Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Fundamentos Teóricos
Um erro óbvio nessa apresentação da Árvore é que ela tem apenas 20 caminhos
entre as sefirot em vez dos 22 prognosticados pelo texto.
Faltam os caminhos entre Chokhmah e Binah e entre Gedullah (nome alternativo
para Chesed) e Gevurah.
Mas o breve comentário revela que há outras diferenças e problemas.
Problemas esses causados por diferenças textuais entre a versão-padrão, que é
apoiada pelo longo comentário que a segue, e uma versão diferente (referida em
inserções editoriais pela abreviatura "v.d."), que se aproxima mais da versão
desenhada do diagrama do que de um comentário original de Cordovero.
Em sua apresentação, Cordovero usou a palavra tzinnor, que deveria ser traduzida
como "canal", apesar de "tubo" parecer uma tradução ainda melhor, se não fosse
inapropriada para o contexto:
"Tzinnor" é um canal [tubo] no qual a água viaja de lugar a lugar e os kabbalistas
relacionam isso ao influxo [shefa] que corre de sefirah para sefirah (...)
O número de canais que fluem de Keter são três. Um para Chokhmah, um para
Binah, um para Tiferet.
Três mais (v.d. quatro) fluem de Chokhmah: um para Binah, um para Chesed (v.d.
e um para Gevurah) e um para Tiferet.
Outros dois (v.d. três) fluem de Binah (um para Chesed), um para Gevurah e um
para Tiferet.
Outros três fluem de Chesed: um para Gevurah, um para Tiferet e um para
Netzach.
Dois mais fluem de Gevurah, um para Tiferet e um para Hod.
Três mais fluem de Tiferet: um para Netzach, um para Hod e um para Yesod.
Dois mais fluem de Netzach: um para Hod e um para Yesod, e alguns acreditam
também em um para Malkhut.
Outro canal flui de Hod para Yesod e alguns dizem que também para Malkhut.
Outro flui de Yesod para Malkhut, perfazendo um total de 22.
O assunto aqui é a posição de dois dos canais perfazendo o total necessário de 22,
e a diferença no posicionamento desses dois canais define as duas principais formas
do Diagrama da Árvore da Vida na tradição kabbalística.
Sem as inserções pelo editor Yisrael Yehudah Shapiro, há simplesmente o assunto
dos dois canais de Netzach e Hod para Malkhut, os quais Cordovero declara que
"alguns acreditam" ser essenciais, enquanto outros kabbalistas não.
Nessa questão, o diagrama desenhado concorda com aqueles que rejeitam esses
dois canais, enquanto o comentário mais recente de Cordovero sustenta aqueles
que "acreditam" que esses canais sejam autênticos.
A versão diferente oferece dois canais adicionais que novamente conferem com o
desenho, mas não com o comentário, entre Chokhmah e Gevurah e entre Binah e
Chesed.
Evidentemente uma escolha tem de ser feita entre essas duas versões, cada uma
delas oferecendo os 22 caminhos necessários.
Se os canais cruzados de Chokhmah e Binah forem permitidos, então aqueles entre
Netzach e Hod para Malkhut devem ser rejeitados e vice-versa.
No último comentário, é claro que Cordovero escolheu os 22 caminhos que incluem
aqueles de Netzach e Hod para Malkhut e não faz menção aos possíveis canais de
Chokhmah para Gevurah e de Binah para Chesed:
Outros três canais se estendem de Chokhmah.
Um é para Binah (...) um segundo canal se estende de Chokhmah para Chesed (...)
um terceiro de Chokhmah para Tiferet (...)
A razão pode ser porque Tiferet é filho de Chokhmah e Binah, e deve haver alguma
coisa de influência do pai no filho, assim como da mãe também, pois uma pessoa
tem três sócios (Deus mais seus pais).
Mais dois canais se estendem de Binah.
Um para Gevurah (...) o segundo é para Tiferet.
Esse canal é semelhante àquele explicado anteriormente no caso do canal entre
Chokhmah para Tiferet (...)
Outros três canais vão de Chesed, o primeiro para Gevurah, (...) Por meio desse
canal, Chesed é incluído em Gevurah e Gevurah em Chesed sem incluir Tiferet,
como explicado no Zohar (...) Um terceiro canal vai de Netzach para Malkhut (...)
Outros dois canais vão de Hod, um para Yesod (...) e um segundo para Malkhut.
Keter e Chokhmah estão identificados aqui com Iud e Atzilut; Binah e os braços,
com o Hei superior e Beriah; Chesed até Yesod, com o Vav e Yetzirah; e Malkhut,
com o Hei inferior e Assiyah.
O propósito dessa correlação das letras do Tetragrammaton com os mundos
cósmicos parece ser o estabelecimento de uma paridade cósmica entre as sefirot
masculinas e femininas.
Assim, na última versão zohárica-luriânica, as sefirot identificam-se com os cinco
Partzufim (Semblantes), as personalidades divinas.
Keter com o Partzuf de Arikh Anpin (Face Longa); Chokhmah com Abba (Pai);
Binah com Imma (Mãe); as próximas seis sefirot de Chesed a Yesod com o Partzuf
do filho Ze'ir Anpin (Face Curta); e a sefirah de Malkhut com o Partzuf da filha-
noiva, a Nukvah (Feminina).
Cada sefirah também é identificada com um nome divino, sendo o mais importante
aquele do Tetragrammaton (YHVH) com Tiferet e de Adonai (Senhor) com Malkhut.
Adicionalmente, Tiferet é identificado com o Sagrado Um, abençoado seja Ele, e
Malkhut com a Shekinah; o primeiro, o representante masculino da Divina
Transcendência; e o último, a forma feminina da Divina Imanência.
É também Tiferet a sefirah definidora do Partzuf do filho, e sua posição como a
ponte entre o finito e o infinito define a função cósmica dessa personalidade divina
muito importante.
Suas seis sefirot podem ser vistas como unindo a tríade divina superior de Chesed-
Gevurah-Tiferet com a tríade inferior humana Netzach-Hod-Yesod.
Pode, portanto, ver-se que como a Kabbalah antiga identificava toda a Árvore
Sefirótica com uma simples figura representativa do filho cósmico, assim também o
Partzuf do filho emerge como uma figura dominante na Árvore da Kabbalah mais
recente.
A Árvore, em ambas as versões, foi assimilada dentro de uma ampla tradição
esotérica que retrocede ao sacerdócio primitivo.
Com essa breve introdução à forma tradicional e ao significado do Diagrama da
Árvore da Vida, estaremos em uma posição melhor para entender as discussões a
respeito das sefirot nos textos kabbalísticos e para desenvolver construções
geométricas mais lógicas, de cujos princípios a Árvore tradicional detém a chave.
Como essa chave é usada para abrir esses diagramas obscuros, cada nova forma
provará ser a mais expressiva de significado cosmológico, cujas interpretações
descreverão a técnica semiótica da geometria kabbalística que chamamos "A
Ciência da Forma Expressiva".
Com essa introdução às porções kabbalísticas sobreviventes da ciência sagrada
hebraica que oferecerão a chave para a recuperação da tradição sacerdotal secreta,
podemos finalmente voltar a uma breve pesquisa da estrutura e das implicações
deste trabalho.
Continua