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paciente e a previsão do
Anteprojeto do Aódigo
Penal brasileiro: adequação
ou retrocesso?
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Introdução
De tal modo, por ser a Carta Magna o eixo central que deve servir de
parâmetro para a elaboração dos demais textos normativos, há que se
ressaltar a importância de que todos e quaisquer artigos de lei a
serem aprovados estejam de acordo com seus preceitos fundamentais,
inclusive as normas de um novo Código Penal, sob pena de serem
considerados inconstitucionais.
Dessa forma, todo ser humano deve ser tratado dentro de um mesmo
contexto de respeito a sua condição humana, assim sendo, uma vez
estabelecidas as condições existenciais mínimas restaria resguardada
a dignidade da pessoa humana.
Assim, por meio de uma análise literal, tem-se, por Bioética, a “ética
da vida”. Por ética, aduz Bittar (2004, p.04), tem-se uma “atitude
reflexiva de vida, algo impregnado à dimensão da razão deliberativa,
em constante confronto com as inquirições, dificuldades, os desafios e
problemas inerentes à existência em si”. Desse modo, antes de
desenvolver atos comissivos, o indivíduo, de modo instintivo,
aproveita-se do que se entende por ética. Tenta o sujeito, deliberar
suas ações a partir do que considera correto, à luz de um
comportamento ético.
Sendo assim, por meio de todo esse avanço, surge a “Bioética” como
uma ciência autônoma, independente. Neste sentido, discorre Diniz
(2002, p. 09) que tal acontecimento dá-se em virtude que,
“ao início da década de 70, nos Estados Unidos da América, que, pela
primeira vez fez-se uso da expressão ‘Bioética’. Seu autor, oncologista
e biólogo, Van Rensselder Potter, professor na Universidade de
Wisconsin, definiu-a como sendo ‘uma nova disciplina que recorreria
às ciências biológicas para melhorar a qualidade de vida do ser
humano, permitindo a participação do homem na evolução biológica e
preservando a harmonia universal’.”
“No curso de uma doença que não pode ser curada, e quando a morte
esta próxima e é inevitável, existem situações em que prolongar a
vida não é aconselhável. Prolongar a vida a todo o custo pode ser
desumano para os pacientes. Isso tem sido reconhecido desde a
introdução da terapia intensiva na segunda metade do século XX. [...]
Se um tratamento torna-se não-razoável, não significa que todo o
tratamento vá ser interrompido. Significa uma mudança de objetivos
de tratamento. Neste ponto quando uma terapia é interrompida, os
objetivos do tratamento devem ser definidos novamente. Manter a
vida não é mais o objetivo principal, o alívio e os cuidados humanos
passam a ser as preocupações exclusivas”.
“Exclusão de ilicitude
Conclusão
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Notas:
[1] Artigo realizado como requisito de obtenção parcial de avaliação
na disciplina de Trabalho Final de Graduação II do Curso de Direito do
Centro Universitário Franciscano – UNIFRA – sob a orientação da
prof. Ms Daniela Richter.
[2] dos conhecimentos científicos, da prática médica e das tecnologias
que lhes estão associadas, devem ser maximizados os efeitos
benéficos diretos e indiretos para os doentes, os participantes em
investigações e os outros envolvidos, e deve ser minimizado qualquer
efeito nocivo susceptível de afetar esses indivíduos. (UNESCO, 2006).
[3] II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano,
em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de
sua capacidade profissional.
IV - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético
da Medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão.
(BRASIL, 2009).
[4] Com fulcro nos princípios bioéticos norteadores, foi aprovada pelo
Congresso dos Estados Unidos, sendo vigente a partir de 1° de
dezembro de 1991, a Lei intitulada The Patient Self-Determination Act
(PSDA) que reconheceu o direito das pessoas à tomada de decisões
referentes ao cuidado da saúde, aí incluídos os direitos de aceitação e
recusa do tratamento, e ao registro por escrito, mediante documento,
das mesmas opções, prevendo uma eventual futura incapacidade para
o livre exercício da própria vontade. De acordo com essa lei, os
hospitais e centros de saúde conveniados, públicos e particulares,
ficam obrigados a informar seus pacientes sobre estas possibilidades,
o que é feito oficialmente no momento de efetivar a admissão a um
hospital. Esta medida, por sua vez, exige o preparo dos profissionais
de saúde, para que possam orientar corretamente os pacientes. A lei
não específica, porém, a quem cabe este dever. O plano, visando a um
ótimo resultado, depende do Ministério da Saúde, obrigado a
desenvolver uma campanha nacional de educação coletiva sobre o
tema.
Dessa forma, é implícito que a PSDA visa garantir o direito do
paciente à autodeterminação e participação nas decisões relativas ao
cuidado da saúde, bem como estimular os pacientes a exigirem seus
direitos e formularem suas objeções de consciência no que diz
respeito à vida. Sugere-se aos pacientes, a partir da PSDA, que
formulem ordens antecipadas – advance directives – (DA), prevendo
uma possível situação de inaptidão para o exercício dos próprios
direitos, garantindo, de tal modo, o respeito às convicções do
paciente. (CLOTED, 2013, s/p).
[5] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, [...]. (BRASIL, 1988).
[6] O procedimento de Eutanásia na Alemanha aplicava-se desde o
colapso da Segunda Guerra Mundial, não havia meios nem vontade
política para estabelecer critérios que permitissem identificar e
classificar os graus de deficiência. Os deficientes internados em
hospitais não recebiam o mesmo tratamento nem eram avaliados da
mesma forma que os deficientes que viviam com suas famílias. Os
deficientes que viviam internados em hospitais constituíam o alvo
principal do programa de eutanásia. Eles custavam dinheiro para o
Estado. (MARTINS, 2005 p. 465/466).
Aduz Almeida, (2000, p. 155): O respeito à vida como bem
indisponível não recebe a mesma relevância em países como a
Holanda e a Finlândia, em que há uma espécie de cartão que serve
para que o sujeito declare sua vontade, para que, em caso de perda de
sua capacidade possa, se assim desejar, ser paciente da prática da
eutanásia.
Enquanto que, na Bélgica, foi, em 28 de maio do ano de 2002,
promulgada pelo Parlamento a lei que autoriza a eutanásia, definida
como “o ato realizado por terceiros, que faz cessar intencionalmente a
vida de uma pessoa a pedido desta” (SANTORO, 2010 p. 122).
[7]Art. 121: Matar alguém: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte)
anos. (BRASIL, 2013.)
[8] Por meio do Requerimento nº. 756 adentra ao Senado Federal tal
proposta de um novo Código Penal, recebendo, pois, a denominação
PLS 236. Respeitando os limites do presente trabalho, atentar-se-á
para a nova redação sugerida para o artigo 122, que dispõe acerca do
crime de eutanásia. (BRASIL, 2013).
[9] O Projeto de Lei do Senado PLS 236/2012 (art. 374-RISF) - CTRCP
– Anteprojeto de Código Penal –, de 09 de julho de 2012, encontra-se
sobrestado para parecer final da Comissão, tendo como último ato o
encaminhamento do Of. n° 255/2013-SE/CEDCA/PR, encaminhando
manifestação do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente, em 05 de junho de 2013. (BRASIL, 2013).