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TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DO CAPITALISMO: trabalho, Estado e Política Social

Clívia Alves de Moraes Lira1


Jéssica Juliana Batista da Silva2
Patrícia Soares Grimaldi3

Resumo [comunicação oral]

Este artigo é resultado das pesquisas e estudos na Pós-


Graduação em Serviço Social com financiamento
CAPES/CNPq/UFPB. O percurso teórico-metodológico orienta-
se pela teoria crítica e trata-se de um estudo sistemático sobre
a bibliografia aludida às temáticas do trabalho, Estado e
Políticas Sociais na contemporaneidade. Partimos da análise
desses elementos do atual contexto capitalista de
desresponsabilização do Estado e das formas fragilizadas de
enfrentamento à questão social. Nesse contexto, conclui-se
que as Políticas Sociais encontram-se num processo
agudizador de fragmentação, focalização, seletividade e os
trabalhadores encontram-se cada vez mais sob o julgo da
mercantização dos seus direitos.

Palavras-Chave: Política Social. Trabalho. Estado.

Abstract
This work is the result of research and studies in Post-
Graduation in Social Assistance with funding from CAPES/
CNPq/UFPB. The theoretical-methodological course is oriented
by the critical theory and is a systematic study on the
bibliography referring to the themes of work, State and Social
Policies in the contemporary world. It begins with the analysis of
these elements of the present capitalist context of lack of state
responsibility and the fragile ways of approaching the social
question. In this context, it can be concluded that social policies
are in the process of exacerbating fragmentation, focus and
selectivity, and workers find themselves increasingly under the
judgment of the commodification of their rights.

Key-words: Social Policy. Work. State.

1
Mestranda em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail:
clivialira@hotmail.com
2
Mestranda em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail:
jessicajbs89@gmail.com
3
Mestranda em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail:
patigrimaldi@hotmail.com
I. INTRODUÇÃO

O sistema capitalista, ao longo de sua existência, reivindica o desenvolvimento


de diferentes tipos de sociabilidade que sejam eficazes para sua reprodução. Sob este
imperativo, produzem-se mudanças notáveis sobre o mundo do trabalho, a produção
propriamente dita, mas que se espraiam para o conjunto das relações sociais, condição
essencial para sustentação dessa lógica. Mas não somente, o capitalismo, enquanto um
sistema eminentemente destrutivo, desenvolve estratégias que comprometem a natureza,
seus próprios membros – os homens e mulheres –, e sua própria lógica, donde as crises
são sua máxima expressão. Estas são características inerentes à sua existência.
A exploração e a precariedade dela decorrentes são próprias do
desenvolvimento do capitalismo. Porém, no contexto de crise estrutural do capital, que se
alastra desde meados da década de 1970, surgiram novas formas de precarização do
trabalho que resultaram em severos impactos para o processo de trabalho propriamente dito
e para a vida cotidiana dos trabalhadores, reconfigurando a totalidade das relações sociais.
Somam-se a esta universalidade, a particularidade da formação sócio-histórica do Brasil,
bem como da posição historicamente subalterna que o país ocupa no capitalismo mundial.
Articulando relações arcaicas e modernas, a exploração do trabalho no Brasil se aprofunda
no contexto de crise, ainda que se reproduzam discursos de uma aparente modernização.
Estamos diante de uma crise que se traduz como a mais intensa do modo de
produção capitalista, evidenciando suas contradições: quanto mais se alastra, mais difícil
impor limites à superação desta lógica e quanto mais agudos seus impactos para a classe
trabalhadora, mais intensos são os processos de pauperização e subalternidade desta força
de trabalho.
Em um cenário marcado pela crise estrutural do capital, evidenciado pela queda
no crescimento econômico e, consequentemente, das taxas de lucro, a burguesia
internacional empreende esforços no sentido de recuperar o desenvolvimento – econômico
– para garantir a manutenção do modo de produção capitalista. Recorre-se à estratégias de
reestruturação da produção, articuladas à retomada dos ideais liberais, expressos no
neoliberalismo, bem como propõe-se a reconfiguração do papel do Estado, no sentido de
utilizá-lo como suporte e legitimador de tais mudanças.
Com o advento do neoliberalismo, a dinâmica de desenvolvimento capitalista se
modifica instaurando um período de intensas perdas do ponto de vista dos direitos do
trabalho e das políticas de proteção social. Tais retrocessos ao trabalho oportunizaram mais
ganhos ao capital, cuja legitimação teve no Estado um elemento crucial. É inconteste que
esta estratégia trouxe sérias problemáticas à classe trabalhadora: acentuou-se a
desigualdade social, as expressões da questão social se intensificaram, tendo na pobreza
seu elemento mais latente (que inclusive se tornou o foco das políticas sociais). Estas
questões tomam fôlego em razão das mudanças operadas no processo produtivo, que
resultaram em um amplo movimento de desemprego, caracterizado como estrutural, e que
contribuiu para um processo de crescente desorganização da classe trabalhadora.
Em relação à reestruturação da produção, são adotadas estratégias de
superação da crise que tem como foco o barateamento dos custos com o trabalho,
objetivando ampliar o capital constante e diminuir o capital variável como estratégia de
ampliação do lucro. São introduzidos novos processos organizadores da produção,
sustentados na empresa flexível do toyotismo, em substituição a linha de montagem
fordista. São instauradas mudanças estruturais no mundo do trabalho através dos novos
processos de gestão e da criação de novos postos de trabalhos que exigem mão de obra
barata e pouco contestadora das condições as quais estarão submetidas nesses mercados.
Com os crescentes processos de desindustrialização e reprimarização da
economia, o setor terciário vem se expandindo em larga escala e abrindo novos postos de
trabalhos, marcados predominantemente pela terceirização. Trata-se de uma realidade
(im)posta na contemporaneidade que apresenta tendências à exploração desmedida do
trabalho, precarização das relações de trabalho, dos contratos, das legislações trabalhistas,
refletidas num contexto de forte flexibilização.
Estas determinações contemporâneas recaem de modo negativo sobre a classe
trabalhadora. Evidenciam a precarização do ponto de vista do trabalho, mas que se
reproduz para o conjunto da vida social. Às estratégias de trabalho precário somam-se as
orientações de enxugamento do Estado no atendimento às demandas sociais (imprimindo
um caráter mercantil às políticas sociais e reduzidas ao atendimento imediato da pobreza),
resultando numa força de trabalho desprotegida, desamparada do ponto de vista dos
direitos sociais e, desorganizada, no sentido de reivindicação das suas demandas. O perfil
de trabalho demandado pelo capital tem na flexibilização seu elemento precípuo. Estas se
apresentam como tendências do mundo do trabalho nos dias de hoje.
É inconteste o papel do Estado nesse cenário, requisitado como agente
legitimador destas mudanças. Como orientação dos organismos multilaterais, os países
operaram uma drástica redução no papel dos Estados nacionais, limitando-os à ações que
garantam um Estado mínimo para o social e máximo para o capital, conforme afirmou o
professor José Paulo Netto. Na estratégia de Estado mínimo, as políticas sociais se viram
reconfiguradas, tendo por foco a atuação sobre a pobreza, de maneira focalizada, seletiva e
restrita. No Brasil, em razão de sua inserção periférica no capitalismo mundial, do
desenvolvimento tardio e restrito das políticas sociais e da histórica desorganização dos
trabalhadores, intensos foram os impactos e os cortes sobre o social, repercutindo sobre o
trabalho e a vida dos trabalhadores.

II. O MUNDO DO TRABALHO NA CENA CONTEMPORÂNEA: tendências no século XXI

O Modo de Produção Capitalista no século XXI vem passando por mutações e


transformações que acirram ainda mais as condições de precarização do trabalho no
contexto de flexibilização, terceirizações e desemprego estrutural. Esse quadro demonstra a
tendência de intensificação da exploração do trabalho articulada à barbarização da vida e
das relações sociais. Na contemporaneidade, as estratégias de superação da crise
estrutural do capital retomam formas de exploração da força de trabalho que não são
inéditas, mas que se aprofundam e se alargam na medida em que as relações postas pelo
modo de produção também se modificam. São exemplos, o salário por peça, a retomada do
trabalho doméstico e familiar, as terceirizações, o salário vinculado à produtividade, etc.
Essa necessidade de reformular seus métodos de acumulação faz com que o
capitalismo crie vínculos decisivos para o alcance dos seus objetivos. São criadas alianças
capazes de determinar os rumos do desenvolvimento dos mercados locais. Isso ocorre,
sobretudo, através de incentivos, ora por via de políticas que flexibilizam a ação do
mercado, ora através da própria exigência de um novo tipo de trabalhador, também flexível.
A partir dessas relações de produção capitalistas, as desigualdades são
acentuadas e no contexto dos países periféricos esse fator é ainda mais agravante em
decorrência da dependência financeira em relação aos países centrais. As relações de
trabalho são permeadas por precarização, exploração e baixos salários e essas são apenas
uma parte das dificuldades que os trabalhadores enfrentam.
Diante do quadro de desemprego e de massas de trabalhadores em busca de
trabalho para suprir as necessidades individuais e familiares, mais se esvaem as condições
de auto-organização e os métodos de enfrentamento a essa situação. As expressões da
“questão social” se acentuam, evidenciadas na extrema pobreza e se articulam as faltas de
perspectivas de desenvolvimento, do ponto de vista do trabalho. Em contraposição ao
desenvolvimento de uma vida orientada para busca de emprego, o Estado vem centrando
sua ação na desresponsabilização com as condições mínimas de sobrevivência destes
trabalhadores, não tendo por foco ações que visem tornar essa mão-de-obra empregável,
mas atuando via políticas de manutenção e minimização da pobreza, estratégicas do ponto
de vista da pequena política.
Todo esse processo ainda agrava-se por não haver em contra tendência um
projeto que seja capaz de colocar em cena o protagonismo da classe trabalhadora e
desemborcar em processos de luta que consigam mexer em estruturas mais profundas do
capital.

III. O PAPEL DO ESTADO NA CONTEMPORANEIDADE

As transformações recentes ocorridas na sociedade evidenciam as novas


características que o Estado assume, como também, suas novas funções e determinações.
De acordo com Mandel (1982) o Estado é produto da divisão social do trabalho e surgiu a
partir da autonomia crescente de certas atividades superestruturais, mediando a produção
material, cujo papel era sustentar uma estrutura de classe e relações de produção.
Segundo aponta Mandel (1982) a crescente função econômica do Estado no
capitalismo tardio na centralização e redistribuição de parcelas do excedente social torna a
influência sobre suas decisões um objetivo cada vez mais imediato para todos os grupos
capitalistas. Com o propósito de manter a centralização da lógica burguesa de acumulação
capitalista, os mecanismos de controle sobre a classe trabalhadora nesse estágio procuram
integrar a força de trabalho como um consumidor ou “parceiro social”. Diante disso, ratifica-
se a propensão que o capitalismo tardio tem a despender ataques sistemáticos a
consciência da classe do proletariado.
O Estado, longe de ter sua função social modificada, aparece como um agente
neutro que busca regular os conflitos postos na arena social. Porém, como já evidenciado
por diversos autores, a essência do Estado é seu caráter classista, próprio da sua
existência. Ou seja, é inerente ao papel do Estado sua posição de classe, e este responde,
prioritariamente, aos interesses burgueses. Objetivando manter sua posição aparente de
regulador de conflitos, o Estado utiliza-se de dois mecanismos: a coerção direta (utilizada
prioritariamente nos períodos de ditaduras), e o consenso (expresso principalmente nas
políticas sociais). Coerção e consenso são duas faces da mesma moeda que o Estado faz
uso no sentido de legitimar a ordem burguesa.
No rol das estratégias de consenso encontram-se as políticas sociais. Não só
elas: há que se considerar os mecanismos de massificação da cultura. Mas, para o
interesse deste trabalho, nos deteremos às políticas sociais. A regulação estatal no âmbito
da política social pretende dar uma resposta às reivindicações da sociedade e minimizar as
tensões entre capital e trabalho.
Segundo Faleiros (1989) o próprio Estado no decorrer do desenvolvimento das
políticas sociais, cria estratégias ideológicas que distorcem a razão de ser dessas políticas
fazendo os trabalhadores acreditarem na “bondade” de quem as oferta. Nesse sentido,
também é reforçado o discurso ao esforço individual relacionado a uma suposta melhoria
das condições de vida desses trabalhadores.
Assim, o capitalismo ao mesmo tempo em que se desenvolve e fomenta novas
formas de sociabilidade, ancoradas na reconfiguração da produção, também reedita velhas
formas de organização das relações supraestruturais, dentre as quais o Estado. Na
contemporaneidade, especificamente no modelo neoliberal, o Estado não é um ente
qualquer, assume centralidade enquanto agente de sustentação das necessárias mudanças
operadas pelo grande capital.
Com a crise do Estado de Bem-Estar Social, o Estado neoliberal entra em cena,
seguindo a risca os ditames do capital. A ascensão do neoliberalismo dissemina o
enxugamento do Estado no âmbito social, mas a maximização do seu papel no sentido de
atender aos interesses do grande capital. No Brasil, através do ideário neoliberal “o Estado
tendeu a mudar sua regulação e o controle sobre as condições de uso da força de trabalho.”
(GOMES, 2013, p. 67) e “[...] este projeto se traduziu na generalizada privatização do
Estado com a venda de empresas estatais, a mercantilização de serviços públicos e a
redução dos benefícios da seguridade social, ao tempo em que oportunizava a
financeirização do capital.” (MOTA, 2012, p. 33).

IV. POLÍTICAS SOCIAIS: desenvolvimento histórico e tendências atuais

As políticas sociais se desenvolvem como estratégias multideterminadas de


apaziguar o antagonismo entre as classes. Resultado da luta dos trabalhadores por
melhores condições de vida e de trabalho, elas também respondem aos interesses do
capital no sentido de manutenção da força de trabalho e socialização dos custos com a
reprodução. Esses, são também elementos importantes para o Estado no sentido de sua
legitimação (BEHRING; BOSCHETTI, 2010) e configuram-se enquanto mediações aos
conflitos de interesses presentes na sociedade capitalista atual. Estes são representados
por duas classes fundamentais (capitalistas versus trabalhadores) e pelo Estado. Esses
processos não são estanques, ao contrário, devem ser compreendidos no movimento da
história sob uma perspectiva dialética, pois de outra forma incorreríamos em análises
distorcidas e mistificadoras do real.
No centro da discussão sobre política social está a “questão social” e suas
expressões como resultantes da contradição fundamental da sociedade capitalista: a
exploração da força de trabalho pelo capital.
É no rol da luta de classes, da luta dos trabalhadores ingleses no século XIX por
visibilizar suas péssimas condições de vida e de trabalho que entra na cena política aquilo
que denominamos de “questão social”. A consolidação do capitalismo na Europa trouxe a
tona os resultados da industrialização e da urbanização: mazelas sociais, pauperismo,
insalubridade dos locais de trabalho e de moradia, ausência total de direitos trabalhistas,
dentre outras questões levaram a auto-organização dos trabalhadores.
As primeiras reivindicações dos trabalhadores tinham por foco a regulamentação
do trabalho feminino e infantil, a redução da jornada de trabalho e a cobertura salarial
quando da ocorrência de acidentes de trabalho. Mais tarde, no que se denomina de
movimento “cartista” tem-se o início da luta pela ampliação da participação política dos
trabalhadores.
Estes processos de luta se alastraram nos países mais industrializados da
Europa, onde emergiram diversas greves. O trabalho passa a ser regulado e, diante das
intensas reivindicações dos trabalhadores surgem as primeiras iniciativas daquilo que
denominamos de “políticas sociais”. As políticas sociais por um longo período se
concentraram nos auxílios doença e acidente de trabalho, nas caixas de socorro mútuo, nas
habitações operárias ou nas denominadas vilas operárias (moradias construídas pelas
indústrias ao redor da fábrica para abrigar os trabalhadores), na educação para os filhos dos
operários também nas fábricas, etc.
Porém, é em razão do fortalecimento do movimento operário, do saldo da crise
de 1929 e do segundo pós-guerra e diante da necessidade de retomar o crescimento
econômico e a estabilidade que se desenvolve por volta dos anos 1950/60 o pacto fordista-
keynesiano nos países centrais. Pacto este que garantiu a prosperidade econômica,
sustentando os ideais de pleno emprego e a ampla proteção social, objetivando a
reprodução da economia. Os países de capitalismo central são marcados nessa fase pela
socialdemocracia, ou seja, um ápice de ampla proteção social e amplo acesso ao consumo,
fazendo com que os índices de lucro do grande capital se reproduzissem em escala
ampliada. É também um momento de intensa organização e poder de barganha por parte
dos trabalhadores, fato que se reflete na ampliação das conquistas sociais.
Este momento é denominado também de Estado de Bem-Estar Social, no “qual
o Estado garante ao cidadão a oportunidade de acesso gratuito a certos serviços e a
prestação de benefícios mínimos para todos” (FALEIROS, 2004, p.20). É um Estado que se
desenvolveu nos países de capitalismo central, porém, apresenta divergências significativas
quando analisamos os países europeus e os Estados Unidos da América. Faleiros (2004)
afirma que na Europa a perspectiva norteadora das políticas sociais é a igualdade, como
mecanismo de cidadania, e o acesso universal aos mínimos sociais. Já nos EUA a lógica
que predomina é a contributiva, ou seja, só terão acesso aqueles que contribuem
previamente.
Nos países periféricos, no que tange a existência ou não de um Estado de Bem-
Estar Social, a situação se diferencia dos países de capitalismo central. Segundo Faleiros
(2004):
Nos países pobres periféricos não existe o welfare state nem um pleno
keynesianismo em política. Devido à profunda desigualdade de classes, as políticas
sociais não são de acesso universal [...]. São políticas “categoriais”, isto é, que têm
como alvo certas categorias específicas da população [...], através de programas
criados a cada gestão governamental, segundo critérios clientelísticos e burocráticos
(FALEIROS, 2004, p.28).

Ainda na perspectiva deste autor, nos países latino-americanos as políticas


sociais são regidas por critérios clientelísticos e de favoritismo político, principalmente a
política de assistência social, utilizada como forma de legitimação política dos diferentes
governos.
No Brasil, a análise do desenvolvimento das políticas sociais nos possibilita
identificar a ausência de um Estado de Bem-Estar Social. Cignolli (1985) discorre acerca
das especificidades do desenvolvimento capitalista em um país periférico como o Brasil
demonstrando que as políticas sociais que aqui se desenvolveram não configuram um
Estado de Bem-Estar social em razão da ausência de universalidade, dos critérios de
seletividade e dos traços paternalistas e clientelísticos que as caracterizam. Estas
particularidades, segundo Behring e Boschetti (2010) com base em Caio Prado Jr., podem
ser sintetizadas da seguinte maneira: i) o fato de o Brasil ser um país que desde a sua
constituição organizou sua sociedade e sua economia para atender aos interesses externos,
vivendo de acordo com as flutuações e interesses do mercado externo; ii) o peso do
escravismo na formação da mão-de-obra brasileira, tendo como traço marcante a baixa
qualificação e a intensa subordinação e; iii) o desenvolvimento desigual e combinado, onde
“[...] o Brasil capitalista moderno seria, então, um „presente que se acha impregnado de
vários passados‟”. (IANI, 1982, p.63 apud BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p.72).
As primeiras iniciativas daquilo que podemos denominar de política social são
observadas no Brasil em fins do século XIX representadas pelas caixas de socorro
destinadas a alguns setores estratégicos da economia. No início do século XX tem-se a
formação dos primeiros sindicatos e em 1907 é reconhecido o direito de organização
sindical. Em 1911 é conquistada a redução legal da jornada de trabalho para 12 horas/dia
no ano de 1911. Mas é em 1923, com a Lei Eloy Chaves que se tem o início, de fato, as
políticas sociais.
A Lei Eloy Chaves instituiu a obrigatoriedade de criação de Caixas de
Aposentadoria e Pensão (CAPs) para algumas categorias estratégicas de trabalhadores, a
exemplo dos ferroviários e marítimos, “[...] as CAPs foram as formas originárias da
previdência social brasileira, junto com os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs)”
(BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p.80).
Esta lei irá dar a tônica no desenvolvimento das políticas sociais pelo menos até
a década de 1960, onde as políticas estavam vinculadas ao que Santos (1994) denomina de
“cidadania regulada”. Só tinham acesso aos direitos do trabalho e sociais aqueles
trabalhadores que tivessem sua profissão reconhecida pelo Estado. De igual forma, só
tinham direito de se auto-organizar, instituir sindicatos, aquelas profissões também
reconhecidas. E só eram reconhecidas pelo Estado as profissões centrais para o
desenvolvimento da economia, logo, trabalhadores domésticos e rurais ficaram excluídos da
proteção social durante um amplo período.
Porém, de maneira contraditória, é no momento de restrição dos direitos
políticos, em plena ditadura militar, que os direitos sociais irão se expandir de maneira
considerável. São promulgadas iniciativas de proteção ao trabalhador rural, é criado o
Banco Nacional de Habitação (BNH) no sentido de viabilizar a política habitacional, e são
desenvolvidas políticas de cunho compensatório, para abafar a grande repressão por que
passaram os sindicatos e militantes organizados.
É somente no rol de lutas pelo fim da ditadura e abertura democrática e,
posteriormente, no amplo processo constituinte, que as políticas sociais ganharão
centralidade, tendo sido dedicado um artigo na Constituição Federal de 1988 para os
direitos sociais, que deveriam ser regulamentados por legislações complementares, mas
que significaram um evidente avanço em relação ao período posterior.
A partir do exposto, é preciso evidenciar que as políticas sociais se constituem
como formas de enfrentamento à “questão social”, porém, acabam por não enfrenta-la em
sua essência, ou seja, não atingem o centro das relações de produção capitalistas. Estas
políticas não dão conta de suprir as amplas necessidades dos trabalhadores, e nesse
sentido, acabam por operar de forma contraditória à sua finalidade, banindo e tirando o
direito ao trabalho da pauta dos trabalhadores (MOTA, 2008) ou se transformando em meio
de vida para aqueles que conseguirem acessá-la.
Em época de enxugamento dos gastos sociais e desestruturação das políticas
sociais observa-se um quadro tenebroso: as políticas não funcionam a contento e cada vez
mais os aparelhos do Estado desresponsabilizam-se pela situação em que estão colocados
os trabalhadores, sem poder intervir na qualidade de vida desses trabalhadores também há
o processo de (mais) descrença perante as políticas sociais, que acirra ainda mais a
seletividade e a pontualidade dos benefícios sociais, onde nem “o pobre dos mais pobres”
tem direito a garantia de uma renda mínima no suprimento de suas contingências.
V. CONCLUSÃO

No capitalismo tudo se opera para que esse sistema tenha legitimidade perante
a sociedade e para que seus impactos não sejam colocados para os trabalhadores como um
problema do sistema, mas deles próprios. É o caso, por exemplo, da questão do
desemprego, que se apresenta como uma problemática do trabalhador, ou por não buscar
de maneira incessante por um emprego, ou então por não dispor das experiências e
formações exigidas pelo mercado de trabalho.
O fenômeno do desemprego estrutural aparece como sendo de responsabilidade
dos sujeitos que se encontram nessa situação, mas jamais como uma característica inerente
ao desenvolvimento capitalista. Nesse sentido, é essencial para a ordem manter um
contingente de trabalhadores desempregados, como requisito fundamental para redução do
preço do trabalho.
Porém, estes trabalhadores não podem ser deixados à mingua, e por isso
surgem as iniciativas de combate à pobreza - pauta dos organismos multilaterais no século
XXI. No rol das estratégias de redução do papel do Estado no provimento dos direitos
sociais maximizam-se as iniciativas de atuação sobre a pobreza, principalmente via
programas de transferência de renda (do qual é exemplo o Programa Bolsa Família, no
Brasil).
A política social na contemporaneidade apresenta como tendência a proteção
aos “mais pobres dentre os mais pobres”, principalmente aqueles que estão sob o julgo do
desemprego, se desatrelando da sua vinculação com o trabalho. Este tendencial
afastamento da política social dos direitos do trabalho operam como mecanismos
ideopolíticos do grande capital, no sentido de manutenção da atuação sobre a pobreza
objetivando a reprodução do exército de reservas.
Porém, é evidente que não só aqueles trabalhadores que se encontram fora do
mercado de trabalho necessitam das políticas sociais. Hoje, cada vez mais, mesmo os
trabalhadores empregados recorrem às políticas sociais, visto que o salário por si só não
permite a produção e reprodução da vida dos trabalhadores.
Diante deste contexto de necessidade universal pela cobertura das políticas
sociais, é contraditória a orientação de minimizar o papel do Estado. Não somente há uma
orientação de diminuição do papel social do Estado, mas há uma tendência crescente à
privatização dos serviços sociais. É o que observamos quando da privatização da saúde, via
planos de saúde; da educação, com o incentivo desenfreado ao setor privado e
desqualificação do público; da previdência social, expressa nos fundos de aposentadoria
privados; dentre tantas outras.
A síntese das tendências das políticas sociais na contemporaneidade pode ser
resumida na crescente mercantilização dos direitos sociais e da vida dos seres humanos,
via privatização; a focalização no combate à pobreza, objetivando reproduzir um amplo
exército de reservas e tirar da pauta dos movimentos os direitos do trabalho; e a
seletividade destas políticas, pois hoje, só tem direito de acesso os mais pobres dentre os
mais pobres.
Para que se atribua à Política Social um caráter de cidadania e universalidade, é
necessário pensá-la enquanto um espaço de lutas e disputas, repensando as relações entre
as classes que se estabeleceram ao longo do processo de sua constituição. Ainda que
respondam às demandas dos trabalhadores por melhoras em suas condições de vida e de
trabalho; e também que, os avanços do ponto de vista do trabalho signifiquem retrocessos
do ponto de vista do capital, não podemos deixar de evidenciar que as políticas sociais
cumprem com o papel de acomodação dos trabalhadores, bem como de mistificação em
torno da luta de classes.
Na contemporaneidade as multideterminações das políticas sociais nos parecem
evidentes e, pensando a história sob o motor da luta de classes, é evidente que a balança
vem pendendo para o lado do capital. São evidentes os ataques operados contra os
trabalhadores, dos quais podemos observar o crescente sucateamento do SUS e o evidente
incentivo à saúde privada através dos planos de saúde.
Do ponto de vista do trabalho não só a previdência social vem sendo atacada
(vide projeto de reforma da previdência – PEC 287/2016), mas a desregulamentação da
legislação como um todo é um evidente ataque, com destaque para a terceirização (PL
4.330/2004). Os processos de precarização do trabalho estão postos na ordem do dia, basta
observar o incentivo governamental as iniciativas de empreendedorismo.
A política educacional aponta para uma privatização total, são exemplos o
sucateamento das universidades públicas e o amplo financiamento ao setor privado, com
destaque para o ensino à distância. A política habitacional se reduz aos incentivos de
financiamento, objetivando, em última instância, aquecer o ramo da construção civil,
resultando em um incremento significativo nos preços dos imóveis, que não condizem com a
realidade brasileira.
E por fim, a assistência social, acabou por ser reduzida à sua atuação sobre a
pobreza, com recurso ao primeiro-damismo e iniciativas clientelísticas e de favoritismo,
perdendo seu caráter de direito.
Esse apanhado histórico do desenvolvimento das políticas sociais no Brasil nos
permite compreender os interesses em questão e nos remete às atuais ofensivas de
desmonte de direitos sociais e do trabalho, bem como o enfraquecimento da organização
coletiva dos trabalhadores. As perspectivas são tenebrosas para os trabalhadores, porém,
quando refletidas sob à ótica da luta de classes, nos coloca na ordem do dia a urgente
necessidade de retomada de organização e enfrentamento, para que as conquistas do
trabalho prevaleçam sobre o capital como mecanismos na construção de uma sociedade
para além do capital.

REFERÊNCIAS

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