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A Doutrina Secreta da Kabbalah – Parte 6

Fundamentos Teóricos

A Doutrina Hebraica Secreta do Filho

Os Textos Kabbalísticos
No fim do século XII, a tradição esotérica, cujos textos e interpretações orais
tinham sido transmitidos secretamente por séculos, emergiu quase
simultaneamente em círculos de Hassidim Ashkenazi da Alemanha e de kabbalistas
da Provença.
Joseph Dan mostrou como esses desenvolvimentos esotéricos do século XII
baseavam-se nos textos Merkabah que acabamos de mencionar:
De forma definitiva, não pode haver dúvida de que os místicos judeus na Europa
medieval eram de fato os seguidores e reveladores das antigas tradições.
Uma das características mais significativas do misticismo Ashkenazi Hassídico é a
redescoberta e revitalização das antigas fontes místicas judaicas, os Hechalot e o
misticismo Merkabah do período talmúdico (...) Os Hassidim Ashkenazi adaptaram
o mito do Shiur Komah e fizeram-no central em sua concepção do mundo divino; a
figura descrita é divina, apesar de não ser o Deus supremo (...) Nesse caso, ao
menos a afirmação de que eles seguiam e revelaram segredos tradicionais antigos
parece ser inteiramente correta (...) Uma situação similar, se bem que não
idêntica, pode ser encontrada na Kabbalah primitiva. O Sefer ha-Bahir e outros
trabalhos kabbalísticos primitivos adotaram o antropomorfismo do Shiur Komah na
apresentação da cabeça de Deus (...) combinada pelos kabbalistas com outro
conjunto de símbolos, o das dez emanações divinas (as sefirot) (...)
Entretanto, é certo que os dois mais importantes [os textos Hechalot] para eles [os
Hassidim Ashkenazi] eram o Shiur Komah e o Sefer Hechalot (3 Enoch, ou o Livro
Hebreu de Enoch).

[Nessa discussão, Dan parece apoiar a probabilidade da transmissão secreta das


tradições esotéricas, particularmente com respeito à família Kalonymus, de quem
se diz terem transportado uma antiga tradição esotérica oriental da Itália para a
Alemanha no século IX, o que é aceito pelos estudiosos em geral.
Ele discute inclusive uma cerimônia usada para tal transmissão:
"Essa cerimônia reflete indubitavelmente uma velha tradição de transmissão de
segredos de geração para geração, e era provavelmente praticada pela família
Kalonymus" (pp.27-28). Mas Dan também questionou a linha de continuidade
direta que Scholem traçou entre o misticismo Merkabah e o misticismo medieval;
de fato, como no primeiro volume deste trabalho sobre a antiguidade recente,
parecendo negar o significado das fontes enochianas e bíblicas dos textos Merkabah
dos tempos talmudicos:
"Os judeus europeus místicos da Idade Média tardia confiavam nos textos extáticos
dos místicos judeus da Antiguidade, que floresceram no período talmúdico (...)
mesmo os místicos e esotéricos da Idade Média não podem ser considerados como
os continuadores da antiga escola dos místicos judeus. Eles representam um novo
começo e um vazio de muitos séculos no qual o misticismo foi quase
completamente ausente da cultura judaica.
Poderíamos dizer que o misticismo judaico foi inventado duas vezes — uma na
Antiguidade e outra na Idade Média. Mas "invenções" que repousam em textos
místicos antigos implicam alguma forma necessária de transmissão textual em
épocas anteriores de quando foram impressos livros e montadas bibliotecas
esotéricas. Esses textos deveriam ser copiados e transmitidos de professor para
discípulo ao longo de séculos para que tivessem sobrevivido. Vimos que uma fonte
de tal transmissão, genericamente aceita pelos estudiosos modernos, foi aquela da
família Kalonymus. E, no século XII, o escritor mais proeminente dessa família,
Rabbi Eleazar de Worms, na introdução de seu primeiro trabalho esotérico, o Sefer
ha-Chokhmah, teve necessidade de oferecer "uma apologia para a documentação
escrita dos ensinamentos esotéricos" (p.138).
Assim, sua prévia transmissão oral, em parte como interpretações de textos
antigos, como o Sefer Yetzirah, secretamente divulgados com esses ensinamentos
orais, é a única explicação razoável para a confiança desses ensinamentos em
textos antigos.
Mas Dan se recusa a aceitar essa lógica sem a prova histórica dos textos que a
tradição esotérica nega que tenham sido previamente escritos e que, ele admite,
devem ter perecido por essa razão: "Não pode haver dúvida de que muitos
segredos não chegaram até nós porque nunca foram escritos" (p.28).
Portanto, ele freqüentemente sente-se em dúvida.
Um exemplo é a aparição "do termo havayot (...) em uma posição central nos
trabalhos de dois escritores místicos do começo do século XIII que não se
conheciam — Rabbi Eleazar de Worms e Rabbi Isaac ben Abraham, 'o cego' de
Provença.
Ambos usaram-na no contexto dos comentários sobre o Sefer Yetzirah (...) o que
poderia ser explicado pela existência de uma fonte comum, mas essa fonte (...) não
pode ser identificada" (pp. 142-43).
A inabilidade de Dan para explicar suas próprias evidências em termos de sua
metodologia estritamente histórica indicaria a inadequação do referido método para
explicar a história freqüentemente oculta do misticismo judaico.]

Ambas as formas de tradição mística judaica que surgiram no século XII eram
igualmente derivadas de textos Hechalot-Merkabah específicos que foram os
transmissores primordiais da doutrina secreta sacerdotal divulgada pela primeira
vez, criptograficamente, em textos do período do Segundo Templo, como Ezequiel,
Daniel e 1 Enoch.
Porém, como afirma Dan, o que distingue as principais fases da Kabbalah da
tradição esotérica sacerdotal da Merkabah é o fato de sua cosmologia ser definida
em termos das dez sefirot do Diagrama da Árvore da Vida.
As considerações posteriores de textos kabbalísticos, e a discussão mais antiga
desse diagrama com ilustrações que aparecem no capítulo introdutório, devem, por
isso, ser levadas em consideração.
Mas primeiro devemos observar a maneira como eram tratadas as sefirot no
princípio da história da Kabbalah.

Scholem definiu uma linha direta de influência do Raza Rabbah, por meio dos
Hassidim alemães e do texto do Bahir, até os kabbalistas provençais do século XII,
responsáveis pela redação final do Bahir e pela subseqüente elaboração de
conceitos kabbalísticos.
Ele ainda estudou a possibilidade de influência recíproca dos kabbalistas provençais
no Hassidismo alemão.
Ele demonstra que, em ambos os casos, o conceito das dez sefirot estava integrado
com a menos elevada das duas figuras supernas.
A maior diferença era que os escritores provençais continuavam a aplicar a
terminologia Merkabah a essas figuras, primordialmente a de Metatron para a
figura inferior, enquanto os alemães empregavam a terminologia do Kavod duplo,
um invisível e outro visível.
A respeito das formulações hassídicas, Scholem diz: "Em geral, as sefírot estão
localizadas abaixo do Kavod divino, mas às vezes elas também se interconectam
com a idéia do Kavod propriamente dito".
As duas tradições medievais européias que surgiram no século XII estavam
igualmente associadas com os fragmentos do Bahir que Scholem afirma ter caído
primeiro nas mãos dos Hassidim Ashkenazi, que posteriormente os transmitiram
aos kabbalistas de Provença.
Desse importante texto sobre a Kabbalah, Scholem diz:
(...) sem dúvida, uma relação foi estabelecida entre as especulações do velho Shiur
Komah e as antigas reinterpretações kabbalísticas do Bahir (...) Todos os
kabbalistas mais recentes entenderam corretamente as declarações do Bahir
relativas às formas de Deus [ou sefirot] como a interpretação mística de velhas
idéias.
De fato, ali, as formas do homem primordial foram descritas como Ezequiel 1:26 as
viu no trono da Merkabah."

Assim, de sua primeira formulação no Sefer Yetzirah até sua elaboração provençal,
o conceito das dez sefirot sempre foi entendido como o trabalho interior, ou
potências, do antropocósmico, e esse entendimento gerou uma representação
gráfica na versão Adam Kadmon da árvore sefirótica.
Apesar de o estudo da Kabbalah focar preferencialmente o uso do Diagrama da
Árvore da Vida, as referências anteriores apresentadas no Raza Rabbah, no Bahir e
no Rabad mostram que o que tem mais importância é a continuidade da formulação
Merkabah que revela o significado redentor dessa tradição esotérica.
Nas reformulações kabbalísticas das tradições esotéricas, o que distingue a
Kabbalah das formulações Merkabah mais antigas é a dualidade da árvore
sefirótica, e a ainda mais radical apresentação dos princípios cósmicos femininos,
que surgem pela primeira vez no Bahir.
Mas, como a árvore foi assimilada pela antiga tradição, assim também foi a
sexualização das sefirot posta a serviço da gênese do filho na formatação da
principal doutrina de redenção.
Esse passo subseqüente aparece mais claramente no Zohar, o trabalho kabbalístico
mais importante que surgiu na Espanha medieval e tornou-se a principal fonte dos
desenvolvimentos posteriores da Kabbalah.
Talvez o melhor exemplo da doutrina secreta apareça nas seções do Zohar
envolvidas com as "Faces" divinas: o Sifra di-Tseniuta ou "Livro do Ocultamento"; o
Idra Rabba ou "Grande Assembléia"; o Idra Zutta ou “Pequena Assembléia"; e o
Idra di-be-Mashkana ou "Assembléia no (...) Tabernáculo".
Essa última seção identificada faz uma associação importante entre o conceito das
Faces e o Tabernáculo, e de ambos com a prece, assim os associando com a classe
sacerdotal.
Esses trabalhos, atribuídos ao rabi Simeon ben Yohai, detalham com precisão as
descrições de duas Faces Divinas, a Face Longa (Arikh Anpin), também conhecida
como o Ancião dos Dias; e a Face Curta (Ze'ir Anpin).
Assim como a primeira é oculta, a última é manifestada em uma forma que tanto é
masculina como andrógena:
Mas as conformações do Microprosopo são dispostas das formas do Macroprosopo;
e suas partes constituintes são expandidas sob a forma humana, como se fossem
manifestas n'Ele, o espírito do Velado Um em todas as partes (...) esta forma
superna (...) é chamada o homem (superno); o homem que compreende
igualmente o masculino e o feminino (...) Quando o Sintagma do Homem Superno
for mitigado no Corpo Divino, na forma masculina e feminina, essas duas serão
ligadas (...) e daí em diante os mundos superior e inferior serão ligados sob a
forma do Corpo Sagrado, e os mundos serão associados, coexistirão e serão como
um."

O Idra Rabba de onde essas infelizes referências foram tiradas —, em nenhum


lugar de suas elaboradas descrições, explica a gênese do Ze'ir Anpin e como, por
meio dele, "os mundos superiores e inferiores" do Céu e da Terra podem tornar-se
Um.
Mas ele reproduz fielmente as principais características do apocalipse primordial: a
existência de duas figuras divinas hierarquicamente posicionadas, uma como o
Ancião dos Dias e a outra um "filho" com aparência humana, e a especial relação
desse último com a humanidade, em particular o constantemente revelado
entendimento de que tal filho do homem representa a forma transfigurada da
pessoa que teve uma visão mística desse ser entronizado.
É com tal entendimento que o Idra Rabba é encerrado:
"Quem é Ele, o Sagrado Um do Tetragrammaton? É o rabi Schimeon Ben Yochai,
que é chamado muito glorioso neste mundo e no mundo vindouro".
Pouco antes dessa afirmação desconcertante, as revelações secretas dessa
assembléia tinham concluído pela morte extática de três dos companheiros do rabi
Simeon, os quais todos viram ser carregados por anjos através do véu celestial e
de cujas bocas ouviram a proclamação: "Essa é a porção de Deus, o mais Sagrado
- abençoado seja Ele! - das núpcias do rabi Schimeon com seus companheiros".
Tais "núpcias" parecem ser definidas como "os recém-unidos pela União dos
Diademas", mas sem nenhuma explicação adicional.
É no Idra Zutta que se sugere uma explicação que vai muito além da antiga
tradição Merkabah derivada da visão de Ezequiel do trono.
O Idra Rabbah está envolvido principalmente na definição de uma cosmologia de
emanação pela qual a "Face Curta" andrógena é uma derivação da "Face Longa",
ocasião em que é definida a separação dos aspectos masculino e feminino.
Mas o propósito real dessa separação é propiciar que possam juntar-se novamente,
definindo uma associação da qual os julgamentos de ambos os mundos dependem:
“e quando estiverem juntos, então serão Eles dois mitigados mutuamente no dia
em que todas as coisas serão mitigadas. E assim, serão os julgamentos
mutuamente mitigados e restaurados em ordem, superiores e inferiores".

A natureza sexual de sua associação, e aquela de seus novos pais, é revelada nas
últimas declarações do rabi Simeon em seu leito de morte, o verdadeiro assunto do
Idra Zutta. A informação antes sonegada é agora oferecida:
Quando o Ancião mais Sagrado, o Oculto dos Ocultos, desejou ser formado, Ele
conformou todas as coisas sob a forma macho e fêmea (...) Chokhmah, Sabedoria,
como Pai; Binah, Compreensão, como Mãe (...) a letra Yud impregnou a letra Hei e
produziu um Filho (...) Em Suas conformações são Eles encontrados como a
perfeição de todas as coisas — Pai e Mãe, Filho e Filha (...) o último Hei é chamado
às vezes de "Noiva" (...), pois muitos são os tempos em que o Macho não está
associado com Ela (...) Mas como aqueles que pertencem à Mãe, a benevolência
deles não lhes é retirada por toda a eternidade (...) um não é jamais apartado do
outro."

O desejo da santidade original de atingir forma particular está expressa por uma
distinção e uma sexualização de sua essência, primeiro nos Partzufim pais e por
eles em um filho e em uma filha subseqüente, que também se associam depois.
Mas a distinção entre esses casais supremos, que terão importante função na
cosmologia luriânica, é que o Pai e a Mãe, tradicionalmente associados ao processo
de criação contínua, nunca se separam, enquanto o Filho e a Noiva, associados aos
processos da providencia, têm contato intermitente.
Essa última ponderação é a mais importante, não apenas porque o júbilo do mundo
depende do prazer superno que pode mitigar os severos julgamentos da
providência; mas porque o júbilo oriundo do casal inferior depende do
comportamento do homem terreno.
Quando "o macho e a fêmea estão unidos (...) todos os mundos coexistem em
alegria e contentamento. Mas quando o pecado se multiplica no mundo e o
santuário é profanado (...) o macho e a fêmea são separados".
A relação dessa cosmologia com o sacerdócio e a apropriada performance de seus
deveres é posteriormente confirmada na afirmação de que "não há permissão
garantida a ninguém para entrar, a não ser o sumo-sacerdote, que entra pelo lado
de Chesed (...) e Ele entrou no Santo dos Santos, e a Noiva é mitigada, e o Santo
dos Santos recebeu bênçãos (...)".
Por seu serviço, fica entendido que o sacerdote acasala-se diretamente com a
Noiva, a Shekinah, ou facilita seu acasalamento com o Sagrado Um, abençoado
seja Ele, em ambos os casos compartilhando, como fez o rabi Simeon em suas
"núpcias".
Seu noivo divino é identificado tanto com a seflrah Tiferet quanto com seu nome
divino: "Então Ele é chamado Tiferet (...), pois Tiferet é chamado
Tetragrammaton".
Mas é dito posteriormente a respeito do sacerdote que entra apropriadamente no
Santo dos Santos:
"Por isso Chesed entrou no Santo dos Santos; como está escrito em Salmos 133:3:
'Ali o Tetragrammaton ordena a bênção e a vida para sempre".
Vimos que o rabbi Simeon esta identificado com o Tetragrammaton e agora
podemos entender as razões disso.
Como um daqueles que, como o sumo-sacerdote, foram transfigurados pelas
atividades místicas para que facilitassem e compartilhassem das núpcias divinas, e
pode-se dizer que ele renasceu espiritualmente como um filho divino, em posição
equivalente na Árvore — a Tiferet-Tetragrammaton, e assim atingido a
imortalidade.
O elemento novo na tradição do Bahir culminando nos Idrot (os vários Idra) é a
introdução do feminino em uma cosmologia de redenção, mesmo que expressa em
termos masculinos.
Mas isso só serve para facilitar a compreensão imaginativa do elemento principal
dos ensinamentos sacerdotais com os quais essa elaboração aparentemente nova
parece associada: a transformação do justo em um filho divino.
Essa associação fica clara na primeira descrição da geração do filho de Chokhmah e
Binah: "e aquele Filho é chamado primogênito, como escrito em Ex 4:22: 'Israel é o
meu primogênito'".
Aqui, como anteriormente, a Face Divina inferior, ou a forma entronizada, está
associada à transformação humana no filho divino e está nitidamente diferenciada
de uma fonte divina original.
Mas como esse homem superno é gerado e como o homem terreno alcança uma
unificação com ele, nunca foi tão bem explicado como agora que a Kabbalah torna
possível, com a introdução de elementos femininos e os dois níveis de casais
supernos.
Os vários aspectos da doutrina secreta hebraica do filho que vimos fazer parte das
seções Idra do Zohar estão todos juntos em uma passagem extremamente
significativa da porção central do Zohar na qual essa doutrina torna-se mais
explícita: R. Simeon disse: "Na hora em que surge a manhã, a corça (Shekinah) se
levanta e começa de seu lugar a entrar nos 200 palácios do rei. Quando um homem
estuda a Torah em solidão à meia-noite, quando sopra o vento do norte e a corça
deseja ser agitada, ele é levado com ela aos reinos supernos para apresentar-se
ante o rei. Quando brilha o alvorecer e ele recita suas preces, e unifica o Nome
Divino apropriadamente, é envolto por uma rede de graça; ele olha o firmamento e
uma luz de conhecimento sagrado repousa sobre ele. À medida que o homem
estiver assim adornado e envolto com luz, todas as coisas tremerão perante ele,
pois é chamado o filho do Sagrado Um, o filho do palácio do rei (...)
Portanto, foi ensinado que um sacerdote que não sabe como unificar o Nome
Sagrado não pode realizar o serviço apropriado, pois nessa unidade reside a
devoção celeste e terrestre.
O sacerdote precisa, portanto, jejuar para concentrar coração e mente na
realização dessa unificação, para que assim aqueles acima e abaixo possam ser
abençoados."

Por tal prece apropriadamente concentrada e dirigida como essa atribuída ao antigo
sacerdócio, que é também uma antiga declaração do princípio de kavanah (intenção
mística), o homem pode não apenas unificar os aspectos masculino e feminino do
Nome Sagrado abençoando aqueles acima, mas pode tornar-se "o filho do Um
Sagrado" e da Shekinah, cujo desejo por unificação ele também atendeu.
Assim, está apto a abençoar adicionalmente "aqueles abaixo", especificamente por
ter transformado a si mesmo em um filho divino.
Outro kabbalista que usa o simbolismo sexual para explicar o mistério do
renascimento espiritual do filho divino é Abraham Abulafia, uma figura
contemporânea do aparecimento do Zohar no fim do século XIII.
A análise de Moshe Idel traça o imaginário erótico de Abulafia desde o beijo, por
meio da ligação carnal e a impregnação, até "O Filho e o Novo Nascimento", em um
estudo que culmina no seguinte comentário: "’o intelecto humano é fruto de Deus,
louvado seja Ele, e por similaridade é Sua semente, e ela é em verdade seu filho'
(...) em Abulafia, a aparição do elemento intelectual é vista como um novo
nascimento que transforma o místico em um filho do Divino".
Apesar de Idel demonstrar as diferenças entre o uso desse imaginário por Abulafia
(o relacionamento da alma humana com o Divino) e pela escola luriânica de
Kabbalah (os inter-relacionamentos dentro da cabeça de Deus), ele mostra "que o
Zohar também interpreta o aparecimento da alma como um novo nascimento,
transformando o homem em um filho de Deus", uma transformação que, como
vimos, foi detalhada com cuidado no Idra Rabba.
Parece claro que o conceito do filho desenvolvido em termos simbólicos sexuais em
ambas as escolas da Kabbalah supostamente em conflito tem suas origens na
tradição sacerdotal da Merkabah.
Essa nova cosmologia sexualizada tanto distingue a especulação kabbalística do
conhecimento sacerdotal como também a conecta a essa gnose mais antiga.
É usual identificar a Kabbalah como aquele aspecto da tradição esotérica judaica
primariamente preocupada com a Arvore sefirótica e com os quatro mundos
cósmicos, e assim representando uma decisiva separação da primitiva tradição
apocalíptica, reconhecidamente o misticismo Merkabah.
Entretanto, quando consideramos a história completa da tradição esotérica judaica,
ela mostra uma unidade cuja ênfase é muito mais velha do que aquela da Árvore e
dos mundos de emanação, o que faz essas conceituações aparentemente novas
parecerem de menor importância.
De fato, desde cedo e de forma crescente, o diagrama das sefirot foi adotado para
modelar o Adão cósmico ou os Partzufim, as divinas personalidades, essas últimas
centradas na personalidade do filho divino caracterizada pelas seis sefirot inferiores.
Onde ela se destacou do modelo anterior da visão do trono foi na introdução, já
mencionada, dos elementos femininos e sexuais, que tanto podiam estar ali desde
o começo e mantidos ocultos ou que representavam uma forma não-judaica de
Gnosticismo agregada à tradição.
Qualquer que seja o caso, é na última forma que a antiga mística judaica é
transmitida desde o período medieval até a Renascença da Kabbalah do Zohar até
aquela de Luria.
Isaac Luria, o cabalista do século XVI de Safed, na Palestina, conhecido como o Ari,
teve a influência mais importante no subseqüente desenvolvimento da tradição
esotérica judaica por sua reformulação da Kabbalah zohárica.
Apesar de seu tratamento dos Partzufim ser visivelmente derivado do modelo
zohárico descrito, ele acrescentou um novo entendimento do contexto cósmico das
personalidades divinas.
Como apresentado por seus discípulos, principalmente por Chayim Vital em seu
livro Etz Chayim (Árvore da Vida), há três princípios fundamentais na nova
Kabbalah luriânica: o Tzimtzum, uma "contração" e depois retração da substância
divina que liberou o espaço circular primordial no qual a criação pode acontecer
quando invadida por uma linha de luz com as dez sefirot; o Shevirah, ou o "quebrar
dos vasos" das sefirot originais, que não eram fortes o suficiente para conter o
influxo divino; e o Tikkun, a retificação cósmica ou retorno por meio do qual as
sefirot são reconstruídas como os cinco Partzufim (semblantes).
No sistema luriânico, o Diagrama da Árvore da Vida é reconfigurado da Árvore das
Sefirot individuais, representando o Mundo de Pontos primordial que existia antes
da Shevirah, em uma Árvore de Tikkun que correlacionava os Partzufim com as
seguintes sefirot: Arikh Anpin com Keter, Abba com Chokhmah, Imma com Binah,
Ze'ir Anpin com as seis sefirot de Chesed até Yesod, e a Nukvah com Malkhut.
Nessa reconfiguração, o Partzuf do filho, Ze'ir Anpin, é claramente dominante.
A cosmologia de Luria será discutida em profundidade em textos posteriores,
enfocando o Tzimtzum e os Partzufim.
Como estaremos lidando com inúmeras referencias à Árvore de Vida, não nos
aprofundaremos aqui no assunto.
Entretanto, há um aspecto dos ensinamentos de Luria que precisa ser considerado.

É com Luria que emerge mais explicitamente uma segunda distinção da Kabbalah
com o misticismo Merkabah.
Tal distinção caracteriza o desenvolvimento subseqüente dessa tradição mística
esotérica dos kabbalistas de Safed até os Hassidim do leste europeu.
Diz respeito à tecnologia especial de prece e sua relação com o conceito do Tikkun,
a retificação cósmica, na qual exercerá função primordial.
A grande ênfase no movimento de reconstrução cósmica que distingue a Kabbalall
luriânica da do Zohar resulta em que a associação luriânica da prece com a
mecânica da sexualidade divina diferencia definitivamente seu enfoque daquele
apresentado no misticismo do trono.
Isso levou a entender que a prece é a prática mística pela qual se atingirá a
transformação espiritual, de tal forma que seu praticante será levado à condição
dos anjos.
Mas a unificação divina que pode advir disso se refere a uma simples dualidade,
uma unificação do homem finito com seu infinito ser.
Na tradição mais recente que deriva do Idra Zuta, a unificação divina efetuada pela
prece humana é triplicada.
Na cosmologia luriânica, o processo do Tikkun começa de baixo para cima.
É por meio das preces dos justos que os Partzuflm masculino e feminino são
elevados para consumar sua união, e isso, em contrapartida, promove uma
unificação similar com o Partzufim superior, o que completa o processo de
reconstrução cósmica.
Como explicado por Chayim Vital no livro Árvore da Vida: "Isso é o que permanece
para que nós retifiquemos pela prece (...) Assim como as almas dos justos elevam
as águas femininas com o propósito de unir o macho e a fêmea, da mesma maneira
o macho e a fêmea podem elevar as águas femininas com o propósito de unir Abba
e Imma (...) no mistério da unificação de 'Escuta, ó Israel (...)”.

O propósito místico da prece torna-se ainda mais claro nas palavras atribuídas ao
Baal Shem Tov, fundador do movimento hassidico: "Por meio de sua necessidade e
seu desejo, ele conhece a carência da Shekinah, e reza para que a necessidade da
Shekinah seja satisfeita e que, por seu intermédio, devoto em prece, aconteça a
unificação de Deus com sua Shekinah".
Então, o propósito místico da prece é efetuar a unificação de "Deus com sua
Shekinah".
Unificar os aspectos transcendentes e imanentes do divino por meio do indivíduo
engajado em prece com tal Kavanah (devoção mística), que transfigurará a
personalidade daquele devoto.
Como Lewis Jacobs resume o entendimento hassídico de prece: "a prece hassidica
é, portanto, um exercício de assistência à divina unificação e participação nela".
Mas, como veremos, esse último entendimento da unificação tripla a ser efetuada
pelo devoto sempre esteve com ele, desde o começo.
O que é verdadeiro da continuidade de tal prática teúrgica também o é na história
da cosmologia esotérica judaica. Dos primórdios até sua mais recente história, a
tradição esotérica judaica traz apenas urna mensagem: o nascimento cósmico do
filho divino por meio do desenvolvimento espiritual dos seres humanos justos, uma
geração que preenche tanto o propósito divino da criação como o objetivo humano
da prática espiritual; a transcendência da mortalidade por meio da qual a unificação
humana com o divino pode dotá-lo de personalidade divina.
Porém, essa mensagem foi tão abertamente obscurecida como é, em todo lugar,
secretamente implícita.
É raro ver um trabalho como 3 Enoch que proclama o Príncipe da Presença
angélico, Metatron, como a forma transfigurada do Enoch humano. Mas é
exatamente tal transfiguração que vimos estar implicada no texto do misticismo do
trono derivado da visão de Ezequiel, como em todos os principais textos
kabbalísticos levando ao Zohar e além dele.

Continua

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