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INTRODUÇÃO
O termo “sedimentologia” foi definido pela primeira vez por Wadell, em 1932, como sendo “o
estudo dos sedimentos”. Segundo o Dicionário Aurélio, “sedimento” é tudo que se deposita na água ou
no ar por ação da gravidade. De uma maneira genérica, a Sedimentologia estuda detalhadamente os
sedimentos e seus processos formadores, incluindo origem, transporte, deposição, e diagênese, ou seja,
estuda as condições ambientais em que foram formados. Existem muitas disciplinas que estão
intrinsecamente relacionadas à Sedimentologia, muitas vezes se sobrepondo a ela, como a
Estratigrafia, a Petrografia, e a Petrologia. Assim, a Sedimentologia só foi reconhecida como uma
disciplina das geociências no final dos anos 60, tendo por objetivo a análise ambiental através da
caracterização do sedimento e das rochas sedimentares.
Neste curso, iremos estudar a Sedimentologia de uma forma ampla, iniciando com uma visão
macroscópica do assunto (o ciclo sedimentar em todas as suas fases) para depois concentrarmo-nos na
parte microscópica, como as propriedades dos sedimentos e a classificação das rochas sedimentares.
Após os ensinamentos básicos da Sedimentologia serem expostos, terminaremos o curso com o
enfoque da Sedimentologia aplicada. Aí entram assuntos diversos, como as alterações nos processos
sedimentares associados às flutuações do nível do mar e a utilização do conhecimento dos processos
costeiros para resolver problemas ambientais (erosão costeira, deslizamento de encostas, poluição,
etc.).
que todas as rochas tinham sido formadas por precipitação quando um enorme oceano primitivo
evaporou. As geociências tomaram outro rumo quando as teorias deixaram de ser desenvolvidas
baseadas apenas em observações da natureza e passaram a ter maior fundamento devido à
intensificação dos trabalhos de campo e as análises em laboratório. Um dos pioneiros na geologia
prática foi o escocês James Hutton (1727-1797) que estudou afloramentos rochosos formulando teorias
sobre as condições ambientais passadas em que foram formadas. Ele visualizou a superfície da Terra
em estado dinâmico, onde as forças envolvidas na formação das rochas eram balanceadas pelas forças
responsáveis por sua destruição. A teoria Netuniana caiu devido às descobertas de Hutton que, junto
com o engenheiro inglês William Smith (1769-1839) e o italiano Leonardo Da Vinci, deu origem à
escola do Uniformitarianismo. O impacto que as idéias do Uniformitarianismo tiveram para a geologia
compara-se ao que a lei da gravidade de Newton teve para a física. O Uniformitarianismo baseia-se em
três pontos fundamentais:
(1) A história da terra pode ser decifrada a partir do estudo das camadas das rochas sedimentares
(sendo que nelas não se pode encontrar registros do período em que a terra foi formada);
(2) Os processos formadores das rochas antigas são semelhantes aos processos atuais; e
(3) A terra é um corpo dinâmico cuja superfície está em constante modificação resultante da
interação entre suas forças internas e externas.
Um empecilho à proliferação das idéias de Hutton era a força opositora da igreja. Naquela
época, acreditava-se que toda a história da terra estava contada no Velho Testamento, ou seja,
restringia-se a apenas 6.000 anos. Hutton tinha observado que a história registrada nas camadas das
rochas sedimentares era muito mais extensa do que 6.000 anos, o que foi considerado uma heresia. O
descrédito no Uniformitarianismo deu espaço para uma nova corrente liderada por Georges Cuvier
(1769-1832). Cuvier conseguiu contornar o problema gerado pela idéia de que a história da terra era
mais antiga do que a igreja acreditava. Ele dividiu a história da terra em três fases: pré-dilúvio, dilúvio
e pós-dilúvio, sendo que as duas últimas fases compreendiam os períodos descritos na Bíblia, enquanto
a primeira fase foi considerada dominada pelo demônio e pela escuridão (pois não constava na Bíblia)
e só os “filósofos naturais” (os geólogos da época) podiam estudá-la. Atualmente, as idéias do
Uniformitarianismo são amplamente conhecidas e aceitas principalmente devido aos trabalhos de Lyell
(1830 e 1865) e Sorby (1853 e 1908), que estabeleceram os princípios básicos da Estratigrafia e
Sedimentologia modernas. Um dos grandes ensinamentos do Uniformitarianismo foi o princípio do
atualismo estabelecido por Sir Archibald Geikie (1905), que diz “o presente é a chave do passado”.
O enfoque dos estudos sedimentológicos ao longo do século XX tem se modificado em função
das necessidades da sociedade moderna. Até o início do século, os trabalhos concentravam-se na coleta
de fósseis e nos estudos microscópicos. Posteriormente, a busca pelo petróleo intensificou o
desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos, envolvendo estudos multidisciplinares. A
oceanografia também teve papel fundamental no desenvolvimento da sedimentologia, pois foi através
de um estudo sobre as diferenças entre as estruturas dos depósitos da plataforma continental e das
regiões abissais (New Light On Sedimentation and Tectonics, de Sir Edward Bailey, 1930) que o
enfoque deixou de ser microscópico (fósseis e minerais pesados) e passou para o macroscópico
(processos sedimentares). Atualmente, há a tendência de fusão ou associação de diversas ciências,
como geologia, oceanografia, meteorologia, astronomia, geofísica, etc. para que se obtenha uma visão
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mais realista e completa dos processos naturais e suas interações. Assim, a sedimentologia atual tem
sido utilizada no estudo da interação entre os processos naturais e as atividades antrópicas,
principalmente visando a preservação ambiental.
Na maioria das vezes, os avanços obtidos em uma disciplina causam grande impacto em várias
outras disciplinas relacionadas, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de novas técnicas
e equipamentos. Isto é particularmente verdade na influência que as explorações oceanográficas
tiveram sobre a sedimentologia e vice-versa. As descobertas oceanográficas podem ser separadas em
quatro períodos distintos:
(1) antes de 1872 ou pré-Challenger. Nesta fase os estudos concentravam-se nas regiões costeiras
e marinhas rasas e apresentou uma evolução significante no conhecimento sobre os efeitos da
circulação da água nos sedimentos de fundo. Os estudos aplicados eram impulsionados pela
navegação comercial e pela colocação de cabos submarinos telegráficos em rotas
transatlânticas. Lyell e Darwin foram os grandes nomes desta fase, que teve quatro grandes
enfoques: (1) a biogeografia dos invertebrados marinhos, (2) a origem dos atóis coralíneos, (3)
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o estudo das ondas e correntes e seus efeitos nos sedimentos de fundo, e (4) os padrões de
circulação aquática e a distribuição de sedimentos.
(2) 1872-1876 ou Challenger. A expedição do H.M.S. Challenger foi realizada pela Sociedade
Real de Londres (Royal Society of London) em associação com a Marinha Real inglesa (Royal
Navy) e teve duração de três anos e meio. A expedição circunavegou a Terra medindo a
temperatura da água superficial e em várias profundidades, coletando amostras de água,
sedimento, animais e plantas e fazendo sondagens de profundidade. Ao terminar a expedição,
o processamento das amostras e dados foi feito na Escócia e resultou na publicação de 50
volumes, que foram a base para o atual conhecimento que se tem dos oceanos. Esta expedição
foi revolucionária em termos dos avanços nos conhecimentos sobre os oceanos. Por exemplo,
o estudo dos elementos maiores na água do mar praticamente parou após a expedição, pois
simplesmente não se encontrava nada que o químico alemão Dittmar já não tivesse descoberto
através das análises nas 77 amostras de água coletadas durante a expedição. Várias outras
contribuições foram importantes, como o início da classificação dos sedimentos pelágicos, a
descrição de inúmeros microorganismos, o estudo dos nódulos de manganês e a identificação
de partículas cósmicas.
(3) entre a expedição Challenger e a II Guerra Mundial. O resultado da Challenger incentivou
vários outros países a investirem na pesquisa científica e uma série de expedições
oceanográficas foram realizadas. As mais importantes foram as que se utilizaram de novos
equipamentos e tecnologias, como a obtenção dos primeiros testemunhos de mar profundo
pela expedição alemã do Pólo Sul (South Polar Expedition) realizada entre 1906-1908. Esses
testemunhos levaram à descoberta da relação entre foraminíferos e a variação da temperatura
da água durante as mudanças climáticas do Quaternário. O desastre com o Titanic impulsionou
o interesse pelo uso do som na pesquisa oceanográfica, sendo que a expedição alemã Meteor
na década de 20 utilizou pela primeira vez ondas sonoras para estimar a profundidade da
coluna d’água. A ecossonda registradora, inventada na década de 30, foi um dos equipamentos
que propiciou o grande progresso da oceanografia nos anos seguintes.
(4) após a II Guerra Mundial. Nesta fase, a Sedimentologia marinha teve avanços extraordinários
devido ao desenvolvimento de equipamentos mais precisos e técnicas mais apuradas, como a
ecossonda, o testemunhador à pistão, fotografia e cinegrafia submarinas feitas através de
equipamentos SCUBA ou submersíveis que permitiam a visualização direta do fundo
oceânico, e os registros contínuos da sísmica de reflexão e do sonar de varredura lateral. O
desenvolvimento desses novos equipamentos deveu-se às atividades militares da II Guerra
Mundial, mas foram gradativamente sendo aplicados para fins civis de pesquisa no pós-guerra.
Talvez o maior avanço tenha sido a possibilidade de observar diretamente o ambiente marinho
através dos submersíveis e do mergulho autônomo. Assim, a conquista das profundidades
oceânicas pelo homem será descrita brevemente na próxima seção.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Dixon, D., 1992. The Practical Geologist. Simon & Schuster: New York, 160p.
Friedman, G.M. and Sanders, J.E., 1978. Principles of Sedimentology. Wiley & Sons: New York,
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Schwoerbel, W., 1972. Rumo ao fundo do mar. In: Reader’s Digest Selections, 1972. O Grande Livro
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Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
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A superfície da Terra está em estado dinâmico, ou seja, está continuamente sendo criada e
destruída em processos que podem durar algumas horas ou alguns milhares de anos. Esses processos
fazem parte do ciclo geológico (Figura 6), que descreve todas as trajetórias possíveis para os elementos
minerais presentes na superfície ou no interior na Terra. O ciclo geológico consiste em quatro
processos básicos que são os responsáveis pela formação e transformação dos três grupos de rochas
existentes na Terra:
• Magmatismo, é a fusão dos compostos formadores das rochas sob as altas temperaturas e
pressões que ocorrem em locais profundos da crosta e no manto superior. O resfriamento e a
cristalização deste material (magma) na superfície ou no interior da crosta formam as rochas
primárias ou ígneas.
• Metamorfismo, é a transformação de rochas preexistentes em rochas metamórficas sob os
efeitos de alta temperatura, pressão, reações químicas ou uma combinação dos três.
• Ciclo Sedimentar, consiste na alteração física e química das rochas aflorantes na superfície da
Terra, incluindo desde o intemperismo
(formação dos sedimentos) até a diagênese
(formação das rochas sedimentares).
• Soerguimento, é o processo responsável pelo
afloramento das rochas presentes no interior da
crosta através de movimentos tectônicos ou
orogênicos. É fundamental para o ciclo
sedimentar que inicia a partir das rochas
expostas na superfície da Terra.
Graças ao soerguimento, todos os três tipos de
rochas podem ser encontrados na superfície da Terra.
Em função do tempo e dos processos do ciclo
geológico cada uma dessas rochas pode ser
transformada em uma rocha diferente. O período de
tempo necessário nestas transformações é variável, mas
Figura 6. Representação simples do ciclo
nem mesmo a mais dura rocha escapa da dinâmica geológico. As setas azuis identificam os
existente na superfície e no interior da Terra. O calor processos do ciclo sedimentar, as setas
gerado pelas reações nucleares no interior da Terra e amarelas do metamorfismo, e as setas
alaranjadas do magmatismo.
no sol é a força que rege a dinâmica do ciclo
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geológico. O calor interno da Terra forma o magma que origina as rochas ígneas e também fornece a
energia que move as placas tectônicas, soerguendo montanhas e expondo as rochas à superfície da
terra, ao mesmo tempo em que consomem material nas zonas de subdução onde são transformados em
magma. O calor do sol controla o ciclo da água, a circulação dos ventos e determina o clima, cujos
processos desgastam as rochas aflorantes, transportando o material gerado para locais onde serão
soterrados por materiais mais novos, transformados em rochas e dando continuidade ao ciclo.
O ciclo sedimentar é a parte do ciclo geológico que ocorre na superfície da Terra e consiste
num conjunto de processos responsáveis pela formação dos sedimentos, seu transporte e deposição, até
a sua transformação em rochas sedimentares (Figura 7).
Em geral, os minerais que
compõe as rochas aflorantes na
superfície terrestre foram formados
sob altas temperaturas e pressões e
sem o contato com uma atmosfera
oxidante. Estas condições são muito
distintas das existentes na superfície
da Terra, ou seja, baixas temperaturas
e pressões, oxigênio e água em
abundância. Assim, muitos minerais
são instáveis nas condições reinantes
em superfície e tendem a sofrer
alterações que os transformem em
compostos que estejam mais em
equilíbrio com as novas condições
ambientais. As transformações das
rochas preexistentes (ou rochas
matrizes) são causadas por processos
físicos, químicos e biológicos e
resultam em resíduos sólidos ou
dissolvidos, que formam o sedimento.
O conjunto de transformações pelas
quais uma rocha aflorante passa é
chamado de intemperismo. Então, o
intemperismo é a primeira etapa do
ciclo sedimentar e é responsável em
transformar as rochas-fontes em
Figura 7. Representação esquemática das etapas do ciclo
partículas sedimentares passíveis de sedimentar (intemperismo, erosão, transporte, deposição,
serem transportadas. litificação) e seus produtos dentro do ciclo geológico.
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(a) Compactação, é o único processo físico da diagênese, que resulta do acomodamento dos
grãos gerado pela expulsão dos fluidos intersticiais pelo próprio peso das camadas
sobrejacentes.
(b) Litificação, resulta na consolidação ou cimentação do sedimento pela precipitação química
de materiais nos poros intersticiais.
(c) Recristalização, consiste na mudança do tamanho e da forma das partículas através de
estruturas de crescimento secundário, mas sem alterar sua composição original.
(d) Autigênese, é a formação de novos minerais, de composição diferenciada dos depositados
originalmente.
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expandir e contrair mais que seu interior. Isto gera um esforço diferencial que, ao longo do
tempo, leva ao fraturamento da rocha. Sob o efeito da variação de temperatura, os minerais
variam de tamanho e as proporções desta mudança dependem do coeficiente elástico de cada
mineral e da direção cristalográfica em que é
feito o esforço. Quando sujeitos à mudanças de
temperatura por um longo período de tempo,
estes minerais perdem a elasticidade e rompem-
se criando pontos de fraqueza na rocha.
• Alívio de pressão. Conforme as rochas aflorantes
sofrem erosão, ocorre uma diminuição da
pressão exercida sobre as rochas de
subsuperfície. O alívio de pressão gera a
fragmentação do tipo esfoliação que tende a ser Figura 9. Esfoliação gerada por alívio de
pressão.
paralela à superfície, ou seja, acompanha o
relevo do terreno (Figura 9).
Gera a decomposição dos minerais instáveis presentes na rocha original através de reações
químicas com a água, como a oxidação, redução, dissolução, hidratação, hidrólise e carbonatação. O
intemperismo químico pode resultar na formação de novos minerais (argilo-minerais) e na dissolução
dos elementos e compostos solúveis presentes na rocha-fonte, ou seja, gera compostos de composição
diferente da rocha matriz.
A presença de água na superfície da Terra é uma das características mais importantes da Terra,
assim é importante rever algumas das propriedades da água que são importantes para as reações do
intemperismo químico. A grande maioria das propriedades especiais da água deve-se a sua polaridade,
que resulta de ligações covalentes assimétricas que fazem o oxigênio apreender mais elétrons do que
poderia. Teoricamente, a ligação entre os átomos de hidrogênio e o de oxigênio deveria ser de 90º, mas
a ligação é de 104º devido à repulsão entre os átomos de hidrogênio. Por causa disto, as moléculas de
água agrupam-se formando tetraedros de quatro moléculas, ligados por pontes de hidrogênio. Outras
propriedades da água relacionadas a sua polaridade e importantes para o intemperismo são descritas a
seguir:
• Alta capacidade solvente sobre compostos ligados ionicamente. As terminações positivas e
negativas da molécula de água atraem os íons de carga contrária, neutralizando-os.
• Alta tensão superficial, alto ponto de fusão e capilaridade são causados pelo agrupamento
tetraédrico das moléculas.
• Aumento da viscosidade com a diminuição da temperatura. O decréscimo na temperatura gera
uma diminuição na agitação térmica entre as moléculas de água e um aumento no número de
pontes de hidrogênio, consequentemente no tamanho do agrupamento das moléculas.
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A instabilidade dos minerais também pode ser explicada em função da sua estrutura cristalina
(Keller, 1954). Esta teoria determina que os minerais com menos ligações Si-O são mais instáveis,
porque a alta força desta ligação tende a manter a estrutura cristalina unida, independente das outras
ligações entre os cátions e o oxigênio. Assim, os minerais mais resistentes são aqueles compostos
somente de tetraedros de sílica e aqueles que apresentam outros cátions são mais instáveis pois são
suscetíveis à neutralização de suas cargas por moléculas de água. Desta forma, os sedimentos deveriam
ser compostos essencialmente por quartzo, moscovita, ortoclásio e minerais pesados. O quartzo
realmente é o mineral mais abundante nos sedimentos, mas a quantidade dos outros minerais depende
de vários fatores, como: abundância do mineral na rocha fonte, dureza do mineral, tamanho original do
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cristal ou grão, clima, taxa de erosão, etc. A relação de estabilidade dos compostos minerais às
condições normais da superfície terrestre seria, do mais estável para o menos estável: óxidos de ferro
(como a limonita), óxidos de alumínio (como a bauxita), quartzo, argilo-minerais, moscovita,
feldspatos K (ortoclásio), biotita, plagioclásios Na (albita), anfibólios, piroxênios, plagioclásios Ca
(anortita) e olivinas. Assim, a composição do resíduo final de uma rocha intensamente intemperisada
será quartzo, caulinita (gibsita), bauxita e limonita. Para que isto aconteça, é necessário clima quente e
úmido e baixa taxa de erosão.
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Consiste nas alterações físicas e químicas do intemperismo
geradas pela ação de organismos, como a pressão exercida pelas
raízes das árvores ou a fragmentação gerada pela escavação de
animais. Na realidade, o intemperismo biológico age associado aos
intemperismos físicos e químicos, ampliando e facilitando seus
efeitos. O resultado mais importante deste intemperismo é a
formação dos solos, onde o papel do húmus e das bactérias é
fundamental. A formação do solo é muito interessante, pois ele é
tanto um produto quanto um agente do intemperismo. A presença
do solo age como um feedback positivo, propiciando a sua própria
produção através da ação dos ácidos húmicos, das bactérias e da
ação dos organismos. Os solos podem apresentar três horizontes,
observados através de uma seção vertical, embora a composição e
a espessura variem conforme o local (Figura 11):
(3) horizonte C: é a rocha fonte fracamente alterada e misturada Figura 11. Perfil típico dos solos.
com argila.
Podemos classificar três tipos de solos quanto aos minerais
presentes em cada horizonte:
• Pedalfer, rico em Al e Fe e produtos estáveis, como quartzo, argilas e óxidos de ferro. Não
apresenta calcário e ocorre em áreas de alta pluviosidade.
• Pedocal, apresenta minerais solúveis, indicando clima quente e seco. Contém calcário no
horizonte B e tem mais argilas que minerais inalterados.
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Elsom, D., 1992. Earth: the Making, Shaping and Working of a Planet. Macmillan: New York, 216p.
Friedman, G.M. and Sanders, J.E., 1978. Principles of Sedimentology. Wiley: New York, 792p.
Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.
Press, F. and Siever, R., 1986. Earth (4th ed.). Freeman: New York, 656p.
Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.
Zumberge, J.H.; Rutford, R.H. and Carter, J.L., 1995. Laboratory Manual for Physical Geology (9th
ed.). Brown Publishers: Dubuque, 228p.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
EROSÃO E GEOMORFOLOGIA
NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:
• A relação entre intemperismo e erosão
• O que são e como ocorrem os “movimentos de massa”
• A importância da erosão para a evolução da geomorfologia
Erosão é o nome dado ao conjunto de processos que fazem a remoção dos detritos formados
pelo intemperismo, gerando a degradação do relevo. A erosão ocorre pela ação de quatro principais
agentes: gravidade, gelo, água corrente e vento. A gravidade envolve tanto o lento movimento das
partículas numa pendente inclinada quanto as catastróficas avalanches. A erosão glacial ocorre pela
abrasão da superfície terrestre gerada pelo lento movimento das geleiras sob a ação da gravidade. A
erosão pela água corrente ocorre em várias situações, como a erosão fluvial, marinha, etc. A gravidade
está presente na maioria dos processos erosivos determinando a energia do agente transportador.
Assim, a erosão está intrinsecamente relacionada com a existência de pendentes inclinadas onde a
gravidade atua de forma a favorecer a remoção das partículas (Figura 12). Cabe aqui ressaltar a inter-
relação entre erosão e intemperismo. Em locais com alta taxa de erosão, o intemperismo não tem
tempo de atuar efetivamente sobre o sedimento, visto que logo ele é removido. Ao mesmo tempo, se
não ocorresse a remoção das partículas, o intemperismo poderia atuar intensamente sobre o sedimento,
mas não atingiria a rocha inalterada que está protegida pelo seu manto de intemperismo. Então, a
continuidade da formação dos sedimentos é obstruída em locais de pouca ou nenhuma erosão. Um dos
poucos casos em que a gravidade não é fundamental para o processo erosivo decorre da erosão eólica.
A capacidade erosiva do vento é pequena devido à sua baixa capacidade de transporte, mas pode
tornar-se considerável em locais de clima desértico.
Figura 12. Relação das fases da sedimentogênese com o tipo de relevo. O intemperismo
predomina em regiões onde a erosão não atua, ou seja, áreas de baixo relevo. A erosão
é a remoção inicial do sedimento, colocando-o disponível para os agentes
transportadores de longa distância, como rios, ventos e geleiras.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Acredita-se que a gravidade é um processo nivelador do terreno por ser responsável pelo
movimento de sedimento encosta abaixo. A gravidade sozinha não causa a queda espontânea de
materiais que estão em equilíbrio. A água é um fator importante na perda de estabilidade de um
depósito em terreno inclinado, que age tanto reduzindo o atrito entre o material, quanto aumentando o
seu peso. Estes dois fatores explicam porque os deslizamentos de terra ocorrem mais freqüentemente
em épocas de chuvas intensas. Fatores adicionais que podem desestabilizar uma pendente são
vibrações do terreno (terremotos, tremores de terra), expansão e contração dos solos, ou a ação erosiva
das ondas e outros fluxos de água. O sedimento depositado em uma pendente pode ser arrastado,
deslizar, formar fluxos ou desabar, movimentos que recebem o nome genérico de “ movimentos de
massa” (Figura 13).
Figura 13. Tipos de movimentos de massa: (a) arrasto, (b) fluxo detrítico, (c) fluxo de lama, (d)
deslizamento de terra, (e) deslizamento rochoso e (f) avalanche.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
ocorrem quando uma massa de sedimento movimenta-se ao longo de uma superfície curva (que pode
ser determinada pelo acamadamento). O bloco de sedimento pode manter-se coeso ou desestruturar-se
na descida. A velocidade dos deslizamentos pode variar de 5 cm/ano a 3 m/s e podem ser rasos (2 a 4
m) ou remover encostas inteiras. Os deslizamentos
rochosos (Figura 13e) consistem em movimentos
rápidos de fragmentos rochosos que se despreendem
da rocha parcialmente fragmentada e movem-se ao
longo dos planos de acamadamento, acumulando-se na
base da encosta. As avalanches (Figura 13f) consistem
na queda-livre de fragmentos de rocha ao longo de
uma encosta muito íngreme. Deslizamentos e
escorregamentos muitas vezes são citados como
sinônimos, embora deslizamentos não mantêm a
estrutura do depósito que está sendo erodido e
escorregamentos mantêm a massa que está sendo
transportada como uma unidade, preservando sua Figura 14. Exemplo de escorregamento.
estrutura (Figura 14).
Atividades humanas como o uso abusivo dos solos, desmatamentos e a ausência ou mal
planejamento de engenharia civil afetam a cobertura vegetal, a inclinação do terreno e a drenagem dos
solos podendo gerar ou agravar movimentos de massa, tornando-os devastadores. Os exemplos de
catástrofes causadas por movimentos de massa são inúmeros, todos os anos ocorrem novos
deslizamentos de terra, enchentes ou fluxos de lama que podem causar grandes danos quando ocorrem
em centros urbanos. São inúmeros os exemplos de desastres causados pela erosão. Em 1983, um
grande deslizamento de lama (4.000.000 m3) represou o Spanish Fork Canyon no estado de Utah
(EUA) formando um grande lago que submergiu uma pequena cidade, forçando seus habitantes a
fugirem, e soterrou importantes acessos rodo-ferroviários, isolando parte do estado. Este deslizamento
foi causado pela sucessão de diversos fatores, como: a acumulação recorde de neve no alto das
montanhas no inverno anterior, a rápida fusão dessa neve na primavera quente e chuvosa que sucedeu,
gerando fluxos detríticos e deslizamentos de terras. Deslizamentos são comuns onde há combinação de
chuvas intensas, construções sobre terrenos inclinados de material inconsolidado e destruição da
vegetação e geralmente resultam de um pobre planejamento de engenharia e falta de observação. Eles
são repentinos, movimentando grande volume de sedimentos, e parecem impossíveis de serem
previstos. Em Quebec, um fluxo de lama ocorreu quando cortaram pendentes muito íngremes em
formações inconsolidadas de silte e argila para alargar uma auto-estrada. Após um período de chuvas,
as paredes íngremes tornaram-se saturadas de água e, repentinamente, ocorreu um fluxo de lama que
carregou construções, estradas e pessoas. Em 1963, nos Alpes Italianos, um deslizamento de 200
milhões de m3 de terra caiu sobre as águas de uma represa, gerando uma enchente que matou 2600
pessoas que viviam nas redondezas. A represa foi construída num vale de paredes abruptas e os
engenheiros não observaram dois pontos fundamentais: a fraqueza das rochas sedimentares que
serviam de parede para o reservatório e um pequeno deslizamento premonitório ocorrido
anteriormente.
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A maioria do material sedimentar que é transportado pelos rios foi erodido, anteriormente,
(transportado encosta abaixo) por processos de movimentos de massa. A remoção deste material por
processos distintos e em diferentes taxas é que gera a variada topografia terrestre. O intemperismo
físico e químico e os movimentos de massa em combinação com os rios, os ventos, as geleiras e o mar
modelam a superfície da Terra. Assim, há uma dependência entre o ciclo sedimentar e a topografia
terrestre, visto que a altitude e o relevo (parâmetros da topografia) determinam a ocorrência e a
intensidade das fases da sedimentogênese, ao mesmo tempo em que essas fases alteram a topografia.
O simples impacto dos pingos da chuva e o escoamento da água da chuva sobre a superfície de
um terreno podem causar erosão, ou seja, remover grande quantidade de material sedimentar para
outras áreas. Os pingos de chuva variam de 0,5 a 7 mm de diâmetro e atingem o chão com velocidades
entre 1 e 9 m/s, causando um impacto suficiente para remover partículas de tamanho silte e argila. Os
pingos de maior diâmetro são agentes efetivos de erosão, principalmente em solos sem vegetação. A
vegetação é a melhor maneira de evitar esta lavagem de material, pois as folhas reduzem o impacto do
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Elsom, D., 1992. Earth: the Making, Shaping and Working of a Planet. Macmillan: New York, 216p.
Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.
Press, F. and Siever, R., 1986. Earth (4th ed.). Freeman: New York, 656p.
Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
O tamanho de grão (ou granulometria) é uma das mais simples e notórias propriedades
físicas dos sedimentos, assim é importante o uso de uma classificação que padronize a
nomenclatura e possibilite comparações entre os dados e sua interpretação. Desta forma, ao
escutarmos nomes como areia, silte ou argila, sabemos exatamente o tamanho das partículas em
questão. Embora um sedimentólogo experiente possa ser capaz de estimar o tamanho do grão
visualmente ou através do tato, existem métodos bastante precisos para determinar o tamanho das
partículas sedimentares. Os métodos de determinação da granulometria de um sedimento
baseiam-se em medições do diâmetro, volume, área ou velocidade de decantação das partículas,
sendo que o método mais adequado depende das características do sedimento. Por exemplo, o
tamanho das partículas que são facilmente manuseadas individualmente pode ser determinado
através da medição de seus diâmetros. Já partículas muito pequenas necessitam métodos indiretos
para a determinação de seu tamanho médio, como por exemplo sua velocidade de decantação. Se
um depósito sedimentar é formado por partículas de vários tamanhos, possivelmente será
necessário utilizar métodos de determinação da granulometria que se baseiam em princípios
diferentes principalmente para a fração de sedimentos finos (silte e argila) e para a fração de
grosseiros (areia e maior que areia). Assim, é imprescindível conhecermos as classificações de
tamanhos de grão e os princípios de cada um dos métodos de granulometria, para que se possa
realizar uma interpretação correta e consistente dos resultados obtidos.
27
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
28
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
!" # #
Sempre que a amostra não puder ser desagregada sem causar alteração nos grãos, a
granulometria deverá ser determinada por seções finas vistas ao microscópio. Um método
trabalhoso, mas rápido, consiste em medir o diâmetro do campo de visão do microscópio em
aumento conhecido, dividindo-o pelo número de grãos presentes numa seção transversal. Este
procedimento deve ser repetido até que sejam satisfeitas as condições estatísticas. Este método é
limitado, pois fornece somente o tamanho médio do grão e não possibilita determinar o índice de
seleção da amostra. Consequentemente, este método não serve para estudos granulométricos
detalhados, mas pode ser útil nas análises faciológicas. Idealmente, os estudos granulométricos de
seções finas devem ser feitos usando catodoluminescência ou microscopia eletrônica. A fórmula
usada para calcular o tamanho médio do grão por este método é:
Mz = Σ (D/n)
N
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
!$ !" # # ""
Existem muitos métodos de análise granulométrica para sedimentos não consolidados,
cada um mais adequado para determinado tamanho de partícula. Material mais grosseiro que
areia, como matacões e seixos, são medidos manualmente com paquímetro ou fita métrica. As
areias normalmente são peneiradas e o material lamoso passa pelo processo de pipetagem.
A peneiragem baseia-se na determinação da granulometria em função do menor diâmetro
das partículas, já que este método consiste em passar uma amostra de peso conhecido através de
um conjunto de peneiras com malhas de aberturas diferentes, dispostas em grão-decrescência
(com a malha de maior abertura em cima e as de menor abertura embaixo). Este conjunto deve ser
vibrado por um período de tempo fixo, possibilitando que as partículas passem pelas peneiras de
malha maior que seu diâmetro. A quantidade de amostra retida em cada peneira é pesada e,
posteriormente, transformada em porcentagem do peso total peneirado, que é usado para
representar a distribuição granulométrica. Este método é rápido e suficientemente preciso para a
maioria dos estudos granulométricos. O grau de eficiência do peneiramento depende de todas as
partículas de diâmetro menor do que a malha passarem para uma peneira de malha mais fina.
Independente do tempo que o jogo de peneiras for vibrado, a eficiência nunca será de 100%, ou
seja, sempre restará alguma partícula mais fina sobre cada malha. A probabilidade de
permanência de grãos pequenos sobre uma peneira, depende do tamanho da amostra, da
distribuição granulométrica e do número de aberturas por unidade de área da malha. Assim, a
possibilidade dos grãos passarem pela malha aumenta quando a amostra for espalhada por toda a
superfície da peneira e diminui quanto maior a proporção de material grosseiro, pois os grãos
maiores podem obstruir a malha. Quanto mais próxima for a granulometria da amostra do
diâmetro da malha, mais difícil a passagem dos grãos.
!$ !" # # !
A granulometria dos sedimentos finos normalmente é determinada por métodos que
utilizam a velocidade de decantação das partículas como referência do tamanho do grão. Esta
relação está expressa na Lei de Stokes (1851), que se baseia no fato das partículas sedimentares
decantarem com velocidade constante, quando a resistência do fluido iguala-se à força de
gravidade atuante sobre a partícula. A Lei de Stokes foi determinada em função de uma série de
princípios físicos, sendo que suas deduções iniciaram através da determinação da resistência que
um fluido oferece ao movimento das partículas:
R = 6 r v
Onde: R = resistência do fluido à queda (g.cm/s2)
r = raio da esfera (cm)
= viscosidade do fluido
v = velocidade de queda da partícula (cm/s)
A força que se opõe à resistência do fluido ao movimento (R) é determinada pela ação da
gravidade sobre a massa da partícula, ou seja:
30
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
F = Mg
Onde: F = força
M = massa da partícula
g = aceleração da gravidade
F = 4/3 r3 d g
Onde: d = densidade da partícula
E = 4/3 r3 df g
Onde: E = empuxo
df = densidade do fluido
g = aceleração da gravidade
Quando a força que determina a queda das partículas (F) for maior que o empuxo (E),
ocorrerá um movimento para baixo, cuja resultante S será:
S = 4/3 r3 g (d - df)
Quando a resultante S for igual a resistência do fluido ao movimento (R), a velocidade de
queda será constante. Igualando-se as duas equações (R e S) podemos conhecer o valor desta
velocidade constante (v):
4/3 r3 g (d - df) = 6 r v
v = 4 g r3 (d - df)
3 (6) r
v = (d - df) g D2
18
Onde: D = diâmetro do grão
d = densidade do grão
df = densidade do fluido
g = gravidade
= viscosidade do fluido
31
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Partículas menores que 2 (0,002 mm) não obedecem esta lei devido ao movimento
browniano. A Lei de Stokes também não se aplica a partículas maiores que 62 (0,062 mm),
porque estas não atingem velocidade constante em provetas de tamanho normal, não podendo ser
controladas aumentando-se a viscosidade do fluido. De forma geral, a Lei de Stokes fornece
resultados satisfatórios nas análises granulométricas de sedimentos lamosos quando respeitadas
suas limitações. Sendo assim, é o princípio mais utilizado na determinação da distribuição
granulométrica da fração de finos. Embora esta lei não compreenda as diferenças nas formas dos
grãos, pode-se adaptá-la, descrevendo-a da seguinte forma: a velocidade de sedimentação das
partículas lamosas é diretamente proporcional à diferença de densidade entre a partícula e o
fluido, à esfericidade e ao quadrado do diâmetro das partículas, e inversamente proporcional à
viscosidade do fluido. A maioria dos grãos de quartzo possui esfericidade 0,7 ou maior (este
conceito será abordado mais adiante neste capítulo) e estas partículas apresentam uma variação na
velocidade de decantação grosseiramente proporcional a sua esfericidade. Isto quer dizer que uma
partícula de quartzo de esfericidade 0,8 decanta com uma velocidade de 0,8 vezes a de uma esfera
de quartzo de mesmo volume. Baseado na Lei de Stokes, pode-se estabelecer tabelas de
velocidades de decantação para partículas de forma esférica e densidade específica conhecida,
como mostra a Tabela 3.
Tabela 3. Velocidade de decantação para esferas de densidade 2,65 (quartzo) em água destilada a
uma temperatura de 20° C.
Diâmetro da partícula Velocidade de decantação da partícula
(mm) (ø) (cm/s)
0,062 4 0,347
0,031 5 0,0869
0,016 6 0,0217
0,008 7 0,00543
0,004 8 0,00136
0,002 9 0,00034
0,001 10 0,000085
0,0005 11 0,000021
32
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
A velocidade de queda das partículas maiores que 0,062 mm pode ser determinada pela
Lei do Impacto (1963). Equacionando-se as forças que puxam as partículas para baixo e as forças
opositoras ao movimento, observa-se que a velocidade de decantação é proporcional à raiz
quadrada do raio da esfera para as partículas maiores que silte. A Lei do Impacto pode ser
definida da seguinte maneira: a velocidade de decantação das partículas arenosas é independente
da viscosidade do fluido, é diretamente proporcional à raiz quadrada do raio da partícula, à
esfericidade da partícula e à diferença entre as densidades da partícula e do fluido, dividida pela
densidade do fluido.
v = C √r
Onde: C = constante referente as diferenças de densidades entre o fluido e a partícula e
aceleração da gravidade
33
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
%
O objetivo das análises granulométricas é estabelecer a distribuição dos diversos
tamanhos de grão presentes em uma amostra. Assim, é muito importante que a forma de
apresentação dos dados seja de fácil compreensão e possa ser utilizada para comparar os
resultados de amostras diferentes, por pessoas diferentes. Em geral, há padrões de apresentação
dos dados granulométricos que são utilizados por sedimentólogos do mundo inteiro, facilitando a
troca de informações e comparações de resultados. Os métodos de separação granulométrica
vistos acima fornecem o peso relativo da amostra que se encontra em cada uma das classes
granulométricas medidas. Conhecendo-se o peso inicial de amostra que foi utilizado nas análises,
pode-se transformar o peso de cada classe de tamanho de grão na porcentagem do peso total,
padronizando os resultados obtidos para cada classe e cada amostra, o que facilita a comparação
dos resultados. A porcentagem do peso total (ou freqüência simples) é a forma mais utilizada de
representação numérica da distribuição granulométrica dos sedimentos e geralmente é disposta
em tabelas apresentando os valores para todas as classes analisadas. Normalmente, estas tabelas
apresentam as classes de maior tamanho de grão na parte superior e as classes de menor tamanho
de grão na parte inferior e os resultados são expressos pelo peso do material retido em cada
classe, o mesmo resultado na forma de sua freqüência simples e também a freqüência acumulada.
A partir dos dados apresentados nestas tabelas pode-se fazer a representação gráfica da
distribuição granulométrica, o que facilita a interpretação e comparação dos valores dentro de
34
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
uma mesma amostra e também entre amostras. Por sua vez, algumas formas de representação
gráfica possibilitam a determinação dos parâmetros estatísticos usados para caracterizar
(classificar) de forma mais objetiva as amostras, determinando as semelhanças ou diferenças
entre os depósitos analisados.
35
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
uma das variáveis, diminuindo sua concentração em direção à face oposta ao vértice. Quando
estes diagramas são utilizados para classificar as amostras em função de sua distribuição
granulométrica, as variáveis mais comuns são as porcentagens de areia, silte e argila das
amostras.
/
A interpretação da distribuição granulométrica baseada nos gráficos acima citados pode
trazer inúmeras informações sobre os meios de transporte e deposição, mas a caracterização
descritiva da amostra feita desta forma é muito subjetiva. A caracterização do sedimento de forma
mais objetiva é feita utilizando-se o cálculo de alguns parâmetros estatísticos, como o tamanho
médio do grão, o grau de seleção da amostra, a assimetria, curtose, etc. Os valores utilizados no
cálculo dos parâmetros estatísticos são extraídos das curvas de freqüência acumulada em escala
probabilística. Vários autores tentaram estabelecer a forma mais adequada de calcular os
parâmetros estatísticos, sendo que dois tiveram mais aceitação. Trask (1930) determinou que as
amostras poderiam ser classificadas utilizando-se a parte central da curva (que engloba maior
número de partículas) representada pelos percentis 25 e 75, ou seja, o tamanho de grão em phi
que corresponde aos 25% e aos 75% da curva de freqüência acumulada. Este método é chamado
de método dos quartéis, pois divide a distribuição granulométrica em quatro partes eqüidistantes
(25%, 50%, 75%, 100%). Outro método bastante aceito foi desenvolvido por Folk e Ward (1957)
e baseia-se na utilização dos percentis 16 e 84 (que representam os pontos de inflexão de uma
curva de distribuição normal) associados aos percentis 5 e 95 (que representam os extremos da
distribuição. Os valores utilizados nas fórmulas estabelecidas por esses métodos, assim como os
resultados obtidos serão sempre valores de tamanho de grão em phi. A descrição dos parâmetros
estatísticos e as fórmulas apresentadas neste capítulo são baseadas no método estabelecido por
Folk e Ward (1957).
# # "# !#-!$ !
Consiste nos parâmetros que indicam as características da parte central da amostra, ou
seja, da parte que inclui a maior parte das partículas presentes numa amostra. São eles: média
aritmética, mediana e moda.
Média aritmética (Mz): é determinada pela média aritmética dos percentis 16, 50 e 84, conforme
mostra a fórmula abaixo. O percentil 16 representa o terço mais grosseiro, o percentil 84, o terço
mais fino e o percentil 50, o terço central da curva, assim esta é considerada uma boa
representação do tamanho médio do grão porque não se baseia exclusivamente num único
tamanho de grão ou classe de tamanho. O valor obtido através da fórmula da Mz serve para
classificar o tamanho médio das partículas de uma amostra em função de alguma escala de
tamanho de grão como a de Wentworth. Por exemplo, se o resultado obtido for 2,4 phi, o
tamanho médio do grão será classificado como areia fina, segundo a escala de Wentworth. A Mz
é a medida de tendência central mais importante, pois é determinada pela fonte de sedimento,
pelo agente transportador e pelo ambiente deposicional.
38
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Mediana (Md): é o tamanho do grão presente no percentil 50, obtido diretamente das curvas de
freqüência acumulada em escala probabilística. A mediana representa exatamente o tamanho de
grão que divide a distribuição granulométrica (em peso) nos 50%, ou seja a metade da esquerda é
formada por sedimentos mais grosseiros e a metade da direita é formada por sedimentos mais
finos.
Moda (Mo): é o tamanho de grão de maior freqüência e pode ser determinada diretamente nas
curvas de freqüência simples. Os histogramas e as tabelas de freqüência fornecem a classe modal,
ou seja, a classe que apresenta a maior freqüência de partículas.
(# ". 0 ' !
São medidas referentes ao grau de dispersão das partículas em torno da tendência central
da amostra. É representado principalmente pelo desvio padrão ou grau de seleção.
Desvio padrão ( ): É a variação central dos tamanhos de grão a partir da média aritmética. Serve
para determinar o grau de dispersão das classes granulométricas em relação à média, ou seja, o
selecionamento da amostra. Folk e Ward (1957) determinaram o desvio padrão gráfico incluso,
que se aproxima do desvio padrão matematicamente calculado, pela seguinte fórmula:
39
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Curtose (Kg): é o grau de afilamento da curva e pode ser observado pela forma das curvas de
freqüência simples. A curtose pode ser definida como a razão entre o espalhamento na parte
central da amostra e o espalhamento nas caudas da distribuição. Uma curva muito afilada (muitas
partículas concentradas na parte central da curva e poucas partículas nas caudas) é chamada
leptocúrtica. Curvas que apresentam distribuição normal são chamadas mesocúrticas e curvas
achatadas são chamadas platicúrticas.
Kg = ø95 - ø5
2,44(ø75 - ø25)
""' 2 34
É a tendência da curva de freqüência simples deslocar-se para um dos lados. Quando a
curva apresentar uma cauda maior para o extremo dos finos, a assimetria é dita positiva, quando a
cauda é maior para o lado dos grosseiros, a assimetria é negativa. Amostras assimétricas
apresentam a média aritmética e a mediana com valores distintos e deslocadas em relação à moda,
para a direita, quando a assimetria for positiva e para a esquerda, quando for negativa.
40
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
sucessivamente (Figura 24). Estes gráficos podem ser úteis na diferenciação de amostras retiradas
de ambientes ou subambientes distintos. Os diagramas dispersos tendem a agrupar as amoastras
que apresentam características
semelhantes e isolar amostras
diferentes. Amostras
agrupadas pelos diagramas
dispersos refletem que foram
depositadas por processos
sedimentares semelhantes e de
mesma intensidade, ou pelo
menos que a ação dos
processos sedimentares
(mesmo diferentes) resultaram
em características comuns.
Desta forma, deve-se procurar
as causas que geraram as
diferenças ou semelhanças
entre as amostras, tendo-se Figura 24. Exemplos de diagramas dispersos baseados nos
como ponto de partida os parâmetros estatísticos calculados para uma série de cinco
diagramas dispersos. amostras de areias praiais.
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Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.
Press, F. and Siever, R., 1986. Earth (4th ed.). Freeman: New York, 656p.
Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
= Ap/Ae
Na prática, a área superficial de uma partícula irregular é impossível de se medir, assim
define-se a esfericidade em função do seu volume (Vp) em relação ao volume da menor esfera
que circunscreve tal partícula (Ve), medindo-se o volume através da sua imersão em um líquido.
3
= (Vp/Ve)
Quando as partículas forem do tamanho areia, a relação pode ser feita comparando-se a
área superficial da partícula com a área superficial de uma esfera de igual volume (Wadell, 1932);
ou comparando-se o volume da partícula com o volume da menor esfera circunscrita a esta
partícula. Embora precisos, os métodos descritos acima são bastante trabalhosos e requerem
muito tempo para determinar a esfericidade de um grande número de partículas. Assim, foi criada
uma maneira mais rápida de determinar a forma das partículas por comparação visual. Este
método consiste na comparação dos grãos vistos através de lupa com o desenho bidimensional de
44
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
grãos arranjados em classes pré-determinadas de esfericidade, conforme mostra a figura 26. Esta
figura apresenta a tabela criada por Rittenhouse (1943) para determinar o grau de esfericidade das
partículas detríticas, cuja classificação é feita da seguinte forma:
Figura 26. Tabela para determinação do grau de esfericidade por comparação visual (Rittenhouse, 1943).
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Os principais fatores que influenciam a esfericidade são: (1) direção das fraquezas, como
acamadamentos, fraturas, clivagens e (2) tamanho. Quanto maior o tamanho dos seixos (> 8 mm),
menor a esfericidade; enquanto que nas partículas de tamanho areia, a esfericidade aumenta com
o diâmetro. O motivo deste comportamento ainda não é bem compreendido.
= [( ri)/N]/R
(b) = 0,48
A classificação do arredondamento é feita em função do resultado desta relação, de forma
que quanto maior o valor resultante, maior o arredondamento da partícula. Assim, a partícula (b)
da figura 27 é mais arredondada que a partícula (a). Para simplificar esta operação foram
desenvolvidas tabelas comparativas como a apresentada na figura 28 (Krumbein, 1941). Pettijohn
(1957) estabeleceu 5 classes diferentes de arredondamento segundo os valores obtidos pela
fórmula de Wadell, conforme descrito abaixo:
(1) angular: apresenta grau de arredondamento de 0 a 0,15 (grupos 1 e 2); os cantos são
agudos e as reentrâncias bem definidas, o que evidencia pouco retrabalhamento.
(2) subangular: apresenta grau de arredondamento de 0,16 a 0,25 (grupos 3 e 4). Os grãos
apresentam as formas originais, com início de desgaste nos cantos. As reentrâncias
maiores ainda persistem, mas as menores são mais lisas e em menor número.
46
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Figura 28. Tabela para determinação do grau de arredondamento de partículas arenosas por
comparação visual (Krumbein, 1941).
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.
Pettijohn, F.J., 1957. Sedimentary Rocks (2nd ed.). Harper & Row: New York, 718 p.
Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
presença ou ausência de marcas. Podem ter superfície fosca ou polida, lisas ou com marcas.
Muita difusão ou dispersão de luz resulta em superfície fosca, já superfícies brilhantes
(polidas) sugerem regularidade na reflexão da luz. Desta forma, cores claras geralmente
indicam bom polimento. Superfícies lisas são aquelas que não apresentam marcas, que são
pequenas irregularidades descritas em função de sua forma, como estrias, sulcos,
acanelamentos ou microcrateras.
(a) fosca lisa
(b) polida lisa
(c) fosca com marcas superficiais
1.sulcos 2.estrias 3.acanelamento 4.microcrateras
(d) polida com marcas superficiais
1.sulcos 2.estrias 3.acanelamento 4.microcrateras
II. Partículas menores que 2 mm- estes grãos podem ter superfície fosca ou polida e lisa ou
rugosa. A diferença entre superfície fosca e polida, é que a última apresenta brilho. Uma
partícula é considerada lisa, quando sua superfície não apresenta relevo, quando observada
ao microscópio. Uma superfície rugosa apresenta irregularidades, chamadas de estrias
quando forem lineares, de corroídas quando resultarem de processos químicos, facetada
quando houver crescimento secundário sobre o material original, fosqueada quando as
irregularidades forem muito pequenas e esburacadas quando as irregularidades forem
maiores.
(a) fosca lisa
(b) polida lisa
(c) fosca rugosa
1.estriada (ação glacial)
2.facetada (crescimento secundário)
3.fosqueada (pequenos sulcos)
4.corroída (dissolução)
5.esburacada (sulcos maiores)
(d) polida rugosa
1.estriada
2.facetada
3.fosqueada
4.corroída
5.esburacada
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
tentativas têm sido realizadas para a quantificação de dados relativos às estriações (ângulos,
espaçamentos e profundidade) e a microscopia eletrônica têm sido utilizada para quantificar o
polimento dos grãos (número, densidade e forma das irregularidades). Além disso, as
controvérsias sobre a relação entre a textura superficial e o agente causador também dificultam o
uso desta propriedade física na identificação genética do depósito.
Pettijohn, F.J., 1957. Sedimentary Rocks (2nd ed.). Harper & Row: New York, 718 p.
Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
encontradas as duas valvas articuladas, a posição vertical pode refletir a posição de vida do
molusco. Conchas cônicas normalmente são alinhadas pela ação da corrente uni ou bidirecional,
com a maioria das conchas dispostas paralelamente e apontando para uma mesma direção. A falta
de orientação pode refletir a ausência de correntes ou fatores que inibem o livre movimento das
conchas sobre o fundo.
Acredita-se que o ângulo de mergulho das partículas é um bom indicador do ambiente
deposicional. Assim, a imbricação de seixos em ambientes fluviais pode variar entre 15° e 30°,
sendo que o maior eixo da partícula apresenta-se paralelamente ao fluxo quando o declive for
acentuado (maior velocidade da corrente) e perpendicular quando o declive for suave. Em
depósitos glaciais e flúvio-glaciais os ângulos de imbricação são de 20° a 25°, podendo atingir
40° em alguns casos, e os seixos apresentam-se paralelos à direção do fluxo. Em praias, o ângulo
de imbricação é bastante suave, com valores inferiores a 15° e os seixos dispostos
perpendicularmente à direção predominante do fluxo.
O empacotamento ou densidade
espacial de um depósito sedimentar é
determinado pelo arranjo das partículas, ou
seja, conforme o número de partículas
presentes em uma unidade de volume. Assim,
vários modos de empacotamento podem
existir, sendo os mais comuns o cúbico e o
romboédrico (Figura 30), com porosidade de
48% e 26%, respectivamente. Estes valores
representam o mínimo e o máximo para
esferas perfeitas, portanto depósitos naturais
não cimentados apresentam valores
intermediários de porosidade. Vários fatores Figure 30. Diferença de porosidade nos depósitos
determinam a geometria do empacotamento, em função do empacotamento das partículas.
sendo a forma do grão e a velocidade de
deposição os principais.
Pettijohn, F.J., 1957. Sedimentary Rocks (2nd ed.). Harper & Row: New York, 718 p.
Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.
Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.
Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
A petrofísica é o estudo das propriedades físicas dos poros existentes no interior de uma
rocha, geralmente descritas através de sua porosidade e permeabilidade. A sua importância está
em determinar a capacidade de armazenamento de fluidos que uma rocha ou depósito pode ter. A
capacidade de reter óleo, gás, água ou a precipitação de muitos minerais determina a importância
econômica de certos depósitos (e.g. extração de recursos minerais), além de contribuir para o
estudo dos processos diagenéticos.
Uma rocha sedimentar é composta por grãos, matriz, cimento e poros. Os grãos são as
partículas detríticas que formam a estrutura da rocha. A matriz é formada pelos detritos mais
finos presentes no interior da estrutura. O cimento é o mineral de crescimento pós- deposicional
que ocorre no interior dos espaços vazios do sedimento. Os poros são os espaços vazios (não
ocupados por grãos, matriz ou cimento), normalmente preenchidos por gases, como N2, CO2 e
hidrocarbonetos, ou líquidos, variando da água potável ao óleo.
A porosidade é definida como a proporção dos espaços vazios presentes numa rocha em
relação ao seu volume total e é quantificada através da porcentagem do volume de poros em
relação ao volume total da amostra, ou seja:
A maioria das rochas apresenta porosidade total entre 5-25% ou 25-35%, estas
consideradas como excelentes reservatórios de água ou óleo. Pode-se, também, determinar a
porosidade efetiva de uma rocha, que é a quantidade de poros interconectados que permitem o
escoamento do fluido neles presente. Então, a porosidade economicamente importante é a efetiva,
que dá à rocha a propriedade da permeabilidade. Pode-se medir a porosidade de um sedimento
inconsolidado através do volume de água necessário para saturar uma amostra. O procedimento é
o seguinte:
(a) Coloca-se uma amostra seca de volume conhecido em um container transparente.
(b) Adiciona-se água gradativamente até haver a completa saturação da amostra.
(c) O volume de água necessário para saturar a amostra é igual ao volume de poros, a partir do
qual calcula-se a porosidade.
(d) Para medir porosidade efetiva, faz-se a extração à vácuo dos fluidos presentes nos poros
da amostra.
A porosidade pode ser primária quando adquirida no momento da deposição, ou
secundária, quando modificada por processos pós-deposicionais. Segundo Beard e Weyl (1973), a
porosidade primária é influenciada por cinco variáveis: tamanho do grão, seleção, esfericidade,
arredondamento e empacotamento, da seguinte forma:
55
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
A cor é uma das propriedades mais notórias e, talvez, a mais negligenciada no estudo dos
sedimentos. A cor do sedimento é muito utilizada na correlação estratigráfica, já que há uma
concordância de que seqüências espessas de cores entre cinza e preto são de origem marinha ou
lacustre e sedimentos vermelhos são subaéreos.
Para a descrição precisa das cores é necessário seguir um guia padrão de cores.
Atualmente utiliza-se o Rock Color Chart (Goddard et al., 1948), que apresenta 115 cores,
utilizando-se de três parâmetros: comprimento de onda, luminosidade e saturação. Cada cor
possui um código, do tipo 10 R 5/2. O primeiro elemento (10 R) define o comprimento de onda
da luz (por exemplo, vermelho). O segundo termo (5/) corresponde à luminosidade, ou seja, a
quantidade de preto em relação ao branco. E o terceiro número (2) refere-se à saturação, baseada
na quantidade relativa da cor pura em relação ao cinza. Para diminuir o erro de determinação,
deve-se aproximar a amostra o mais próximo possível do guia. Quando ocorrer mais de uma cor,
por exemplo da superfície fresca e da superfície alterada, determina-se ambas.
As cores dependem dos minerais formadores da rocha fonte, do tamanho do grão, da
quantidade e estado de oxidação do ferro e da quantidade e tipo de matéria orgânica. Os minerais
ricos em ferro e a matéria orgânica são os principais agentes de coloração nas rochas
sedimentares. Sendo que a matéria orgânica não age apenas como pigmento, mas também como
agente redutor, afetando o estado de oxidação dos elementos. Assim, a cor branca representa a
ausência total de pigmentos e ocorre, principalmente, em depósitos salinos e em areias totalmente
quartzosas. As cores cinza e preta relacionam-se à presença de matéria orgânica e, em casos mais
restritos à presença de óxidos de manganês, sendo que a tonalidade apresentada varia com a
concentração da matéria orgânica. As cores avermelhadas ou castanhas decorrem da presença de
hidróxidos de ferro, ricos em ferro férrico, enquanto alguns sedimentos podem apresentar cores
esverdeadas devido à presença de ferro ferroso. Normalmente, concentrações muito baixas (por
volta de 1%) de um pigmento, já são suficientes para determinar a coloração do depósito.
A cor dos arenitos também pode ser determinada pela composição mineralógica do
depósito. Os quartzo-arenitos variam de cinza claro a branco; arenitos arcosianos ricos em
feldspatos-K normalmente são róseos; lito-arenitos são cinzas escuros e as areias glauconíticas
são verdes. Normalmente a diminuição da granulometria é acompanhada pelo aumento de cores
escuras, seja pelo aumento da superfície do grão ou pelo aumento na concentração de ferro. O
escurecimento é uma função do fluxo de matéria orgânica durante a deposição, a taxa de
sedimentação e a taxa de oxidação da matéria orgânica. Pode-se encontrar seqüências intercaladas
de lama cinza claro e cinza escuro, sendo que as partes mais claras devem-se à oxigenação
causada por bioturbação.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
O transporte e a deposição dos sedimentos são governados pelas leis da física. Conhecendo-
se os princípios físicos do transporte pode-se explicar as propriedades físicas dos depósitos. A
sedimentação é a deposição de material sólido em meio fluido, portanto o transporte sedimentar
pode ser compreendido através da dinâmica dos fluidos. Os agentes transportadores mais comuns
resultam da ação da água, vento e gravidade, de forma que o principal problema encontrado na
identificação das condições existentes no momento da deposição refere-se à semelhança no
comportamento de uma partícula sólida em meio líquido ou gasoso.
Primeiro, é necessária a compreensão de alguns pontos:
A densidade dos fluidos é definida como a quantidade de massa por unidade de volume.
Assim, os gases são menos densos que os líquidos por apresentarem menor número de
moléculas por volume.
A viscosidade pode ser definida como a resistência à deformação do fluido. Como os gases
apresentam menos moléculas, elas estão mais distanciadas uma das outras, favorecendo o
livre movimento, conseqüentemente, apresentam menor viscosidade. Os líquidos são mais
viscosos, pois as moléculas estão tão próximas que possuem uma força de coesão que
impede o livre movimento.
As duas propriedades acima variam com a temperatura, quanto mais quente, maior agitação
molecular, portanto menor viscosidade e densidade.
O ponto de partida para a análise do transporte e deposição de sedimentos é a “ Lei de
Stokes” , já utilizada para determinar o tamanho do grão através da velocidade de decantação das
partículas. Introduzindo uma partícula esférica num líquido estático de maior densidade, a esfera
começa um movimento acelerado através de um fluido até atingir uma velocidade constante.
Considerando as forças de resistência nos fluidos, pode-se chegar a uma relação teórica que
expressa a velocidade constante de decantação:
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
O número de Reynolds (R) pode ser usado para diferenciar o comportamento de um fluido
em um limite sólido (um tubo ou as paredes de um canal), quando for interpretado como a relação
entre a força viscosa e a força inercial do fluxo. Quando a força viscosa predomina (resistência à
deformação do fluido), o R é pequeno e o fluxo é laminar; quando a força inercial predomina
(resistência da massa à aceleração), R é maior e o fluxo é turbulento. A velocidade crítica que
determina o limite entre os fluxos, varia conforme a viscosidade do fluido e o diâmetro do tubo,
de forma que R pode variar entre 500 e 2000:
R < valor limite, o fluxo é laminar, ou
seja, as linhas de fluxo correm paralelas
às superfícies limitantes (Figura 31),
não são muito frequentes, podendo ser
encontrados nas geleiras, nas lavas e
nos fluxos de lama e
R > valor limite, o fluxo é turbulento,
gerando vórtices e turbilhões de forma Figura 31. O fluxo laminar (R < 500 ou 2000) tem
que a velocidade varia nas três linhas de fluxo paralelas. O fluxo turbulento (R >
500 ou 2000) tem velocidade variável em todas as
dimensões (Figura 31). direções.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Outro coeficiente importante na dinâmica dos fluidos é o “ Número de Froude” , que pode ser
aplicado sempre que fluidos laminares ou turbulentos apresentarem uma superfície livre onde a
gravidade for importante na determinação do fluxo. E pode ser definido como a relação entre a
força de inércia e a aceleração devido à gravidade.
F= _v v = velocidade da partícula
√gL L = força de inércia ou distância viajada pela partícula
g = aceleração da gravidade
Quando F for igual a 1, é chamado de F crítico pois é o valor que separa dois regimes de
fluxo, cada um gerando formas de leito e estruturas sedimentares diferentes. Assim:
F = 1 , valor crítico
F < 1, regime de fluxo inferior
F > 1, regime de fluxo superior
Para iniciar o movimento de uma partícula, deve-se ultrapassar a velocidade crítica capaz de
retirá-la da inércia. E esta velocidade crítica do fluido é uma função das variáveis presentes no
número de Reynolds e de Froude. A determinação da velocidade crítica é de grande importância,
por exemplo, para determinar as modificações na sedimentação após a ca nalização de um rio, ou
para determinar a quantidade de material a ser lixiviado nos canais de irrigação. Normalmente, a
velocidade crítica requerida aumenta com o
tamanho da partícula, com exceção para fundos
coesivos (grãos menores que 0,1 mm), que pela
sua resistência à fricção necessitam maiores
velocidades para iniciarem o movimento do
que silte e areia fina. Este comportamento
anômalo chama-se Efeito Hjulström. Hjulström
(1935) montou um gráfico da velocidade do
fluxo contra o tamanho do grão, para
demonstrar o comportamento dos sedimentos
(deposição ou transporte) em função da
velocidade do fluxo (Figura 32). Neste gráfico,
observa-se que aumenta a velocidade crítica
para colocar partículas menores que 2 ø em
movimento. Isto deve-se à força de coesão dos
sedimentos finos. Desta forma, as primeiras Figura 32. O Diagrama de Hjulström mostra a
partículas a sofrerem transporte são as areias relação da velocidade crítica necessária para
colocar uma partícula em movimento e a
finas.
velocidade abaixo da qual ela se deposita.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
As forças que agem sobre as partículas a favor do movimento são: força de dragagem,
gerada pelo gradiente de velocidade do fluxo sobre o leito e a força de sucção, gerada por um
alívio de pressão sobre o grão devido ao aumento de velocidade causado pela convergência das
linhas de fluxo. Estas duas forças são muito semelhantes, mas a primeira aumenta gradativamente
após o movimento e a segunda desaparece após iniciado o movimento. Assim, um grão sai do
repouso quando a combinação das forças de dragagem e sucção geradas pelo fluxo excedem as
forças gravitacionais e coesivas dos sedimentos. O início do movimento é determinado
principalmente pela velocidade do fluxo e pelo tamanho do grão, sendo que a forma do grão, o
empacotamento do sedimento, a viscosidade do fluido e a tensão de cisalhamento do fluxo sobre
as partículas também influenciam a velocidade crítica. Uma vez iniciado o movimento, os grãos
assim continuam mesmo que a velocidade do
fluxo caia abaixo da velocidade crítica. Para
cada grão existe, então, uma velocidade crítica e
uma velocidade de deposição, que segundo
Sundborg (1967) é 2/3 da velocidade crítica.
A curva de Shields (1966) é grandemente
utilizada para determinar a competência de um
fluxo ou a velocidade crítica para grãos de
determinado tamanho (Figura 33). Ele utilizou a
tensão de cisalhamento do fluido sobre o
substrato, o peso específico do grão e do fluido
Figura 33. Curva de Shields, mostrando a
e o tamanho da partícula. Mesmo assim, em relação entre a tensão de cisalhamento e o
ambientes naturais pode-se encontrar número de Reynolds para determinar a
discrepâncias desta curva, causadas por competência de um fluxo em transportar
partículas de determinado tamanho.
diferentes níveis de empacotamento.
Uma vez ultrapassada a velocidade crítica do movimento, os grãos são transportados a favor
do fluxo. O modo de transporte depende do tamanho do grão e da energia do fluxo, podendo ser
de três tipos (Figura 34):
carga de tração - os grãos estão em
contato constante com o fundo,
movendo-se por arrasto ou rolamento.
Isto ocorre se a velocidade de deposição
é maior que a velocidade do fluxo,
carga de saltação - as partículas estão Figura 34. As partículas podem ser transportadas por
em contato intermitente com o fundo e carga de tração, quando sempre em contato com o fundo,
ocorre quando a velocidade de deposição por saltação, quando em contato intermitente com o fundo,
ou por saltação, quando não entram em contato com o
das partículas é semelhante à do fluxo, e substrato.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
carga em suspensão - os grãos não entram em contato com o fundo. Isto ocorre quando a
velocidade de deposição das partículas é menor que a do fluxo.
Para ilustrar os tipos de transporte que uma partícula pode sofrer, pode-se imaginar um canal
fluvial com fluxo de determinada velocidade. Sujeitos a esta velocidade, os cascalhos podem ser
rolados sobre o fundo, constituindo a carga de tração, as areias sofrem “ saltação” e as argilas e
siltes permanecem em suspensão. Os processos sedimentares relacionados com a gravidade não
são bem conhecidos, embora sejam muito observados. Ocorrem quando as partículas adquirem
movimento sobre uma superfície inclinada decorrente da aceleração da gravidade. Dependendo
da energia adquirida no início do movimento e da resistência ao fluxo, o transporte sobre
pendentes suaves pode atingir dezenas de quilômetros em meio subaéreo e várias centenas de
quilômetros em meio subaquoso. O fluxo gravitacional pode ocorrer em qualquer ambiente que
tenha uma superfície inclinada, uma acumulação instável de sedimento e um mecanismo de
disparo do movimento. Os processos eólicos modernos ocorrem em áreas desérticas áridas, como
o Sahara, circundando geleiras e nas dunas costeiras. Estes processos são muito semelhantes aos
aquosos, pois ambos relacionam-se com o comportamento de sólidos granulares em meio fluido.
Os estudos realizados até agora mostram que as partículas sopradas pelo vento movimentam-se
por rolamento e saltação como na água. A velocidade requerida para iniciar o movimento dos
grãos, como no transporte aquoso, é diretamente proporcional ao tamanho da partícula, com
exceção de partículas tamanho silte e argila, que apresentam o efeito Hjulström. Assim, grãos de
quartzo de 0,10 mm de diâmetro (areia muito fina) são os primeiros a mover-se, enquanto
partículas menores necessitam velocidades maiores para iniciar o movimento.
De forma geral, a deposição ocorre quando o fluxo perde energia, diminuindo sua
competência. Cada depósito gerado apresenta particularidades inerentes ao tipo de agente
transportador resultando em: depósitos de
suspensão, depósitos de tração e depósitos de
corrente de densidade.
Corrente de Tração
As correntes de tração podem ser
unidirecionais, como em canais fluviais ou
bidirecionais, como em alguns estuários e
oceanos (correntes de maré). Elas transportam
a carga de tração (rolamento e saltação),
formada pelo material sedimentar mais
grosseiro. Os depósitos são gerados a partir de
Figura 35. Relação entre a velocidade do fluxo,
um fluxo ativo, ou seja, ocorrem em um meio granulometria e as formas de leito de fundo geradas em
que transporta as partículas ativamente. É o testes de laboratório para um fluxo subaquoso
processo mais comum e pode ser inferido se (modificado de Ashley, 1990).
63
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Correntes Unidirecionais
Nestes fluxos, os sedimentos mais finos (silte e argila) são transportados por maiores
distâncias como carga em suspensão, enquanto as partículas maiores e mais pesadas são
transportadas como carga de tração por menores distâncias. Assim, os depósitos formados por
correntes unidirecionais mostram um decréscimo no tamanho do grão na direção da corrente,
característica conhecida como "depósito em rota".
O comportamento das correntes de tração tem sido estudado em experimentos de laboratório
que utilizam canais confinados (flumes). O experimento começa com o fluxo em repouso, quando
o sedimento de fundo apresenta superfície plana e nenhuma estratificação interna. Então
aumenta-se a velocidade do fluxo constantemente para verificar o comportamento do material
sedimentar. Os grãos de areia começam a rolar e saltar conforme são ultrapassadas suas
velocidades críticas. Forma-se um depósito ondulado, chamado ripple. Os ripples apresentam
face íngreme à sota-corrente e mais suave à barla-corrente (Figura 36). Estas feições migram
lentamente para jusante, através da erosão das areias na face suave e deposição na face íngreme.
Como resultado desta migração há a formação de
estratificação cruzada. Aumentando a velocidade
da corrente, a forma do leito muda de ripple para
duna. Estas assemelham-se aos ripples na forma,
na estrutura interna e no modo de migração;
diferindo apenas na escala, sendo maiores que as
formas anteriores. O número de Froude para estas
duas primeiras fases é menor que 1. Aumentando
a velocidade para um número de Froude igual a 1,
as dunas são erodidas e o fundo torna-se plano,
embora as partículas ainda sejam transportadas e
depositadas, gerando estratificação plano-paralela.
Quando o número de Froude exceder a unidade
(regime de fluxo superior), as formas de leito
tornam-se montes arredondados, as antidunas
(Figura 36). Elas diferenciam-se das dunas por Figura 36. Relação do tamanho de grão, número de
serem aproximadamente simétricas e por Froude e as formas de leito geradas em um fluxo
unidirecional.
migrarem em direção contra-corrente, gerando
estratificação cruzada.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Correntes Bidirecionais
Em ambiente marinho, as correntes de tração normalmente são bidirecionais. Sendo que a
periodicidade da corrente pode variar de alguns segundos, entre a passagem das ondas, a horas,
conforme os ciclos de maré. No máximo da maré alta e baixa, a velocidade da corrente é zero. A
partir daí a velocidade aumentará, depois diminuirá gradualmente, até chegar a zero no máximo
da próxima maré. Quando a velocidade da corrente for zero, as argilas depositam-se. De acordo
com o efeito Hjulström, as lâminas de argila são preservadas até o ciclo de maré seguinte, quando
são recobertas por lâminas de areia. Então estes depósitos podem ser bons índices de atividade de
marés em depósitos antigos. As areias serão transportadas quando correntes de maré forem muito
fortes, gerando formas de leito de regime de fluxo superior. Quando as correntes de enchente e de
vazante forem iguais em velocidade e duração, o ciclo de maré é simétrico. E as areias serão
transportadas para frente e para trás formando estratificação cruzada tipo "espinha de peixe".
Normalmente, os ciclos de maré são assimétricos, fazendo que as areias sejam constantemente
retrabalhadas, determinando uma direção predominante de transporte de sedimento.
Em um ciclo menor, representado pela passagem das ondas, uma partícula em suspensão, na
superfície da água, descreve uma trajetória orbital quando a onda passa, mas não há transporte
significante. O movimento orbital das partículas diminui com o aumento da profundidade, até que
esta corresponda à metade do comprimento de onda, onde não há mais movimento. Abaixo desta
profundidade, a areia não é mobilizada, havendo a deposição da argila em suspensão. Se a
profundidade for menor que o nível efetivo das ondas, as trajetórias tornam-se elípticas. Este
movimento faz que a água seja transportada para frente e para trás formando correntes onduladas.
Estas correntes transmitem sua forma para o fundo, gerando ripples simétricos com laminação
interna tipo "chevron" (expressão que significa estruturas semelhantes à ocas de índios). Sobre a
praia os ripples tornam-se assimétricos com a face mais íngreme em direção à terra e
estratificação cruzada.
Correntes de Densidade
Os fluxos de turbidez são gerados quando há mistura de dois fluxos de densidades
diferentes. O mais denso tende a ir para o fundo e o mais leve para a superfície. Esses fluxos
podem ser gerados por diferenças de temperatura, salinidade ou concentração de material em
suspensão. Assim, águas resultantes do degelo nas regiões polares tendem a afundar abaixo de
águas mais quentes e as águas das descargas fluviais em clima temperado tendem a fluir por
longas distâncias sobre as águas salgadas mais densas. A corrente de densidade mais importante
para a geologia decorre da quantidade de material em suspensão, que é chamada de corrente de
turbidez. As correntes de turbidez são responsáveis por grande parte do transporte e deposição
que ocorre nas bacias oceânicas. Elas escavam canyons em deltas e no talude continental e
formam depósitos caracterizados pela presença de espessas seqüências de areias que apresentam
bases abruptas, topos transicionais e tendem a ser gradacionais, intercaladas com camadas de
folhelhos, e hoje são conhecidos como turbiditos.
As correntes de turbidez diferem das demais correntes, porque só ocorrem quando há
material em suspensão em quantidade suficiente para gerar turbulência. O comportamento de uma
65
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
corrente de turbidez é determinado pela diferença entre a densidade entre ela e o meio fluido, pela
sua altura e pelo ângulo de inclinação do fundo pelo qual ela flui. Isto é visto através da fórmula:
66
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
unidade indica a fase inicial de grande poder erosivo da corrente e é formada pelo transporte na
parte frontal do fluxo (na cabeça da corrente de turbidez). A unidade B consiste em camadas
arenosas com estratificação plano-paralela de regime de fluxo superior. A unidade C é formada
por areias com estratificação cruzada de regime de fluxo inferior (ripples). A unidade D é
composta por siltes com laminação plano-paralela gradando para lama na parte superior. Esta
unidade reflete a deposição do material em suspensão presente na cauda do fluxo. A unidade E
apresenta lamas pelágicas e caracteriza o fim da corrente de turbidez e retorno da sedimentação
marinha. Na maior parte dos depósitos turbidíticos a seqüência de Bouma não está completa.
Algumas vezes ocorrem somente as unidades C, D e E, representando a deposição de uma
corrente já diluída principalmente nas porções distais do depósito, ou as unidades A e B,
depositadas na parte proximal do depósito, quando a corrente ainda possui caráter erosivo.
Correntes de Suspensão
Sedimentos finos tendem a ser transportados em suspensão e depositados pela força
gravitacional num meio de baixa energia, que na verdade não está transportando as partículas
ativamente. Os depósitos assim formados, normalmente, não apresentam estrutura interna,
podendo ocorrer estratificação planar formadas por diferentes episódios de deposição, como nos
varvitos. Normalmente as camadas são pouco espessas e formadas por sedimentos finos (de argila
a areia). Provavelmente todas as camadas apresentam gradação normal, o que é difícil de ser
verificado se os sedimentos forem muito finos. Depósitos lamosos de suspensão podem ocorrer
intercalados com depósitos turbidíticos ou outros depósitos de tração.
Entre os exemplos de transporte por suspensão estão: argilas em um lago, plâncton em
oceano profundo e as cinzas de uma erupção vulcânica. As unidades D e E dos turbiditos são
depósitos de suspensão, já que são siltes e argilas finamente laminados. Estes depósitos ocorrem
em bacias oceânicas marginais ou ambiente lacustre. Os varvitos são típicos de lagos glaciais e
apresentam intercalação de camadas claras e escuras. O conjunto formado por uma camada clara
e outra escura é chamado de varve, que representa a deposição que ocorre no período de um ano.
A camada escura consiste, principalmente, de silte depositado do material em suspensão trazido
pela água de degelo durante o verão. A lâmina mais clara é formada de argila e é rica em calcário
e matéria orgânica presentes em suspensão no lago. Essa camada é depositada durante o inverno,
quando o lago fica completamente congelado e não há aporte de material terrígeno. A formação
de depósitos de suspensão também pode ocorrer, quando um fluxo rico em material em suspensão
entra em um corpo d' água sem grande diferença de densidade. Isto gera os fluxos hipopicnais, que
permitem a completa mistura das duas massas d' água. Esta situação é bastante comum em
ambientes costeiros, onde o aporte de material em suspensão fluvial, ou lagunar, encontra água do
mar que é mais densa pela salinidade. O sal causa a floculação das argilas, que acelera a
deposição, diluindo a pluma de sedimento superficial.
67
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
Até aqui, foi traçada a história dos sedimentos desde sua formação até a deposição.
Agora, será mostrada a parte final desta história, onde os sedimentos transformam-se em rochas
consolidadas através da diagênese. As reações diagenéticas transformam os agregados de grãos
porosos, saturados em água, em agregados de partículas estáveis, de empacotamento fechado,
ligados entre si por minerais formados diageneticamente, ou seja, o sedimento é litificado
formando uma rocha. No momento da deposição, um sedimento pode ser constituído de cristais
e/ou matéria orgânica. Quando uma lâmina de sedimento for formada, ela constituirá uma
interface entre o material previamente depositado e o ambiente sedimentar. O ambiente
diagenético é o ambiente de transformações físico-químicas pós-deposicionais. Para evidenciar as
mudanças ocorridas com o soterramento das camadas, pode-se utilizar parâmetros químicos e
biológicos medidos em superfície e em profundidade. Em ambiente marinho, a concentração de
bactérias nos primeiros 5 cm de sedimento é 63 milhões/g de sedimento, diminuindo para 1000/g
em 1,5 m de profundidade, os valores de Eh passam de -0,07 próximo da superfície para -0,28 na
profundidade de 2,4 m e o O2 desaparece logo abaixo da superfície. Estas alterações decorrem da
diminuição de matéria orgânica com a profundidade (dentro da camada sedimentar), diminuição
do volume de água e transformações minerais. Estes processos podem ser influenciados pela ação
de organismos, que misturam, formam e agregam sedimentos. Em ambientes não marinhos a
diferença principal está na ausência dos sais, que são muito importantes como fonte para
alteração e substituição mineral durante a diagênese. O fundo normalmente torna-se redutor, com
exceção de fluxos de água corrente que impõe condições oxidantes sobre o sedimento.
O ambiente diagenético estende-se da interface deposicional até uma certa profundidade
variável em função das
condições de
temperatura e pressão
(Figura 38). Esta
interface representa a
separação de duas
regiões físico-químicas
diferentes. Acima da
interface predominam as
condições da superfície
da terra que determinam
as características
deposicionais. Abaixo
da interface predominam Figura 38. Condições de temperatura e pressão em que ocorre a
diagênese e outros processos do ciclo geológico.
68
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
forma geral, pode-se agrupar os fluidos intersticiais em três grupos: os gases não-hidrocarbonetos
(inertes ou reagentes), os hidrocarbonetos (gases e líquidos) e a água subsuperficial.
Reagentes Nitrogênio
Gás Carbônico
Gás Sulfídrico Variada
Hidrogênio
Petróleo Metano
Condensado Orgânicos
Óleo cru
Líquidos
(a) Gases não-hidrocarbonetos- O sedimento presente acima do nível freático tem seus poros
preenchidos por gases atmosféricos. Atualmente, estes gases geram um ambiente oxidante, o
que não aconteceu durante todo o tempo geológico. A atmosfera antiga era rica em CO2 e era
redutora até a chegada das algas, cujas reações fotossintéticas modificaram a atmosfera.
Traços de gases inertes como hélio, argônio, kriptônio e radônio ocorrem em subsuperfície,
dissolvidos nos fluidos conatos. Acredita-se que estes gases tenham se originado da
desintegração radioativa de minerais que migraram do manto para a cobertura sedimentar
através de falhas e fraturas. O N2, CO2, H2S e H2 ocorrem em subsuperfície dissolvidos nos
fluidos conatos e têm origem mista. Estes gases têm sido registrados nas emanações dos
vulcões, originados do manto ou reciclados do sedimento, e também podem ser formados da
diagênese da matéria orgânica em ambiente aquático. O N2 é inerte, mas o CO2 e o H2S são
importantes para as reações diagenéticas. O CO2 afeta o pH do fluido intersticial, portanto a
solubilidade de muitos minerais, já o H2S é responsável pela formação de sulfetos metálicos.
(b) Hidrocarbonetos- Petróleo é o nome genérico dos fluidos hidrocarbonetos, um dos fluidos
intersticiais mais comuns e o mais importante. O estado sob o qual se apresenta depende da
sua constituição química e da temperatura e pressão ambientes. O metano pode formar-se
biogenicamente próximo da superfície através da degradação da matéria orgânica ou a partir
da alteração térmica da matéria orgânica soterrada ou de emanações do manto. Condensado é
o nome dado ao petróleo gasoso em altas temperaturas subsuperficiais, mas que condensa nas
70
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
condições da superfície terrestre, pode ser etano, propano e butano. O petróleo líquido é
chamado de "óleo cru" e é uma mistura de compostos aromáticos, naftênicos e parafínicos.
(c) Água subsuperficial- Os poros dos sedimentos podem ser ocupados por água meteórica,
conata ou juvenil. A água meteórica origina-se da precipitação atmosférica (chuvas, neve,
etc.). A água conata é aquela que originalmente estava associada ao sedimento durante a
deposição. A água a juvenil ou hidrotermal tem origem magmática. A água da chuva
normalmente é oxidante e ácida, devido à presença de O2, CO2 e H2SO. Portanto, quando a
água meteórica percola o sedimento, tem um considerável potencial para gerar reações
químicas. A água conata é a água original (normalmente salgada) com a qual o sedimento é
depositado e que faz parte da estrutura do sedimento mesmo depois da deposição. Faz-se uma
distinção entre a "água de compactação" que é a água que se move pelo sedimento como
resultado da compactação e a "água termobárica", que é a água quente de alta pressão,
originada em grande profundidade e formada pela desidratação das argilas. O limite entre a
água conata e a meteórica pode ser bem definido, porque a primeira é mais densa que a
segunda. Assim é possível ocorrer, em sedimentos permeáveis, a formação de uma lente
biconvexa de água doce que flutua sobre água conata mais densa, sendo que as reações
diagenéticas são muito diferentes nos dois ambientes.
Cada um destes fluidos instersticiais mostra a diversidade e complexidade das relações
entre ambiente e sedimento. Existem três maneiras dos fluidos movimentarem-se numa bacia
sedimentar: por força hidrostática, por compactação do sedimento e por convecção. O primeiro é
um mecanismo importante em baixas profundidades e consiste no deslocamento dos fluidos
menos densos pelos mais densos. O fluxo de compactação resulta do escape de fluido presente
nos poros de sedimentos que estão sendo compactados. A taxa de compactação varia com o tipo
de sedimento, sendo baixa em carbonatos e areias e alta em argilas. As correntes de convecção
são muito importantes na atmosfera e no manto. Este movimento pode ser gerado por anomalias
geotérmicas positivas que determinam expansão dos fluidos e diminuição da sua densidade,
deslocando o fluido para cima. A convecção pode fazer com que águas conatas se desloquem por
grandes distâncias, auxiliando a migração do petróleo e liberando minerais em solução que
podem formar o cimento. Estas células de convecção em larga escala somente desenvolvem-se
em bacias com formações laterais permeáveis. A migração dos fluidos ocorre sempre das
superfícies de maior pressão para as de menor pressão.
71
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
72
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
A cimentação dos arenitos pode ser da seguinte forma: a areia inicial pode conter
alguma sílica dissolvida em seus poros, na fase inicial de soterramento esta sílica pode precipitar
desenvolvendo crescimento secundário sobre os grãos de quartzo. Aumentando o soterramento, o
cimento carbonático pode ser introduzido nos poros remanescentes, tendendo a substituir a sílica
gradualmente. Havendo uma posterior exposição desta rocha, o calcário pode ser dissolvido
restando uma rocha parcialmente cimentada. Alguns arenitos possuem mais de um cimento,
sendo que os cimentos mais antigos estarão mais desenvolvidos e ligados às paredes dos grãos,
enquanto os outros ocuparão as partes restantes dos interstícios. Nos arenitos antigos, a sílica (na
forma de quartzo) predomina como agente cimentante, enquanto a dolomita é o cimento
carbonático mais comum. Nos arenitos recentes, a calcita é o principal cimento. Na
transformação dos carbonatos em calcários, a compactação é pouco eficiente na redução da
porosidade, muito embora sedimentos carbonáticos tenham de 60 a 70% de poros e os calcários
por volta de 1%. O processo mais importante na redução dos poros destes sedimentos é a
precipitação de cimento carbonático nos poros existentes. Além da adição do cimento, a
diagênese dos carbonatos também inclui a mudança da composição mineral, que é
dominatemente aragonita nas rochas recentes e calcita nos calcários antigos.
A autigênese é o processo que tende a estabelecer o equilíbrio entre os minerais e os
fluidos intersticiais através da eliminação de minerais instáveis e formação de minerais estáveis.
Os processos envolvidos são: redução (principalmente do ferro), desidratação (transformação de
gipsita em anidrita), combinação de vários minerais com elementos do fluido intersticial (calcita
+ Mg = dolomita, argilo-minerais + Fe e Mg = clorita). Portanto, qualquer mineral recém
formado é um mineral autígeno. Por exemplo, os feldspatos transformam-se em illita e esta em
caolinita, resultando na liberação de silício e potássio em solução; os fragmentos vulcânicos
transformam-se em esmectita e esta em zeolitas. Assim, as partículas arenosas geram argilo-
minerais, que constituirão uma matriz argilosa e a liberação de silício pode gerar um cimento
silicoso ou resultar em crescimento secundário das partículas de quartzo. Os minerais autigênicos
mais comuns são: calcedônia e quartzo, calcita (alteração da aragonita) e dolomita, ortoclásio e
albita, argilo-minerais (illita, sericita), glauconita (alteração da biotita) e sulfetos de ferro (pirita
e marcassita). Os minerais estáveis podem agir como centros de cristalização e aumentar de
tamanho, por isso o quartzo e os feldspatos normalmente apresentam crescimento secundário.
A diferenciação diagenética é a redistribuição de minerais dentro do sedimento. Os
materiais dispersos pela rocha são dissolvidos e concentrados em centros de reprecipitação,
levando à segregação de constituintes menores em nódulos, concreções, etc. Os materiais
segregados podem substituir a matriz da rocha hospedeira ou ocupar espaços vazios. Concreções
são agregados de sedimento com formas cilíndrica, rizóide, discoidal, etc. presentes em camadas
sedimentares de composição diferente. Quando há presença de núcleo de crescimento, a estrutura
tem aspecto concêntrico. Os oólitos e pisólitos são os corpos concrecionais mais comuns.
Normalmente as concreções são compostas de um único mineral, podendo apresentar vários
outros como impurezas. As concreções mais comuns são de calcita (principalmente em folhelhos
e arenitos), sílica (geralmente em calcários), hematita e limonita (muito comuns em arenitos),
siderita, pirita e marcassita (principalmente em folhelhos negros e em carvão), gipso, barita,
óxido de manganês, fluorita e bauxita. O tamanho das concreções é altamente variável,
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
feldspatos. As reações químicas que ocorrem nestas três fases determinam o aparecimento de
associações mineralógicas em equilíbrio que são condizentes com o pH e Eh do fluido intersticial.
A cimentação mais comum em arenitos é a precipitação de um cimento calcítico nos poros
intersticiais, também a hematita pode precipitar-se nos interstícios dando uma cor avermelhada à
rocha. Uma forma de cimentação mais complexa é a precipitação de sílica em volta dos grãos de
quartzo, originando os quartzitos sedimentares. Em arenitos que apresentam matriz argilosa, a
litificação normalmente ocorre apenas pela força de coesão das argilas, não envolvendo
precipitação mineral nem reação química entre as partículas. Estes arenitos desagregam-se
facilmente na presença de água. Na diagênese dos arenitos pode ocorrer uma série de reações
complexas envolvendo dissolução de grãos e reação intergranular. Pode-se verificar reações
entre dois minerais, um substituindo o outro e desenvolvendo um terceiro no limite entre eles ou
entre os minerais e soluções externas gerando novos minerais.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
Existem duas boas razões pelas quais uma classificação se faz importante: uniformizar a
nomenclatura, facilitando a comunicação entre os pesquisadores, e possibilitar a comparação entre os
diversos tipos de rochas. As rochas sedimentares são constituídas de componentes terrígenos, aloquímicos e
ortoquímicos (Folk, 1968). Sendo os terrígenos, aqueles oriundos da erosão de uma área distinta da bacia
deposicional e que são transportados até ela na forma de fragmentos sólidos, como o quartzo, os feldspatos,
os argilo-minerais e os minerais pesados; os aloquímicos, são os compostos formados pelo retrabalhamento
de substâncias químicas precipitadas na própria bacia sedimentar, como as conchas e fragmentos calcários,
e os ortoquímicos são precipitados químicos formados na própria bacia deposicional, como a calcita e os
evaporitos.
As características das rochas sedimentares dependem de vários fatores, como:
(a) a proveniência de seus componentes: o tipo de sedimento a ser formado varia conforme a
característica da área fonte, como o clima, a drenagem, o relevo e a tectônica, e a característica da
rocha fonte, principalmente, sua composição, textura e estrutura;
(b) a história pré-deposicional: os processos pelos quais os sedimentos passam antes da deposição,
como o tipo e grau de intemperismo, o agente transportador e o rigor e distância de transporte,
influenciam a composição e textura da rocha sedimentar a ser formada;
(c) o ambiente deposicional: as condições reinantes no local de deposição, como presença de água,
saturação de oxigênio, atividade de organismos, entre outras, determinam a petrofábrica da rocha
sedimentar e várias outras propriedades físicas dessas rochas;
(d) a história pós-deposicional: os processos diagenéticos atuantes sobre o material já depositado
podem modificar algumas características primárias das rochas sedimentares, como composição,
porosidade e volume.
Várias tentativas de classificação dos sedimentos e rochas sedimentares já foram feitas, algumas
baseiam-se na composição química, outras na origem do material ou, ainda, na textura apresentada. Uma
das classificações mais utilizadas atualmente, principalmente para os sedimentos marinhos, baseia-se na
origem do material, constituindo em cinco classes genéticas de sedimentos (Lizitsin, 1972):
(a) químicos: são formados pela precipitação direta de elementos dissolvidos na coluna d'
água,
conseqüentemente, só existem em ambientes subaquosos. Por exemplo: os evaporitos e alguns
calcários;
(b) orgânicos: são formados por material de origem vegetal ou animal, como o carvão, as vasas
silicosas e o calcário coralíneo;
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(c) terrígenos: são formados a partir do material gerado pelo intemperismo e erosão do continente. São
as argilas, arenitos, folhelhos e conglomerados;
(d) residuais: constituem-se do material sólido que permanece no ambiente após o intemperismo,
como as bauxitas e lateritas e
(e) piroclásticos: são produtos de atividade vulcânica, como as cinzas e tufos vulcânicos.
Para fins didáticos, podemos separar estas cinco classes genéticas em dois grandes grupos quanto
ao seu local de formação: os sedimentos alóctonos e os sedimentos autóctonos. Os primeiros consistem
na acumulação natural dos sedimentos formados pela erosão de rochas pré-existentes após serem
transportados do local de formação para serem depositados nas bacias sedimentares. Neste grupo
encontram-se os sedimentos terrígenos e os piroclásticos. Os autóctonos são os que se formaram no local de
deposição, como os sedimentos químicos, os orgânicos e os residuais. Pode-se usar como parâmetro
secundário de classificação, o tamanho médio do grão e/ou a composição mineralógica do sedimento. Isto
facilita a diferenciação dos depósitos pertencentes aos dois grandes grupos. Por exemplo, quando fala-se
em areia ou argila, imagina-se o aspecto do depósito; ao completar a descrição com areias quartzosas ou
lamas calcárias, tem-se uma melhor idéia sobre sua característica. Há uma pequena distinção nos
parâmetros utilizados para definir sedimentos recentes e antigos. Para sedimentos recentes, utiliza-se
principalmente o tamanho do grão e a textura do depósito, podendo ser mencionada a hidrodinâmica do
transporte e deposição. Para depósitos antigos enfatiza-se mais a composição mineralógica.
Este grupo consiste nos depósitos formados por partículas originadas do intemperismo de rochas
pré-existentes, que são retiradas de seu local de origem, transportadas e depositadas em bacias
deposicionais distantes da rocha-fonte. Incluem dois grupos de sedimentos: os piroclásticos e os terrígenos.
Na classificação das rochas pertencentes a este grupo, normalmente, utiliza-se as propriedades físicas dos
sedimentos. Para a definição de grupos maiores usa-se a distribuição granulométrica e para a diferenciação
dos subgrupos usa-se o grau de arredondamento e seleção ou a composição mineralógica. As rochas
terrígenas apresentam três classes principais: as rochas rudáceas ou psefíticas, arenáceas ou psamíticas e
lutáceas ou pelíticas.
a. ROCHAS RUDÁCEAS ou PSEFÍTICAS: são formadas por sedimentos clásticos grosseiros. Não há
uma concordância quanto ao percentual de sedimentos grosseiros que estes depósitos devem apresentar,
mas geralmente apresentarem 50% de partículas maiores que 2 mm. Normalmente, estas partículas são
fragmentos de rocha mono ou poliminerálicos.
Cascalhos - depósitos inconsolidados de fragmentos de tamanho maior que 2 mm (grânulos,
seixos, matacões). A forma, o tamanho e a petrologia desses depósitos dependem do tipo de
rocha-fonte, do meio de transporte e do ambiente deposicional.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
Pode-se encontrar várias classificações para as rochas rudáceas, normalmente de forma descritiva,
baseada em fatores distintos, como granulometria predominante (conglomerado de calhau, conglomerado
de matacão), na composição (conglomerado arcosiano, conglomerado granítico) ou no tipo de cimento
(conglomerado ferruginoso ou carbonático). Algumas características desses depósitos podem ser muito
úteis na identificação dos ambientes deposicionais em que foram formados. Por exemplo, a textura
superficial dos seixos podem servir para determinar o tipo de transporte ao qual o sedimento foi submetido.
Assim, a presença de ventifactos indica erosão eólica, enquanto as faces estriadas são típicas do transporte
glacial. O arranjo espacial das partículas e a forma do próprio depósito também podem evidenciar
características do fluxo. Se os seixos apresentam orientação, significa que eles se movimentaram livremente
no interior da corrente. Os corpos sedimentares rudáceos raramente apresentam grandes dimensões. Muitos
apresentam-se em forma alongada, resultando do preenchimento de paleocanais fluviais (estes são pouco
espessos, podendo apresentar comprimentos consideráveis). Também são comuns na forma de leques,
normalmente ocorrem em escarpas e podem ser formados por processos aluviais ou tectônicos.
b. ROCHAS ARENÁCEAS ou PSAMÍTICAS: são rochas formadas por partículas de tamanho areia, ou
seja, entre 0,062 mm e 2 mm, segundo a classificação de Wentworth (1922). Chama-se de areia, o material
inconsolidado, e arenito o consolidado. Incluem-se aqui os depósitos formados pelas areias terrígenas,
originadas da erosão das rochas continentais. Elas cobrem aproximadamente 30% da superfície da Terra e
constituem os maiores reservatórios de água e petróleo devido a sua alta permeabilidade. Os depósitos
arenosos ocorrem em vários ambientes, como nas planícies deltaicas, praias, dunas, leques aluviais e
canais fluviais.
79
O problema básico da classificação das areias é a existência de muitos parâmetros nos quais ela
pode se basear. Mas a diferenciação dos grupos de areias é feita, principalmente, em função de sua
composição mineralógica e de sua distribuição granulométrica. Sendo que a forma mais comum de
representá-las são os diagramas triangulares, onde os três componentes podem ser: o teor de quartzo, o de
feldspato e o de argila (Krynine, 1948), quando a classificação for mineralógica; ou a porcentagem de
partículas tamanho areia, silte e argila (Folk, 1954), se a classificação for por distribuição granulométrica.
Um conceito muito utilizado, também, para diferenciar os grupos de depósitos psamíticos é a
maturidade. A maturidade de um sedimento expressa a intensidade de alterações que ele pode sofrer,
potencialmente, na superfície da terra. Em outras palavras, é uma função do tempo em que o sedimento
permanece sujeito à ação dos processos sedimentares e da intensidade destes processos. O tempo é
determinado pelo relevo da área fonte. Um alto relevo determina uma alta taxa de erosão,
conseqüentemente, o sedimento fica pouco tempo em contato com os processos, gerando material imaturo.
A intensidade dos processos sedimentares é função do clima na área fonte. Quanto mais quente e úmido for
o clima, maiores as chances de ocorrerem grandes alterações químicas e físicas sobre o sedimento, gerando
depósitos com partículas cada vez menores e com menos minerais instáveis. Desta forma, um depósito que
apresenta alta maturidade deve ter sido gerado em áreas de clima quente e úmido e baixo relevo.
O conceito de maturidade pode ser definido física ou quimicamente. A maturidade química pode
ser determinada pela proporção de minerais estáveis frente aos instáveis presentes nas rochas. O quartzo é
um mineral formador das rochas primárias, está presente em grande quantidade é estável química e
fisicamente, e está sempre associado aos feldspatos. Por isso, normalmente, utiliza-se a relação
quartzo/feldspatos através do índice de Pettijohn (1949) mostrado na Tabela 4. Já Vogt (in Pettijohn, 1949)
determina a maturidade em função do caráter residual do depósito. Ele considera que o sedimento torna-se
enriquecido em alumina quando aumenta a maturidade e os óxidos de cálcio, magnésio e sódio diminuem
gradualmente. Assim, a alumina, talvez, seja o óxido de menor mobilidade, enquanto o óxido de sódio
(Na2O) é o mais facilmente removido e, ao contrário dos óxidos de cálcio e magnésio, não é restabelecido
durante o ciclo sedimentar. Por isso, a proporção alumina/soda pode ser usada como um índice de
maturidade química (Tabela 5).
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
A maturidade física descreve as mudanças texturais pelas quais o sedimento passa desde o
intemperismo até sua deposição. Pode-se utilizar a seleção (uniformidade nos tamanhos de grão) e o
arredondamento das partículas ou a relação entre a quantidade de lama (matriz) e grãos apresentada pelo
depósito. Pettijohn (1980) descreve uma maneira de determinar a maturidade física de um sedimento
arenoso através de três passos:
(a) determinar a porcentagem de lama - se a amostra apresentar mais de 5% de lama, é considerada
imatura, se apresentar menos de 5%, siga para o próximo passo;
(b) determinar o grau de seleção - se a amostra não for bem selecionada (desvio padrão > 0,5), é
chamada de submatura, se for bem selecionada (desvio padrão < 0,5) siga o próximo passo;
(c) determinar o arredondamento dos grãos arenosos - se os grãos forem subangulares a muito
angulares, o sedimento é maturo, se for arredondado a bem arredondado, é supermaturo.
Assim, uma areia imatura apresenta mais de 5% de matriz, pobre seleção e os grãos são
angulares; uma areia submatura apresenta menos de 5% de matriz, é pobremente selecionada e os grãos
são angulosos; uma areia matura apresenta pouca ou nenhuma matriz, é bem selecionada, mas os grãos
não são arredondados; e uma areia supermatura não apresenta argila, é bem selecionada e os grãos são
arredondados.
Embora tanto a maturidade química quanto a física ocorram no decorrer da história de uma
população de areias, elas são independentes uma da outra. Isto porque a maturidade química depende da
composição da rocha-fonte, enquanto a física é resultante dos processos sedimentares atuantes. Utilizando
um diagrama triangular, Folk (1954) classificou os arenitos tendo como base a concentração de quartzo,
feldspatos e fragmentos de conchas e, secundariamente, o teor de matriz argilosa. Todo depósito arenáceo
que apresenta menos que 15% de argila, chamou de areia ou arenito, conforme o grau de litificação; os
depósitos com mais de 15% de matriz argilosa, denominou grauvacas. As areias que apresentam menos de
5% de feldspatos ou fragmentos de rocha são chamadas de ortoquartizíticas; as que apresentam mais de
25% de feldspatos e menor quantidade de fragmentos de rocha, são os arcósios ou areias arcosianas; as
que apresentam mais de 25% de fragmentos de rocha são chamadas de areias líticas. Os depósitos
arenáceos que apresentam entre 5 e 25% de feldspatos chamam-se de subarcósios e os que apresentam de 5
a 25% de fragmentos de rochas são os sublíticos. Os arenitos líticos ainda podem ser classificados
conforme o tipo de fragmento de rocha presente, quando 50% dos fragmentos for de rocha sedimentar,
formam-se os filarenitos, quando 50% for calcário, formam-se os calcilutitos, quando 50% for vulcânico,
formam-se os arenitos vulcânicos. O termo calcarenito é usado para descrever arenitos carbonáticos
formados por precipitação direta na bacia de decantação. As grauvacas podem ser classificadas segundo o
componente principal em: grauvacas feldspáticas, líticas ou quartzosas.
Resumindo a classificação acima, pode-se separar os depósitos arenáceos em quatro grupos
principais, descritos abaixo:
Quartzo-arenitos ou Arenitos ortoquartzíticos - apresentam menos que 5% de feldspatos e menos
que 15% de matriz. São os produtos finais da evolução dos sedimentos arenosos, resultando de
vários ciclos sedimentares, pois são maturos física e quimicamente e, normalmente, apresentam
alto grau de seleção e bom arredondamento. O mineral detrítico mais abundante é o quartzo,
podendo aparecer alguns feldspatos, micas e minerais pesados, como o zircão, o rutilo e a
81
turmalina. São depositados principalmente em ambientes eólicos e marinhos rasos, podendo
ocorrer nos turbiditos de oceano profundo.
Arcósios ou Arenitos arcosianos - apresentam menos que 15% de argila e 25 a 60% de feldspatos.
São, relativamente, maturos texturalmente e imaturos mineralogicamente. Originam-se da
degradação incompleta de rochas ígneas e metamórficas ácidas, como o granito e o gnaisse, onde o
intemperismo físico predomina sobre o químico ou onde a taxa de erosão é muito elevada.
Normalmente são pobremente selecionados e os grãos são angulares a subarredondados. Os
feldspatos potássicos são os minerais mais comuns, podendo determinar uma coloração rósea ao
depósito pela presença do ortoclásio. O quartzo é bastante comum, podendo ser o mineral mais
abundante em alguns casos. Os feldspatos podem sofrer alterações em caolinita e sericita, as micas
ocorrem como acessórios e ocorre grande variedade de minerais pesados.
Lito-arenitos ou Arenitos líticos - são maturos texturalmente e imaturos quimicamente, pois
possuem mais de 25% de fragmentos de rocha e uma quantidade mínima de matriz. Conforme o
tipo do fragmento de rocha, pode-se subdividir esta classe em arenitos vulcânicos, filarenitos ou
calcilutitos. Estes depósitos são mais característicos de leques aluviais e são bons indicadores de
proveniência. Normalmente, apresentam coloração cinza.
Grauvacas - são areias imaturas textural e quimicamente. Apresentam mais de 15% de matriz e
mais de 25% de feldspatos ou de fragmentos de rocha. São pobremente selecionadas, com
partículas que vão de areias muito grosseiras até a matriz argilosa; os grãos são angulares e pouco
esféricos. Predominam grãos de quartzo, plagioclásios e fragmentos de rochas.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
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folhelhos calcíticos apresentam menor fissilidade e podem passar gradualmente para calcário
argiloso pelo aumento da concentração de carbonato. Quando um sedimento argiloso contém
de 35 a 65% de carbonato de cálcio, forma-se a marga.
Lamas - são os sedimentos inconsolidados que apresentam uma mistura de silte e argila com um
pouco de sedimentos arenosos.
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Os sedimentos pelíticos são compostos principalmente de sílica e alumina. Existindo uma estreita
relação entre o percentual de SiO2/Al2O3, sendo que a razão aumenta nas rochas pelíticas mais grosseiras e
diminui nas mais finas. O ferro aparece como pigmento e como constituinte de minerais de pouca
abundância. Também encontra-se com freqüência K, Mg, Na e P, cujos teores variam conforme o tipo de
argilo-mineral presente. A composição mineralógica é mais difícil de ser determinada, sendo que nas
frações grosseiras os minerais mais comuns são: quartzo e feldspatos, e na fração mais fina predominam os
argilo-minerais. Conforme a composição, pode-se diferenciar três grupos de argilo-minerais: as illitas,
esmectitas e as caulinitas; também podemos mencionar as cloritas e as glauconitas.
Caolinitas - apresentam a estrutura mais simples e são formadas a partir da alteração hidrotermal e
intempérica dos feldspatos. Elas podem ocorrer como cimento autigênico em alguns arenitos e em
grandes concentrações, formando argila pura de caolinita, usada para fabrico de cerâmica, papel
e na indústria farmacêutica. Rochas de caolinita pura têm origem continental, já que em presença
de água do mar ela transforma-se em argilo-minerais mais complexos.
Illitas: sua estrutura apresenta três camadas e contém mais de 8% de K2O. Este potássio pode ter
origem na degradação incompleta de feldspatos potássicos em caolinita, ou na alteração da
caolinita em ambiente marinho. É o argilo-mineral mais abundante.
Esmectitas: também apresentam três camadas, onde aparecem Mg e Ca e podem possuir mais de
20% de água. Possui a propriedade de expandir-se e contrair-se conforme adsorve ou perde água.
Os depósitos formados principalmente por esmectitas são chamados de bentonitas e são formados
pela alteração de cinza vulcânica in situ; podendo ocorrer tanto em ambientes marinhos ou
terrestres.
Cloritas: têm grandes semelhanças com os argilo-minerais já descritos, mas também
aproximam-se bastante do grupo das micas. Sua estrutura consiste em camadas mistas com mais
de 9% de Fe2O e 30% de MgO. Formam-se a partir da alteração de micas primárias, ocorrendo
como mineral acessório de areias imaturas e rochas pelíticas. As cloritas substituem as illitas e
outros argilo-minerais durante o metamorfismo.
Glauconita: apresenta-se em grãos bem arredondados, verdes, comuns em sedimentos marinhos
que são formados por misturas de argilo-minerais, sendo um deles a glauconita. Ela é formada por
três camadas contendo K, Fe e Mg e origina-se da substituição dos carbonatos presentes em
pellets fecais e nas carapaças de foraminíferos. Os processos responsáveis pela formação da
glauconita ainda são muito discutidos, mas até agora sabe-se que, independente do processo,
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
forma-se em baixas temperaturas e em ambientes que não são nem muito redutores e nem muito
oxidantes, sendo a profundidade ótima para sua formação entre 50 e 1000 m.
) *
Conforme seu tamanho de grão, os sedimentos piroclásticos podem ser separados em três
categorias:
Aglomerados: correspondem aos conglomerados e são formados por erupções explosivas (ejeção
das "bombas vulcânicas") e pela desagregação das rochas vulcânicas dentro e nos flancos da
caldeira. Normalmente ocorrem próximos do cone vulcânico.
Areias vulcanoclásticas: são de dois tipos, areias erosivas, formadas através da desagregação das
rochas extrudidas por processos subaéreos ou subaquosos e areias piroclásticas, que são ejetadas
na atmosfera durante as erupções, podendo ser espalhadas por vários quilômetros em volta dos
vulcões. De modo geral, as areias vulcanoclásticas são pobremente selecionadas, pois são
rapidamente destruídas pelo retrabalhamento. Durante o soterramento, essas areias sofrem
hidratação e carbonatação, formando carbonatos autigênicos, argilas e zeolitas. Apesar dos
depósitos vulcânicos serem fracos reservatórios de petróleo e água, são de interesse para
mineração pela presença de depósitos metalíferos.
Cinza vulcânica: pode ser transportada através do mundo inteiro. As cinzas vulcânicas ou tephra
podem constituir os sedimentos pelágicos em quantidades traços, pois tendem a sofrer intensa
alteração pós-deposicional, originando as bentonitas.
São as rochas formadas no interior das bacias deposicionais, e podem ser chamadas de rochas
químicas. Nesta classe, a composição é o parâmetro mais utilizado para a classificação. Podem ser
divididas em rochas orgânicas, como as areias carbonáticas, e inorgânicas, como os evaporitos. Nem todos
sedimentos químicos são sindeposicionais (formados no momento da deposição), os processos
diagenéticos também são importantes na gênese de alguns evaporitos, dolomitos, fosfatos e cherts. O
tamanho médio do grão pode ser utilizado como um parâmetro secundário para a determinação de classes
menores.
a. CARBONATOS: são as rochas químicas mais importantes. A classificação dos carbonatos surgiu nos
anos 50 impulsionada pelo interesse das indústrias de petróleo, já que são ótimos aqüíferos e reservatórios
de hidrocarbonetos devido a sua alta porosidade. Podem ter origem (a) orgânica, pela decantação das
carapaças de organismos planctônicos, formando as vasas, ou (b) química, pela precipitação direta dos
elementos dissolvidos na coluna d'água, como os oólitos e o cimento da maioria das rochas.
Os carbonatos de origem química em ambiente marinho raso formam-se quando a água fria de
maiores profundidades atinge a superfície e aquece-se rapidamente. Como os carbonatos são mais
facilmente dissolvidos em menores temperaturas, ao atingir a superfície a água torna-se supersaturada,
85
precipitando uma parcela do carbonato dissolvido. O maior exemplo deste processo é o Grande Banco das
Bahamas, Flórida, EUA. A precipitação de carbonato formou um platô submerso que apresenta 700 Km de
comprimento e 300 Km de largura, em profundidades menores que 10 m. Os carbonatos marinhos de águas
profundas constituem-se de depósitos de carapaças de organismos planctônicos, como os pterópodos e os
foraminíferos, chamados de vasas carbonáticas. Estes depósitos formam-se onde a produtividade primária
das água superficiais é bastante alta, desenvolvendo a população destes organismos. A presença das vasas é
limitada em profundidades maiores que 4000 ou 4500 m devido a CCD, ou profundidade de compensação
dos carbonatos. Isto significa que em profundidades maiores que a CCD, a concentração de carbonatos é
tão baixa, que qualquer carbonato aportado é dissolvido antes de atingir o fundo. A formação de carbonatos
em águas doces pode ocorrer em lagos que apresentam supersaturação de sais, onde há a precipitação
química dos carbonatos. Pode ocorrer, também, a precipitação de carbonatos em bacias evaporíticas. Em
clima árido, a água subterrânea apresenta um movimento ascendente devido ao excesso de evaporação,
chamado movimento capilar. Ao atingir a superfície, a água evapora, precipitando os sais dissolvidos
durante a migração, formando uma crosta de calcita nos interstícios dos grãos superficiais.
Os principais minerais carbonáticos são a calcita (carbonato de cálcio) e a dolomita (carbonato de
cálcio e magnésio), podendo apresentar a siderita (carbonato de ferro) e a magnesita (carbonato de
magnésio). O carbonato de cálcio é o constituinte dominante nos carbonatos modernos e nos calcários
antigos. Pode ocorrer como duas espécies de minerais, aragonita e calcita. A calcita constitui mais da
metade do volume de todos os carbonatos; cristaliza-se na forma romboédrica e pode ser formada por
diferentes materiais esqueléticos (formando vasas carbonáticas). A aragonita cristaliza-se na forma
ortorrômbica e é instável, transformando-se em calcita logo após sua deposição. Por isso nos calcários
antigos só ocorre a calcita. A dolomita é outro mineral carbonático importante, formado por cálcio e
magnésio, podendo ter ferro substituindo o Mg. Não se origina de material esquelético, mas apresenta-se
na forma cristalina pela substituição de outros carbonatos. A siderita é o carbonato férrico e ocorre
principalmente como precipitado primário, em oólitos. Formam-se em ambientes de água doce e marinhos
restritos.
Com exceção dos corais e das lamas calcárias, os constituintes básicos da maioria dos calcários são
partículas tamanho areia. Estas partículas podem ser oólitos, pellets, fragmentos de conchas ou carapaças
de organismos plactônicos. Os espaços entre estas partículas podem ser preenchidos por matriz de lama
calcária, cimento calcítico ou podem ser preenchidos por fluidos. Normalmente as classificações dos
calcários utilizam a composição e porcentagem de cada um dos elementos descritos acima para diferenciar
os grupos. Daí surgem nomes como, calcário oolítico, calcário coralíneo, calcário micrítico, etc. Folk
determinou a divisão dos calcários em três grupos: os aloquímicos, formados por partículas que tiveram
origem química ou bioquímica dentro da bacia deposicional, ortoquímicos quando formados
principalmente por cimento e arrecifes quando formados por recifes de corais.
Os constituintes aloquímicos podem ser de quatro tipos:
oólitos e pisólitos: os oólitos variam de alguns micrômetros até 2 mm de diâmetro, formados por
calcita ou aragonita. Quando o diâmetro for maior que 2 mm, recebem o nome de pisólitos.
Caracterizam-se pela forma esferoidal e estrutura concêntrica em volta de um núcleo. O núcleo
pode ser grãos de quartzo, fragmentos de rochas, pedaços de conchas ou oólitos menores. São
formados em locais onde ocorre a precipitação química de carbonato, principalmente em águas
86
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
rasas de regiões quentes. Também deve haver correntes que revolvem o material formador do
núcleo, expondo todos seus lados à precipitação de carbonato, propiciando a formação da estrutura
concêntrica.
bioclastos: consistem nos materiais esqueletais, podendo ser a fração predominante em alguns
calcários. As rochas carbonáticas formadas por restos orgânicos são chamadas de coquinas e os
principais componentes orgânicos originam-se das algas calcárias, como a Halimeda e o
Lithothamium, foraminíferos, espículas de esponjas e fragmentos de diversos organismos, como
equinodermos, briozoários e braquiópodes.
intraclastos: são fragmentos de sedimentos carbonáticos pré-existentes, que foram redepositados
como sedimento clástico, determinando um arcabouço diferente do original.
pellets: são partículas de poucos milímetros, ovóides ou esféricas, sem estrutura interna visível.
Podem ter origem nos excrementos de diversos organismos.
O formadores dos arrecifes são moluscos, corais, braquiópodes e esponjas. E desenvolvem-se onde
o coral proporciona substrato para o seu desenvolvimento. As partes inferiores dos arrecifes normalmente
consistem apenas dos restos esqueletais, enquanto a parte superior apresenta os organismos ainda vivos.
A classificação dos carbonatos é feita utilizando os quatro componentes aloquímicos com o tipo de
componente ortoquímico, por exemplo: oosparito, intrasparito, biosparito e pelsparito (consistem,
respectivamente, de oólitos, intraclastos, bioclastos e pellets com calcita espática), oomicrito, intramicrito,
biomicrito e pelmicrito (consistem, respectivamente de oólitos, intraclastos, bioclastos e pellets com
micrito); ainda temos uma classe de micrito puro e outra de arrecifes. Assim, são 10 tipos de rochas
carbonáticas, oito derivam do tipo de partícula (oólitos, pellets, etc), uma consiste no micrito propriamente
dito e outra nos arrecifes.
b. ROCHAS CARBONOSAS: ocorrem dois grupos de rochas carbonosas: as da série do carvão (turfa,
linhito, hulha e antracito) e as rochas oleígenas, de onde se extrai hidrocarbonetos (folhelho betuminoso).
O carvão é uma rocha sedimentar formada por processos biogeoquímicos e origina-se da
acumulação de detritos vegetais sob condição anaeróbica em regiões pantanosas. Principalmente
em épocas de clima quente e úmido, pois nestas condições a vegetação é mais abundante. O carvão
tem sido encontrado em estratos Pré-cambrianos até Holocênicos, mas somente após o
desenvolvimento de uma flora terrestre que data do Siluriano Superior acumulações em grande
escala foram possíveis. Na história da Terra são conhecidos dois períodos de grande formação de
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carvão: o Carbonífero, principalmente o Pensilvaniano (325 milhões de anos a.P.), e o Cretáceo
Superior (100 milhões de anos a.P.).
Normalmente, as rochas da série do carvão são classificadas pelo teor de carbono e pelo poder
calorífico. A transformação do material carbonáceo através de uma série contínua, que vai da turfa até o
antracito e é conhecido como carbonificação, através da qual o produto fica mais escuro e mais puro. A
carbonificação ocorre em dois estágios, o primeiro é bioquímico e consiste na conversão bacteriana do
material vegetal em turfa, e o segundo é geoquímico consistindo de mudanças químicas e físicas
relacionadas à pressão e temperatura. Na verdade, a variação da série é uma medida do grau de
metamorfismo e diagênese que o carvão foi submetido. Por exemplo, em estratos altamente dobrados
presentes na Pensilvânia (EUA) ocorre o antracito, mas em estratos levemente dobrados de mesma idade
ocorre apenas a hulha. De forma geral, não apenas o dobramento das camadas influencia na formação do
carvão, mas também a temperatura (gradiente geotérmico) e o tempo de formação (determina maior
exposição aos fatores pressão e temperatura).
A turfa é um depósito sedimentar de idade recente que ainda está em formação. Apresenta restos
vegetais, principalmente de plantas herbáceas. Suas propriedades físicas e químicas são bastante
variáveis. Tem densidade próxima de 1, teor de carbono de 55-65% do peso seco, teor de
umidade de 65-90% e seu poder calorífico é de 3000 a 5000 calorias/grama.
O linhito é um carvão acastanhado de idade Mesozóica ou Cenozóica, apresenta restos
vegetais, onde as plantas lenhosas ocupam o maior espaço. Tem densidade de 1,1 a 1,3; teor de
carbono total de 65-75% e o de umidade entre 10 e 30%. Seu poder calorífico é de 4000 a 6000
cal/g.
A hulha ou carvão betuminoso é o carvão negro encontrado em rochas do Paleozóico e do
Mesozóico Inferior. Apresenta poucos restos vegetais cuja estrutura pode ser reconhecida. Sua
densidade é de 1,2 a 1,5, o teor de carbono total é de 75 a 90% e umidade de 2 a 7%. Ocorre no
RS e SC, com poder calorífico de 5000 a 6800 cal/g, sendo que em alguns países este poder é
maior que 8000 cal/g.
O antracito é um carvão com densidade de 1,4 a 1,7, tem aspecto vítreo e apresenta fratura
conchoidal brilhante, sempre com mais de 90% de carbono. É pobre em voláteis e tem poder
calorífico maior que 8000 cal/grama. Quando associado à hulha, forma o carvão mineral.
O folhelho betuminoso é uma rocha de granulação fina que contém matéria orgânica da qual
quantidades consideráveis de petróleo podem ser retiradas por aquecimento. Elas podem
apresentar petróleo livre, contido em algum bolsão ou em veios na forma de asfalto, mas a grande
parte do conteúdo orgânico dos folhelhos permanece na forma de querogênio, que só é liberado
pela temperatura. Os depósitos de querogênio datam do Cambriano ao Terciário. E são formados
em ambientes de grandes lagos, mares rasos e pequenas lagoas associadas a pântanos produtores
de carvão. Os folhelhos betuminosos podem ser carbonáticos, apresentando calcita e dolomita em
grandes concentrações, ou silicosos, ricos em quartzo e feldspatos de granulação fina. Os folhelhos
betuminosos do Paleozóico Superior são mais abundantes e presentes em todos os continentes,
provavelmente, refletindo o aumento das fontes de matéria vegetal.
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
d. FOSFATOS: a grande maioria do fósforo existente na crosta terrestre está na forma de apatita, sendo
que os outros minerais são todos formados a partir da alteração das rochas fosfáticas e do guano. O guano é
uma substância rica em fosfato, formada pela alteração de excrementos de aves marinhas. A apatita aparece
em três formas isomórficas, a fluorapatita (Ca5(PO4)3F), a cloroapatita (Ca5(PO4)3Cl) e a hidroxiapatita
(Ca5(PO4)3OH). As rochas fosfáticas podem ocorrer em depósitos marinhos modernos e antigos.
Sedimentos ricos em nódulos fosfáticos ocorrem nas plataformas continentais atuais do oeste dos EUA e da
África, norte da América do Sul e leste da Austrália e Nova Zelândia. Estes sedimentos fosfáticos podem
ser formados diageneticamente, a partir de vasas de diatomáceas, ou pela substituição diagenética em
calcários que foram erodidos, formando pláceres de sedimentos fosfáticos. No Brasil, foram verificados
nódulos de fosfatos que apresentaram de 2 a 18% de P2O5 nos flancos do Platô do Ceará. Estas altas
concentrações decorrem na diminuição da solubilidade dos fosfato com o aumento da temperatura. A água
do mar está quase saturadas de fosfato, variando de 0,3 ppm em águas frias profundas a 0,01 ppm em águas
quentes superficiais. Ao atingir o flanco do Platô, a água ressurge, atingindo menores profundidades e
precipitando o fosfato excedente.
Alguns nódulos podem apresentar até 95% de fosfato, mas normalmente apresentam impurezas
como matéria orgânica, carapaças silicosas, fragmentos de conchas calcárias, dentes de tubarões e outras
partículas detríticas. Alguns elementos como o cálcio, o fósforo e o flúor podem ser substituídos por
elementos traços de importância econômica, como o urânio, transformando os sedimentos fosfáticos em
fontes potenciais para exploração futura destes elementos.
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e. EVAPORITOS: são depósitos formados pela precipitação de sais em ambientes onde a evaporação é
maior que a renovação de água doce; ocorrem em mares reliquiares, lagunas e salinas. Existem quase 40
minerais que formam os depósitos evaporíticos, mas 20 aparecem apenas em quantidades traço. Os sulfatos
e os haletos são os principais formadores dos depósitos, sendo que os sulfatos mais comuns são o gipso e a
anidrita e entre os haletos a halita é a mais conhecida. Normalmente o gipso ocorre em superfície e a
anidrita em subsuperfície, mas a transformação de um para outro depende do gradiente geotérmico e da
salinidade da água. A anidrita geralmente substitui o gipso em profundidades entre 300 e 700 m. A halita
ocorre em seqüências de até 1000 m de espessura, normalmente aparece laminada por camadas mais
escuras ricas em inclusões e camadas mais claras livres de inclusões. As inclusões consistem
principalmente de anidrita, podendo ocorrem dolomita, quartzo, calcita e argilo-minerais.
A maioria dos evaporitos são de origem marinha, sendo que no Brasil ocorrem em sedimentos
paleozóicos nas bacias do norte do país e em cretáceos nas bacias costeiras. A água do mar contém
35‰ de sais dissolvidos, principalmente NaCl (78%), MgCl2 (10%), MgSO4 (5%), CaSO4 (4%),
K2SO4 (2,5%) e CaCO3 (0,5%). A formação dos evaporitos ocorre quando o meio fica saturado de sais,
assim sua precipitação segue uma ordem dependente do grau de solubilidade de cada sal, que é a
seguinte: gipsita (CaSO4.H2O), anidrita (CaSO4), halita (NaCl) e polihalita (Ca2K2MgSO4.2H2O).
) ,+ )
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES
Tabela 6. Composição química média de algumas rochas baseada na porcentagem dos óxidos presentes.
R. Ígnea R. Sedim. Argilito Arenito Calcário
SiO2 59,14 57,65 58,10 78,33 5,19
TiO2 1,05 0,57 0,65 0,25 0,06
Al2O3 15,34 13,39 15,40 4,77 0,81
Fe2O3 3,08 3,47 4,02 1,07 0,54
FeO 3,80 2,08 2,45 0,30 -
MgO 3,49 2,65 2,44 1,16 7,89
CaO 5,08 5,89 3,11 5,50 42,57
Na2O 3,84 1,13 1,30 0,45 0,05
K2O 3,13 2,86 3,24 1,31 0,33
H2O 1,15 3,23 5,00 1,63 0,77
P2O5 0,30 0,13 0,17 0,08 0,04
CO2 0,10 5,38 2,63 5,03 41,54
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