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O Tetragrammaton e as Vogais
Consoantes e Vogais
A definição hebraica do filho como alguém merecedor de uma aliança divina, como
foi mostrado, relaciona-se com a capacidade de contar as 52 semanas shabáticas
do ano solar.
Mas essa equação formada pela palavra Ben = 52 indica uma associação adicional
entre a natureza dos números e letras contados, particularmente as consoantes do
alfabeto hebraico.
Afinal, a discriminação numérica envolve o mesmo nível de desenvolvimento
mental e social como aquela articulação de pensamento na fala tornada possível
pelas consoantes.
Palavras e números refletem igualmente o mesmo poder de discriminação mental,
de particularização, que marca o advento de uma verdadeira cultura humana, e
parece que ambos emergiram juntos e interconectados.
Os números são divididos em duas classes: os abstratos. como o "sefirot Belimah"
do Sefer Yetzirah e talvez as sefirot da Árvore. que correspondem às primeiras dez
letras simples e, assim, não podem ser traduzidas em palavras; e os números
subseqüentes que requerem combinações de letras para se representarem como
números que também são como palavras.
Os primeiros dez números devem assim ter adquirido um caráter místico por se
encontrarem além do poder descritivo da linguagem; e, como evidenciado pela sua
menção no Tetractys pitagórico e no Diagrama da Árvore da Vida, eles eram tidos
como veículos de significado e estrutura cósmicos.
Porém, a capacidade dos números subseqüentes de serem traduzidos em palavras
apropriadas mostrou-se também reveladora do mistério dentro daquele reino de
particularidade que poderia ser especificado por número e nome.
Assim, a união do número com as consoantes pode ser tomada para demonstrar
tanto a transcendência quanto a imanência divinas, e essas duas formas de
números tomaram o foco das principais formas de contemplação kabbalística,
aquelas envolvendo o estudo da Árvore e da manipulação de letras como na
Gematria.
Porém, há outro aspecto da linguagem que nos faz retroceder ainda mais no
desenvolvimento humano, para aquele estágio pré-cultural de sons inarticulados no
qual o homem é ainda animal e parte indivisível da natureza.
É a tais sons que o coração humano primeiro convergiu seu próprio entendimento,
e esses sons significativos ainda formam o que se chama a alma da linguagem,
suas vogais.
A linguagem combina a articulação fixa das consoantes e a continuidade
inarticulada das vogais, a primeira conduzindo ao entendimento da mente e a
segunda, do coração.
A discussão a seguir será dirigida a esses sons vocálicos e sua relação com o
Tetragrammaton que provará o fundamento para as explorações variadas das
vogais hebraicas em texto posterior.
Mas a seção final deste capítulo se mostrará ainda mais reveladora, sendo nada
menos do que uma nova tentativa de revelar a pronúncia original do
Tetragrammaton, que logo veremos ter relação essencial com os sons vocálicos
pelos quais sua pronúncia pode ser definitivamente determinada e uma nova
interpretação de seu significado, sugerida.
Nesse estudo, estaremos voltando às origens da experiência e do entendimento
humanos e descobriremos que elas já envolviam conhecimentos da natureza e do
propósito da existência trazidos até nós na preservação do significado das vogais,
predominantemente nas preces.
Algumas características das preces oferecerão a oportunidade de adentrarmos a
discussão do significado das vogais.
Os sons vocálicos associados com as letras “i’, “a”, “u” são, de fato, primitivos, já
que exprimem as emoções mais rudimentares.
O som “i” relacionado ao primeiro expressa medo, produto de uma autoconsciência
que revela estar sob ameaça.
O som “a” expressa profunda satisfação.
O som “u” final pode ser considerado, por si só, manifestação de dor.
Podemos ver também como esses sons relacionados a sensações podem revelar a
pessoa gramatical: medo sendo um produto do senso de si; satisfação, o produto
de um envolvimento amoroso com outro; dor, uma experiência que leva ao senso
de compaixão.
O Eu, Tu e Nós previamente mencionados na prece.
Chomsky discutiu esses sons vocálicos em termos do sistema massorético de
pontos e traços que foi desenvolvido no século VII d.C., como meio de especificar
os sons vocálicos de uma linguagem cujo alfabeto consiste exclusivamente de
consoantes.
Mas uma visão ainda mais fascinante dessas vogais é apresentada quando nos
voltamos para as categorias intermediárias das letras vogais.
Como explicado em um dos melhores livros de gramática hebraica:
Muito antes da introdução dos sinais vocálicos, sentiu-se que seria necessário
indicar os sons das vogais na escrita, e assim, as três letras , e (Vav, Hei e
Yud) foram usadas para representar as vogais longas:
representa “a”, então lê-se ma
representa “i” e “e”, então lê-se mi ou me
representa “o” e “u”, então lê-se mo ou mu
Pelo motivo destas três letras — , , — representarem tanto vogais como letras
consoantes são conhecidas em hebraico como Letras Vocálicas.
É surpreendente que nenhum gramático tenha notado que as letras vocálicas sejam
exatamente as do Tetragrammaton!
Apesar de as vogais há muito serem entendidas como as portadoras da alma ou da
dimensão espiritual da linguagem, isso nunca foi associado a qualquer conexão das
principais vogais ao Tetragrammaton.
Mas o mais surpreendente a respeito dessa correlação é que tanto os sons dessas
vogais como as letras do Tetragrammaton podem ser relacionados ao conceito de
pessoas, gramaticais no primeiro caso e divinas no segundo.
Antes de considerar que correlação pode ser feita entre esses dois conjuntos de
pessoas, devemos proceder a uma curta revisão desses sons vocálicos.
Dos sete sons representados no modelo triangular, todos, com exceção do “e” curto
(eh) e do “a” curto (awe), foram indicados originalmente pelas letras vocálicas.
Das cinco vogais longas remanescentes, o Iud simbolizou o som primário “i” e “ei”;
o Hei representou o som longo “a”; e o Vav representou o “u” primário e o “o”.
Olhando a forma e a ordenação dessas letras, fica claro que, se Imma deve
responder às declarações de Abba, ela precisa voltar sua face para ele.
Essa necessidade foi motivo de muita mitologia na escola luriânica.
Como mostraremos em detalhes em texto posterior, Imma foi concebida com suas
costas voltadas para Abba, e o completo processo de Tikkun ou retificação cósmica
está envolvido essa elevação de suas águas femininas pelas preces dos justos, o
que fará com que ela encare Abba para, assim, engajarem-se apropriadamente no
ato do Yichud (unificação).
Agora, parece óbvio que esse aspecto da cosmologia de Luria deriva de uma
meditação a respeito da forma dessas letras, que, como veremos, não começou
com ele.
Continuando na observação, poderemos perceber que, quando ela se volta, deixa
antever uma abertura (a do Hei) do tamanho e na posição adequados para o Iud de
Abba.
Tal reconhecimento também aparece em uma importante passagem zohárica,
relacionando o conceito do Yichud com o Sh'ma:
Esse é o mistério da Unificação (Yichud).
O indivíduo que é merecedor do Mundo Vindouro deve unificar o nome do
Abençoado Sagrado Um
(...) Esse é o mistério de "Escuta ó Israel, Deus é nosso Senhor, Deus é Um",
(...) Iud é o mistério da Sagrada Aliança.
Hei é a câmara, o lugar no qual a Sagrada Aliança é escondida.
E apesar de termos afirmado [em algum lugar] que este é o Vav (no
Tetragrammaton, YHVH), aqui é o Iud.
O mistério é que os dois estão unidos como um."'
Continua