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Aprendizagem reflexiva:
relação com o nível de
desenvolvimento lógico e a
metodologia de instrução *
1. Introdução
* Este trabalho constitui a parte empírica de tese apresentada como requisito ao título de
mestre em educação na Faculdade de Educação da UFMG.
1.1 Hipóteses
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wn processo de busca sistemática de resposta às suas perguntas e, com base em
suas necessidades e aspirações, tem ele formulado novos problemas. O trabalho
científico é, portanto, caracterizado pela adoção de wna atitude científica e pelo
desenvolvimento de wn modo de condução do pensamento.
A atitude científica é wn modo de pensar, sentir e considerar os fatos da
ciência, de tal forma que o indivíduo compreenda os resultados científicos como
tentativas, percebendo sua realização com humildade; utilize o fracasso como
incentivo à busca de novas respostas; mantenha a objetividade necessária ao tra-
balho científico; tenha curiosidade pelos acontecimentos da vida diária, interes-
sando-se pela relação entre eles; baseie suas conclusões em evidências empiri-
camente comprovadas; apresente receptividade aos fatos novos, mesmo quando
eles venham de encontro às suas convicções.
O desenvolvimento de wn método científico de condução do pensamento é o
processo que nós tem preocupado e que pretendemos alcançar por meio da apren-
dizagem reflexiva. Constituindo objetivo dos vários níveis da educação formal,
especialmente do nível universitário, esse processo não é, obviamente, pré-
formado no organismo humano, nem é mera conseqüência de ensino mediante
este ou aquele método; na verdade, ele resulta da interação de variáveis do apren-
diz, da situação de ensino e do próprio instrutor.
Além disso, a aprendizagem reflexiva está ligada ao aspecto operativo das
atividades cognitivas, que se réfere às características dinâmicas do conhecimento,
ao agir sobre objetos e fatos, construindo-os e reconstruindo-os; não significa
contemplação passiva, mas sim atividade de pensamento lógico, transformação
desses objetos e acontecimentos, ao invés de configurações estáticas dessa transfor-
mação.
A aprendizagl;lm reflexiva é alcançável a partir do momento em que o desen-
volvimento operativo atingiu certo nível e, por outro lado, o desenvolvimento é
facilitado quando se conduz a aprendizagem por intermédio de métodos ade-
quados de instrução.
Pretendemos desenvolver wna pesquisa destinada a propor respostas aos
seguintes problemas:
Aprendizagem reflexiva 5
1. Há significativa diferença entre resultados de aprendizagem reflexiva de indi-
víduos submetidos a três métodos de ensino de ciências: ativo, intuitivo e misto.
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2.2 Método ativo
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providenciar um filme, uma observação, excursão, experimento ou notícia de
jornal que suscitem novos problemas, de interesse para os alunos.
Nessa técnica, o papel do professor é estimular os aprendizes e orientá-los
para:
a) isolar e definir o problema;
b) formular hipóteses para solucionar o problema;
c) selecionar a hipótese mais plausível;
d) planejar o teste da hipótese, quer seja mediante raciocínio e comparação com
outros dados, quer seja experimentalmente;
e) verificar a validade da hipótese testada - caso ela resista às tentativas de
refutação, propor novos experimentos; caso ela não resista às tentativas de com-
provação, proceder à seleção de nova hipótese;
f) chegar às conclusões;
g) utilizar as conclusões encontradas em situações novas.
Mesmo quando o professor perceber que a hipótese sugerida pelo aprendiz
não é correta, deve proceder ao teste.
3. Técnica de experimentação: é o recurso didático pelo qual, sob orientação do
professor, os alunos, individualmente ou em pequenos grupos, planejam, executam
e avaliam um experimento, sobre assunto relacionado ao seu programa de estudo.
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com crescente ênfase, e constituem um progresso em relação aos processos pura-
mente verbais ou formais de ensino.
Os métodos intuitivos supõem uma percepção, pelo aprendiz, da informação
que lhe é fornecida através da estimulação dos órgãos dos sentidos. A atividade do .
aprendiz não é, aqui, enfatizada, sendo substituída, nesse caso, pela utilização de
recursos destinados a prover perceptos e imagens mentais.
Utilizando o método intuitivo no ensino de ciências, deve-se observar o
seguinte:
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considerou três tipos de funções: as da representação, as da afetividade e as do
conhecimento. As funções de representação incluem todas as formas simbólicas
por meio das quais o homem representa a realidade, as experiências que vive. As
da afetividade referem-se a sentimentos e emoções; incluem as raízes do julga-
mento moral e os motivos capazes de dinamizar o trabalho mental, a aprendi-
zagem ou condutas específicas. As de conhecimento, por sua vez, incluem o
desenvolvimento do pensamento lógico e a organização da realidade. A variável da
qual nos ocuparemos é exatamente o desenvolvimento do pensamento lógico. Não
que consideremos possível isolá-lo dos demais aspectos da vida psíqlÚca; é que,
para efeito de melhor análise de sua interferência na aprendizagem, vamos con-
siderá-lo mais especificamente.
Para Piaget, a habilidade de pensar logicamente não está pré-formada no
psiquismo humano, nem se forma a partir exclusivamente da experiência dirigida
pelo adulto. Durante toda a infância, a lógica se desenvolve. A tese piagetiana,
considerada de natureza construtivista, isto é, sem pré-formação, admite que o
raciocínio lógico, não tendo origem endógena (explicação por inatismo) nem
exógena (empirista), desenvolve-se continuamente por elaborações sucessivas.
Assim, o autor admite que: a) a maturação nunca aparece independente de certo
exercício funcional, no qual a experiência desempenha seu papel; b) a maturação
do sistema nervoso sobre uma série de possibilidades, a partir das quais se atuali-
zarão algumas condutas; mas essa atualização supõe certas condições de experiên-
cia física (manipulação de objetos etc.) e condições sociais (troca de informações
etc.), as quais determinarão o acabamento daquilo que a maturação toma apenas
possível. O pensamento lógico é o coroamento do desenvolvimento pSíqlÚCO e
resulta de uma construção ativa e de um relacionamento com o mundo exterior.
Diz-se, geralmente, que ele é um instrumento essencial da adaptação psíquica ao
mundo exterior.
O desenvolvimento lógico se faz numa cadeia ininterrupta de ações: primeiro,
ações sensomotoras, depois objetivo-simbólicas e, finalmente, desemboca nas ope-
rações lógicas do pensamento. Observa-se que o pensamento lógico se desenvolve
desde as primeiras manifestações da vida psíquica, e as etapas evolutivas que
atravessa constituem os diversos níveis de desenvolvimento lógico.
Embora esse desenvolvimento seja concebido como um processo contínuo de
organização da estrutura, os resultados desse processo são qualitativamente dife-
rentes. Por isto, Piaget dividiu o curso total do desenvolvimento lógico em estádios
e períodos. Cada um desses cortes transversais é descrito em termos do comporta-
mento característico do sujeito na época; entretanto, muitos comportamentos
anteriormente dominados coexistirão com os mais complexos. Neste trabalho, o
nível de desenvolvimento lógico do aprendiz é o padrão de realização evidenciado
por ele num teste destinado a avaliar sua capacidadl! de pensar logicamente.
O Raven's Test of Logical Operations (RTLO) é um instrumento destinado a
medir as operações lógicas descritas por Piaget por meio de problemas objetivos,
sob forma pictórica e seguidos de uma questão verbal. Esse instrumento compõe-
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se de 42 questões divididas em grupos de seis, cada grupo destinado à medida de
uma operação particular. Ronald Raven, o autor do teste, acredita haver uma
hierarquia entre essas operações e, de acordo com tal hierarquia, foram as mesmas
dispostas no teste.
o amplo sentido atribuído ao termo pensamento científico torna difícil seu trata-
mento em pesquisa como esta. Alguns autores têm usado a expressão como sinô-
nimo de pensamento reflexivo, pensamento crítico e resolução de problemas.
Outros, como Dewey, definem pensamento reflexivo como termo maior, compa-
rável apenas à resolução de problemas. A definição de Dewey, embora excessi-
vamente ampla, ajuda a caracterizar o campo sobre o qual nos deteremos, ou seja,
a busca reflexiva e crítica das conclusões que resolvem nossos problemas e dúvi-
das, permitindo-nos inferir enunciados de ciência, filosofia e política.
Em sentido estrito, o produto comportamental pretendido por nós ao final da
instrução será denominado aprendizagem reflexiva. Assim como o produto de
aprendizagem sobre o qual Skinner focou sua atenção é a resposta operante, o
enfatizado pela Gestalt é o insight, também nosso ênfase recai sobre a aprendi-
zagem reflexiva. Acredita-se que outras mudanças comportamentais, resultantes
ou não da instrução escolar, possam oferecer subsídios ao tipo de aprendizagem
que é objeto de nosso interesse. Detemo-nos nele porque nossa experiência de
magistério, especialmente em nível superior, leva-nos a indicá-lo como o mais
significativo produto do ensino.
A aprendizagem reflexiva dota o aprendiz de conhecimentos elaborados por
ele mesmo, instrumentalizando-o para o desenvolvimento e a resolução de pro-
blemas dentro e fora da situação escolar. O domínio da forma de se resolverem
problemas de acordo com os princípios da reflexão científica é, em nosso enten-
der, o mais útil instrumento que pode possuir qualquer profissional, pois facilita-
lhe comportamentos mais inteligentes.
Quando ocorre a aprendizagem reflexiva, o pensamento do aprendiz volta-se
sobre si mesmo, realizando cuidadoso e crítico exame de uma idéia ou de um fato,
à luz da comparável evidência que o sustenta e das conseqüências ulteriores às
quais eles conduzem. No processo reflexivo, fatos e generalizações são deti-
damente examinados, podendo conduzir a novas conclusões. O comportamento
evidenciado pelo aprendiz, em tais situações, é essencialmente ativo, tendo ele de
enfrentar uma situação problemática pouco clara, na qual centra seu pensamento
de investigação. Mais que qualquer outra, a aprendizagem reflexiva requer capaci-
dade crítica ante o pensamento convencional, além de imaginação e criatividade.
Da complexidade da aprendizagem reflexiva e das condições às quais ela está
associada, depreende-se ser ela congruente com os requisitos da conduta inte-
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ligente e. portanto. ~om níveis mais elevados de desenvolvimento lógi~o. por-
quanto implka. ~omo estes. um ~olllportal11ento ativo. exploratório. original.
Na interpretaç:io que neste trabalho damos à aprendizagem retlexiva. ela se
expli~a ~omo a ~apacidade adquirida por um sujeito para lidar com hipóteses. quer
mediante pro~edimento lógi~o con~reto (~om am<Ílio de objetos). quer mediante
procedimento lógi~o abstrato (com base em proposiçôes verbais). Isso significa
que. dominando a aprendizagem retlexiva. o aprendiz:
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d) enuncia verbalmente as relações percebidas, sob a forma de hipóteses;
e) dentre as hipóteses formuladas seleciona a mais plausível.
5. Organiza e registra os dados obtidos, ou seja, faz sumários dos dados, organi-
zando gráficos, esquemas e outros recursos.
A variável nível de desenvolvimento lógico foi medida neste trabalho pelo Raven's
Test of Logical Operations (RTLO). O RTLO mede o desenvolvimento cognitivo
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nos estádios pré-operacional, operacional concreto e operacional formal. As ope-
rações lógicas descritas pelo psicólogo suíço Piaget são avaliadas, neste teste,
mediante o uso de uma técnica diferente. Enquanto Piaget utiliza uma técnica
conhecida como método clínico e seus métodos não são estandardizados,
Raven (62) organizou um teste composto de questões objetivas para avaliar as
operações lógicas.
O RTLO foi elaborado para atender ao objetivo de diagnose das operações
lógicas de Piaget. Cada um dos grupos de seis questões destina-se ao diagnóstico de
uma operação lógica específica. Neste trabalho, o teste foi utilizado para determi-
nar o nível do desenvolvimento lógico do aprendiz, e para isso usou-se o escore
total. Essa finalidade, embora legítima, não coincide com o objetivo para o qual o
instrumento foi elaborado.
A forma geral dos itens do RTLO consiste na apresentação de um problema
em forma pictórica, seguido de uma questão, em forma verbal. Apresentam-se, em
seguida, também em forma pictórica, três possíveis respostas à questão. O con-
teúdo dos itens usa figuras geométricas, flores, árvores etc. A solução exige do
examinando discriminações de tamanho, forma e/ou cor.
As operações lógicas medidas pelo teste foram identificadas numa análise de
duas obras de Piaget e lnhelder: Growth of logical thinking e Early growth of logic
in child. As operações lógicas avaliadas pelo RTLO pertencem a sete grupos:
classificação, seriação, multiplicação lógica, compensação, proporção, probabili-
dade e correlação. Cada uma das citadas operações foi definida comportalmen-
te e foi elaborado um modelo de item destinado a avaliá-la. Em seguida, um
mínimo de cinco crianças foi submetido individualmente ao item, para assegurar
sua qualidade. Procedeu-se, então, a uma série de revisões, até que as respostas
verbais das crianças indicassem que o item estava provocando os comportamentos
desejados.
O tipo de item de teste é determinado pelo tipo de operação lógica. Os itens
de classificação apresentam uma série de objetos, agrupados segundo determinado
critério. Nos agrupamentos seguintes, deve o examinando selecionar aquele que é
feito de acordo com um critério diferente do original. Os itens de seriação apresen-
tam conjuntos incompletos de objetos, organizados de acordo com a cor, tamanho
ou forma. O examinando deve completar tais conjuntos pela colocação de um
objeto, retirado dentre vários objetos possíveis. Às vezes, duas propriedades são
usadas para determinar a resposta correta.
Os itens de multiplicação lógica usam matrizes 2x2 ou 4x4. Os objetos, dis-
postos numa seqüência de celas, apresentam uma mudança ordenada em tamanho,
forma, posição. As mudanças podem ser relativas a uma dessas variáveis, a duas
delas ou a três. O examinando deve selecionar, entre as que lhe são apresentadas, a
cela que contém o objeto que deveria estar num ponto de interseção das celas
apresentadas, ou seja, qual seria a combinação seguinte das mudanças de duas ou
três variáveis.
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Os itens de compensação usam dois tipos de problemas: o primeiro consiste
em solicitar ao examinando que mantenha o equilfbrio de uma alavanca, manipu-
lando pesos colocados sobre ela; o segundo usa duas conchas de peixes, ligadas por
um tubo. O examinando deve igualar a quantidade de peixes nas duas conchas,
manipulando temperatura e/ou alimento. Para isso, ele seleciona a resposta correta
entre várias que lhe são apresentadas.
Os itens relativos ao pensamento proporcional reúnem dois grupos de figuras,
qllC mostram mudanças quantitativas (a velocidade de dois carros, por exemplo)
que ocorrem durante certo perfodo. O examinando é solicitado a determinar em
qual dos grupos de figuras a mudança quantitativa é maior, ou se ela é a mesma em
ambos os grupos.
Os itens referentes a probabilidades apresentam vários grupos de objetos que
diferem em tamanho, cor ou forma. O examinando deve identificar o tipo de
objeto que tem maior chance de ser apanhado, caso tivesse de retirá-los de uma
sacola, sem olhar.
Os itens de correlação apresentam desenhos diferentes entre si pelo tamanho,
cor ou forma. Inicialmente, o examinando deve anotar o número de objetos de
desenhos semelhantes. Em seguida, deve procurar uma regra, que descreva a rela-
ção ilustrada pela matriz; depois, indicará as figuras que devem ser retiradas para
melhor ilustrar a regra.
A padronização do RTLO foi feita com uma amostra de 424 sujeitos, alunos
da 3. a , 5. a , 7. a e 9. a séries da Salamanca School District, em Salamanca, Nova
Iorque. As classes foram selecionadas randomicamente para o estudo. A idade
médica em cada uma das séries citadas foi 106, 129, 153 e 175 meses, respecti-
vamente. A aplicação do teste foi feita durante três dias consecutivos, cobrindo,
no total, um perfodo de 135 minutos. O escore médio obtido pelos estudantes
durante o processo de avaliação foi 35,4 pontos, com erro padrão de 0,37.
A análise estatística do teste procurou avaliar sua fidedignidade pelo método
de análise de variância de Hoyt, estimativa de fidedignidade bastante estável, que
produz resultados idênticos à formulação Kuder-Richardson. Tal método foi utili-
zado porque não era possível o uso de formas equivalentes do teste, e o teste-
reteste também não seria viável. O coeficiente de fidedignidade encontrado foi 79
e o erro padrão para o instrumento foi 3,4.
A validade do RTLO foi verificada por meio de dois métodos:
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3.2 Medida da aprendizagem reflexiva
A variável aprendizagem refleXiva foi medida por uma prova objetiva, denominada
prova de aprendizagem reflexiva, constituída de 30 questões e versando sobre o
conteúdo da unidade "Além do sistema solar", estudada durante a fase experimen-
tal.
O modelo adotado na construção desse instrumento visa à máxima objetivi-
dade, preocupando-se mais com a dinâmica do pensamento do que com o con-
teúdo de ciências.
As 30 questões que compuseram a prova de aprendizagem reflexiva foram
agrupadas em conjuntos de três questões, versando cada conjunto sobre uma
subunidade do conteúdo. Como se pode verificar, atribuímos igual importância a
todas as subunidades estudadas, atribuindo a cada uma a mesma quantidade de
itens e a mesma valoração.
Em cada conjunto de três questões relativas a uma subunidade, cada item
avaliava um objetivo correspondente a uma das seguintes fases da aprendizagem
reflexiva: reconhecer e definir problemas, formular hipóteses a partir de fatos,
deduzir fatos de hipóteses, testar hipóteses e tirar conclusões. Todos os 10 conjun-
tos avaliavam, por meio de uma ou duas de suas questões, o segundo ou terceiro
destes objetivos; essa saturação de itens sobre tais objetivos evidencia a importân-
cia que atribuímos aos mesmos no âmbito da aprendizagem reflexiva. Todas as
questões tiveram o mesmo valor, isto é, um ponto.
A prova de aprendizagem reflexiva foi composta de itens objetivos dos seguin-
tes tipos: resposta curta, múltipla escolha e verdadeiro-falso.
A forma definitiva da prova de aprendizagem reflexiva foi submetida a dois
pré-testes: o primeiro, composto de 39 questões, ou 13 conjuntos de três questões,
foi aplicado individualmente a cinco crianças da mesma faixa etária da amostra
desta pesquisa, alunas de outros estabelecimentos de ensino. Desse pré-teste foram
eliminadas seis questões. Ao segundo pré-teste foi submetida uma amostra de 20
alunos do IEMG, da mesma idade e escolaridade da amostra. Após responder as
questões, eles comentavam com as elaboradoras da prova: como compreenderam
as instruções, quais os itens que exigiam conhecimento específico do conteúdo e
outras dificuldades encontradas. Depurada dos itens tendenciosos, a prova de
aprendizagem reflexiva passou a contar com 30 questões, ou seja, 10 grupos de
três questões.
A validade da prova de aprendizagem reflexiva foi testada segundo dois mode-
los: o primeiro, a validade de conteúdo, mediante a avaliação de seis especialistas,
sendo três professores de ciências físicas e biológicas na escola de 1.0 grau, um
especialista em avaliação e dois em metodologia das ciências naturais, tendo-se
obtido 100% de acordo entre eles de que ela media os objetivos que se propunha
medir. O segundo critério foi o da validade preditiva, em que se empregou como
variável-critério os resultados de uma amostra de 22 alunos no RTlD, obtendo-se
umr = 0,69.
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A fidedignidade do instrumento foi verificada pelo método das metades,
sendo o seguinte o resultado: f == 0,67, o que atesta um índice significativo de
correlação entre os resultados das duas frações do teste.
4. Caracterização da amostra
A amostra desta pesquisa foi constituída de 112 alunos da 7.a série do Instituto de
EducaÇão de Minas Gerais durante o segundo semestre de 1975. Selecionamos,
dentre as sete turmas de 7. a série existentes, três que foram mais semelhantes
entre si. Na seleção dessas turmas, foram controladas as seguintes variáveis: nível
mental, rendimento em ciências físicas e biológicas durante o primeiro semestre,
notas de promoção da 6.a para a 7. a série em ciências, idade e nível socioeconô-
mico.
O nível mental foi medido pelo teste INV, aplicado a toda a amostra meses
antes da fase experimental. Os resultados mostraram equivalência entre as três
turmas; na turma A, os resultados oscilaram entre P60 e P> 90, com dois resul-
tados discrepantes: um P 35 e um P26 ; na turma B, os resultados oscilaram entre
Pso e P>90 com apenas um resultado P40 ; na turma C, os resultados oscilaram
entreP55 eP>90.
O rendimento em ciências físicas e biológicas durante o primeiro semestre de
1975 foi considerado a variável mais significativa, quer por tratar-se de um resul-
tado recente e relacionado ao tema a ser estudado, quer por terem as notas sido
atribuídas pelo mesmo professor em todas as turmas que constituem a amostra.
Por este motivo procedemos ao estudo da significância da diferença entre as
médias não-correlacionadas, para testar a equivalência das turmas.
A comparação entre as turmas por intermédio do teste t de Student demons-
trou não ser significante a diferença entre as médias.
No tocante à idade, avaliada em meses por ocasião do início das atividades, o
resultado foi o seguinte: na turma A, a média foi 170,6 meses, ou seja, 14 anos e
2,4 meses; na turmaB, a média foi 171 meses ou 14 anos e 3 meses, e na turma C,
a média foi 166,5 meses, isto é, 13 anos e 9,6 meses. Observa-se, pois, uma grande
semelhança entre as médias de idades das subamostras.
Quanto ao nível socioeconômico, verificou-se também que as turmas são
equiparáveis. O Instituto de Educação é um estabelecimento oficial de ensino e os
critérios de admissão de alunos estão relacionados a esta variável; as vagas existen-
tes são assim distribuídas: 60% para alunos carentes, 20% para filhos de funcio-
nários do estabelecimento e as restantes são sorteadas entre candidatos da comuni-
dade.
A variável sexo escapou ao nosso controle; tendo o Instituto de Educação de
Minas Gerais uma clientela dominante feminina, nossa amostra contou com apenas
11 elementos do sexo masculino, o que n!'o nos parece significativo.
Aprendizagem reflexiva 17
A amostra total envolveu 112 observações, tendo as subamostras 37, 38 e 37
alunos, respectivamente. Quinze dias antes do início da fase experimental foram
todos os elementos da amostra submetidos à primeira aplicação do RTLO. A fim
de assegurar a aleatoriedade, sortearam-se 30 elementos de cada turma, compondo
uma amostra de 90 elementos.
A análise dos resultados de nível de logicização (teste RTLO) das três
subamostras de 30 sujeitos, antes dos tratamentos experimentais, revelou que os
grupos estavam equiparados quanto à variável de maior relevância para a pesquisa.
O teste das diferenças de médias t de Student, aplicado para o confronto das
três combinações, revelou que o resultado obtido é inferior ao valor crítico espe-
rado. Logo, conclui-se que não há diferença significativa entre as médias de desen-
volvimento lógico das três sub unidades antes dos tratamentos.
Ao nível de significância de 0,01, com 29 gl, o t o: esperado é 2,76; e. tendo-se
obtido o t 0,05, tanto para a relação A e B quanto A e C e sendo as médias de B e
C iguais, conclui-se, pois, que não há diferença significativa entre as médias de
desenvolvimento das três subamostras antes dos tratamentos experimentais.
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o período experimental transcorreu durante os meses de setembro, outubro e
novembro. Semanalmente, cada uma das turmas teve duas aulas, intercaladas,
sendo o módulo-aula de 50 minutos. Vale dizer que o experimento totalizou 40
horas-aula.
O trabalho docente foi executado pela mesma professora nas três turmas. Na
fase experimental, a professora foi assessorada por uma equipe do Cecimig, que a
auxiliava no planejamento e execução de atividades. As unidades e subunidades
abordadas também fora idênticas para as três turmas, variando, apenas, a metodo-
logia de ensino. Para cada subunidade foi feito um planejamento específico.
Ao final do período de instrução, os alunos foram submetidos a uma prova
objetiva, destinada a avaliar o conhecimento adquirido durante o curso e a dinâ-
mica da aprendizagem reflexiva. No dia seguinte ao da realização da prova, foram
os alunos submetidos ao pós-teste do RTLO.
6. Resultados
Tabela I
Resultados do Teste Raven de Operações Lógicas (RTLO)
e da prova de aprendizagem reflexiva (PAR) da amostra de 90 alunos
da 7. a série do IEMG
RTLO
PAR
Turmas Antes Depois
X
1 s X
I s X
l s
A 23,03 3,27 28,90 4,30 33,97 3,63
B 22,37 3,08 29,32 4,20 33,31 3,72
C 19,73 2,58 29,32 3,90 28,38 4,06
Aprendizagem reflexiva 19
Tabela 2
Análise da variância da aprendizagem reflexiva em condições
experimentais de métodos diferenciais de instrução
Modelo fatorial de blocos randornizados
Total 1.012,489 89
Tabela 3
Resultados médios da aprendizagem reflexiva dos blocos
organizados segundo o RTLO
Tabela 4
Comparações múltiplas da aprendizagem reflexiva como resultado
de métodos experimentais de instrução
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tados desses dois últimos métodos, ativo e misto, não é significante, o que leva à
conclusão de que a habituação dos alunos ao método intuitivo funcionou como
adaptação ao método inovador - método ativo. A experiência ocorreu durante
três meses; é provável que em períodos maiores de ensino mediante método ativo,
sua superioridade sobre o método misto seja manifestada.
Essa conclusão, relativa à superioridade do método de descoberta, é coerente
com o ponto de vista piagetiano, que realça os métodos ativos, em detrimento dos
intuitivos.
Por outro lado, em nossa pesquisa, a significância do quadrado médio da
variável nível de logicização revela que as médias em aprendizagem reflexiva das
subamostras de níveis alto e baixo de desenvolvimento lógico diferem significan-
temente nos três métodos. O exame desses dois níveis revela que é superior o
resultado em aprendizagem reflexiva da subamostra com nível alto de desenvol-
vimento lógico: X = 23,84, enquanto o grupo de nível baixo tem X = 19,57 (tabe-
la 3). Confrontando esse resultado com a variância devida a blocos na tabela 2,
vamos verificar que a variância explicada pelo desenvolvimento lógico é significati-
vamente maior do que a variância explicada pelos efeitos principais. Vale dizer
que, para melhores resultados em aprendizagem reflexiva, influi mais o desenvol-
vimento lógico que o método.
A análise da interação entre níveis de desenvolvimento lógico e métodos de
instrução revelou não ser significante. Portanto, a diferença de médias devida ao
efeito dos métodos não é dependente do nível de desenvolvimento lógico. Refu-
tam-se, pois, as sub-hipóteses 2.2 e 2.3. O fenômeno pode ser melhor observado
no diagrama da interação entre métodos de ensino e desenvolvimento lógico do
aprendiz, na figura 1.
O paralelismo das linhas, dentro dos limites da amostragem aleatória, eviden-
cia a não-interação, principalmente se levarmos em conta a comparação entre os
métodos ativo e intuitivo. O diagrama salienta a propriedade simétrica da inte-
ração, o que leva a concluir que a forma de interação entre métodos e nível de
desenvolvimento lógico é idêntica à forma de interação entre nível de desenvol-
vimento lógico e métodos. Portanto, a significativa diferença em resultados de
aprendizagem reflexiva nas subamostras submetidas aos três métodos é indepen-
dente do nível de desenvolvimento lógico, como também a significativa diferença
entre os resultados de aprendizagem reflexiva nos dois níveis de desenvolvimento
lógico é independente dos métodos de instrução. Deve-se levar em conta, entre-
tanto, que a amostra com a qual trabalhamos era constituída de indivíduos nos
quais já se havia instalado o estádio operacional. Trabalhando com constructo
universal de inteligência, diverso, portanto, do que utilizamos, Babikian (4) com
estudantes de 8.a série, chegou a conclusões análogas às nossas, ao verificar que
estudantes de QI mais elevado mostravam realização superior à dos estudantes de
QI mais baixo, independentemente do método de ensino. Levanta-se a hipótese de
que com amostras heterogêneas quanto à maturação das estruturas lógicas, a inte-
ração nível de desenvolvimento lógico-métodos de ensino possa ser comprovada.
Aprendizagem reflexiva 21
Figura I
Diagrama da interação entre métodos de instrução e
desenvolvimento lógico
, Aprendizagem reflexiva
Misto
Ativo
Intuitivo
OIL---------M-t-o----------------------------------~Bux~·-O--------~
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A quarta hipótese desta pesquisa pretendeu verificar a afirmação piagetiana
de que os métodos de ensino influem significantemente sobre o desenvolvimento
lógico. Neste caso, a variável dependente foi o desenvolvimento lógico do apren-
diz, avaliado pelo RILO, e a variável independente os métodos de ensino de
ciências. A verificação dessa hipótese foi realizada pela análise de covariância.
Inicialmente, os supostos básicos para a aplicação do modelo escolhido para
testar a covariância devem ser evidenciados:
Figura 2
Diagrama da regressão da primeira e segunda aplicações do RILO
40
Ativo b,
35
Intuitivo b,
0L---'I-8---2rO---2~2----2r4---2T6---2r8---'30----3r2---'~----3r6---3~8------------
Aprendizagem reflexiva 23
linhas evidencia a variação concomitante - o aumento da variável x, seguido do
aumento da variável y. A linearidade das três subamostras está evidente, assim
como a aditividade, assegurada, ainda, pelo quase paralelismo das linhas. Fica
evidenciado que, para cada grupo submetido a um tratamento experimental, os
pontos alcançados pelos alunos agruparam-se em linhas relativamente paralelas,
não apresentando diferenças de inclinação. O coeficiente beta de regressão de X
sobre Y constitui indicador da inclinação das linhas. As somas dos quadrados para
os coeficientes são: SI = 762,792;S2 = 766,283 e S3 = 3,4914. O teste de signifi-
cância da diferença na linearidade, através dos coeficientes de regressão evidenciou
um F = 0,19, não significante, tendo em vista um F 0,01 crítico a 2 gl = 4,88.
Logo, confirma-se o suposto de que há aditividade dos efeitos dos tratamentos
experimentais.
Verificados os supostos básicos, a fim de comprovar a diferença entre as
médias dos tratamentos, procedemos à análise de covariância, cujos resultados
estão sumarizados nas tabelas 5 e 6.
Tabela 5
Análise da covariância do RTLO antes e depois - soma dos
quadrados e dos produtos
Fonte x2 y2 xy
Tabela 6
Sumário da análise de covariância do RTLO
antes e depois dos tratamentos
Total 1.357,6370 88
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oF encontrado, da ordem de 33,1848, é maior que o F crítico, e, com a
chance de erro de I %, pode-se concluir que houve diferença no incremento do
desenvolvimento lógico de indivíduos submetidos a métodos de ensino diferentes.
Fica, assim, confirmada a hipótese 4, que centraliza a teoria de aprendizagem de
Piaget, segundo a qual a metodologia de ensino pode facilitar o desenvolvimento
lógico. É oportuno lembrar que o interstício de tempo não pode justificar, por si
só, o incremento do desenvolvimento lógico.
Urna vez verificado que há variação no incremento do desenvolvimento lógico
sob efeito de métodos diferentes de ensino, resta verificar sob qual dos métodos
ou combinação de métodos ocorre maior incremento. A sub-hipótese 4.l foi,
assim, verificada por intermédio do teste t de Student da diferença de médias
correlacionadas. A tabela 7 sumariza os resultados do contraste das médias.
Tabela 7
Diferença entre médias correlacionadas: RTLO antes e depois em
si.lbamostras submetidas a diferentes métodos experimentais de instrução
o t obtido sob método ativo foi 4,91, superior ao valor crítico 2,76, donde se
conclui que o desempenho em desenvolvimento lógico difere significante mente
antes e depois da instrução pelo método ativo. Também a subamostra submetida
ao método misto apresentou um t = 4,02, significativo, com possibilidade de erro
igual ou inferior a 1%, indicando incremento do desenvolvimento lógico também
sob esse método. Examinando a diferença entre as médias de desenvolvimento
lógico antes e depois da subamostra cuja instrução foi feita pelo método intuitivo,
verificou-se um t de -1,86, inferior, portanto, aO t crítico, o que leva a aceitar a
hipótese de nulidade de que não houve, nesta subamostra, a diferença de desenvol-
vimento lógico antes e depois dos tratamentos experimentais.
Conclui-se, pois, que o desenvolvimento lógico sofre maior incremento sob
influência do método ativo de instrução; confirma-se, assim, mais particularmente,
a teoria piagetiana, segundo a qual o ensino pode facilitar o desenvolvimento
lógico do aprendiz. Essas diferenças significativas entre médias de desenvolvimento
lógico antes e depois dos tratamentos não poderiam ser explicadas apenas por
Aprendizagem reflexiva 25
efeito da maturação, segunda variável coadjuvante no modelo piagetiano, porque a
subamostra de controle, com as mesmas características de idade, escolaridade,
sexo, nível socioeconômico, nível mental, não apresentou incremento significativo
em desenvolvimento lógico.
7. Conclusões
26 A.B.P.3/79
mento das operações lógicas. Em outras palavras: o desenvolvimento lógico seria
uma condição para a aprendizagem, e a adequada estruturação desta iria prover o
desenvolvimento das estruturas lógicas.
Résumé
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