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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Verenice Moteleski Olchel

O papel da mãe na educação dos filhos em algumas famílias na


cidade de Curitiba.

CURITIBA
2010
Verenice Moteleski Olchel

O papel da mãe na educação dos filhos em algumas famílias


da cidade de Curitiba.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Pós Graduação em Psicologia Clínica da
Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito
parcial para a obtenção do título de Especialista
em Psicologia Clínica.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Antunes

CURITIBA
2010
TERMO DE APROVAÇÃO

Verenice Moteleski Olchel

O papel da mãe na educação dos filhos em algumas famílias da


cidade de Curitiba.

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista em Psicologia
Clínica no Curso de Pós Graduação em Psicologia Clínica da Faculdade de Ciências Biológicas e da
Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná,

Curitiba, Junho de 2010.

__________________________________
Banca examinadora: Denise de Camargo

Pós Graduação em Psicologia Clínica


Universidade Tuiuti do Paraná

____________________________________
Orientadora: Profª Dra. Maria Cristina Antunes
RESUMO

No mundo atual a maioria das mães trabalham, e têm dificuldades com a


tarefa de educar e dar limites a seus filhos, ficando assim divididas entre o
trabalho e a educação de seus filhos. Sentem dúvidas quanto ao seu
procedimento na educação e referente á questão de impor limites a seus
filhos. No decorrer da educação de seus filhos sentem muitas alegrias, mas
também se deparam com vários conflitos e aflições. Ao assumuir seu papel
de mãe, muitas perguntas passam pela cabeça das mesmas, muitas se
sentem inseguras, desorientadas e não têm ainda definido o seu papel de
educadoras. Portanto por meio da presente pesquisa foi possível analisar
através de uma entrevista, semi-aberta, com perguntas sobre o histórico da
criança, rotina familiar, os limites, o papel do pai e da mãe na educação de
seus filhos, relação da criança com outros cuidadores, educação recebida
pela mãe da criança e infância da mãe. Como as mães lidam com os limites
na educação dos filhos. também analisou a educação e os limites que as
mães tiveram em sua infância, as semelhanças e diferenças na educação
recebida pela mãe e a forma como desempenha seu papel, incluindo as
dificuldades que as mães têm em colocar limites em seus filhos. Esta
entrevista semi-aberta foi aplicada em dez mães entre 25 a 37 anos que
residiam na cidade de Curitiba que apresentavam alguma queixa referente a
educação de seu (s) filho (s). A entrevista foi gravada em áudio, e em seguida
transcrita, posteriormente foi realizada uma análise de conteúdo das
entrevistas e a discussão dos resultados teve como embasamento teórico o
Psicodrama.

Palavras chave – Educação e limites – Mães – Psicodrama.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1
1.1 Teoria de Papéis e Matriz de Identidade ...............................................................1
1.2 Educação e limites ................................................................................................4
2 OBJETIVOS .............................................................................................................9
3 MÉTODO ..................................................................................................................9
3.1 Participantes ........................................................................................................10
3.2 Procedimentos .....................................................................................................10
3.3 Instrumentos ........................................................................................................11
3.4 Análise dos resultados ........................................................................................12
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................12
Quadro 1. Dados sócio demográficos de um grupo de mães da Cidade de Curitiba
P/R .............................................................................................................................13
4.1 Educação e limites...............................................................................................13
4.2 Educação recebida ..............................................................................................15
4.3 Educação recebida x educação dos filhos ..........................................................18
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................21
REFERENCIAS ........................................................................................................25
ANEXOS....................................................................................................................27
1- INTRODUÇÃO

1.1 - Teoria de Papéis e Matriz de Identidade

Esta pesquisa tem como tema o papel da mãe na educação dos filhos e teve

como base a teoria psicodramática. Segundo Schutzenberger (1970), a teoria do

psicodrama e também para Moreno é uma ciência que procura a verdade ou a

realidade das pessoas, e emprega métodos dramáticos, o psicodrama permite

verificar o papel que cada indivíduo desempenha em várias ocasiões. O papel de

cada um, quem determina é o outro.

Segundo Gonçalves, Wollf e Almeida (1988) o termo - papel implica a inter–

relação e ação. As teorias psicodramáticas induzem o conceito de papel para as

extensões da vida, associam papel como algo que integra a representação teatral,

ação e colocação social. Na sociedade as pessoas exercem tarefas segundo a sua

classe social. Todos os papéis desempenhados são observáveis. Conforme Moreno,

o conceito de papel seria melhor adequado em relação ao de personalidade, uma

vez que as denominações vagas impediam que fosse conectado aos fatos que

podem ser observados e mensurado. Definiu o conceito de papel sendo a menor

unidade que pode ser observado de conduta. Surge em específicas ocasiões e

situações, onde pessoas e objetos se envolvem.

Ainda para Gonçalves, Wollf e Almeida (1988) Os papéis se complementam.

Não existe papel se não houver outro para complementar. Como não existe papel de
mãe se não houver papel de filho e vice-versa. Estão integrados com ações que são

realizadas no mundo do ser humano ou nos relacionamentos interpessoais.

Segundo Bustos (1979) no papel psicodramático, no que diz respeito à

manifestação da existência, ocorre uma movimentação de negação de si como

papel, acaba, por domínio da sua parcialidade onde situa-se, e regressa ainda como

papel. O indivíduo estará sempre em envolvimento com algum papel e cogita uma

maneira de envolvimento dele com o mundo que o faz uma pessoa necessariamente

social. O papel se inseriu no termo científico começando no teatro, contudo não é

um conceito sociológico ou psiquiátrico.

O papel é a forma de funcionamento que o indivíduo assume em algum


momento, uma situação especifica em que outras pessoas ou objetos
estão envolvidos. (...) A teoria de papeis não está limitada somente para o
social, deve incluir três dimensões: papéis sociais, papéis psicossomáticos
e papéis psicodramáticos. (MORENO, 1988, P. 27).

Para Moreno (1993), o Surgimento dos papéis ocorre antes do aparecimento do

eu. Ao nos desenvolver-mos os papéis vão se unindo e constroem uma forma de eu

psicodramático, isso ocorre também com os papéis sociais.

Segundo Moreno (1993), o bebê vive em um universo indiferenciado (matriz

da identidade) essa matriz existe mas não é experimentada. Em primeiro lugar

aparecem os papéis psicossomáticos ou seja: fisiológicos.

O papel pode ser definido como uma pessoa imaginária criada por um
autor dramático, pode ser definido como uma parte ou um caráter
assumido por um autor para a realidade. O papel ainda pode ser definido
como uma personagem ou função assumida na realidade social, por
exemplo, um policial, um juiz, um médico, um deputado. Finalmente, o
papel pode ser definido como as formas reais e tangíveis que o eu adota.
Eu, ego, personalidade, personagem etc. são efeitos acumulados,
hipóteses heurísticas, postulados meta psicológicos, “logóides”. O papel é
uma cristalização final de todas as situações numa área especial de
operações porque o individuo passou (por exemplo, o comedor, o pai, o
piloto de avião) (MORENO, 1993, p. 206).

Segundo Gonçalves (1988), tudo começa no momento do nascimento da

criança, o contato dela com a mãe, o mundo que essa mãe passa a esse filho, o

relacionamento da criança com seus pais, tudo isso é denominado pela linha

psicodramática de matrização da identidade. Segundo Moreno (1993), a criança

adquire mais autonomia, a matriz de identidade aos poucos se dilui. Quando a

matriz de identidade fica estabelecida, fica desenvolvido o alicerce para “futuras”

ações combinatórias.

Segundo Gonçalves, Wollf e Almeida (1988), os papéis surgem primeiramente

dentro da matriz de identidade, onde se forma, podemos dizer, a base psicológica

para desempenhar os papéis. Moreno utilizou nomes para as três principais fases da

matriz de identidade:

1º- Matriz de identidade total indiferenciada (fase do duplo).

2º- Matriz de identidade total diferenciada ou de realidade total (fase do espelho)

3º- Matriz da brecha entre fantasia e realidade (fase de inversão de papéis).

Sendo que o que constitui o primeiro universo da criança é a 1º e a 2º fase.

Para Moreno (1993), no campo da identidade acontece a adoção infantil de

papéis o de dar e receber papéis, como podemos exemplificar com o ato da mãe

que atua como ego auxiliar ao alimentar seu filho e este recebe o alimento.

"A mãe é um ego auxiliar ideal do bebê de quem está grávida. Ainda o é
depois de nascer a criança a quem ela alimenta e de quem cuida, mas o
distanciamento orgânico e psicológico manifesta-se cada vez mais, depois
que o bebê nasceu. A mãe é um exemplo de um ego auxiliar instintivo".
(Cukier ,2010, p.4).
1.2 – Educação e limites

Conforme Áries (1981), na idade média a educação das crianças ocorria com

os adultos aos sete anos conviviam com outra família, porém a partir desta data em

diante a educação passou a ser comandada mais pela instituição escolar. Com isso,

ocorreu também a preocupação dos pais em vigiar seus filhos mais de perto, ficar

mais perto deles e de não ficar distante deles. A família se voltou para a criança.

Conforme Áries (1981), na segunda metade do século XVII mantinham

sugestões para as crianças no que se refere ao comportamento, com instruções

rígidas de como as crianças deveriam se comportar na escola. Os pais tinham um

tratado de como fazer para corrigir as crianças, com que idade deveriam ser

alfabetizadas, entre outras coisas. A criança deveria se comportar em casa mediante

aquilo que aprenderam na escola.

Áries (1981),relata que se a criança se comportasse bem como um homem,

seria lavada e acariciada, se não se comportasse bem seria agredida com uma

vara, à noite a criança teria de desejar boa noite aos pais e mestres, depois de fazer

suas necessidades teria de tirar sua roupa deitar-se silenciosamente e dormir.

Havia orientações para os pais e mestres que aconselhavam os pais a se comportar

bem perante as crianças a fim de lhes dar bom exemplo.

Segundo Áries (1981), no século XVIII as mulheres começaram a ser tratadas

por “querida mamãe”, o marido se dirigia à esposa pelo mesmo nome pelo qual as

crianças a chamavam: mamãe. As crianças eram chamadas por diminutivos.O pai

ficava ciente de todos os detalhes da vida e era levado muito a sério. Cuidava–se

muito bem da educação das crianças. A saúde e a educação eram motivos para

preocupações dos pais.


Segundo Macedo (2001), com as mudanças na sociedade e o aparecimento

do movimento feminista as mulheres vêm desempenhando papéis diferentes, não

permanecendo somente no ambiente doméstico, mas também indo para o social,

assumem a chefia da casa, tanto no que se refere à situação afetiva quanto à

econômica.

Para Berger (1986), A atuação desses papéis da mulher não ocorre

tranquilamente, geralmente têm conflitos, devido ao modelo antigo de

comportamento dentro da família e individual.

A sociedade não elaborou novas soluções consensuais para qualquer


desses problemas. O que ocorreu foi a abertura de um espaço no qual
estão sendo experimentadas novas formas de tentar equilibrar a vida
pública e a privada, a participação no mercado de trabalho e na produção
doméstica de valores de uso, a liberdade individual e a responsabilidade
para com os filhos, a igualdade e a diferenciação de papéis (DURHAM,
1983, p.41).

Segundo Moreno e Cubero (1995), no que se refere ao desenvolvimento,

sobrevivência, aprendizagens, valores, entre outros do indivíduo, a família tem uma

grande importância, tanto para o desenvolvimento individual tanto no

desenvolvimento na sociedade. O que o indivíduo aprendeu construirá as

características psicológicas da pessoa e serão transmitidas de várias formas.

Para Cerveng e Berthoud (1997), os pais que têm crianças pequenas devem

construir seu papel como educadores, acompanhando, moldando e

consequentemente sendo moldados pelo processo de crescimento dos filhos. Nessa

fase, é muito importante que os pais dediquem-se ao estabelecimento de regras e

limites a fim de que a criança possa criar uma imagem do mundo que a cerca e de si

mesma, passando à nova geração os valores.

De acordo com Schaffer (1996), é plausível que as crenças adquiridas no que

se refere à prática educativa, exerça um papel fundamental em seu desempenho.

Conforme o autor, a primeira diz respeito aos antecedentes culturais dos pais, que
influenciam no modo como pensam sobre a educação infantil. Outra seria a

influência da personalidade de cada progenitor na tarefa de educar as crianças, ou

seja, o tipo de indivíduos que são está relacionado com o que pensam sobre o

desenvolvimento da criança.

Schaffer (1996) diz, que as características dos pais são decorrente do seu

passado, onde viveram, e contribui para a relação com seus filhos que adquirem

este modelo, com isso, o modelo de educação se repete onde os pais passam a

seus filhos e seus filhos passam para seus futuros filhos e assim por diante.

Para moreno, a transferência equivalia ao embotamento ou a ausência do


fator tele. A presença da transferência, enquanto patologia do fator tele
(nesse caso inibido ou enfraquecido), frequentemente é causa de equívocos
e até de sofrimento nas relações interpessoais. ( GONÇALVES, WOLFF E
ALMEIDA, 1988, p. 50)

Gonçalves (1988), diz que os papéis de pai e de mãe estão sofrendo várias

transformações, no mundo atual identificamos no pai traços que o definem como

provedor mais amplo que no anterior, também na mãe, características de alguém

que também produz economicamente e desempenha vários papéis.

Rosset (2007), diz que a geração antiga viveu temendo a autoridade, hoje em

dia vive diante da crítica da autoridade, isso faz com que os pais exerçam o

autoritarismo em vão. Não conseguem estabelecer limites ou orientar.

Frequentemente se consomem pela insegurança e culpa e a sensação de serem

incompetentes.

Conforme Maldonado (2004), os pais que sentem culpa em relação à

educação dos filhos tendem a ser permissivos, por acreditarem estar com dívidas

com os filhos e fazem todas as suas vontades. Esse sentimento de culpa pode ser

derivado do fato de os pais trabalharem fora o dia inteiro e estarem dando pouca

atenção às suas crianças. Outros fatores também seriam o da gravidez indesejável


ou inesperada, separação do casal e ainda por uma questão de anseio pelas coisas

que não tiveram na sua infância, entre outros motivos.

Outro ponto importante vem a ser a ausência dos pais na vida da criança,
em virtude da carga horária dedicada ao trabalho, deixando a convivência
educacional aos cuidados da escola, desde os primeiros momentos, nas
creches e nas instituições educacionais, do governo ou particulares. Esta
necessidade familiar gerou um sentimento de culpa nos pais, que, para
compensar tais circunstâncias, acabam sendo permissivos em demasia
com os seus filhos, impedindo, por conseguinte, momentos de se educar e
proporcionar os valores que devem ser seguidos. (NETO, 2004, p. 1).

Segundo Maldonado (2004), é preciso exercer a autoridade para impor os

limites necessários para as crianças, dar ordens e proibi–las de algumas coisas para

que aprendam a conviver no meio social, também para que aprendam a ter o

controle da impulsividade. O autoritário seria o excesso de limites, ordens, ameaças,

proibições e castigos que daria como efeito o fechamento de áreas importantes de

experiências para a vida da criança, ao contrário da autoridade.

Segundo Padilha (2004), a mãe deve ter uma estrutura psicológica

desenvolvida para que tenha condições de definir as necessidades dos filhos e

oferecer aos filhos cuidados de alimentação, higiene, calor, aconchego, educação,

entre outros. As funções são: de vínculo, nutrição e organização. As funções

paternas seriam direcionadas a, limite e proteção.

Segundo Cerveny (1997), os pais deparam-se com uma difícil situação.

Procuram equilíbrio entre as pressões externas e internas pela condição de

parentalidade. Precisam trabalhar e querem exercer tal função de trabalhadores na

sociedade, mas muitas vezes sentem–se culpados em deixar os filhos sozinhos, não

encontrando na sociedade de hoje opções favoráveis em sua rede de apoio. Antes,

a mãe deixava sua vida profissional para cuidar dos filhos, hoje a participação na

vida financeira não é responsabilidade somente do marido.

Conforme Gonçalves (1988), se a mãe desenvolve seu papel cuidando,

protegendo, correspondendo às necessidades do indivíduo no contra-papel,


consequentemente o desenvolvimento de seu papel será adequado . Com o

desenvolvimento e crescimento do filho são esperadas outras características no

desempenho do papel mãe: educar, orientar, sempre com o propósito de possibilitar

o desenvolvimento do filho, de uma forma mais benéfica também para a mãe. Muitas

vezes a mãe tem dificuldades neste momento, pois algumas acreditam que com o

crescimento do filho elas perderão sua função. Segundo Maturana (1998),

educar é o procedimento em que a criança ou o adulto convive com o outro. O

educar acontece o tempo todo e de maneira recíproca. Com isso, as pessoas

aprendem a viver de uma maneira que se configura de acordo com a convivência na

comunidade em que vivem. A educação é contínua e é para a vida toda, faz do

mundo abertamente observador.

“A nossa cultura ainda deixa as mulheres com a principal responsabilidade

pela criação dos filhos e pela culpa quando algo dá errado” (CAETER, 1995, p.44).

2. OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa foi analisar como um grupo de mães lida com os

limites na educação dos filhos, na cidade de Curitiba.

Os objetivos específicos desta pesquisa foram:

- analisar a educação e os limites que as mães tiveram em sua infância;

- analisar as semelhanças e diferenças na educação recebida pela mãe e na

forma como desempenha seu papel;

- analisar as dificuldades que as mães têm em colocar limites em seus filhos.


3. MÉTODO

3.1. Participantes

Foram entrevistadas dez mães, entre 25 e 37 anos, residentes na cidade de

Curitiba, que apresentam alguma queixa referente à educação de seu(s) filho(s) e

que procuraram uma Clínica Escola de Psicologia.

3.2. Procedimentos

Foi realizada uma entrevista qualitativa, utilizando-se um roteiro semi-

estruturado. A pesquisa qualitativa visa uma relação ativa entre o sujeito e o seu

mundo real, um vínculo entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito ou seja,

o que não pode ser traduzido em números. (MAGALHÃES 2007). Pesquisa

qualitativa é um conjunto de técnicas a ser adotadas para a construção de uma

realidade, ou seja, um caminho de pensamento a ser seguido. (MINAYO 2003)

As mães participantes da pesquisa foram selecionadas através da lista de

espera por atendimento psicológico da Clínica de Psicologia da Universidade Tuiuti

do Paraná. Posteriormente foi agendado por telefone um horário com a mãe da

criança, na clínica de Psicologia da Universidade. A entrevista foi realizada em uma

sala adequada, privativa, para que as participantes se sentissem à vontade para

falar de suas histórias pessoais.


A entrevista foi gravada em áudio e depois transcrita. As mães assinaram um

termo de consentimento informado, contendo informações sobre o objetivo da

pesquisa, os procedimentos, os temas abordados e garantindo o sigilo. Os dados

foram analisados em conjunto de forma que não será possível identificar a mãe e a

criança. Também foi informado que elas poderão desistir da pesquisa e

interromperem a entrevista se assim o desejarem. As mães tiveram ciência da

possibilidade de atendimento no serviço de psicoterapia da Universidade Tuiuti do

Paraná se assim desejarem.

Perante o conteúdo da entrevista, as mães podem ficar fragilizadas

emocionalmente e mobilizar inseguranças em relação ao desempenho de seu papel

de mãe. Dessa forma, as mães e as crianças receberão atendimento psicológico na

clínica de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná.

. Esta pesquisa pode trazer vários benefícios, pois é um tema que precisa ser

mais discutido e explorado. No mundo atual, a maioria das mães trabalham e se

deparam com a difícil tarefa de educar e dar limites aos seus filhos. Elas ficam

divididas, sem saber como proceder ou se estão corretas no modo de agir. Estudar

os métodos empregados pelas mães e os sentimentos perante seu papel é muito

importante e de grande valia para os profissionais, principalmente da área da

psicologia e pedagogia, mas também para as mães que enfrentam dificuldades na

educação de seus filhos no dia a dia.

3.3. Instrumentos

Foi utilizado um roteiro de entrevista, semi-aberto, com perguntas sobre:

histórico da criança, a rotina familiar, os limites, o papel do pai e da mãe, relação da


criança com outros cuidadores, educação recebida pela mãe da criança e infância

da mãe (roteiro de entrevista em anexo).

3.4. Análise dos resultados

Foi realizada a análise de conteúdo das entrevistas transcritas. A discussão

dos resultados teve como embasamento teórico o Psicodrama.

Análise de conteúdo é uma mensagem proclamada pelo entrevistado seja ela,

verbal, escrita, gestual, silenciosa, documental ou figurativa ou provocada

diretamente. A mensagem propaga um sentido e um significado. (FRANCO 2008) A

análise de conteúdo pode ser também conjunto de técnicas das comunicações que

são utilizadas para procedimentos sistemáticos e objetivo de descrição do

conteúdo da mensagens (BARDIM 2002)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados coletados são referentes às entrevistas realizadas com dez mães entre

25 a 37 anos, residentes na cidade de Curitiba, que apresentavam alguma queixa

referente à educação de seus filhos. Observou-se que oito entrevistadas eram

casadas. A maioria teve um ou dois filhos, com exceção de duas que tiveram quatro

e três filhos. Todas as entrevistadas eram provenientes da classe média. Cinco das

participantes possuía casa própria e as outras cinco moram em casa alugada ou

com suas mães. Todas as mães entrevistadas têm emprego e passam boa parte do

dia fora de casa.


Quadro 1- dados sócio demográfico de um grupo de mães da cidade de Curitiba P/R
NOME IDADE ESTADO FILHOS PROFISSÂO RENDA
CIVIL
J.S. 36 anos Casada 1 Vendedora 2.000,00
E.A. 31 anos Casada 2 Ass. Adm. 1.500,00
I.T. 33 anos Solteira 1 Empresária 1.000,00
L.S. 35 anos Solteira 2 Doméstica 800,00
D.O. 26 anos Casada 2 Vendedora 1.200,00
A.C. 35 anos Casada 1 Ass. Adm. 3.000,00
S.D. 37 anos Casada 3 Do lar 1.500,00
R.M. 35 anos Casada 4 Do lar 1.200,00
B.E. 37 anos Casada 2 Doméstica 2.600,00
N.R. 36 anos Casada 2 Ass.contab. 3.100,00

4.1. Educação e limites

Através da análise das entrevistas, observou-se que as mães demonstravam

uma certa angústia e medo em relação à educação de seus filhos. Elas relataram

que tinham dificuldade de impor limites e que não queriam cometer o mesmo erro de

suas mães. Diante da pergunta “como a sua mãe colocava limites em você quando

pequena”, uma das mães relatou:

“Brigando e apanhando, porque foi a maneira que ela foi criada, sabe, quando
eu peguei uma idade eu falei que não queria ser igual a ela, porque eu ouvia
dizer que a gente sempre puxava a mãe e eu me cobrava para não ser igual
a ela, acho que eu consegui desviar esse comportamento, hoje eu consegui
ser diferente dela.” (S.D, 37 anos)
Todas as mães acharam que são boas mães porque cuidam de seus filhos.

A noção de o que é educação para as mães, o que é próprio de seu papel de mãe

seria: colocar horários, alimentação, ser rígida, se controlar para não agredir a

criança, ter calma, ter responsabilidade, ser o espelho para seu filho, dar boa

formação na educação escolar, orientação para ser uma boa mãe e esposa, cobrar,

chamar a atenção, preparar para o futuro, carinho, amor.

Os pais precisam colocar limites para seus filhos crescerem. A criança


é um ser com uma quantidade enorme de energia, que precisa, desde
cedo, ser bem canalizada. Ela precisa aprender a gerenciar essa
energia adequadamente e, para tanto, precisa de um enquadramento e
um direcionamento que, principalmente, aos pais cabe dar.
(OLIVEIRA, 2007, p. 2)

Todas as mães disseram que se consideram presentes e extremamente

fundamentais na educação dos filhos, Todas as entrevistadas admitiram que

precisam melhorar na questão dos limites.

Apenas cinco das mães deram importância ao papel dos pais na educação

dos filhos. As outras cinco entrevistadas disseram que o papel de pai não tem

importância alguma na educação dos filhos. Dentre estas mães, três delas

atualmente estão separadas e os filhos não conhecem ou não tem contato com o

pai, duas delas são casadas e o pai mora com eles, estão todos os dias em casa,

mas não ajudam na educação dos filhos. Porém a maioria das mães diante da

entrevista acharam o pai de seus filhos presentes, inclusive algumas das cinco mães

que disseram que os pais não têm importância na educação de seus filhos.

Costa (2009) diz que embora o papel de mãe ainda predominar sobre o

papel do pai, entende-se que o valor da figura de pai é muito importante para o

desenvolvimento da criança, tanto na área cognitiva, emocional como também no

social da criança.
Desde que a criança é concebida, o mundo lhe é transmitido pela mãe que,
nessa fase de vida e nas subsequentes, desempenha o papel de ego-
auxiliar da criança, pois ela decodifica e oferece os meios diretos de
satisfação de suas necessidades. A criança estabelece seu primeiro vínculo
com essa pessoa-auxiliar-mãe; enquanto esse vínculo se desenvolve, o pai
pode estar presente, mas sua presença não se configura imediatamente na
estrutura afetivo-emocional da criança; por isso, o desempenho do papel do
pai, inicialmente, se dá de forma indireta. Se o pai atua diretamente com a
criança, também está exercendo o papel de seu ego-auxiliar. (
GONÇALVES, apud, TURBIANI, SENATRO, 1988, p. 55).

Nesta questão de considerar o pai dos filhos presentes, as mães

entrevistadas relataram que eles são mais presentes com relação à ajuda financeira

e não na educação propriamente dita, dizendo que eles deveriam ter mais diálogo,

brincar mais e ser mais autoritário. Como disseram algumas mães diante da questão

sobre o que elas achavam que o pai de suas crianças precisavam melhorar em

relação à educação das mesmas:

“Ele precisa ser mais ativo, ele fica bastante neutro.” (N.R, 36 anos)
“Ter mais paciência com criança, ele quer que a criança fique sentada o dia
todo, não quer que faça arte, não pode correr” (R.M, 35 anos)
“Precisa ouvir mais e falar mais porque ele é muito grosso.”(B.E, 37 anos)
“Ser mais presente, brincar mais.” (D.O, 26 anos)
“Não é nem na educação, ele tinha que se sentir um pai responsável, pois às
vezes ele tem umas atitudes que na minha cabeça pai não faria para um
filho, ele não brinca com ela, não responde as perguntas dela.” (J.S, 36
anos).

Na questão de como lidam com a educação e de como colocam limites em

seus filhos, as mães revelaram que tentam conversar no primeiro momento, mas

todas já usaram de agressões com os filhos se descontrolando. Todas as mães

confessam que têm dificuldades em colocar limites em seus filhos.

4.2. Educação recebida


Schaffer (1996), diz que as características dos pais são decorrentes do seu

passado, onde se desenvolveram e colaboram para a relação com a criança que

adquirem este modelo, com isso, cria–se um círculo vicioso, sendo transmitido de

geração para geração.

Diante da entrevista aplicada, a maioria das mães, com exceção de duas, não

tiveram uma imagem positiva de mãe, e este fato mexe no papel de mãe delas. Não

querendo seguir o exemplo de mãe que tiveram na infância, reagem por

identificação negativa. A maioria das mães entrevistadas lutam contra o modelo de

mãe que tiveram, relataram que não queriam ser como suas mães, muitas não

tiveram modelo de mãe apropriado. Portanto é possível analisar que estas mães não

tiveram modelo adequado de como se colocar limites e educar adequadamente seus

filhos, não sabendo como fazer tal tarefa.

Sentem–se perdidas e até mesmo desesperadas, como relatam algumas

mães, por não saberem como agir. A maioria segue instruções de livros ou segue à

risca dicas de programas de televisão, onde, as vezes dá resultado em um primeiro

momento, depois não conseguem dar continuidade, sendo vencidas pelo cansaço.

Sentem–se como se tivessem em um teste de resistência que não acaba nunca,

onde parece que os filhos sempre ganham. Continuam tentando não copiar o

modelo negativo de mãe que tiveram na infância, mas confessam que o método,

embora inadequado que as mães utilizavam que era a agressão, funcionava mais. A

educação recebida é importante, pois fica inserido em sua matriz de identidade.

Moreno define a matriz de identidade como “a placenta social da criança, o


lócus em que ela mergulha suas raízes”`(8,p. 114). A matriz de identidade
representa o grupo social e o ambiente que acolhe a criança, satisfaz suas
necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais. Enquanto a matriz (“que
dá origem (a alguma coisa), lugar onde alguma coisa nasce ou é gerada”)
(6, p. 895); apresenta ao indivíduo modelos de conduta, transmite a herança
cultural do grupo e o prepara para sua adaptação a sociedade. (...) Moreno
classificou em três e subdividiu em cinco fases que a criança atravessa no
decorrer de seu desenvolvimento na matriz da identidade: 1) Matriz da
identidade total; 2) Matriz de identidade total ou realidade total; 3) Matriz da
brecha entre a fantasia e a realidade, as cinco fases são: 1) a outra pessoa
é, formalmente uma parte da criança, isto é, a completa e espontânea
identidade; 2) consiste em que a criança concentra sua atenção na outra e
estranha parte dela; 3) consiste em separar a outra parte da continuidade
da experiência e deixar fora todas as demais partes, incluindo ela mesma;
4) consiste e que a criança situa–se ativamente na outra parte e representa
o papel desta; 5) consiste em que a criança representa o papel da outra
parte, a respeito de uma outra pessoa, a qual, por sua vez, representa o
seu papel. (GONÇALVES, apud, JARDIM, 1988, p. 86).

Todas as mães choraram diante da pergunta de como definiriam sua infância

todas com exceção de duas falaram que não tiveram infância. Estas mães têm

lembranças negativas de suas mães, todas sofreram agressões significativas, sendo

abusadas fisicamente e psicologicamente. Ao perguntar se elas achavam que sua

mãe era uma boa mãe, a resposta de algumas foram:

“olha até eu ter minha filha eu achava que sim (suspiro) Engraçado né; isso
é muito engraçado, eu era revoltada com meu pai até eu ter uma filha porque
ele me batia, e eu tinha pena de minha mãe, agora essa revolta se transferiu
para minha mãe, porque eu como mãe jamais permitiria abusos que eu sofri
para minha filha, jamais iria ficar assistindo o pai dela bater nela, ficar dando
cintada deixando ela cheia de vergões e não fazer nada, só ir cuidar depois
que ele a abandonasse, no chão, sabe? Eu como mãe, eu comecei a
perceber que ela não era tão boa mãe assim, não era tão coitadinha (choro)”
(I.T, 33 anos)
“foi uma mãe mais ou menos pra mim, por causa das surras” (A.C, 35 anos)
“Não, porque ela nunca estava presente, bebia, me levava para lugares em
que eu não podia ir por causa da idade” (R.M, 35 anos)
“Ela não me deu conselhos, só me bateu, o dinheiro que eu ganhava era
tudo pra ela e até hoje ela não reconhece isso (choro) quando eu casei eu
não tive nada, comecei do zero, eu queria casamento, ela mandou no meu
casamento, então ela estragou tudo, meu casamento foi horrível, foi mal
falado na cidade inteira, não tinha comida, bolo de noiva, nada, mas minha
mãe não vê isso, não é uma mãe que eu gostaria de ter” (B.E, 37 anos).

Segundo Cukier (2010), o infante sabe que o adulto está tendo uma atitude

injusta ou sendo abusivo, tem sentimento de cólera, porém não pode fazer nada e

se submetem à tal conduta do adulto. Essa posição de submissão obrigada provoca

na pessoa vergonha, humilhação e sentimento de inferioridade, que nunca mais irá

esquecer, apesar de se esforçar para negar, disfarçar ou mudar estes fatos,.


Apenas três das mães responderam de mediato que sua mãe foi uma boa mãe.

Foi possível perceber no tom de voz de todas uma certa vergonha em falar o que

pensam realmente de suas mães, como se fosse um pecado mortal falar mal de

suas mães.

A liberdade para essas mães era controlada, tendo mais obrigações do que

direito de brincar. As entrevistadas disseram que tudo era permitido em casa, não

tendo regras claramente impostas. Se fizessem algo de que suas mães não

aprovavam eram agredidas pela própria mãe ou por outra pessoa da família à qual a

mãe delegava a tarefa de agredi-las como pai, irmão, tio.

As duas mães que têm lembranças positivas das suas mães tiveram mães mais

carinhosas, porém o pai era muito rígido e também sofreram agressões.

4.3. Educação recebida x Educação dos filhos

Foi possível perceber algumas semelhanças entre a educação que elas

receberam de suas mães e a educação que estão oferecendo a seus filhos, como

por exemplo, algumas mães tentam evitar que a situação que era vergonhosa para

elas, ou coisas que aconteciam para elas na infância aconteçam para os filhos,

como relata uma das mães ao ser perguntado se ela alguma vez deixou passar

situações não toleráveis por não saber o que fazer:

“Não, nunca deixei passar, o que eu evito é chamar a atenção dela na frete
de outras pessoas, mas só pelo olhar ela sabe que fez coisa errada, eu evito
chamar a atenção na frente dos outros porque eu sofri muito com isso, acho
que não é necessário ela passar vergonha com isso.” (I.T, 33 anos)
As situações que tentam evitar são aquelas que elas vivenciaram na infância

com suas mães e que desaprovavam.

Foi possível perceber que poucas vezes a história se repete entre a educação

que elas receberam na infância e a educação que estão dando a seus filhos.

Entretanto, quando aparece, está acompanhada pela culpa, sentimento de ser

ausente, e estar devendo com relação à educação de seus filhos, como podemos

ver na resposta de uma das entrevistadas diante da pergunta sobre o que

lembravam de sua mãe quando eram crianças.

“(Pausa) Ela todo dia indo trabalhar de manhã e vindo bem tarde da noite’’
(D.O, 26).

Esta mãe hoje também trabalha e não vê muito o filho, assim como a mãe dela

fazia, diz também em outros momentos que sente muito por não poder se dedicar

mais ao filho como uma mãe deveria. "A forma como uma criança percorre sua

matriz de identidade é um parâmetro de como será sua vida adulta"

(FONSECA,1995, p.22)

Todas as mães entrevistadas já se consideraram ausentes em alguns

momentos na vida para seus filhos, algumas em terapia relataram que depois de

ficar o dia inteiro fora de casa, ao chegar não querem se incomodar com os filhos.

Percebem que os filhos estão se comportando mal e fazendo coisas inadequadas,

quebrando as regras da casa, porém, sentem uma certa culpa, por não estarem com

eles a maior parte do dia, e não querem se expor como sendo a “bruxa má” da casa,

dando as ordens e impondo castigos. Por este motivo, além de não terem um

modelo adequado de como impor limites, a maioria das mães vez ou outra não

reagem diante da falta de limites de seus filhos, quando a situação está fugindo do

controle as mães sentem–se esgotadas, tentam conversar, colocar castigos quando


estão de mau humor, como disseram algumas das mães quando foi perguntado

sobre a frequência de vezes que elas são permissivas:

“Depende do meu humor, quando eu estou bem, ou cansada eu deixo e aí já


era” (N.R, 36 anos)
“Quando estou bem comigo mesma” Quando estou mais feliz” (E.A, 31 anos)
“Acho que quando estou mais cansada” (A.C, 35 anos)
“Ah conforme o estado que eu esteja, quando ele está mais triste”(S.D, 37
anos)
“Quando estou estressada, talvez porque eles ficam mais ausente fazendo a
bagunça e me deixam em paz” (B.E, 37 anos)
“Depende do meu humor, quando estou de bem eu pego leve, se der eu
relevo, depois eles falam – como antes você deixou?” (N.R, 36 anos)

Segundo Badinter (1980 citado por Cukier, 2010, p. 3) atualmente temos ciência de

que a natureza não supre as mães de calma, e nem todas têm uma tendência

natural de como proporcionar uma ocasião de dependência positiva para seus filhos.

Ao oposto disso, o que localizamos são mães com pouca paciência, cansadas, e

tendem a fazer a maternagem ligeiramente, para ir trabalhar ou desenvolver outras

atividades. Na verdade, o horário disponível da mãe como seu ilho depende de

vários fatores, que incluem, como foi sua vivência quando era pequena e como ela

vivenciou a vinculação com seus pais, até as características que apresenta no

momento com seu marido, assim como também a situação econômica, cultura da

família e de como seu papel de mãe é estimado na sociedade, entre outros fatores.

As entrevistadas descreveram a experiência de ser mãe como uma situação

especial, envolvendo vivências de emoções intensas que acabam por modificar o

sentido de suas vidas e de sua identidade. Ao perguntar o que mudou em suas vidas

positivamente em se tornar mãe as respostas foram:

“Tantas coisas, que por mais que a gente mude eu acho que eu só não
consegui administrar por vários fatores de apoio, mas é muito bom ter filho.”
(J.S, 36 anos)
“Tudo, principalmente a vida, tive filho na adolescência, eu era muito criança,
fui crescendo, mudei a minha vida, hoje eu penso que valeu a pena.” (E.A, 31
anos)
“Mudou tudo, hoje eu me sinto realizada como mãe. Muitas das vezes eu
desisti das coisas por ter ela, se eu não tivesse ela eu já teria “chutado o pau
da barraca” (I.T, 33 anos)
“Acho que eu amadureci mais, fiquei mais sentimental porque eu não tinha
muito sentimento pelas pessoas, pelo fato de eu ter sido criada muito sozinha.”
(D.O, 26 anos)
“A gente cresce mais como ser humano, tem outro valor, é o que eu digo para
eles; educação não se compra, ou tem ou não tem, é igual amor. Você pode
comprar sexo, mas não o amor, então como mãe você cresce muito, fica mais
equilibrada, é fazer parte da vida dele, e ter um corpo fora do seu corpo, uma
vez eu falei para minha mãe que eu tinha escolhido ser filha dela, ela disse que
o azar era meu, mas ela é uma escola para mim, foi ela que me ensinou como
lidar, ser mãe é muito satisfatório”. (S.D, 37 anos)
“As drogas e o álcool diminuiram na minha vida, amizades ruins que não
aceitaram minha gravidez, aprendi a ser mãe e a entender a minha mãe” (R.M,
35 anos)
“Acho que tudo, mas de bom nada” (B.E, 37 anos)
“Eu me tornei mais (pausa) eu deixei de ser rancorosa, fiquei mais boazinha,
mais compreensiva, eu comecei a entender as dificuldades de meus pais.”
(N.R, 36 anos)

5. Conclusão

É evidente que uma das tarefas de maior responsabilidade e maior dificuldade

é educar um ser humano, neste trajeto várias dúvidas e inseguranças podem

ocorrer, muitas mães, além de trabalhar, cuidar da casa, família e emprego se

deparam com a difícil tarefa de educar e colocar limites em seus filhos.

Esta pesquisa buscou estudar o papel da mãe na educação de seus filhos,

bem como também analisou como as mães lidam com os limites na educação dos

filhos, os limites que elas receberam na infância e semelhanças e diferenças na

educação recebida pela mãe e na forma de como desempenha seu papel de educar,

e principalmente nas dificuldades em colocar limites em seus filhos.

Ao todo foram entrevistadas dez mães entre 25 a 37 anos residentes na

cidade de Curitiba, provenientes da classe média, com queixas relacionadas a

educação de seus filhos. Oito das mães entrevistadas eram casadas, todas
possuíam emprego, ficando boa parte do dia fora de casa, Exceto as duas mães

solteiras, todas moravam com seu esposo e filhos.

Através da análise das entrevistas foi possível verificar uma certa angústia e

medo demonstrados pelas mães em relação à educação de seus filhos, relataram

que tinham dificuldade de impor limites, e que não queriam cometer o mesmo erro

da educação que receberam de suas mães. Disseram que se consideram boas

mães porque cuidam de seus filhos, esta foi a noção de cuidados aos filhos que as

mães tiveram como também serem rígidas, impor horários, dar alimentação dar

formação escolar, carinho, amor e também se controlar para não agredir a criança.

Todas as entrevistadas sofreram agressões significativas, sendo abusadas

fisicamente e psicologicamente quando eram crianças.

Em relação da visão das mães sobre a presença dos pais na educação de

seus filhos, as mães entrevistadas relataram que são mais presentes em relação a

ajuda financeira e pouco ou nada em alguns casos na educação propriamente dita.

No que diz respeito a educação dos filhos e de como colocam limites, as

mães revelaram que tentam conversar com as crianças, mas todas já usaram de

agressões, se descontrolando, todas confessam que têm muitas dificuldades em

colocar limites em seus filhos.

A maioria das mães não tiveram uma imagem positiva de suas mães este fato

influencia no papel de mãe delas. Não querendo seguir o exemplo que tiveram na

infância reagem por identificação negativa. Diante da entrevista e das recordações

negativas que relataram de suas mães, podemos dizer que estas mães não tiveram

um modelo adequado de como se colocar limites e educar adequadamente seus

filhos, não sabendo como fazer tal tarefa. Diante da situação sentem-se perdidas e
desesperadas por não saberem como agir. Fica assim evidenciada a importância da

educação recebida, pois fica inserido na matriz de identidade.

A história entre a educação que as mães receberam e a educação que estão

oferecendo a seus filhos nem sempre se repete igualmente, porém, quando se

repete, está acompanhada por sofrimentos e angústias, também pela culpa,

sensação de ser ausente de estar devendo em relação à educação de seus filhos e

principalmente o sentimento de fracasso.

Com a análise dos resultados obtidos nesta pesquisa foi possível refletir sobre

a importância da psicoterapia para crianças, trabalhando com as mesmas de forma

lúdica a importância da obediência de regras e de limites, trabalhando também a

questão de suas ansiedades, esclarecendo-as da importância da obediência da mãe

como figura de autoridade, também para os pais oferecendo-lhes uma orientação

de pais, esclarecendo suas dúvidas e questões referentes à educação de seus

filhos, mostrando-lhes alternativas adequadas para a realização desta difícil tarefa

de colocar limites nos filhos, desviando assim a mãe de repetir o modelo de mãe

inadequado que teve na sua infância.

A linha psicodramática colabora muito para a psicoterapia dessas queixas por

conter diversas técnicas e embasamento teórico que contribuem para melhor

trabalhar tais questões, como a técnica psicodramática de grupo, onde as mães

teriam a oportunidade para trabalhar seus conflitos e questões referentes à sua

dificuldade de colocar limites em seus filhos.

Um dos objetivos do psicodrama, do sociodrama e da psicoterapia de grupo


é descobrir, aprimorar e utilizar os meios que facilitem o predomínio de
relações télicas sobre relações trasnferenciais, no sentido moreniano, a
medida que as distorções diminuem e que a comunicação flui, criam-se
condições para a recuperação da criatividade e da espontaneidade. (
GONÇALVES, WOLFF E ALMEIDA, 1988, p. 52).
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Anexos
Roteiro de entrevista

1- Qual seu nome e idade?

2- É casada?

3- A quanto tempo?

4- Quantos filhos você tem?

5- Você se considera uma boa mãe? Por que?

6- Você se considera extremamente fundamental para a educação de seu filho

(a)?

7- Os filhos foram planejados?

8- Como foi para você a notícia de que seria mãe?

9- Você se sentia preparada para ser mãe?

10- E seu cônjuge?

11- Dentre os seus filhos, qual você sente mais dificuldades para educar e

colocar limites?

12- Este filho foi amamentado até quantos meses?

13- Com quantos anos foi para a escola?

14- Como é a convivência de seu filho (a) com você?

15- Você e seu cônjuge trabalham?

16- Quantas horas por dia você fica com seu filho (a)?

17- Você deixa a criança aos cuidados de outra pessoa? Quem? ( se não, vá

para a questão 20.)

18- O que esta pessoa faz que você desaprova na educação de seu filho (a)?

19- O que esta pessoa faz que você aprova na educação de seu filho (a)?

20- Que importância você dá ao papel do pai na educação de seu filho (a)?
21- Você considera o pai de seu filho (a) presente ou ausente?

22- O que você acha que o pai de seu filho (a) precisa melhorar na educação de

seu filho (a)?

23- Que importância você dá ao seu papel de mãe na educação de seu filho (a)?

24- Você se considera ausente ou presente?

25- Em que você acha que precisa melhorar na educação de seu filho (a)?

26- Quem é o mais bravo, você ou o pai de seu filho (a)?

27- Quais foram as primeiras dificuldades na educação de seu filho (a)?

28- Como você resolveu?

29- você teve que abrir mão de alguma coisa na sua vida após a maternidade?

30- O que você faz para seu filho (a) que ele (a) não gosta?

31- Na sua casa existem regras?

32- O que mudou em sua vida positivamente em ter um filho (a)?

33- O que mudou em sua vida negativamente em ter um filho (a)?

34- O que é permitido na sua casa?

35- O que não é permitido na sua casa?

36- Quais são as regras respeitadas?

37- Quais são as regras não respeitadas?

38- O que acontece se uma das regras for quebrada?

39- Você considera seu filho (a) peralta?

40- Você acha que seu filho (a) é mal educado (a)?

41- Em relação a educação de seu filho (a), o que a deixa mais irritada?

42- Qual é a forma de punição para seu filho (a)?

43- Você tem alguma estratégia para a educação de seu filho (a)?
44- Você já usou de agressão como por exemplo: palmadinhas, puxões de

cabelo, orelha, beliscões entre outros? Qual?

45- Após o que você sentiu?

46- Relate uma cena de seu filho(a) que te mais marcou.

47- Você tem dificuldades em colocar limites em seu filho (a)?

48- Você já se sentiu descontrolada diante a uma situação com seu filho (a)?

49- Qual foi a situação?

50- Qual foi sua reação?

51- Já ocorreu situações de vergonha com seu filho (a)?

52- Você já deixou passar situações não toleráveis por não saber o que fazer?

53- Com que freqüência você é permissiva? Ou seja deixou que as regras

fossem quebradas, permitiu seu filho (a) fazer coisas que geralmente não

deixaria?

54- Em que ocasiões você se percebe permissiva?

55- Você foi criada pelos pais?

56- O que você lembra de sua mãe quando você era criança?

57- O que sua mãe fazia que você não gostava?

58- Quando você era criança, quais eram as suas liberdades; o que era

permitido?

59- O que não era permitido na sua casa, quando você era criança?

60- Quem era o mais bravo, seu pai ou sua mãe?

61- Quais eram as regras da casa quando você era criança?

62- Como eram impostas estas regras?

63- Se as regras fossem quebradas o que acontecia?

64- Como sua mãe colocava limites em você?


65- Alguma vez sua mãe usou de agressões como “palmadinhas”, puxões de

cabelo, de orelha, beliscões entre outros?

66- Em relação a sua infância, você considera sua mãe e seu pai ausente ou

presente?

67- Você acha que sua mãe foi uma boa mãe?

68- Como você definiria na sua infância?

69- Relate uma cena que mais te marcou na sua infância.

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