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Profa. Luciana Slomp Esteves


Fundação Universidade Federal do Rio Grande
Departamento de Geociências/LOG
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

INTRODUÇÃO

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• O que é Sedimentologia e qual seu objetivo
• A importância dos estudos sedimentológicos ao longo do tempo
• As aplicações da Sedimentologia

O termo “sedimentologia” foi definido pela primeira vez por Wadell, em 1932, como sendo “o
estudo dos sedimentos”. Segundo o Dicionário Aurélio, “sedimento” é tudo que se deposita na água ou
no ar por ação da gravidade. De uma maneira genérica, a Sedimentologia estuda detalhadamente os
sedimentos e seus processos formadores, incluindo origem, transporte, deposição, e diagênese, ou seja,
estuda as condições ambientais em que foram formados. Existem muitas disciplinas que estão
intrinsecamente relacionadas à Sedimentologia, muitas vezes se sobrepondo a ela, como a
Estratigrafia, a Petrografia, e a Petrologia. Assim, a Sedimentologia só foi reconhecida como uma
disciplina das geociências no final dos anos 60, tendo por objetivo a análise ambiental através da
caracterização do sedimento e das rochas sedimentares.
Neste curso, iremos estudar a Sedimentologia de uma forma ampla, iniciando com uma visão
macroscópica do assunto (o ciclo sedimentar em todas as suas fases) para depois concentrarmo-nos na
parte microscópica, como as propriedades dos sedimentos e a classificação das rochas sedimentares.
Após os ensinamentos básicos da Sedimentologia serem expostos, terminaremos o curso com o
enfoque da Sedimentologia aplicada. Aí entram assuntos diversos, como as alterações nos processos
sedimentares associados às flutuações do nível do mar e a utilização do conhecimento dos processos
costeiros para resolver problemas ambientais (erosão costeira, deslizamento de encostas, poluição,
etc.).

A utilização da sedimentologia é muito antiga e, provavelmente, teve início com os homens da


Idade da Pedra, que mineravam afloramentos de chert (um tipo de rocha sedimentar) para fazer
artefatos como pontas de lança e punhais. Já o estudo das ciências da terra baseado nas observações
dos fenômenos e processos naturais começou com pensadores gregos Pitágoras (580-500 a.C.) e
Heródoto (485-425 a.C.), que observaram a presença de conchas marinhas fósseis em regiões
montanhosas de grande altitude e concluíram que a geografia no passado era muito diferente do
presente. Após esta época, o interesse nas ciências da terra desapareceu e só ressurgiu no século XV,
durante o Renascimento. O desenvolvimento industrial e tecnológico iniciava e surgia a necessidade de
adquirir matéria-prima para as novas atividades, o que fez crescer o interesse na formação e nas
propriedades dos minerais.
Nem sempre as observações feitas pelos pensadores e cientistas resultavam em conclusões
corretas sobre o funcionamento dos processos naturais. Um exemplo é a visão Netuniana que surgiu no
início do século XIX com a teoria do alemão Abraham Gottlob Werner (1749-1817). Ele acreditava
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que todas as rochas tinham sido formadas por precipitação quando um enorme oceano primitivo
evaporou. As geociências tomaram outro rumo quando as teorias deixaram de ser desenvolvidas
baseadas apenas em observações da natureza e passaram a ter maior fundamento devido à
intensificação dos trabalhos de campo e as análises em laboratório. Um dos pioneiros na geologia
prática foi o escocês James Hutton (1727-1797) que estudou afloramentos rochosos formulando teorias
sobre as condições ambientais passadas em que foram formadas. Ele visualizou a superfície da Terra
em estado dinâmico, onde as forças envolvidas na formação das rochas eram balanceadas pelas forças
responsáveis por sua destruição. A teoria Netuniana caiu devido às descobertas de Hutton que, junto
com o engenheiro inglês William Smith (1769-1839) e o italiano Leonardo Da Vinci, deu origem à
escola do Uniformitarianismo. O impacto que as idéias do Uniformitarianismo tiveram para a geologia
compara-se ao que a lei da gravidade de Newton teve para a física. O Uniformitarianismo baseia-se em
três pontos fundamentais:
(1) A história da terra pode ser decifrada a partir do estudo das camadas das rochas sedimentares
(sendo que nelas não se pode encontrar registros do período em que a terra foi formada);
(2) Os processos formadores das rochas antigas são semelhantes aos processos atuais; e
(3) A terra é um corpo dinâmico cuja superfície está em constante modificação resultante da
interação entre suas forças internas e externas.
Um empecilho à proliferação das idéias de Hutton era a força opositora da igreja. Naquela
época, acreditava-se que toda a história da terra estava contada no Velho Testamento, ou seja,
restringia-se a apenas 6.000 anos. Hutton tinha observado que a história registrada nas camadas das
rochas sedimentares era muito mais extensa do que 6.000 anos, o que foi considerado uma heresia. O
descrédito no Uniformitarianismo deu espaço para uma nova corrente liderada por Georges Cuvier
(1769-1832). Cuvier conseguiu contornar o problema gerado pela idéia de que a história da terra era
mais antiga do que a igreja acreditava. Ele dividiu a história da terra em três fases: pré-dilúvio, dilúvio
e pós-dilúvio, sendo que as duas últimas fases compreendiam os períodos descritos na Bíblia, enquanto
a primeira fase foi considerada dominada pelo demônio e pela escuridão (pois não constava na Bíblia)
e só os “filósofos naturais” (os geólogos da época) podiam estudá-la. Atualmente, as idéias do
Uniformitarianismo são amplamente conhecidas e aceitas principalmente devido aos trabalhos de Lyell
(1830 e 1865) e Sorby (1853 e 1908), que estabeleceram os princípios básicos da Estratigrafia e
Sedimentologia modernas. Um dos grandes ensinamentos do Uniformitarianismo foi o princípio do
atualismo estabelecido por Sir Archibald Geikie (1905), que diz “o presente é a chave do passado”.
O enfoque dos estudos sedimentológicos ao longo do século XX tem se modificado em função
das necessidades da sociedade moderna. Até o início do século, os trabalhos concentravam-se na coleta
de fósseis e nos estudos microscópicos. Posteriormente, a busca pelo petróleo intensificou o
desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos, envolvendo estudos multidisciplinares. A
oceanografia também teve papel fundamental no desenvolvimento da sedimentologia, pois foi através
de um estudo sobre as diferenças entre as estruturas dos depósitos da plataforma continental e das
regiões abissais (New Light On Sedimentation and Tectonics, de Sir Edward Bailey, 1930) que o
enfoque deixou de ser microscópico (fósseis e minerais pesados) e passou para o macroscópico
(processos sedimentares). Atualmente, há a tendência de fusão ou associação de diversas ciências,
como geologia, oceanografia, meteorologia, astronomia, geofísica, etc. para que se obtenha uma visão
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mais realista e completa dos processos naturais e suas interações. Assim, a sedimentologia atual tem
sido utilizada no estudo da interação entre os processos naturais e as atividades antrópicas,
principalmente visando a preservação ambiental.

A integração entre a sedimentologia e outras ciências, como biologia, química e física


desenvolve várias linhas de pesquisa de caráter multidisciplinar (Figura 1). Por exemplo, a relação
entre a sedimentologia e a biologia dá origem à paleontologia, à bioestratigrafia e à paleoecologia. A
física é utilizada no estudo do transporte e deposição dos
sedimentos, principalmente utilizando-se dos princípios de
hidráulica, gerando a petrologia e a petrofísica
sedimentares. A química interage com a sedimentologia
para gerar a geoquímica sedimentar que tem inúmeras sub-
áreas de estudo. Há ainda interações mais complexas, como
por exemplo o estudo dos ciclos biogeoquímicos, que
envolve todas as ciências básicas no desenvolvimento de
uma percepção mais real dos processos atuantes na terra. O
objetivo final de todas estas linhas de pesquisa é a análise
ambiental, ou seja, a determinação dos processos atuantes
na formação de um sedimento baseado na caracterização de
suas propriedades químicas, físicas, biológicas e geológicas.
Figura 1. A inter-relação da física,
Exemplificando de uma maneira simples, uma raiz de química e biologia com a Sedimentologia
árvore indica um ambiente terrestre, assim como fragmentos no estudo da análise ambiental.
de corais identificam um ambiente marinho.

Na maioria das vezes, os avanços obtidos em uma disciplina causam grande impacto em várias
outras disciplinas relacionadas, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de novas técnicas
e equipamentos. Isto é particularmente verdade na influência que as explorações oceanográficas
tiveram sobre a sedimentologia e vice-versa. As descobertas oceanográficas podem ser separadas em
quatro períodos distintos:
(1) antes de 1872 ou pré-Challenger. Nesta fase os estudos concentravam-se nas regiões costeiras
e marinhas rasas e apresentou uma evolução significante no conhecimento sobre os efeitos da
circulação da água nos sedimentos de fundo. Os estudos aplicados eram impulsionados pela
navegação comercial e pela colocação de cabos submarinos telegráficos em rotas
transatlânticas. Lyell e Darwin foram os grandes nomes desta fase, que teve quatro grandes
enfoques: (1) a biogeografia dos invertebrados marinhos, (2) a origem dos atóis coralíneos, (3)

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o estudo das ondas e correntes e seus efeitos nos sedimentos de fundo, e (4) os padrões de
circulação aquática e a distribuição de sedimentos.
(2) 1872-1876 ou Challenger. A expedição do H.M.S. Challenger foi realizada pela Sociedade
Real de Londres (Royal Society of London) em associação com a Marinha Real inglesa (Royal
Navy) e teve duração de três anos e meio. A expedição circunavegou a Terra medindo a
temperatura da água superficial e em várias profundidades, coletando amostras de água,
sedimento, animais e plantas e fazendo sondagens de profundidade. Ao terminar a expedição,
o processamento das amostras e dados foi feito na Escócia e resultou na publicação de 50
volumes, que foram a base para o atual conhecimento que se tem dos oceanos. Esta expedição
foi revolucionária em termos dos avanços nos conhecimentos sobre os oceanos. Por exemplo,
o estudo dos elementos maiores na água do mar praticamente parou após a expedição, pois
simplesmente não se encontrava nada que o químico alemão Dittmar já não tivesse descoberto
através das análises nas 77 amostras de água coletadas durante a expedição. Várias outras
contribuições foram importantes, como o início da classificação dos sedimentos pelágicos, a
descrição de inúmeros microorganismos, o estudo dos nódulos de manganês e a identificação
de partículas cósmicas.
(3) entre a expedição Challenger e a II Guerra Mundial. O resultado da Challenger incentivou
vários outros países a investirem na pesquisa científica e uma série de expedições
oceanográficas foram realizadas. As mais importantes foram as que se utilizaram de novos
equipamentos e tecnologias, como a obtenção dos primeiros testemunhos de mar profundo
pela expedição alemã do Pólo Sul (South Polar Expedition) realizada entre 1906-1908. Esses
testemunhos levaram à descoberta da relação entre foraminíferos e a variação da temperatura
da água durante as mudanças climáticas do Quaternário. O desastre com o Titanic impulsionou
o interesse pelo uso do som na pesquisa oceanográfica, sendo que a expedição alemã Meteor
na década de 20 utilizou pela primeira vez ondas sonoras para estimar a profundidade da
coluna d’água. A ecossonda registradora, inventada na década de 30, foi um dos equipamentos
que propiciou o grande progresso da oceanografia nos anos seguintes.
(4) após a II Guerra Mundial. Nesta fase, a Sedimentologia marinha teve avanços extraordinários
devido ao desenvolvimento de equipamentos mais precisos e técnicas mais apuradas, como a
ecossonda, o testemunhador à pistão, fotografia e cinegrafia submarinas feitas através de
equipamentos SCUBA ou submersíveis que permitiam a visualização direta do fundo
oceânico, e os registros contínuos da sísmica de reflexão e do sonar de varredura lateral. O
desenvolvimento desses novos equipamentos deveu-se às atividades militares da II Guerra
Mundial, mas foram gradativamente sendo aplicados para fins civis de pesquisa no pós-guerra.
Talvez o maior avanço tenha sido a possibilidade de observar diretamente o ambiente marinho
através dos submersíveis e do mergulho autônomo. Assim, a conquista das profundidades
oceânicas pelo homem será descrita brevemente na próxima seção.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

O desenvolvimento de equipamentos que possibilitaram ao homem conquistar os mais


profundos ambientes marinhos deveu-se a motivos diversos, além da pura curiosidade científica. Na
verdade, o grande investimento financeiro que a oceanografia recebeu no século XX resultou de
pesquisas militares e, em segundo lugar, à exploração comercial dos recursos minerais marinhos. Para
suprir essas necessidades, não bastava conhecer os oceanos apenas através de métodos indiretos, como
as sondagens e amostragens, era imprescindível o acesso direto e a mobilidade do pesquisador no
fundo marinho.
Os primeiros submersíveis que se tem notícia datam do século XIV e foram construídos pelos
esquimós da Groelândia com peles de focas para arrombar navios de carga, ou seja, para a pirataria.
Desde aqueles tempos, muitos projetos foram inventados e utilizados para fins bélicos, científicos e
pirataria. Os maiores avanços tecnológicos no mundo da submersão iniciaram no século XIX. Por
exemplo, em 1863, os franceses Simon Borgeois e Charles Brun inventaram o Plongeur, um
submersível de 42 m de comprimento equipado com um motor de ar comprimido que serviu de
inspiração para Júlio Verne descrever o Nautilus do Capitão Nemo, da obra Vinte Mil Léguas
Submarinas. Posteriormente, a utilização de motores à gasolina e diesel durante a I Guerra Mundial e a
invenção do snorkel para a renovação do ar e liberação dos gases durante a II Guerra Mundial
inovaram os submarinos, até a invenção dos submarinos nucleares atuais. A restrição do uso dos
submarinos para fins científicos está no fato de que se deslocam apenas nas camadas superficiais dos
oceanos, não podendo atingir as profundidades médias e máximas do ambiente marinho (3800 m e
11000 m, respectivamente).
A primeira batisfera que teve resultados significativos foi construída em 1930, pelo zoólogo
William Beebe e o engenheiro Otis
Barton e atingiu 240 m de
profundidade na primeira imersão e
chegou a 923 m, quatro anos depois
(Figura 2). Um dos problemas da
batisfera de Barton era que a sua
mobilidade dependia de cabos
controlados pelo navio de apoio que
só agia após o recebimento dos
comandos dos tripulantes da esfera
por linha telefônica. Em 1948, o
suíço Auguste Piccard testou o
primeiro batiscafo, que se
diferenciava da batisfera por
apresentar um flutuador que fazia o
deslocamento na coluna d’água
através de combinações de volume
de água com gasolina, dando assim Figura 2. A batisfera de Barton que tinha 144 cm de diâmetro e
mais eficiência à mobilidade do paredes de aço de 3 cm de espessura. Barton (E) e Beebe (D)
equipamento. Quando a água era submergiram a 923 m de profundidade nesta cápsula em 1934.
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expelida do flutuador, o batiscafo


subia, quando a água penetrava
através da uma placa porosa, o Figura 4. O Alvin é um
batiscafo descia. Em 1960, Jacques submersível que faz parte da
nova geração de batiscafos,
Piccard, filho de Auguste, e Don
pois pode atingir grandes
Walsh, da armada americana, profundidades (1800 m) e
atingiram o fundo oceânico a quase ainda possui mobilidade
11.000 m de profundidade, na fossa horizontal, além de não
apresentar o volumoso
das Marianas (oceano Pacífico), o flutuador do Trieste.
local mais profundo já identificado
até hoje, com o batiscafo Trieste
(Figura 3). A operação durou por
volta de oito horas e meia, sendo 4
horas e meia na descida, vinte
minutos de observação no fundo e Figura 3. O batiscafo Trieste desceu à maior profundidade
o restante durante a subida. oceânica já identificada (quase 11.000 m) tripulado por Jacques
Piccard e Don Walsh, em 1960. A parte superior é o flutuador e a
Os batiscafos e batisferas pequena esfera abaixo é a cápsula onde ficam os tripulantes.
desenvolvidos até então atingiam as
grandes profundidades oceânicas,
mas deslocavam-se apenas na
vertical, restringindo um maior
reconhecimento do fundo e seus
organismos. Na década de 50,
começaram a ser construídos os
primeiros submersíveis que podiam
atingir com segurança
profundidades maiores do que os
submarinos militares alcançavam.
Nesta nova geração, estão o Alvin
(Figura 4), um pequeno batiscafo
de fibra de vidro e 7 m de
comprimento, e o Aluminaut, que é
um submarino que comporta três
pessoas e pode passar vários dias Figura 4. O Alvin é um submersível da nova geração, pois pode
atingir grandes profundidades sem a necessidade de volumoso
submerso. Além dos submersíveis flutuador e ainda apresenta mobilidade horizontal.
tripulados, vários outros
equipamentos têm tornado o fundo
do mar acessível ao homem. Por exemplo, os ROVs (Remoted Operated Vehicles) são pequenos robôs
que vasculham o fundo, fotografando, filmando e coletando material seguindo os comandados dos
pesquisadores em superfície. A figura 5 mostra como o homem conquistou as grandes profundidades
oceânicas utilizando-se de equipamentos e tecnologias cada vez mais avançadas.

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A Sedimentologia, como qualquer outra ciência, pode


ser estudada apenas com fins acadêmicos, ou seja, o conhecer
pelo conhecer, ou servir como ferramenta para a resolução de
problemas que afetam a sociedade como um todo. Embora os
estudos acadêmicos têm gerado um grande volume de
conhecimento básico, atualmente, maior ênfase tem sido dada
aos estudos aplicados, principalmente na área de preservação
ambiental e resolução de problemas de origem antrópica. Isto
deve-se à urgência que se tem em resolver os inúmeros
problemas ambientais gerados pelo homem aliado à escassez
de recursos financeiros destinados à pesquisa.
Estudos sedimentológicos têm sido utilizados em
inúmeras áreas, como:
• exploração de combustíveis fósseis (petróleo e carvão),
• mineração de areia e cascalho para a construção civil,
• extração de calcário para o fabrico de cimento e
fertilizantes,
• extração de argilas para cerâmica,
• prevenção de deslizamentos de terra,
• canalização de rios para prevenção de enchentes ou para
irrigação,
• represamento de rios para produção de energia elétrica,
• estabilização de canais de navegação em regiões
portuárias,
• contenção de erosão costeira,
• estudo das propriedades do solo aplicados à engenharia
civil, etc.
Figura 5. A conquista do fundo do mar
teve a contribuição da tecnologia
militar, como o mergulho autônomo e
os submersíveis. Neste esquema
observa-se os equipamentos que
podem ser utilizados na observação
direta do ambiente marinho. Os ROVs
(Remoted Operated Vehicles) também
têm sido muito utilizados na pesquisa
científica e aplicada do fundo dos
oceânicos, mas proporcionam apenas
uma visão indireta do meio, já que são
controlados remotamente.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Dixon, D., 1992. The Practical Geologist. Simon & Schuster: New York, 160p.

Friedman, G.M. and Sanders, J.E., 1978. Principles of Sedimentology. Wiley & Sons: New York,
792p.

Schwoerbel, W., 1972. Rumo ao fundo do mar. In: Reader’s Digest Selections, 1972. O Grande Livro
dos Oceanos: 361-401.

Selley, R., 1988. Applied Sedimentology. Academic Press: London, 446p.

Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.

Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.

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A FORMAÇÃO DOS SEDIMENTOS

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• As diferentes etapas do ciclo sedimentar
• Os processos envolvidos na formação dos sedimentos
• Os tipos de produtos gerados pelo intemperismo
• A importância da água na formação dos sedimentos

A superfície da Terra está em estado dinâmico, ou seja, está continuamente sendo criada e
destruída em processos que podem durar algumas horas ou alguns milhares de anos. Esses processos
fazem parte do ciclo geológico (Figura 6), que descreve todas as trajetórias possíveis para os elementos
minerais presentes na superfície ou no interior na Terra. O ciclo geológico consiste em quatro
processos básicos que são os responsáveis pela formação e transformação dos três grupos de rochas
existentes na Terra:
• Magmatismo, é a fusão dos compostos formadores das rochas sob as altas temperaturas e
pressões que ocorrem em locais profundos da crosta e no manto superior. O resfriamento e a
cristalização deste material (magma) na superfície ou no interior da crosta formam as rochas
primárias ou ígneas.
• Metamorfismo, é a transformação de rochas preexistentes em rochas metamórficas sob os
efeitos de alta temperatura, pressão, reações químicas ou uma combinação dos três.
• Ciclo Sedimentar, consiste na alteração física e química das rochas aflorantes na superfície da
Terra, incluindo desde o intemperismo
(formação dos sedimentos) até a diagênese
(formação das rochas sedimentares).
• Soerguimento, é o processo responsável pelo
afloramento das rochas presentes no interior da
crosta através de movimentos tectônicos ou
orogênicos. É fundamental para o ciclo
sedimentar que inicia a partir das rochas
expostas na superfície da Terra.
Graças ao soerguimento, todos os três tipos de
rochas podem ser encontrados na superfície da Terra.
Em função do tempo e dos processos do ciclo
geológico cada uma dessas rochas pode ser
transformada em uma rocha diferente. O período de
tempo necessário nestas transformações é variável, mas
Figura 6. Representação simples do ciclo
nem mesmo a mais dura rocha escapa da dinâmica geológico. As setas azuis identificam os
existente na superfície e no interior da Terra. O calor processos do ciclo sedimentar, as setas
gerado pelas reações nucleares no interior da Terra e amarelas do metamorfismo, e as setas
alaranjadas do magmatismo.
no sol é a força que rege a dinâmica do ciclo

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geológico. O calor interno da Terra forma o magma que origina as rochas ígneas e também fornece a
energia que move as placas tectônicas, soerguendo montanhas e expondo as rochas à superfície da
terra, ao mesmo tempo em que consomem material nas zonas de subdução onde são transformados em
magma. O calor do sol controla o ciclo da água, a circulação dos ventos e determina o clima, cujos
processos desgastam as rochas aflorantes, transportando o material gerado para locais onde serão
soterrados por materiais mais novos, transformados em rochas e dando continuidade ao ciclo.

O ciclo sedimentar é a parte do ciclo geológico que ocorre na superfície da Terra e consiste
num conjunto de processos responsáveis pela formação dos sedimentos, seu transporte e deposição, até
a sua transformação em rochas sedimentares (Figura 7).
Em geral, os minerais que
compõe as rochas aflorantes na
superfície terrestre foram formados
sob altas temperaturas e pressões e
sem o contato com uma atmosfera
oxidante. Estas condições são muito
distintas das existentes na superfície
da Terra, ou seja, baixas temperaturas
e pressões, oxigênio e água em
abundância. Assim, muitos minerais
são instáveis nas condições reinantes
em superfície e tendem a sofrer
alterações que os transformem em
compostos que estejam mais em
equilíbrio com as novas condições
ambientais. As transformações das
rochas preexistentes (ou rochas
matrizes) são causadas por processos
físicos, químicos e biológicos e
resultam em resíduos sólidos ou
dissolvidos, que formam o sedimento.
O conjunto de transformações pelas
quais uma rocha aflorante passa é
chamado de intemperismo. Então, o
intemperismo é a primeira etapa do
ciclo sedimentar e é responsável em
transformar as rochas-fontes em
Figura 7. Representação esquemática das etapas do ciclo
partículas sedimentares passíveis de sedimentar (intemperismo, erosão, transporte, deposição,
serem transportadas. litificação) e seus produtos dentro do ciclo geológico.

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A remoção do material sedimentar de seu local de origem inicialmente ocorre através de um


processo chamado erosão. A erosão necessita de um componente gravitacional para agir, ou seja, está
sempre relacionada a locais que apresentam desníveis de relevo. A gravidade encarrega-se de retirar o
sedimento recém formado de seu local de origem, expondo novas superfícies da rocha-fonte ao
intemperismo. Assim, a erosão é fundamental para a continuidade do ciclo sedimentar. A relação entre
o intemperismo e a erosão é complexa, pois a remoção do sedimento favorece a ação do intemperismo
sobre novas superfícies, impedindo que neste local ocorra a formação de material altamente
intemperisado. Isto significa que em locais onde ocorre a erosão, o intemperismo ocorre
continuamente, mas sempre em estágios iniciais, nunca em níveis intensos.
Além da gravidade, outros agentes podem transportar as partículas sedimentares de um local
para outro. Os produtos sólidos do intemperismo podem ser transportados pelo vento, pela água das
chuvas e dos rios, ou pelas geleiras, já os produtos dissolvidos só podem ser transportados em meio
aquoso. As partículas sedimentares podem ser transportadas por arrasto, rolamento, saltação ou
suspensão em meio aéreo ou aquoso, o que determina o tipo de transporte é o tamanho das partículas e
a competência e tipo de agente transportador. Teoricamente, o ponto final da trajetória de um
sedimento é o mar, mas existem inúmeros ambientes continentais e costeiros onde eles podem ser
depositados. A deposição irá acontecer quando o agente transportador perder sua competência, ou seja,
quando a energia do meio diminui a ponto de não mais sustentar o transporte das partículas. Os locais
onde os sedimentos são depositados chamam-se ambientes deposicionais, como os rios, lagos, lagunas,
estuários, desertos, praias, etc. Cada ambiente deposicional pode apresentar diferentes depósitos
sedimentares conforme a variação energética do agente transportador, o tipo de agente transportador e
o tipo de sedimento depositado. Por sua vez, os depósitos sedimentares podem ser soterrados por
outras camadas de sedimentos mais novas e gradativamente sofrerem o processo de litificação,
transformando-se em rochas sedimentares. Estas rochas sedimentares podem ser soerguidas dando
continuidade ao ciclo sedimentar ou podem ser transformadas em rochas metamórficas e ígneas
seguindo outras fases do ciclo geológico.
Para fins didáticos, as etapas do ciclo sedimentar descritas acima podem ser separadas em dois
grupos:
(1) Sedimentogênese, inclui os processos responsáveis pela formação dos sedimentos e pode ser
sub-dividida em três fases:
(a) Fase de mobilização, é a fase inicial dos processos, quando o intemperismo e a erosão
agem para transformar as rochas aflorantes em partículas sedimentares passíveis de serem
transportadas.
(b) Fase de transferência, consiste no transporte das partículas sedimentares por agentes
dinâmicos da superfície terrestre, como a gravidade, as geleiras, o vento e as águas correntes.
(c) Fase de acumulação, é a fase final da sedimentogênese que envolve a deposição das
partículas sedimentares.
(2) Diagênese, consiste nos processos que transformam os sedimentos em rochas sedimentares,
geralmente envolvendo reações químicas entre os fluidos intersticiais e os minerais formadores
do sedimento. Pode ser dividida em várias etapas:

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(a) Compactação, é o único processo físico da diagênese, que resulta do acomodamento dos
grãos gerado pela expulsão dos fluidos intersticiais pelo próprio peso das camadas
sobrejacentes.
(b) Litificação, resulta na consolidação ou cimentação do sedimento pela precipitação química
de materiais nos poros intersticiais.
(c) Recristalização, consiste na mudança do tamanho e da forma das partículas através de
estruturas de crescimento secundário, mas sem alterar sua composição original.
(d) Autigênese, é a formação de novos minerais, de composição diferenciada dos depositados
originalmente.

Intemperismo é o conjunto de processos que atuam na formação dos sedimentos a partir da


desagregação física e da decomposição química das rochas aflorantes na superfície da Terra. O
objetivo do intemperismo é a transformação dos minerais formadores das rochas em produtos que
estejam em equilíbrio com as condições reinantes na superfície, ou seja, baixas pressão e temperatura,
presença de oxigênio e de água. Assim, todas as rochas que estão próximas da superfície ou aflorando
são fontes potenciais de sedimento. Algumas rochas são formadas por minerais mais estáveis que as
outras, consequentemente o tipo de alteração, o tempo necessário para esta alteração e o produto
gerado pode ser diferente. As rochas ígneas são chamadas de rochas primárias por serem as primeiras
formadas a partir do magma, ou seja, seus minerais foram formados em condições ambientais muito
distintas das presentes na superfície da Terra. Já as rochas sedimentares são formadas por processos
atuantes na superfície e resultam da alteração de rochas preexistentes, por isso são chamadas de rochas
secundárias. Assim, as rochas sedimentares tendem a apresentar uma maior proporção de minerais
mais estáveis às condições de superfície que as rochas ígneas, consequentemente, as alterações geradas
pelo intemperismo são menos intensas e requerem mais tempo para serem notadas. Além da
composição da rocha-fonte, outros fatores influenciam o tipo e a intensidade do intemperismo, são
eles: o clima, o relevo e o tempo de exposição das rochas às condições atmosféricas. Assim, o estudo
das partículas sedimentares é muito útil na reconstrução paleogeográfica de um ambiente, podendo
evidenciar o clima, os agentes transportadores e o tipo de rocha-fonte.
De uma maneira geral, o intemperismo pode gerar dois tipos de produtos:
• resíduos dissolvidos: resultam da fração solúvel das rochas, principalmente os metais alcalinos
(Na e K) e as terras raras (Mg e Ca). Estes elementos são carreados pela água na forma de íons
até que as condições físico-químicas do meio propiciem sua precipitação. Os resíduos
dissolvidos dão origem aos sedimentos químicos, como os evaporitos, e bioquímicos, como as
vasas de diatomáceas e foraminíferos.
• resíduos sólidos: incluem (1) os argilo-minerais, que são os produtos insolúveis resultantes da
alteração dos minerais instáveis, e (2) os grãos retrabalhados dos minerais mais estáveis, como
o quartzo, ortoclásio e os minerais pesados. Os resíduos sólidos geram as rochas clásticas ou
detríticas, como os arenitos e folhelhos.
A Figura 8 mostra um exemplo dos tipos de produtos gerados pelo intemperismo, utilizando a
alteração dos feldspatos potássicos, que são componentes comuns de várias rochas. O intemperismo

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

completo do feldspato gera um resíduo sólido, o argilo-mineral caulinita, e resíduos dissolvidos, a


sílica e o íon potássio. Considerando o intemperismo extremo sobre qualquer tipo de rocha, os
produtos finais gerados deste processo seriam: os argilo-minerais (são os únicos minerais formados
unicamente na superfície terrestre), os solos (que são os argilo-minerais enriquecidos de compostos
orgânicos) e as substâncias dissolvidas.

Figura 8. Intemperismo total sobre um feldspato potássico,


resultando em caulinita (resíduo sólido) e sílica e potássio dissolvidos.

O intemperismo abrange processos físicos, químicos e biológicos. O primeiro tem ação


puramente mecânica e é responsável em desagregar a rocha, diminuindo a granulometria sem alterar
sua composição original; o químico altera a composição química da rocha-fonte, resultando em
minerais que estão mais em equilíbrio com as condições superficiais; e o biológico consiste nas
alterações físicas e químicas causadas direta ou indiretamente por organismos vivos. O intemperismo
químico e o físico operam juntos, cada um ajudando e reforçando o outro. O intemperismo físico
diminui o tamanho das partículas, aumentando a superfície disponível ao ataque químico. Rochas
aflorantes que não sofreram fragmentação (intemperismo físico) são sujeitas a um intemperismo
químico muito leve, já que a superfície de contato da rocha com a água é reduzida. Rochas fraturadas
permitem a percolação da água internamente, intensificando o processo de decomposição mineral.

Consiste na desagregação ou fragmentação mecânica das rochas gerando partículas menores


de mesma composição da rocha-fonte. São três os principais processos do intemperismo físico:
• Congelamento da água de percolação em poros e fraturas. A água aumenta 9% de seu volume
ao congelar-se. Quando o congelamento ocorre em poros ou fraturas das rochas, o aumento de
volume age como uma cunha aumentando a área fraturada. Este processo é importante em
regiões onde há vários ciclos de gelo e degelo, como nas regiões polares e em altas altitudes. A
cristalização de sais em poros e fraturas tem efeito semelhante, podendo ocorrer pela
evaporação da água retida nestes locais, principalmente em regiões de clima árido.
• Expansão térmica. Ocorre em regiões de clima desértico quente, onde a amplitude térmica
diária é muito grande. As rochas expandem-se ou contraem-se respectivamente com o aumento
e a diminuição da temperatura. A proporção deste processo é definida pela condutibilidade da
rocha e pelo coeficiente de elasticidade de cada mineral. Em geral, as rochas têm baixa
condutibilidade térmica, ou seja, há um gradiente de temperatura interno que faz sua superfície

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

expandir e contrair mais que seu interior. Isto gera um esforço diferencial que, ao longo do
tempo, leva ao fraturamento da rocha. Sob o efeito da variação de temperatura, os minerais
variam de tamanho e as proporções desta mudança dependem do coeficiente elástico de cada
mineral e da direção cristalográfica em que é
feito o esforço. Quando sujeitos à mudanças de
temperatura por um longo período de tempo,
estes minerais perdem a elasticidade e rompem-
se criando pontos de fraqueza na rocha.
• Alívio de pressão. Conforme as rochas aflorantes
sofrem erosão, ocorre uma diminuição da
pressão exercida sobre as rochas de
subsuperfície. O alívio de pressão gera a
fragmentação do tipo esfoliação que tende a ser Figura 9. Esfoliação gerada por alívio de
pressão.
paralela à superfície, ou seja, acompanha o
relevo do terreno (Figura 9).

Gera a decomposição dos minerais instáveis presentes na rocha original através de reações
químicas com a água, como a oxidação, redução, dissolução, hidratação, hidrólise e carbonatação. O
intemperismo químico pode resultar na formação de novos minerais (argilo-minerais) e na dissolução
dos elementos e compostos solúveis presentes na rocha-fonte, ou seja, gera compostos de composição
diferente da rocha matriz.
A presença de água na superfície da Terra é uma das características mais importantes da Terra,
assim é importante rever algumas das propriedades da água que são importantes para as reações do
intemperismo químico. A grande maioria das propriedades especiais da água deve-se a sua polaridade,
que resulta de ligações covalentes assimétricas que fazem o oxigênio apreender mais elétrons do que
poderia. Teoricamente, a ligação entre os átomos de hidrogênio e o de oxigênio deveria ser de 90º, mas
a ligação é de 104º devido à repulsão entre os átomos de hidrogênio. Por causa disto, as moléculas de
água agrupam-se formando tetraedros de quatro moléculas, ligados por pontes de hidrogênio. Outras
propriedades da água relacionadas a sua polaridade e importantes para o intemperismo são descritas a
seguir:
• Alta capacidade solvente sobre compostos ligados ionicamente. As terminações positivas e
negativas da molécula de água atraem os íons de carga contrária, neutralizando-os.
• Alta tensão superficial, alto ponto de fusão e capilaridade são causados pelo agrupamento
tetraédrico das moléculas.
• Aumento da viscosidade com a diminuição da temperatura. O decréscimo na temperatura gera
uma diminuição na agitação térmica entre as moléculas de água e um aumento no número de
pontes de hidrogênio, consequentemente no tamanho do agrupamento das moléculas.

14
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

• Aumento da densidade com a diminuição da temperatura até os 4ºC e diminuição da


densidade dos 4ºC até os –22ºC. Até os 4ºC a densidade aumenta devido à contração
(diminuição de volume) causada pela diminuição da agitação térmica molecular. Abaixo dos
4ºC, a produção de mais pontes de hidrogênio (que é facilitada pela diminuição da agitação
molecular) faz com que os tetraedros agrupem-se em estruturas hexagonais, favorecendo a
expansão volumétrica e diminuindo a densidade. A expansão continua até -22ºC, quando o
gelo atinge densidade mínima e volume máximo.
• Acidez. As moléculas de água dissociam-se em H+ e OH-2, embora o grau de ionização seja
pequeno. A água pura tem pH neutro, mas a combinação do H+ da água com outros ácidos
presentes na atmosfera e na água corrente pode resultar em significante abrasão das rochas
aflorantes quando considerado um longo período de tempo.
• Hidrólise. A decomposição de minerais silicatados deve-se à substituição dos cátions das
estruturas dos minerais pelos H+ da água, fazendo com que o OH- da água combine-se com os
cátions liberados. A hidrólise age ao longo das descontinuidades presentes nas rochas e é
maior quanto maior for a superfície em contato com a água.
O primeiro passo do intemperismo químico é a dissolução, que depende da solubilidade do
material e da qualidade da água percolante. A água é um bom solvente por ser polar. A molécula de
água age como um pequeno imã atraindo íons presentes na superfície de certos sólidos, dissolvendo o
material. Mesmo assim, poucos minerais reagem com água pura, mas a presença de CO2 dissolvido
(retirado da atmosfera) impinge maior acidez aumentando seu poder de dissolução. A halita é o
mineral mais solúvel, seguido da gipsita e depois dos carbonatos. A solubilidade refere-se muito à
mobilidade dos elementos químicos, diminuindo do Ca e Na para o Mg, K, Si, Fe e Al. Assim, os
sedimentos tendem a perder os primeiros (por dissolução) e apresentar um enriquecimento relativo nos
últimos elementos (resíduos sólidos). Devido à mobilidade dos elementos as rochas calcárias (ricas em
Ca) são rapidamente intemperisadas em clima úmido, enquanto o granito (rico em silicatos) é muito
mais resistente sob as mesmas condições. A dissolução dos carbonatos é notória em terrenos karsticos,
caracterizados por inúmeras cavernas e rios subterrâneos.
A oxidação e a redução são reações químicas muito comuns na superfície da Terra, pois os
elementos químicos presentes nos minerais tendem a buscar um equilíbrio com a natureza oxidante ou
redutora do meio. A oxidação envolve a perda de elétrons, o que determina um aumento em carga
positiva, enquanto a redução é o processo de perda de carga positiva. Estas reações podem ocorrer de
duas maneiras: (1) reação com o oxigênio ou com a água para formar óxidos e hidróxidos,
respectivamente, e (2) troca de elétrons entre elementos, como a combinação do ferro com enxofre
formando sulfeto de ferro envolve a oxidação do ferro e a redução do enxofre. O oxigênio dissolvido
nas águas superficiais é o agente oxidante natural mais importante devido a sua forte
eletronegatividade. Por isso, a maioria dos elementos presentes na zona de intemperismo e na parte
superior de depósitos sedimentares é oxidante. Exceções ocorrem em solos pobres em O2 e em
ambientes aquáticos com pouca renovação de água. Estes processos podem ser observados pela
alteração das cores do sedimento, quando as tonalidades amarelas e vermelhas indicam ambiente
oxidante e o verde e cinza indicam ambiente redutor.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A hidratação consiste na simples adição de água ao mineral, enquanto a hidrólise é a reação


química entre os íons H+ e OH- da água e os íons formadores dos minerais. A carbonatação é a
reação dos íons carbonato e bicarbonato com os minerais, normalmente ocorre associado à hidrólise.
As reações de hidrólise levam à liberação de elementos alcalinos em solução (Na, Ca, Mg, K) na forma
de íons hidratados, com sílica e alumino-silicatos como subprodutos. A maior fonte de H+ para estas
reações é a carbonatação:

H2O + CO2 H2CO3 H+ + HCO3-

Os cátions liberados em solução formam compostos com carbonatos ou bicarbonatos, como:

2KAlSi3O8 + H2CO3 + H2O = K2CO3 + Al2Si2O5(OH)4 + 4SiO2


ortoclásio caulinita

Comparando os três grupos de rochas, observa-se que as rochas sedimentares apresentam um


número muito menor de minerais do que as rochas ígneas e metamórficas. As rochas sedimentares, ao
contrário dos outros dois tipos, são formadas em superfície a partir da alteração de rochas
preexistentes. Assim, essas rochas não apresentam os minerais instáveis presentes nas rochas matrizes
e que foram alterados durante o ciclo sedimentar. A estabilidade dos minerais depende das condições
de temperatura e pressão em que foram gerados, quanto mais diferentes das condições de superfície,
mais instáveis serão minerais.
De acordo com a Série de Cristalização de
Bowen (Figura 10), os primeiros minerais a serem
formados em altas temperaturas são as olivinas,
piroxênios, anfibólios e os plagioclásios, enquanto
o feldspato potássico, a moscovita e o quartzo
formam-se em temperaturas mais baixas. Assim, os
primeiros minerais a serem alterados nos estágios
iniciais do intemperismo são os minerais ferro-
magnesianos e os plagioclásios do início da Série
de Bowen. Alguns minerais são tão instáveis que
geram apenas produtos dissolvidos, como as
olivinas e piroxênios, outros também geram
produtos sólidos, como os argilo-minerais. Um
processo importante da alteração dos ferro-
Figura 10. Série de cristalização de Bowen. Os
magnesianos é a oxidação do ferro ferroso em ferro minerais formados em altas temperaturas e
férrico que, em presença de O2, é altamente pressões estão na parte superior e são mais
insolúvel precipitando como limonita (FeO(OH)). instáveis às condições atmosféricas. Na parte
inferior estão os minerais formados em
temperaturas mais baixas, portanto mais estáveis
em superfície.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A limonita dá a coloração ferruginosa de muitos depósitos formados em ambiente subaéreo.


Em estágios mais avançados do intemperismo, ocorre a alteração dos feldspatos em micas
sericíticas, e nos argilo-minerais illita e caulinita. O feldspato é um mineral importante, que compõe
todos os tipos de rochas, portanto a compreensão do seu intemperismo é muito útil no entendimento
deste processo como um todo. Os feldspatos são suscetíveis ao intemperismo químico, por isso os
granitos são facilmente desagregados em regiões de clima tropical úmido. Nestas condições, os
feldspatos alteram-se em caulinita desprendendo os grãos de quartzo. Mesmo em clima temperado os
grãos de feldspato apresentam pontos escuros em sua superfície, que nada mais são do que
transformações incipientes em caulinita. Os feldspatos só permanecem inalterados em climas
desérticos ou em locais de alta taxa de erosão. Destes dados podemos supor que a alteração de
feldspatos depende da quantidade de água, da temperatura e do tempo de percolação da água junto à
rocha. O intemperismo químico do ortoclásio (feldspato potássico mais comum dos granitos) pode
ser representado pela equação:

2KAlSi3O8 + H2O + 2H+ = Al2Si2O5(OH)4 + 4SiO2-2 + 2K+


ortoclásio caulinita

Nesta reação ocorre a dissolução de elementos (SiO2-2 e K+) e a hidratação de minerais. Os


feldspatos, assim como outros minerais, podem gerar diferentes tipos de argilas, dependendo da sua
composição. Em condições de extremo intemperismo, a própria caulinita dissolve-se liberando SiO2-2
em solução e deixando um resíduo, a gibsita (Al(OH)3), que constitui os depósitos de bauxita. Os
argilo-minerais constituem quase a totalidade dos resíduos gerados pelo intemperismo e pertencem a
quatro grupos principais:

• Caulinita, compreende 8-20% do total dos argilo-minerais nos sedimentos oceânicos


modernos e é mais abundante em baixas latitudes.
• Esmectitas, 16-53% dos argilo-minerais nos sedimentos oceânicos atuais. Ocorrem da
alteração subaérea ou subaquosa de rochas ígneas básicas.
• Illitas, compreendem 26-55% de toda argila presente em sedimentos marinhos atuais e é mais
abundante em áreas adjacentes aos climas temperado e semi-árido.
• Cloritas são facilmente oxidadas pela presença de ferro ferroso, por isso só ocorrem em zonas
de intemperismo reduzido ou ausente, sendo mais comuns em altas latitudes.

A instabilidade dos minerais também pode ser explicada em função da sua estrutura cristalina
(Keller, 1954). Esta teoria determina que os minerais com menos ligações Si-O são mais instáveis,
porque a alta força desta ligação tende a manter a estrutura cristalina unida, independente das outras
ligações entre os cátions e o oxigênio. Assim, os minerais mais resistentes são aqueles compostos
somente de tetraedros de sílica e aqueles que apresentam outros cátions são mais instáveis pois são
suscetíveis à neutralização de suas cargas por moléculas de água. Desta forma, os sedimentos deveriam
ser compostos essencialmente por quartzo, moscovita, ortoclásio e minerais pesados. O quartzo
realmente é o mineral mais abundante nos sedimentos, mas a quantidade dos outros minerais depende
de vários fatores, como: abundância do mineral na rocha fonte, dureza do mineral, tamanho original do

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

cristal ou grão, clima, taxa de erosão, etc. A relação de estabilidade dos compostos minerais às
condições normais da superfície terrestre seria, do mais estável para o menos estável: óxidos de ferro
(como a limonita), óxidos de alumínio (como a bauxita), quartzo, argilo-minerais, moscovita,
feldspatos K (ortoclásio), biotita, plagioclásios Na (albita), anfibólios, piroxênios, plagioclásios Ca
(anortita) e olivinas. Assim, a composição do resíduo final de uma rocha intensamente intemperisada
será quartzo, caulinita (gibsita), bauxita e limonita. Para que isto aconteça, é necessário clima quente e
úmido e baixa taxa de erosão.

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Consiste nas alterações físicas e químicas do intemperismo
geradas pela ação de organismos, como a pressão exercida pelas
raízes das árvores ou a fragmentação gerada pela escavação de
animais. Na realidade, o intemperismo biológico age associado aos
intemperismos físicos e químicos, ampliando e facilitando seus
efeitos. O resultado mais importante deste intemperismo é a
formação dos solos, onde o papel do húmus e das bactérias é
fundamental. A formação do solo é muito interessante, pois ele é
tanto um produto quanto um agente do intemperismo. A presença
do solo age como um feedback positivo, propiciando a sua própria
produção através da ação dos ácidos húmicos, das bactérias e da
ação dos organismos. Os solos podem apresentar três horizontes,
observados através de uma seção vertical, embora a composição e
a espessura variem conforme o local (Figura 11):

(1) horizonte A: é a camada superficial mais escura que


contém grande parte da matéria orgânica. É a zona de
intensa atividade biológica (raízes, insetos, minhocas,
bactérias). Os minerais presentes são as argilas e o quartzo.
(2) horizonte B: tem pouca matéria orgânica e apresenta
óxidos de ferro e minerais solúveis.

(3) horizonte C: é a rocha fonte fracamente alterada e misturada Figura 11. Perfil típico dos solos.
com argila.
Podemos classificar três tipos de solos quanto aos minerais
presentes em cada horizonte:

• Pedalfer, rico em Al e Fe e produtos estáveis, como quartzo, argilas e óxidos de ferro. Não
apresenta calcário e ocorre em áreas de alta pluviosidade.
• Pedocal, apresenta minerais solúveis, indicando clima quente e seco. Contém calcário no
horizonte B e tem mais argilas que minerais inalterados.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

• Laterita, é o solo vermelho típico de regiões tropicais. Os silicatos são completamente


alterados, restando os óxidos de Fe e Al. Quando a rocha fonte for pobre em ferro forma-se a
bauxita.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

EROSÃO E GEOMORFOLOGIA
NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:
• A relação entre intemperismo e erosão
• O que são e como ocorrem os “movimentos de massa”
• A importância da erosão para a evolução da geomorfologia

Erosão é o nome dado ao conjunto de processos que fazem a remoção dos detritos formados
pelo intemperismo, gerando a degradação do relevo. A erosão ocorre pela ação de quatro principais
agentes: gravidade, gelo, água corrente e vento. A gravidade envolve tanto o lento movimento das
partículas numa pendente inclinada quanto as catastróficas avalanches. A erosão glacial ocorre pela
abrasão da superfície terrestre gerada pelo lento movimento das geleiras sob a ação da gravidade. A
erosão pela água corrente ocorre em várias situações, como a erosão fluvial, marinha, etc. A gravidade
está presente na maioria dos processos erosivos determinando a energia do agente transportador.
Assim, a erosão está intrinsecamente relacionada com a existência de pendentes inclinadas onde a
gravidade atua de forma a favorecer a remoção das partículas (Figura 12). Cabe aqui ressaltar a inter-
relação entre erosão e intemperismo. Em locais com alta taxa de erosão, o intemperismo não tem
tempo de atuar efetivamente sobre o sedimento, visto que logo ele é removido. Ao mesmo tempo, se
não ocorresse a remoção das partículas, o intemperismo poderia atuar intensamente sobre o sedimento,
mas não atingiria a rocha inalterada que está protegida pelo seu manto de intemperismo. Então, a
continuidade da formação dos sedimentos é obstruída em locais de pouca ou nenhuma erosão. Um dos
poucos casos em que a gravidade não é fundamental para o processo erosivo decorre da erosão eólica.
A capacidade erosiva do vento é pequena devido à sua baixa capacidade de transporte, mas pode
tornar-se considerável em locais de clima desértico.

Figura 12. Relação das fases da sedimentogênese com o tipo de relevo. O intemperismo
predomina em regiões onde a erosão não atua, ou seja, áreas de baixo relevo. A erosão
é a remoção inicial do sedimento, colocando-o disponível para os agentes
transportadores de longa distância, como rios, ventos e geleiras.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A erosão e o transporte agem criando a variada topografia terrestre. O relevo modifica-se ao


longo do tempo devido ao balanço entre o soerguimento (forças construtivas) e a erosão (forças
destrutivas). Assim, é muito importante observar as características do relevo já que elas identificam o
agente erosivo, que age em oposição às forças tectônicas que elevam montanhas. Este capítulo aborda
as diversas formas de erosão e sua importância na evolução do relevo local.

Acredita-se que a gravidade é um processo nivelador do terreno por ser responsável pelo
movimento de sedimento encosta abaixo. A gravidade sozinha não causa a queda espontânea de
materiais que estão em equilíbrio. A água é um fator importante na perda de estabilidade de um
depósito em terreno inclinado, que age tanto reduzindo o atrito entre o material, quanto aumentando o
seu peso. Estes dois fatores explicam porque os deslizamentos de terra ocorrem mais freqüentemente
em épocas de chuvas intensas. Fatores adicionais que podem desestabilizar uma pendente são
vibrações do terreno (terremotos, tremores de terra), expansão e contração dos solos, ou a ação erosiva
das ondas e outros fluxos de água. O sedimento depositado em uma pendente pode ser arrastado,
deslizar, formar fluxos ou desabar, movimentos que recebem o nome genérico de “ movimentos de
massa” (Figura 13).

Figura 13. Tipos de movimentos de massa: (a) arrasto, (b) fluxo detrítico, (c) fluxo de lama, (d)
deslizamento de terra, (e) deslizamento rochoso e (f) avalanche.

O arrasto de sedimento (Figura 13a) ocorre lentamente (aproximadamente 9 cm por ano), em


qualquer tipo de encosta. É um movimento partícula por partícula iniciado por expansão e contração da
camada devido à variação de temperatura ou umidade, podendo ocorrer em superfície ou em camadas
mais profundas. Os fluxos detríticos típicos ocorrem como uma ruptura de parte da camada sedimentar
que desliza pela pendente (Figura 13b). Estes fluxos podem ser lentos, quando o teor de umidade é
baixo, ou rápido, quando o solo está saturado de água. Os fluxos de lama (Figura 13c) ocorrem pela
saturação de água em solos inconsolidados ricos em lama e podem transportar partículas de tamanhos
diversos devido a sua alta viscosidade (gerada pela força de coesão da lama). Fluxos de lama são
comuns em regiões áridas acidentadas, devido à infreqüência e intensidade das chuvas. Os fluxos
ocorrem de forma turbulenta e nunca preservam a forma original da camada sedimentar que está sendo
removida. Os deslizamentos de terra (Figura 13d) em geral são lentos, mas podem ser catastróficos e

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

ocorrem quando uma massa de sedimento movimenta-se ao longo de uma superfície curva (que pode
ser determinada pelo acamadamento). O bloco de sedimento pode manter-se coeso ou desestruturar-se
na descida. A velocidade dos deslizamentos pode variar de 5 cm/ano a 3 m/s e podem ser rasos (2 a 4
m) ou remover encostas inteiras. Os deslizamentos
rochosos (Figura 13e) consistem em movimentos
rápidos de fragmentos rochosos que se despreendem
da rocha parcialmente fragmentada e movem-se ao
longo dos planos de acamadamento, acumulando-se na
base da encosta. As avalanches (Figura 13f) consistem
na queda-livre de fragmentos de rocha ao longo de
uma encosta muito íngreme. Deslizamentos e
escorregamentos muitas vezes são citados como
sinônimos, embora deslizamentos não mantêm a
estrutura do depósito que está sendo erodido e
escorregamentos mantêm a massa que está sendo
transportada como uma unidade, preservando sua Figura 14. Exemplo de escorregamento.
estrutura (Figura 14).
Atividades humanas como o uso abusivo dos solos, desmatamentos e a ausência ou mal
planejamento de engenharia civil afetam a cobertura vegetal, a inclinação do terreno e a drenagem dos
solos podendo gerar ou agravar movimentos de massa, tornando-os devastadores. Os exemplos de
catástrofes causadas por movimentos de massa são inúmeros, todos os anos ocorrem novos
deslizamentos de terra, enchentes ou fluxos de lama que podem causar grandes danos quando ocorrem
em centros urbanos. São inúmeros os exemplos de desastres causados pela erosão. Em 1983, um
grande deslizamento de lama (4.000.000 m3) represou o Spanish Fork Canyon no estado de Utah
(EUA) formando um grande lago que submergiu uma pequena cidade, forçando seus habitantes a
fugirem, e soterrou importantes acessos rodo-ferroviários, isolando parte do estado. Este deslizamento
foi causado pela sucessão de diversos fatores, como: a acumulação recorde de neve no alto das
montanhas no inverno anterior, a rápida fusão dessa neve na primavera quente e chuvosa que sucedeu,
gerando fluxos detríticos e deslizamentos de terras. Deslizamentos são comuns onde há combinação de
chuvas intensas, construções sobre terrenos inclinados de material inconsolidado e destruição da
vegetação e geralmente resultam de um pobre planejamento de engenharia e falta de observação. Eles
são repentinos, movimentando grande volume de sedimentos, e parecem impossíveis de serem
previstos. Em Quebec, um fluxo de lama ocorreu quando cortaram pendentes muito íngremes em
formações inconsolidadas de silte e argila para alargar uma auto-estrada. Após um período de chuvas,
as paredes íngremes tornaram-se saturadas de água e, repentinamente, ocorreu um fluxo de lama que
carregou construções, estradas e pessoas. Em 1963, nos Alpes Italianos, um deslizamento de 200
milhões de m3 de terra caiu sobre as águas de uma represa, gerando uma enchente que matou 2600
pessoas que viviam nas redondezas. A represa foi construída num vale de paredes abruptas e os
engenheiros não observaram dois pontos fundamentais: a fraqueza das rochas sedimentares que
serviam de parede para o reservatório e um pequeno deslizamento premonitório ocorrido
anteriormente.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Normalmente, os movimentos de massa mais intensos


iniciam com o lento transporte das partículas encosta abaixo
(arrasto). Embora este movimento ocorra devido à gravidade,
outros fatores determinam sua magnitude e velocidade, como
por exemplo: a inclinação de equilíbrio do material e o teor de
água. O primeiro fator em importância é o aumento de pendente
de equilíbrio, que é determinada pelo ângulo de repouso das
partículas. Quanto maiores e mais angulosas as partículas, maior
é o ângulo de repouso que o depósito pode sustentar (Figura
15). Se parte do material for lentamente retirado da base da
encosta, a pendente aumentará fazendo com que qualquer
vibração gere instabilidade e a pendente volte ao ângulo de
repouso.
A estabilidade da pendente também é fortemente
influenciada pela natureza do material superficial. Material
inconsolidado é menos estável que material consolidado,
portanto assume pendente mais suave que as falésias formadas
pelos materiais rochosos. Outro fator importante é o efeito Figura 15. Quanto maiores e mais
lubrificante da água. A presença de água nos poros de angulosas as partículas, maior será o
ângulo de repouso do depósito.
sedimentos permeáveis faz com que os grãos deslizem uns sobre
os outros com pouco atrito. Os efeitos da pendente e do
lubrificante variam com a natureza do material, com as irregularidades da pendente, a presença de
vegetação e da quantidade de água necessária para saturar o depósito. A combinação destes fatores
(ângulo de repouso, natureza do material e presença de água) é responsável pela variedade de
movimentos de massa que existem, sendo que um movimento de massa pode originar outro, conforme
variam os fatores acima.

A maioria do material sedimentar que é transportado pelos rios foi erodido, anteriormente,
(transportado encosta abaixo) por processos de movimentos de massa. A remoção deste material por
processos distintos e em diferentes taxas é que gera a variada topografia terrestre. O intemperismo
físico e químico e os movimentos de massa em combinação com os rios, os ventos, as geleiras e o mar
modelam a superfície da Terra. Assim, há uma dependência entre o ciclo sedimentar e a topografia
terrestre, visto que a altitude e o relevo (parâmetros da topografia) determinam a ocorrência e a
intensidade das fases da sedimentogênese, ao mesmo tempo em que essas fases alteram a topografia.
O simples impacto dos pingos da chuva e o escoamento da água da chuva sobre a superfície de
um terreno podem causar erosão, ou seja, remover grande quantidade de material sedimentar para
outras áreas. Os pingos de chuva variam de 0,5 a 7 mm de diâmetro e atingem o chão com velocidades
entre 1 e 9 m/s, causando um impacto suficiente para remover partículas de tamanho silte e argila. Os
pingos de maior diâmetro são agentes efetivos de erosão, principalmente em solos sem vegetação. A
vegetação é a melhor maneira de evitar esta lavagem de material, pois as folhas reduzem o impacto do

23
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

pingo sobre a superfície do terreno, aumentam a


absorção de água (retardando o escoamento), e
mantém o solo coeso. A taxa de erosão é
bastante variável dependendo do clima e da
topografia. Em regiões temperadas e vegetadas
as taxas estão em torno de 2 mm/1000 anos,
enquanto em regiões de vossorocas a erosão
pode chegar a 1000 mm/1000 anos. Vossorocas
consistem em áreas cobertas por sedimento
inconsolidado e sem vegetação que são
rapidamente erodidas, gerando uma topografia Figura 16. Vossorocas geradas por intensa erosão em
altamente irregular (Figura 16). Geralmente, as terrenos inconsolidados e não vegetados.
taxas de erosão são expressas como taxas de
denudação, ou seja, a média do abaixamento geral da altitude de um terreno, em mm/1000 anos.
O clima afeta o intemperismo e a erosão, como a erosão altera a topografia, então o clima
também afeta a topografia e vice-versa. Além dos efeitos diretos das variações de temperatura e
umidade, a topografia pode gerar efeitos indiretos, como a criação de zonas de sombra de chuvas.
Como a topografia afeta o clima e vice-versa, a topografia também controla o intemperismo. Altas
altitudes e relevos favorecem o intemperismo físico, principalmente pela ação de congelamento da
água que fragmenta as rochas e pela erosão por gravidade. Em altas altitudes, o solo é menos espesso
e o terreno é dominado por afloramentos rochosos. Isto não significa que não ocorra intemperismo
químico em altas altitudes, apenas seus efeitos são mínimos quando comparados com a fragmentação
mecânica e erosão. Um estudo comparativo entre o Rio Amazonas e os Andes indicaram que tanto o
intemperismo químico quanto o físico são mais intensos nos Andes, apesar do clima frio e seco das
altas altitudes. Na floresta amazônica o solo é espesso e predomina o intemperismo químico, pois a
baixa taxa de erosão faz com que os efeitos do intemperismo físico sejam mascarados pelos efeitos do
químico. As taxas de erosão (ou denudação) podem ser avaliadas como a média de uma região,
conforme alguns exemplos presentes na Tabela 1. Vales glaciais e vossorocas apresentam as maiores
taxas, enquanto em regiões polares e montanhosas as taxas são muito variáveis e em regiões
temperadas e florestas tropicais são as menores. Os efeitos do clima e do relevo sobre a erosão são
óbvios. Uma das mais altas taxas de erosão ocorre na bacia de Tamur, nos Himalaias, que apresenta
uma combinação de encostas íngremes, material inconsolidado, depósitos glaciais e influência
humana, resultando numa taxa de, aproximadamente, 5 m/ano. A influência humana geralmente
acelera a denudação de três a dez vezes, sendo que o limite superior das taxas apresentadas na Tabela 1
indica uso intensivo do solo.
Os efeitos topográficos gerados pelos movimentos tectônicos que determinam a altura das
montanhas e a depressão das bacias são muito importantes no controle do intemperismo. São as forças
tectônicas, que elevam montanhas, que ditam a natureza da erosão que, por sua vez, determina o tipo
de sedimento a ser formado. Assim, os fragmentos de rochas e os minerais produzidos pela erosão
evidenciam sua história pré-deposicional. Os processos erosivos podem ser avaliados pela relação
entre o intemperismo físico e o químico. Em terrenos montanhosos, a relação é alta, enquanto em
planícies a relação é baixa.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Tabela 1. Taxas médias de denudação para climas e relevos variados.


Clima Relevo Taxa de denudação (mm/1000 anos)
Normal 10 – 100
Temperado Continental
Íngreme 100 – 200
Normal 10 – 100
Floresta Tropical
Íngreme 100 – 1.000
Árido Variável 10 – ?
Semi-árido Normal 100 – 1.000
Polar/montanhoso Íngreme 100 – 1.000
Geleira continental 10 – 1.000
Glacial
Geleira alpina 1.000 – 5.000
Qualquer Vossorocas 1.000 – 1.000.000
Modificado de Saunders and Young (1983)

Pode-se medir a taxa do intemperismo através da mineralogia e do tamanho do grão das


partículas detríticas que formam as rochas sedimentares. Quanto maior o tamanho do grão e maior a
quantidade de materiais instáveis, maior deve ter sido a relação intemperismo físico/intemperismo
químico, conseqüentemente maior a taxa de erosão. Um arenito grosseiro, com muito feldspato, biotita
e outros minerais instáveis reflete erosão rápida e
relevo acentuado. Já areias quartzosas de
granulometria fina, siltitos e folhelhos ricos em
argilas sugerem áreas planas onde o intemperismo
químico foi dominante. Embora não seja muito bem
esclarecido, acredita-se que os efeitos da topografia
sejam mais importantes que os efeitos do clima na
determinação da relação entre intemperismo
físico/intemperismo químico. Isto porque a
topografia influi no clima mais intensamente que o
clima na topografia, além de determinar a taxa de
erosão das partículas.
O ciclo sedimentar tende a transformar
montanhas jovens (de alto relevo, paredes íngremes
e picos serrilhados e bem definidos, como o
Himalaia) em montanhas de baixo relevo, encostas
suaves e cumes mais arredondados, como os
Apalaches, conforme mostra a Figura 17. Cabe às
forças do interior da Terra (tectonismo e
Figura 17. Evolução de uma topografia (a) matura
vulcanismo) a capacidade de renovar o material (alto relevo, paredes íngremes, vales em “V” e
erodido na forma de novas montanhas, cumes bem definidos) para uma topografia (b)
possibilitando a continuidade do ciclo geológico. antiga (baixo relevo, vales em “U” e pendentes
suaves).

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Elsom, D., 1992. Earth: the Making, Shaping and Working of a Planet. Macmillan: New York, 216p.

Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.

Press, F. and Siever, R., 1986. Earth (4th ed.). Freeman: New York, 656p.

Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.

Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.

Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• A classificar o sedimento em função do tamanho do grão
• Os métodos de análises granulométricas e seus princípios
• Como representar graficamente os resultados das análises granulométricas
• Como interpretar os resultados granulométricos através de parâmetros
estatísticos

O tamanho de grão (ou granulometria) é uma das mais simples e notórias propriedades
físicas dos sedimentos, assim é importante o uso de uma classificação que padronize a
nomenclatura e possibilite comparações entre os dados e sua interpretação. Desta forma, ao
escutarmos nomes como areia, silte ou argila, sabemos exatamente o tamanho das partículas em
questão. Embora um sedimentólogo experiente possa ser capaz de estimar o tamanho do grão
visualmente ou através do tato, existem métodos bastante precisos para determinar o tamanho das
partículas sedimentares. Os métodos de determinação da granulometria de um sedimento
baseiam-se em medições do diâmetro, volume, área ou velocidade de decantação das partículas,
sendo que o método mais adequado depende das características do sedimento. Por exemplo, o
tamanho das partículas que são facilmente manuseadas individualmente pode ser determinado
através da medição de seus diâmetros. Já partículas muito pequenas necessitam métodos indiretos
para a determinação de seu tamanho médio, como por exemplo sua velocidade de decantação. Se
um depósito sedimentar é formado por partículas de vários tamanhos, possivelmente será
necessário utilizar métodos de determinação da granulometria que se baseiam em princípios
diferentes principalmente para a fração de sedimentos finos (silte e argila) e para a fração de
grosseiros (areia e maior que areia). Assim, é imprescindível conhecermos as classificações de
tamanhos de grão e os princípios de cada um dos métodos de granulometria, para que se possa
realizar uma interpretação correta e consistente dos resultados obtidos.

São várias as escalas de tamanho de grão sugeridas para classificar os sedimentos. A


maioria delas determina os limites das classes através de cálculos matemáticos arbitrários. Por
exemplo, a escala de Atterberg (1967), muito utilizada na Alemanha algum tempo atrás, utilizou a
divisão logarítmica de base 10 para definir os limites a partir do valor de 2 mm, resultando em
classes com limites de 200, 20, 2, 0,2 mm e, assim, sucessivamente. As escalas baseadas em
cálculos matemáticos puros, não foram amplamente aceitas, pois suas classes incluem uma
grande variedade de tamanhos de partículas, ou seja, colocam numa mesma categoria partículas
que se comportam de forma distinta frente aos processos de transporte e deposição. O americano
Wentworth (1922) criou uma escala onde as classes são definidas segundo as propriedades físicas
envolvidas no transporte dos grãos (Tabela 2). Wentworth observou o transporte das partículas
em um fluxo e determinou os limites das classes conforme o tipo de transporte sofrido
(suspensão, tração, rolamento), por este motivo esta escala tornou-se a mais utilizada atualmente.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Posteriormente, Krumbein (1934) introduziu uma variação na escala de Wentworth, convertendo


os limites das classes originalmente estabelecidos em milímetros para uma unidade adimensional,
chamada Phi ( ø ). Os valores em phi são calculados pelo antilogaritmo de base 2 do valor em
milímetros, ou seja:

ø = - log2 (d) , sendo d = tamanho em mm

Tabela 2. Escala de Wentworth (1922) para classificação do tamanho de grão, apresentando os


limites das classes em mm e sua conversão para os valores em phi.

O termo granulometria significa medida de tamanho de grão. A granulometria de um


depósito pode fornecer informações sobre as características dos processos transportadores e
deposicionais atuantes no momento de sua formação. Assim, as análises granulométricas têm o
objetivo geral de determinar quantitativamente a distribuição dos tamanhos de grão em uma
amostra e seus resultados podem ser usados de formas variadas conforme o interesse envolvido.

28
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Várias áreas da geologia aplicada utilizam-se de análises granulométricas com finalidades


diversas, por exemplo:
caracterizar e classificar os sedimentos com mínima subjetividade,
correlacionar depósitos de áreas diferentes através de tratamentos estatísticos adequados,
inferir sobre os processos relativos à gênese dos sedimentos, como transporte e
deposição,
preparar os sedimentos para outras análises, como minerais pesados, textura superficial,
argilo-minerais, etc.,
caracterizar, classificar e correlacionar os tipos de solos para engenharia civil ou
pedologia,
dimensionar a granulometria exata para utilização de certas matérias-primas (fabrico de
vidro, concreto, cerâmica, etc.) ou
maximizar o aproveitamento de depósitos.
Uma análise granulométrica completa consiste em três etapas: (1) determinar a
distribuição granulométrica (a porcentagem da amostra que pertence a cada classe de tamanho de
grão), (2) fazer a representação gráfica da distribuição granulométrica e (3) classificar a amostra
em função de parâmetros estatísticos. Os métodos de análise variam conforme o tipo de
sedimento presente na amostra. Assim, para que a representação gráfica e a interpretação dos
dados sejam feitos de forma correta, deve-se conhecer os princípios básicos utilizados em cada
método granulométrico.

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Sempre que a amostra não puder ser desagregada sem causar alteração nos grãos, a
granulometria deverá ser determinada por seções finas vistas ao microscópio. Um método
trabalhoso, mas rápido, consiste em medir o diâmetro do campo de visão do microscópio em
aumento conhecido, dividindo-o pelo número de grãos presentes numa seção transversal. Este
procedimento deve ser repetido até que sejam satisfeitas as condições estatísticas. Este método é
limitado, pois fornece somente o tamanho médio do grão e não possibilita determinar o índice de
seleção da amostra. Consequentemente, este método não serve para estudos granulométricos
detalhados, mas pode ser útil nas análises faciológicas. Idealmente, os estudos granulométricos de
seções finas devem ser feitos usando catodoluminescência ou microscopia eletrônica. A fórmula
usada para calcular o tamanho médio do grão por este método é:

Mz = Σ (D/n)
N

sendo: Mz = tamanho médio dos grãos


D = diâmetro do campo de visão
n = total de grãos em cada seção
N = número total de campos contados

29
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

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Existem muitos métodos de análise granulométrica para sedimentos não consolidados,
cada um mais adequado para determinado tamanho de partícula. Material mais grosseiro que
areia, como matacões e seixos, são medidos manualmente com paquímetro ou fita métrica. As
areias normalmente são peneiradas e o material lamoso passa pelo processo de pipetagem.
A peneiragem baseia-se na determinação da granulometria em função do menor diâmetro
das partículas, já que este método consiste em passar uma amostra de peso conhecido através de
um conjunto de peneiras com malhas de aberturas diferentes, dispostas em grão-decrescência
(com a malha de maior abertura em cima e as de menor abertura embaixo). Este conjunto deve ser
vibrado por um período de tempo fixo, possibilitando que as partículas passem pelas peneiras de
malha maior que seu diâmetro. A quantidade de amostra retida em cada peneira é pesada e,
posteriormente, transformada em porcentagem do peso total peneirado, que é usado para
representar a distribuição granulométrica. Este método é rápido e suficientemente preciso para a
maioria dos estudos granulométricos. O grau de eficiência do peneiramento depende de todas as
partículas de diâmetro menor do que a malha passarem para uma peneira de malha mais fina.
Independente do tempo que o jogo de peneiras for vibrado, a eficiência nunca será de 100%, ou
seja, sempre restará alguma partícula mais fina sobre cada malha. A probabilidade de
permanência de grãos pequenos sobre uma peneira, depende do tamanho da amostra, da
distribuição granulométrica e do número de aberturas por unidade de área da malha. Assim, a
possibilidade dos grãos passarem pela malha aumenta quando a amostra for espalhada por toda a
superfície da peneira e diminui quanto maior a proporção de material grosseiro, pois os grãos
maiores podem obstruir a malha. Quanto mais próxima for a granulometria da amostra do
diâmetro da malha, mais difícil a passagem dos grãos.

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A granulometria dos sedimentos finos normalmente é determinada por métodos que
utilizam a velocidade de decantação das partículas como referência do tamanho do grão. Esta
relação está expressa na Lei de Stokes (1851), que se baseia no fato das partículas sedimentares
decantarem com velocidade constante, quando a resistência do fluido iguala-se à força de
gravidade atuante sobre a partícula. A Lei de Stokes foi determinada em função de uma série de
princípios físicos, sendo que suas deduções iniciaram através da determinação da resistência que
um fluido oferece ao movimento das partículas:

R = 6 r v
Onde: R = resistência do fluido à queda (g.cm/s2)
r = raio da esfera (cm)
= viscosidade do fluido
v = velocidade de queda da partícula (cm/s)

A força que se opõe à resistência do fluido ao movimento (R) é determinada pela ação da
gravidade sobre a massa da partícula, ou seja:

30
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

F = Mg
Onde: F = força
M = massa da partícula
g = aceleração da gravidade

Como a massa (M) é determinada pela multiplicação do volume pela densidade da


partícula, e o volume de uma esfera é 4/3 r3, substituindo-se M na fórmula anterior tem-se:

F = 4/3 r3 d g
Onde: d = densidade da partícula

Segundo o “ Princípio de Arquimedes” , todo corpo imerso em um fluido recebe a ação de


uma força de baixo para cima, que é conhecida como empuxo (E), determinado pela fórmula:

E = 4/3 r3 df g
Onde: E = empuxo
df = densidade do fluido
g = aceleração da gravidade

Quando a força que determina a queda das partículas (F) for maior que o empuxo (E),
ocorrerá um movimento para baixo, cuja resultante S será:

S = 4/3 r3 g (d - df)
Quando a resultante S for igual a resistência do fluido ao movimento (R), a velocidade de
queda será constante. Igualando-se as duas equações (R e S) podemos conhecer o valor desta
velocidade constante (v):
4/3 r3 g (d - df) = 6 r v

v = 4 g r3 (d - df)
3 (6) r

Como r = D/2 v = 4 D2 g (d - df)


18 (2)2

Finalmente, resultando na conhecida fórmula da Lei de Stokes:

v = (d - df) g D2
18
Onde: D = diâmetro do grão
d = densidade do grão
df = densidade do fluido
g = gravidade
= viscosidade do fluido

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A Lei de Stokes é perfeita somente para determinadas condições ideais:


• as partículas devem ser no mínimo 10000 vezes maior que as moléculas do fluido;
• o fluido deve ser de extensão infinita em relação às partículas (condição satisfeita quando
a proveta de sedimentação tem diâmetro mínimo de 5 cm);
• as partículas devem ser esferas perfeitas de superfície lisa (estudos mostram que
diferenças na velocidade de decantação devido a superfícies levemente irregulares e
diferentes formas de grão não são muito significativas para a maioria dos sedimentos);
• não deve haver atrito entre o fluido e a partícula e
• a velocidade da queda deve ser baixa.

Partículas menores que 2 (0,002 mm) não obedecem esta lei devido ao movimento
browniano. A Lei de Stokes também não se aplica a partículas maiores que 62 (0,062 mm),
porque estas não atingem velocidade constante em provetas de tamanho normal, não podendo ser
controladas aumentando-se a viscosidade do fluido. De forma geral, a Lei de Stokes fornece
resultados satisfatórios nas análises granulométricas de sedimentos lamosos quando respeitadas
suas limitações. Sendo assim, é o princípio mais utilizado na determinação da distribuição
granulométrica da fração de finos. Embora esta lei não compreenda as diferenças nas formas dos
grãos, pode-se adaptá-la, descrevendo-a da seguinte forma: a velocidade de sedimentação das
partículas lamosas é diretamente proporcional à diferença de densidade entre a partícula e o
fluido, à esfericidade e ao quadrado do diâmetro das partículas, e inversamente proporcional à
viscosidade do fluido. A maioria dos grãos de quartzo possui esfericidade 0,7 ou maior (este
conceito será abordado mais adiante neste capítulo) e estas partículas apresentam uma variação na
velocidade de decantação grosseiramente proporcional a sua esfericidade. Isto quer dizer que uma
partícula de quartzo de esfericidade 0,8 decanta com uma velocidade de 0,8 vezes a de uma esfera
de quartzo de mesmo volume. Baseado na Lei de Stokes, pode-se estabelecer tabelas de
velocidades de decantação para partículas de forma esférica e densidade específica conhecida,
como mostra a Tabela 3.

Tabela 3. Velocidade de decantação para esferas de densidade 2,65 (quartzo) em água destilada a
uma temperatura de 20° C.
Diâmetro da partícula Velocidade de decantação da partícula
(mm) (ø) (cm/s)

0,062 4 0,347
0,031 5 0,0869
0,016 6 0,0217
0,008 7 0,00543
0,004 8 0,00136
0,002 9 0,00034
0,001 10 0,000085
0,0005 11 0,000021

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A velocidade de queda das partículas maiores que 0,062 mm pode ser determinada pela
Lei do Impacto (1963). Equacionando-se as forças que puxam as partículas para baixo e as forças
opositoras ao movimento, observa-se que a velocidade de decantação é proporcional à raiz
quadrada do raio da esfera para as partículas maiores que silte. A Lei do Impacto pode ser
definida da seguinte maneira: a velocidade de decantação das partículas arenosas é independente
da viscosidade do fluido, é diretamente proporcional à raiz quadrada do raio da partícula, à
esfericidade da partícula e à diferença entre as densidades da partícula e do fluido, dividida pela
densidade do fluido.
v = C √r
Onde: C = constante referente as diferenças de densidades entre o fluido e a partícula e
aceleração da gravidade

Colocando-se as resultantes das leis de


Stokes, do Impacto e o de um experimento real
num gráfico, verifica-se que a velocidade de
decantação de grãos muito pequenos obedecem
a Lei de Stokes, enquanto os grãos maiores
comportam-se segundo o Lei do Impacto
(Figura 18). As partículas de tamanho
intermediário comportam-se segundo a média
das curvas das duas leis, o que evidencia
influência de ambas as leis. O significado deste
gráfico é que as partículas lamosas decantam
sob condições de resistência viscosa, e as
partículas arenosas decantam sob condições de
inércia. A velocidade de decantação das
partículas que se comportam tanto sob a Lei de
Stokes quanto sob a Lei do Impacto depende da
Figura 18. Gráfico comparando os resultados
densidade, esfericidade e tamanho da partícula. das velocidades de decantação em função da Lei
Para eliminar a influência destes fatores, foi de Stokes, da Lei do Impacto e de uma curva
criado o conceito de equivalência hidráulica experimental.
(Briggs et al., 1962). Este conceito é mais
abrangente que a Lei de Stokes, visto que tem validade para qualquer depósito natural,
independente das características das partículas. A equivalência hidráulica baseia-se na
determinação do conjunto de partículas que apresentam mesma velocidade de deposição através
de uma coluna d' água. A velocidade de deposição dos sedimentos é diretamente proporcional à
esfericidade das partículas, à diferença de densidade entre a partícula e o fluido e ao quadrado do
raio da partícula e inversamente proporcional à viscosidade do fluido. A combinação destes
fatores determina que partículas serão depositadas num mesmo local, pois uma partícula de
menor tamanho, mas de maior densidade pode ter mesma velocidade de decantação de uma
partícula de maior tamanho, mas mais leve.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Um dos métodos clássicos mais utilizado para a determinação da granulometria dos


sedimentos finos é o da pipetagem. A pipetagem mede as mudanças de concentração do material
em suspensão em uma coluna d’ água originalmente uniforme através de amostragens com pipeta,
em intervalos de tempo definido e em profundidade que corresponde à do material que acabara de
sedimentar. O princípio é bastante simples, se a suspensão for bem homogeneizada dentro de uma
proveta de 1 litro, após um período de tempo "t", todas as partículas com velocidade de
sedimentação maior que h/t estarão abaixo da profundidade "h". Toma-se uma amostra da
suspensão nesta profundidade "h" e tempo "t". Após a secagem do material, pesa-se o resíduo e
multiplica-se o resultado por um fator de proporcionalidade baseado na razão do volume da
pipeta para o volume total da suspensão. Isto representará a quantidade total de material que tem
velocidade de sedimentação menor que h/t. Depois que a primeira amostra foi retirada, a
suspensão é novamente agitada e deixada em repouso por um tempo maior que o anterior, para
que partículas de menor velocidade decantem até a profundidade "h". A segunda amostra terá
material mais fino e em quantidade igual ao peso do material situado entre as duas medidas.
Atualmente, existem equipamentos eletrônicos computadorizados que realizam a análise
granulométrica de partículas finas. Os sedígrafos, por exemplo, consistem de uma câmara de
sedimentação ligada à um emissor de raio-X, controlados por computador. Na câmara de
sedimentação coloca-se uma dispersão aquosa de até 50 ml de amostra. A emissão de raio-X
sobre a dispersão calcula o diâmetro equivalente das partículas presentes na amostra utilizando o
conceito de equivalência hidráulica. Em poucos minutos, pode-se obter a distribuição
granulométrica das partículas que apresentam de 300 a 0,1 de diâmetro, inclusive com os
cálculos das porcentagens de peso, histogramas e curvas de freqüência.

%
O objetivo das análises granulométricas é estabelecer a distribuição dos diversos
tamanhos de grão presentes em uma amostra. Assim, é muito importante que a forma de
apresentação dos dados seja de fácil compreensão e possa ser utilizada para comparar os
resultados de amostras diferentes, por pessoas diferentes. Em geral, há padrões de apresentação
dos dados granulométricos que são utilizados por sedimentólogos do mundo inteiro, facilitando a
troca de informações e comparações de resultados. Os métodos de separação granulométrica
vistos acima fornecem o peso relativo da amostra que se encontra em cada uma das classes
granulométricas medidas. Conhecendo-se o peso inicial de amostra que foi utilizado nas análises,
pode-se transformar o peso de cada classe de tamanho de grão na porcentagem do peso total,
padronizando os resultados obtidos para cada classe e cada amostra, o que facilita a comparação
dos resultados. A porcentagem do peso total (ou freqüência simples) é a forma mais utilizada de
representação numérica da distribuição granulométrica dos sedimentos e geralmente é disposta
em tabelas apresentando os valores para todas as classes analisadas. Normalmente, estas tabelas
apresentam as classes de maior tamanho de grão na parte superior e as classes de menor tamanho
de grão na parte inferior e os resultados são expressos pelo peso do material retido em cada
classe, o mesmo resultado na forma de sua freqüência simples e também a freqüência acumulada.
A partir dos dados apresentados nestas tabelas pode-se fazer a representação gráfica da
distribuição granulométrica, o que facilita a interpretação e comparação dos valores dentro de

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

uma mesma amostra e também entre amostras. Por sua vez, algumas formas de representação
gráfica possibilitam a determinação dos parâmetros estatísticos usados para caracterizar
(classificar) de forma mais objetiva as amostras, determinando as semelhanças ou diferenças
entre os depósitos analisados.

" & ' "


São gráficos de barras verticais utilizados para representar as freqüências simples das
classes granulométricas. Convencionalmente, os histogramas apresentam os limites das classes de
tamanho de grão (em phi) nas abcissas e os valores das porcentagens nas ordenadas (Figura 19).
A altura da barra de cada classe é uma função da freqüência de partículas presentes em
determinada classe granulométrica, enquanto a largura da barra depende dos limites utilizados
para definir as classes granulométricas. Para facilitar a interpretação, os intervalos das classes
granulométricas devem ser de mesma grandeza (eqüidistantes) e para que o histograma tenha
alguma utilidade para a interpretação
sedimentológica, as classes devem
representar no mínimo intervalos de
números inteiros de phi. Os
histogramas são gráficos muito fáceis
de serem interpretados, por isso são
muito utilizados na sedimentologia
para uma descrição geral das
freqüências das classes e da seleção
da amostra, mas não servem para
determinação dos parâmetros
estatísticos. Dos histogramas pode-se
obter a classe modal, ou seja, a classe
de maior freqüência e, também, ter
Figura 19. Representação gráfica de uma distribuição
uma idéia geral do grau de seleção e granulométrica na forma de um histograma.
da assimetria da distribuição
granulométrica.

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Esses gráficos correspondem às curvas construídas sobre os histogramas e geralmente
apresentam formas senoidais. Por fornecerem o mesmo tipo de informação que os histogramas
são pouco usadas na representação dos dados granulométricos. As curvas de freqüência simples
permitem visualizar o tamanho de grão de máxima freqüência (moda), assim como o grau de
seleção das amostras e a assimetria. Talvez a única vantagem sobre os histogramas seria a
possibilidade de se colocar várias curvas de freqüência simples em um mesmo gráfico,
favorecendo a comparação da distribuição granulométrica de um grupo de amostras (Figura 20).

35
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

O aspecto (forma) das


curvas de distribuição normal
pode identificar onde ocorrem
as principais diferenças entre
grupos de amostras. Por
exemplo, curvas que
apresentam mesma moda e/ou
mesma média podem ter
formas diferentes, que
indicam o grau de seleção das
amostras e a assimetria.
Curvas muito íngremes
apresentam poucas classes
granulométricas entre seus
pontos de inflexão,
Figura 20. Curvas de freqüência simples representando a
consequentemente a amostra
distribuição granulométrica de uma série de cinco amostras
será bem selecionada. Ao coletadas em ambiente praial.
contrário, curvas largas e
achatadas indicam que a amostra é pouco selecionada pois apresenta grande número de classes de
tamanho de grão. A forma das curvas de freqüência simples também podem indicar se uma
amostra é assimétrica, ou seja uma maior tendência de apresentar um deslocamento da curva pela
presença de uma cauda de sedimentos grosseiros ou finos. Curvas de distribuição normal são
simétricas, ou seja, apresentam grande parte das partículas na parte central da curva e as caudas
de finos e grosseiros são de mesmo tamanho e dispõe-se em cada lado, satisfazendo exigências
estatísticas como:
• a área definida entre os dois pontos de inflexão da curva corresponde a 68,27% da sua
área total,
• os pontos de inflexão da curva são representados pelos valores de 16% e 84% e
• o meio da área dos 68,27% centrais ocorre na freqüência de 50% (mediana) que
corresponde também à média aritmética e à moda.
Nas curvas assimétricas, os valores de moda e média não correspondem, sendo que a
média pode estar deslocada para a esquerda (lado dos grosseiros) ou para a direita (lado dos
finos). Na primeira situação, temos uma assimetria negativa, pois a curva tende a apresentar um
excesso de partículas grosseiras que desloca a curva para a esquerda, já na segunda, temos
assimetria positiva, onde um excesso de finos desloca a curva para a direita. Há outro tipo de
distribuição granulométrica assimétrica quando a amostra apresenta várias subpopulações, cada
uma com sua própria moda. A presença de várias subpopulações de tamanhos de grão sugere que
o sedimento foi formado por materiais oriundos de várias fontes deposicionais.

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A freqüência acumulada é a soma das freqüências de todas as classes anteriores, inclusive
a da classe em questão. Então, as curvas de freqüência acumulada representam a porcentagem de

36
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

sedimentos mais grosseiros que um determinado tamanho de grão. As curvas de freqüência


acumulada apresentam as porcentagens no eixo das ordenadas e os tamanhos em phi no eixo das
abcissas e, iniciando em zero porcento no seu lado esquerdo e terminando próximo dos 100% em
sua extrema direita, conforme somam-se as freqüências. O eixo das ordenadas pode apresentar
escalas aritméticas (Figura 21) ou probabilísticas, sendo que as escalas probabilísticas são as mais
úteis por (1) ampliarem as caudas das distribuições granulométricas (onde estão as maiores
diferenças entre as amostras), (2) separarem as subpopulações de tamanhos de grão (através da
presença de vários segmentos de reta), (3) fornecerem os valores para o cálculo dos parâmetros
estatísticos, (4) indicarem o
desvio padrão da distribuição
(através da inclinação da
curva) e (5) testarem se a
distribuição é normal.
Distribuições granulométricas
normais apresentam-se em
forma de "S" na escala
aritmética e como uma reta na
escala probabilística. Também
são muito usadas para
comparação do índice de
seleção em diferentes
amostras, já que se pode
plotar várias curvas em um
mesmo gráfico. Quanto mais Figura 21. Curvas de freqúência acumulada em escala aritmética
vertical for a curva, melhor de uma série de 5 amostras coletadas em ambiente praial.
seleção ela apresenta.

& ' " !&( "


Consistem em triângulos divididos em
setores que representam classes distintas de uma
classificação que é baseada na concentração de
três variáveis (uma disposta em cada vértice do
triângulo). Podem ser usados para classificar
amostras quanto ao tamanho de grão,
composição, ou qualquer outro parâmetro que
possua três critérios de classificação. O
diagrama triangular de maior aceitação foi
proposto por Shepard (1954) e é amplamente Figura 22. Diagrama triangular de Shepard,
utilizado na caracterização faciológica dos onde cada vértice representa sedimentos
sedimentos (Figura 22). Cada vértice do compostos 100% de areia (A), silte (S) e argila
(Ar).
triângulo representa a concentração de 100% de

37
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

uma das variáveis, diminuindo sua concentração em direção à face oposta ao vértice. Quando
estes diagramas são utilizados para classificar as amostras em função de sua distribuição
granulométrica, as variáveis mais comuns são as porcentagens de areia, silte e argila das
amostras.

/
A interpretação da distribuição granulométrica baseada nos gráficos acima citados pode
trazer inúmeras informações sobre os meios de transporte e deposição, mas a caracterização
descritiva da amostra feita desta forma é muito subjetiva. A caracterização do sedimento de forma
mais objetiva é feita utilizando-se o cálculo de alguns parâmetros estatísticos, como o tamanho
médio do grão, o grau de seleção da amostra, a assimetria, curtose, etc. Os valores utilizados no
cálculo dos parâmetros estatísticos são extraídos das curvas de freqüência acumulada em escala
probabilística. Vários autores tentaram estabelecer a forma mais adequada de calcular os
parâmetros estatísticos, sendo que dois tiveram mais aceitação. Trask (1930) determinou que as
amostras poderiam ser classificadas utilizando-se a parte central da curva (que engloba maior
número de partículas) representada pelos percentis 25 e 75, ou seja, o tamanho de grão em phi
que corresponde aos 25% e aos 75% da curva de freqüência acumulada. Este método é chamado
de método dos quartéis, pois divide a distribuição granulométrica em quatro partes eqüidistantes
(25%, 50%, 75%, 100%). Outro método bastante aceito foi desenvolvido por Folk e Ward (1957)
e baseia-se na utilização dos percentis 16 e 84 (que representam os pontos de inflexão de uma
curva de distribuição normal) associados aos percentis 5 e 95 (que representam os extremos da
distribuição. Os valores utilizados nas fórmulas estabelecidas por esses métodos, assim como os
resultados obtidos serão sempre valores de tamanho de grão em phi. A descrição dos parâmetros
estatísticos e as fórmulas apresentadas neste capítulo são baseadas no método estabelecido por
Folk e Ward (1957).

# # "# !#-!$ !
Consiste nos parâmetros que indicam as características da parte central da amostra, ou
seja, da parte que inclui a maior parte das partículas presentes numa amostra. São eles: média
aritmética, mediana e moda.

Média aritmética (Mz): é determinada pela média aritmética dos percentis 16, 50 e 84, conforme
mostra a fórmula abaixo. O percentil 16 representa o terço mais grosseiro, o percentil 84, o terço
mais fino e o percentil 50, o terço central da curva, assim esta é considerada uma boa
representação do tamanho médio do grão porque não se baseia exclusivamente num único
tamanho de grão ou classe de tamanho. O valor obtido através da fórmula da Mz serve para
classificar o tamanho médio das partículas de uma amostra em função de alguma escala de
tamanho de grão como a de Wentworth. Por exemplo, se o resultado obtido for 2,4 phi, o
tamanho médio do grão será classificado como areia fina, segundo a escala de Wentworth. A Mz
é a medida de tendência central mais importante, pois é determinada pela fonte de sedimento,
pelo agente transportador e pelo ambiente deposicional.

38
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Mz = ø16 + ø50 + ø84


3

Mediana (Md): é o tamanho do grão presente no percentil 50, obtido diretamente das curvas de
freqüência acumulada em escala probabilística. A mediana representa exatamente o tamanho de
grão que divide a distribuição granulométrica (em peso) nos 50%, ou seja a metade da esquerda é
formada por sedimentos mais grosseiros e a metade da direita é formada por sedimentos mais
finos.

Moda (Mo): é o tamanho de grão de maior freqüência e pode ser determinada diretamente nas
curvas de freqüência simples. Os histogramas e as tabelas de freqüência fornecem a classe modal,
ou seja, a classe que apresenta a maior freqüência de partículas.

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São medidas referentes ao grau de dispersão das partículas em torno da tendência central
da amostra. É representado principalmente pelo desvio padrão ou grau de seleção.

Desvio padrão ( ): É a variação central dos tamanhos de grão a partir da média aritmética. Serve
para determinar o grau de dispersão das classes granulométricas em relação à média, ou seja, o
selecionamento da amostra. Folk e Ward (1957) determinaram o desvio padrão gráfico incluso,
que se aproxima do desvio padrão matematicamente calculado, pela seguinte fórmula:

σ = ø84 - ø16 + ø95 - ø5


4 6,6

A classificação do desvio padrão de Folk e Ward (1957), obedece os seguintes valores:


σ < 0,35 - amostra muito bem selecionada
0,35 - 0,50 - amostra bem selecionada
0,50 - 0,71 - amostra moderadamente bem selecionada
0,71 - 1,00 - amostra moderadamente selecionada
1,00 - 2,00 - amostra pobremente selecionada
2,00 - 4,00 - amostra muito pobremente selecionada
> 4,00 - amostra extremamente pobremente selecionada

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Representa a discrepância entre a altura (freqüência) de uma classe em relação às outras.
Quanto maior a diferença de altura de uma classe em relação às demais, maior será o grau de
agudez, ou curtose, da amostra. O significado geológico da curtose ainda não é bem conhecido,
embora seja um parâmetro utilizado para distingir amostras.

39
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Curtose (Kg): é o grau de afilamento da curva e pode ser observado pela forma das curvas de
freqüência simples. A curtose pode ser definida como a razão entre o espalhamento na parte
central da amostra e o espalhamento nas caudas da distribuição. Uma curva muito afilada (muitas
partículas concentradas na parte central da curva e poucas partículas nas caudas) é chamada
leptocúrtica. Curvas que apresentam distribuição normal são chamadas mesocúrticas e curvas
achatadas são chamadas platicúrticas.

Kg = ø95 - ø5
2,44(ø75 - ø25)

A classificação da Kg obedece os seguintes limites:


< 0,67 muito platicúrtica
0,67 - 0,90 platicúrtica
0,90 - 1,11 mesocúrtica
1,11 - 1,50 leptocúrtica
1,50 - 3,00 muito leptocúrtica
> 3,00 extremamente leptocúrtica

""' 2 34
É a tendência da curva de freqüência simples deslocar-se para um dos lados. Quando a
curva apresentar uma cauda maior para o extremo dos finos, a assimetria é dita positiva, quando a
cauda é maior para o lado dos grosseiros, a assimetria é negativa. Amostras assimétricas
apresentam a média aritmética e a mediana com valores distintos e deslocadas em relação à moda,
para a direita, quando a assimetria for positiva e para a esquerda, quando for negativa.

Sk = ø84 + ø16 - 2( ø50) + ø95 + ø5 - 2( ø50)


2( ø84 - ø16) 2( ø95 - ø5)

A classificação da amostra quanto os valores calculados de assimetria é a seguinte:


-1,0 - -0,3 assimetria muito negativa
-0,3 - -0,1 assimetria negativa
-0,1 - +0,1 aproximadamente simétrica
+0,1 - +0,3 assimetria positiva
+0,3 - +1,0 assimetria muito positiva

A distribuição granulométrica do sedimento é influenciada pelas características do


transporte das partículas e pelo tipo de material aportado. Portanto, a forma das curvas de
freqüência e dos histogramas pode indicar o tipo de transporte e o ambiente deposicional. Desta
forma, pode-se associar o tipo de assimetria, as classes granulométricas presentes e o desvio

40
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

padrão com o tipo de agente transportador, a energia do ambiente no momento da deposição e os


tipos de sedimentos aportados. As curvas de freqüência acumulada em papel probabilístico
raramente são representadas por uma só reta. Normalmente, ocorrem dois ou três segmentos de
reta de inclinações diferentes e separadas por um nítido ponto de mudança brusca de inclinação
entre eles (Figura 23). O que significa que é inapropriado considerar toda amostra como uma
população de distribuição normal simples. A inclinação de cada segmento de reta e a posição das
quebras refletem o mecanismo de deposição. Por exemplo, numa curva com três segmentos, o
central será o de maior comprimento e pode representar uma subpopulação transportada por
saltação, o segmento dos finos pode indicar transporte por suspensão e o segmento dos grosseiros
pode resultar de sedimentos transportados por rolamento. A declividade dos segmentos de reta
reflete o grau de seleção do agente
transportador; quanto mais vertical, maior o
grau de seleção, pois maior é a concentração
de material numa mesma classe.
Curvas de freqüência acumulada
probabilística de areias fluviais mostram dois
segmentos de reta típicos. A interseção destas
retas ocorre próximo dos 90% entre 2,5 e 3,5
ø. Isto deve-se ao trapeamento (retenção) de
sedimentos finos entre o material mais
grosseiro que está sendo depositado quando a
corrente perde a competência. Curvas que
representam areias praiais da zona do
estirâncio apresentam o segmento dos finos
em suspensão compreendendo menos que 1%
do peso total (Figura 23). Já a parte central da
curva tende a apresentar dois segmentos de
reta, cada uma representando uma
subpopulação de partículas transportadas por
saltação. A declividade é semelhante para as
retas que representam areias praiais e fluviais Figura 23. Curva de freqüência acumulada em
escala probabilística de uma amostra típica de
que foram transportadas em suspensão, areia praial da zona do estirâncio. Os segmentos
embora o desvio padrão das areias praiais seja de reta representam subpopulações de sedimentos
menor. Por isto usa-se também a construção transportados de forma distinta. As quebras entre
os segmentos de reta demarcam os limites dos
dos diagramas dispersos para diferenciar as transportes por suspensão (A), por arrasto (C) e
amostras. por saltação entre o avanço e recuo da onda.

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Os diagramas de dispersão são construídos utilizando-se os parâmetros estatísticos. São
gráficos de dispersão onde se confrontam dois parâmetros estatísticos de cada vez, ou seja, plota-
se média contra desvio padrão, média contra assimetria, assimetria contra desvio padrão e assim

41
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

sucessivamente (Figura 24). Estes gráficos podem ser úteis na diferenciação de amostras retiradas
de ambientes ou subambientes distintos. Os diagramas dispersos tendem a agrupar as amoastras
que apresentam características
semelhantes e isolar amostras
diferentes. Amostras
agrupadas pelos diagramas
dispersos refletem que foram
depositadas por processos
sedimentares semelhantes e de
mesma intensidade, ou pelo
menos que a ação dos
processos sedimentares
(mesmo diferentes) resultaram
em características comuns.
Desta forma, deve-se procurar
as causas que geraram as
diferenças ou semelhanças
entre as amostras, tendo-se Figura 24. Exemplos de diagramas dispersos baseados nos
como ponto de partida os parâmetros estatísticos calculados para uma série de cinco
diagramas dispersos. amostras de areias praiais.

6
Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.

Press, F. and Siever, R., 1986. Earth (4th ed.). Freeman: New York, 656p.

Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.

Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.

Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.

42
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• O que é morfometria.
• Classificação dos sedimentos em função do arredondamento e esfericidade.
• Como interpretar os resultados de morfometria.

A morfometria descreve a forma geométrica das partículas, ou seja, é o estudo da


esfericidade e do arredondamento das partículas. A forma original dos grãos varia em função da
sua composição e origem, podendo ser aproximadamente esférica (como os grãos de quartzo) ou
apresentar arranjos muito complexos como os das carapaças de organismos planctônicos. A
forma das partículas pode ser radicalmente alterada durante o transporte através da abrasão de
seus cantos e arestas. Neste processo, um grão anguloso pode tornar-se arredondado de forma que
a morfometria pode fornecer informações qualitativas sobre a história pré-deposicional (processos
de transporte e deposição) de um depósito. Assim, ela é utilizada como uma ferramenta adicional
associada a outras análises sedimentológicas.
A esfericidade refere-se ao quanto uma partícula é semelhante a uma esfera perfeita e é
determinada pela proporção entre os comprimentos dos seus principais eixos, que são
perpendiculares entre si. O arredondamento é definido em função das irregularidades presentes na
superfície das partículas, ou seja, o grau de agudez de suas bordas. A esfericidade depende da
forma original dos minerais na rocha fonte e, em menor importância, de sua história subseqüente,
enquanto o arredondamento reflete principalmente o tipo de agente transportador, o rigor do
transporte e a distância percorrida pela partícula. O grau de arredondamento e a esfericidade são
propriedades físicas dos sedimentos independentes uma da outra, embora inicialmente seja muito
fácil confundí-las. A diferença entre arredondamento e esfericidade pode ser exemplificada
comparando-se objetos como um ovo e um cubo: o ovo é mais arredondado, mas menos esférico
que um cubo.
A estrutura interna e a forma original na rocha-fonte são fatores importantes na
determinação da forma das partículas. Por exemplo, rochas com xistosidade bem desenvolvida
tendem a produzir fragmentos tabulares ou alongados, enquanto rochas homogêneas tendem a
gerar grãos mais esféricos. Agentes geológicos auxiliados pela intensidade do transporte (tempo e
distância percorrida) podem alterar a forma original das partículas, tornando mais complexa a
interpretação dos dados de morfometria. Desta forma, são vários os fatores que influenciam a
morfometria das partículas:
(1) sua forma original na rocha-fonte,
(2) sua composição mineralógica,
(3) sua estrutura interna (planos de clivagem, fraturas, xistosidade, etc.)
(4) sua dureza,
(5) tamanho,
(6) a natureza dos agente geológicos e
(7) o tempo e distância de transporte.

43
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

De uma forma geral, a definição de esfericidade refere-se ao quanto uma partícula


aproxima-se da forma de uma esfera, ou seja, o quanto o comprimento dos três eixos
perpendiculares entre si estão próximos da eqüidimensionalidade. As esferas são utilizadas como
base para comparação por serem as formas que apresentam menor superfície para um
determinado volume, por isso possuem velocidade de decantação maior do que qualquer outra
forma de grão de igual volume e densidade. A comparação das partículas com esferas pode ser
feita em função da área superficial, volume ou proporção entre os comprimentos dos eixos
(diâmetros). A definição teórica da esfericidade ( ) é a proporção entre a área superficial da
partícula (Ap) e a área superficial de uma esfera de mesmo volume (Ae).

= Ap/Ae
Na prática, a área superficial de uma partícula irregular é impossível de se medir, assim
define-se a esfericidade em função do seu volume (Vp) em relação ao volume da menor esfera
que circunscreve tal partícula (Ve), medindo-se o volume através da sua imersão em um líquido.

3
= (Vp/Ve)

A forma de partículas de tamanho


suficiente para serem manuseadas facilmente
(maiores do que grânulos) pode ser determinada
pela relação entre os comprimentos dos seus três
eixos principais. A classificação de Zingg (1935)
para partículas tamanho seixo apresenta quatro
classes definidas em função da relação entre o
tamanho dos eixos (Figura 25). Considerando a
relação entre o eixo intermediário (B) e o maior
eixo (A) e a relação entre o menor (C) e o
intermediário (B), as classes são as seguintes:
I. discóide: B/A > 2/3 ; C/B < 2/3
II. esférico: B/A > 2/3 ; C/B > 2/3
III. laminar: B/A < 2/3 ; C/B < 2/3 Figura 25. Classificação da forma dos seixos
segundo Zingg (1935), mostrando formas
IV. alongado: B/A < 2/3 ; C/B > 2/3 diferentes de mesmo arredondamento.

Quando as partículas forem do tamanho areia, a relação pode ser feita comparando-se a
área superficial da partícula com a área superficial de uma esfera de igual volume (Wadell, 1932);
ou comparando-se o volume da partícula com o volume da menor esfera circunscrita a esta
partícula. Embora precisos, os métodos descritos acima são bastante trabalhosos e requerem
muito tempo para determinar a esfericidade de um grande número de partículas. Assim, foi criada
uma maneira mais rápida de determinar a forma das partículas por comparação visual. Este
método consiste na comparação dos grãos vistos através de lupa com o desenho bidimensional de

44
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

grãos arranjados em classes pré-determinadas de esfericidade, conforme mostra a figura 26. Esta
figura apresenta a tabela criada por Rittenhouse (1943) para determinar o grau de esfericidade das
partículas detríticas, cuja classificação é feita da seguinte forma:

Figura 26. Tabela para determinação do grau de esfericidade por comparação visual (Rittenhouse, 1943).

45
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

má esfericidade: até o valor de 0,65


média esfericidade: de 0,65 até 0,85
boa esfericidade: acima de 0,85

Os principais fatores que influenciam a esfericidade são: (1) direção das fraquezas, como
acamadamentos, fraturas, clivagens e (2) tamanho. Quanto maior o tamanho dos seixos (> 8 mm),
menor a esfericidade; enquanto que nas partículas de tamanho areia, a esfericidade aumenta com
o diâmetro. O motivo deste comportamento ainda não é bem compreendido.

O arredondamento ( ) de uma partícula refere-se ao grau de agudez de seus cantos, e foi


definido por Wadell (1932) como a média dos raios de curvatura dos cantos (ri), dividida pelo
raio do maior círculo inscrito na partícula (R).

= [( ri)/N]/R

Esta definição não pode ser


aplicada na forma real do grão
(tridimensional), então faz-se as medições a
partir da projeção de uma imagem
bidimensional da partícula conforme
representado na figura 27:

(a) = [(r1+r2+r3+r4+ r5+r6+r7+r8)/N]/R


(a) = [(0,5+1+6+3+3,1+1+2,2+1,4)/8]/8,6
(a) = 0,15
Figura 27. Exemplos do método de determinação do
(b) = [(r1+r2+r3+r4)/N]/R
grau de arredondamento de partículas arenosas
(b) = [(4,1+4,8+3,9+3,8)/4]/8,7 usando a definição de Wadell (1932).

(b) = 0,48
A classificação do arredondamento é feita em função do resultado desta relação, de forma
que quanto maior o valor resultante, maior o arredondamento da partícula. Assim, a partícula (b)
da figura 27 é mais arredondada que a partícula (a). Para simplificar esta operação foram
desenvolvidas tabelas comparativas como a apresentada na figura 28 (Krumbein, 1941). Pettijohn
(1957) estabeleceu 5 classes diferentes de arredondamento segundo os valores obtidos pela
fórmula de Wadell, conforme descrito abaixo:
(1) angular: apresenta grau de arredondamento de 0 a 0,15 (grupos 1 e 2); os cantos são
agudos e as reentrâncias bem definidas, o que evidencia pouco retrabalhamento.
(2) subangular: apresenta grau de arredondamento de 0,16 a 0,25 (grupos 3 e 4). Os grãos
apresentam as formas originais, com início de desgaste nos cantos. As reentrâncias
maiores ainda persistem, mas as menores são mais lisas e em menor número.

46
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

(3) subarredondado: grau de arredondamento entre 0,26 e 0,40 (grupos 5 e 6). O


retrabalhamento é considerável, os cantos são bem arredondados e a área das faces é
reduzida, mas com forma ainda bem definida. As reentrâncias são fracamente definidas.
(4) arredondado: grau de arredondamento entre 0,40 e 0,60 (grupos 7 e 8). As faces
originais são quase imperceptíveis, os cantos estão arredondados e não há reentrâncias.
(5) bem arredondado: grau de arredondamento entre 0,60 e 1,0 (grupo 9). As faces, arestas e cantos
estão ausentes e o contorno é uniformemente convexo.

Figura 28. Tabela para determinação do grau de arredondamento de partículas arenosas por
comparação visual (Krumbein, 1941).

47
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

O grau de arredondamento é fortemente influenciado pelo tamanho da partícula e pela


dureza do material do qual é composta. Quanto maiores as partículas, menor a distância
necessária para gerar um bom arredondamento. Sabe-se que grãos maiores são mais suscetíveis
ao arredondamento que grãos menores. Portanto, partículas que originalmente são pequenas,
modificam-se menos que partículas maiores sujeitas à mesma história pré-deposicional. Por
exemplo, partículas menores que 0,05 mm não sofrem mais retrabalhamento físico, apenas
alterações químicas. Assim, seixos bem arredondados geralmente indicam uma abrasão mecânica
prolongada durante o transporte, embora partículas de grande tamanho não necessitem de grandes
distâncias para serem arredondadas (Figura 29). Já partículas de tamanho areia fina e silte tendem
a permanecer angulosas.
Como o tamanho das partículas é maior próximo da rocha-fonte, observa-se que o
arredondamento aumenta com a distância de transporte, mais rapidamente nas proximidades da
rocha-fonte e mais lentamente com o aumento da distância. Assim, fica limitado o uso do grau de
arredondamento para estudos de paleocorrentes, já que as alterações nesta propriedade física são
pouco perceptíveis conforme
aumenta a distância percorrida. De
qualquer modo, comparações entre
areias de dunas e areias da face
praial mostram que as partículas de
dunas são mais arredondadas que
as de outros subambientes praiais.
Acredita-se que este melhor
arredondamento seja decorrente da
ação seletiva do vento, que tenderia
a transportar as partículas mais Figura 29. Relação entre arredondamento, esfericidade e
tamanho de grão com a distância de transporte.
arredondadas para as dunas.

A utilização da morfometria na diferenciação de ambientes deposicionais ou modos de


transporte iniciou ainda no século passado, com os trabalhos de Daubrée (1879). Por exemplo,
vários estudos demonstram que seixos praiais são mais achatados que seixos fluviais, devido à
ação do avanço e recuo das ondas. Outro estudo considera também que os seixos marinhos
possuem um perfil triangular, quando observados com o eixo menor orientado verticalmente,
enquanto os seixos fluviais tendem a ser alongados ou em forma de bastão (Lenk-Chevitch,
1959). Vários estudos foram realizados comparando o arredondamento de partículas de diferentes
ambientes ou de diferentes depósitos formados em um mesmo ambiente. Em geral, relacionar a
forma das partículas aos ambientes sedimentares é bastante difícil já que as partículas
originalmente apresentam propriedades e forma diferentes.
A deposição seletiva dos agentes transportadores também pode gerar alterações nos
índices de arredondamento e esfericidade encontrados em depósitos adjacentes. Estudos de
Briggs et al. (1962) mostram que a forma das partículas é tão importante quanto a sua densidade

48
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

específica na determinação da velocidade de decantação. Por exemplo, um estudo mostrou que


havia uma diminuição do grau de arredondamento nas areias do rio Mississipi em direção à
jusante nas proximidades do delta (Russell & Taylor, 1937). Provavelmente porque as partículas
menos esféricas apresentam menor velocidade de decantação, portanto são transportadas por
maiores distâncias. Geralmente há uma correlação positiva entre o arredondamento e a
esfericidade (figura 29), de forma que a redução no arredondamento nas areias do Mississipi pode
resultar da deposição de partículas menos esféricas. A influência da ação seletiva em depósitos
praiais e fluviais pode ser mais importante do que a própria abrasão na determinação das
alterações dos graus de arredondamento e esfericidade. Assim, a relação entre arredondamento,
esfericidade e tamanho de grão não é válida para partículas recém formadas (imaturas), pois
independente do tamanho todas terão o mesmo arredondamento e esfericidade. Já partículas que
sofreram alguma abrasão mecânica apresentam uma clara correlação entre tamanho e
arredondamento, embora a relação com a esfericidade não seja tão evidente.
O grau de arredondamento é considerado um bom índice da maturidade do sedimento, pois
somente partículas retrabalhadas ao longo de vários ciclos sedimentares apresentam-se bem
arredondadas ou moderadamente bem arredondadas. Já a esfericidade reflete as condições
ambientais no momento da deposição sendo afetada menos intensamente pela abrasão. Algumas
formas de partículas são características de determinados ambientes e bons indicadores dos
processos sedimentares. Os seixos glaciais que apresentam uma face aplainada e estriada e os
ventifactos que são formados pela ação do vento em ambiente desértico são exemplos típicos de
bons indicadores ambientais.
Além dos fatores abordados acima, outra complicação na interpretação dos dados de
morfometria devem-se ao caráter policíclico de minerais estáveis como o quartzo. Como estes
minerais são muito resistentes, eles podem herdar e aumentar seu arredondamento e esfericidade
ao longo de vários ciclos sedimentares (Suguio et al., 1974). Dados sobre a influência da
dissolução química como agente de arredondamento são escassos, mas acredita-se que o alto grau
de arredondamento das areias eólicas deve-se à combinação da abrasão mecânica e da
precipitação de sílica na superfície do grão. Por estes e outros fatores complicantes, a forma e o
arredondamento das areias não têm sido muito utilizados como indicadores-chave na
identificação dos ambientes deposicionais, mas auxiliam na caracterização e diferenciação de
depósitos sedimentares.

Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.

Pettijohn, F.J., 1957. Sedimentary Rocks (2nd ed.). Harper & Row: New York, 718 p.

Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.

Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.

Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.

49
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• O que é textura superficial das partículas sedimentares.
• Tipos de texturas e como foram formadas.

A textura superficial refere-se a qualquer feição presente na superfície do grão. Por


exemplo, A abrasão gerada pelo transporte pode gerar uma textura superficial polida, fosca ou
corroída sobre os grãos ou, ainda, feições macroscópicas como estrias e marcas de percussão.
Essas texturas podem ser reconhecidas a olho nu em seixos ou observadas através de microscopia
ótica ou eletrônica nas areias. Estas características têm significado genético, podendo identificar o
agente transportador. Assim grãos foscos são atribuídos à ação eólica, superfícies estriadas ao
transporte em geleiras e o aspecto brilhante, conhecido como "verniz do deserto", é gerado por
uma camada de óxidos de ferro e manganês formada pela ação do orvalho acumulado durante a
noite em ambientes desérticos. Embora algumas destas generalizações tenham se tornado aceitas,
ainda há controvérsias quanto ao seu significado. Alguns pesquisadores, por exemplo, não
acreditam que o vento possa tornar a superfície dos grãos fosca pois esta característica não é
observada nas areias de dunas costeiras. Eles atribuem o fosqueamento dos grãos a processos
químicos. A ausência da superfície fosca em areias de dunas costeiras pode ser explicada pelo
curto tempo em que estas partículas estão submetidas à ação eólica.
Normalmente, a superfície fosca resulta da presença de depressões e fraturas em forma de
"V" (microcrateras) na superfície do grão. Estas depressões formam-se pelo impacto do choque
entre as partículas que estão sendo transportadas em meio eólico. Quanto maior a energia do
meio, maior a concentração destas feições sobre o grão. A superfície das areias de dunas
apresentam inúmeras feições bem marcadas que dão uma aspecto fosco ao grão. Este aspecto
contrasta com a superfície polida das areias de rios e praias. Além do agente transportador,
algumas alterações químicas do meio ou durante a litificação também podem determinar vários
tipos de texturas. Partículas que percorreram mais de um ciclo de litificação, ou que foram
transportadas por vários agentes, podem apresentar um complexo padrão de textura que dificulta
as avaliações. Portanto, esta propriedade física é bastante complexa, já que inúmeros processos
podem gerar feições de características semelhantes. Por exemplo, a superfície fosca dos grãos
pode ter origem eólica (abrasão mecânica), físico-química (dissolução) ou crescimento
secundário. Desta forma, a textura superficial dos grãos fornece apenas dados qualitativos e deve
ser utilizada apenas como uma ferramenta adicional na análise ambiental.

Krumbein e Pettijohn (1938) descreveram a textura superficial dos grãos dividindo-os em


dois grupos, tendo como limite o tamanho de 2 mm:
I. Partículas maiores que 2 mm- as características superficiais podem ser observadas a olho
nu e são classificadas conforme o grau de brilho (características da reflexão da luz) e a

50
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

presença ou ausência de marcas. Podem ter superfície fosca ou polida, lisas ou com marcas.
Muita difusão ou dispersão de luz resulta em superfície fosca, já superfícies brilhantes
(polidas) sugerem regularidade na reflexão da luz. Desta forma, cores claras geralmente
indicam bom polimento. Superfícies lisas são aquelas que não apresentam marcas, que são
pequenas irregularidades descritas em função de sua forma, como estrias, sulcos,
acanelamentos ou microcrateras.
(a) fosca lisa
(b) polida lisa
(c) fosca com marcas superficiais
1.sulcos 2.estrias 3.acanelamento 4.microcrateras
(d) polida com marcas superficiais
1.sulcos 2.estrias 3.acanelamento 4.microcrateras

II. Partículas menores que 2 mm- estes grãos podem ter superfície fosca ou polida e lisa ou
rugosa. A diferença entre superfície fosca e polida, é que a última apresenta brilho. Uma
partícula é considerada lisa, quando sua superfície não apresenta relevo, quando observada
ao microscópio. Uma superfície rugosa apresenta irregularidades, chamadas de estrias
quando forem lineares, de corroídas quando resultarem de processos químicos, facetada
quando houver crescimento secundário sobre o material original, fosqueada quando as
irregularidades forem muito pequenas e esburacadas quando as irregularidades forem
maiores.
(a) fosca lisa
(b) polida lisa
(c) fosca rugosa
1.estriada (ação glacial)
2.facetada (crescimento secundário)
3.fosqueada (pequenos sulcos)
4.corroída (dissolução)
5.esburacada (sulcos maiores)
(d) polida rugosa
1.estriada
2.facetada
3.fosqueada
4.corroída
5.esburacada

O grande problema na interpretação geológica da textura superficial está na quantificação


dessas características, principalmente porque uma mesma feição pode ser obtida por diversos
processos. Contribuindo para a complexidade da interpretação dessa propriedade está a falta de
conhecimento. Estudos sobre a textura superficial das partículas sedimentares têm produzido
poucos e incompletos dados e mesmo as classificações existentes não são ideais. Algumas

51
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

tentativas têm sido realizadas para a quantificação de dados relativos às estriações (ângulos,
espaçamentos e profundidade) e a microscopia eletrônica têm sido utilizada para quantificar o
polimento dos grãos (número, densidade e forma das irregularidades). Além disso, as
controvérsias sobre a relação entre a textura superficial e o agente causador também dificultam o
uso desta propriedade física na identificação genética do depósito.

PARA APROFUNDAR A LEITURA:


Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.

Pettijohn, F.J., 1957. Sedimentary Rocks (2nd ed.). Harper & Row: New York, 718 p.

Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.

Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.

Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.

52
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• Como o as características das partículas sedimentares e o tipo de transporte
determinam a organização da partículas dentro de um depósito sedimentar.
• Associar determinadas características da petrofábrica ao ambiente deposicional

A fábrica de um depósito refere-se ao arranjo das partículas quanto à sua forma e


tamanho, composição mineral, empacotamento e seleção. A fábrica é formada no momento da
deposição, podendo ser completamente aleatória ou apresentar algum tipo de orientação
preferencial. As principais informações obtidas do estudo da fábrica de um depósito referem-se à
direção da paleocorrente e ao meio de transporte dos grãos. As partículas podem apresentar
orientação horizontal definida pelo ângulo entre o eixo maior da partícula e o Norte ou, também,
podem ter orientação vertical, determinada pelo ângulo entre o mergulho do seu eixo maior e o
plano horizontal. A orientação das partículas é controlada pela natureza do meio de transporte,
tipo de fluxo, direção e velocidade da corrente e forma do grão. Portanto, partículas esféricas não
podem apresentar orientação pois possuem todos os eixos de mesmo tamanho. O ângulo de
mergulho dos grãos, em relação ao plano horizontal, é chamado de imbricação. Normalmente, a
imbricação é pequena, com ângulos entre 10° e 30°, em direção contra-corrente de fluxos
unidirecionais. Esta inclinação reflete a posição mais estável dos grãos sujeitos à um fluxo aquoso
sobre uma superfície horizontal. Assim, a imbricação é um forte índice de paleocorrente.
Os seixos podem depositar-se paralelos ou perpendiculares à direção da corrente. A
orientação perpendicular ao fluxo resulta do rolamento de grãos sobre a superfície e caracteriza a
maioria dos depósitos fluviais. A orientação paralela, geralmente é interpretada como evidência
de um rápido transporte, capaz de manter uma grande quantidade de material disperso sobre o
leito. Isto ocorre em conglomerados associados aos depósitos turbidíticos ou aluviais. A maioria
dos depósitos conglomeráticos não apresenta qualquer tipo de orientação, pois está associada à
deposição muito rápida. Adicionalmente, a pendente também pode determinar a orientação das
partículas. Em pendentes acentuadas, os seixos tendem a uma orientação paralela, enquanto em
declives mais suaves eles apresentam-se perpendiculares à direção da corrente. Também pode-se
encontrar grãos orientados paralelamente à direção de máxima permeabilidade do depósito. Em
depósitos fluviais esta direção coincide com o eixo do corpo arenoso ou canal e em ambientes
marinhos a direção é perpendicular ao corpo arenoso ou linha de praia, ou seja, à direção de fluxo
e refluxo das ondas.
A orientação de fósseis é muito útil para a determinação de paleocorrente e dos processos
físicos atuantes durante a deposição, mas a fábrica dos depósitos é dificilmente identificada.
Principalmente porque os fósseis apresentam formas irregulares e sua orientação pode estar
refletindo a posição de vida do organismo. Aceita-se que as conchas de bivalves sujeitas ao
transporte por tração depositam-se com seu lado côncavo para baixo, que é a posição estável
hidrodinamicamente. As conchas carregadas em suspensão são depositadas com o lado côncavo
para cima, como nos depósitos de turbidez. A bioturbação pode alterar grandemente a fábrica das
conchas de bivalves, aumentando o número de conchas inclinadas e verticais. Quando são

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

encontradas as duas valvas articuladas, a posição vertical pode refletir a posição de vida do
molusco. Conchas cônicas normalmente são alinhadas pela ação da corrente uni ou bidirecional,
com a maioria das conchas dispostas paralelamente e apontando para uma mesma direção. A falta
de orientação pode refletir a ausência de correntes ou fatores que inibem o livre movimento das
conchas sobre o fundo.
Acredita-se que o ângulo de mergulho das partículas é um bom indicador do ambiente
deposicional. Assim, a imbricação de seixos em ambientes fluviais pode variar entre 15° e 30°,
sendo que o maior eixo da partícula apresenta-se paralelamente ao fluxo quando o declive for
acentuado (maior velocidade da corrente) e perpendicular quando o declive for suave. Em
depósitos glaciais e flúvio-glaciais os ângulos de imbricação são de 20° a 25°, podendo atingir
40° em alguns casos, e os seixos apresentam-se paralelos à direção do fluxo. Em praias, o ângulo
de imbricação é bastante suave, com valores inferiores a 15° e os seixos dispostos
perpendicularmente à direção predominante do fluxo.
O empacotamento ou densidade
espacial de um depósito sedimentar é
determinado pelo arranjo das partículas, ou
seja, conforme o número de partículas
presentes em uma unidade de volume. Assim,
vários modos de empacotamento podem
existir, sendo os mais comuns o cúbico e o
romboédrico (Figura 30), com porosidade de
48% e 26%, respectivamente. Estes valores
representam o mínimo e o máximo para
esferas perfeitas, portanto depósitos naturais
não cimentados apresentam valores
intermediários de porosidade. Vários fatores Figure 30. Diferença de porosidade nos depósitos
determinam a geometria do empacotamento, em função do empacotamento das partículas.
sendo a forma do grão e a velocidade de
deposição os principais.

PARA APROFUNDAR A LEITURA:


Leeder, M.R., 1982. Sedimentology: Process and Product. Harper Collins: London, 344p.

Pettijohn, F.J., 1957. Sedimentary Rocks (2nd ed.). Harper & Row: New York, 718 p.

Selley, R., 1982. An Introduction to Sedimentology (2nd ed.). Academic Press: London, 417p.

Suguio, K., 1973. Introdução à Sedimentologia. Editora da USP: São Paulo, 317p.

Suguio, K., 1982. Rochas Sedimentares. Editora da USP: São Paulo, 500p.

54
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A petrofísica é o estudo das propriedades físicas dos poros existentes no interior de uma
rocha, geralmente descritas através de sua porosidade e permeabilidade. A sua importância está
em determinar a capacidade de armazenamento de fluidos que uma rocha ou depósito pode ter. A
capacidade de reter óleo, gás, água ou a precipitação de muitos minerais determina a importância
econômica de certos depósitos (e.g. extração de recursos minerais), além de contribuir para o
estudo dos processos diagenéticos.
Uma rocha sedimentar é composta por grãos, matriz, cimento e poros. Os grãos são as
partículas detríticas que formam a estrutura da rocha. A matriz é formada pelos detritos mais
finos presentes no interior da estrutura. O cimento é o mineral de crescimento pós- deposicional
que ocorre no interior dos espaços vazios do sedimento. Os poros são os espaços vazios (não
ocupados por grãos, matriz ou cimento), normalmente preenchidos por gases, como N2, CO2 e
hidrocarbonetos, ou líquidos, variando da água potável ao óleo.

A porosidade é definida como a proporção dos espaços vazios presentes numa rocha em
relação ao seu volume total e é quantificada através da porcentagem do volume de poros em
relação ao volume total da amostra, ou seja:

Porosidade = Volume total de poros X 100


Volume da amostra de rocha

A maioria das rochas apresenta porosidade total entre 5-25% ou 25-35%, estas
consideradas como excelentes reservatórios de água ou óleo. Pode-se, também, determinar a
porosidade efetiva de uma rocha, que é a quantidade de poros interconectados que permitem o
escoamento do fluido neles presente. Então, a porosidade economicamente importante é a efetiva,
que dá à rocha a propriedade da permeabilidade. Pode-se medir a porosidade de um sedimento
inconsolidado através do volume de água necessário para saturar uma amostra. O procedimento é
o seguinte:
(a) Coloca-se uma amostra seca de volume conhecido em um container transparente.
(b) Adiciona-se água gradativamente até haver a completa saturação da amostra.
(c) O volume de água necessário para saturar a amostra é igual ao volume de poros, a partir do
qual calcula-se a porosidade.
(d) Para medir porosidade efetiva, faz-se a extração à vácuo dos fluidos presentes nos poros
da amostra.
A porosidade pode ser primária quando adquirida no momento da deposição, ou
secundária, quando modificada por processos pós-deposicionais. Segundo Beard e Weyl (1973), a
porosidade primária é influenciada por cinco variáveis: tamanho do grão, seleção, esfericidade,
arredondamento e empacotamento, da seguinte forma:

55
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Tamanho dos grãos: teoricamente, a porosidade é independente do tamanho do grão, já que


um conjunto de esferas de tamanho e empacotamento uniformes apresentará sempre a
mesma porosidade, independente do tamanho das esferas. Na prática, a porosidade aumenta
quanto menor for o tamanho do grão para areias não consolidadas devido ao comportamento
diferencial das partículas no momento da deposição, principalmente quanto ao
empacotamento e orientação. Segundo Pettijohn (1957), a média da porosidade comporta-se
da seguinte maneira em função dos tamanhos de grão: areia grossa= 39 a 41%, areia média=
41 a 48%, areia fina= 44 a 49% e silte = 50 a 54%. A relação inversa é dada para as areias
consolidadas, porque os sedimentos mais finos sofrem maior ação da diagênese.
Grau de seleção do depósito: quanto maior seleção, maior será a porosidade. Depósitos bem
selecionados apresentam poucas partículas de menor tamanho que podem preencher os poros
entre os grãos maiores.
Forma dos grãos: menor será a porosidade, quanto mais arredondados e esféricos forem os
grãos, pois grãos mais arredondados colocam-se em empacotamento mais fechado,
diminuindo os espaços intergranulares. As partículas mais achatadas são as que fornecem
maior porosidade, pois no momento da deposição podem apresentar distribuição caótica,
como os argilo-minerais.
Empacotamento: quanto mais irregular a forma das partículas, mais desordenadas elas
poderão estar no momento da deposição, gerando alta porosidade. Os argilo-minerais
apresentam forma laminar e muita desorientação dos grãos no momento da deposição. É
devido à sua forma e empacotamento que depósitos argilosos apresentam a maior porosidade
dos depósitos sedimentares, chegando a 85%. Algum tempo após a deposição, as partículas
acomodam-se nos espaços existentes diminuindo a porosidade. Apesar da petrofábrica
exercer grande controle sobre a porosidade, pouco se sabe realmente de seus efeitos sobre
depósitos reais, já que as medidas mínimas e máximas de porosidade são muito difíceis de
serem encontradas.

Os fatores que afetam a porosidade secundária são:


Compactação: a compactação ocorre devido ao peso das partículas sobrejacentes, que gera
pressão e aproxima as partículas, conseqüentemente, diminuindo a porosidade. Depois de
compactado, um arenito pode diminuir em 50% o volume de poros.
Cimentação: a precipitação do cimento nos poros dos depósitos diminui a porosidade.
Recristalização: consiste no crescimento pós-deposicional de minerais existentes através da
precipitação química sobre a superfície do grão.
Dissolução: é o único processo pós-deposicional que aumenta a porosidade pois dissolve
elementos sólidos, podendo ser cimento e/ou grãos formando novos poros.
Reprecipitação. diminui a porosidade primária pela precipitação de novos minerais nos poros
existentes.

56
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A permeabilidade é a capacidade de um gás ou líquido fluir através de um sólido poroso.


Ela depende de uma série de variáveis, incluindo: a geometria dos poros, sinuosidade e tamanho
das comunicações entre eles, força capilar entre a rocha e o fluido, viscosidade do fluido e
gradiente de pressão.
Normalmente determina-se a permeabilidade através da Lei de Darcy, dada pela equação:

Q = K.A.(p1-p2) , sendo Q = velocidade de fluxo em cm3/s


.L p1-p2 = gradiente de pressão
A = área da seção transversal
= viscosidade do fluido
L = comprimento da amostra
K = permeabilidade (em darcys)

Um darcy corresponde a um fluxo de 1 cm/s de um fluido de viscosidade unitária, em um


gradiente de pressão de 1 atm/cm. Normalmente as rochas têm permeabilidade menor que um
darcy, assim é comum o uso do milidarcy; 10 a 100 milidarcys são considerados índices bons à
excepcionalmente altos. Para medir a permeabilidade, bombeia-se um gás através de uma amostra
cuidadosamente seca e preparada, da qual se conhece o comprimento e a área transversal, além da
pressão aplicada e a proporção de fluxo durante o período de teste. Depois de obter a viscosidade
do gás através de tabelas, calcula-se a permeabilidade pela Lei de Darcy.
As variáveis que influenciam a porosidade também agem sobre a permeabilidade, mas
nem sempre da mesma forma:
Tamanho dos grãos: a permeabilidade aumenta com o aumento no tamanho do grão tanto
para depósitos consolidados ou inconsolidados, pois a força capilar dos sedimentos finos
pode inibir o fluxo dos fluidos intersticiais.
Grau de seleção do depósito: assim como para a porosidade, quanto maior o grau de seleção,
maior será a permeabilidade. Depósitos mal selecionados apresentam matriz mais fina, que
ocupa os poros e impede a passagem dos fluidos.
Forma dos grãos: influencia indiretamente a permeabilidade através da petrofábrica, já que a
presença de orientação dos grãos pode determinar direções de maior permeabilidade.
Orientação dos grãos: o eixo paralelo à direção do alinhamento dos grãos coincide com a
direção de maior permeabilidade. Assim, na maioria das vezes, a direção de maior
permeabilidade coincide com a direção da paleocorrente. Desta foram, a permeabilidade de
uma mesma rocha pode variar grandemente conforme a direção em que se faz a medição.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A cor é uma das propriedades mais notórias e, talvez, a mais negligenciada no estudo dos
sedimentos. A cor do sedimento é muito utilizada na correlação estratigráfica, já que há uma
concordância de que seqüências espessas de cores entre cinza e preto são de origem marinha ou
lacustre e sedimentos vermelhos são subaéreos.
Para a descrição precisa das cores é necessário seguir um guia padrão de cores.
Atualmente utiliza-se o Rock Color Chart (Goddard et al., 1948), que apresenta 115 cores,
utilizando-se de três parâmetros: comprimento de onda, luminosidade e saturação. Cada cor
possui um código, do tipo 10 R 5/2. O primeiro elemento (10 R) define o comprimento de onda
da luz (por exemplo, vermelho). O segundo termo (5/) corresponde à luminosidade, ou seja, a
quantidade de preto em relação ao branco. E o terceiro número (2) refere-se à saturação, baseada
na quantidade relativa da cor pura em relação ao cinza. Para diminuir o erro de determinação,
deve-se aproximar a amostra o mais próximo possível do guia. Quando ocorrer mais de uma cor,
por exemplo da superfície fresca e da superfície alterada, determina-se ambas.
As cores dependem dos minerais formadores da rocha fonte, do tamanho do grão, da
quantidade e estado de oxidação do ferro e da quantidade e tipo de matéria orgânica. Os minerais
ricos em ferro e a matéria orgânica são os principais agentes de coloração nas rochas
sedimentares. Sendo que a matéria orgânica não age apenas como pigmento, mas também como
agente redutor, afetando o estado de oxidação dos elementos. Assim, a cor branca representa a
ausência total de pigmentos e ocorre, principalmente, em depósitos salinos e em areias totalmente
quartzosas. As cores cinza e preta relacionam-se à presença de matéria orgânica e, em casos mais
restritos à presença de óxidos de manganês, sendo que a tonalidade apresentada varia com a
concentração da matéria orgânica. As cores avermelhadas ou castanhas decorrem da presença de
hidróxidos de ferro, ricos em ferro férrico, enquanto alguns sedimentos podem apresentar cores
esverdeadas devido à presença de ferro ferroso. Normalmente, concentrações muito baixas (por
volta de 1%) de um pigmento, já são suficientes para determinar a coloração do depósito.
A cor dos arenitos também pode ser determinada pela composição mineralógica do
depósito. Os quartzo-arenitos variam de cinza claro a branco; arenitos arcosianos ricos em
feldspatos-K normalmente são róseos; lito-arenitos são cinzas escuros e as areias glauconíticas
são verdes. Normalmente a diminuição da granulometria é acompanhada pelo aumento de cores
escuras, seja pelo aumento da superfície do grão ou pelo aumento na concentração de ferro. O
escurecimento é uma função do fluxo de matéria orgânica durante a deposição, a taxa de
sedimentação e a taxa de oxidação da matéria orgânica. Pode-se encontrar seqüências intercaladas
de lama cinza claro e cinza escuro, sendo que as partes mais claras devem-se à oxigenação
causada por bioturbação.

58
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• Os princípios físicos do transporte.
• Os tipos de transporte.

O transporte e a deposição dos sedimentos são governados pelas leis da física. Conhecendo-
se os princípios físicos do transporte pode-se explicar as propriedades físicas dos depósitos. A
sedimentação é a deposição de material sólido em meio fluido, portanto o transporte sedimentar
pode ser compreendido através da dinâmica dos fluidos. Os agentes transportadores mais comuns
resultam da ação da água, vento e gravidade, de forma que o principal problema encontrado na
identificação das condições existentes no momento da deposição refere-se à semelhança no
comportamento de uma partícula sólida em meio líquido ou gasoso.
Primeiro, é necessária a compreensão de alguns pontos:
A densidade dos fluidos é definida como a quantidade de massa por unidade de volume.
Assim, os gases são menos densos que os líquidos por apresentarem menor número de
moléculas por volume.
A viscosidade pode ser definida como a resistência à deformação do fluido. Como os gases
apresentam menos moléculas, elas estão mais distanciadas uma das outras, favorecendo o
livre movimento, conseqüentemente, apresentam menor viscosidade. Os líquidos são mais
viscosos, pois as moléculas estão tão próximas que possuem uma força de coesão que
impede o livre movimento.
As duas propriedades acima variam com a temperatura, quanto mais quente, maior agitação
molecular, portanto menor viscosidade e densidade.
O ponto de partida para a análise do transporte e deposição de sedimentos é a “ Lei de
Stokes” , já utilizada para determinar o tamanho do grão através da velocidade de decantação das
partículas. Introduzindo uma partícula esférica num líquido estático de maior densidade, a esfera
começa um movimento acelerado através de um fluido até atingir uma velocidade constante.
Considerando as forças de resistência nos fluidos, pode-se chegar a uma relação teórica que
expressa a velocidade constante de decantação:

v = (d - df) g D2 D = diâmetro do grão


18 d = densidade do grão
df = densidade do fluido
g = gravidade
= viscosidade do fluido
Esta lei determina que a velocidade de deposição de uma partícula é diretamente
proporcional ao diâmetro da partícula e à diferença entre a sua densidade e a do fluido; e é
inversamente proporcional à viscosidade do fluido. Na realidade, a velocidade de deposição
também depende da forma da partícula e da concentração dos grãos, já que a taxa de
sedimentação pode ser afetada pela colisão entre as partículas. Assim, surgiu o conceito de

59
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

equivalência hidráulica, levando em consideração todos os fatores que determinam a velocidade


de queda das partículas. A equivalência hidráulica consiste em relacionar partículas que
apresentam mesma velocidade de deposição quando sujeitas às mesmas condições ambientais.
Pode-se exemplificar pela formação de depósitos de areias praiais terrígenas. Geralmente estes
depósitos são compostos por partículas de:
quartzo, com densidade 2,65 g/cm3 e forma oval,
feldspatos, com densidade entre 2,55 e 2,76 g/cm3 e forma oval,
micas, com densidade entre 2,83 g/cm3 (moscovita) e 3,12 g/cm3 (biotita) e forma laminar e
minerais pesados, com densidade maior que 2,90 g/cm3 e diversas formas.
Através de variáveis como tamanho, forma e densidade, pode-se entender porque os
depósitos apresentam pequenas partículas de minerais pesados associadas a grãos de quartzo de
maior tamanho. Pela diferença de densidade entre os minerais pesados e os outros grãos, eles
encontram-se sempre associados com grãos de 0,5 a 1 ø menores. Por exemplo, se o tamanho
médio da amostra for 2,5 ø, a turmalina deve apresentar tamanho 2,9 ø e o zircão 3,5 ø.
A Lei de Stokes trata do comportamento das partículas num fluido estático, ou seja, descreve
o movimento vertical descendente (decantação). Para determinar o comportamento das partículas
em um fluido em movimento, usa-se a “ Equação de Reynolds” :

R = vDd R = número de Reynolds


v = velocidade da partícula
D = diâmetro da partícula
d = densidade da partícula
= viscosidade do fluido

O número de Reynolds (R) pode ser usado para diferenciar o comportamento de um fluido
em um limite sólido (um tubo ou as paredes de um canal), quando for interpretado como a relação
entre a força viscosa e a força inercial do fluxo. Quando a força viscosa predomina (resistência à
deformação do fluido), o R é pequeno e o fluxo é laminar; quando a força inercial predomina
(resistência da massa à aceleração), R é maior e o fluxo é turbulento. A velocidade crítica que
determina o limite entre os fluxos, varia conforme a viscosidade do fluido e o diâmetro do tubo,
de forma que R pode variar entre 500 e 2000:
R < valor limite, o fluxo é laminar, ou
seja, as linhas de fluxo correm paralelas
às superfícies limitantes (Figura 31),
não são muito frequentes, podendo ser
encontrados nas geleiras, nas lavas e
nos fluxos de lama e
R > valor limite, o fluxo é turbulento,
gerando vórtices e turbilhões de forma Figura 31. O fluxo laminar (R < 500 ou 2000) tem
que a velocidade varia nas três linhas de fluxo paralelas. O fluxo turbulento (R >
500 ou 2000) tem velocidade variável em todas as
dimensões (Figura 31). direções.

60
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Outro coeficiente importante na dinâmica dos fluidos é o “ Número de Froude” , que pode ser
aplicado sempre que fluidos laminares ou turbulentos apresentarem uma superfície livre onde a
gravidade for importante na determinação do fluxo. E pode ser definido como a relação entre a
força de inércia e a aceleração devido à gravidade.

F= _v v = velocidade da partícula
√gL L = força de inércia ou distância viajada pela partícula
g = aceleração da gravidade

Para fluxos em canais abertos a equação fica assim:

F = _ U_ U = velocidade média da corrente


√gD g = aceleração da gravidade
D = profundidade do canal

Quando F for igual a 1, é chamado de F crítico pois é o valor que separa dois regimes de
fluxo, cada um gerando formas de leito e estruturas sedimentares diferentes. Assim:
F = 1 , valor crítico
F < 1, regime de fluxo inferior
F > 1, regime de fluxo superior
Para iniciar o movimento de uma partícula, deve-se ultrapassar a velocidade crítica capaz de
retirá-la da inércia. E esta velocidade crítica do fluido é uma função das variáveis presentes no
número de Reynolds e de Froude. A determinação da velocidade crítica é de grande importância,
por exemplo, para determinar as modificações na sedimentação após a ca nalização de um rio, ou
para determinar a quantidade de material a ser lixiviado nos canais de irrigação. Normalmente, a
velocidade crítica requerida aumenta com o
tamanho da partícula, com exceção para fundos
coesivos (grãos menores que 0,1 mm), que pela
sua resistência à fricção necessitam maiores
velocidades para iniciarem o movimento do
que silte e areia fina. Este comportamento
anômalo chama-se Efeito Hjulström. Hjulström
(1935) montou um gráfico da velocidade do
fluxo contra o tamanho do grão, para
demonstrar o comportamento dos sedimentos
(deposição ou transporte) em função da
velocidade do fluxo (Figura 32). Neste gráfico,
observa-se que aumenta a velocidade crítica
para colocar partículas menores que 2 ø em
movimento. Isto deve-se à força de coesão dos
sedimentos finos. Desta forma, as primeiras Figura 32. O Diagrama de Hjulström mostra a
partículas a sofrerem transporte são as areias relação da velocidade crítica necessária para
colocar uma partícula em movimento e a
finas.
velocidade abaixo da qual ela se deposita.

61
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

As forças que agem sobre as partículas a favor do movimento são: força de dragagem,
gerada pelo gradiente de velocidade do fluxo sobre o leito e a força de sucção, gerada por um
alívio de pressão sobre o grão devido ao aumento de velocidade causado pela convergência das
linhas de fluxo. Estas duas forças são muito semelhantes, mas a primeira aumenta gradativamente
após o movimento e a segunda desaparece após iniciado o movimento. Assim, um grão sai do
repouso quando a combinação das forças de dragagem e sucção geradas pelo fluxo excedem as
forças gravitacionais e coesivas dos sedimentos. O início do movimento é determinado
principalmente pela velocidade do fluxo e pelo tamanho do grão, sendo que a forma do grão, o
empacotamento do sedimento, a viscosidade do fluido e a tensão de cisalhamento do fluxo sobre
as partículas também influenciam a velocidade crítica. Uma vez iniciado o movimento, os grãos
assim continuam mesmo que a velocidade do
fluxo caia abaixo da velocidade crítica. Para
cada grão existe, então, uma velocidade crítica e
uma velocidade de deposição, que segundo
Sundborg (1967) é 2/3 da velocidade crítica.
A curva de Shields (1966) é grandemente
utilizada para determinar a competência de um
fluxo ou a velocidade crítica para grãos de
determinado tamanho (Figura 33). Ele utilizou a
tensão de cisalhamento do fluido sobre o
substrato, o peso específico do grão e do fluido
Figura 33. Curva de Shields, mostrando a
e o tamanho da partícula. Mesmo assim, em relação entre a tensão de cisalhamento e o
ambientes naturais pode-se encontrar número de Reynolds para determinar a
discrepâncias desta curva, causadas por competência de um fluxo em transportar
partículas de determinado tamanho.
diferentes níveis de empacotamento.

Uma vez ultrapassada a velocidade crítica do movimento, os grãos são transportados a favor
do fluxo. O modo de transporte depende do tamanho do grão e da energia do fluxo, podendo ser
de três tipos (Figura 34):
carga de tração - os grãos estão em
contato constante com o fundo,
movendo-se por arrasto ou rolamento.
Isto ocorre se a velocidade de deposição
é maior que a velocidade do fluxo,
carga de saltação - as partículas estão Figura 34. As partículas podem ser transportadas por
em contato intermitente com o fundo e carga de tração, quando sempre em contato com o fundo,
ocorre quando a velocidade de deposição por saltação, quando em contato intermitente com o fundo,
ou por saltação, quando não entram em contato com o
das partículas é semelhante à do fluxo, e substrato.

62
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

carga em suspensão - os grãos não entram em contato com o fundo. Isto ocorre quando a
velocidade de deposição das partículas é menor que a do fluxo.
Para ilustrar os tipos de transporte que uma partícula pode sofrer, pode-se imaginar um canal
fluvial com fluxo de determinada velocidade. Sujeitos a esta velocidade, os cascalhos podem ser
rolados sobre o fundo, constituindo a carga de tração, as areias sofrem “ saltação” e as argilas e
siltes permanecem em suspensão. Os processos sedimentares relacionados com a gravidade não
são bem conhecidos, embora sejam muito observados. Ocorrem quando as partículas adquirem
movimento sobre uma superfície inclinada decorrente da aceleração da gravidade. Dependendo
da energia adquirida no início do movimento e da resistência ao fluxo, o transporte sobre
pendentes suaves pode atingir dezenas de quilômetros em meio subaéreo e várias centenas de
quilômetros em meio subaquoso. O fluxo gravitacional pode ocorrer em qualquer ambiente que
tenha uma superfície inclinada, uma acumulação instável de sedimento e um mecanismo de
disparo do movimento. Os processos eólicos modernos ocorrem em áreas desérticas áridas, como
o Sahara, circundando geleiras e nas dunas costeiras. Estes processos são muito semelhantes aos
aquosos, pois ambos relacionam-se com o comportamento de sólidos granulares em meio fluido.
Os estudos realizados até agora mostram que as partículas sopradas pelo vento movimentam-se
por rolamento e saltação como na água. A velocidade requerida para iniciar o movimento dos
grãos, como no transporte aquoso, é diretamente proporcional ao tamanho da partícula, com
exceção de partículas tamanho silte e argila, que apresentam o efeito Hjulström. Assim, grãos de
quartzo de 0,10 mm de diâmetro (areia muito fina) são os primeiros a mover-se, enquanto
partículas menores necessitam velocidades maiores para iniciar o movimento.

De forma geral, a deposição ocorre quando o fluxo perde energia, diminuindo sua
competência. Cada depósito gerado apresenta particularidades inerentes ao tipo de agente
transportador resultando em: depósitos de
suspensão, depósitos de tração e depósitos de
corrente de densidade.

Corrente de Tração
As correntes de tração podem ser
unidirecionais, como em canais fluviais ou
bidirecionais, como em alguns estuários e
oceanos (correntes de maré). Elas transportam
a carga de tração (rolamento e saltação),
formada pelo material sedimentar mais
grosseiro. Os depósitos são gerados a partir de
Figura 35. Relação entre a velocidade do fluxo,
um fluxo ativo, ou seja, ocorrem em um meio granulometria e as formas de leito de fundo geradas em
que transporta as partículas ativamente. É o testes de laboratório para um fluxo subaquoso
processo mais comum e pode ser inferido se (modificado de Ashley, 1990).

63
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

características diagnósticas de depósitos de suspensão ou de correntes de turbidez não estiverem


presentes. As formas de leito de fundo e as estruturas sedimentares geradas dependem da relação
entre a velocidade do fluxo e o tamanho das partículas (Figura 35). As formas de leito mais
comuns são as marcas onduladas (ripple marks), que normalmente apresentam estratificação
cruzada e/ou plano-paralela. Os contatos com o fundo podem ser erosivos, mas não são
diagnósticos. Os depósitos, geralmente, apresentam algum tipo de seleção e são arenosos ou
cascalhosos. A maioria dos depósitos bem selecionados são gerados por fluxos ativos, sendo
diagnóstico se associado com imbricação dos grãos.

Correntes Unidirecionais
Nestes fluxos, os sedimentos mais finos (silte e argila) são transportados por maiores
distâncias como carga em suspensão, enquanto as partículas maiores e mais pesadas são
transportadas como carga de tração por menores distâncias. Assim, os depósitos formados por
correntes unidirecionais mostram um decréscimo no tamanho do grão na direção da corrente,
característica conhecida como "depósito em rota".
O comportamento das correntes de tração tem sido estudado em experimentos de laboratório
que utilizam canais confinados (flumes). O experimento começa com o fluxo em repouso, quando
o sedimento de fundo apresenta superfície plana e nenhuma estratificação interna. Então
aumenta-se a velocidade do fluxo constantemente para verificar o comportamento do material
sedimentar. Os grãos de areia começam a rolar e saltar conforme são ultrapassadas suas
velocidades críticas. Forma-se um depósito ondulado, chamado ripple. Os ripples apresentam
face íngreme à sota-corrente e mais suave à barla-corrente (Figura 36). Estas feições migram
lentamente para jusante, através da erosão das areias na face suave e deposição na face íngreme.
Como resultado desta migração há a formação de
estratificação cruzada. Aumentando a velocidade
da corrente, a forma do leito muda de ripple para
duna. Estas assemelham-se aos ripples na forma,
na estrutura interna e no modo de migração;
diferindo apenas na escala, sendo maiores que as
formas anteriores. O número de Froude para estas
duas primeiras fases é menor que 1. Aumentando
a velocidade para um número de Froude igual a 1,
as dunas são erodidas e o fundo torna-se plano,
embora as partículas ainda sejam transportadas e
depositadas, gerando estratificação plano-paralela.
Quando o número de Froude exceder a unidade
(regime de fluxo superior), as formas de leito
tornam-se montes arredondados, as antidunas
(Figura 36). Elas diferenciam-se das dunas por Figura 36. Relação do tamanho de grão, número de
serem aproximadamente simétricas e por Froude e as formas de leito geradas em um fluxo
unidirecional.
migrarem em direção contra-corrente, gerando
estratificação cruzada.

64
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

Correntes Bidirecionais
Em ambiente marinho, as correntes de tração normalmente são bidirecionais. Sendo que a
periodicidade da corrente pode variar de alguns segundos, entre a passagem das ondas, a horas,
conforme os ciclos de maré. No máximo da maré alta e baixa, a velocidade da corrente é zero. A
partir daí a velocidade aumentará, depois diminuirá gradualmente, até chegar a zero no máximo
da próxima maré. Quando a velocidade da corrente for zero, as argilas depositam-se. De acordo
com o efeito Hjulström, as lâminas de argila são preservadas até o ciclo de maré seguinte, quando
são recobertas por lâminas de areia. Então estes depósitos podem ser bons índices de atividade de
marés em depósitos antigos. As areias serão transportadas quando correntes de maré forem muito
fortes, gerando formas de leito de regime de fluxo superior. Quando as correntes de enchente e de
vazante forem iguais em velocidade e duração, o ciclo de maré é simétrico. E as areias serão
transportadas para frente e para trás formando estratificação cruzada tipo "espinha de peixe".
Normalmente, os ciclos de maré são assimétricos, fazendo que as areias sejam constantemente
retrabalhadas, determinando uma direção predominante de transporte de sedimento.
Em um ciclo menor, representado pela passagem das ondas, uma partícula em suspensão, na
superfície da água, descreve uma trajetória orbital quando a onda passa, mas não há transporte
significante. O movimento orbital das partículas diminui com o aumento da profundidade, até que
esta corresponda à metade do comprimento de onda, onde não há mais movimento. Abaixo desta
profundidade, a areia não é mobilizada, havendo a deposição da argila em suspensão. Se a
profundidade for menor que o nível efetivo das ondas, as trajetórias tornam-se elípticas. Este
movimento faz que a água seja transportada para frente e para trás formando correntes onduladas.
Estas correntes transmitem sua forma para o fundo, gerando ripples simétricos com laminação
interna tipo "chevron" (expressão que significa estruturas semelhantes à ocas de índios). Sobre a
praia os ripples tornam-se assimétricos com a face mais íngreme em direção à terra e
estratificação cruzada.

Correntes de Densidade
Os fluxos de turbidez são gerados quando há mistura de dois fluxos de densidades
diferentes. O mais denso tende a ir para o fundo e o mais leve para a superfície. Esses fluxos
podem ser gerados por diferenças de temperatura, salinidade ou concentração de material em
suspensão. Assim, águas resultantes do degelo nas regiões polares tendem a afundar abaixo de
águas mais quentes e as águas das descargas fluviais em clima temperado tendem a fluir por
longas distâncias sobre as águas salgadas mais densas. A corrente de densidade mais importante
para a geologia decorre da quantidade de material em suspensão, que é chamada de corrente de
turbidez. As correntes de turbidez são responsáveis por grande parte do transporte e deposição
que ocorre nas bacias oceânicas. Elas escavam canyons em deltas e no talude continental e
formam depósitos caracterizados pela presença de espessas seqüências de areias que apresentam
bases abruptas, topos transicionais e tendem a ser gradacionais, intercaladas com camadas de
folhelhos, e hoje são conhecidos como turbiditos.
As correntes de turbidez diferem das demais correntes, porque só ocorrem quando há
material em suspensão em quantidade suficiente para gerar turbulência. O comportamento de uma

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

corrente de turbidez é determinado pela diferença entre a densidade entre ela e o meio fluido, pela
sua altura e pelo ângulo de inclinação do fundo pelo qual ela flui. Isto é visto através da fórmula:

V = 2(d2-d1) g.h onde: V = velocidade da corrente


d1 d1 = densidade do meio
d2 = densidade da corrente
g = aceleração da gravidade
h = altura da corrente
Estudos de laboratório mostraram que suspensões de areias lamosas, ao serem introduzidas
em um canal, rapidamente formavam uma nuvem turbulenta de sedimentos. Ao iniciar a
deposição, as areias depositavam-se primeiro, depois os siltes e argilas, caracterizando o contato
basal abrupto, muitas vezes erosivo, e a gradação para finos em direção ao topo. As correntes de
turbidez desenvolvem uma anatomia longitudinal característica, onde cabeça, corpo e cauda
podem ser diferenciados. A cabeça apresenta-se lobada, com fluxos locais divergentes. É a porção
mais erosiva, concentrando os grãos mais grosseiros. O corpo tem fluxo uniforme em espessura e
é nesta porção que ocorre a deposição das areias. Na cauda, o fluxo diminui de espessura
rapidamente e torna-se diluído, responsável pela deposição dos sedimentos finos em suspensão. A
velocidade na cabeça do fluxo é menor que a velocidade do corpo. Acredita-se que a velocidade
da cabeça dependa basicamente da diferença de densidade entre a corrente e o meio, enquanto a
velocidade do corpo dependa da inclinação do fundo. Normalmente, a deposição dos sedimentos
grosseiros ocorre num intervalo de horas, enquanto o assentamento dos finos pode levar semanas.
A parte frontal de uma corrente de turbidez pode ter centenas de metros de altura e velocidade de
até 90 km/h.
Depósitos modernos derivados de fluxos de turbidez ocorrem em lagos, em fiordes, em vales
submarinos das frentes deltaicas e na plataforma continental, geralmente apresentando um corpo
sedimentar tipo leque na porção terminal do
talude. Os depósitos turbiditicos apresentam
uma seqüência vertical típica em que ocorrem
cinco unidades que refletem a desaceleração do
fluxo. Esta seqüência regular de camadas e
estruturas sedimentares presentes nos
turbiditos é conhecida como "Seqüência de
Bouma" (Figura 37). A unidade A é
caracterizada por um contato basal abrupto em
que ocorre uma variedade de estruturas
erosivas e deformacionais, seguido pela
presença de conglomerados e uma espessa
camada de areias e grânulos depositada em Figura 37. Seqüência de Bouma mostrando a
regime de fluxo superior, geralmente intercalação típica entre camadas de sedimentos
apresentando gradação normal (diminuição da finos depositados por suspensão e espessas
camadas de areia depositadas por tração que
granulometria da base para o topo). Esta caracterizam os turbiditos.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

unidade indica a fase inicial de grande poder erosivo da corrente e é formada pelo transporte na
parte frontal do fluxo (na cabeça da corrente de turbidez). A unidade B consiste em camadas
arenosas com estratificação plano-paralela de regime de fluxo superior. A unidade C é formada
por areias com estratificação cruzada de regime de fluxo inferior (ripples). A unidade D é
composta por siltes com laminação plano-paralela gradando para lama na parte superior. Esta
unidade reflete a deposição do material em suspensão presente na cauda do fluxo. A unidade E
apresenta lamas pelágicas e caracteriza o fim da corrente de turbidez e retorno da sedimentação
marinha. Na maior parte dos depósitos turbidíticos a seqüência de Bouma não está completa.
Algumas vezes ocorrem somente as unidades C, D e E, representando a deposição de uma
corrente já diluída principalmente nas porções distais do depósito, ou as unidades A e B,
depositadas na parte proximal do depósito, quando a corrente ainda possui caráter erosivo.

Correntes de Suspensão
Sedimentos finos tendem a ser transportados em suspensão e depositados pela força
gravitacional num meio de baixa energia, que na verdade não está transportando as partículas
ativamente. Os depósitos assim formados, normalmente, não apresentam estrutura interna,
podendo ocorrer estratificação planar formadas por diferentes episódios de deposição, como nos
varvitos. Normalmente as camadas são pouco espessas e formadas por sedimentos finos (de argila
a areia). Provavelmente todas as camadas apresentam gradação normal, o que é difícil de ser
verificado se os sedimentos forem muito finos. Depósitos lamosos de suspensão podem ocorrer
intercalados com depósitos turbidíticos ou outros depósitos de tração.
Entre os exemplos de transporte por suspensão estão: argilas em um lago, plâncton em
oceano profundo e as cinzas de uma erupção vulcânica. As unidades D e E dos turbiditos são
depósitos de suspensão, já que são siltes e argilas finamente laminados. Estes depósitos ocorrem
em bacias oceânicas marginais ou ambiente lacustre. Os varvitos são típicos de lagos glaciais e
apresentam intercalação de camadas claras e escuras. O conjunto formado por uma camada clara
e outra escura é chamado de varve, que representa a deposição que ocorre no período de um ano.
A camada escura consiste, principalmente, de silte depositado do material em suspensão trazido
pela água de degelo durante o verão. A lâmina mais clara é formada de argila e é rica em calcário
e matéria orgânica presentes em suspensão no lago. Essa camada é depositada durante o inverno,
quando o lago fica completamente congelado e não há aporte de material terrígeno. A formação
de depósitos de suspensão também pode ocorrer, quando um fluxo rico em material em suspensão
entra em um corpo d' água sem grande diferença de densidade. Isto gera os fluxos hipopicnais, que
permitem a completa mistura das duas massas d' água. Esta situação é bastante comum em
ambientes costeiros, onde o aporte de material em suspensão fluvial, ou lagunar, encontra água do
mar que é mais densa pela salinidade. O sal causa a floculação das argilas, que acelera a
deposição, diluindo a pluma de sedimento superficial.

67
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• Os processos que transformam sedimentos em rochas sedimentares.

Até aqui, foi traçada a história dos sedimentos desde sua formação até a deposição.
Agora, será mostrada a parte final desta história, onde os sedimentos transformam-se em rochas
consolidadas através da diagênese. As reações diagenéticas transformam os agregados de grãos
porosos, saturados em água, em agregados de partículas estáveis, de empacotamento fechado,
ligados entre si por minerais formados diageneticamente, ou seja, o sedimento é litificado
formando uma rocha. No momento da deposição, um sedimento pode ser constituído de cristais
e/ou matéria orgânica. Quando uma lâmina de sedimento for formada, ela constituirá uma
interface entre o material previamente depositado e o ambiente sedimentar. O ambiente
diagenético é o ambiente de transformações físico-químicas pós-deposicionais. Para evidenciar as
mudanças ocorridas com o soterramento das camadas, pode-se utilizar parâmetros químicos e
biológicos medidos em superfície e em profundidade. Em ambiente marinho, a concentração de
bactérias nos primeiros 5 cm de sedimento é 63 milhões/g de sedimento, diminuindo para 1000/g
em 1,5 m de profundidade, os valores de Eh passam de -0,07 próximo da superfície para -0,28 na
profundidade de 2,4 m e o O2 desaparece logo abaixo da superfície. Estas alterações decorrem da
diminuição de matéria orgânica com a profundidade (dentro da camada sedimentar), diminuição
do volume de água e transformações minerais. Estes processos podem ser influenciados pela ação
de organismos, que misturam, formam e agregam sedimentos. Em ambientes não marinhos a
diferença principal está na ausência dos sais, que são muito importantes como fonte para
alteração e substituição mineral durante a diagênese. O fundo normalmente torna-se redutor, com
exceção de fluxos de água corrente que impõe condições oxidantes sobre o sedimento.
O ambiente diagenético estende-se da interface deposicional até uma certa profundidade
variável em função das
condições de
temperatura e pressão
(Figura 38). Esta
interface representa a
separação de duas
regiões físico-químicas
diferentes. Acima da
interface predominam as
condições da superfície
da terra que determinam
as características
deposicionais. Abaixo
da interface predominam Figura 38. Condições de temperatura e pressão em que ocorre a
diagênese e outros processos do ciclo geológico.

68
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

as variações de pressão e temperatura que regem as reações diagenéticas. A natureza do ambiente


diagenético e a rapidez das reações dependem das características do meio deposicional e do tipo
de sedimento depositado. As reações diagenéticas são termicamente controladas, assim é preciso
conhecer as anomalias e gradientes geotérmicos. A temperatura aumenta em direção ao centro da
terra devido à desintegração radioativa de certos átomos, principalmente potássio, urânio e tório.
O fluxo de calor da crosta terrestre depende do gradiente e da condutividade térmica das rochas.
A média global do fluxo de calor é cerca de 1,5 cal/cm2.s, sendo que em cinturões
Pré-Cambrianos, nas zonas de subdução e nas cordilheiras oceânicas as taxas são 1,0, 1,5 e 3,0
cal/cm2.s, respectivamente.
O gradiente geotérmico é a taxa do aumento de temperatura em função do aumento de
profundidade. A média global do gradiente geotérmico é de 22°C/km, podendo variar de 10°C em
maciços antigos a 50°C nas zonas de espalhamento do assoalho oceânico. A condutividade
térmica das rochas varia até 15 vezes, sendo os evaporitos os melhores condutores e o carvão um
dos piores, podendo influenciar o gradiente geotérmico local. Assim, baixos gradientes
geotérmicos caracterizam rochas de boa condutividade. Mesmo excluindo todas as variações
regionais, ainda pode-se evidenciar anomalias geotérmicas. Normalmente, ocorrem devido a
intrusões ígneas, fluxos de fluidos intersticiais e geometria não-planar das camadas. Por exemplo,
as camadas ao serem soterradas e compactadas podem liberar água aquecida em profundidade. Se
existirem falhamentos próximos, essa água pode migrar ao longo dos planos de falhas, gerando
anomalia térmica local positiva. Outros tipos de anomalias geotérmicas positivas podem ser
encontradas sobre domos salinos e intrusões ígneas. Os sais possuem grande condutividade
térmica, favorecendo a transferência de calor para a superfície. As intrusões ígneas, além de
serem muito quentes, também são boas condutoras. Uma anomalia térmica negativa pode ser
gerada quando houver uma camada permeável em superfície levando água meteórica para uma
profundidade maior, diminuindo o gradiente térmico local.
A pressão também aumenta com a profundidade, sendo que a pressão efetiva é igual à
pressão vertical total exercida pela rocha e pelo fluido intersticial. A pressão exercida pela rocha é
chamada de litostática e é transmitida pelo contato entre os grãos. A pressão do fluido pode ser
hidrostática, quando é dada apenas pela coluna de fluido no interior dos poros, ou hidrodinâmica,
devido ao movimento do fluido. Pressões menores que a hidrostática raramente são encontradas,
mas pressões maiores são muito comuns. A densidade das rochas aumenta com a profundidade,
enquanto a porosidade diminui, refletindo a compactação devido ao aumento da pressão de
soterramento. Os evaporitos são exceção, já que não sofrem compactação durante o soterramento,
portanto sua densidade fica inalterada. Assim, eles podem ser deslocados por sedimentos mais
densos, fluindo em direção à superfície e formando os domos salinos.
Além da pressão e temperatura, a química e os movimentos dos fluidos intersticiais
também são importantes para as reações diagenéticas. Os fluidos intersticiais transportam íons em
solução através dos poros das rochas podendo precipitar novos minerais, formar cimento ou
dissolver minerais existentes. Os poros entre os grãos podem estar preenchidos por ar, água, óleo,
ou uma variedade de gases e líquidos, cuja composição influi nas reações químicas pós-
deposicionais. Os principais fluidos intersticiais e sua origem estão listados na Tabela 4. De

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

forma geral, pode-se agrupar os fluidos intersticiais em três grupos: os gases não-hidrocarbonetos
(inertes ou reagentes), os hidrocarbonetos (gases e líquidos) e a água subsuperficial.

Tabela 4. Principais fluidos intersticiais


Fluidos Origem
Inertes Hélio
Argônio
Kriptônio Emanações do manto
Radônio
Gases

Reagentes Nitrogênio
Gás Carbônico
Gás Sulfídrico Variada
Hidrogênio

Petróleo Metano
Condensado Orgânicos
Óleo cru
Líquidos

Água Meteórica Percolação Superficial


Conata Percolação ou água do mar
Juvenil Magmatismo

(a) Gases não-hidrocarbonetos- O sedimento presente acima do nível freático tem seus poros
preenchidos por gases atmosféricos. Atualmente, estes gases geram um ambiente oxidante, o
que não aconteceu durante todo o tempo geológico. A atmosfera antiga era rica em CO2 e era
redutora até a chegada das algas, cujas reações fotossintéticas modificaram a atmosfera.
Traços de gases inertes como hélio, argônio, kriptônio e radônio ocorrem em subsuperfície,
dissolvidos nos fluidos conatos. Acredita-se que estes gases tenham se originado da
desintegração radioativa de minerais que migraram do manto para a cobertura sedimentar
através de falhas e fraturas. O N2, CO2, H2S e H2 ocorrem em subsuperfície dissolvidos nos
fluidos conatos e têm origem mista. Estes gases têm sido registrados nas emanações dos
vulcões, originados do manto ou reciclados do sedimento, e também podem ser formados da
diagênese da matéria orgânica em ambiente aquático. O N2 é inerte, mas o CO2 e o H2S são
importantes para as reações diagenéticas. O CO2 afeta o pH do fluido intersticial, portanto a
solubilidade de muitos minerais, já o H2S é responsável pela formação de sulfetos metálicos.
(b) Hidrocarbonetos- Petróleo é o nome genérico dos fluidos hidrocarbonetos, um dos fluidos
intersticiais mais comuns e o mais importante. O estado sob o qual se apresenta depende da
sua constituição química e da temperatura e pressão ambientes. O metano pode formar-se
biogenicamente próximo da superfície através da degradação da matéria orgânica ou a partir
da alteração térmica da matéria orgânica soterrada ou de emanações do manto. Condensado é
o nome dado ao petróleo gasoso em altas temperaturas subsuperficiais, mas que condensa nas

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

condições da superfície terrestre, pode ser etano, propano e butano. O petróleo líquido é
chamado de "óleo cru" e é uma mistura de compostos aromáticos, naftênicos e parafínicos.
(c) Água subsuperficial- Os poros dos sedimentos podem ser ocupados por água meteórica,
conata ou juvenil. A água meteórica origina-se da precipitação atmosférica (chuvas, neve,
etc.). A água conata é aquela que originalmente estava associada ao sedimento durante a
deposição. A água a juvenil ou hidrotermal tem origem magmática. A água da chuva
normalmente é oxidante e ácida, devido à presença de O2, CO2 e H2SO. Portanto, quando a
água meteórica percola o sedimento, tem um considerável potencial para gerar reações
químicas. A água conata é a água original (normalmente salgada) com a qual o sedimento é
depositado e que faz parte da estrutura do sedimento mesmo depois da deposição. Faz-se uma
distinção entre a "água de compactação" que é a água que se move pelo sedimento como
resultado da compactação e a "água termobárica", que é a água quente de alta pressão,
originada em grande profundidade e formada pela desidratação das argilas. O limite entre a
água conata e a meteórica pode ser bem definido, porque a primeira é mais densa que a
segunda. Assim é possível ocorrer, em sedimentos permeáveis, a formação de uma lente
biconvexa de água doce que flutua sobre água conata mais densa, sendo que as reações
diagenéticas são muito diferentes nos dois ambientes.
Cada um destes fluidos instersticiais mostra a diversidade e complexidade das relações
entre ambiente e sedimento. Existem três maneiras dos fluidos movimentarem-se numa bacia
sedimentar: por força hidrostática, por compactação do sedimento e por convecção. O primeiro é
um mecanismo importante em baixas profundidades e consiste no deslocamento dos fluidos
menos densos pelos mais densos. O fluxo de compactação resulta do escape de fluido presente
nos poros de sedimentos que estão sendo compactados. A taxa de compactação varia com o tipo
de sedimento, sendo baixa em carbonatos e areias e alta em argilas. As correntes de convecção
são muito importantes na atmosfera e no manto. Este movimento pode ser gerado por anomalias
geotérmicas positivas que determinam expansão dos fluidos e diminuição da sua densidade,
deslocando o fluido para cima. A convecção pode fazer com que águas conatas se desloquem por
grandes distâncias, auxiliando a migração do petróleo e liberando minerais em solução que
podem formar o cimento. Estas células de convecção em larga escala somente desenvolvem-se
em bacias com formações laterais permeáveis. A migração dos fluidos ocorre sempre das
superfícies de maior pressão para as de menor pressão.

O processo que transforma os sedimentos em rochas sedimentares é conhecido como


diagênese. Segundo Walther (1893) a diagênese é: :o conjunto de todas as transformações físicas
e químicas sofridas pelo sedimento desde o momento da deposição até a completa litificação,
excluindo-se as mudanças decorrentes do metamorfismo. As reações diagenéticas são reações
químicas, como: dissolução, precipitação, oxidação, redução e cristalização, que ocorrem no
sedimento entre os minerais ou entre os minerais e o fluido intersticial. Geralmente, as reações
diagenéticas são agrupadas em fases, chamadas de compactação, cimentação, autigênese,
segregação mineral, metassomatismo e dissolução intra-estratal.

71
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A compactação é a redução na porosidade de um depósito sedimentar em resposta às


pressões exercidas pelo próprio peso do material sobrejacente. Esta redução na porosidade é
acompanhada pela expulsão dos fluidos intersticiais, conseqüentemente, pela diminuição no
volume da camada sedimentar. A compactação é iniciada logo após a deposição pelo peso do
material sobrejacente e ocorre em todos tipos de sedimentos, principalmente em sedimentos mais
finos, como silte e argila. Isto porque os argilo-minerais depositam-se com um empacotamento
muito aberto, mantido pela força de suas cargas eletrostáticas superficiais e pela forma achatada
das partículas. Acredita-se que o empacotamento depende da taxa de sedimentação e do teor de
argila na água. A porosidade primária de um sedimento argiloso pode chegar a 80%. Durante o
soterramento, o aumento de pressão supera as forças eletrostáticas iniciando a compactação com a
expulsão do fluido intersticial. Nas primeiras fases deposicionais, a compactação é mais rápida,
quando as partículas de argilo-minerais orientam-se paralelamente umas das outras resultando na
diminuição de até 40% de seu volume inicial. Com o decorrer do tempo, os efeitos são mais
lentos, indicando que a perda de porosidade deve-se mais à precipitação química de cimento do
que à compactação física (Figura 39). Os sedimentos carbonáticos são menos suscetíveis à
compactação do que as argilas. E os sedimentos mais grosseiros, como as areias, apresentam
compactação menos pronunciada por dois motivos, menor porosidade inicial e por dependerem
do grau de seleção do depósito e do arredondamento das partículas. Quanto mais angulosas as
partículas e menor seleção do depósito, maior será a compactação. A compactação é muito
importante para a próxima fase diagenética, a cimentação. A diminuição de porosidade expulsa os
fluidos intersticiais que percolam as partículas adjacentes dissolvendo os minerais. São os
elementos dissolvidos nos fluidos intersticiais que formam o cimento.
A cimentação é o processo de precipitação de minerais nos poros de um sedimento
clástico, resultando na consolidação da rocha ou na sua litificação. A litificação é o conjunto de
processos que transformam um sedimento recentemente depositado numa rocha consolidada. Os
minerais cimentantes mais comuns são quartzo (raramente opala ou calcedônia), calcita e
aragonita (mais raramente dolomita e siderita). A siderita é um material cimentante relativamente
raro e nunca aparece em afloramentos devido a sua instabilidade quando em contato com a
atmosfera. Mas acredita-se que a maioria dos arenitos cimentados por materiais ferruginosos
devam ter origem em arenitos sideríticos. A relação entre o cimento e os grãos detríticos
determinam a textura da rocha formada. Se a composição mineral for a mesma, o cimento será
depositado em continuidade cristalográfica com os grãos gerando uma textura cristalina, como
um quartzito. Se o cimento for mineralogicamente diferente poderão resultar em várias relações
texturais. Por exemplo, se a calcita for o cimento de arenitos pode-se observar três resultados
diferentes, a calcita depositando-se nos bordos dos grãos dando um aspecto tipo "franja" ou
formando um mosaico cristalino com formação de no máximo três cristais entre os grãos ou ainda
formação de cristais de calcita tão grandes que os grãos detríticos parecem apenas inclusões.
Algumas características diferenciam os minerais cimentantes dos de formação primária: o
cimento sempre ocorre nos poros entre grãos detríticos, crescendo perpendicularmente à sua
superfície, os cristais cimentantes sempre aumentam de tamanho a partir da parede do poro e
apresentam faces planas entre eles.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

A cimentação dos arenitos pode ser da seguinte forma: a areia inicial pode conter
alguma sílica dissolvida em seus poros, na fase inicial de soterramento esta sílica pode precipitar
desenvolvendo crescimento secundário sobre os grãos de quartzo. Aumentando o soterramento, o
cimento carbonático pode ser introduzido nos poros remanescentes, tendendo a substituir a sílica
gradualmente. Havendo uma posterior exposição desta rocha, o calcário pode ser dissolvido
restando uma rocha parcialmente cimentada. Alguns arenitos possuem mais de um cimento,
sendo que os cimentos mais antigos estarão mais desenvolvidos e ligados às paredes dos grãos,
enquanto os outros ocuparão as partes restantes dos interstícios. Nos arenitos antigos, a sílica (na
forma de quartzo) predomina como agente cimentante, enquanto a dolomita é o cimento
carbonático mais comum. Nos arenitos recentes, a calcita é o principal cimento. Na
transformação dos carbonatos em calcários, a compactação é pouco eficiente na redução da
porosidade, muito embora sedimentos carbonáticos tenham de 60 a 70% de poros e os calcários
por volta de 1%. O processo mais importante na redução dos poros destes sedimentos é a
precipitação de cimento carbonático nos poros existentes. Além da adição do cimento, a
diagênese dos carbonatos também inclui a mudança da composição mineral, que é
dominatemente aragonita nas rochas recentes e calcita nos calcários antigos.
A autigênese é o processo que tende a estabelecer o equilíbrio entre os minerais e os
fluidos intersticiais através da eliminação de minerais instáveis e formação de minerais estáveis.
Os processos envolvidos são: redução (principalmente do ferro), desidratação (transformação de
gipsita em anidrita), combinação de vários minerais com elementos do fluido intersticial (calcita
+ Mg = dolomita, argilo-minerais + Fe e Mg = clorita). Portanto, qualquer mineral recém
formado é um mineral autígeno. Por exemplo, os feldspatos transformam-se em illita e esta em
caolinita, resultando na liberação de silício e potássio em solução; os fragmentos vulcânicos
transformam-se em esmectita e esta em zeolitas. Assim, as partículas arenosas geram argilo-
minerais, que constituirão uma matriz argilosa e a liberação de silício pode gerar um cimento
silicoso ou resultar em crescimento secundário das partículas de quartzo. Os minerais autigênicos
mais comuns são: calcedônia e quartzo, calcita (alteração da aragonita) e dolomita, ortoclásio e
albita, argilo-minerais (illita, sericita), glauconita (alteração da biotita) e sulfetos de ferro (pirita
e marcassita). Os minerais estáveis podem agir como centros de cristalização e aumentar de
tamanho, por isso o quartzo e os feldspatos normalmente apresentam crescimento secundário.
A diferenciação diagenética é a redistribuição de minerais dentro do sedimento. Os
materiais dispersos pela rocha são dissolvidos e concentrados em centros de reprecipitação,
levando à segregação de constituintes menores em nódulos, concreções, etc. Os materiais
segregados podem substituir a matriz da rocha hospedeira ou ocupar espaços vazios. Concreções
são agregados de sedimento com formas cilíndrica, rizóide, discoidal, etc. presentes em camadas
sedimentares de composição diferente. Quando há presença de núcleo de crescimento, a estrutura
tem aspecto concêntrico. Os oólitos e pisólitos são os corpos concrecionais mais comuns.
Normalmente as concreções são compostas de um único mineral, podendo apresentar vários
outros como impurezas. As concreções mais comuns são de calcita (principalmente em folhelhos
e arenitos), sílica (geralmente em calcários), hematita e limonita (muito comuns em arenitos),
siderita, pirita e marcassita (principalmente em folhelhos negros e em carvão), gipso, barita,
óxido de manganês, fluorita e bauxita. O tamanho das concreções é altamente variável,

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

normalmente não ultrapassam a ordem de centímetros, mas já foram registradas concreções


esféricas de 9 m de diâmetro em arenitos do Texas e concreções cilíndricas de 30 m de
comprimento. As maiores concreções ocorrem em arenitos, enquanto nas argilas o crescimento é
dificultado pela menor permeabilidade. A textura e a cor das concreções podem ser uniformes,
mas comumente há presença de bandas e manchas de cores diferentes. Grande número de
concreções apresentam fósseis como núcleo, normalmente peixes, trilobitas ou fragmentos de
conchas. Podem ocorrer em todos tipos de rochas sedimentares com excessão dos evaporitos.
As concreções podem ter origem singenética (formadas ao mesmo tempo da rocha
encaixante) ou epigenéticas (formando-se posteriormente). As singenéticas formam-se por
precipitação a partir de soluções ou de suspensão coloidal, as epigenéticas são formadas por
substituição ou por deslocamento de outros materiais. Os oólitos são partículas de forma esférica
ou elíptica, cujas dimensões variam desde microscópicas até 2 mm de diâmetro. As que
ultrapassam os 2 mm são chamadas de pisólitos. Estas estruturas caracterizam-se pela presença de
núcleos de quartzo, feldspatos, fragmentos de conchas, etc. e pela estrutura interna, constituída de
lâminas concêntricas ao redor dos núcleos quando original e radial quando secundária.
Normalmente os oólitos são calcíticos, podendo ser dolomíticos, de hematita, siderita, limonita,
etc. As estruturas oolíticas são formadas em ambiente aquoso de grande dinâmica e supersaturado
com Ca(HCO3)2. Com a agitação da água há o escape de CO2 e com isto o CaCO3 é precipitado.
O formato esférico e concêntrico decorre da agitação da água que movimenta as partículas
expondo todos os lados igualmente para a precipitação química do carbonato. Existem oólitos
formados em águas calmas pela ação de pequenas algas e bactérias, são assimétricos com lâminas
concêntricas desenvolvidas desigualmente.
O metassomatismo envolve a introdução de material novo, resultando em substituição
mineral sem alteração significativa de volume. Os critérios de diferenciação entre rochas de
origem metassomática e aquelas produzidas por precipitação direta nem sempre são bem
definidos. É claro que nenhum calcário bioquímico contém magnésio suficiente para converter a
rocha em dolomito e nem sílica suficiente para transformá-lo em silexito. Então é uma evidência
que estes elementos originaram-se da água do mar, das águas conatas ou dos fluidos intersticiais
em movimento.
A dissolução intra-estratal é um processo de solubilização que ocorre dentro da camada
sedimentar após a deposição e seus efeitos são os mais diversos. Muitas rochas apresentam fortes
indícios de que volumes significantes de material foram removidos. Estas evidências formam os
estilólitos, que consistem em colunas de 1 mm até 30 cm de comprimento, verticalmente
estriadas, de mesma composição que a rocha hospedeira. Vistas de perfil parecem um traçado de
estilete em zigue-zague. Os estilólitos são formados pela solução de material que está sob pressão
e apresenta maior solubilidade que o resto do material que está sob menor pressão.

Em resumo, a diagênese de sedimentos arenosos consiste inicialmente nas reações de oxi-


redução dos compostos de ferro. Logo depois, ocorre a cimentação e substituição mineralógica,
envolvendo principalmente a sílica e os carbonatos. Por último, há a autigênese das micas e dos

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

feldspatos. As reações químicas que ocorrem nestas três fases determinam o aparecimento de
associações mineralógicas em equilíbrio que são condizentes com o pH e Eh do fluido intersticial.
A cimentação mais comum em arenitos é a precipitação de um cimento calcítico nos poros
intersticiais, também a hematita pode precipitar-se nos interstícios dando uma cor avermelhada à
rocha. Uma forma de cimentação mais complexa é a precipitação de sílica em volta dos grãos de
quartzo, originando os quartzitos sedimentares. Em arenitos que apresentam matriz argilosa, a
litificação normalmente ocorre apenas pela força de coesão das argilas, não envolvendo
precipitação mineral nem reação química entre as partículas. Estes arenitos desagregam-se
facilmente na presença de água. Na diagênese dos arenitos pode ocorrer uma série de reações
complexas envolvendo dissolução de grãos e reação intergranular. Pode-se verificar reações
entre dois minerais, um substituindo o outro e desenvolvendo um terceiro no limite entre eles ou
entre os minerais e soluções externas gerando novos minerais.

Os sedimentos argilosos sofrem grandes alterações devido à compactação. A sua


porosidade diminui continuamente com o aumento da profundidade de soterramento, mais
rapidamente até os 500 m e mais lentamente depois desta profundidade. As transformações
químicas e físicas antes da diagênese consistem na alteração das micas em illitas pela perda de
potássio em ambientes de água doce. Em ambientes de água salgada, há a substituição de cátions
de magnésio por cálcio. Logo que a camada é recoberta por sedimentos mais novos, as condições
da água intersticial mudam, principalmente o pH e o Eh. Durante o soterramento raso as bactérias
redutoras de sulfato produzem H2S que, na presença de Fe, é transformado em FeS.nH2O, um
mineral preto que determina a cor escura destes sedimentos. Posteriormente, são formados
sulfetos de ferro mais estáveis, como a pirita. Aumentando a profundidade de soterramento,
diminui a importância do pH e Eh, e a temperatura e pressão assumem o controle das reações
diagenéticas. A temperatura de transição da diagênese para o metamorfismo é de 300°C. A
cimentação não é muito importante para a consolidação dos sedimentos argilosos, pois muitos
foram encontrados em grandes profundidades sem cimento, sendo mantidos unidos apenas pela
coesão. Pode-se generalizar a diagênese das argilas em zonas bem definidas:
zona 1: as lamas recém depositadas ainda estão oxigenadas. A matéria orgânica é
decomposta liberando CO2. Como há trocas pela interface deposicional, o equilíbrio entre
íons liberados e adquiridos é facilmente atingido. A bioturbação é fundamental para
estabelecer os limites desta zona.
zona 2: é dominada pela redução bacteriana do sulfato presente na água intersticial.
Normalmente esta zona extende-se até os 10 m de profundidade. A redução do sulfato pode
ser expressa segundo a reação:

2 CH2O + SO42- → 2 CO2 + S2- + 2 H2O


bactérias
mat. org. sulfato enxofre

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA S. ESTEVES

O sulfato vai sendo consumido gradualmente com aumento da profundidade, formando


sulfetos até seu esgotamento total. O sulfeto e outros produtos do metabolismo bacteriano (CO2,
NH3, PO4) são tóxicos e reativos quimicamente. Os produtos desta fase são: precipitação de
sulfetos metálicos e de CO3, alteração de pH e formação de CH4. Os íons férricos presentes no
fluido intersticial são reduzidos, formando a pirita. As precipitações de sulfetos e carbonatos
ocorrem na forma de concreções de pirita e carbonáticas, respectivamente.
zona 3: cessa a formação de concreções e inicia a fermentação da matéria orgânica, pois as
bactérias são inibidas pela presença dos sulfetos, originando CH4e CO2.
CH2O → CH4 + CO2

A liberação de CO2 favorece a precipitação de carbonatos que, na presença de ferro


ferroso, gera concreções de calcita ferrosa e siderita. O aumento da profundidade mostra a
diminuição da importância das reações de fermentação e aumento das reações abióticas. A
fermentação pode ocorrer até 1 km de profundidade, quando é inibida pelo aumento de
temperatura e desaparecimento da matéria orgânica. Quase toda a água é expulsa já na zona 3,
onde a porosidade diminui de 80 para 20% e a densidade aumenta de 1,3 para 1,9 g/cm3.
zona 4: continua a expulsão de água e predominam as reações inorgânicas como a
descarboxilação com liberação de CO2.
zona 5: é onde ocorrem as grandes transformações mineralógicas entre argilo-minerais e
onde inicia a formação de hidrocarbonetos. Extende-se de 2,5 km até 5 km. Uma reação
comum desta fase é:

esmectitas + feldspatos K → illita + Si4+ + Mg2+ + Fe2+

A transformação em illita é controlada pela temperatura, iniciando por volta de 70°C.


Aqui há a formação de água, sílica, Mg2+, Fe2+ e hidrocarbonetos que são levados para a zona 4
onde poderão ser precipitados como cimento.
zona 6: iniciam os processo metamórficos.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

NESTE CAPÍTULO VOCÊ APRENDERÁ:


• A nomenclatura de diferentes rochas sedimentares.
• Os grupos em que as rochas sedimentares são classificadas.
• O que é maturidade das rochas sedimentares.

Existem duas boas razões pelas quais uma classificação se faz importante: uniformizar a
nomenclatura, facilitando a comunicação entre os pesquisadores, e possibilitar a comparação entre os
diversos tipos de rochas. As rochas sedimentares são constituídas de componentes terrígenos, aloquímicos e
ortoquímicos (Folk, 1968). Sendo os terrígenos, aqueles oriundos da erosão de uma área distinta da bacia
deposicional e que são transportados até ela na forma de fragmentos sólidos, como o quartzo, os feldspatos,
os argilo-minerais e os minerais pesados; os aloquímicos, são os compostos formados pelo retrabalhamento
de substâncias químicas precipitadas na própria bacia sedimentar, como as conchas e fragmentos calcários,
e os ortoquímicos são precipitados químicos formados na própria bacia deposicional, como a calcita e os
evaporitos.
As características das rochas sedimentares dependem de vários fatores, como:
(a) a proveniência de seus componentes: o tipo de sedimento a ser formado varia conforme a
característica da área fonte, como o clima, a drenagem, o relevo e a tectônica, e a característica da
rocha fonte, principalmente, sua composição, textura e estrutura;
(b) a história pré-deposicional: os processos pelos quais os sedimentos passam antes da deposição,
como o tipo e grau de intemperismo, o agente transportador e o rigor e distância de transporte,
influenciam a composição e textura da rocha sedimentar a ser formada;
(c) o ambiente deposicional: as condições reinantes no local de deposição, como presença de água,
saturação de oxigênio, atividade de organismos, entre outras, determinam a petrofábrica da rocha
sedimentar e várias outras propriedades físicas dessas rochas;
(d) a história pós-deposicional: os processos diagenéticos atuantes sobre o material já depositado
podem modificar algumas características primárias das rochas sedimentares, como composição,
porosidade e volume.
Várias tentativas de classificação dos sedimentos e rochas sedimentares já foram feitas, algumas
baseiam-se na composição química, outras na origem do material ou, ainda, na textura apresentada. Uma
das classificações mais utilizadas atualmente, principalmente para os sedimentos marinhos, baseia-se na
origem do material, constituindo em cinco classes genéticas de sedimentos (Lizitsin, 1972):
(a) químicos: são formados pela precipitação direta de elementos dissolvidos na coluna d'
água,
conseqüentemente, só existem em ambientes subaquosos. Por exemplo: os evaporitos e alguns
calcários;
(b) orgânicos: são formados por material de origem vegetal ou animal, como o carvão, as vasas
silicosas e o calcário coralíneo;

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(c) terrígenos: são formados a partir do material gerado pelo intemperismo e erosão do continente. São
as argilas, arenitos, folhelhos e conglomerados;
(d) residuais: constituem-se do material sólido que permanece no ambiente após o intemperismo,
como as bauxitas e lateritas e
(e) piroclásticos: são produtos de atividade vulcânica, como as cinzas e tufos vulcânicos.
Para fins didáticos, podemos separar estas cinco classes genéticas em dois grandes grupos quanto
ao seu local de formação: os sedimentos alóctonos e os sedimentos autóctonos. Os primeiros consistem
na acumulação natural dos sedimentos formados pela erosão de rochas pré-existentes após serem
transportados do local de formação para serem depositados nas bacias sedimentares. Neste grupo
encontram-se os sedimentos terrígenos e os piroclásticos. Os autóctonos são os que se formaram no local de
deposição, como os sedimentos químicos, os orgânicos e os residuais. Pode-se usar como parâmetro
secundário de classificação, o tamanho médio do grão e/ou a composição mineralógica do sedimento. Isto
facilita a diferenciação dos depósitos pertencentes aos dois grandes grupos. Por exemplo, quando fala-se
em areia ou argila, imagina-se o aspecto do depósito; ao completar a descrição com areias quartzosas ou
lamas calcárias, tem-se uma melhor idéia sobre sua característica. Há uma pequena distinção nos
parâmetros utilizados para definir sedimentos recentes e antigos. Para sedimentos recentes, utiliza-se
principalmente o tamanho do grão e a textura do depósito, podendo ser mencionada a hidrodinâmica do
transporte e deposição. Para depósitos antigos enfatiza-se mais a composição mineralógica.

Este grupo consiste nos depósitos formados por partículas originadas do intemperismo de rochas
pré-existentes, que são retiradas de seu local de origem, transportadas e depositadas em bacias
deposicionais distantes da rocha-fonte. Incluem dois grupos de sedimentos: os piroclásticos e os terrígenos.
Na classificação das rochas pertencentes a este grupo, normalmente, utiliza-se as propriedades físicas dos
sedimentos. Para a definição de grupos maiores usa-se a distribuição granulométrica e para a diferenciação
dos subgrupos usa-se o grau de arredondamento e seleção ou a composição mineralógica. As rochas
terrígenas apresentam três classes principais: as rochas rudáceas ou psefíticas, arenáceas ou psamíticas e
lutáceas ou pelíticas.

a. ROCHAS RUDÁCEAS ou PSEFÍTICAS: são formadas por sedimentos clásticos grosseiros. Não há
uma concordância quanto ao percentual de sedimentos grosseiros que estes depósitos devem apresentar,
mas geralmente apresentarem 50% de partículas maiores que 2 mm. Normalmente, estas partículas são
fragmentos de rocha mono ou poliminerálicos.
Cascalhos - depósitos inconsolidados de fragmentos de tamanho maior que 2 mm (grânulos,
seixos, matacões). A forma, o tamanho e a petrologia desses depósitos dependem do tipo de
rocha-fonte, do meio de transporte e do ambiente deposicional.

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

Conglomerados - depósitos consolidados formados por partículas grosseiras bem arredondadas. A


matriz pode ser de partículas detríticas menores que 2 mm e o cimento pode ter origem química
(calcita, sílica ou hidróxido de ferro). Podem ser subdivididos conforme sua textura, composição
ou tipo de cimento. Mas sua classificação mais comum refere-se à estrutura do depósito, separando
dois grupos:
ortoconglomerados: apresentam estrutura suportada por grãos, ou seja, os seixos estão muito
próximos uns dos outros, e a matriz ocupa os espaços intergranulares. Normalmente apresentam
classe modal principal no tamanho seixo e outra menor no tamanho areia. Geralmente têm
origem fluvial.
paraconglomerados: têm sua estrutura sustentada por matriz, assim os seixos raramente estão
em contato uns com os outros, possibilitando a presença de grande quantidade de matriz.
Normalmente apresentam a moda principal no silte e outra menor nos seixos. Pode ter origem
glacial, turbidítica ou de processos subaéreos.
Brechas - depósitos de material clástico grosseiro, anguloso, e podem ter origem sedimentar ou
tectônica. As primeiras são formadas próximas de descontinuidades, onde os detritos recém
formados depositam-se sem sofrer muito retrabalhamento. As brechas de origem tectônica são
chamadas de cataclásticas e são formadas pelo atrito gerado entre rochas que ocupam lados
opostos de um falhamento.

Pode-se encontrar várias classificações para as rochas rudáceas, normalmente de forma descritiva,
baseada em fatores distintos, como granulometria predominante (conglomerado de calhau, conglomerado
de matacão), na composição (conglomerado arcosiano, conglomerado granítico) ou no tipo de cimento
(conglomerado ferruginoso ou carbonático). Algumas características desses depósitos podem ser muito
úteis na identificação dos ambientes deposicionais em que foram formados. Por exemplo, a textura
superficial dos seixos podem servir para determinar o tipo de transporte ao qual o sedimento foi submetido.
Assim, a presença de ventifactos indica erosão eólica, enquanto as faces estriadas são típicas do transporte
glacial. O arranjo espacial das partículas e a forma do próprio depósito também podem evidenciar
características do fluxo. Se os seixos apresentam orientação, significa que eles se movimentaram livremente
no interior da corrente. Os corpos sedimentares rudáceos raramente apresentam grandes dimensões. Muitos
apresentam-se em forma alongada, resultando do preenchimento de paleocanais fluviais (estes são pouco
espessos, podendo apresentar comprimentos consideráveis). Também são comuns na forma de leques,
normalmente ocorrem em escarpas e podem ser formados por processos aluviais ou tectônicos.

b. ROCHAS ARENÁCEAS ou PSAMÍTICAS: são rochas formadas por partículas de tamanho areia, ou
seja, entre 0,062 mm e 2 mm, segundo a classificação de Wentworth (1922). Chama-se de areia, o material
inconsolidado, e arenito o consolidado. Incluem-se aqui os depósitos formados pelas areias terrígenas,
originadas da erosão das rochas continentais. Elas cobrem aproximadamente 30% da superfície da Terra e
constituem os maiores reservatórios de água e petróleo devido a sua alta permeabilidade. Os depósitos
arenosos ocorrem em vários ambientes, como nas planícies deltaicas, praias, dunas, leques aluviais e
canais fluviais.

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O problema básico da classificação das areias é a existência de muitos parâmetros nos quais ela
pode se basear. Mas a diferenciação dos grupos de areias é feita, principalmente, em função de sua
composição mineralógica e de sua distribuição granulométrica. Sendo que a forma mais comum de
representá-las são os diagramas triangulares, onde os três componentes podem ser: o teor de quartzo, o de
feldspato e o de argila (Krynine, 1948), quando a classificação for mineralógica; ou a porcentagem de
partículas tamanho areia, silte e argila (Folk, 1954), se a classificação for por distribuição granulométrica.
Um conceito muito utilizado, também, para diferenciar os grupos de depósitos psamíticos é a
maturidade. A maturidade de um sedimento expressa a intensidade de alterações que ele pode sofrer,
potencialmente, na superfície da terra. Em outras palavras, é uma função do tempo em que o sedimento
permanece sujeito à ação dos processos sedimentares e da intensidade destes processos. O tempo é
determinado pelo relevo da área fonte. Um alto relevo determina uma alta taxa de erosão,
conseqüentemente, o sedimento fica pouco tempo em contato com os processos, gerando material imaturo.
A intensidade dos processos sedimentares é função do clima na área fonte. Quanto mais quente e úmido for
o clima, maiores as chances de ocorrerem grandes alterações químicas e físicas sobre o sedimento, gerando
depósitos com partículas cada vez menores e com menos minerais instáveis. Desta forma, um depósito que
apresenta alta maturidade deve ter sido gerado em áreas de clima quente e úmido e baixo relevo.
O conceito de maturidade pode ser definido física ou quimicamente. A maturidade química pode
ser determinada pela proporção de minerais estáveis frente aos instáveis presentes nas rochas. O quartzo é
um mineral formador das rochas primárias, está presente em grande quantidade é estável química e
fisicamente, e está sempre associado aos feldspatos. Por isso, normalmente, utiliza-se a relação
quartzo/feldspatos através do índice de Pettijohn (1949) mostrado na Tabela 4. Já Vogt (in Pettijohn, 1949)
determina a maturidade em função do caráter residual do depósito. Ele considera que o sedimento torna-se
enriquecido em alumina quando aumenta a maturidade e os óxidos de cálcio, magnésio e sódio diminuem
gradualmente. Assim, a alumina, talvez, seja o óxido de menor mobilidade, enquanto o óxido de sódio
(Na2O) é o mais facilmente removido e, ao contrário dos óxidos de cálcio e magnésio, não é restabelecido
durante o ciclo sedimentar. Por isso, a proporção alumina/soda pode ser usada como um índice de
maturidade química (Tabela 5).

Tabela 5. Índices para determinar a maturidade química de sedimentos arenosos.

TIPO DE ROCHA Relação Alumina/Soda Relação Quartzo/Feldspato


Arenitos médios 9,6 5,8
Arcósios médios 5,7 1,1
Grauvacas médias 4,8 2,7
Arenito lítico médio 4,5 9,8
Ortoquartzitos médios 20,4 Mais de 10

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

A maturidade física descreve as mudanças texturais pelas quais o sedimento passa desde o
intemperismo até sua deposição. Pode-se utilizar a seleção (uniformidade nos tamanhos de grão) e o
arredondamento das partículas ou a relação entre a quantidade de lama (matriz) e grãos apresentada pelo
depósito. Pettijohn (1980) descreve uma maneira de determinar a maturidade física de um sedimento
arenoso através de três passos:
(a) determinar a porcentagem de lama - se a amostra apresentar mais de 5% de lama, é considerada
imatura, se apresentar menos de 5%, siga para o próximo passo;
(b) determinar o grau de seleção - se a amostra não for bem selecionada (desvio padrão > 0,5), é
chamada de submatura, se for bem selecionada (desvio padrão < 0,5) siga o próximo passo;
(c) determinar o arredondamento dos grãos arenosos - se os grãos forem subangulares a muito
angulares, o sedimento é maturo, se for arredondado a bem arredondado, é supermaturo.
Assim, uma areia imatura apresenta mais de 5% de matriz, pobre seleção e os grãos são
angulares; uma areia submatura apresenta menos de 5% de matriz, é pobremente selecionada e os grãos
são angulosos; uma areia matura apresenta pouca ou nenhuma matriz, é bem selecionada, mas os grãos
não são arredondados; e uma areia supermatura não apresenta argila, é bem selecionada e os grãos são
arredondados.
Embora tanto a maturidade química quanto a física ocorram no decorrer da história de uma
população de areias, elas são independentes uma da outra. Isto porque a maturidade química depende da
composição da rocha-fonte, enquanto a física é resultante dos processos sedimentares atuantes. Utilizando
um diagrama triangular, Folk (1954) classificou os arenitos tendo como base a concentração de quartzo,
feldspatos e fragmentos de conchas e, secundariamente, o teor de matriz argilosa. Todo depósito arenáceo
que apresenta menos que 15% de argila, chamou de areia ou arenito, conforme o grau de litificação; os
depósitos com mais de 15% de matriz argilosa, denominou grauvacas. As areias que apresentam menos de
5% de feldspatos ou fragmentos de rocha são chamadas de ortoquartizíticas; as que apresentam mais de
25% de feldspatos e menor quantidade de fragmentos de rocha, são os arcósios ou areias arcosianas; as
que apresentam mais de 25% de fragmentos de rocha são chamadas de areias líticas. Os depósitos
arenáceos que apresentam entre 5 e 25% de feldspatos chamam-se de subarcósios e os que apresentam de 5
a 25% de fragmentos de rochas são os sublíticos. Os arenitos líticos ainda podem ser classificados
conforme o tipo de fragmento de rocha presente, quando 50% dos fragmentos for de rocha sedimentar,
formam-se os filarenitos, quando 50% for calcário, formam-se os calcilutitos, quando 50% for vulcânico,
formam-se os arenitos vulcânicos. O termo calcarenito é usado para descrever arenitos carbonáticos
formados por precipitação direta na bacia de decantação. As grauvacas podem ser classificadas segundo o
componente principal em: grauvacas feldspáticas, líticas ou quartzosas.
Resumindo a classificação acima, pode-se separar os depósitos arenáceos em quatro grupos
principais, descritos abaixo:
Quartzo-arenitos ou Arenitos ortoquartzíticos - apresentam menos que 5% de feldspatos e menos
que 15% de matriz. São os produtos finais da evolução dos sedimentos arenosos, resultando de
vários ciclos sedimentares, pois são maturos física e quimicamente e, normalmente, apresentam
alto grau de seleção e bom arredondamento. O mineral detrítico mais abundante é o quartzo,
podendo aparecer alguns feldspatos, micas e minerais pesados, como o zircão, o rutilo e a

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turmalina. São depositados principalmente em ambientes eólicos e marinhos rasos, podendo
ocorrer nos turbiditos de oceano profundo.
Arcósios ou Arenitos arcosianos - apresentam menos que 15% de argila e 25 a 60% de feldspatos.
São, relativamente, maturos texturalmente e imaturos mineralogicamente. Originam-se da
degradação incompleta de rochas ígneas e metamórficas ácidas, como o granito e o gnaisse, onde o
intemperismo físico predomina sobre o químico ou onde a taxa de erosão é muito elevada.
Normalmente são pobremente selecionados e os grãos são angulares a subarredondados. Os
feldspatos potássicos são os minerais mais comuns, podendo determinar uma coloração rósea ao
depósito pela presença do ortoclásio. O quartzo é bastante comum, podendo ser o mineral mais
abundante em alguns casos. Os feldspatos podem sofrer alterações em caolinita e sericita, as micas
ocorrem como acessórios e ocorre grande variedade de minerais pesados.
Lito-arenitos ou Arenitos líticos - são maturos texturalmente e imaturos quimicamente, pois
possuem mais de 25% de fragmentos de rocha e uma quantidade mínima de matriz. Conforme o
tipo do fragmento de rocha, pode-se subdividir esta classe em arenitos vulcânicos, filarenitos ou
calcilutitos. Estes depósitos são mais característicos de leques aluviais e são bons indicadores de
proveniência. Normalmente, apresentam coloração cinza.
Grauvacas - são areias imaturas textural e quimicamente. Apresentam mais de 15% de matriz e
mais de 25% de feldspatos ou de fragmentos de rocha. São pobremente selecionadas, com
partículas que vão de areias muito grosseiras até a matriz argilosa; os grãos são angulares e pouco
esféricos. Predominam grãos de quartzo, plagioclásios e fragmentos de rochas.

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Como os arenitos são provenientes da erosão de rochas pré-existentes, teoricamente, teriam


diversidade mineralógica tão grande quanto o número de minerais conhecidos. Isto não ocorre pelo fato de
muitos minerais serem eliminados pelo intemperismo na rocha-fonte, durante o transporte ou na diagênese.
Assim, a mineralogia de um arenito é definida pela herança da rocha-fonte e é modificada pelos processos
sedimentares. Isto possibilita que seu estudo seja um ótimo instrumento para reconstrução da história do
sedimento, ou seja, sua proveniência, o tipo de transporte e as condições do ambiente deposicional e da
diagênese.
A eliminação de minerais na área fonte ocorre principalmente por alterações químicas. Assim, por
ser o mineral mais estável, o quartzo forma a maior parte dos arenitos. Os feldspatos transformam-se em
caolinita, sendo que os potássicos podem ocorrer em quantidades consideráveis nos sedimentos por serem
mais estáveis. Os piroxênios e anfibólios são dissolvidos, resultando em solução iônica. As micas
normalmente ocorrem associadas a grãos de silte ou argila de composição quartzosa, já que sua forma
determina baixa velocidade de sedimentação. Os argilo-minerais são os principais formadores da matriz dos
arenitos. Os minerais pesados raramente passam de 1% da composição total dos sedimentos (minerais
acessórios), mas suas assembléias são muito importantes na determinação da proveniência. Assim, a
composição mineralógica dos arenitos consiste nos minerais estáveis presentes na rocha-fonte e nos
produtos de alteração dos minerais instáveis. Depois da deposição ainda pode haver alguma alteração na

82
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

composição dos arenitos através de dissoluções, precipitações e transformações. Eliminando


completamente os minerais instáveis e formando novos minerais. De maneira geral, os principais minerais
detríticos são: quartzo, feldspatos potássicos, moscovita, turmalina, zircão, anfibólios e piroxênios, além
dos argilo-minerais. Os minerais químicos mais comuns são: os carbonatos (principalmente a calcita e a
dolomita), a sílica (na forma de quartzo, opala e calcedônia), os sulfatos (gipsita, anidrita e barita) e alguns
óxidos e hidróxidos de ferro. Estes minerais estão presentes como preenchimento de poros ou como
cimento, normalmente de origem pós-deposicional.

c. ROCHAS PELÍTICAS ou LUTÁCEAS: Compreendem os sedimentos cuja granulometria está entre os


tamanhos de silte e argila; segundo Wentworth (1922) as argilas são partículas menores que 0,004 mm e os
siltes apresentam tamanho entre 0,004 e 0,062 micras. Seus equivalentes litificados são chamados argilitos
e siltitos, respectivamente. Os depósitos argilosos apresentam 80% de sua porosidade saturada com água,
que pode ser perdida por desidratação e compactação, resultando na diminuição de até 40% de seu volume.
Os constituintes das rochas pelíticas são argilo-minerais, grãos detríticos (quartzo, feldspatos, micas e
minerais pesados), matéria orgânica (óleo cru, asfalto e gás natural) e carbonatos. Assim, estes depósitos
são formados basicamente por sílica, apresentando, também, alumina (na forma dos argilo-minerais), ferro
(na forma de hidróxidos) e outros elementos como, K, Mg, Na e P. A relação SiO2/Al2O3 será maior,
quanto maior o tamanho do grão.
A diferenciação entre os depósitos é feita conforme a concentração de cada um dos componentes.
A matéria orgânica está presente em quase todos os sedimentos, mas é mais abundante nas argilas.
Sedimentos muito ricos em matéria orgânica são chamados sapropélitos, diminuindo a concentração, temos
o folhelho oleoso, o folhelho orgânico e finalmente, a argila quase livre de matéria orgânica, o ortoargilito,
formado principalmente por argilo-minerais (que são filosilicatos de alumínio hidratados).
Folhelhos - são rochas pelíticas consolidadas que apresentam laminação. Formam quase 80% das
seções estratigráficas conhecidas, embora estejam menos expostos que os calcários e arenitos por
serem facilmente alterados. Os folhelhos têm composição bastante variada, podendo ser
quartzosos, micáceos ou ricos em caolinita, dependendo da bacia de sedimentação. A composição
dos folhelhos mais comuns é dividida em três partes iguais, uma formada por quartzo, outra por
argilo-minerais e a terceira parte é composta por uma mistura de vários minerais (carbonatos,
óxidos de ferro, matéria orgânica). A laminação dos folhelhos pode resultar de três formas, na
alternância de granulometria das partículas aportadas, na mudança da quantidade de matéria
orgânica fornecida ou pela alternância na deposição da quantidade de carbonatos. Estas variações
decorrem da mudança na velocidade de decantação ou na modificação do aporte de material para a
bacia, principalmente pela sazonalidade do ambiente deposicional.
folhelhos carbonosos ou folhelhos negros são excepcionalmente ricos em matéria orgânica
(entre 3 e 15%), por isso são altamente físseis, desagregando-se em lascas finas, semi-flexíveis.
Eles são formados em condições anaeróbicas, apresentando sulfetos e uma concentração
anômala de metais traços, como Urânio, Vanádio, Níquel e Cobre. Formam-se em ambientes
redutores, como no fundo de lagos e em planícies de inundação fluviais.

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folhelhos calcíticos apresentam menor fissilidade e podem passar gradualmente para calcário
argiloso pelo aumento da concentração de carbonato. Quando um sedimento argiloso contém
de 35 a 65% de carbonato de cálcio, forma-se a marga.
Lamas - são os sedimentos inconsolidados que apresentam uma mistura de silte e argila com um
pouco de sedimentos arenosos.

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Os sedimentos pelíticos são compostos principalmente de sílica e alumina. Existindo uma estreita
relação entre o percentual de SiO2/Al2O3, sendo que a razão aumenta nas rochas pelíticas mais grosseiras e
diminui nas mais finas. O ferro aparece como pigmento e como constituinte de minerais de pouca
abundância. Também encontra-se com freqüência K, Mg, Na e P, cujos teores variam conforme o tipo de
argilo-mineral presente. A composição mineralógica é mais difícil de ser determinada, sendo que nas
frações grosseiras os minerais mais comuns são: quartzo e feldspatos, e na fração mais fina predominam os
argilo-minerais. Conforme a composição, pode-se diferenciar três grupos de argilo-minerais: as illitas,
esmectitas e as caulinitas; também podemos mencionar as cloritas e as glauconitas.
Caolinitas - apresentam a estrutura mais simples e são formadas a partir da alteração hidrotermal e
intempérica dos feldspatos. Elas podem ocorrer como cimento autigênico em alguns arenitos e em
grandes concentrações, formando argila pura de caolinita, usada para fabrico de cerâmica, papel
e na indústria farmacêutica. Rochas de caolinita pura têm origem continental, já que em presença
de água do mar ela transforma-se em argilo-minerais mais complexos.
Illitas: sua estrutura apresenta três camadas e contém mais de 8% de K2O. Este potássio pode ter
origem na degradação incompleta de feldspatos potássicos em caolinita, ou na alteração da
caolinita em ambiente marinho. É o argilo-mineral mais abundante.
Esmectitas: também apresentam três camadas, onde aparecem Mg e Ca e podem possuir mais de
20% de água. Possui a propriedade de expandir-se e contrair-se conforme adsorve ou perde água.
Os depósitos formados principalmente por esmectitas são chamados de bentonitas e são formados
pela alteração de cinza vulcânica in situ; podendo ocorrer tanto em ambientes marinhos ou
terrestres.
Cloritas: têm grandes semelhanças com os argilo-minerais já descritos, mas também
aproximam-se bastante do grupo das micas. Sua estrutura consiste em camadas mistas com mais
de 9% de Fe2O e 30% de MgO. Formam-se a partir da alteração de micas primárias, ocorrendo
como mineral acessório de areias imaturas e rochas pelíticas. As cloritas substituem as illitas e
outros argilo-minerais durante o metamorfismo.
Glauconita: apresenta-se em grãos bem arredondados, verdes, comuns em sedimentos marinhos
que são formados por misturas de argilo-minerais, sendo um deles a glauconita. Ela é formada por
três camadas contendo K, Fe e Mg e origina-se da substituição dos carbonatos presentes em
pellets fecais e nas carapaças de foraminíferos. Os processos responsáveis pela formação da
glauconita ainda são muito discutidos, mas até agora sabe-se que, independente do processo,

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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

forma-se em baixas temperaturas e em ambientes que não são nem muito redutores e nem muito
oxidantes, sendo a profundidade ótima para sua formação entre 50 e 1000 m.

) *

Conforme seu tamanho de grão, os sedimentos piroclásticos podem ser separados em três
categorias:
Aglomerados: correspondem aos conglomerados e são formados por erupções explosivas (ejeção
das "bombas vulcânicas") e pela desagregação das rochas vulcânicas dentro e nos flancos da
caldeira. Normalmente ocorrem próximos do cone vulcânico.
Areias vulcanoclásticas: são de dois tipos, areias erosivas, formadas através da desagregação das
rochas extrudidas por processos subaéreos ou subaquosos e areias piroclásticas, que são ejetadas
na atmosfera durante as erupções, podendo ser espalhadas por vários quilômetros em volta dos
vulcões. De modo geral, as areias vulcanoclásticas são pobremente selecionadas, pois são
rapidamente destruídas pelo retrabalhamento. Durante o soterramento, essas areias sofrem
hidratação e carbonatação, formando carbonatos autigênicos, argilas e zeolitas. Apesar dos
depósitos vulcânicos serem fracos reservatórios de petróleo e água, são de interesse para
mineração pela presença de depósitos metalíferos.
Cinza vulcânica: pode ser transportada através do mundo inteiro. As cinzas vulcânicas ou tephra
podem constituir os sedimentos pelágicos em quantidades traços, pois tendem a sofrer intensa
alteração pós-deposicional, originando as bentonitas.

São as rochas formadas no interior das bacias deposicionais, e podem ser chamadas de rochas
químicas. Nesta classe, a composição é o parâmetro mais utilizado para a classificação. Podem ser
divididas em rochas orgânicas, como as areias carbonáticas, e inorgânicas, como os evaporitos. Nem todos
sedimentos químicos são sindeposicionais (formados no momento da deposição), os processos
diagenéticos também são importantes na gênese de alguns evaporitos, dolomitos, fosfatos e cherts. O
tamanho médio do grão pode ser utilizado como um parâmetro secundário para a determinação de classes
menores.

a. CARBONATOS: são as rochas químicas mais importantes. A classificação dos carbonatos surgiu nos
anos 50 impulsionada pelo interesse das indústrias de petróleo, já que são ótimos aqüíferos e reservatórios
de hidrocarbonetos devido a sua alta porosidade. Podem ter origem (a) orgânica, pela decantação das
carapaças de organismos planctônicos, formando as vasas, ou (b) química, pela precipitação direta dos
elementos dissolvidos na coluna d'água, como os oólitos e o cimento da maioria das rochas.
Os carbonatos de origem química em ambiente marinho raso formam-se quando a água fria de
maiores profundidades atinge a superfície e aquece-se rapidamente. Como os carbonatos são mais
facilmente dissolvidos em menores temperaturas, ao atingir a superfície a água torna-se supersaturada,
85
precipitando uma parcela do carbonato dissolvido. O maior exemplo deste processo é o Grande Banco das
Bahamas, Flórida, EUA. A precipitação de carbonato formou um platô submerso que apresenta 700 Km de
comprimento e 300 Km de largura, em profundidades menores que 10 m. Os carbonatos marinhos de águas
profundas constituem-se de depósitos de carapaças de organismos planctônicos, como os pterópodos e os
foraminíferos, chamados de vasas carbonáticas. Estes depósitos formam-se onde a produtividade primária
das água superficiais é bastante alta, desenvolvendo a população destes organismos. A presença das vasas é
limitada em profundidades maiores que 4000 ou 4500 m devido a CCD, ou profundidade de compensação
dos carbonatos. Isto significa que em profundidades maiores que a CCD, a concentração de carbonatos é
tão baixa, que qualquer carbonato aportado é dissolvido antes de atingir o fundo. A formação de carbonatos
em águas doces pode ocorrer em lagos que apresentam supersaturação de sais, onde há a precipitação
química dos carbonatos. Pode ocorrer, também, a precipitação de carbonatos em bacias evaporíticas. Em
clima árido, a água subterrânea apresenta um movimento ascendente devido ao excesso de evaporação,
chamado movimento capilar. Ao atingir a superfície, a água evapora, precipitando os sais dissolvidos
durante a migração, formando uma crosta de calcita nos interstícios dos grãos superficiais.
Os principais minerais carbonáticos são a calcita (carbonato de cálcio) e a dolomita (carbonato de
cálcio e magnésio), podendo apresentar a siderita (carbonato de ferro) e a magnesita (carbonato de
magnésio). O carbonato de cálcio é o constituinte dominante nos carbonatos modernos e nos calcários
antigos. Pode ocorrer como duas espécies de minerais, aragonita e calcita. A calcita constitui mais da
metade do volume de todos os carbonatos; cristaliza-se na forma romboédrica e pode ser formada por
diferentes materiais esqueléticos (formando vasas carbonáticas). A aragonita cristaliza-se na forma
ortorrômbica e é instável, transformando-se em calcita logo após sua deposição. Por isso nos calcários
antigos só ocorre a calcita. A dolomita é outro mineral carbonático importante, formado por cálcio e
magnésio, podendo ter ferro substituindo o Mg. Não se origina de material esquelético, mas apresenta-se
na forma cristalina pela substituição de outros carbonatos. A siderita é o carbonato férrico e ocorre
principalmente como precipitado primário, em oólitos. Formam-se em ambientes de água doce e marinhos
restritos.
Com exceção dos corais e das lamas calcárias, os constituintes básicos da maioria dos calcários são
partículas tamanho areia. Estas partículas podem ser oólitos, pellets, fragmentos de conchas ou carapaças
de organismos plactônicos. Os espaços entre estas partículas podem ser preenchidos por matriz de lama
calcária, cimento calcítico ou podem ser preenchidos por fluidos. Normalmente as classificações dos
calcários utilizam a composição e porcentagem de cada um dos elementos descritos acima para diferenciar
os grupos. Daí surgem nomes como, calcário oolítico, calcário coralíneo, calcário micrítico, etc. Folk
determinou a divisão dos calcários em três grupos: os aloquímicos, formados por partículas que tiveram
origem química ou bioquímica dentro da bacia deposicional, ortoquímicos quando formados
principalmente por cimento e arrecifes quando formados por recifes de corais.
Os constituintes aloquímicos podem ser de quatro tipos:
oólitos e pisólitos: os oólitos variam de alguns micrômetros até 2 mm de diâmetro, formados por
calcita ou aragonita. Quando o diâmetro for maior que 2 mm, recebem o nome de pisólitos.
Caracterizam-se pela forma esferoidal e estrutura concêntrica em volta de um núcleo. O núcleo
pode ser grãos de quartzo, fragmentos de rochas, pedaços de conchas ou oólitos menores. São
formados em locais onde ocorre a precipitação química de carbonato, principalmente em águas
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SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

rasas de regiões quentes. Também deve haver correntes que revolvem o material formador do
núcleo, expondo todos seus lados à precipitação de carbonato, propiciando a formação da estrutura
concêntrica.
bioclastos: consistem nos materiais esqueletais, podendo ser a fração predominante em alguns
calcários. As rochas carbonáticas formadas por restos orgânicos são chamadas de coquinas e os
principais componentes orgânicos originam-se das algas calcárias, como a Halimeda e o
Lithothamium, foraminíferos, espículas de esponjas e fragmentos de diversos organismos, como
equinodermos, briozoários e braquiópodes.
intraclastos: são fragmentos de sedimentos carbonáticos pré-existentes, que foram redepositados
como sedimento clástico, determinando um arcabouço diferente do original.
pellets: são partículas de poucos milímetros, ovóides ou esféricas, sem estrutura interna visível.
Podem ter origem nos excrementos de diversos organismos.

Os constituintes ortoquímicos são de dois tipos:


micrito: também chamado de calcita microcristalina, por resultar da cristalização de grãos muito
pequenos. Normalmente os calcários micríticos apresentam muitas impurezas, como silte e argila,
que se acumulam em locais calmos. O micrito é considerado uma matriz deposicional.
calcita espática: é mais grosseira, com grãos de até 0,1 mm, apresentando limites nítidos entre os
cristais. A calcita espática é denominada de matriz pós-deposicional.

O formadores dos arrecifes são moluscos, corais, braquiópodes e esponjas. E desenvolvem-se onde
o coral proporciona substrato para o seu desenvolvimento. As partes inferiores dos arrecifes normalmente
consistem apenas dos restos esqueletais, enquanto a parte superior apresenta os organismos ainda vivos.
A classificação dos carbonatos é feita utilizando os quatro componentes aloquímicos com o tipo de
componente ortoquímico, por exemplo: oosparito, intrasparito, biosparito e pelsparito (consistem,
respectivamente, de oólitos, intraclastos, bioclastos e pellets com calcita espática), oomicrito, intramicrito,
biomicrito e pelmicrito (consistem, respectivamente de oólitos, intraclastos, bioclastos e pellets com
micrito); ainda temos uma classe de micrito puro e outra de arrecifes. Assim, são 10 tipos de rochas
carbonáticas, oito derivam do tipo de partícula (oólitos, pellets, etc), uma consiste no micrito propriamente
dito e outra nos arrecifes.

b. ROCHAS CARBONOSAS: ocorrem dois grupos de rochas carbonosas: as da série do carvão (turfa,
linhito, hulha e antracito) e as rochas oleígenas, de onde se extrai hidrocarbonetos (folhelho betuminoso).
O carvão é uma rocha sedimentar formada por processos biogeoquímicos e origina-se da
acumulação de detritos vegetais sob condição anaeróbica em regiões pantanosas. Principalmente
em épocas de clima quente e úmido, pois nestas condições a vegetação é mais abundante. O carvão
tem sido encontrado em estratos Pré-cambrianos até Holocênicos, mas somente após o
desenvolvimento de uma flora terrestre que data do Siluriano Superior acumulações em grande
escala foram possíveis. Na história da Terra são conhecidos dois períodos de grande formação de
87
carvão: o Carbonífero, principalmente o Pensilvaniano (325 milhões de anos a.P.), e o Cretáceo
Superior (100 milhões de anos a.P.).
Normalmente, as rochas da série do carvão são classificadas pelo teor de carbono e pelo poder
calorífico. A transformação do material carbonáceo através de uma série contínua, que vai da turfa até o
antracito e é conhecido como carbonificação, através da qual o produto fica mais escuro e mais puro. A
carbonificação ocorre em dois estágios, o primeiro é bioquímico e consiste na conversão bacteriana do
material vegetal em turfa, e o segundo é geoquímico consistindo de mudanças químicas e físicas
relacionadas à pressão e temperatura. Na verdade, a variação da série é uma medida do grau de
metamorfismo e diagênese que o carvão foi submetido. Por exemplo, em estratos altamente dobrados
presentes na Pensilvânia (EUA) ocorre o antracito, mas em estratos levemente dobrados de mesma idade
ocorre apenas a hulha. De forma geral, não apenas o dobramento das camadas influencia na formação do
carvão, mas também a temperatura (gradiente geotérmico) e o tempo de formação (determina maior
exposição aos fatores pressão e temperatura).
A turfa é um depósito sedimentar de idade recente que ainda está em formação. Apresenta restos
vegetais, principalmente de plantas herbáceas. Suas propriedades físicas e químicas são bastante
variáveis. Tem densidade próxima de 1, teor de carbono de 55-65% do peso seco, teor de
umidade de 65-90% e seu poder calorífico é de 3000 a 5000 calorias/grama.
O linhito é um carvão acastanhado de idade Mesozóica ou Cenozóica, apresenta restos
vegetais, onde as plantas lenhosas ocupam o maior espaço. Tem densidade de 1,1 a 1,3; teor de
carbono total de 65-75% e o de umidade entre 10 e 30%. Seu poder calorífico é de 4000 a 6000
cal/g.
A hulha ou carvão betuminoso é o carvão negro encontrado em rochas do Paleozóico e do
Mesozóico Inferior. Apresenta poucos restos vegetais cuja estrutura pode ser reconhecida. Sua
densidade é de 1,2 a 1,5, o teor de carbono total é de 75 a 90% e umidade de 2 a 7%. Ocorre no
RS e SC, com poder calorífico de 5000 a 6800 cal/g, sendo que em alguns países este poder é
maior que 8000 cal/g.
O antracito é um carvão com densidade de 1,4 a 1,7, tem aspecto vítreo e apresenta fratura
conchoidal brilhante, sempre com mais de 90% de carbono. É pobre em voláteis e tem poder
calorífico maior que 8000 cal/grama. Quando associado à hulha, forma o carvão mineral.
O folhelho betuminoso é uma rocha de granulação fina que contém matéria orgânica da qual
quantidades consideráveis de petróleo podem ser retiradas por aquecimento. Elas podem
apresentar petróleo livre, contido em algum bolsão ou em veios na forma de asfalto, mas a grande
parte do conteúdo orgânico dos folhelhos permanece na forma de querogênio, que só é liberado
pela temperatura. Os depósitos de querogênio datam do Cambriano ao Terciário. E são formados
em ambientes de grandes lagos, mares rasos e pequenas lagoas associadas a pântanos produtores
de carvão. Os folhelhos betuminosos podem ser carbonáticos, apresentando calcita e dolomita em
grandes concentrações, ou silicosos, ricos em quartzo e feldspatos de granulação fina. Os folhelhos
betuminosos do Paleozóico Superior são mais abundantes e presentes em todos os continentes,
provavelmente, refletindo o aumento das fontes de matéria vegetal.

88
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

c. SEDIMENTOS FERRUGINOSOS: o ferro é o quarto elemento mais abundante na crosta da Terra,


apesar disto, as rochas sedimentares que apresentam ferro, raramente apresentam teores mais altos que
15%. As rochas sedimentares ricas em ferro, consistem nas reservas mundiais de minérios de ferro, sendo a
maioria datados do Pré-cambriano. Acredita-se que a fonte de ferro para os sedimentos atuais, seja a grande
alteração química existente em regiões de clima tropical e relevo suave. O que pode ser exemplificado pelo
rio Amazonas, que apresenta de 2 a 3 ppm de ferro, enquanto os sedimentos de sua foz apresentam até 3%
de ferro; para comparação, as água fluviais têm em média, 0,67 ppm de ferro. Atualmente, os minerais
ricos em ferro formam-se em planícies de maré, regiões pantanosas, oceanos de regiões tropicais e lagos
supersalinos.
Os sedimentos ferruginosos podem ocorrer na forma de óxidos, carbonatos, silicatos e sulfetos. Os
principais óxidos e hidróxidos de ferro são a hematita, a magnetita e a goethita. A hematita (Fe2O3) forma
oólitos por substituição e pode ocorrer como mineral singenético em muitos depósitos pré-cambrianos e é o
principal óxido. A siderita (FeCO3) é o principal carbonato de ferro presente, principalmente, em depósitos
pré-cambrianos e fanerozóicos. Pode formar depósitos econômicos quando a concentração dos elementos
associados (S, P) for baixa. Os silicatos de ferro são comuns nos depósitos pré-cambrianos ricos em ferro.
Os principais minerais são a chamosita, a greenalita e a glauconita. Os sulfetos de ferro mais comuns são a
pirita e a marcassita (FeS2). A pirita é mais comum, encontra-se associada aos folhelhos negros pré-
cambrianos.

d. FOSFATOS: a grande maioria do fósforo existente na crosta terrestre está na forma de apatita, sendo
que os outros minerais são todos formados a partir da alteração das rochas fosfáticas e do guano. O guano é
uma substância rica em fosfato, formada pela alteração de excrementos de aves marinhas. A apatita aparece
em três formas isomórficas, a fluorapatita (Ca5(PO4)3F), a cloroapatita (Ca5(PO4)3Cl) e a hidroxiapatita
(Ca5(PO4)3OH). As rochas fosfáticas podem ocorrer em depósitos marinhos modernos e antigos.
Sedimentos ricos em nódulos fosfáticos ocorrem nas plataformas continentais atuais do oeste dos EUA e da
África, norte da América do Sul e leste da Austrália e Nova Zelândia. Estes sedimentos fosfáticos podem
ser formados diageneticamente, a partir de vasas de diatomáceas, ou pela substituição diagenética em
calcários que foram erodidos, formando pláceres de sedimentos fosfáticos. No Brasil, foram verificados
nódulos de fosfatos que apresentaram de 2 a 18% de P2O5 nos flancos do Platô do Ceará. Estas altas
concentrações decorrem na diminuição da solubilidade dos fosfato com o aumento da temperatura. A água
do mar está quase saturadas de fosfato, variando de 0,3 ppm em águas frias profundas a 0,01 ppm em águas
quentes superficiais. Ao atingir o flanco do Platô, a água ressurge, atingindo menores profundidades e
precipitando o fosfato excedente.
Alguns nódulos podem apresentar até 95% de fosfato, mas normalmente apresentam impurezas
como matéria orgânica, carapaças silicosas, fragmentos de conchas calcárias, dentes de tubarões e outras
partículas detríticas. Alguns elementos como o cálcio, o fósforo e o flúor podem ser substituídos por
elementos traços de importância econômica, como o urânio, transformando os sedimentos fosfáticos em
fontes potenciais para exploração futura destes elementos.

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e. EVAPORITOS: são depósitos formados pela precipitação de sais em ambientes onde a evaporação é
maior que a renovação de água doce; ocorrem em mares reliquiares, lagunas e salinas. Existem quase 40
minerais que formam os depósitos evaporíticos, mas 20 aparecem apenas em quantidades traço. Os sulfatos
e os haletos são os principais formadores dos depósitos, sendo que os sulfatos mais comuns são o gipso e a
anidrita e entre os haletos a halita é a mais conhecida. Normalmente o gipso ocorre em superfície e a
anidrita em subsuperfície, mas a transformação de um para outro depende do gradiente geotérmico e da
salinidade da água. A anidrita geralmente substitui o gipso em profundidades entre 300 e 700 m. A halita
ocorre em seqüências de até 1000 m de espessura, normalmente aparece laminada por camadas mais
escuras ricas em inclusões e camadas mais claras livres de inclusões. As inclusões consistem
principalmente de anidrita, podendo ocorrem dolomita, quartzo, calcita e argilo-minerais.
A maioria dos evaporitos são de origem marinha, sendo que no Brasil ocorrem em sedimentos
paleozóicos nas bacias do norte do país e em cretáceos nas bacias costeiras. A água do mar contém
35‰ de sais dissolvidos, principalmente NaCl (78%), MgCl2 (10%), MgSO4 (5%), CaSO4 (4%),
K2SO4 (2,5%) e CaCO3 (0,5%). A formação dos evaporitos ocorre quando o meio fica saturado de sais,
assim sua precipitação segue uma ordem dependente do grau de solubilidade de cada sal, que é a
seguinte: gipsita (CaSO4.H2O), anidrita (CaSO4), halita (NaCl) e polihalita (Ca2K2MgSO4.2H2O).

f. SILICOSOS: os de origem orgânica são as vasas de diatomáceas (diatomitos) e o sílex de espículas de


esponjas. Os diatomitos podem conter até mais que 90% de frústulas de diatomáceas e têm alta porosidade
e baixo peso específico. As carapaças de diatomáceas e radiolários e as espículas de esponjas são formadas
por opala. O chert é uma rocha resistente formada por sílica quase pura, apresentando fratura conchoidal e
pureza vítrea. O jaspe e o porcelanito são variedades de chert formados por minerais e hábitos diferentes. O
chert ocorre em nódulos ou camadas e sua composição mineral parece depender da composição da rocha
hospedeira. Por exemplo, no Pacífico central o chert composto de cristobalita é encontrado em sedimentos
ricos em argilo-minerais, enquanto o chert quartzoso está restrito aos sedimentos carbonáticos. A origem do
chert pode ser da alteração de produtos vulcânicos ou precipitado a partir da dissolução das carapaças de
organismos silicosos. Acredita-se que a maior parte dos cherts tenham origem biogênica, a partir da
dissolução da opala que é precipitada na forma de cristobalita e, posteriormente, transformada em quartzo.
Não há conhecimento da formação de chert em sedimentos modernos.

) ,+ )

A mudança na composição química da rocha-fonte para as rochas sedimentares resulta da


estabilidade dos minerais originais e dos processos pré e pós-deposicionais que o sedimento sofre. Assim,
as diminuições na concentração de determinado elemento pode resultar da sua dissolução ou transformação
durante o ciclo sedimentar; enquanto o aumento na concentração pode representar a estabilidade do
elemento e a diminuição de outros elementos mais instáveis.
A Tabela 6 apresenta a composição química da principal rocha prímária, através da composição
média das rochas ígneas, e a média das principais rochas sedimentares. A comparação dos dados
apresentados deve ser feita em função do comportamento dos compostos frente aos processos sedimentares.

90
SEDIMENTOLOGIA PROFa. LUCIANA SLOMP ESTEVES

A quantidade de sílica livre (SiO2) aumenta grandemente em ciclos repetidos de intemperismo e


erosão. Principalmente pela transformação dos feldspatos em argilo-minerais, o que pode ser mostrado pela
diminuição da sua porcentagem das rochas ígneas para um arenito médio. Enquanto consiste de metade da
composição de uma rocha ígnea, os feldspatos correspondem apenas a 12% de um arenito médio. O
quartzo é um mineral muito estável nas condições reinantes na superfície da Terra, assim, apresenta um
enriquecimento relativo durante o ciclo sedimentar. Isto pode ser verificado a partir de suas concentrações
nas rochas ígneas e nas sedimentares. Nas primeiras consiste de 12 a 20% da composição mineralógica e
nas últimas, forma 67 a 70% na composição de um arenito médio. Os minerais ferromagnesianos são
completamente destruídos, com exceção da moscovita. Os elementos originados desta dissolução
reorganizam-se e aparecem como novos minerais, principalmente, carbonatos, óxidos e hidróxidos. Por este
motivo observa-se um decréscimo na quantidade de ferro ferroso e um aumento de ferro férrico quando
comparamos a concentração média das rochas ígneas com a das rochas sedimentares.

Tabela 6. Composição química média de algumas rochas baseada na porcentagem dos óxidos presentes.
R. Ígnea R. Sedim. Argilito Arenito Calcário
SiO2 59,14 57,65 58,10 78,33 5,19
TiO2 1,05 0,57 0,65 0,25 0,06
Al2O3 15,34 13,39 15,40 4,77 0,81
Fe2O3 3,08 3,47 4,02 1,07 0,54
FeO 3,80 2,08 2,45 0,30 -
MgO 3,49 2,65 2,44 1,16 7,89
CaO 5,08 5,89 3,11 5,50 42,57
Na2O 3,84 1,13 1,30 0,45 0,05
K2O 3,13 2,86 3,24 1,31 0,33
H2O 1,15 3,23 5,00 1,63 0,77
P2O5 0,30 0,13 0,17 0,08 0,04
CO2 0,10 5,38 2,63 5,03 41,54

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