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A TEORIA SÓCIO.

HIsTÓRICA DE VYGOTSKY
Lúcia Pulino

TNTRODUçÃO e pnrruCrpArS CONCETTOS

REFLEXÃO

Quem foi Vygotsky?

Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em Orsha,


na Bielo-Rússia, em 1896, e morreu em Moscou,
em 1934. Começou a estudar Medicina, mas
abandonou esses estudo pelo Direito e a
Literatura, tendo também se formado em
Historia e Filosofia na Universidade do Povo.
Sua formação foi interdisciplinar. Era marxista
e comprometido com as mudanças sociais
e intelectuais sustentadas pela Revolução
Soviética. Morreu jovem, de tuberculose, de que sofreu por 14
anos. Deixou, no entanto, muitos livros e artigos.

Vygotsky desenvolveu uma nova Psicologia, sustentada


em três ideias centrais: "1) as funções psicologicas têm
um suporte biologico, pois são produtos da atividade
cerebral; 2) o funcionamento psicologico fundamenta-
se nas relações sociais entre o indivíduo e o meio exte-
rior: as quais desenvolvem-se num processo historico; 3)
a relação homem/mundo e uma relação mediada por
sistemas simbolicos." (OLIVEIRA, 1999, p. 23).

Assim, para Vygotsky, o ser humano é um ser biologico


que se constroi e reconstrói, transformando-se
historicamente, no interior da cultura. Ele transforma,
historicamente, o meio ambiente físico e cultural, que,
ao mesmo tempo, transforma-o num ser cultural e
historico, calcado em suas raízes biologicas. Este é um
processo de mão dupla, de mútua determinação. lsso
ocorre no nível do desenvolvimento da especie e do
indivíduo: o bebê nasce com um sistema neurologico
que permite que ele atue por processos mentais
biologicos que, por sua relação com o meio, mediada
por outras pessoas, vão se transformando em processos
mentais superiores.

Ao longo de sua construção historica no interior


da cultura, o ser humano foi se tornando capaz de
representar o mundo, construir conhecimento e
transmiti-lo a gerações futuras. Esse processo tem
se dado historicamente na construção de uma vida
coletiva, que se organiza em torno da atividade do
trabalho. Essa maneira de ver o ser humano e os
processos humanos em geral, caracteriza o método
dialético usado por Vygotsky.

Consideremos, de maneira geral, a construção do


conceito de homem ou de ser humano, pelo método
dialético: O homem é um ser social ou individual?
Um ser natural, biologico ou cultural e histórico? Um
ser emocional ou racional?

MAIS

, Usando o :método dia éticscs,mq,premi5§.a,,V1§otsky procu ro u


I

identificar as mudanças qualitativas do comportamento que


ocorrem ao longo do. desenÚolvimento,, ê,,.iua, ,ielação com o .
contexto social.

Toma-se cada lado da oposição como u ma tese ("o homem o


é um ser biológico" é uma tese, que contém em si mesma .§
a idéia oposta (antítese) "o homem é um ser social") e, BqJ
em vez de descartar um dos lados, ou uma das teses, o
ambos devem ser considerados para definir o conceito o
!

de homem, fazendo-se uma síntese entre as duas teses qJ


s
opostas (a tese e sua antítese): o homem é, ao mesmo
o
tempo, biologico e cultural; um ser ao mesmo tempo
individual e definido social, cultural e historicamente; AJ

o
um ser ao mesmo tempo racional e emocional. E deve (§'
ser definido em suas condições concretas, que são, ao O)
o
mesmo tempo, subjetivas e objetivas. o
a-
Dessa forma, define-se o ser humano como um ser que

se constrói biologicamente na história, no interior de o
uma cultura e se desenvolve cultural e historicamente !
na sua relação com a natureza e as outras pessoas. Não
E
se pode pensar o corpo do homem sem que tenha se
desenvolvido na história, ou sem um sentido social.
Nem tampouco pensar em sua mente social, cultural
e historicamente forjada, sem sua base biológica, pois
esses dois aspectos se relacionam por um processo de
mútua determinação.

O método dialético permite que se construa um


conheci mento capaz de dar conta da real idade em toda
a sua complexidade, com seus elementos contrad itórios
e em suas permanentes transformações.

Játratamos dessa visão materialista histórico-dialética,


quando nos referimos à concepção do ser humano
como um ser em processo de construção, um "tornar-
se", tanto como espécie, quanto como indivíduo.
Os significados ligados aos sistemas simbólicos criados
pelo ser humano são significados compartilhados
por determinado grupo cultural. As pessoas que
vivem numa determinada cultura, num determinado
momento histórico, compreendem o mundo de uma
determinada maneira. Organizam e significam suas
ações, sentimentos e pensamentos, de acordo com os
parâmetros dados por essa cultura. Assim, o indivíduo,
para Vygotsky, não é uma unidade isolada, mas a síntese
de uma rede de múltiplas determlnações, biológicas,
h istóricas, socia is, econôm icas, cu ltu ra is e psicológ icas.

O ser humano se torna um indivíduo imergindo-se na


cultura. Ele processa sua individuação relacionando-
se com o outro, o mediadoç que o introduz aos
padrões de comportamento vigentes. É um processo
dialético, já que o sujeito se torna diferenciado do
outro na relação com o outro; torna-se singular por
meio de sua socialização.

Tendo como objetivo, aqui, compreender o processo


de construção do conhecimento em Vygotsky e
contextualizá-lo no ensino-aprendizagem de artes,
vamos, inicialmente, escolher alguns pontos de sua
teoria psicologica que consideramos importantes
para alcançarmos essa meta. 5ão eles: mediação e
mediação simbólica; internalização; linguagem;
desenvolvimento real, desenvolvimento potencial e
zona de desenvolvimento proximal; aprendizagem e
formação de conceitos.

Mediaçáo e mediação simbólica

Para Vygotsky, o ser humano é um ser construído


ao longo da historia de sua existência, por meio da
relação de trabalho que estabelece com a natureza,
visando sua sobrevivência. Essa relação, para
Vygotsky, não é uma relação direta, mas sempre
mediada por elementos que o proprio ser humano
criou ao longo dos séculos.

Vygotsky chama de mediação a intervenção desses


elementos caracterizadora da ligação entre o ser hu-
mano e o mundo. Distingue dois elementos constituin-
tes dessa mediação: os instrumentos e os signos.

O ser humano criou e cria instrumentos materiais


(ferramentas, máquinas) que fazem a mediação
entre ele e o mundo e facilitam sua sobrevivência
face aos perigos naturais primitivos e aos obstáculos
de toda ordem que lhe são apresentados ao longo
de sua existência.

Além desses instrumentos materiais, o ser humano


criou instrumentos psicológicos, os signos, que
auxiliam no controle da atividade psicologica.
Ao longo da evolução da especie e do desenvolvimento
do indivíduo, os signos passam de marcas externas a
processos internos de mediação e se organizaram
e têm se organizado no interior da cultura e no
desenvolvimento da criança, como sistemas simbolicos.

REFTEXÃO

Vamos pensar melhor sobre isso. É tão familiar para nós, hoje
em dia, o ato de fazer cálculos e usar números para designar
quantidades, que nem pensamos sobre como isso começou na
historia da humanidade e na de cada um de nos.

Desde o momentoll em que o ser humano começou


a pensar, provavelmente foi se dando conta das re-
lações quantitativas que havia entre os objetos que
o rodeavam. A primeira noção de número que o ser
humano teve foi uma intuição da quantidade de ob-
jetos que compunham um determinado conjunto,
como por exemplo, o pastor que tinha a percepção
imediata da quantidade de ovelhas de seu rebanho,
so por olhá-lo. A quantidade era considerada uma
das qualidades do conjunto, como a forma e a cor. o
Essa percepçÇão, chamada de "numerosidade", não .§

permitia aos homens primitivos avaliar quantidades qJ

superiores a três ou quatro elementos. Quantidades qJ

o
grandes eram então consideradas "muito", quanti-
qJ
dades menores, "pouco"; eram feitas estimativas, tr
sem relação com o número exato de elementos. o
OJ

Em um momento posterioç o homem descobriu a o


!
forma de dominar e registrar as quantidades por d
meio do princípio de correspondência urn a um. o)
o

Com o auxílio de materiais de todo tipo (pedras, a-


conchas, ossinhos, frutos secos, gravetos, incisões lô
em ossos ou no tronco das árvores), ou com o auxílio o
do proprio corpo (os dedos da mão), o homem fazia !,o
corresponder a cada um dos objetos a ser contado Ê
um elemento que ele utilizava como auxiliar.

Por exemplo, se a pessoa quisesse registrar quantos


animais tinha ou contá-los, utilizava uma bolsa
contendo bolinhas de argila cada bolinha
equivalendo a um animal.

A noção abstrata de número foi se desenvolvendo


pela prática de contagem, que foi sendo aperfeiçoada:
os pastores tinham de contar cotidianamente seus
rebanhos e, para facilitar esse trabalho, construíram
series numéricas em que as quantidades eram colocadas

I I Este terto se baseia. com algumas alterações, em Professor cla pré-


es c'ol a. 1991. 3" ediçào. pp.4zl-48.
em ordem crescente ou decrescente, com um intervalo
regular entre cada elemento da serie. Então, em vez
de contar os elementos um a um, contavam cada
série, sabendo quantos havia em cada uma. Em lugar
de usar tantas bolinhas de barro quantos animais a
representaç os pastores passaram a se utilizar de vários
tipos de marcas que faziam corresponder a valores
numericos diferentes e determinados.

Cunharam essas marcas em formas de barro e


instituíram que cada uma dessas formas tinha um
valor convencionado (diferentemente das bolinhas,
que tinham sempre valor 1).

A partir daí, nomearam cada série ("dúzia", por exem-


plo, correspondendo a doze) e assim se constituiu
o princípio de base. A base mais utilizada em toda a
historia da humanidade e a base decimal, graças à nossa
tendência de usar os dedos das mãos para contar.

Cada dedo das mãos, então, recebeu um símbolo dife-


rente. Os símbolos que usamos hoje, embora tenham
sido criados pelos hindus, foram difundidos pelos árabes
e, por isso, são chamados de algarismos arábicos.

REFTEXÃO

Você vê que interessante esse processo de utilização de marcas


externas para possibilitar a atividade de contagem e registro em
um passado remoto?

As pedrinhas, as formas e os algarismos são ferramen-


tas, signos que auxiliam a atividade mental do ho-
mem, sendo que as primeiras são marcas externas
que representam cada elemento do conjunto, as
segundas representam já os conjuntos e os algarismos
são os signos mais abstratos dos três. Observamos um
processo de internalização da atividade de contagem
que surgiu no contexto da cultura, na atividade
pastoril, e que modificou a forma de pensar e calcular
do ser humano, a maneira de organizar o ambiente e
de realizar a propria atividade.

Na verdade, Vygotsky considera que, com a evolução,


ocorre o processo de internalização da mediação e
são desenvolvidos sistemas simbolicos que organizam
os signos em estruturas complexas e articuladas. No
exemplo acima, a simples atividade do pastor usando
as pedrinhas para contar, evoluiu, historicamente, para
o nosso sistema numerico e o desenvolvimento da Ma-
temática, e, no plano psicologico, para nossas formas
de raciocinar matematicamente e lidar com cálculos.
Tanto o processo de internalização como a formação
de sistemas simbolicos são essenciais para o desenvolvi-
mento dos processos psicologicos superiores.
Vygotsky chama de mediação simbólica a relação
entre o homem, o meio e os outros homens que não
se baseia diretamente em objetos, pessoas e situações
presentes, mas em signos e representações.

A linguagem e o pensamento

O principal signo criado pelo ser humano é a palavra,


que foi se constituindo num sistema simbolico
construído nas suas relações com seus semelhantes
- a linguagem.
Com o auxílio dos gestos, sons, palavras, números, o
ser humano consegue viver não apenas o momento
presente ou se relacionar com as pessoas e os objetos
presentes, mas também resgata fatos e imagens do
passado que memorizou e projeta ações no futuro. A
linguagem descola o ser humano do aqui-e-agora e
permite que ele lide com elementos não presentes.

No início de sua existência, o ser humano inventou sons


e gestos para se comunicaI fez desenhos nas paredes das
cavernas, registrando suas atividades, os instrumentos
que usava na agricultura, na caça; inventou sinais para raB

representar imagens de objetos e seres, suas qualidades, r§

sua posição no espaço e no tempo, as ações, intenções e


AJ
sentimentos - as palavras - que foram sendo apropriadas AJ
o
e modificadas por novas gerações. Dessa forma, ele con-
seguiu se relacionar não so com as pessoas com as quais AJ
§
convivia, mas pôde se comunicar com seus descendentes, o
deixando registradas, para além de seu tempo de vida, o
suas experiências, seus pensamentos, suas práticas. qJ

d
Por meio desse tipo de relação com o mundo e seus o'
o
semelhantes, o ser humano foi se forjando como um o
ser diferenciado em relação aos animais - presos a a-
experiências momentâneas. lsso permitiu o surgimento lú1

habilidades psíquicas exclusivamente humanas, ou o


processos mentais superiores, que são os processos !,o
cog n itivos de percepção, atenção, memória, I i n g uagem E
e pensamento, utilizados de forma consciente.

IMPORTANTE

ffiryn O importante, para Vygotsky, é que esse processo de


constituição histórica do ser humano se dá enrai2ado'nà
cultura. lnicialmente dotado de processos mentais naturais, pela
estrutura biologica com que nasce, o homem desenvolve, por
sua relação com o mundo cada vez mais mediada, instrumental
e simbolicamente, atividades mentais conscientes que permitem
que ele aja apoiado em suas experiências passadas e traçando
metas futuras. A forma como o ser humano desenvolveu essa
mediação, o tipo de instrumentos e signos que cria, constituíram
as várias culturas, e a própria cultura é o quadro referencial para
que ele desenvolva novos processos de mediação.
*j {- - ^ -.
A linguagem, entendida como um sistema simbólico
fundamental em todos os grupos humanos,
elaborado na historia social, que organiza os signos
em estruturas complexas e desempenha um papel
imprescindível na formação das características
psicologicas humanas (REGO, 2003:53)l'z.

O desenvolvimento da mediação simbolica provoca


três mudanças essenciais nos processos psíquicos do
ser humano:

A linguagem permite que o ser humano se rela-


cione com os objetos e seres do mundo exterio[
mesmo quando esses não estão presentes;

A linguagem possibilita o processo de abstração


e de generalização, permitindo a formação de
conceitos. Uma palavra expressa um conceito,
agrupa todas as ocorrências possíveis de um
mesmo objeto, um ser ou um evento, sob uma
mesma categoria conceitual. A linguagem é um
sistema conceitual que permite a formulação
do modo de pensar e de se organizar de uma
cultura e de cada indivíduo;

A linguagem permite a comunicação entre os


seres humanos, e, conseqüentemente, a as-
similação, a preservação, e a transmissão de
informações e experiências acumuladas na
historia. Os conceitos são construídos histori-
camente na cultura e sofrem modificações.

O desenvolvimento da linguagem ocorre, na evolução


humana e no desenvolvimento da criança, graças à
necessidade de comunicação. O pensamento se
constitui no início da vida da espécie e do indivíduo,
a partir da necessidade que têm o ser humano e o
bebê de lidar com o mundo.

No início dos processos de evolução e de desenvol-


vimento, o pensamento e a linguagem têm percu-
rsos distintos. A mais primitiva fala da criança é
social. As primeiras expressões faciais, gestos
e sons da criança expressam seu conforto e
desconforto e a conectam com as pessoas
próximas a ela. 5ão, ainda, manifestações
difusas, sem significados específ icos. Vygotsky
chamou esse estágio do desenvolvimento de
linguagem pré-intelectual.

12 Baseamos a análise da função transformadora da linguagem, a seguir,


em REGO, T. C. Vygotsky: uma perspecÍiva histórico-cultural da educaçõo.
Petrópolis: Ed. Vozes, 2003. pp. 53-54.
Concomitantemente a essa linguagem pré-intelectu-
al, a criança desenvolve um tipo de inteligência pré-
verbal que a habilita a resolver problemas práticos,
lidando com o mundo com a ajuda de instrumentos,
com nenhuma mediação da linguagem.

Por volta dos dois anos de idade, o percurso de desen-


volvimento do pensamento e o da linguagem se encon-
tram e se inicia uma nova forma de funcionamento
psicologico: a fala adquire uma forma intelectual, com
função simbólica, generalizante, a chamada linguagem
racional e constitui-se o pensamento verhal, mediado
por significados dados pela cultura.

Esse processo se dá com a mediação da pessoa que


cuida do bebê, que vai lhe fornecendo pistas sobre as
possíveis relações de gestos e sons com ações.

Se o bebê aponta aleatoriamente um brinquedo, e


a mãe diz "Ah! Você quer isso, não e? Vou lhe dar!"
e lhe dá o brinquedo, está relacionando o ato de
apontar com o ato de pedir e com uma expressão
verbal (que inclui o verbo "dar"), já que esse é o
significado que esse gesto tem na nossa cultura. rí§
o
Ao longo do desenvolvimento, nas relações com í§

as pessoas, o bebê, então, vai aprendendo a fazer !


o
relações entre a fala e o pensamento em suas ações. OJ

o
A criança, inserida em uma cultura, interagindo com q)
E
pessoas que mediam sua participação em práticas \
sociais historicamente construídas, incorpora essa q,
maneira de ver o mundo e aprende os significados ql
!
socialmente aceitos de palavras e ações. Entretanto, .§
é importante considerar que, §)
o
a cultura não épensada por Vygotsky, como \4
a-
algo pronto, um sistema estático, ao qual o lô
indivíduo se submete , mas como uma espécie o
de 'palco de negociações, em que seus membros §
!.o
estão num constante movimento de recriação E
e reinterpretação de informações, conceitos e
significados (OLIVEIRA, 1 999:38).

Depois de estabelecidos os processos do pensamento


verbal e da linguagem racional, o funcionamento
psíquico do indivíduo passa a ser mediado pela
linguagem, o que lhe permite lidar com a dimensão
do tempo e agir conscientemente, controlando sua
função mental, caracterÍstica ínerente aos processos
mentais superiores.
O processo de internalização

"Chamamos de internalização a reconstrução interna


de uma operação externa", diz Vygotsky (1991:63).
Por esse processo, a matéria-prima fornecida pela
cultura, isto é, as práticas, as idéias e os valores
culturais passam do plano social (ou interpsicolo-
gico) para o plano individual (intrapsicologico).

E pela internalização que o indivíduo aprende.


Ele internaliza formas de mediação instrumental
e simbolica organizadas e disponibilizadas por
instituições sociais como a família, a escola,
o partido político. Dessa forma, tudo o que o
indivíduo internaliza já Íaz parte da cultura e ele
vai lidar com isso intrapsiquicamente, apropriando-se
de forma ativa e criativa desse legado que a educação
formal e informal coloca à sua disposição.

SAIBA MAIS .,\|.. )


O processo de internalização é fundamental para o
desenvolvimento do funcionamento psicológico humano.
A internalização envolve uma atividade externa que deve ser
modificada para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal
e se torna intrapessoal.

Desde bem cedo, o bebê é exposto a situações que


o colocam em contato com as formas culturais de
pensar, sentir e agir. Há culturas em que os bebês
são alimentados exclusivamente pelo leite materno;
em outras, a mamadeira pode ser introduzida.
Em algumas culturas, os bebês ficam todo o dia
em contato com o corpo das mães, já que elas os
carregam consigo em suas atividades; em outras, eles
ficam o dia todo sob os cuidados de parentes, babás
ou creches e só estão com suas mães à noite, quando
elas voltam do trabalho.

A educação das crianças varia conforme o momento


histórico, a cultura e a sociedade, em que estão
inseridas. Elas são educadas de acordo com padrões
ideais cultivados em cada contexto cultural e,
portanto, seu desenvolvimento como pessoa depende
desse referencial.

O desenvolvimento do psiquismo humano é sempre


mediado pelo outro, que no início da vida do bebê
atribui significados à realidade, às ações em geral.
Por meio dessa mediação, os bebês e as crianças
novas vão, aos poucos, se apropriando do modo de
funcionamento psicologico, do comportamento e
da cultura, entrando em contato com o patrimônio
simbolico e material da historia da humanidade e de
seu grupo cultural.
A criança, por meio da internalização dos padrões
sociais presentes em seu ambiente, desenvolve,
aos poucos, suas funções psíquicas superiores já
marcadas pela influência da cultura. O que no início
da socialização precisa ser mediado por pessoas
mais experientes com quem ela convive, como pais,
professores, adultos e colegas mais velhos, depois de
internalizado vai possibilitar um processo voluntário
e independente da mediação do outro, ou seja, uma
regulação intrapsicológica. Assim, a pessoa, tendo
internalizado conceitos, valores e imagens, resgata-
os da memória e os utiliza quando precisar deles. Por
isso, à medida que envelhecem e se desenvolvem f ísica
e psiquicamente, as pessoas podem, gradativamente,
se tornar mais autônomas.

Vamos imaginar uma situação, no caso da linguagem,


em que a criança entra em contato com a palavra
"peteca" no contexto da família, jogando peteca
com os irmãos e internaliza-a mediada por eles
(relação interpsicologica). Depois, em outro contexto
(o da escola, por exemplo), resgata essa palavra
voluntariamente e a utiliza, dizendo na brincadeira
de faz-de-conta com bonecas que as "filhinhas estão ,o
jogando peteca". A professora, que não presenciou
a situação familiar, pergunta a ela como conhece a !
AJ

palavra "peteca", e considera algo muito positivo AJ

que a criança conheça e utilize adequadamente a AJ

palavra. Realmente, esse é um processo que mostra


que a criança está aprendendo e se desenvolvendo
satisfatoriamente, pois ela internaliza a palavra, a,
h
Al
guardando-a na memória, e, depois, numa situação E
apropriada, resgata-a e a utiliza criativamente. íU
o)
o
o
Quando o indivíduo internaliza um conceito, uma q
imagem, uma palavra, uma situação, ele já o Íaz o_


de forma contextualizada, pois esses elementos são o
apreendidos carregados da significação social. As S
E
palavras "casa", "amor", "vaca", por exgmplo, têm .o
significados diferentes, dependendo da cultura que E
as usa, e a criança já as aprende com este significado.
"Yaca" é um animal sagrado na índia, "casa" pode
ser caverna, abrigo, apartamento; dizer que se ama
alguém pode implicar determinados sentimentos
e ações, dependendo do significado que a cultura
atribui a essa palavra.

IMPORTANTE

0 importante é considerar gue; para Vygotsky, além do


significado,cultural das palavrai, o. §uieitô ,᧠.ln!ei11ali2â;,
dotando-as de,um',sentido pessoal:r "
Assim, a palavra "roupa" exprime um conceito
que tem um significado geral, mais relacionado
a "vestimenta", ou indumentária a ser vestida
para cobrir e proteger o corpo. Esse significado
é compartilhado por todos os usuários da língua
portuguesa em nossa cultura, sendo que ganha,
além disso, um sentido pessoal, dependendo da
experiência concreta que cada pessoa tem com
ela: para a costureira, tem o sentido de produto de
seu trabalho; para a modelo de moda, seu sentido
é de instrumento de trabalho; para os nudistas,
algo a ser evitado; para os desenhistas de moda,
algo a ser inventado.

O DESENVOTVIMENTO REAL E
O DESENVOTVIMENTO POTENCIAT.

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)

Para Vygotsky, o importante na avaliação do


desenvolvimento de um indivíduo é sabermos não
apenas suas capacidades ou o que ele já é capaz de
Íazer, como os testes psicológicos são capazes de
aferir mas, também, o que ele é capaz de fazer com
a ajuda de outra pessoa.

Vigotsky
(classificação em:)

Zona de Desenvolvimento
Real
Proximal
Potencial i:.
;,,:

Vygotsky considera que se deva levar em conta


o desenvolvimento em dois níveis: o níve! de
desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento
potencial. O real se refere às etapas já conquistadas
pelo indivíduo; o potencial, a sua capacidade de
desempenhar tarefas com a ajuda de uma pessoa
mais experiente.

Essa distinção entre o nível real e o potencial do


desenvolvimento do indivíduo e a relação entre eles,
ressalta, na teoria de Vygotsky, a importância do
outro no processo de desenvolvimento, já que sua
mediação nessa zona diferencial altera o desempenho
do indivíduo, fornecendo muitas informações sobre as
suas possíveis conquistas num determinado momento.
Uma pessoa mais experiente e desenvolvida, seja um
adulto ou um colega da criança, pode colaborar conl
ela no sentido da aprendizagem de uma ação ou
raciocínio. Numa classe de alfabetização, por exemplo,
seuma criança escreve M K O para representar a palavra
"macaco", o professor pode pedir que ela leia o que
escreveu, ou um colega. Depois deve mostrar a escrita
correta no quadro ou mesmo num cartaz ou jogo em
que apareça essa palavra servindo como elemento
mediador para que essa criança compare a sua forma
de escrever com a formal e a mude. Entretanto, com a
mesma ajuda, há crianças que corrigem sua forma de
escrever e outras que não, o que denota o nível em
que cada uma se encontra.

coNTEXTUALtZAçÃO 'i."
ia,i

Vygotsky chama de Zona de Desenvolvimento Proximal o domí- l:t'

.n'

nio psicológico que coincide com a distâncía entre o nível de ulf

desenvolvimento real e o potencial, que é a distância entre o ::l

I
que o índíduo é capaz de fazer sozinho e aquilo que ele faz com ,...

a ajuda dos outros. Aí, nesse nível diferencial, a aprendizagem :it,

tem mais probabilidade de ocorrer. o


'rÜ

Essazona, que não corresponde a um sítio físico, mas !q)


a um domínio psicológico, está em constante transfor- al
o
mação: aquilo que uma criança é capaz de fazer com a
o
ajuda de alguém agora, ela conseguiráÍazer sozinha Ê

mais tarde. A aprendizagem nessa zona possibilita o o


desenvolvimento, ou seja, vai se consolidando como (,
h
parte das funções psicologicas do indivíduo. AJ

B
Para Vygotsky, a aprendizagem possibilita o desen- o.)
o
o
volvimento: "o processo de desenvolvimento não U

coincide com o de aprendizagem; o processo de a_

desenvolvimento segue-se ao de aprendizagem, lô


o
que cria uma área de desenvolvimento potencial"
(VYGOTSKY, 1956, pp. a51-2). !.o
E
Além das ações de outras pessoas que criam zonas
de desenvolvimento proximal, Vygotsky mostra a
importância do brinquedo no desenvolvimento da
criança. Especialmente na brincadeira de faz-de-
conta, a criança a partir dos dois anos cria uma situação
imaginária que a leva a dirigir seu comportamento
não somente pela percepção imediata dos objetos ou
pela situação que a afeta de imediato, mas também
pelo significado dessa situação.

No brinquedo, o pensamento está separado dos


objetos e a ação surge das idéias e não das coisas:
um pedaço de madeira torna-se um boneco e um
cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida
por regras começa a ser determinada pelas idéias e
não pelos objetos. lsso representa uma tamanha
inversão da relação da criança com a situação
concreta, real e imediata, que é difícil subestimar
seu pleno significado. A criança não realiza toda
essa transformação de uma só vez, porque é
extremamente dif ícil para ela separar o pensamento
(o signif icado de uma palavra) dos objetos. O
brinquedo oferece um estágio de transição nessa
direção sempre que um objeto (um cabo de vassoura,
por exemplo) torna-se o pivô dessa separação (no
caso, a separação entre o significado 'cavalo'de um
cavalo real). A criança não consegue, ainda, separar
o pensamento do objeto real. [...] A estrutura básica
determinante da relação da criança com a realidade
está radicalmente mudada, porque muda a estrutura
de sua percepção. [...] No brinquedo, o significado
torna-se o ponto central, e os objetos são deslocados
de uma posição dominante para uma posição
subordinada (VYGOTSKY 1991 : 1'10-1).

Pela brincadeira, a criança desenvolve a imaginação


criadora, a criatividade. "A imaginação e o brinquedo
sem ação", para Vygotsky (1991:106). Alem
disso, o brinquedo subordina a criança a
regras, controlando seu comportamento
impulsivo, pois satisfazer as regras passa
a ser uma fonte de prazer para ela.

No bri nq uedo, porta-se de forma


a cria nça com
mais avançada do que nas atividades da vida real e
tambem aprende a separar objeto de significado. O
brinquedo, assim, promove o desenvolvimento, pois
abre zonas de desenvolvimento proximal.

Por essas considerações, você pode avaliar a impor-


tante contribuição das ideias de Vygotsky para a
educação escolar.

O processo de aprendizagem e a Íormação de conceitos

Para Vygotsky, como nascimento da criança, inicia-


se seu desenvolvimento, em parte def inido por
processos de maturação do organismo individual,
pertencente à espécie humana.

Entretanto, é o aprendizado que possibilita o des-


pertar de processos internos de desenvolvimento
que, sem o contato do indivíduo com determinado
ambiente cultural, não ocorreria.

Então, uma criança que nascesse e vivesse entre


animais, não aprenderia a linguagem oral humana,
mas a animal. Da mesma maneira, uma criança
que crescesse num grupo cultural isolado que não
dispusesse de um sistema de escrita jamais seria
alfabetizada. Entretanto, se essas crianças fossem
trazidas para o nosso contexto cultural, de que fazem
parte as linguagens oral e escrita, elas poderiam
aprender a falar e a escrever.

lsso nos mostra como, para Vygotsky, a aprendiza-


gem é o processo que humaniza o homem ou viabili-
za o desenvolvimento dos processos psicológicos su-
periores e se insira na cultura, por meio da mediação
de membros mais desenvolvidos dessa cultura.

A aprendizagem é, portanto, um processo comparti-


lhado, pois inclui a interdependência dos indivíduos
envolvidos no processo. "O termo que Vygotsky utili-
za em russo (obuchenie) significa algo como 'proces-
so de ensino-aprendizagem', incluindo sempre aque-
le que aprende, aquele que ensina e a relação entre
essas pessoas" (OLIVEIRA, 1 999:57).

A internalizaçáo, para Vigostski, compreende dois


momentos: um interpsíquico, de informações e
ações, que inclui a relação de mediação; e um outro,
intrapsíquico, em que o indivíduo lida psicologica- o
r(§
mente com os elementos internalizados no primeiro (§

momento e memorizados, consolida-os, dando-lhes :


!(U
um sentido pessoal, que depende de sua experiência qJ

o
e de sua história de vida.
AJ
Ê
Para Vygotsky,
o
o
h
[...] todas as funções no desenvolvimento da criança qJ
!
aparecem duas vezes, em dois níveis: primeiro no í§
nível social e depois no nível individual; primeiro
o
entre pessoas (interpsicológica) e, depois, no interior o
(,
da criança, como categoria intrapsicológica. lsso se h
o-
aplica igualmente para a atenção voluntária, para a

memória lógica e formação de conceitos. Todas as o
funções superiores originam-se das relaçôes reais §
!.o
entre i nd ivíd uos h u ma nos (VYG OTS KY, 1 99 1 :64).
E

Portanto, o outro (outra pessoa, um livro, um filme, etc.),


carregado de significado cultural, está sempre presente
no processo de aprendizagem, atuando como mediador
do processo de internalização, o que possibilita que
o sujeito, então, lide com o conteúdo internalizado,
aprimorando-o de acordo com sua experiência de vida
e resgatando-o, quando precisar dele.

No contexto da educação formal, promovida pela


instituição escolaç o professor ganha uma importância
crucial, segundo o entendimento vygotskyano. Ele é
o principal mediador das ações pedagogicas que se
efetivam, na medida em que são direcionadas para a
zona de desenvolvimento proximal.
Alem do professol os procedimentos, técnicas,
matería is, livros e recu rsos a ud io-visua is são e lementos
mediadores da aprendizagem e podem detectar e
abrir zonas de desenvolvimento proximal.

Assistir a um filme ou a uma peça de teatro e partici-


par de uma discussão com os colegas e os professores
pode despertar a curiosidade dos estudantes sobre o
que viram, quais as maneiras de interpretar cenas e
mensagens contidas no roteiro, além de, eventual-
mente, levá-los a se contrapor aos diferentes pontos
de vista que surjam na discussão ou a terem interesse
de escrever seu próprio roteiro sobre o tema. A ma-
neira como essa atividade vai atingir cada estudante,
o quanto vai motivar cada um deles dependerá de
coincidir com essa zona de desenvolvimento que ain-
da apresenta brechas, de modo que ele precise do
outro, precise Íazer pesquisas, conversar com outras
pessoas, para compreender o assunto.

Dessa forma, um ensino que lide com conteúdos já


dominados pela maioria dos estudantes da sala e
desinteressante para eles, pois já faz parte de seu
desenvolvimento real. É preciso que os processos
de aprendizagem se implementem na zona de
desenvolvimento proximal, para promover mudanças
no nível do desenvolvimento.

A formação de conceitos tambem é um processo


compartilhado. Segundo Vygotsky, os conceitos são
sistemas de relações e generalizações contidos nas
palavras. Esses sistemas são construídos historica-
mente e internalizados pelos indivíduos.

Em seu cotidiano, as crianças, desde muito pequenas,


ouvem, observam, imitam e são orientadas por
outras pessoas, o que resulta em aprendizagens e
oportunidades de atuação importantes para sua
inserção na cultura em que vivem. Assim, mesmo
sem ter entrado ainda na escola, elas já constróem
conhecimentos sobre o mundo e sobre si mesmas.

Vygotsky salienta que a


criança cria conceitos
cotidianos em sua vivência na cultura. Por exemplo,
se ela teve contato com cães por meio de livros ou da
TV, especialmente se sua família tem um cachorro, ela
desenvolve uma série de conhecimentos sobre este
animal, em particulaç generaliza algumas de suas
características e as estende a outros cães diferentes,
de modo que a palavra "cachorro" constitui-se como
um conceito cotidiano, distinto de outros, como
galinha, caderno, casa etc.

)â a construção dos conceitos científicos inclui


eventos não acessíveis à observação e à experiência
direta da criança. Exigem sistematização racional e
precisam ser construídos no contexto metódico que
lhes serve de referência.

Cabe às instituições escolares, e ao professor em


especial, pois é preparado para isso, Íazer a mediação
entre o sistema conceitual científico e a criança, jovem
ou adulto que freqüentam seus cursos. No caso da
aprendizagem de conceitos científicos por crianças, o
professor pode promover atividades e disponibilizar
materiais para tornar os conceitos cotidianos que ela já
tenha, gradativamente mais abstratos e articulados. No
caso do conceito de "cachorro", por exemplo, a criança
vaisendo apresentada, passo a passo, a categorias mais
generalizantes, para construir o conceito científico:
cachorro, mamífero, vertebrado, animal, ser vivo.

Assim, a construção dos conceitos científicos leva em


conta os conceitos cotidianos, pois os dois tipos de
conceitos estão intimamente relacionados. A criança,
na escola, inicia a construção de conceitos, resgatando
os que elaborou em sua experiência, comparando o
que o professor lhe apresenta com o que já conhece.
E, o que é importante para que ela aprenda o conceito
'o
científico, é que, além das informações já consolidadas, rU
U
-b
ela opere processos mentais complexos, como con- o
centração, memória, capacidade de comparação, pen- (J
o
samento lóg ico, abstração.
o
tr
Como você vê, não se ensinam conceitos às pessoas. o
Elas os constroem mediadas por pessoas que já os qJ
h
aprenderam ou estão mais adiantadas nesse proces- o
so. O processo de construção de conceitos científicos (§
o)
inicia-se cedo na escola infantil e progride ao longo o
o
da educação escolar de jovens e adultos, sendo
aprimorados por estes últimos em suas atividades a-

no trabalho, já sistematizadas pelo conhecimento lô


o
científico. As máquinas, os métodos de trabalho, as
matérias-primas utilizadas no processo de produ-ção !\o
em uma fábrica, por exemplo, são criados e organi- E
zados de acordo com as informações tomadas das
ciências e, portanto, Ievando em conta conceitos cien-
tíficos sistematizados, que são as teorias científicas.

A escola e o trabalho oferecem às pessoas a


oportunidade teórica e prática de entrarem em
contato e lidarem com o conhecimento construído,
organizado, acumulado e transmitido ao longo
da história da humanidade. Esse contato exige
a participação ativa do sujeito que aprende,
promovendo, assim, o desenvolvimento de seus
processos psíq u icosperiores, ti picamente h u manos.
su
Como são operações mentais conscientes, permitem
que a pessoa perceba o funcionamento de seu proprio
psiquismo e possa controlá-lo.
Para Vygotsky, tanto qua nto otrabalho, o aprendizado
escolar, inserido em uma cultura, sistemático e
comprometido com a produção científica e artística
construída pela humanidade na historia, promove
a humanizaçáo do homem, ou seja, estimula o
desenvolvimento de suas funções psicológicas
superiores, aquelas que o tornam humano.

VYGOTSKY E O ENSINO.APREDIZAGEM DAS ARTES

Com relação ao ensino-aprendizagem da apreciação


e produção artística, as ideias de Vygotsky muito têm
a nos dizer. lsso porque ele desenvolveu trabalhos
sobre imaginação e arte, especificamente.

Na obra que trata desse tema, lmaginacion y Arte en


la lnfancial3, Vygotsky (1987) sustenta que em toda
atividade do ser humano se distinguem dois tipos
básicos de impulsos: o reprodutor ou reprodutivo,
e o criador ou combinatório. O reprodutor
relaciona-se à função de nossa memoria: quando
nos lembramos de algo do passado e falamos sobre
isso, ou quando representamos em desenho o que
vimos, estamos resgatando algo que nosso cérebro,
graças a sua plasticidade, conservou e permite que
seja trazido posteriormente à consciência. Já o
impulso criador refere-se a projeções futuras que o
indivíduo faz, como imaginar-se em uma situação
de naufrágio, ou reconstruções do passado, como
o resgate imaginativo de um período remoto da
historia da humanidade, por exemplo, a ldade da
Pedra. Em ambas as situações, o indivíduo não conta
com experiências prévias para resgatar, mas cria
novas imagens e ações, a partir de combinações de
vivências, leituras, conversas, filmes, re-elaborando
seus elementos, para criar novos.

Vygotsky chama essa atividade de fantasia ou


imaginação, sem considerá-la menos importante que
as percepções, mesmo sendo algo irreal, funciona como
base de toda atividade criadora e está presente em
todos os aspectos da vida cultural, possibilitando não
só a atividade artística, mas a científica e a técnica.

Toda atividade da vida humana - tanto as de caráter


cotidiano e inconsciente, como as relacionadas a
processos de construção de conhecimento prático
ou teórico, à produção de objetos e tecnicas e à
produção da arte - são gerados, em última instância,
nos processos de imaginação, a partir de impulsos
criativos combinatórios.

13 Vygotsky, L.5., Imaginación v aríe en la infancia. México, DF:


Ediciones y Distribuiciones Hispanicas. S.A.. 1987.
Até mesmo a atividade de reprodução nunca é
pura, mas apresenta aspectos criativos. Quando
uma criança imita outra ou um adulto, ela o faz
de maneira criativa, internalizando os padrões das
ações do outro com um significado cultural, mas
dando-lhes um sentido pessoal, e agindo de acordo
com suas próprias experiências e possibilidades.
A imitação, assim, não é negativa, mas positiva
para o desenvolvimento da pessoa, pois não
se caracteriza como cópia, e abre uma zona de
desenvolvimento proximal para o processo de
criação e construção do conhecimento.

Vygotsky afirma, contrariamente ao que o senso


comum tem propagado, que todas as pessoas
são capazes de criaç de serem criativas, não só as
bem-educadas, pertencentes à elíte econômica e
intelectual, mas as pessoas da classe popular também.
Além disso, compreende que desde tenra infância
as pessoas podem ser criativas e que a educação,
na família e na escola, pode proporcionar mais ou
menos oportunidades de desenvolvimento dos
processos criativos, dependendo da maneira como os
educadores atuam junto aos mais jovens. o
r.o

Os processos criativos, para Vygotsky, ocorrem o 'ü


o
tempo todo, de modo que várias pessoas podem estar CJ

o
envolvidas, individual e coletivamente, em atividades §
qJ
de combinação, articulação e modificação em relação E
a objetos, à natureza e a outras pessoas, o que cria o
condições para surgirem novidades efetivas em todos CJ

os campos da produção humana. Os grandes gênios AJ


E
da arte, da ciência, das técnicas, da cultura em geral, d'
O)
são pessoas que, dadas as condições objetivas em que o
o
muitos estão envolvidos, sintetizam essas condições e
a.
propõem novidades e mudanças.
lo
o
IMF0$IAÍ'ITE
!.o
É V"j. como é importante, segundo as idéias de Vygotsky, E
' gue. haja,urn ":a,mb!ente:,propíeio- para a criação. Elâ.,nãó
suFge :da nada e restá:presênte, eú ,,tôdás, ás,'âtividadês,,.dê:'tod§§
os seres, h uúa,nos,, ànôni mô§,oú..,fá m osos q u e, compa rti lhá hd-o,.
uma cultura e um determinado momento historico, exercem
atividades criativas. Essas atividades podem resultar em
maneiras mais adequadas de resolverem problemas cotidianos,
ou em :invenções: de teorias,' processos,, má,Qu iía§,b,,õbjetos,, em
composição de músicas, textos literários, roteiros teatrais, na
etaboração de pinturas, em propostas de políticas públicas, ou
em quál§uêÍ. oütÍa pÍoduÇão,'matêrial.ou sirÍrbólica: ,,,, ,

Nesse sentido, a educação escolar e, especialmente, a


educação voltada para o desenvolvimento da imagi-
nação, a educação estética e artística, propriamente
dita, têm um papel fundamental para o desenvolvi-
mento de cada pessoa e da humanidade como um
todo. lsso porque, além de trabalhar diretamente
com processos criativos, ligados à fantasia e à imagi-
nação, a educação artística vai proporcionar que se
abram espaços, zonas de desenvolvimento proximal,
como diria Vygotsky, para que as pessoas possam
construir conhecimentos práticos e teoricos também
no âmbito das ciências, das tecnologias e de suas ati-
vidades da vida cotidiana.

Retomando, então, o que já mencionamos sobre


a importância que Vygotsky dá ao jogo e a o
brinquedo no desenvolvimento psicológico do
indivíduo, agora podemos compreender a força
desse aspecto em sua teoria.

Na perspectiva vygotskyana, portanto, os professores


de arte, ou os arte-educadores, como têm sido
denominados hoje em dia, são profissionais que têm
um papel importante na sociedade, na medida em
que podem, efetivamente, tornar a educação um
processo não de repetição e memorização do que já
foi construído historicamente na arte e na ciência,
mas um processo de reconstrução, de criação. Eles
podem mostrar a importância dos processos lúdicos
no ensino-aprendizagem, atuando como mediadores
da cultura, permitindo que crianças, jovens, adultos
e idosos dialoguem com as produções de seus
antepassados e de pessoas de outras culturas, e
proponham suas próprias maneiras de interpretar o
mundo e a si mesmos. Podem também estimular os
estudantes a se envolverem em processos individuais
e coletivos de fruição e criação.

DICA Ir^
Se você se interessou pelas idéias de Vygotsky, asquais L_-,
L
eu apenas anunciei neste contexto, consulte a obra já
citada, lmaginacion y Arte en la lnfância (Vygotsky, 1987), e
Psicologia Pedagogica (Vygotsky, 2001), além de Á Construção
Social da Mente e Pensamento e Linguagem, que constam das
Referências Bibliográficas.

Em seguida, vamos estudar a teoria de Henri Wallon


sobre o desenvolvimento psicologico.

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