema
O pai chega do trabalho muito cansado e entrega o dinheiro para a mulher comprar a
“mistura” para o dia seguinte. Senta-se no sofá para ver um pouco de televisão e nesse
momento sua filha de 15 anos pergunta se pode ir a uma festa com seus amigos. O pai
pergunta: quem vai? Onde é a festa? A que horas você vai voltar? A filha diz que irão
todos os seus amigos da escola, inclusive a Claudinha, sua melhor amiga. Fala que a
festa será uma grande balada que vai varar a madrugada. O pai balança a cabeça e fala
para a filha ver essa história com a mãe porque ele trabalhou o dia inteiro e não quer
mais problemas.
Quando você achar que o debate sobre o comportamento do pai se esgotou, levante
algumas questões para que os participantes reflitam sobre os outros personagens,
por exemplo:
• Na sua opinião, por que a filha foi conversar primeiro com o pai?
• Como você acha que a mãe costuma agir em relação ao marido e à filha?
• O que cada um teria que ceder para entrar em um acordo quanto à saída da filha?
• Como vocês acham que essa história terminou?
• E vocês, o que fariam no lugar da menina, do pai e da mãe?
• Nem sempre os adultos concordam entre si quanto à educação dos filhos. Nesses
casos, o que você acha que devem fazer?
80
Oficina 6. O que a minha família espera de mim?
OBJETIVO: Refletir sobre as expectativas pessoais e as da família em relação ao proje-
to de vida de cada um.
O que a sua família espera Você concorda ou não? O que você deseja/
para o seu futuro? Por quê? pensa a respeito disso?
Namoro
Trabalho
Estudo
COMENTÁRIOS: As divergências de opinião entre pais e filhos são freqüentes nessa fase.
Portanto, é importante que o adolescente aprenda a ouvir, a pensar e a argumentar,
defendendo suas idéias, ainda que tenha que acatar determinadas decisões dos pais à sua
revelia. Ajude-os a refletir sobre o peso que as expectativas parentais têm em suas
decisões, interferindo nas escolhas que possam fazer durante a vida.
81
para se aprofundar...
Livros Sites
ALBERGARIA, Lino de. Álbum de família. Adoção
São Paulo: SM, 2005. www.portoalegre.rs.gov.br/funcrianca
82
drogas
introdução
uso das drogas é tema de preocupação constante para pais, educadores, profis-
Abordar essa questão com os jovens requer muito cuidado. É preciso primeiramente
diferenciar o adolescente usuário ocasional do toxicômano já dependente. As razões e
conseqüências de cada modo de usar drogas são distintas e, por essa razão, ao tratar
todos os usuários da mesma maneira, corre-se o risco de não se comunicar efetiva-
mente com ninguém.
São muitas as razões que podem levar o adolescente a experimentar uma droga, a
continuar a usá-la e a se tornar um viciado. A maior parte deles, aliás, não se torna
dependente. Segundo especialistas, a personalidade do usuário, bem como circunstân-
cias psíquicas e sociais, são mais determinantes para alguém começar a fazer um uso
pesado de drogas (isto é, usá-las diariamente ou mais de uma vez por dia) do que os
princípios ativos da droga propriamente dita. É por essa razão que os adolescentes são
mais suscetíveis aos perigos que a droga oferece.
As pessoas viciam-se em uma ou outra droga por razões e caminhos singulares e, por
essa razão, não se pode falar no “toxicômano” de maneira geral. Mas seja
qual for o motivo que leva o adolescente a viciar-se, a droga ocupará na
vida dele uma função apaziguadora das angústias, preenchendo um
sentimento de vazio e promovendo a sensação de onipotência tão
característica dessa fase da vida. A busca desesperada pela
repetição do estado de satisfação que a droga propicia
leva o sujeito a querer sempre mais. Daí o altíssimo
risco de dependência física e psicológica que a
droga aporta.
84
Diante desse assunto tão delicado e difícil, como abordar o tema das drogas com os jovens
sem lançar mão de uma postura moralista ou repressora? As oficinas propostas neste
módulo são informativas e reflexivas, partindo do princípio de que o entendimento do uso e
abuso das drogas, assim como de seus efeitos prejudiciais à saúde e à vida, pode ajudar o
adolescente a fazer uma escolha mais consciente.
Antes de iniciar as oficinas, é fundamental que você estude o material informativo em anexo.
Bom trabalho!
objetivos do módulo:
• Promover maior conhecimento sobre as drogas lícitas e ilícitas e sobre seus efeitos
físicos e psicológicos.
• Favorecer a reflexão sobre o que leva um indivíduo a recusar, a usar ou a abusar da
droga e sobre as funções que esta pode ocupar na vida de uma pessoa.
• Discutir a relação entre as drogas e a sociedade, de modo que o jovem possa perceber
a complexidade das relações socioeconômicas das quais as drogas fazem parte.
85
com a palavra...
LÍDIA CHAIB é licenciada em Física, escritora e produtora cultural. Adaptou o livro Que droga é essa?, de Aidan Macfarlane,
Editora 34. Escreveu Ogum, o rei de muitas faces e outras histórias dos orixás, Cia. das Letras, e As melhores histórias de todos
os tempos, Publifolha.
86
O trabalho de prevenção com o adolescente precisa ser feito em conjunto com a
família, a escola e a comunidade. Só desse modo será possível concretizar ações,
amparadas e estimuladas pelo poder público, que tenham como resultado final uma
sociedade mais sadia.
À família cabe acolher a inquietação própria dos adolescentes, sem abrir mão de esta-
belecer limites claros e não arbitrários (que não resultem dos caprichos de alguém).
Muitos pais precisam de orientação e ajuda de profissionais especializados para esta-
belecer essa relação com os filhos.
A escola, por sua vez, deve garantir que os alunos recebam informações corretas e
não preconceituosas, além de oferecer múltiplas atividades artísticas e esportivas
para a participação dos alunos. A instituição de ensino pode também transformar as
reuniões de pais e mestres numa atividade produtiva e de troca real de informações,
oferecendo aos responsáveis pelo adolescente assistência e cobertura.
87
6. abrir um espaço para orientação dos pais de alunos, para que esses não se sintam tão
despreparados e desamparados para lidar com os desafios da adolescência. Esse tra-
balho deve ser desenvolvido por equipes especialmente preparadas para levar em
conta as múltiplas dimensões da questão (biológicas, psicológicas, sociais).
O que seria necessário evitar, pois não tem se revelado eficaz nos trabalhos de pre-
venção às drogas com adolescentes:
1. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de química avançada. Por mais respeito que
o adolescente tenha pelo saber científico, ele já tem a consciência clara de que a opção
pelo uso de substâncias psicoativas passa pelo conhecimento de seus efeitos, mas está
longe de se reduzir a isso: é acima de tudo uma questão emocional, não racional;
2. reduzir a discussão sobre drogas a um curso de moral e religião, definindo o bem e o
mal como se fossem absolutos. Uma das mais importantes características da ado-
lescência é a busca de um quadro de referências próprio, baseado nos valores rece-
bidos dos pais e professores, mas que não se confunde com esses. Nesse contexto,
lançar mão de argumentos morais (na maioria das vezes preconceituosos) implica
perder o interesse e a atenção do interlocutor adolescente.
3. patrocinar atividades pontuais e isoladas, como uma palestra proferida por especia-
lista externo ao cotidiano da instituição ou depoimentos de estrelas do universo pop
que se apresentam como ex-viciados reabilitados. Esses eventos são contraprodu-
centes, na medida em que servem para aplacar a ansiedade da própria escola que,
com isso acredita ter feito a sua parte e se exime de qualquer projeto mais compro-
metido e consistente.
4. palestras com especialistas podem eventualmente ajudar se fizerem parte de um pro-
grama de prevenção mais amplo, que inclui atividades a longo prazo. Os depoimentos
de ex-drogados arrependidos, principalmente se famosos, correm o risco de confirmar
a onipotência adolescente, fazendo-os acreditar que, como o depoente, serão capazes
de largar a droga.
88
Oficina 1. Conversando sobre as drogas
OBJETIVO: Introduzir o tema das drogas identificando as dúvidas dos adolescentes e
abrindo a possibilidade de diálogo sobre o assunto.
DESCRIÇÃO: Inicie a oficina perguntando ao grupo: O que são drogas? Quais drogas o
grupo conhece?
Em seguida, distribua uma tira de papel e uma caneta para cada participante e peça
que escrevam suas dúvidas em forma de perguntas sobre o tema das drogas. As per-
guntas devem ser anônimas, por isso é melhor você utilizar canetas de mesma cor
para que os participantes não sejam identificados. Reúna todas as perguntas em uma
caixa e peça para alguém sortear uma pergunta e fazê-la para o coletivo. Estimule o
grupo a respondê-la e, se necessário, complete as respostas. Repita esse procedi-
mento até que todas as perguntas tenham sido respondidas.
As drogas podem ser divididas em lícitas (legais) e ilícitas (ilegais). No Brasil, são con-
sideradas drogas lícitas o álcool, o cigarro e os medicamentos. Alguns produtos quími-
cos (como solventes e sprays) e medicamentos controlados não são ilegais, mas, se
usados para fins indevidos, isto é, para um uso diferente daquele ao qual se destinam,
também são consideradas drogas e o usuário pode ser penalizado por lei.
89
Oficina 2. Uso e abuso/ Drogas lícitas e ilícitas
OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento dos jovens sobre drogas lícitas e ilícitas.
MATERIAL: Cartolina; tiras de papel; canetas e cópias do material gráfico anexo (que
deve ser recortado antecipadamente).
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade retomando a discussão da última oficina sobre o que são
drogas, recuperando as principais descobertas do grupo.
Feito isso, peça aos participantes que se dividam em equipes de quatro ou cinco inte-
grantes e distribua uma cartolina para cada uma. Solicite que cada grupo divida a car-
tolina em três partes e em cada uma delas escreva:
• Drogas Lícitas
• Drogas Ilícitas
• Não Drogas
Em seguida, distribua um jogo de tiras a cada grupo e peça para classificarem todos
os nomes correspondentes às imagens (chocolate; vinho; acetona; cigarro; cocaína;
tinta; remédio; ecstasy; gasolina; cerveja; café e chá) nas três categorias do cartaz.
Quando terminarem, solicite que cada grupo apresente a sua proposta. Nessa apre-
sentação, levante as semelhanças e diferenças nas respostas de cada grupo e abra a
discussão.
• Dessa lista, o que não é considerado droga pode ser consumido em grandes quanti-
dades, pois não faz mal?
Resposta: Não. Muitos dos itens considerados não drogas podem fazer mal à saúde se
consumidos em grandes quantidades. O chocolate em excesso, por exemplo, pode
aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e de outros males provocados pela
obesidade. O café, por sua vez, contém substâncias estimulantes que acarretam insô-
nia e agitação.
90
• A seu ver, qual a diferença entre usar e abusar de alguma coisa?
Resposta: O uso designa uma ação social moderada de consumo de um determinado
produto ou substância. O abuso refere-se ao uso excessivo e fisicamente prejudicial
de determinadas substâncias que, a curto ou a longo prazo, dependendo da substân-
cia, da dose usada e do número de doses, irá não só determinar alterações patológi-
cas como também induzir à dependência química.
• Quais são os sinais que podem alertá-lo quanto ao uso do abuso de alguma coisa?
Resposta: Necessidade diária de ingerir o produto; sentir falta dele em situações sociais
ligadas ao prazer; propensão a consumir o produto em quantidades cada vez maiores;
achar que o produto é a coisa mais importante da sua vida; o fato de os outros repararem
que você está se excedendo com freqüência; ter antecedentes familiares de vício; pedir
com freqüência dinheiro emprestado ou roubar para poder comprar o produto.
Ao final, se ainda houver tempo você pode perguntar se o grupo conhece pessoas que
são viciadas em drogas lícitas ou ilícitas e quais são as conseqüências disso na vida
dessas pessoas. Pode ser um bom momento para compartilhar histórias, experiências
e aprofundar a conversa sobre esse tema.
É importante também que os jovens compreendam que o uso de drogas ilícitas vai além
dos problemas de saúde que elas podem acarretar. Tanto o acesso quanto o uso de drogas
são atividades criminosas que envolvem uma série de questões éticas, sociais e políticas
que merecem ser discutidas. Essa pode ser uma oportunidade.
91
Oficina 3. Saúde no ar!
OBJETIVO: Informar os adolescentes sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos acar-
retados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas.
DESCRIÇÃO: Explique aos jovens que na oficina de hoje eles vão fazer um programa de
televisão chamado “Saúde no ar” e que o tema do programa vai ser as drogas e seus
efeitos. Divida os participantes em quatro grupos e sorteie duas drogas dentre a lista
em anexo (maconha, cocaína, inalantes, anfetaminas, LSD, álcool e tabaco, ecstasy);
cuide para não haver repetição de temas para cada grupo. Distribua o material infor-
mativo, e recomende que façam a leitura com bastante atenção, para em seguida
prepararem uma apresentação que simulará um programa de TV. O formato do pro-
grama é livre, assim como o número de participantes: pode ser uma entrevista, uma
reportagem, um debate ou um telejornal acerca das informações sobre as drogas
sorteadas. Durante o ensaio, circule pela sala e, se necessário, forneça orientações
aos grupos.
92
Oficina 4. Dramatização
OBJETIVO: Refletir sobre comportamentos e atitudes que estão associadas ao uso de
drogas, sobre os motivos que levam os adolescentes a usá-las ou rejeitá-las. Buscar
compreender a complexidade da questão e os diversos fatores que estão em jogo.
DESCRIÇÃO: Inicie essa atividade contando que eles farão uma dramatização na qual podem
e devem levantar questões e colocar seus pontos de vistas e vivências sobre o tema.
Grupo 1
Crie uma cena cujo personagem central seja um adolescente viciado em drogas.
Explore alguns pontos de sua história e de sua vida: como ele começou a usar, como
o problema se desenvolveu, com que freqüência ele usa, como está a relação dele com
a família e com as drogas.
Grupo 2
Crie uma cena que tenha como foco um adolescente que, pela primeira vez, esteja
experimentando alguma droga. Explore alguns pontos de sua história: em qual
momento da sua vida isso acontece, o que leva a querer usar a droga, onde a con-
segue, como essa experiência se dá.
Grupo 3
Crie uma cena cujo tema central seja um adolescente que, diante de uma situação de
oferta, se recusa a usar drogas. Explore alguns pontos de sua história: os motivos que
o levaram a dizer não e a reação do grupo de amigos diante dessa recusa.
Depois que todos tiverem apresentado suas cenas, abra para uma conversa coletiva.
Pontos para discussão:
• Quais razões podem levar alguém a usar e/ou abusar das drogas?
• Qual a função que a droga pode assumir na vida dessas pessoas?
• Quais são as conseqüências do uso abusivo de droga na vida de uma pessoa?
• Quais são os fatores que podem ajudar o adolescente a recusar drogas?
93
Oficina 5. Drogas e sociedade
OBJETIVO: Aprofundar e ampliar os temas que estão ligados à questão das drogas.
Perceber a relação entre as drogas e a sociedade.
MATERIAL: Leitura das seguintes seções do Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;
“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e
“Papo cabeça”. (Se você não tiver um exemplar do livro para cada adolescente, faça
uma cópia dos textos para cada um.)
DESCRIÇÃO: Inicie perguntando quais questões políticas e sociais estão ligadas ao tema
da droga, como, por exemplo, o tráfico de drogas, drogas lícitas e ilícitas e políticas de
saúde pública para usuários. Faça um pequeno aquecimento do tema.
Em seguida, peça que os participantes se dividam em três grupos. Para cada um deles
entregue um dos seguintes textos contidos no Livro do adolescente: “As drogas e a lei”;
“Álcool, uma cervejinha aqui, outra ali...”; “Redução de danos, um assunto polêmico” e
“Papo cabeça”. Peça que os grupos leiam o seu texto e façam uma discussão: o que
acharam do texto? Já haviam recebido essas informações? Acrescentariam algo? Em
que o texto faz pensar?
Feito isso, peça que eles imaginem um jeito criativo de apresentar o tema discutido
para o grupo todo. Pode ser em forma de uma música, uma aula, uma palestra, uma
entrevista etc. O importante é poder passar as informações e a discussão de uma
maneira lúdica e envolvente.
Ao final, procure fazer uma conversa com todos os participantes da oficina. Pontos
para discussão:
• Você aprendeu algo novo nessas apresentações? O quê?
• Do que mais gostou de saber?
• Do que menos gostou?
• Existe algo com que você não concorda sobre esse tema? Poderia acrescentar algu-
ma nova idéia à discussão?
COMENTÁRIOS: Fazer uma pesquisa anterior sobre os temas que serão discutidos e até
trazer outros textos que alimentem a discussão dos grupos, pode ser muito interessante
e o deixará mais preparado para conduzir essa oficina.
94
Oficina 6. Jogo
OBJETIVO: Verificar o que os integrantes aprenderam durante as oficinas e ajudar que
eles se apropriem delas.
Quando a equipe não souber a resposta, não ganha ponto e a equipe adversária tem o
direito de resposta.
A cada acerto, um ponto. A equipe que conseguir responder mais perguntas ganha a
gincana e um prêmio (a ser escolhido pelo monitor).
4. O que acontece com alguém que é pego com alguma droga ilícita?
Resposta: Depende. No caso brasileiro, a lei 6.368/76 trata, entre outras questões, do
tráfico e do uso indevido de drogas. Se a pessoa for pega com uma pequena quanti-
dade e assumir que é usuária, ela pode ser enquadrada no artigo 16 dessa lei; a pena
é mais leve, com reclusão de 6 meses a 2 anos, que pode ser substituída por prestação
de serviços à comunidade, acompanhada de tratamento obrigatório. Mas, se o indiví-
95
duo estiver com uma grande quantidade ou não assumir que é usuário, seu caso
passa a se enquadrar no artigo 12. A pessoa pode, então, ser condenada como trafi-
cante (pena de 3 a 15 anos, além da multa), mesmo que não tenha antecedentes e leve
uma vida normal, trabalhe, estude etc. No caso de menores de idade, a pena máxima
de reclusão é de três anos, como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA). Lembre-se: tráfico de drogas é crime hediondo e não tem fiança.
Em algumas regiões existem políticas específicas de uso de drogas para fins medici-
nais, como o Canadá e oito estados norte-americanos. Na Califórnia, por exemplo,
para atender à demanda do uso terapêutico, há uma produção legalizada, que obedece
a rígido controle governamental. Existem drogas cujo uso é considerado normal e
96
integrante da cultura de determinado país. Por exemplo, no Peru e na Bolívia, a folha
de coca é consumida livremente, embora a cocaína seja proibida. Esses países são os
únicos nos quais a exportação de folhas de coca é uma atividade legal.
97
para se aprofundar...
Livros Drogas tô fora: http://www.spiner.com.br/modules.
php?name=drogastofora
ARATANGY, Lidia Rosenberg. Doces venenos:
conversas e desconversas sobre drogas. Grupo Interdisciplinar de Estudos do Álcool e
São Paulo: Olho d'água, 1991. Drogas (GREA): http://www.grea.org.br
TIBA, Içami. A maconha e o jovem: família, escola Notícias de Uma Guerra Particular
e sociedade. São Paulo: Agora, 1989. Kátia Lund e João Moreira Salles, 2007.
Traffic
Sites Steven Soderbergh, 2000.
98
Anexo
99
profissão e
trabalho
101
introdução
P firme em direção ao mundo adulto. Ainda que muitos deles façam “bicos”, aju-
dem no trabalho doméstico ou familiar desde cedo, um emprego remunerado,
com ou sem registro formal, representa uma grande mudança na vida dos adoles-
centes. Em geral, o emprego traz novas responsabilidades e direitos, proporciona
aprendizagens e relacionamentos diferentes e oferece certa independência finan-
ceira, o que lhes possibilita inserção no mercado de consumo. Ao participar da rede
produtiva, o jovem pode delinear com um pouco mais de nitidez seu papel social, suas
perspectivas de futuro.
Muitas vezes, esses primeiros trabalhos não correspondem de fato a uma escolha
profissional. Nesse momento, é fundamental discutir com os jovens as diferenças
entre trabalho e profissão. Um trabalho pode levar a uma profissão? Formar-se em
algo implica conseguir trabalho? Como uma carreira pode ser construída?
Não raro, priorizando sua independência financeira imediata, o jovem fecha portas de
seu futuro. Entretanto, trabalhar não é apenas ter renda. Todo trabalho representa uma
ação criativa no mundo, implica transformação da realidade. Trabalhar é colocar em
prática habilidades e desejos, confrontar-se com limites e frustrações. A escolha da
formação profissional é especialmente difícil porque o jovem se vê às voltas com seu
projeto de vida, o que traz angústias.
As dúvidas com relação às escolhas profissionais acentuam-se por volta dos últimos
anos do ensino médio, quando o jovem realmente precisa tomar uma posição em face
de seu futuro – a escola, a família, o grupo social cobram decisões. Frágil e inseguro,
ele necessita da ajuda dos adultos para definir seus rumos. Daqui para frente, a esco-
lha da formação implica um grande investimento, no qual recursos materiais, pessoais
e familiares estão em jogo.
O leque de ofertas de formação é um ponto central que deve ser abordado ao longo
deste módulo. Em um mercado altamente especializado, as opções são cada vez
mais diversas. O jovem precisa ter acesso a informações acerca das possibili-
dades de formação e de atuação profissional para que possa fazer
escolhas possíveis e que lhe tragam satisfação.
102
Este módulo pode ser de grande ajuda para auxiliar seu grupo a refletir sobre essas
questões.
Boa sorte!
objetivos do módulo:
• Prover informações ao jovem sobre o mundo das profissões e do trabalho e suas
diversas dimensões, tais como: tipos de formações profissionais existentes, lugares
onde buscá-las, primeiro emprego, currículo, entre outras.
• Refletir sobre o trabalho como um projeto de vida fundamental e ajudar o jovem a
descobrir quais são suas habilidades e sonhos para que ele faça as melhores
escolhas possíveis.
• Refletir criticamente sobre a relação entre o trabalho e a sociedade.
• Incentivar o jovem a tomar atitudes que busquem realizar o seu sonho.
103
com a palavra...
arece simples falar de trabalho. Afinal, todo mundo tem uma idéia mais ou
P menos clara do assunto. Mas a abordagem fica mais complexa quando se pre-
tende discutir todos os matizes do tema, ou seja, a escolha da carreira, o
binômio emprego-desemprego, a formação educacional, o projeto de vida no trabalho
e a própria relação da identidade do indivíduo com sua atuação profissional.
O trabalho é algo que convive conosco desde a infância. “O que você vai ser quando
crescer?”, perguntam pais, tios, avós. Esse interesse, que a partir de uma certa fase
começa a soar como uma espécie de cobrança, nos faz lembrar constantemente do que
o trabalho representa: um fazer inerente ao mundo adulto, uma ação sobre a realidade,
que se vale de diversos instrumentos – técnicas, estratégias, conhecimentos específicos
– e que, em especial a partir do momento em que me dedico a ele, irá definir quem eu
sou. Isso porque, ao trabalhar, eu me desenvolvo enquanto pessoa, assumo um lugar
no mundo e sou reconhecido socialmente. Trabalhar é, portanto, uma ação de auto-
transformação e autodesenvolvimento, de atuação social e de interação com o coletivo.
É a sociedade que organiza o mercado de trabalho: suas opções, suas formas, os cami-
nhos para o ingresso em cada uma das várias carreiras existentes, a legitimação e
regulamentação das profissões, bem como as modalidades de preparo profissional.
Assim, quando eu digo que eu sou professor, qualquer pessoa pode saber o que eu faço
(dar aulas, ter alunos, avaliar), onde executo meu trabalho (instituições educacionais),
qual é minha remuneração média (valor social da profissão) e também imaginar os
motivos que me levaram a ter essa atividade e não outra (identidade profissional). Mas
será que a resposta é assim tão simples e não há algo a mais nessa história?
MARCELO AFONSO RIBEIRO é psicólogo, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
104
Esse modelo, desenhado pela Revolução Industrial dos séculos XVIII - XIX, perdurou por
quase todo o século XX. No entanto, de uns 30 anos para cá, ele tem sofrido transfor-
mações significativas. Graças à chamada “flexibilização do mundo do trabalho”, reduzi-
ram-se bastante o peso e a importância do emprego – até então a forma mais comum e
hegemônica de inserção no mercado produtivo – e novos modelos começaram a ganhar
espaço, tais como: a terceirização, o trabalho temporário, o teletrabalho (você recebe
tarefas e as executa onde bem desejar), a consultoria e a informalidade.
Em última análise, é a sociedade que institui valores sobre o que é bom ou ruim – por
exemplo, o que seria um bom trabalho, o que seria desejável para ter um bom
emprego, qual a melhor forma de inserção no mercado, o que é uma formação ade-
quada, o que é uma carreira de sucesso –, que se tornam metas genéricas a serem
alcançadas.
Se respondermos sem pensar muito, todas essas questões parecem fáceis ou óbvias.
No entanto, há muitos fatores envolvidos nessas situações, principalmente pelo simples
fato de que existem pessoas por trás delas, que constroem sua relação com o trabalho
105
(projetos e trajetórias de vida no trabalho). Tudo isso confere grande complexidade a
essas respostas aparentemente fáceis, pois não convém fazer generalizações.
O que é um projeto? É um estado que se almeja atingir, uma identidade que se pretende
construir e um conjunto de ações para chegar a um dado fim. Todo projeto emerge do
projeto de vida de cada um e toda escolha leva em conta um projeto preexistente.
Assim, o projeto de vida requer uma estratégia no tempo ou uma ação que envolva a par-
ticipação da pessoa na construção do seu futuro. Isso implica: compromisso e vontade
de tomar para si o futuro; autoconhecimento; conhecimento dos seus processos de
escolha e do mundo do trabalho; antecipação de dificuldades e obstáculos; operaciona-
lização de estratégias para realizar projetos; existência de um projeto de vida global, do
qual o trabalho é uma parte; consciência de que nenhum projeto é definitivo.
O que uma pessoa busca com seu trabalho tem relação direta com o que ela busca para
sua vida. É por isso que não existem receitas prontas ou caminhos adequados. Qualquer
análise da trajetória ou do projeto de vida no trabalho deve levar em conta o que a pes-
soa busca para sua vida (aspirações individuais), sem nunca perder de vista o que ela
pode realizar (condições objetivas) e o que existe para ela (possibilidades concretas).
Ter clareza de que qualquer projeto de vida no trabalho se constitui de muitas variáveis
não é fácil, pois de certo modo obriga a desconstruir falsos ideais, evitar frustrações
desnecessárias, e a analisar o contexto de forma mais objetiva, a fim de visualizar as
possibilidades e restrições que serão enfrentadas por toda a vida no trabalho.
Em síntese, ainda que o trabalho pareça algo simples de definir, ele adquire dimensões
mais complexas ao se constatar a existência de uma pessoa que trabalha em dado
contexto social, o que impõe restrições e gera oportunidades que devem ser levadas
em conta em toda análise do trabalho, da trajetória ou do projeto de vida no trabalho.
106
Oficina 1. Viagem ao futuro!
OBJETIVOS: Discutir o projeto de vida de cada um e os caminhos possíveis para que ele
se torne uma realidade.
DESCRIÇÃO: Em clima suave e tranqüilo, com uma música de fundo, peça que todos os
participantes fechem os olhos. Dirija um relaxamento lentamente, propondo uma
viagem ao futuro. Pense de antemão como você vai dirigir essa viagem (eles entrarão
em um túnel? Passarão por uma porta? Viajarão pelos céus em uma espaçonave?),
pois cabe a você orientar o pensamento dos adolescentes. Faça algumas perguntas
que possam ajudá-los a se imaginar daqui a dez anos, por exemplo:
• Agora que você avançou dez anos na sua vida, como você está se vendo?
• Está trabalhando? Em quê?
• Está estudando? Qual curso?
• Está casado? Tem filhos? Quantos?
• Tem uma casa própria? E um carro?
• Como é a sua vida social? Como você se diverte?
• E a sua família de origem, com que freqüência os encontra?
• Quais são as suas prioridades nesse momento? O que é o mais importante para você
e o que não é tão importante assim?
Em seguida, peça que abram os olhos lentamente e entregue a cada participante uma
folha de papel em branco, no formato de um hexágono, e material de escrita. Peça que
escrevam na folha o futuro imaginado. No centro da figura geométrica, devem escre-
ver o que consideram o mais importante; os demais aspectos de suas vidas podem ser
distribuídos nas bordas ou como preferirem.
Depois que terminarem, peça que cada um coloque o seu hexágono no centro da roda,
de modo que, unidos, eles formem uma figura como se fosse uma colméia. Proponha
que cada um apresente seu desenho e depois, abra para discussão.
107
Exemplo:
Casa Própria
Profissão
Viagem
Carro
Faculdade de
Educação Física
Família:
Casada com dois filhos
108
Oficina 2. Relação escola/ qualidade de vida/ trabalho
OBJETIVO: Discutir a função da escola no projeto de vida de cada um, especialmente no
que diz respeito à escolha profissional.
Em seguida, divida os participantes em três grupos. Peça para cada grupo refletir e
escrever em uma cartolina suas principais idéias sobre um dos seguintes temas:
quais são as relações existentes entre escola e formação profissional (universidade ou
outros cursos); quais as relações existentes entre escola e trabalho; e quais as
relações existentes entre escola e qualidade de vida. É importante que todos os temas
sejam discutidos. Por isso, certifique-se de cada grupo fique com um deles.
Peça para cada grupo apresentar suas reflexões aos demais. Ao final de cada apresen-
tação, realize um debate sobre os pontos levantados pelos grupos.
COMENTÁRIOS: Esta oficina foi pensada com o intuito de resgatar a função da escola na vida
do aluno, isto é, de problematizar os deveres da escola e do aluno diante da formação de
um aluno crítico e cidadão. É muito importante que você discuta com os jovens as várias
funções da escola para além da entrada no mercado de trabalho, como por exemplo, a for-
mação ética e cidadã, o desenvolvimento emocional e intelectual, o fortalecimento de
idéias, opiniões e valores, o relacionamento social. Os textos introdutórios podem servir de
apoio para a discussão.
109
Oficina 3. Minhas habilidades (atividade das cartas)
OBJETIVO: Reconhecer as próprias habilidades e dificuldades por meio das atividades
que mais gostam de fazer ou daquelas que gostariam de realizar.
DESCRIÇÃO: Entregue uma folha de sulfite aos participantes e peça que escrevam, de um
lado, suas habilidades e, do outro, suas dificuldades, levando em conta todos os aspectos
da vida: escola, família, esporte e lazer, amigos, características pessoais etc. Exemplo:
Habilidades Dificuldades
Fazer amigos Falar em público
Desenhar Matemática
Dar conselhos Escrever
A seguir, entregue três cartas em branco (folhas de sulfite cortadas do mesmo tama-
nho de cartas de baralho) a cada um dos participantes. Peça que olhem suas listas e
escolham duas habilidades e uma dificuldade que consideram significativas, re-
escrevendo-as, uma em cada carta.
Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para cada um apresentar suas três
cartas e justificar o motivo de sua escolha. Durante a apresentação, é fundamental que
haja um amplo diálogo entre os participantes de modo que as diferentes percepções inte-
rajam. Alguns exemplos:
• Se alguém disser que sua maior dificuldade é fazer amigos, você pode perguntar aos
outros jovens quais dicas eles poderiam dar para ajudar o colega a conquistar novas
amizades.
• Se alguém falar que sua maior habilidade é fazer contas de matemática, pergunte
quais dicas ele daria para aqueles que têm dificuldade em cálculos.
• Se alguém mencionar uma habilidade ou dificuldade que é percebida pelos demais (como
a timidez, por exemplo), os participantes podem expressar a sua opinião sobre esse
aspecto do colega.
Ao final, a partir do que os jovens apresentaram, questione de que maneira essas habili-
dades e dificuldades podem interferir na escolha da profissão.
COMENTÁRIOS: Nas discussões, procure ajudar os jovens a fazer possíveis ligações entre
suas habilidades/dificuldades e a escolha profissional. Pode ser também interessante
levá-los a perceber que, dependendo do contexto, uma determinada característica pode
ser vista como algo positivo ou negativo. Por exemplo, ser detalhista é bom para algumas
atividades e ruim para outras.
110
Oficina 4. Escolhas profissionais. Como posso concretizá-las?
OBJETIVO: Discutir as escolhas profissionais e as possibilidades de concretização.
DESCRIÇÃO: Inicie a atividade discutindo com o grupo quais são os vários aspectos que
influenciam na escolha profissional de um jovem.
Feito isso, peça que eles escolham, dentre todas as possibilidades que escreveram,
aquelas que combinam melhor com seus desejos pessoais, suas habilidades, e com
as possibilidades concretas de que dispõem, grifando-as.
COMENTÁRIOS: Tenha em mente que, dentre os aspectos que podem influenciar na escolha
profissional de um jovem, incluem-se a profissão dos pais e dos familiares, as expectativas
da família, os sonhos pessoais de infância, as habilidades de cada um e o retorno financeiro
da atividade profissional escolhida, a curto e a longo prazo. Na discussão em torno do tema
“universidade”, considere o fato de que a opção pela formação universitária não deve ser
vista como a única escolha positiva do jovem após ele concluir o ensino médio. Existem
outras possibilidades de formação ou de inserção no mundo profissional: curso técnico,
cursos de curta duração, ingresso no mundo do trabalho sem curso prévio, dar prossegui-
mento ao empreendimento familiar etc. O Livro do adolescente aborda amplamente esse
tema, você pode fazer uma leitura coletiva ao final da oficina.
111
Oficina 5. Pensando nas profissões (Jogo das profissões)
OBJETIVO: ampliar o conhecimento acerca das profissões existentes, assim como
ensaiar escolhas profissionais possíveis.
DESCRIÇÃO: Peça que todos escrevam numa folha de sulfite as profissões que conhe-
cem, tanto as de que gostam quanto as que não apreciam. Depois, peça que escrevam,
em uma outra folha, cinco profissões com que mais se identificam, assinalando os
pontos positivos e negativos de cada uma.
Assim que todos terminarem, forme um círculo e peça para apresentarem suas
reflexões.
Ao final da discussão, cada um deve escolher uma profissão para conhecê-la melhor.
Isso será trabalhado no próximo encontro.
COMENTÁRIOS: Muitas são as maneiras de escolher uma profissão, mas certamente, infor-
mar-se é fundamental. Peça que os participantes se informem mais sobre a profissão que
escolheram trazendo dados que serão trabalhados no próximo encontro, conversando
com profissionais, lendo revistas ou manuais, consultando a internet. Leia a descrição
desta oficina para melhor orientar a pesquisa dos adolescentes. Entretanto, para assegu-
rar o bom andamento da próxima oficina, é importante que você também leve material
informativo sobre as profissões que serão trabalhadas.
112
Oficina 6. Profissões no ar (Telejornal)
OBJETIVO: Aprofundar o conhecimento em torno de uma profissão especifica com a
qual o jovem se identifica.
Peça para cada um ler o material que você trouxe sobre a profissão escolhida e dê
aproximadamente 20 minutos para os participantes organizarem o conteúdo que será
apresentado ao grupo. Informe que eles farão um “telejornal” durante o qual cada um
dos jovens será entrevistado pelos outros integrantes do grupo. A seguir, organize as
“entrevistas” até que todos passem pela posição de entrevistado.
113
Comentários: Você também pode participar diretamente da atividade. Poderá, por exem-
plo, fazer o papel de apresentador, introduzindo cada novo entrevistado, dizendo: “Estamos
aqui no programa ‘Profissões no ar’ com o nosso entrevistado Fulano de Tal que vai falar
sobre sua profissão de...”. Se necessário, acrescente perguntas que considere impor-
tantes, dinamizando a atividade.
Além disso, você pode trazer informações sobre alguma profissão inusitada, provavel-
mente desconhecida do grupo, que ache interessante que os jovens conheçam melhor.
Esse é um momento de aprofundar conhecimentos, portanto, a sua ajuda é fundamental.
114
Oficina 7. Primeira Entrevista
OBJETIVO: Discutir sobre a primeira entrevista e oferecer informações úteis para
processos de seleção.
DESCRIÇÃO: Forme dois subgrupos e, para cada um, entregue uma história de um
jovem que procura o seu primeiro emprego (veja abaixo). Cada grupo ficará respon-
sável por responder as seguintes questões:
• O que o jovem da história deve fazer?
• Onde ele deve procurar trabalho?
• Como ele deve se comportar na primeira entrevista?
Em seguida, peça que os dois subgrupos apresentem suas sugestões. Assim que ter-
minarem, escreva com eles uma lista de dicas sobre como se comportar na primeira
entrevista de trabalho. Isso deve ser feito sempre levando em consideração os exem-
plos que os próprios adolescentes deram durante a discussão das histórias.
DEPOIMENTO 1
Meu nome é Mariana, tenho 19 anos, sou solteira e residente da cidade de São
Paulo (SP). Curso a Faculdade de Administração e estou à procura do meu
primeiro emprego. Tenho facilidade para lidar com os clientes, conhecimentos
em inglês, espanhol e informática. Quero uma oportunidade, assim como todo
jovem que cursa uma faculdade. Gosto do que estudo e quero começar a traba-
lhar logo. O que eu faço? Onde procuro trabalho? Como devo me comportar na
primeira entrevista?
DEPOIMENTO 2
Meu nome é João, tenho 17 anos, sou solteiro e moro em Ribeirão Preto (SP).
Estou à procura do meu primeiro emprego para aumentar a renda familiar.
Procuro cargo de atendente e tenho conhecimentos de inglês básico e informáti-
ca. Atualmente curso o ensino médio (3º ano). O que eu faço? Onde eu procuro
trabalho? Como devo me comportar na primeira entrevista?
115
Seguem abaixo algumas dicas sobre os processos de seleção. Elas podem orientar a
discussão.
116
• Procure demonstrar interesse pela vaga, força de vontade, desejo de batalhar por ela.
• Ouça o entrevistador e responda a cada pergunta que lhe for feita de forma objetiva.
• Não minta. Não se esqueça de que, quando mentimos, passamos insegurança e por
vezes até gaguejamos. Lembre-se de que normalmente as pessoas que entrevistam
são especialistas em comportamento humano e têm boa percepção.
• Não se esqueça de que o entrevistador tem como maior objetivo descobrir suas qua-
lidades, as habilidades para que sua contratação seja favorável, encontrando a pessoa
certa para o lugar certo.
• Você também pode perguntar se tiver dúvidas sobre a vaga. Isso poderá ajudar na
hora de responder e você poderá valorizar mais o que sabe fazer a partir do que é
esperado para a vaga, ou seja, ressalte os pontos mais importantes.
117
Oficina 8. Curriculum Vitae
OBJETIVO: Fazer o próprio Curriculum Vitae.
DESCRIÇÃO: Abra o Livro do adolescente na seção “E aí, já fez o seu CV?”. Nela você
encontrará as informações necessárias para fazer um currículo. Converse com os
participantes sobre cada item do currículo; assim que esgotarem todas as dúvidas,
entregue a cada um deles uma folha de sulfite e uma caneta e peça que façam o
próprio currículo. Assim que todos terminarem, solicite que o apresentem. Ajude o
grupo a analisar cada currículo, sugerindo possíveis mudanças caso necessário.
Discuta os pontos positivos de cada um que merecem ser ressaltados assim como
eventuais fragilidades, por exemplo: “sou bom em computação, mas me falta inglês”.
118
para se aprofundar...
Livros MACEDO, Roberto. Seu diploma, sua prancha:
como escolher a profissão e surfar no mercado
ALVES, Rubem; DIMENSTEIN, Gilberto. Fomos de trabalho. 8.ed.
maus alunos. Campinas: Papirus, 2003. São Paulo: Saraiva, 1999.
AMARAL, Sofia Esteves do. Virando gente grande. MELLO, Fernando Achilles.
Como orientar os jovens em inicio de carreira. O desafio da escolha profissional.
São Paulo: Gente, 2004. Campinas: Papirus, 2002.
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: MELO-SILVA, Lucy Leal; SANTOS, Manoel Antônio
ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. dos; SIMÕES, Joab Tenysson et al. Arquitetura de
São Paulo: Boitempo, 1999. uma ocupação: orientação profissional - Vol. 1.
São Paulo: Vetor, 2003.
BOCK, Ana Mercês Bahia et al.
A escolha profissional em questão. OLIVEIRA, Marco Antonio. O novo mercado de
São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995. trabalho - guia para iniciantes e sobreviventes.
Rio de Janeiro: SENAC, 2000.
BOHOSLAVSKY, Rodolfo.
Vocacional: teoria, técnica e ideologia. POCHMANN, Márcio. A inserção ocupacional e o
São Paulo: Cortez, 1983. emprego dos jovens.
Campinas: IE/UNICAMP, 1998.
DEJOURS, Christophe.
A banalização da injustiça social. POCHMANN, Márcio. O emprego na globalização:
Rio de Janeiro: FGV, 1999. a nova divisão internacional do trabalho e os
caminhos que o Brasil escolheu.
DIAS, Maria Luiza. Profissão, no rumo da vida. Rio de Janeiro: Boitempo, 2001.
São Paulo: Ática, 2002.
PUBLIFOLHA, “Série Profissões” – Administrador
FERRETTI, Celso João. Uma nova proposta de (2006); Advogado (2005); Engenheiro (2006);
orientação profissional. São Paulo: Cortez, 1988. Jornalista (2006); Médico (2005); Publicitário (2005).
São Paulo: Publifolha.
GIACAGLIA, Lia Renata.
Atividades para orientação vocacional. RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vida
São Paulo: Pioneira, 2000. atual. São Paulo: Globo, 1996.
GUIMARÃES, Nádia Araújo; HIRATA, Helena. (Orgs.). SCHWARTZ, Gilson. As profissões do futuro.
Desemprego: trajetórias, identidades, mobiliza- São Paulo: Publifolha, 2000.
ções. São Paulo: SENAC, 2006.
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as
LASSANCE, Maria Célia (Org.). Técnicas para o conseqüências pessoais do trabalho no novo
trabalho de orientação profissional em grupo. capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1998.
Porto Alegre: UFRGS, 1999.
SILVA, Laura Belluzo de Campos. A escolha da
LEHMAN, Yvette Piha. Não sei que profissão profissão: uma abordagem psicossocial.
escolher. São Paulo: Moderna, 1999. São Paulo: Unimarco, 1996.
119
SOARES, Dulce Penha; LISBOA, Marilu Diez Guia do Estudante:
(Orgs.). Orientação profissional em ação: http://www.guiadoestudante.abril.com.br
formação e prática.
São Paulo: Summus, 1998. Lei do Aprendiz:
http://www.leidoaprendiz.org.br
SOARES, Dulce Penha (Org.).
Pensando e vivendo a orientação profissional. Ministério do Trabalho e Emprego
São Paulo: Summus, 1993. http://www. mte.gov.br
120
cidadania
introdução
palavra cidadania parece ter entrado na moda há alguns anos. Ela está presente
A no discurso das escolas, dos governos, das ONGs e nos meios de comunicação.
Fala-se em cidadania para se tratar de assuntos tão diversos quanto o des-
matamento, o desvio de verbas públicas, os conflitos entre gangues ou a falta de
saneamento básico. E isso não acontece por acaso: em um momento de mudanças de
valores, de amplo acesso à informação, de grandes disparidades sociais, é natural
que a cidadania seja conclamada como um poderoso antídoto para diversas mazelas
da sociedade contemporânea.
Isso ocorre porque cidadania nada mais é do que o cumprimento de deveres e direitos
dos cidadãos. Entende-se que a participação dos cidadãos na sociedade é absoluta-
mente necessária para o fortalecimento das instituições, a consolidação da democra-
cia e do Estado de Direito. Mas para exercer a cidadania, não basta conhecer direitos e
deveres (ainda que seja fundamental!); é preciso reconhecer seu valor de modo a
colocá-los em prática nos atos e gestos mais cotidianos.
Mãos à obra!
objetivos do módulo:
• Informar-se sobre o que é cidadania e sobre algumas das questões envolvidas nesse
tema, como, por exemplo, meio ambiente, participação política, violência.
• Refletir criticamente sobre o papel do cidadão, buscando compreender quais são os
direitos e deveres de cada um na sociedade.
• Estimular uma participação ativa e responsável do jovem na sua comunidade.
122
com a palavra...
uvimos e lemos a palavra cidadania em vários lugares, mas nem sempre fica
O claro o que se quer dizer com ela. Podemos ter uma boa compreensão do que
esse termo significa tendo em mente que ele diz respeito às características pelas
quais as pessoas podem chegar a se tornar cidadãs.
A palavra cidadania tem origem na palavra latina civitas, que significa cidade. Em sen-
tido mais restrito, refere-se ao conjunto de direitos e deveres daquele que habita a
cidade, o cidadão. A cidadania, portanto, é caracterizada por um conjunto de direitos e
deveres definidos a partir do que se costuma chamar de direitos humanos.
MAURICIO ÉRNICA. Cientista Social, Mestre em Antropologia Social (Unicamp) e Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagtem (PUC-SP). Trabalhou como professor no Ensino Médio e no Superior. Participou de projetos de diferentes ONGs nas
áreas de educação e cultura. Desde 1995 é pesquisador do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária) e, desde 2006, é consultor da Fundação Tide Setubal.
123
A cidadania no Brasil
Pode-se ver, então, que somos uma sociedade marcada por práticas que não nos
fazem cidadãos. Em vez de afirmarmos nossos direitos, é muito comum que nossas
necessidades sejam atendidas pontualmente na forma de favores. Favores geram
dívidas. Dívidas devem ser pagas, sob o risco de punição. Um modo corrente de
pagar dívidas desse gênero é com a lealdade política e com a reprodução desses
esquemas de poder. Assim, o clientelismo e o assistencialismo se perpetuam e
restringem a afirmação da cidadania por geraram pessoas dependentes dos
poderosos e não cidadãos livres, autônomos e com seus direitos assegurados.
A cidadania pode ser definida pelos direitos e deveres que garantem aos cidadãos
124
liberdade individual, participação política e bem-estar social. O fato de os direitos
serem afirmados nas leis é um passo importante para eles serem realizados
concretamente, na vida cotidiana. Mas, para isso, é preciso consolidar instâncias de
participação social e políticas públicas que universalizem direitos para todos, sem
exceções ou privilégios.
Direitos não geram dívidas, como os favores. Geram algo bem diferente: os deveres do
cidadão. E o dever central de todo e cada um dos cidadãos é zelar pela garantia dos
direitos de todos, dos seus e os dos outros.
Referências bibliográficas:
MARSHALL, T. H.. Cidadania e classe social. In: ____ . Cidadania, classe social e status.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
125
Oficina 1. Declaração dos Direitos Humanos
OBJETIVO: Discutir alguns artigos da Declaração dos Direitos Humanos da ONU para
que os jovens tomem conhecimento de direitos e deveres universais.
DESCRIÇÃO: O conceito de cidadania ainda não é algo de que a maior parte dos jovens
tenha se apropriado. Por essa razão, ao iniciar esse módulo, é interessante que você
introduza o tema com um pequeno aquecimento. Você pode escrever na lousa ou em
um papel três palavras correlatas – cidade, cidadão e cidadania – e pedir aos jovens
que atribuam significados a cada uma delas. Anote todas as idéias dos participantes,
ajude-os a fazer relações entre as palavras e ao final, procure esboçar uma definição
do grupo de cidadania. Você pode ainda compará-la à acepção do dicionário ou de
algum outro livro sobre o tema. Diga que ao longo das oficinas desse módulo, essa
definição será enriquecida por meio de diversas atividades e vocês poderão comparar
as idéias iniciais com as que estão por vir.
A seguir, pergunte aos jovens o que eles sabem sobre a Declaração dos Direitos
Humanos ou sobre a Organização das Nações Unidas – ONU. Leia as informações do
quadro abaixo se necessário.
Quando todos tiverem terminado, peça que cada grupo mostre seu trabalho sem ler o
artigo em questão, para que os demais descubram o conteúdo desse artigo. Dado suas
opiniões, os autores lêem o artigo e o discutem coletivamente.
126
• Você sabia que, assim como a Declaração dos Direitos Humanos aprovada pela ONU
defende os direitos das pessoas, está em vigor no Brasil o Estatuto da Criança e do
Adolescente, conhecido como ECA, que visa assegurar os direitos dos indivíduos nessas
etapas da vida? (comentar que alguns de seus artigos estão no Livro do adolescente).
127
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo I – Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direi-
tos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns
aos outros com espírito de fraternidade.
128
Artigo XXVI – Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gra-
tuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução
elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será aces-
sível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. A
instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da perso-
nalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem
e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão
e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coad-
juvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que
será ministrado aos filhos.
Artigo XXIX – Todo homem tem deveres para com a comunidade, na qual
é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade. No exer-
cício de seus direitos e liberdades, todo homem está sujeito às limitações
estabelecidas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satis-
fazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de
uma sociedade democrática. Esses direitos e liberdades não podem, em
hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios
das Nações Unidas.
129
Oficina 2. Por quê?
OBJETIVO: Problematizar questões relativas à convivência, à ecologia e ao uso dos
espaços coletivos de modo que os jovens se sintam implicados e possam contribuir
para o bem comum.
MATERIAL: Papel; caneta; cópias das fotos em anexo (ao final do módulo).
Questões norteadoras:
• O que você tem a ver com essa imagem?
• Você vê essas situações em seu cotidiano? O que você faz? O que poderia fazer?
O impacto das imagens deve gerar uma discussão interessante acerca desses temas. É
importante mostrar que cada um tem a sua parcela de responsabilidade, mesmo que
não esteja diretamente envolvido na situação. A questão principal é discutir as causas e
conseqüências de cada situação, de modo a envolvê-los com esses problemas.
130
Oficina 3. Dilemas éticos
OBJETIVO: Discutir com os jovens dilemas éticos cotidianos de forma a auxiliá-los a
construir valores e princípios sólidos.
DESCRIÇÃO: Inicie perguntando o que o grupo acha que é um “dilema ético”. Para tanto,
é preciso discutir cada uma das palavras para garantir que compreendam seu signifi-
cado. Observe as definições do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:
Dilema s.m. (1679 cf. RB) 1 FIL raciocínio que parte de premissas contraditórias e
mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por fundamentar
uma mesma conclusão.
Ética s.f. (sXV cf. FichIVPM) 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos
princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento
humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições
e exortações presentes em qualquer realidade social.
A seguir, leia um dos dilemas listados na próxima página (que também se encontram
na seção “Ética e cidadania” do Livro do adolescente) e peça que alguém diga como
agiria em tal situação. Aprofunde a discussão, perguntando: alguém faria outra coisa,
agiria de outra maneira? Dê a palavra à pessoa que disser que sim, de modo a esti-
mular a discussão. Ajude-os a analisar as causas e conseqüências de cada situação.
Prossiga com a leitura e discussão de cada um dos dilemas.
COMENTÁRIOS: Há muitas situações nas quais os jovens têm dúvidas sobre a maneira
correta de se comportar e, outras vezes, mesmo sabendo como seria adequado agir, não
o fazem. Questionar essas razões e mostrar quais os comportamentos sociais espe-
rados é uma maneira de humanizar as relações sociais.
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Há regras que são regidas pelas leis, mas há comportamentos e atitudes que fazem
parte da ética e da cidadania. Leia os dilemas éticos abaixo e veja como você agiria
nestas situações:
• Você está sentado em um ônibus cheio, morrendo de sono porque ficou estudando
à noite para a prova. Entra uma senhora de idade, cabelos brancos, mas bem
firmezinha. Você dá o seu lugar para ela ou finge que está dormindo?
• Você foi na lotérica pagar uma conta pra sua mãe. O cidadão da frente deixou cair
R$ 10,00 e ninguém viu. Você o avisa? E se for uma nota de R$ 100,00, você age do
mesmo jeito?
• Sua irmã tem um diário (sem cadeado!). Você lê escondido para ter posse de
informações privilegiadas?
• Você sabe que seu vizinho bate na mulher quando bebe. Você acha que “em briga
de marido e mulher ninguém mete a colher”?
• Para você, o mundo é dos espertos ou é esperto quem acha essa frase um absurdo?
• Você recebe um convite para ganhar um bom dinheiro trabalhando para um candidato
corrupto da sua região, o que você faz?
• Você está precisando de grana e seu colega, que não conseguiu terminar o trabalho de
final de ano da escola, lhe oferece dinheiro para fazer o trabalho dele. Você topa?
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Oficina 4. O que é violência
OBJETIVO: Ajudar os participantes a refletir sobre o que é violência e o que ela desperta.
MATERIAL: Uma garrafa ou algo que possa passar por uma roleta; cartolina para fazer
os cartões.
DESCRIÇÃO: Inicie dizendo ao grupo que o tema dessa oficina é violência. Pergunte
quais são os tipos de violência que existem (física, psicológica, sexual, negligência/
abandono) e peça para citarem exemplos. Pergunte se eles acham que o bairro onde
moram é violento e por quê.
Em seguida, peça para todos se sentarem (no chão ou em cadeiras), formando um cír-
culo. Coloque no centro a garrafa. Um voluntário deve girá-la para sortear quem
começa; a pessoa para a qual o gargalo da garrafa apontar deverá escolher um cartão
e completar a frase. Depois que o participante responder, o grupo também poderá
fazê-lo de modo que todos possam participar. Repita esse procedimento até que todos
os cartões sejam explorados.
Ao final, pergunte ao grupo como foi falar desse tema e como estão se sentindo.
Lembre-os também de que, no Livro do adolescente, existe um quadro explicando
onde buscar ajuda, caso precisem.
COMENTÁRIOS: Esse é um tema bastante delicado, pois a violência está na vida de todos e
pode mobilizar os participantes da oficina caso se lembrem de alguma experiência pes-
soal difícil. Procure estar atento e sempre orientar para que saibam onde buscar ajuda
caso necessário.
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Oficina 5. Modelos: gente que faz
OBJETIVO: Favorecer a identificação dos jovens com pessoas que se destacam por suas
virtudes.
DESCRIÇÃO: Peça para cada participante pensar em alguém por quem sente admi-
ração. Essa pessoa pode ser tanto um anônimo (como os pais, parentes, professores)
quanto uma celebridade; o importante é que ela seja lembrada por sua conduta, seus
princípios (honestidade, generosidade, retidão, responsabilidade, preocupação com o
outro), pela militância em uma causa ou pelo trabalho que realiza. A seguir, divida os
participantes em pequenos grupos e peça que os integrantes de cada um falem sobre
o seu personagem. Depois de ouvidas as histórias, o grupo deve escolher apenas um
deles para apresentá-lo aos demais. Deixe que cada grupo apresente seu perso-
nagem, contando um pouco de sua história, suas qualidades e o motivo que levou o
grupo a escolhê-lo como uma pessoa admirável. A seguir, abra a discussão coletiva.
Comentários: Bons modelos inspiram muitas pessoas, mas os jovens, sobretudo, neces-
sitam de referenciais e exemplos positivos. Valores e princípios sólidos contribuem para a
construção da personalidade. Esse é um bom momento para discutir e questionar os va-
lores de cada um e partilhá-los com o grupo. Você também pode participar, trazendo seus
exemplos. Você pode ainda dar prosseguimento a esse trabalho, estimulando uma entre-
vista com um dos personagens (se forem acessíveis) ou uma visita a uma instituição que
realize algum trabalho importante no bairro.
134
Oficina 6. Sonhos para um futuro melhor
OBJETIVO: Favorecer a discussão sobre as relações existentes entre indivíduo e
sociedade. Refletir, discutir e nutrir em sonhos pessoais que estejam vinculados a
interesses coletivos.
Assim que terminarem, recolha as frases e afixe-as na parede (ou em um papel pardo)
separando-as de acordo com os temas (eu, família, bairro, cidade, país, mundo) de
modo a construir um painel coletivo com a opinião de cada adolescente. Procure ana-
lisar semelhanças e diferenças entre as frases.
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Oficina 7. Nosso bairro
OBJETIVO: Fazer uma cartografia do bairro de modo que os adolescentes possam iden-
tificar seus problemas assim como os potenciais existentes.
MATERIAL: Gravador; música; mapa do bairro; papel sulfite; lousa e giz ou papel pardo
e canetas.
OBSERVAÇÃO: Você pode obter o mapa do bairro nos guias da cidade ou até nas listas
telefônicas. Se você morar em uma cidade pequena, pode trabalhar com o mapa da
região central que você pode conseguir na Prefeitura.
DESCRIÇÃO: Coloque uma música suave e peça para os jovens se sentarem, fecharem
os olhos e imaginarem o percurso que fazem de casa para a escola. Vá orientando
lentamente a vivência, por meio de perguntas: o que você está vendo agora que saiu
de casa? Ande mais um pouco, o que chama a atenção? O que lhe dá desgosto de ver?
O que lhe dá prazer? Existem pessoas/animais/coisas que você vê sempre em seu
caminho? Você passa por algum espaço público? Como ele está: limpo, sujo, com
gente ou vazio? Como estão os muros no seu percurso? E as calçadas? Existe algum
perigo nesse trajeto?
Quando você achar que foi suficiente, peça para abrirem os olhos e registrarem em um
papel o que viram por meio de desenhos, palavras, sinais. Isso vai ser usado ao longo
da oficina. A seguir, socialize a vivência, pedindo que quem quiser dê sua opinião.
Esclareça que essa oficina tem por finalidade levar os jovens a conhecer melhor o bair-
ro em que vivem. Juntos, eles descobrirão as potencialidade e os problemas locais.
Levante com o grupo todos os equipamentos públicos existentes: bibliotecas, praças,
clubes, salões paroquiais, cinemas, teatros, postos de saúde, ONGs, escolas, parques,
enfim, quaisquer lugares em que as pessoas se encontrem. Anote na lousa ou em um
papel pardo aquilo que for mais importante. A seguir, dê-lhes um mapa do bairro (pode
ser um único exemplar se todos conseguirem observá-lo). Primeiramente, ajude-os a
se localizar, marcando onde estão; depois, peça que assinalem os lugares que lis-
taram, classificando-os por cor. Por exemplo: praças em verde, escolas em azul,
clubes em amarelo e assim por diante.
Com esses dados em mãos, inicie uma discussão. Para orientar a conversa, seguem
abaixo algumas questões:
• Quais os locais que já freqüentaram, onde nunca foram e onde costumam ir?
• Por que razão vão ou não a esses lugares? O que fazem?
• Quais os aspectos positivos e negativos desses lugares?
• Quais os aspectos positivos e negativos do bairro?
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• Do que sentem falta no bairro? Por quê?
• Precisam ir a outro bairro para fazer alguma coisa? Que bairro freqüentam? Como vão
até lá?
• Aproveitam os potenciais do bairro?
• O que deveria/poderia ser feito para melhorar o bairro?
• De que maneiras poderiam contribuir para melhorar a vida no bairro?
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Oficina 8. Caro político...
OBJETIVO: Informar e refletir sobre o funcionamento dos três Poderes no Brasil.
Estimular uma participação política ativa.
MATERIAL: Folha tarefa anexa; lousa e giz ou papel pardo e caneta hidrográfica.
Comece a oficina conversando com os jovens sobre as funções dos três Poderes da
República, perguntando-lhes se sabem o que cada um faz, quem são os profissionais
que trabalham em cada um deles. A seguir, esclareça as dúvidas apoiando-se no
quadro a seguir (um quadro semelhante se encontra no Livro do adolescente).
Informe ao grupo que nesse momento eles vão dirigir sua atenção para o bairro (ou
a região) onde moram. Retome com eles os principais problemas do bairro levanta-
dos na oficina anterior, que mereceriam maior atenção das autoridades. Listados os
problemas, peça que elejam o mais importante. O objetivo é que escrevam uma carta
a um vereador, por exemplo, alertando-o para o problema. O destinatário da carta
deve ser a autoridade ou instituição responsável pelo problema em questão (como o
vereador, o prefeito, o governador, o presidente, o Ibama, o Ministério Público, a
Sabesp).
Você será o responsável pela redação dessa carta coletiva. Talvez alguns jovens não
saibam como escrever uma carta a uma autoridade; é uma boa oportunidade para
você explicar algumas regras fundamentais e também esclarecer sobre o tipo de
tratamento e a linguagem que devem ser empregados. Abaixo há um exemplo que
pode ajudá-lo.
Os três Poderes
Nas repúblicas, como a do Brasil, a administração da vida pública está a cargo de três
Poderes independentes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O objetivo é evitar a
concentração de poder em um só grupo e também possibilitar que os três poderes se
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fiscalizem reciprocamente. Acompanhe o quadro abaixo para compreender como eles
funcionam:
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Poder Judiciário
O Poder Judiciário tem uma organização mais complexa, hierárquica e sua atuação se
dá no âmbito federal ou estadual. Atende as demandas jurídicas da população em
ações criminais, civis ou comerciais. Todos os seus membros ingressam na carreira
através de concursos públicos e vão sendo promovidos por critérios de antiguidade e
exercício de funções. Além da Justiça Federal Comum, existe uma Justiça Federal
Especializada, com tribunais nas áreas eleitoral, militar, do trabalho.
Local, data
Exmo. Sr. vereador Benedito Souza,
Nós do grupo Espaço Jovem, que se reúne na escola municipal X, estamos trabalhando o tema
Cidadania em nossas oficinas semanais. Apresentação – quem é aquele que escreve, seja uma pes-
soa ou uma instituição
Nas discussões, percebemos que em nosso bairro existe um grande problema quanto a (apresentação
do problema de forma clara e objetiva). Por esta razão, gostaríamos de (Objetivo da carta: reclamar,
alertar, divulgar, solicitar etc.)
Acreditamos que seu papel é fundamental para a resolução desse problema, uma vez que sua atua-
ção política tem sido marcada pela (defesa dos direitos de alguém, da natureza, pelos interesses do
bairro, da cidade etc.)
Atenciosamente,
Fulano de tal (monitor do projeto) e participantes
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COMENTÁRIOS: Desacreditadas das instituições, é cada vez mais comum que as pessoas
achem que não vale a pena tentar encaminhar seus problemas, sejam eles quais forem.
No entanto, se deixamos de fazer um boletim de ocorrência sobre um dano sofrido,
por exemplo, essa informação não será registrada. Se os dados policiais não forem fiéis
à realidade, as autoridades não identificarão o problema e, por conseguinte, terão uma
visão distorcida da realidade e não poderão estabelecer políticas públicas adequadas
para enfrentar a questão.
Omitir-se ou tentar resolver o problema no âmbito pessoal não são boas saídas.
Atitudes de apatia ou de omissão acabam enfraquecendo as instituições e deixando os
indivíduos inseguros porque não se sentem atendidos em seus direitos. Essa também
é uma maneira de não assumir as próprias responsabilidades. Escrever uma carta a
um político ou à seção de cartas de um jornal (você pode mostrar aos participantes
essas seções nos periódicos mais importantes) é uma maneira de participar, mas há
outras formas que devem ser discutidas no grupo. Esse é um bom momento para
ampliar a discussão e conversar com os adolescentes sobre a importância de dar voz
às suas idéias e indignações sobre os problemas da sociedade contemporânea.
www.camara.gov.br
www.senado.gov.br
www.presidencia.gov.br
www.pgr.mpf.gov.br
141
para se aprofundar...
Livros KRISHNAMURTI, Jiddu.
Sobre a natureza e o meio ambiente.
BENEVIDES, Maria Vitória. A cidadania ativa. São Paulo: Cultrix, 2000.
São Paulo: Ática, 1998.
LATERMAN, Ilana.
BOSCO, Sérgio Martinho de Souza;
Violência e incivilidade na escola.
RODRIGUES, Joel Costa. Redescobrindo o
Florianópolis: Obra Jurídica, 2000.
adolescente na comunidade: uma outra
visão da periferia.
LEGRAND. Pequenas lições.
São Paulo: Cortez, 2005.
Belo Horizonte: Soler, 2007.
CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia,
São Paulo: Moderna, 1984. MARIN, Isabel da Silva Kahn.
Violências.
DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de São Paulo: Escuta/FAPESP, 2002.
papel: a infância, a adolescência e os
direitos humanos no Brasil. MARTINS, Maria Helena Pires.
São Paulo: Ática, 1998. (Discussão Aberta, 1) Eu e os outros: as regras da convivência.
São Paulo: Moderna, 2007.
FERREZ (Org.). Literatura marginal:
talentos da escrita periférica. NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo
São Paulo: Agir, 2005. (Orgs.). Juventude e sociedade: trabalho,
FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: a educação, cultura e participação.
árvore, o animal e o homem. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
São Paulo: Ensaio, 1994.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.
Declaração Universal dos Direitos
GARCIA, Edson Gabriel. Uma conversa de
Humanos.
muita gente: o exercício do diálogo e da
São Paulo: Paulinas, 1978.
participação.
São Paulo: FTD, 2004. 48 p. (Conversas
PEREZ, Clotilde; JUNQUEIRA, Luciano
sobre Cidadania - Temas Transversais)
Prates (Orgs).
Voluntariado e a gestão das políticas
IMPRENSA OFICIAL. Estatuto da Criança
sociais.
e do Adolescente.
São Paulo: Futura, 2002.
São Paulo: CMDCA/SP, 2007.
142
Sites SOS Mata Atlântica – preservação da flora
e da fauna da Mata Atlântica:
Anjos dos cavalos: http://www.sosmataatlantica.org.br
http://www.anjodoscavalos.org.br
143
144
Anexo
145
147
Este livro nasceu com a proposta de disseminar
os conhecimentos gerados por alguns dos projetos
desenvolvidos com adolescentes pela Fundação
Tide Setubal. Ele é voltado para educadores
(professores, psicólogos e profissionais de ONGs,
postos de saúde, bibliotecas etc.) que atuam
com jovens e procuram desenvolver um trabalho
consistente através de oficinas temáticas que dis-
cutem assuntos relacionados ao universo adoles-
cente, tais como: identidade, diversidade, corpo,
sexualidade, família, drogas, profissão, trabalho e
cidadania. A proposta favorece a convivência dos
jovens, a criação de iniciativas coletivas, fortale-
cendo a possibilidade de escuta e de fala mediante
a troca de saberes e a apropriação de novas infor-
mações. Dessa maneira, os adolescentes refletem
e trocam experiências sobre o início da construção
de um projeto de vida possível e autêntico.
ISBN 978-85-6205801-1
9 788562 058011