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CRÍTICA

m arxista
Marxismo e

4ESENHAS
Ciências Humanas*

vv. aa., São Paulo, Editora


Xamã/CEMARX/IFCH, São Paulo, 2001

MARCELO GUIMARÃES LIMA*

Marxismo e Ciências Humanas quistas. E, é possível dizer, excluiria


reúne trabalhos apresentados no “Se- marxistas históricos e contemporâneos
gundo Colóquio Marx e Engels”, orga- que, explícita ou implicitamente, sepa-
nizado em novembro de 2001 pelo Cen- ram o reino ordenado da Teoria, com T
tro de Estudos Marxistas (Cemarx) do maiúsculo, da desordem empírica, “sem
IFCH, Unicamp. Como se observa na rima e sem razão”, do mundo cotidia-
apresentação da obra, a definição das no, comezinho, da história vivida: mar-
ciências humanas é um primeiro cam- xistas para os quais o marxismo resu-
po de embates. Daí partirem os edito- me-se à “ciência do capitalismo” como
res de, por um lado, um critério práti- seu objeto de fato, sendo o socialismo re-
co-acadêmico: identificando as ciências legado ao mundo da imaginação, da fan-
humanas tal como aparecem no pano- tasia, dos desejos, da imaturidade, da mera
rama institucional universitário atual, “utopia”.
e, por outro lado, assinalando uma uni- Os três ensaios iniciais examinam
dade mínima no campo marxista: a as relações entre marxismo e dialética.
concepção do socialismo como neces- O mais unilateral destes é o de Orlando
sidade ou possibilidade histórica. Tambosi, cujo esquematismo está mui-
Definição ampla na qual caberiam to aquém de seu objeto. O autor con-
– devemos ressaltar – outras correntes trasta o “projeto científico” do marxis-
do socialismo não-marxista; por exem- mo às armadilhas do idealismo hege-
plo: os socialistas libertários ou anar- liano “corruptor”, por assim dizer, da

*Professor no Goddard College, EUA.

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obra “econômica e sociológica” de Platão no Sofista, abrindo espaço ao
Marx. O ensaio de Tambosi é uma es- não-ser, segundo Benoit, “arruinaria
pécie de panfleto em que seu autor toma pela raiz” o “projeto ontológico” da tra-
posição contra a dialética e, ao infor- dição parmenidiana, centrado na “he-
mar o leitor de sua posição, de suas pre- gemonia do Ser”. A dialética platônica
ferências filosóficas, tem por concluído mescla-se com a tradição parmenidiano-
o assunto. Não deixa de ser significati- aristotélica em Hegel, herdeiro e
vo que o ensaio seja dedicado ao filóso- continuador dos hibridismos dialéticos
fo italiano Lucio Colletti. Colletti, como da tradição antiga.
é sabido, iniciou sua trajetória política A dialética em Marx seria, final-
e intelectual no Partido Comunista ita- mente, um “modo de exposição”
liano, publicou importantes trabalhos (Darstellungsweise) que restituiria, após
críticos sobre Marx e Hegel e terminou o trabalho da análise, a “totalidade vi-
sua vida como deputado do partido de vida do real”. O papel da dialética se-
Silvio Berluscconi. Em Tombosi, a ins- ria, em sentido forte, contradizer o
piração anti-hegeliana e antidialética é, discurso empírico-abstrato da Economia
nitidamente, como no último (?) Col- Política, ou seja, das formas “científicas”
letti, conservadora. burguesas e, deste modo, expressar a
Também para Hector Benoit, no experiência revolucionária da classe ope-
ensaio que abre o volume, a dialética rária.
em Marx é um problema a ser confron- Ainda que o autor considere “mais
tado e, de certo modo – tendo em vista modesta” a sua caracterização da dialéti-
sua estratégia conceitual, no que diz ca em Marx do que as explicações (subs-
respeito à questão de sua matriz tancialistas) que recusa – a da lógica he-
hegeliana –, um problema a ser “explai- geliana e da ontologia marxista –, a no-
ned away”, para utilizarmos a (intra- ção da dialética marxista como Darstel-
duzível) expressão inglesa; quer dizer, lungsweise não deixa de ter seus “pres-
resolvido de uma vez por todas, ou seja, supostos” não-explícitos ou, mais mo-
recusado como falsa questão cujo índi- destamente, suas próprias zonas de obs-
ce é a sua própria insistência, persistên- curidade. Caberia talvez o exame da
cia e irresolução conceitual e histórica. própria noção de Darstellungsweise
Deste modo, para o autor, a dialética como noção explicativa fundamental.
em Marx não seria uma lógica herdada O que se expressa no discurso da luta
de Hegel, como também não constitui- de classes? Algo mais, talvez, do que
ria uma “filosofia marxista” seja como uma tautologia como: o próprio “dis-
“epistemologia” geral ou, sobretudo, curso da luta de classes”. Pensamos que
enquanto “ontologia” dialética, verda- não é excessivo afirmar que o presente
deira contradição nos termos, já que a ensaio se desenvolve em dois registros
dialética inicial, por exemplo, a de distintos e divergentes: de um lado, te-

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mos o recurso à história das idéias, uma idealismo, mas igualmente oposição for-
espécie de “aventura milenar da dialé- mal, trata-se de procedimentos diversos e
tica” cujos conflitos passados informam mesmo, de modo específico, contraditó-
a dialética de Hegel, e, de outro, o mar- rios.
xismo enquanto teoria e práxis da mo- Em Hegel, a contradição deter-
derna luta de classes. Dois registros cuja mina os seus termos, o positivo e o ne-
articulação crítica seria necessário de- gativo, como termos determinados de
monstrar (e não apenas, num certo sen- uma contradição determinada, ou seja,
tido, “pressupor” de modo mais ou dupla determinação de um pelo outro,
menos vago e geral). A dialética em que é, ou constitui, o seu fundamento
Marx não é simplesmente uma lógica contraditório. Nesta estrutura, os termos,
herdada de Hegel, mas, segundo Lênin, positivo e negativo, “se incluem mutua-
citado por Benoit, a lógica específica, mente como momentos e se excluem
ou seja, a prática teórica de O capital. como totalidades” (segundo Theunissen),
O próprio Lênin afirmou, igualmen- isto é, os momentos são momentos espe-
te, a necessidade imperiosa do estudo cíficos, determinados, de totalidades
profundo da lógica hegeliana para a com- específicas, determinadas, que, como
preensão de O capital : a compreensão tais, como totalidades, se excluem e
da dialética, elemento fundamental do devem se excluir ou não subsistiriam
marxismo ausente, segundo Lênin, nos como totalidades próprias. A contradi-
discípulos imediatos de Marx. O que ção envolve a mútua inclusão e exclu-
nos remete ao ponto de partida, à ques- são, isto é, a mútua dependência que
tão inicial sobre as relações entre a revela o movimento do negativo, a ne-
dialética hegeliana e o marxismo, quer gação do outro, como negação de si,
dizer, entre filosofia e revolução. autonegação: o resultado é a determi-
A noção da inversão materialista de nação plena da contradição como con-
Hegel por Marx, recusada como “mera” tradição posta, “para-si”. Em Hegel, o
imagem ou metáfora por muitos, é preci- todo se separa em duas totalidades (se-
samente um dos objetos da análise de Jor- gundo Theunissen) e estas são o funda-
ge Grespan. Segundo Grespan (a partir mento da contradição dialética.
das análises de Fulda), inverter (umstülpen) Marx recusa a dupla totalidade:
não é simplesmente pôr “de cabeça para no capitalismo só o capital se põe como
baixo”, o que manteria uma simetria de totalidade ao subsumir o trabalho. Este
relações, mas, na imagem da luva, “pôr não é a mera alteridade (totalidade ou-
do avesso”, exteriorizar o interno e inter- tra) do capital. A contradição dialética
nalizar o externo: ou seja, entre a dialética em Marx assume a forma da assimetria
hegeliana e a dialética marxista haveria como sua estrutura essencial. O que
não apenas oposição material, de conteú- significa, de modo breve, desvendar o
do, a que opõe (substitui) materialismo e capital como poder sobre o trabalho,

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resultado da separação do trabalho e dos recíprocas, um outro lugar, uma outra
meios de produção, da acumulação (o posição, uma nova dialética que apon-
capital como trabalho acumulado), da te para além do movimento de repro-
exploração do trabalho vivo pelo traba- dução da sociedade burguesa.
lho morto (capital constante). A uni- Se nos detivermos de início na
dade da sociedade capitalista é dada na análise das relações entre marxismo e
esfera jurídica na forma do contrato dialética, não quer dizer que esta pri-
entre proprietários livres de mercadorias, meira parte ocupe um espaço excessivo
o capital de um lado, a força de traba- na organização do volume. Trata-se, ao
lho do outro. A igualdade jurídica ex- nosso ver, de uma questão exemplar na
pressa e camufla, ao mesmo tempo, a sua própria dificuldade que, por assim
desigualdade essencial, a subordinação dizer, sob certos aspectos, resume, his-
na esfera da produção, que funda a pro- tórica e conceitualmente, os destinos te-
dução como produção capitalista. Aqui óricos do marxismo e seus impasses pas-
desvendamos o ponto de vista da dialé- sados e presentes. No passado, algo de
tica hegeliana; a contradição dialética decisivo se manifestou na “disputa so-
plenamente desenvolvida em Hegel, isto bre Hegel” no interior do marxismo, “a
é, posta para si, é aquela posta pelo ca- querela da dialética”, que, entre outros
pital como princípio do seu desenvol- aspectos fundamentais, distinguia (e
vimento e como resolução da contradi- igualmente confundia, por vezes opon-
ção: a negação (subordinação) do tra- do a letra e o espírito da dialética) por
balho que põe em marcha a produção um lado a consolidação do marxismo
do capital. O capital pode então apare- como ideologia institucional (de parti-
cer, invertendo o processo real, “excluin- do, de Estado, de aparelho sindical etc.)
do” o trabalho, como motor do proces- e por outro como ideologia revolucio-
so da produção, como autovalor. nária, para além dos seus limites insti-
Podemos resumir esta breve e in- tucionais, como utopia de classe.
completa exposição do denso ensaio de O encerramento (ao menos em
Grespan, assinalando que em Marx tra- alguns de seus aspectos mais salientes)
ta-se de fazer explodir (ou implodir) os de um ciclo histórico em que o marxis-
limites da dialética hegeliana de seu “in- mo institucionalizado teve um papel re-
terior”, examinando de perto, seguin- levante (e contraditório) deve servir a
do, reproduzindo-lhe os movimentos re-significar as disputas teórico-políti-
dos conceitos e suas estruturas, e des- cas, de ontem e de hoje, no interior do
vendar nas contradições que ela é inca- marxismo. No melhor destes ensaios,
paz de “dominar”, na contradição ma- manifesta-se, algo que poderíamos cha-
terial entre capital e trabalho, e não sim- mar de uma vitalidade clandestina, seja
plesmente na contradição formal entre na não-coincidência do marxismo com
a parte e o todo, ou entre totalidades sua identidade histórica estabelecida,

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seja no confronto com a diversidade, a
“desordem” conceitual e prática do pre-
sente. Para além das aporias filosóficas
(reais ou aparentes), o marxismo, ou
algo semelhante, como o negativo da
autoconsciência (ideologia) do tempo
presente, continua a revigorar o traba-
lho da antropologia, da história, e re-
percutir indiretamente em outros cam-
pos. Com efeito, alguns dos trabalhos
de maior interesse da presente coletâ-
nea dizem respeito às áreas de interface
“empírica” da antropologia, da histó-
ria, e aos temas da atualidade, como as
transformações e os impasses na pro-
dução, no mundo do trabalho, na cul-
tura e na estrutura de classes do capita-
lismo hoje, sobre os quais o marxismo
teria (ainda) algo a dizer e talvez ainda
algo inédito no confronto com a auto-
complacência dos representantes inte-
lectuais (conscientes e inconscientes) da
ideologia dominante.

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