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Regra Primitiva
A-regra
A então recém fundada Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo de Jerusalém necessitava da
confirmação da igreja católica, para isso precisava de um “porta voz” junto à igreja em favor
deles. A fim de atrair o apoio de Bernardo, Hugo de Payns lhe escreveu de Jerusalém pedindo-
lhe ajuda para obter a confirmação apostólica e da redação de uma Regra de Vida, pedido esse
enviado por dois cavaleiros, Godemar e André, esse ultimo era possível ser tio de Bernardo
que aceitou o pedido e fez a defesa dos cavaleiros durante o concilio apresentado a regra que
deveriam seguir.
Esta tradução do original, ou primitiva, Regra dos Templários está baseada na edição de 1886
de Henri de Curzon, A Regra do Templo como Manual Militar, ou Como Desempenhar um
Posto de Cavalaria. Representa a Regra dada aos recém originados Cavaleiros do Templo pelo
Concílio de Troyes, 1129, embora “não se deva esquecer que a Ordem já existia durante vários
anos e desenvolvido suas próprias tradições e costumes antes da aparição de Hugues de
Payens no Concílio de Troyes. Portanto, até certo ponto, a Regra Primitiva é baseada em
práticas já existentes”.(Upton-Ward, p.11)
A Regra Primitiva
1. Dirigimo-nos, em primeiro lugar, a todos aqueles que com discernimento rechaçam sua
própria vontade e desejam de todo o coração servira seu rei soberano como cavaleiro;
levar com supremo afã, e permanentemente, a mui nobre armadura da obediência. E,
portanto, nós os convidamos a seguir os escolhidos por Deus entre a massa perdida aos
quais propiciou, em virtude de sua sutil misericórdia, defender a Santa Igreja, e que vós
ansiais abraçar para sempre.
2. Sobre todas as coisas, quem quer ser um cavaleiro de Cristo escolhendo essas sagradas
ordens em sua profissão de fé, deve unir simples diligência e firme perseverança, que é tão
valiosa e sagrada e se revela tão nobre, que se se mantém impoluta para sempre, merecerá
acompanhar os mártires que deram suas almas por Cristo Jesus. Nesta ordem religiosa
floresceu e se revitaliza a ordem de cavalaria. A cavalaria, apesar do amor pela justiça que
constitui seu dever, não cumpriu com seus deveres para com os pobres, viúvas, órfãos e
igrejas defendendo-os, antes se aparelharam para destruir, despojar e matar. Deus, que
atua conforme para conosco, e nosso salvador Cristo Jesus, enviou seus seguidores, desde a
cidade Santa de Jerusalém aos quartéis da França e Borgonha, para nossa salvação e
exemplo da verdadeira fé, pois não cessam de oferecer suas vidas por Deus em piedoso
sacrifício.
3. Ante isso nós, em deleite e irmanados, por requerimento do Mestre Hugues de Payens, por
quem a mencionada ordem de cavalaria foi fundada com a graça do Espírito Santo, nos
reunimos em Troyes, dentre as provícias mais além das montanhas, na festa de São Hilário,
no ano da encarnação de Cristo Jesus de 1128, no nono ano após a fundação da
anteriormente mencionada ordem de cavalaria. Da conduta nos princípios da Ordem de
Cavalaria escutamos em capítulo comum dos lábios do anteriormente citado Mestre, Irmão
Hugues de Payens, e de acordo com as limitações de nosso entendimento, o que nos
pareceu correto e benéfico elogiamos, e o que nos pareceu errôneo rechaçamos.
4. E tudo o que aconteceu naquele Conselho não pode ser contado nem recontado e para que
não seja tomado por precipitação nossa, senão considerado com sábia prudência,
desejamos a discrição de ambos, nosso honorável padre o Senhor Honório e do nobre
Patriarca de Jerusalém, Esteban, que conhece os problemas do Leste e dos Pobres
Cavaleiros de Cristo; por conselho do concilio comum o aprovamos unanimemente.
Embora um grande número de padres religiosos reunidos em capítulo aprovou a
veracidade de nossas palavras, não obstante não devemos silenciar os verdadeiros
pronunciamentos e juízos que emitiram.
5. Portanto, eu, Jean Michel, a quem foi encomendado e confiado tão divino serviço, pela
graça de Deus, serví de humilde escriba do presente documento por ordem do conselho e
do venerável padre Bernardo, abade de Clairvaux.
6. Primeiro foi Mateo, bispo de Albano, pela graça de Deus, legado da Santa Igreja de Roma;
R[enaud], arcebispo de Reims; H[enri}, arcebispo de Sens; e seus clérigos: G[ocelin], bispo
de Soissons; o bispo de Paris; o bispo de Troyes; o bispo de Orlèans; o bispo de Auxerre; o
bispo de Meaux; o bispo de Chalons; o bispo de Laon; o bispo de Beauvais; o abade de
Vèzelay, que posteriormente foi arcebispo de Lyon e legado da Igreja de Roma; o abade
Citeaux; o abade de Pontigny; o abade de Trois-Fontaines; o abade de St. Denis de Reims; o
abade de St-Etienne de Dijon; o abade de Molesmes; ao anteriormente mencionado
B[ernard], abade de Clairvaux: cujas palavras o anteriormente citado elogiou abertamente.
Também estiveram presentes o mestre Aubri de Reims; mestre Fulcher e vários outros que
seria tedioso mencionar. E dos outros que não se mencionaram, é importante assentar,
neste assunto, de que são amantes da verdade: eles são o conde Theobald; o conde de
Nevers; Andrè de Baudemant. Estiveram no concílio e atuaram com perfeito e cuidadoso
estudo selecionando o correto e descartando o que não lhes parecia justo.
7. E também estava presente o Irmão Hugues de Payens, Mestre de Cavalaria, com alguns dos
irmãos que o acompanharam. Estes eram Irmão Roland, Irmão Godefroy, e Irmão Geoffroi
Bisot, Irmão Payens de Montdidier, Irmão Archambaut de Saint-Amand. O próprio Mestre
Hugues com seus seguidores anteriormente citados, expuseram os costumes e
observâncias de seus humildes começos e um deles disse: ‘Ego principium qui est loquor
vobis’, que significa “Eu que falo a vós sou o princípio” segundo minha lembrança pessoal.
8. Agradou ao concílio ordinário que as deliberações e o estudo das Sagradas Escrituras, que
se examinaram profundamente com a sabedoria de meu senhor H[onorius], papa da Santa
Igreja de Roma, e do Patriarca de Jerusalém, se fizessem ali em conformidade com o
capítulo. Juntos, e de acordo com os Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo que está em
Jerusalém, deve-se pôr por escrito e não esquecido, zelosamente guardado, de tal forma
que para uma vida de observância possam se referir a seu criador como mais doce que mel
e em conformidade com Deus, cuja piedade parece óleo e nos permite ir a Ele a quem
desejamos servir ‘Per infinita saecula saeculorum.Amen’.
Aqui começa a Regra dos Pobres Cavaleiros do Templo
9. Vós, os que renunciais à vossa vontade, e vós, os outros, os que servís a um rei soberano
com cavalos e armas para salvação de vossas almas e por tempo estabelecido, atendereis
com desejo virtuoso ao ouvir as matinas e ao serviço completo, segundo a lei canônica e
aos costumes dos mestres da Cidade Santa de Jerusalém. Oh vós, veneráveis irmãos, que
Deus esteja convosco, se prometeis desprezar o mundo por perpétuo amor a Deus,
desterrar as tentações de vosso corpo, sustentado pelos alimentos de Deus, beber e ser
instruído nos mandamentos de Nosso Senhor, ao final do ofício divino nenhum deve temer
entrar em batalha se, por fim, usais a tonsura.
10. Mas se qualquer irmão for enviado para o trabalho da casa e pela Cristandade no Leste –
algo que cremos ocorrerá frequentemente – e não puder ouvir o divino ofício, deverá dizer
em lugar das matinas treze pai-nossos; sete por hora e nove às vésperas. E todos juntos
ordenamos que assim o faça. Mas aqueles que foram enviados e não puderem voltar para
assistir ao divino ofício, se lhes for possível às horas estabelecidas, que não deverão ser
omitidas, render a Deus sua homenagem.
11. Se qualquer cavaleiro secular, ou qualquer outro homem, deseja deixar a massa de
perdição e abandonar a vida secular escolhendo a vossa comunidade, não consintais em
recebê-lo imediatamente, porque segundo disse meu Senhor São Paulo: ‘Probate spiritus si
ex Deo sunt’. Que quer dizer: “Prove-lhe a alma para ver se vem de Deus”. Sem embargo, se
a companhia de seus irmãos lhe deve ser concedida, deixai que a ele seja lida a Regra, e se
deseja explicitamente obedecer os mandamentos da Regra, e compraz tanto ao Mestre
quanto aos irmãos o receber-lhe, deixai-o revelar seu desejo perante todos os irmãos
reunidos em capítulo e fazer sua solicitação com coração digno.
14. Embora a regra dos santos padres permita receber meninos na vida religiosa, nós o
desaconselhamos. Porque aquele que deseje entregar seu filho eternamente na ordem de
cavalaria deverá educá-lo até que seja capaz de usar as armas com vigor e liberar a terra
dos inimigos de Cristo Jesus. Então, que sua mãe e pai o levem à casa e que sua petição seja
conhecida pelos irmãos; e é muito melhor que não tome os votos quando menino, senão ao
ser maior, pois é conveniente que não se arrependa disso, do que o faça. E em seguida que
seja posto à prova de acordo com a sabedoria do Mestre e irmãos, conforme a honestidade
de sua vida ao solicitar ser admitido na irmandade.
15. Foi-nos feito saber, e o escutamos de testemunhas presenciais, que de forma imoderada e
sem restrição alguma, vós escutais o divino ofício de pé. Nós não ordenamos que
comportais dessa forma, ao contrário o desaprovamos. Dispomos que, tanto os fortes
quanto os debilitados, para evitar desordens, cantem o salmo chamado Venite com a
invitatória e o hino sentados, e digam suas orações em silêncio, em voz baixa não
vociferando, para não perturbar as orações dos outros irmãos.
16. Mas ao final dos salmos, quando se canta o ‘Gloria Patri’ em reverência à Santíssima
Trindade, vos poreis de pé e vos inclinareis frente ao altar, enquanto os debilitados ou
enfermos só inclinarão a cabeça. Portanto, mandamos que, quando a explicação dos
Evangelhos seja lida, e se cante o ‘Te Deum laudamus’, e enquanto se cantem os louvores, e
as matinas terminam, vós estejais de pé. Desta mesma forma determinamos que
permaneceis de pé durante as matinas e em todas as horas de Nossa Senhora.
17. Dispomos que todos os hábitos dos irmãos sejam de uma só cor, quer seja branco, negro ou
marrom. E sugerimos que tanto no inverno como no verão, se for possível, usem capas
brancas; e a ninguém que não pertença à mencionada cavalaria de Cristo lhe será
permitido ter uma capa branca para que aqueles que hajam abandonado a vida em
obscuridade se reconheçam uns aos outros como seres reconciliados com seu criador pelo
símbolo de seus hábitos brancos: que significa pureza e completa castidade. A Castidade é
certeza no coração e saúde no corpo. Porque se um irmão não toma votos de castidade não
pode aceder ao eterno descanso nem ver a Deus, pela promessa do apóstolo que disse:
‘sectamini cum omnibus et castimoniam sine qua nemo Deum videbit’. Que significa: “Luta
para levar a paz a todos, mantem-te casto, sem o qual ninguém pode ver a Deus”.
18. Mas essas vestimentas deverão se manter sem riquezas e sem nenhum símbolo de orgulho.
E assim, nós exigimos que nenhum irmão use pele em suas vestimentas, nem qualquer
outra coisa que não pertença ao uso do corpo, nem tão sequer uma manta que não seja de
lã or cordeiro. Concordamos em que todos tenham o mesmo, de tal forma que possam se
vestir e se despir, e por e tirar as botas com facilidade. E o alfaiate, ou quem faça suas
funções, deverá se mostrar minucioso e cuidar que se mantenha a aprovação de Deus em
todas as coisas mencionadas, para que os olhos dos invejosos e mal intencionados não
possam observar que as vestimentas sejam demasiado compridas ou curtas; deverá
distribuí-las de tal maneira que sejam da medida de quem as há de usar, segundo a
corpulência de cada um.
19. E se algum por orgulho ou arrogância deseja ter para ele um melhor e mais fino hábito,
dái-lhe o pior. E aqueles que recebam vestimentas novas deverão imediatamente devolver
as velhas para que sejam entregues a escudeiros e sargentos, e com frequencia aos pobres,
segundo o que considere conveniente o encarregado desse mister.
Sobre as Camisas
20. Entre outros assuntos sobre os que regulamos, devido ao intenso calor existente no Leste,
desde a Páscoa até Todos os Santos, graças à compaixão e de nenhuma forma como de
direito, uma camisa de linho será entregue ao irmão que assim o solicite.
21. Ordenamos por unanimidade que cada homem tenha a roupa e lençóis de acordo com o
juízo de seu Mestre. É nosso propósito que um colchão, um almofadão e uma colcha são
suficientes para cada um; e àquele que lhe falte um desses pode usar uma coberta e uma
colcha de linho que seja sempre de fio fino, e dormirão sempre vestidos com camisa e
calça, sapatos e cinturões, e onde repousem deverá sempre haver uma luz acesa até a
manhã. E o Alfaiate se assegurará que os irmãos estejam tão bem tonsurados que possam
ser examinados tanto de frente como de costas; e nós ordenamos que vós adirais a essa
mesma conduta no tocante a barbas e bigodes para que nenhum excesso se mostre em seus
corpos.
23. No palácio, ou o que deveria se chamar refeitório, devereis comer juntos. Porém, se estais
necessitado de algo, pois não estais acostumados aos utilizados pelos religiosos, em voz
baixa e em particular devereis pedir o que necessitais na mesa com toda a humildade e
submissão. Porque o Apósotolo disse: ‘Manduca panem tuo cum silentio’. Que significa:
“Come teu pão em silêncio”. E o Salmista: ‘Posui ore meo custodiam’. Que quer dizer: “Eu
reprimi minha língua”. Que significa que “Eu creio que minha língua me trairia” o que vem
a ser “Calei para não falar mal”.
24. Sobre a Leitura da Lição 24. Sempre, durante a refeição e ceia no convento, que se leiam as
Sagradas Escituras, se isso for possível. Se amamos a Deus, suas Santas palavras e seus
Santos Mandamentos desejaremos escutar atentamente; e o leitor do texto exigirá silêncio
antes de começar a ler.
25. Devido à escassez de recipientes os irmãos comerão aos pares, de tal forma que um possa
observar de mais perto o outro para que nem a austeridade nem a abstinência em segredo
sejam introduzidas na refeição da comunidade. E nos parece justo que cada irmão tenha a
mesma quantidade de vinho em sua taça.
26. Deverá ser suficiente comer carne três vezes por semana, exceto no Natal, Todos os Santos,
Assunção e na festividade dos doze apóstolos. Porque se entende que o costume de comer
carne corrompe o corpo. Porém, se num jejum em que se deve suprimir a carne cair numa
terça-feira, no dia seguinte será dada uma grande porção aos irmãos. E nos Domingos
todos os irmãos do Templo, os capelães e clérigos receberão dois ágapes de carne em honra
à santa ressurreição de Cristo Jesus. E os demais da casa, que inclui os escudeiros e
sargentos, deverão se contentar com uma refeição e ser agradecidos ao Senhor por ela.
27. Sobre os outros dias da semana, que são segunda-feira, quarta-feira e inclusive Sábados, os
irmãos tenham duas ou três refeições de vegetais ou outros pratos comidos com pão; e nós
cremos que seja suficiente e ordenamos que assim seja, de tal maneira que aquele que não
comer em uma refeição o faça na outra.
Sobre a refeiçao de Sexta-feira
29. Sempre depois de cada refeição ou ceia todos os irmãos deverão dar graças a Deus na
igreja e em silêncio se essa se encontra no lugar onde fazem a refeição, e se não estiver no
mesmo lugar onde hajam tomado a refeição, com humildade deverão dar graças a Cristo
Jesus, que é o Senhor que Provê. Deixai que os pedaços de pão rompido sejam dados aos
pobres, e os que estejam em rodelas inteiras sejam guardados. Embora a recompensa dos
pobres seja o reino dos céus, se oferecerá aos pobres sem qualquer dúvida, e a fé Cristã os
reconhecerá entre os seus; portanto, concordemos que uma décima parte do pão seja
entregue a vosso Esmoleiro.
Sobre a Merenda
30. Quando cai o sol e começa a noite escutais o sinal do sino ou a chamada à oração, segundo
os costumes do país, e acudís todos ao capítulo. Porém, dispomos que primeiro merendeis,
se bem que deixamos a tomada desse refrigério ao arbítrio e discrição do Mestre. Quando
quiserdes água ou ordenais, por caridade, vinho aguado, que se lhes dê com comedimento.
Certamente, não deverá ser em excesso, senão com moderação. Porque Salomão disse:
‘Quia vinunfacit apostatare sapientes’. Que quer dizer: “que o vinho corrompe os sábios”.
31. Quando os irmãos saírem do capítulo não devem falar abertamente, exceto em uma
emergência. Deixai que cada um vá para sua cama tranquilo e em silêncio, e se necessita
falar a seu escudeiro, deverá dizer em voz baixa. Mas, se por casualidade, à saída do
capítulo, a cavalaria ou a casa tem um sério problema que deve ser resolvido antes da
manhã, entendemos que o Mestre ou o grupo de irmãos maiores que governam a Ordem
pelo Mestre, podem falar apropriadamente. E por esta razão obrigamos que seja feita desta
maneira.
32. Porque está escrito: ‘In multiloquio non effugies peccatum’. Que quer dizer: “O falar em
demasia não está livre de pecado”. E em algum outro lugar: ‘Mors et vita in manibus
lingue’. Que significa: “A vida e a morte estão sob o poder da língua”. E dentro desse
entendimento nós conjuntamente proibimos palavras vãs e ataques estrondosos de riso. E
se algo se disse durante essa conversa que não deveria ter sido dito, ordenamos que ao
recostar-vos rezeis um pai-nosso com bastante humildade e sincera devoção.
33. Os irmãos que, devido aos trabalhos da casa, padeçam de enfermidade, podem se levantar
às matinas com o consentimento e permissão do Mestre ou daqueles que se encarreguem
desse mister. Deverão dizer em lugar das matinas treze pai-nossos, assim fica estabelecido,
de tal forma e maneira que suas palavras reflitam seu coração. Assim o disse David:
‘Psallite sapienter’. Que significa: “Canta com sabedoria”. E igualmente disse David: ‘In
conspectu Angelorum psallam tibi’. Que significa: “Eu cantarei para ti ante os anjos”. E
deixai que isso seja sempre assim e à discrição do Mestre ou daqueles encarregados de tal
mister.
34. Lemos nas Sagradas Escrituras: ‘Dividebatur singulis prout cuique opus erat’. Que significa:
“A cada um lhe será dado segundo sua necessidade”. Por essa razão nós decidimos que
nenhum estará acima de vós, senão que todos cuidareis dos enfermos; e aquele que está
menos enfermo dará graças a Deus e não se preocupará; e permitireis que aquele que
estiver pior se humilhe mediante sua debilidade e não se orgulhe pela piedade. Desse
modo todos os membros viverão em paz. E proibimos a todos que abracem a excessiva
abstinência, antes que firmemente mantenham a vida em comunidade.
Sobre o Mestre
35. O Mestre pode, a quem lhe apraza, entregar o cavalo e a armadura e o que deseje de outro
irmão, e o irmão cuja coisa pertencia não se sentirá vexado nem aborrecido: por que se se
aborrece irá contra Deus.
36. Permitir só àqueles irmãos que o Mestre reconhece que darão sábios e bons conselhos
sejam chamados para a reunião; e assim os ordenamos, e que de nenhuma outra forma
alguém possa ser escolhido. Porque quando ocorrer que se deseje tratar de materias serias
como a entrega de terra comunal, ou falar dos assuntos da casa, ou receber a um irmão,
então, se o Mestre o desejar, ser apropriado reunir a congregação inteira para escutar o
conselho de todo o capítulo; e o que considere o Mestre melhor e mais benéfico, deixar que
assim se faça.
Sobre os Irmãos enviados a Ultramar
37. Os Irmãos que sejam enviados a diversos países do mundo deverão observar os mandatos
da Regra segundo sua habilidade e viver sem desaprovação no que diz respeito a carne e o
vinho, etc, para que recebam elogios de estranhos e não macular por feitos e palavras os
preceitos da Ordem, e para ser um exemplo de boas obras e sabedoria; acima de tudo, para
que aqueles com os quais se associem e em cuja pousadas repousem, sejam recebidos com
honra. E a ser possível, a casa onde durmam e se hospedem que não fique sem luz durante
a noite, para que os tenebrosos inimigos não os conduzam à maldade, dado que Deus assim
o proibe.
38. Cada irmão deve se assegurar de não incitar outro à ira ou aborrecimento, porque a
soberana piedade de Deus vê o irmão forte de forma igual que a um debilitado, em nome
da Caridade.
39. A fim de levar a cabo seus santos deveres, merecer a Glória do Senhor e escapar do temível
fogo do inferno, é concorde que todos os irmãos professos obedeçam estritamente a seu
Mestre. Porque nada é mais agradável a Cristo Jesus que a obediência. Por esta razão, tão
logo seja ordenado pelo pelo Mestre ou em quem haja delegado sua autoridade, deverá ser
obedecido sem dilação como se o Cristo o tivesse imposto. Por isso Cristo Jesus pela boca de
David disse e é certo: ‘Ob auditu auris obdevit mihi’. Que quer dizer: “Me obedeceu tão
pronto me escutou”.
40. Por esta razão rezamos e firmemente damos como ditame aos irmãos cavaleiros que
abandonaram sua ambição pessoal e a todos aqueles que servem por um período
determinado, a não sair por povoados ou cidades sem a permissão do Mestre ou de quem o
haja delegado, exceto pela noite ao Sepulcro e outros lugares de oração dentro dos muros
da cidade de Jerusalém.
41. Lá, os irmãos irão aos pares, e de outra forma não poderão sair nem de dia nem de noite; e
quando se detiverem em uma pousada, nenhum irmão, escudeiro ou sargento pode acudir
aos aposentos de outro para ve-lo ou falar com ele sem permissão, tal como foi dito.
Ordenamos, por unânime consentimento, que nesta Ordem regida por Deus, nenhum
irmão deverá lutar ou descansar segundo sua vontade, senão seguindo as ordens do
Mestre, a quem todos devem se submeter, para que sigam as indicações de Cristo Jesus, que
disse: ‘Non veni facere voluntatem meam, sed ejus qui meset me Patris’. Que significa: “Eu
não vim para fazer minha própria vontade, senão a vontade de meu pai, quem me enviou”.
Como devem Possuir e Intercambiar
42. Sem a permissão do Mestre ou de quem em seu lugar ostente o cargo, que nenhum irmão
intercambie coisa alguma com outro, nem mesmo peça, a menos que seja de escasso valor
ou nulo.
Sobre Fechos
43. Sem permissão do Mestre ou quem o represente, nenhum irmão terá uma bolsa ou sacola
que possa ser fechada; mas os diretores de casas ou províncias e o Mestre não observarão
isso. Sem o consentimento do Mestre ou seu comandante, que nenhum irmão tenha carta
de seus parentes ou outras pessoas; mas se tem permissão, e assim o quer o Mestre ou
comandante, essas cartas podem ser lidas.
44. Se algo que não se pode conservar, como a carne, for presenteado em agradecimento a um
irmão por um leigo, este o apresentará ao Mestre ou ao Comandante de gêneros
alimentícios. Porém se ocorre que algum de seus amigos ou parentes deseje presentear só a
ele, que não se aceite sem a permissão do Mestre ou seu delegado. E mais, se o irmão
recebe qualquer outra coisa de seus parentes, que não o aceite sem permissão do Mestre
ou de quem ostenta o cargo. Especificamos que os comandantes ou mordomos, que estão a
cargo desses ofícios, que não se atenham à citada regra.
Sobre Faltas
45. Se algum irmão, falando ou em tropa indisciplinada, ou de algum outro modo comete um
pecado venial, deverá voluntariamente dize-lo ao Mestre para se redimir com o coração
limpo. Se não costuma a se redimir desse modo, que receba uma penitência leve, mas se a
falta é muito séria, que se alije da companhia de seus irmãos de tal forma que não coma
nem beba na mesa com eles, senão sozinho; e se submeterá à piedade e juízo do Mestre e
irmãos, para que seja salvo do Juízo Final.
46. Acima de tudo, devemos nos assegurar que nenhum irmão, poderoso ou não, forte ou
debilitado, que deseje promover gradualmente reinvidicações orgulhosas, que defenda seu
próprio crime e permaneça sem castigo. Porém, se não quiser se submeter por isso, que
receba um castigo maior. E se misericordiosas orações do cosnselho se rezam por ele a Deus, e
ele não quiser se emendar, senão que se orgulha mais e mais disso, que seja erradicado do
renbanho piedoso, segundo o que o apóstolo disse: ‘Auferte malum ex vobis’. Que quer dizer:
“Aparta os malvados dentre os teus”. É necessário para vós separar as ovelhas perversas da
companhia dos irmãos piedosos.
47. E mais, o Mestre, que deve levar em suas mãos o báculo – e bastão de mando que sustenta
as debilidades e fortaleza dos demais, deverá se ocupar disso. Mas também, como meu senhor
St. Maxime disse:”Que a misericórdia não seja maior que a falta, nem que o excessivo castigo
conduza o pecador a regressar às suas más ações”.
Sobre a Maledicência
48. Mandamos, por divino conselho, o evitar as pragas da inveja, maledicência, despeito e
calúnia. Portanto, cada um deve guardar zelosamente o que o apóstolo disse: ‘No sis
criminator et susurro in populu’. Que significa: “Não acuses ou prejudique o povo de Deus”.
Mas quando um irmão saiba com certeza que seu companheiro pecou, em privado e com
fraternal misericórdia, que seja ele mesmo quem o admoeste secretamente, e, se não quiser
escutar, outro irmão deverá ser chamado, e se os recusa a ambos, deverão dizê-lo
publicamente perante o capítulo. Aqueles que depreciam seus semelhantes sofrem de terrível
cegueira e muitos estão cheios de grande tristeza já que não desarraigam a inveja que sentem
dos outros; e por isso, serão arremessados para a imemorável perversidade do demônio.
Sobre a Caça
55. Proibimos coletivamente. Que nenhum irmão cace uma ave com outra. Não é adequado
para um religioso sucumbir aos prazeres, senão escutar voluntariamente os mandamentos de
Deus, estar frequentemente orando e confessar diariamente implorando a Deus em suas
orações o perdão dos pecados que haja cometido. Nenhum irmão pode ter a presunção de ser
um homem que caça uma ave com outra. Ao contrário, é apropriado para um religioso agir de
modo simples e humildemente, sem rir e falar em demasia, com ponderação e sem levantar a
voz. E por esta razão dispomos especialmente a todos os irmãos que não adentrem os bosques
com lanças nem arcos para caçar animais, nem que o façam em companhia de caçadores,
exceto movidos pelo amor de preservá-los dos pagãos infiéis. Nem devereis ir com cachorros,
nem gritar, nem conversar, nem esporear vosso cavalo só pelo desejo de capturar um animal
selvagem.
Sobre o Leão
56. É verdade que haveis entregue vossas almas por vossos irmãos, tal como o fez Cristo Jesus,
e defender a terra dos incrédulos pagãos, inimigos do filho da Virgem Maria. Esta célebre
proibição de caça não inclui de forma alguma o leão. Dado que vem sorrateiro e envolvente
para capturar sua presa com suas garras contra o homem, ide com vossas mãos contra ele.
Sobre os Dízimos
58. Vós haveis abandonado as sedutoras riquezas deste mundo e vos haveis submetido
voluntariamante à pobreza; e por isso resolvemos que vós que viveis em comunidade possais
receber dízimos. Se o bispo da localidade, a quem o dízimo deveria ser entregue por direito,
deseja dá-lo por caridade com o consentimento do capítulo, pode doar esses dízimos que
possui sua igreja. E mais, se um plebeu guarda os dízimos de seu patrimonio para si, em
desfavor da igreja, e deseja cede-los a vós, o podeis aceitar com a permissão do prelado e seu
capítulo.
63. E mais, deveis professar vossa fé com pureza de coração de dia e de noite para que possam
se comparar, nesse aspecto, com o mais sábio dos profetas, que disse: ‘Calicem salutaris
accipiam’. Que quer dizer: “Eu beberei do cálice da salvação”. O que significa: “Vingarei a
morte de Cristo com minha morte. Porque da mesma maneira que Cristo Jesus deu seu corpo
por mim, da mesma forma estou preparado para dar minha alma por meus irmãos”. esta é
uma oferenda apropriada, um sacrifício vivente e do agrado de Deus.
Sobre Irmãs
70. A companhia das mulheres é assunto perigoso porque por sua culpa o experimentado
diabo desencaminhou a muitos do reto caminho do Paraíso. Portanto, que as mulheres não
sejam admitidas como irmãs na casa do Templo. Por isso, queridos irmãos, que não
consideramos apropriado seguir esse costume para que a flor da castidade permaneça sempre
impoluta entre vós.
Sobre os Mandatos
73. Todos os mandatos que se mencionaram e escreveram aqui nesta presente Regra estão
sujeitos ao juízo do Mestre.
Estes são os Dias Festivos e de Jejum que todos os Irmãos devem Celebrar e Observar
74. Que saibam todos os presentes e futuros irmãos do templo que devem jejuar nas vigílias
dos doze apóstolos, que são: São Pedro, São Paulo, Santo André, São Thiago, São Felipe, São
Tomé, São Bartolomeu, São Simão, São Judas Tadeu, São Mateus. A vigília de São João Batista,
a vigília da Ascenção e os dois dias anteriores, os dias de rogativas, a vigília de Pesntecostes, as
quatro Temporas, a vigília de São Lurenço, a vigília de Nossa Senhora da Ascenção, a vigília de
Todos os Santos, a Vigília da Epifania. E deverão jejuar em tosos os dias citados segundo
disposição do Papa Inocêncio no Concílio da cidade de Pisa. E se alguns dos dias de jejum cai
numa Segunda-feira, deverão jejuar no Sábado anterior. Se o Natal de Nosso Senhor cai numa
Sexta-feira, os irmãos comerão carne em honra da fessta, mas deverão jejuar no dia de São
Marcos devido às Litanias, porque assim foi estabelecido por Roma para os homens mortais.
Noão obstante, se cai durante a oitava da Páscoa, não deverão jejuar.
Estes são os Dias de Jejum que deverão ser observados na Casa do Templo
75. Natal de Nosso Senhor; a festa de Santo Estevão; São João Evangelista; os Santos Inocentes;
o oitavo dia depois do Natal, que é o dia de Ano Novo; a Epifania; Santa Maria Candelária; São
Matias Apóstolo; a Anunciação de Nossa Senhora em Março; Páscoa e os três dias seguintes ao
dia de São Jorge; os Santos Felipe e Thiago, dois apóstolos; o encontro da Vera Cruz; a
Ascenção do Senhor; Pentecostes e os seguintes: São João Batista; São Pedro e São Paulo, dois
apóstolos; Sant Maria Madalena; São Thiago Apóstolo; São Lourenço; a Ascenção de Nossa
Senhora; a natividade de Nossa Senhora; a Exaltação da Cruz; São Mateus Apóstolo, São
Miguel; Os Santos Simão e Judas; a festa de Todos os Santos; São Martinho no inverno; Santa
Catarina no inverno; Santo André; São Nicolau no inverno; São Tomé Apóstolo.
76. Nenhuma das festas menore se deve observar na casa do Templo e desejamos e
aconselhamos que se cumpra estritamente: todos os irmãos do Templo deverão jejuar desde o
Domingo anterior a São Martinho até o Natal de Nosso Senhor, a menos que a enfermidade o
impeça. Se ocorrer que a festa de São Martinho caia num Domingo, os irmãos não comeram
carne no Domingo anterior.
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