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A Doutrina Secreta da Kabbalah – Parte 4

Fundamentos Teóricos

A Doutrina Hebraica Secreta do Filho

Textos do Período Bíblico


No centro do Judaísmo esotérico repousa um complexo conhecimento oculto que
chamamos a doutrina secreta do filho.
Este capítulo tentará reconstruir a plataforma histórica da conceitualização hebraica
dessa figura salvadora, traçando evidências dessa doutrina secreta desde os
tempos bíblicos mais antigos pelos vários estágios do misticismo judaico.

Começaremos com a tese de que a tradição esotérica judaica que culminou na


Kabbalah teve sua origem no antigo saber dos sacerdotes do Templo, que continha
o conhecimento transmitido por milênios por essa tradição e que, como veremos no
final deste capítulo, foi adaptada como a primeira afirmação devocional do Sh' ma.
No Livro de Moisés, a doutrina secreta do filho está mais intimamente ligada à
prática do sacrifício e assim, eventualmente, à santidade da classe sacerdotal.
Mas começou de forma arquetípica com Abraão.

A mudança do nome de Abraão, assim como de Sara, pode ser considerada como
um símbolo da transformação da personalidade que significa esse renascimento
espiritual, como estabelecido na aliança com o Todo-Poderoso.
A associação dessa aliança com o sacrifício está indicada de várias formas no texto:
Quando atingiu Abraão a idade de 99 anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu
sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito (tamim). Farei
uma aliança entre mim e ti (...) Abrão não será o teu nome e sim Abraão (...)
Circuncidareis a carne de vosso prepúcio; será isso por sinal da aliança entre mim e
vós.
O que tem oito dias será circuncidado- entre vós; e minha aliança estará na vossa
carne e será aliança perpétua (...) Como para Sarai, tua mulher (...) Sara deverá
ser seu nome (...) Sara, tua mulher te gerará um filho. (Gn 17:1-19)

A aliança exigia que Abraão fosse tamim, um todo sem falha ou divisão na
obediência à vontade divina.
Tal sacrifício daquilo que é animal na natureza humana para aquele que é perpétuo
estava representado pelo ritual da circuncisão, o sinal da aliança, um rito
normalmente efetuado no oitavo dia, isto é, um dia depois dos sete dias da criação
e, assim, símbolo da eternidade.
Nesse caso, o sacrifício da carne do prepúcio é apenas o símbolo de uma
consagração íntima do ser que se dedica ao serviço divino, os frutos da sexualidade
sendo também devotados a essa elevada aliança.
Porém, o significado do sacrifício animal é revelado com mais clareza com respeito
ao filho miraculoso que vai nascer, contra todas as leis da natureza, através dos
renomeados Abraão e Sara.
O significado da ordem divina de vendar Isaac não é simplesmente a prova final de
Abraão, pois, por sua obediência, uma bênção foi transmitida a toda a humanidade:
"e, em tua semente, todas as nações da Terra serão abençoadas; porque
obedeceste à minha voz" (Gn 22:18).

É uma instrução de como usar um sacrifício alternativo:


"Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres
entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar
de seu filho" (Gn 22:13).
O indivíduo consagrado ao serviço divino não deve ser destruído, mas redimido pela
prática do sacrifício, particularmente sacrificando um animal alternativo.
Tal substituição do sacrifício humano pelo animal não é uma contemporização de
uma prática originalmente mais pura que veio a ser considerada muito exigente,
mas a essência de todos os ritos religiosos de sacrifício entendida de forma devida.
De fato, é exatamente o sacrifício humano que representa forma degradada do
verdadeiro propósito de tais ritos, a transformação do humano no divino pelo
sacrifício redentor daquilo que é animal em sua essência.
Porém, o animal substituto que é sacrificado não simboliza apenas a natureza
animal do homem; ele também se torna o veículo da santificação do homem pelo
qual ele se torna santo.
Essa associação do rito sacerdotal do sacrifício animal, o principal ritual
apresentado nos livros da Lei Mosaica, com a doutrina secreta do filho, a alma que
renasceu em santidade, é posteriormente desenvolvida no Livro do Êxodo.
Começamos com as instruções de Deus a Moisés a respeito de como ele deveria
reportar-se ao faraó:
"Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito; digo-te, pois, deixa ir
meu filho, para que me sirva" (Ex 4:22-23).

O significado religioso do termo "filho" é aplicado primeiro à nação coletiva de


Israel, que, por meio desse serviço, tornar-se-á "um reino de sacerdotes e uma
nação sagrada" (Ex 19:6).
No Talmude palestino. esse uso especial do termo "filho" é reconhecido:
"No momento em que Israel faz a vontade do Sagrado Um, abençoado seja Ele, é
chamado filho: e no momento em que não o fazem não são chamados assim"
(Kiddushin 61a).
A nação de Israel não é apenas o filho divino, mas ainda Seu primogênito,
especialmente consagrado para o serviço divino:
"Consagra-me todo o primogênito; todo aquele que abre o ventre de sua mãe entre
os filhos de Israel, tanto de homens como de animais, é meu" (Ex 13:2).
Entretanto, a distinção importante entre os primogênitos do homem e dos animais
é que: "Remirás todos os primogênitos dos teus filhos" (Ex 34:20).
Os primogênitos humanos não deviam ser apenas tecnicamente redimidos da morte
pela substituição de um sacrifício animal, depois reduzidos a uma contribuição
monetária de cinco shekels para o Templo (Nm.18:15-16), mas também por meio
da eficácia espiritual dessa prática, revelada na instrução para a consagração
daqueles que deviam ser modelo para toda a nação: os sacerdotes

As coisas mais significativas que Moisés devia fazer para Aarão e seus filhos "para
os consagrar, a fim de que me oficiem como sacerdotes" (Ex 29:1), envolvem o
"carneiro da consagração" (Ex 29:22).
Primeiro um pouco do seu sangue era colocado no topo de suas orelhas direitas,
polegares direitos e dedões direitos dos pés (Ex 29:20), um ato que simbolizava o
fortalecimento de seu lado direito espiritualmente expansivo e a integração dos três
centros psíquicos que podem ser identificados com essas extremidades, a mente
com as orelhas, o coração com os polegares e os instintos com os dedões.
Até mais importante do que sua unção e da do santuário com sangue e óleo, era o
uso final a ser dado ao carneiro:
Tomarás o carneiro da consagração e cozerás sua carne no lugar santo; e Aarão e
seus filhos comerão a carne desse carneiro e o pão que está no cesto à porta da
tenda da congregação; e comerão as coisas com que for feita a expiação, para
consagrá-los e para santificá-los; o estranho não comerá delas, porque são santas.
(Ex 29:31-33)

O animal sacrificial que é oferecido a Deus em um lugar santo torna-se


transformado pela santidade divina da qual ele participa; e o comer dessa carne
animal ritualisticamente transformada transfere essa mesma santidade ao
participante por meio da ingestão.
Esse é o principal mistério da prática sacerdotal do sacrifício animal e a essência do
seu entendimento religioso.
Esse entendimento é trazido na conclusão das instruções divinas para a
consagração do Tabernáculo e dos sacerdotes:
E consagrarei a tenda da congregação e o altar; também santificarei Aarão e seus
filhos, para que me oficiem como sacerdotes. E habitarei no meio dos filhos de
Israel e serei seu Deus. E saberão que eu sou o Senhor, seu Deus, que os tirou da
Terra do Egito, para habitar no meio deles; eu sou o Senhor, seu Deus.
(Ex 29:44-46)

Apesar de a chave para o entendimento sacerdotal estar claramente demonstrada


em hebraico, o obscurecimento de seu significado na tradução é produto da perda
dessa compreensão que se tornou a tradição exotérica judaica.
Afinal, a palavra traduzida duas vezes como "no meio de", betoch, é mostrada em
qualquer dicionário com o sentido principal de “dentro de".
O que Deus está proclamando aqui é que por meio do serviço sacerdotal, o
sacrifício e a ingestão dos animais consagrados fazem com que Deus habite entre
as crianças de Israel, uma transfiguração do homem com a santidade sendo a
razão de sua libertação da escravidão egípcia.
Tomando parte dos sacrifícios sagrados durante os três festivais de peregrinação,
todas as crianças de Israel serão posteriormente capazes de experimentar a
presença do Espírito Santo, que é a experiência diária dos sacerdotes oficiantes,
que, da mesma forma, crescem em santidade, o que, verdadeiramente,
estabelecerá Israel como o filho divino, como "o reino de sacerdotes, e uma nação
santa" (Ex 19:6).

Isso é o que presumimos que tenha sido a experiência diária dos sacerdotes
oficiantes, a transformação miraculosa da carne em espírito pela execução de seu
ritual e a absorção de sua santidade em si mesmos, o que forma a base de todos os
desenvolvimentos cosmológicos posteriores que podem ser associados ao
conhecimento sacerdotal.
Podemos distinguir dois principais desenvolvimentos teóricos que têm sua fonte na
Lei Mosaica: o dos profetas e o dos sacerdotes.

Os profetas hebreus foram os mais celebrados na história religiosa ocidental, mas


sua preocupação principal era com o comportamento ético do homem com o
homem, tanto individual quanto coletivamente, e todos mostraram pouca simpatia
pelos sacrifícios do Templo ou entendimento de seu propósito.
Os profetas pregavam a religião ética preferencialmente à ritualística, como nestas
palavras de Miquéias: "Com que me apresentarei ao Senhor? (...) Virei perante Ele
com holocaustos, com bezerros de um ano? (...) Ele te declarou, ó homem, o que é
bom e o que o Senhor pede de ti, que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e
andes humildemente com o teu Deus" (Mq 6:6-8).
Em contraste com o que pode ser chamado a preocupação "horizontal" dos
profetas, seu envolvimento com a ética social, a preocupação da classe sacerdotal
mostrava-se "vertical" no sentido da transformação espiritual individual.
Se os profetas pregavam o elevado ideal de uma sociedade sagrada, os sacerdotes
desenvolviam seu entendimento diferente da perfectibilidade humana, não de
humildade perante Deus, mas de unificação salvadora com o divino.
Por meio de rituais de purificação e sacrifícios, eles experimentavam o Deus interior
e devem ter ensinado os mistérios de uma ascensão espiritual dirigida à visão
mística.
Evidências desse desenvolvimento podem ser vistas naqueles profetas que tiveram
ligação direta com a prática sacerdotal, Elias e Ezequiel.
De Elias, por volta do século IX a.C., temos apenas o relato histórico que aparece
em Reis 1 e 2, escrito uns dois séculos depois.
Os historiadores que compilaram esse registro, naquela época, eram sacerdotes,
como sugere o alto valor que deram ao culto sacrificial e o entendimento do
propósito nele envolvido.
Afinal, a maior conquista terrena de Elias envolve o poder de trazer o fogo divino
para consumir seu sacrifício e assim derrotar os 450 profetas de Baal.
Sua grande teofania é a do Deus que não está nos eventos externos dos tremores
de terra, mas dentro de uma "voz ainda pequena" (1 Rs 19:12).
Seu fim foi uma translação direta para o céu em uma carruagem flamejante.
Elias disse a Eliseu que ele receberia uma porção dobrada de seu espírito como
tinha pedido Eliseu, se ele pudesse perceber a forma em que o velho profeta iria
morrer: "Indo eles andando e falando (...) eis que um carro de fogo, com cavalos
de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu aos céus em um redemoinho.
O que vendo, clamou Eliseu: meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros"
(2 Rs 2:11-12).

A elevação de Elias aos céus é percebida misticamente por Eliseu, que assim se
torna não apenas o filho espiritual de Elias, mas entende também o veículo de seu
transporte, a carruagem, como sendo a comunidade de Israel, aquela que vimos
Deus denominar como Seu filho.
Como um verdadeiro santo do Senhor, Elias tornou-se um daqueles que formará a
comunidade ideal representada coletivamente como o filho divino, e sua passagem
pela vida também demonstra a salvação finalmente alcançada depois de uma vida
devotada ao aprimoramento do poder espiritual, a transcendência da mortalidade.
A história da vida e morte de Elias é o exemplo culminante da verdade principal da
tradição sacerdotal, a de que há práticas espirituais pelas quais o homem envolve-
se do poder divino, superando as limitações terrenas na vida e além dela, e que o
objetivo da existência humana é o aperfeiçoamento dessa santidade para que
alcance duração eterna.
Essa verdade central nos livros históricos, que observamos desde Abraão até Elias
como de natureza sacerdotal, alcança pela primeira vez expressão literária
individual nos escritos do maior profeta que era também um sacerdote zadoquita,
Ezequiel.
É ele quem traz claramente unidos os conceitos do filho e da carruagem que foram
também percebidos por Eliseu.
Como Eliseu teve a visão de uma carruagem que lhe conferiu poder espiritual e
permitiu que reconhecesse sua filiação àquela fonte humana de poder presente na
carruagem, assim também fez Ezequiel, no que parece ser um empréstimo literário.
Escrevendo cem anos depois da redação de 2 Rs, no século VI a.C., Ezequiel teve a
visão de uma carruagem enviada por Deus com o termo que fez notável "filho do
homem", e estava cheia com Seu espírito: "Esta voz me disse: Filho do homem,
põe-te em pé, e falarei contigo. Então, entrou em mim o Espírito quando falava
comigo, e me pôs em pé" (Ez.2:1-2).
A frase "filho do homem" (ben adam), que terá uma notável história posterior no
Apocalipse, aparece 87 vezes no livro de Ezequiei, em referência a ele mesmo, o
profeta-sacerdote, e está diretamente relacionada com o que ele vê na carruagem-
trono.
A carruagem que ele vê tem quatro níveis — as Rodas, as Criaturas Vivas, o
Firmamento e o Trono — "sobre essa espécie de trono, estava sentada uma figura
semelhante a um homem (...) Essa era a aparência da Glória do Senhor"
(Ez 1:26, 28).
A Glória, ou Kavod, de Deus, que ele viu sentada no trono, tinha "a aparência de
um homem".
A frase "filho do homem" usada pelo Deus de Ezequiel parece implicar que o
profeta é um filho humano de Deus, um ser derivado do homem que alcançou o
status de filiação divina antes atribuída coletivamente a Israel.
A essência dessa visão do trono, diversa daquela de Isaías — "Eu vi também o
Senhor sentado sobre um trono" (Is 6:1) —, não é diretamente de Deus, mas do
homem glorificado.
É o homem em seu estado final de transfiguração espiritual que representa aqui a
Glória de Deus e o propósito final da criação, a Glória, assim, representando a
forma superna do filho divino.
O significado essencial da visão de Ezequiel, então, é que o filho do homem, o filho
humano de Deus, é aquele que atingiu a capacidade mística de ver a natureza
divina de seu próprio ser.
Esse entendimento torna-se parte da tradição kabbalista mais recente que, em seus
níveis mais elevados de ascensão mística, permite que a face que alguém
descortina no trono é sua própria.
Assim, Abraham Abulafia, o grande mestre da meditação kabbalista, escreve:
"Quando um indivíduo entra completamente no mistério da profecia, vê-se de
repente sua própria imagem diante de si".
Ele acrescenta ainda, como suporte para sua afirmação, uma referência ao trabalho
de Moshe de Narbonne que se refere a essa antiga tradição:
"Quando os sábios ensinam que os profetas 'se assemelham a uma forma de seu
Criador', querem dizer que eles se assemelham à forma que está na própria alma
do profeta (...) a seu Criador, isto é, a Deus. Por isso está escrito, 'sobre a forma
do trono, havia uma forma como uma imagem de um homem' (Ez.1:26). Essas
formas e imagens existem na alma do profeta (...)".
Essa é a mensagem essencial de todas as formas mais recentes de misticismo
judaico, pois todas são derivadas diretamente da visão de Ezequiel.
Os kabbalistas enfatizam os quatro níveis da carruagem, que identificam com os
quatro mundos de emanação cósmica; os místicos Merkabah, à ascensão da
carruagem (Merkabah) através dos sete céus para a visão do trono; e os escritores
apocalípticos, às duas formas da filiação divina.
Todos tomam de Ezequiel sua revelação particular do aprendizado sacerdotal que
preserva seu mais profundo significado.
A tradição mística no Judaísmo é, então, a descendência direta do aprendizado que,
podemos presumir, era ensinado no Templo como parte do treinamento para o
sacerdócio.
No último capítulo, assim como no próximo, argumentamos que esse treinamento
sacerdotal também conservava e transmitia o antigo legado do entendimento
científico: primariamente as leis governantes e os números, formas e sons
harmônicos correspondentes; e também a astronomia necessária para fazer o
calendário religioso.
Embora a tradição rabínica mais recente derive amplamente dos profetas, a
tradição místico-esotérica, que sempre manteve uma existência oculta, mas vital
pela história judaica, deriva seguramente do sacerdócio, à medida que sua tradição
foi filtrada pelo principal ensinamento de seu grande profeta, Ezequiel.
A expressão bíblica culminante dessa tradição, derivada diretamente de Ezequiel, é
aquela do livro de Daniel, que agora pensamos ter sido escrito no século II a.C.
Na visão do trono de Daniel, o termo "filho do homem" está diretamente aplicado a
uni dos dois seres supernos vistos por ele:
O Ancião dos dias se assentou; suas vestes eram brancas como neve, e os cabelos
da cabeça como pura lã; seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo
ardente (...) Eu olhava em visões noturnas e eis que vinha com as nuvens do céu
como o Filho do homem, e dirigiu-se ao Ancião dos dias, e o fizeram chegar até ele.
Foi-lhe dado domínio, glória e um reino, para que os povos, nações e homens de
todas as línguas o servissem; seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o
seu reino jamais será destruído (...) os santos do Altíssimo receberão o reino e o
possuirão para todo o sempre. (Dn 7:9, 13-14, 18).

Os dois seres supernos são distinguidos pela idade.


Aquele que está sentado no trono sendo caracterizado como "Ancião" e tendo
cabelo branco; enquanto aquele que é trazido perante esse Ancião dos dias
entronizado tem uma juventude comparativamente associada com o termo "filho".
Mas esse filho parece que deriva do homem, se a análise anterior do termo "filho
do homem" em Ezequiel puder ser aplicado, como também do livro de Daniel, e a
ele é dado o domínio e a glória final em um reino eterno ao qual "os santos do
Altíssimo" também estão destinados.
Se a associação do "filho do homem" de Ezequiel com o homem no trono estava
apenas implícita, essa ligação torna-se explícita na visão seguinte de Daniel:
"Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê-la, e eis que se apresentou
diante de mim como a aparência de um homem (...) ele me disse: entende, filho do
homem: pois essa visão se refere ao tempo do fim" (Dn 8:15,17).

A referência de Daniel, como Ezequiel, como o "filho do homem" torna explícita a


identificação de vidente e visão, uma vez que uma forma desse termo foi aplicada
ao ser superno que deve tornar-se o juiz apocalíptico e dirigente do reino eterno.
Que essa identificação foi entendida como o significado da visão de Ezequiel fica
ainda mais claro em um trabalho apocalíptico posterior, influenciado por Daniel,
mas não incluído no cânon bíblico, e que também usa o termo "filho do homem".
Trata-se da seção de "Parábolas" do livro de Enoch, conhecido como 1 Enoch, que
atrasa o resto desse texto em uns 100 a 200 anos.
Como deduziu convincentemente R. H. Charles: "A data das Parábolas não poderia
ser anterior a 94 a.C. ou posterior a 64 a.C. É possível definir a data mais
precisamente (...) para um ano entre 94-79 a. C."
Tanto Daniel como essa segunda parte de 1 Enoch são expressões de uma
cosmologia sacerdotal em desenvolvimento enraizada na interpretação da visão de
Ezequiel ou dada anteriormente, de forma mais oculta, por Ezequiel propriamente
dito.
Como em Daniel, esse livro apresenta uma visão dupla dos seres supernos, um
mais velho e outro mais novo:
E lá eu vi um que tinha a cabeça de dias, e sua cabeça [era] branca como lã; e com
ele [havia] outro, cuja face tinha a aparência de um homem. E sua face [era] cheia
de graça, como a dos anjos sagrados. E eu perguntei a um dos anjos sagrados que
foi comigo, e mostrou-me todos os segredos a respeito do Filho do Homem, quem
ele era, e de onde ele era, [e] por que ele foi com a Cabeça de Dias. E ele
respondeu e disse-me: "Esse é o Filho do Homem que tem justiça, e com quem a
justiça habita; ele revelará todos os tesouros daquilo que é secreto, pois o Senhor
dos espíritos o escolheu, e, por meio da retidão, sua sina suplantou tudo perante o
Senhor dos Espíritos para sempre. E esse Filho do Homem (...) derrubará reis dos
seus tronos (Capítulo 46).

No Dia do Julgamento final, seremos avisados anteriormente por esse ser


escolhido: "Naquele dia, o escolhido sentará no trono de glória" (Capítulo 45).
Igualmente significativa é a sugestão de sua existência anterior: Desde o princípio,
o Filho do Homem estava escondido, e o Altíssimo manteve-o na presença de seu
poder, e o revelou [apenas] ao escolhido; e a comunidade do sagrado e o escolhido
serão plantados e todos os escolhidos ficarão à frente dele naquele dia"
(Capítulo 62).
Não está claro se esse "filho do homem" superno existia desde o princípio ou
apenas o plano de sua revelação final.
Mas aqueles que, como Enoch, foram escolhidos para a redenção final, receberam
um conhecimento antecipado de seu papel nos últimos dias, como na visão de
Enoch: "E ele sentou-se no trono de sua glória, e todo o julgamento foi dado para o
Filho do Homem" (Capítulo 69).
Entretanto, o mais significativo é a clara identificação feita entre a visão humana de
Enoch e esse "filho do homem":
E aconteceu que depois disso meu espírito foi levado para fora, e foi para os céus
(...) e aquele anjo veio a mim, e agraciou-me com sua voz, dizendo-me: "Tu és o
Filho do Homem que nasceu para a retidão, e ela permanece sobre ti, e a retidão
da Cabeça de Dias não te deixará". E ele me disse: "Ele proclama paz para ti em
nome do mundo que virá, pois de lá veio essa paz da criação do mundo; e assim,
tu a terás para sempre e pela eternidade. E todos (...) andarão de acordo com teu
caminho, uma vez que os justos nunca te deixarão; contigo será a habitação deles,
e contigo sua sina, e eles não se separarão de ti, para sempre. (Capítulo 71)

A proclamação angélica da identificação de Enoch com o "filho do homem" sentado


no trono de Glória indica que o objeto exaltado de sua visão é ele mesmo.
Essa sua elevada personalidade pode ter existido desde o princípio como sua
exclusiva guia espiritual ou como guia de todos os justos, como sua alma raiz
comum, mas, em qualquer caso, é uma que representará, em sua manifestação
final, a comunidade dos justos, o ideal de Israel como filho divino, o primogênito
consagrado.
O entendimento sacerdotal das leis de purificação foi sempre de que tal observância
envolveria o homem com um caráter divino:
"Eu sou o Senhor teu Deus; santificai-vos, portanto, e sejam santos; pois Eu sou
santo" (Lv 11:44).
Na visão de Enoch, a divinização do homem como aquele filho que sentará no trono
de Glória está mais claramente declarada como a transfiguração final no "mundo
que virá" de todos os justos que seguiram o caminho da gnose sacerdotal.
É o "conhecimento" de coisas escondidas, particularmente do processo de
transformação espiritual pelo qual podemos alcançar a unificação final com a divina
personalidade revelada em visões místicas, que é a gnose transmitida ao longo de
gerações de sacerdotes, provavelmente desde a fundação do próprio sacerdócio.
Ela aparece em uma forma quase velada em todos os livros bíblicos que eles
editaram, abertos para "que, quem for sábio, entenda com seu próprio
conhecimento", o preceito talmúdico para estudos místicos," e finalmente começa a
emergir de forma cada vez menos críptica nos apocalipses derivados do sacerdote-
profeta Ezequiel.
Em suas formas kabbalística e merkabah mais recentes, foi vista por Scholem e
outros como um produto de gnosticismo não-judaico, mas a direção de transmissão
parece ter sido a inversa.
Como vimos, a doutrina judaica estava completa na época de 1 Enoch, bem antes
do aparecimento do Cristianismo e do Gnosticismo.
Jesus, que freqüentemente se referia a Si mesmo como o "filho do homem" e
rejeitava o título de Messias, era claramente influenciado pela linha particular do
antigo misticismo judaico que apresentamos.
E assim também era Mani.
Como mostrou Gilles Quispel: O Codex de Mani de Colônia parece ser de particular
importância nessa conexão, porque ele mostra como a Gnose evoluiu do Judaísmo,
ou do Cristianismo judaico, como resultado de um processo dialético.
De um lado, não há dúvida de que o mito maniqueu descreve uma experiência
gnóstica, mais propriamente o encontro consigo mesmo. O Codex diz como "o
Gêmeo" revelou-se a Mani na idade de 25 anos:
Eu o reconheci
E entendi que se tratava de meu outro ser
De quem eu tinha estado separado.

De outro lado, temos agora prova de que, da idade de 4 a 25 anos, isto é, antes
que tivesse essa experiência, Mani tinha sido — como seu pai Patek antes dele —
membro da seita elkesete judaico-cristã na Babilônia (...)
Sabemos agora que, como criança, Mani era um menino judeu, que foi circuncidado
e celebrava o Shabat.
O Cristianismo que Mani aceitava era precisamente sua forma esotérica que
derivava de Ezequiel.
Como Quispel mostra posteriormente:
Mani assumiu o nome de apóstolo porque ele interpretou seu "gêmeo" como o
"Paracleto" (mensageiro da verdade) (...) que Cristo mandaria (...)
Ele não caiu em autodeificação; não era o seu empírico ego, mas seu self
transcendental era o Paracleto (...) os judeus-cristãos estavam inteiramente
convencidos de que o Espírito Santo era uma hipóstase feminina (...)
A experiência religiosa de Mani, seu encontro com o self, pressupõe e espiritualiza o
simbolismo da unção, do renascimento e o mysterium coniunctionis do batismo
judaico-cristão.
Com certeza, o batismo teve uma origem judaica e era a principal prática dos
essênios.
Scholem recorda-nos que "não podemos descartar a possibilidade de um fluxo
contínuo de idéias específicas da seita de Qumran para os círculos rabínicos e dos
místicos da Merkabah no caso do Shi'ur Komah, como também em outros campos".
Apesar de poder ter havido uma fertilização cruzada no período pós-cristão, entre
os ramos esotéricos do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, e de todos com o
Gnosticismo, é sem duvida o Judaísmo que teve a prioridade temporal e uma
tradição de prática e conhecimento esotérico completamente desenvolvida muito
antes dessas outras correntes aparecerem, algo que ele transmitiu aos demais,
bem como diretamente às suas próprias formas de misticismo judaico
continuamente em desenvolvimento.
O misticismo judaico nos últimos séculos do Templo é geralmente atribuído aos
fariseus, já que a classe sacerdotal dos saduceus provavelmente tenha rejeitado o
conceito de um pós-vida, conforme divulga amplamente Flavius Josephus.
Porém, mesmo que muitos sacerdotes tenham se tornado materialistas, as
evidências apontam que ao menos aqueles sacerdotes da casa de Zadok foram os
conservadores de uma tradição mística ancestral mais amplamente disseminada
nesse período por alguns dos sacerdotes mais devotos, talvez pela universalidade
de sua hierarquia elevada.
Que a literatura apocalíptica desse período era produto desses sacerdotes anti-
hasmoneus é uma tese apresentada por Ithamar Gruenwald:
Para as pessoas que consideravam o Templo corrompido pelas mãos de um clã de
sacerdotes indignos, não havia outra alternativa que não conceber que Deus havia
retirado Sua presença do templo terreno para o céu mais elevado (...)
O conceito apocalíptico ofereceu, entre outras coisas, expressões de tais críticas a
respeito do sacerdócio de Jerusalém (...) e ainda mais, se levarmos em
consideração o fato de que o movimento apocalíptico era principalmente um
produto do levítico, e portanto sacerdotal, conclui-se então que os tons polêmicos
que o atingiram não tinham apenas uma orientação anti-sacerdotal, mas faziam
eco a uma luta sacerdotal interna por hegemonia e autoridade.

No capítulo 1, vimos que os sacerdotes saduceus zadoquitas eram considerados por


Jacob Neusner e Lawrence H. Schiffman os fundadores da comunidade dos essênios
de Qumran, a fonte dos Pergaminhos do Mar Morto.
Geza Vermes, tradutor e autor da mais importante edição dessa obra em inglês,
apenas retifica levemente essa visão, argumentando que os sacerdotes zadoquitas
provavelmente assumiram essa comunidade em seus primeiros anos de existência,
liderados por um deles, o Mestre da Justiça, que definiu os ensinamentos desse
movimento.
No pergaminho "As Regras da Comunidade", anteriormente conhecido como "O
Manual da Disciplina", podemos não apenas ver essa conexão confirmada, mas
aprender a respeito das funções exercidas pelo sacerdócio zadoquita e sua doutrina
secreta:
Os sacerdotes entrarão primeiro, um após o outro conforme a perfeição de seu
espírito; depois os levitas; e por fim todo o povo, um após o outro (...) e [todos
eles devem ser] filhos da Companhia Eterna (...)
Quem quer que se aproxime do Conselho da Comunidade entrará na Aliança de
Deus (...) por um juramento obrigatório de voltar-se com todo o coração e alma
para todos os mandamentos da Lei de Moisés de acordo com tudo aquilo que foi
revelado dela aos filhos de Zadok, os sacerdotes, Mantenedores da Aliança e
Buscadores de Sua vontade (...) a respeito de Suas leis da qual eles devem
conhecer as coisas escondidas (...) compartilhando verdadeiro conhecimento e
justo julgamento para aqueles que escolheram o Caminho, (...) os mistérios da
maravilhosa verdade."

Os "filhos de Zadok" não apenas tinham o acordo a respeito de sua posição, como
também eram aceitos como intérpretes da Torah mosaica, em suas especificações
ritualísticas e ainda em suas "coisas ocultas":
Então, os sacerdotes recitavam os favores de Deus manifestados em Sua poderosa
ação e declaravam toda a Sua graça misericordiosa para com Israel (...)
O Mestre instruía todos os filhos da luz e ensinava-os a natureza de todas as
crianças dos homens (...) os filhos da verdade neste mundo.
E para as aflições de todos que andavam com esse espírito, elas seriam curadas,
grande paz em uma longa vida, frutificadora, juntos com uma bênção perene e
alegria eterna em uma vida sem-fim, uma coroa de glória e um manto de
majestade na luz sem-fim.

O mais maravilhoso dos mistérios a ser divulgados envolvia a doutrina secreta do


filho, uma palavra constantemente reaparecendo no documento com outras
associações como "luz" e "verdade", mas significando mais propriamente o fruto
final de "alegria eterna".
Como isso é endereçado a uma comunidade celibatária, esse "frutificar" referia-se
obrigatoriamente a coisas de outro mundo.
O significado está esclarecido na tradução do editor original desse pergaminho,
Millar Burrows, que dá a significativa leitura "filhos do homem" em que Geza
Vermes deu "crianças dos homens" e que deu uma tradução mais esclarecedora
para a última frase do relato acima:
“E trazendo a semente, com todas as bênçãos eternas e alegria perene na vida na
eternidade, e uma coroa de glória com vestes de majestade em luz eterna".

Aqui temos uma referência quase explícita ao mistério do filho como a forma eterna
do ser, dotado de uma "coroa de glória" apropriada apenas para uma forma divina,
apesar de uma forma cuja semente deve ser reconhecida como plantada neste
mundo.
Esses aliados redimidos eram coletivamente chamados "filhos da Companhia
eterna", da verdadeira superna Comunidade de Israel entendida como aquela à
qual Deus se refere: "Israel é meu Filho" (Ex 4:22).
Essa doutrina anteriormente oculta está agora sendo revelada para essa
comunidade na esperança de que possa ser mantida secreta: "O Intérprete não
deve ocultar deles, sem medo do espírito de apostasia, nenhuma dessas coisas
ocultas de Israel que tenham sido descobertas por ele".
E a resposta do novo iluminado é extática:
Meus olhos pasmaram
Naquilo que é eterno,
Na sabedoria oculta dos homens,
No conhecimento e sábio projeto.

Apesar de o conhecimento ressalvado na transfiguração final do oficiante ser


atribuído à visão pessoal, é mais provável ter sido o produto da instrução
sacerdotal prescrita; e isso era provavelmente suportado pela evidência visual da
geometria sagrada, um complexo de provas que serão objeto de análise nos
capítulos posteriores destes textos.
As oito cópias do livro de Daniel na biblioteca de Qumran atestam o interesse da
comunidade no conceito teológico do filho do homem, apesar de as noções
dualistas de predestinação encontradas nos documentos da seita também
indicarem um desenvolvimento de um sacerdócio separatista que deixou o Templo
para o deserto.
Como mostrou Schiffman, "ambos os grupos de saduceus — aqueles que deixaram
o templo para tornarem-se sectários, talvez incluídos no termo essênios, e aqueles
que permaneceram em Jerusalém — sofreram profundas mudanças depois disso".
"As Regras da Comunidade" oferece-nos uma rara oportunidade para ver como
funcionava o sacerdócio zadoquita nas áreas de liderança e interpretação, indo bem
mais longe dos primeiros rituais de culto dos sacrifícios no Templo, apesar da
preocupação do manual com "a comida sagrada dos mestres", mostrando que a
ingestão de comida tornada sagrada pelo ritual da bênção sacerdotal — "o
sacerdote deve ser o primeiro a estender sua mão para abençoar o pão e o vinho"
— ainda era uma função central importante para a comunidade que esses
sacerdotes governavam.
A prece também era essencial e vista por esses dissidentes como um substituto
apropriado para os sacrifícios do Templo: "E a prece corretamente oferecida será
como uma fragrância de justiça e perfeição, como oferta prazerosa de livre-
arbítrio".
De fato, como havia sido reconhecido anteriormente na Mishnah Tamid 5:1, a
liturgia principal do Sh'ma e suas bênçãos acessórias já eram oferecidas nos
serviços de oração pelos sacerdotes no Templo.
Na conclusão deste capítulo veremos como a prece era entendida nas tradições
kabbalísticas e hassídicas mais recentes para conseguir a transfiguração do devoto
na divina personalidade que era o real objetivo dos escritos esotéricos.
Mas isso já era assim entendido pelos sacerdotes que desenvolveram a liturgia das
preces no Templo.
Como mostramos em algum lugar, essa antiga liturgia estava centrada no Sh'ma
com seu mandamento de amar a Deus e já continha a bênção anterior "Ahavah
Rabbah", relativa ao caráter redentor do amor divino idealmente experimentado na
prece, o amor que poderia transformar o devoto em um membro da Klal Yisrael, o
filho divino da doutrina secreta sacerdotal.
Assim, teologia e prática eram desenvolvidas juntas como complementos
necessários por aqueles sacerdotes do Templo que conservaram e desenvolveram a
tradição espiritual oculta sacerdotal.
Apesar dos dirigentes sacerdotes de Qumran, os essênios desenvolveram uma
doutrina sacerdotal secreta de salvação ao longo de duas linhas apocalípticas.
Aqueles que permaneceram no Templo continuaram seu trabalho de estudo,
determinando, refinando e expandindo o cânon bíblico, bem como desenvolvendo
encontros para preces litúrgicas como um complemento às oferendas sacrificiais
que ofereciam um novo caminho de efetivar o propósito de suas tradições mais
íntimas.
Além de sua área esotérica de trabalho religioso criativo, eles também cultivavam a
doutrina esotérica da salvação individual apresentada e a ciência sagrada que podia
demonstrar suas verdades, uma doutrina inicialmente divulgada cripticamente pelo
profeta Ezequiel e depois mais abertamente por Daniel e 1 Enoch.
As diferenças entre essas formulações exotérica e esotérica não significavam
partidos de oposição dentro do sacerdócio, mas a distinção que qualquer cultura
templária deve fazer entre as doutrinas promulgadas para a comunidade em geral
e aquelas reservadas para a elite espiritual identificada com a instituição do
sacerdócio.
[Gabriele Boccaccini, seguindo Ben Zion Wacholder, argumentou em seu livro que
"nas raízes da comunidade de Qumran estava um antigo cisma dentro do
sacerdócio judaico entre enochianos e zadoquitas... Os enochianos eram um partido
de oposição dentro da elite do Templo" (p.78). Mas seu argumento de que os
essênios de Qumran eram enochianos antizadoquitas (p.77) parece ser muito
questionável, em vista da posição dada aos "filhos de Zadock" no "The Community
Rule", e o fato de que os enochianos pós-Qumran que escreveram as parábolas de
Enoch 1 (perdidas da biblioteca de Qumran da data tardia de sua composição)
estavam de acordo com o modelo zadoquita de Daniel.
Preferiria argumentar que os sacerdotes que escreveram 1 Enoch estavam
desenvolvendo o cerne da doutrina secreta do sacerdócio zadoquita.]

Quaisquer que fossem as diferenças entre Daniel e 1 Enoch, a importância da


doutrina do filho do homem para ambos mostra que esse era o elemento essencial
da teologia sacerdotal, ao menos nos 500 anos entre Ezequiel e a seção de
Parábolas de 1 Enoch, e veremos que ele continua a florescer no misticismo
Merkabah.
Em razão das tradições espirituais e do treinamento do sacerdócio, seria esperado
que os sacerdotes não apenas fundassem os essênios mas tivessem também se
juntado aos fariseus e a outras seitas judaicas.
De fato, o rabi Ishmael, que veremos figurar no Shi'ur Komah, como também no
Hekhalot Rabbatai, era identificado no Talmude como sumo-sacerdote. [Em Major
Tremds, Scholem mostra que era seu pai Eliseu, o sumo-sacerdote, e que Ishmael
era apenas um menino quando o Templo foi destruído, p.356, nota 3]
Porém, sabe-se também que grupos místicos iniciáticos, compostos apenas por um
mestre e poucos discípulos, também desenvolvidos no antigo período tanaíta,
passaram o conteúdo místico de geração em geração.
Um importante fator para o desenvolvimento de tais intrigas deve ter sido a
existência de membros sobreviventes da já extinta comunidade essênia que fora
treinada pelos sacerdotes zadoquitas.
Mas um fator ainda maior deve ter sido a desprofissionalização do sacerdócio
depois da destruição do Segundo Templo, obrigando estudiosos templários a
tornar-se professores particulares, e assim, ambos preservando seu conhecimento
ancestral na forma mais pura e mantendo a natureza oculta.
É talvez desastroso que os sacerdotes saduceus que transmitiram a tradição íntima
do culto no Templo sempre tenham feito isso sob juramento de segredo, como os
essênios.
Se tivessem revelado sua doutrina secreta ao povo, poderiam ter mudado o destino
judaico da mesma forma que sua doutrina, de forma um pouco diferente, foi levada
pelo Cristianismo para o mundo.
Ou talvez devessem ter feito causa comum com os fariseus na época de crise
nacional; poderiam ter assegurado a popularização de sua doutrina secreta como o
ensinamento místico da futura tradição rabínica.
Entretanto, sem essa colaboração sacerdotal, a tradição talmúdica que levou ao
povo de Israel apenas aspectos externos da cultura sacerdotal (seu código de
pureza, sem a doutrina secreta de salvação individual aliada) levou a uma perda de
entendimento místico em vista da qual o Judaísmo tradicional sofre até hoje.
A elite sacerdotal, por outro lado, permaneceu verdadeira em relação à sua
natureza, e, em vez de abraçar tais alternativas populistas, escolheu manter-se na
corrente de transmissão direta e secreta que sempre foi a fonte reclamada pelos
kabbalistas — por meio da qual uma forma intrinsecamente judaica de gnose foi
transmitida do Templo para tornar-se a essência daquela forma mais recente de
"tradição" conhecida como a Kabbalah.

Continua

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