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Comunicação e não comunicação

em Psicanálise: abordagem
de seis autores
Communication and non-communication
in Psychoanalysis: the approach of six authors
Resumo A comunicação humana é um aspecto desenvolvido a partir dos es-
tímulos iniciais do desenvolvimento emocional do bebê, na interação afetiva
dele com sua mãe, à qual está fusionado. Nessa etapa, desenvolve-se uma
comunicação silenciosa que NÃO deve ser desconsiderada. Tal comunicação
é a mais primitiva e fundamental e deve continuar existindo no homem, pois
é anterior à comunicação por meio da fala. A postura técnica de Winnicott
(1963) enfatiza a importância do silêncio que deve ser levado em conta, para
que não haja violação do núcleo do self. Daí os cuidados no manejo da técnica
psicanalítica na relação paciente-analista, visto que a não comunicação nem
sempre é resistencial. A atitude do analista, ao não ser invasivo e intrusivo,
propicia o desenvolvimento da alteridade, bem como o respeito e o resguar-
do desse direito legítimo e ético de não se comunicar. Faz-se uma compara-
ção com a postura de Freud (1912) quanto à regra fundamental da psicanálise
e o talking cure de Anna O. Aborda-se, ainda, a posição de outros analistas
com relação ao não se comunicar: Ogden (1996) introduz o terceiro analítico
criticando a regra fundamental da psicanálise; Ferenczi (1992) relaciona o não Maria dolores alvarez
se comunicar com a psicopatologia; Nacht (1967) enfatiza a não comunica-
ção articulando-a com estados fusionais e pré-objetais; Balint (1994) ressalta
Universidade Metodista
a importância da relação paciente-analista mais do que a interpretação que de Piracicaba (Unimep)
o psicanalista faz do paciente que apresenta falhas básicas em seu desenvol- madoloresalvarez@gmail.com
vimento, as quais emergem nas sessões de análise em situações de silêncio.
Palavras-chave comunicação, não comunicação, manejo técnico, ética,
alteridade.

Abstract The human communication is developed from the infant’s early


emotional development stages in the affective interaction with his mother.
Baby and mother are merged and the silent communication between them
must be considered. Silence is the most primitive and fundamental form of
communication that should follow the individual throughout life because it
is prior to verbal communication. Winnicott (1963) enhances the importance
of silence, which should be considered in order to prevent rupture in the core
of the self. Thus, the analyst must be very careful to manage the psychoana-
lytic technique in the patient-analyst relationship, since non-communication
should not always be taken as resistance. The analyst’s noninvasive and non-
intrusive attitude is essential to the development of the otherness, as well as
the respect and legitimate and ethical right to non-communication. This essay
attempts to make a comparison to Freud’s stand regarding psychoanalysis’s
basic rule and Anna O’s talking cure and the non-communication stand of
other analysts, such as Ogden, who forges the analytic third and challenges
the psychoanalysis’s basic rule; Ferenczi, who links the patient’s silence to
psychopathology; Nacht, who stresses the non-verbal communication and
its relation to fusional and pre-objectal states; and Balint, who points to the
importance of the patient-analyst relationship more than the analyst’s inter-
pretation on the patient with basic failures in his development, which emerge
in sessions during situations of silence.
Keywords communication, non-communication, technical management,
ethics, otherness.
Introdução maternos, sem ser invasivo ou intrusivo, para

F
reud (1912) sempre valorizou a comunica- não provocar uma ruptura na continuidade
ção verbal, seja por meio de talking cure do ser.
[cura pela conversação], seja pelo esta- O presente trabalho não tem como es-
belecimento da regra fundamental da psica- copo abordar todos os autores da psicaná-
nálise para o paciente, isto é, por meio de im- lise que escreveram sobre a comunicação
posição e estímulo ele deveria falar, pois ficar não verbal, o silêncio. Durante a viagem pelo
calado era compreendido como resistência. A tema, nos deteremos somente em alguns por-
interpretação – fala do analista – também era tos (autores), cujos trabalhos julgamos mais
um fator importante na técnica clássica. relevantes para este estudo.
Existem outros analistas que, embora
valorizem a interpretação, enfatizem a rela- Aquisição da Linguagem
ção terapêutica, ou o vínculo que se constrói Os sons vocais emitidos pelo bebê pres-
entre analista e analisando, colocando-a como supõem primeiramente uma forma de expres-
aspecto fundamental no processo analítico sar o afeto, em seguida adquirem o valor de
de um número significativo de pacientes, em chamamento e, finalmente, significam uma
especial aqueles mais comprometidos. mensagem que deva ser decodificada.
Não é somente por meio da comunica- Há várias etapas pelas quais o ser huma-
ção verbal do analisando ou da comunicação no passa para chegar ao longo caminho que
do analista – interpretação – que se promo- conduz à aquisição da voz plena. Temos as
ve um conhecimento e a estruturação de si pré-formas da comunicação, desenvolvidas a
mesmo, isso ocorre também por intermédio partir da criança com o seu ambiente (gritos,
de uma relação intensa, íntima, empática e choros, sorriso e esperneios), que designam
prolongada com o analista. Os pacientes es- uma diversidade de sensações (raiva, dor, an-
tabelecem com o analista uma relação de de- gústia, satisfação, impaciência e até prazer).
pendência emocional denominada regressão A partir de um mês de vida temos o
infantil, na qual, se localizam os estágios mais balbucio ou gorjeio: “o gorjeio do lactente é
primitivos da vida do lactente. constituído, no início, de sons não específicos
Nas etapas mais precoces do desenvol- em resposta a estímulos não específicos”.1
vimento do paciente pode surgir a não comu- Entre seis e oito meses, surge a ecolalia, “di-
nicação. O paciente, que, como o bebê, não álogo” desenvolvido entre a mãe ou o pai e
se comunica verbalmente, mas por meio de seu bebê, que responde à fala do adulto “por
uma comunicação silenciosa. Esse silêncio meio de uma melopéia relativamente homo-
deve ser compreendido pelo analista com gênea, contínua”.2 Posteriormente, a criança
uma atitude cuidadosa e de respeito pelo di- usa a palavra cujo significado depende do
reito do paciente em não se comunicar, que contexto, do gestual, da mímica e do situa-
aponta para além da dimensão ética, uma vez cional, isto é, utiliza-se da pequena lingua-
que é primordial na constituição do self. gem, tal como a “palavra-frase”. Em seguida,
Para que falar ao paciente/lactente, se ocorre a linguagem, “período mais longo e
ele ainda não adquiriu a linguagem verbal, complexo na aquisição da mesma, marcado
nem a possibilidade rudimentar do seu uso, por enriquecimento qualitativo e, ao mesmo
e nem a capacidade de simbolização? O mais tempo, quantitativo”.3
importante nessa etapa, segundo Winnicott Não esqueçamos que a fala constitui
(1963), é o analista conseguir se identificar uma estrutura e a construção de uma ponte
com o analisando, saber o que ele sente e po-
der provê-lo o mais suficientemente bem com 1
MARCELLI, 1998, p.89.
aquilo que necessita em termos de cuidados
2
Ibid., p.89.
3
Ibid., p. 90.

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de ligação que une o sujeito e o objeto. É a O diálogo psicanalítico, que ocorre no
matéria na construção das relações de objeto encontro analisando-analista de uma sessão
e move-se paulatinamente, progredindo para de psicanálise é altamente especializado, não
a área do significado e da discriminação: “sím- acontece em nenhuma outra ocasião. Ele se
bolo da coisa, que se torna assim ‘coisa’ (ou realiza sob o império da regra fundamental da
material) da função pensante”.4 psicanálise que se estabeleceu no começo do
tratamento psicanalítico como método da as-
Falando nos termos de Winnicott, sociação livre para o paciente e na contrapar-
‘a palavra’ é, de alguma maneira, tida para o analista, a escuta – que é a atenção
‘descoberta’ ou ‘criada’ pelo bebê, flutuante – e a regra da abstinência, sendo
no sentido de que o pensamen- ambas, elementos essenciais que definem a
to ou o conhecimento já está na técnica psicanalítica como um método tera-
mente, pronto para ser ligado à pêutico, descritos por Freud (1913) no artigo
palavra. A palavra é dada ao bebê intitulado Sobre o início do tratamento.
pelo exterior, pela mãe [...]. Nesse O foco no presente trabalho está na
sentido, a palavra, como um fenô- regra fundamental da psicanálise, que repre-
meno transicional, não pertence senta a base do tratamento. Essa regra surgiu
verdadeiramente ao eu e nem per- após a hipnose e a sugestão.
tence verdadeiramente ao outro.
Ela ocupa uma posição intermediá- Em geral, você procura correta-
ria entre a subjetividade do bebê e mente manter um fio de ligação ao
a objetividade da mãe [...]. É nesse longo de suas observações e exclui
sentido mais profundo que a lingua- quaisquer idéias intrusivas que lhe
gem constitui uma experiência de possam ocorrer [...] de maneira a
união, permitindo um novo nível do não divagar longe demais do assun-
relacionar-se mental através do sig- to. Neste caso, porém, deve proce-
nificado compartilhado.5 der-se de modo diferente. Observa-
rá que, à medida que conta coisas
A aquisição da linguagem conduz à pos- ocorrer-lhe-ão diversos pensamen-
sibilidade de o sujeito narrar sua própria vida. tos que gostaria de por de lado por
Tal narrativa forma a história autobiográfica causa de certas críticas e objeções.
e, posteriormente, tem-se a constituição da Ficará tentado a dizer a si mesmo
história de vida, que é o processo pelo qual os que isto ou aquilo é irrelevante
pacientes se apresentam aos seus analistas. aqui, [...] de maneira que não há
necessidade de dizê-lo. Assim, diga
Regra Fundamental da Psicanálise tudo o que lhe passa pela mente.6
É na relação interativa da palavra,
constituída, por um lado, pela mensagem in- A regra colocada por Freud, bem como
consciente do analisando e, por outro, pela todas as demais formulações de regras esti-
palavra emitida pelo analista por meio da in- puladas pelos homens, sejam elas no direito,
terpretação, após o desvendamento oculto do na moral, na educação e na religião, têm o
significado da comunicação do paciente, que inconveniente de serem interpretadas pelas
se desvelam os impulsos sexuais infantis e as pessoas conforme o que melhor lhes apraz no
estruturações fantasmáticas, e é nesse proces- momento; e, o analisando não é uma exceção.
so que vai transcorrer o trabalho psicanalítico. Verifica-se que a regra fundamental da
psicanálise obedece a um pensamento lógico
4
MATOS, 2001, p.21.
5
STERN, 1992, p. 154. 6
FREUD, 1913, p.177.

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e da razão, pois Freud (1913) faz um apelo psí- do, promoveria ao analisando uma integração
quico superficial ao analisando e ao ego cons- da personalidade, colocando, dessa forma, fim
ciente do sujeito, para que este não silencie e ao alheamento do ego e dos impulsos.
se comprometa na rejeição de suas objeções Embora a interpretação fosse um instru-
à comunicação verbal, não deixando se domi- mento terapêutico por excelência, a comuni-
nar por elas. Insiste que o analisando se lem- cação do reprimido ao analisando não trazia
bre das vivências esquecidas ou reprimidas, o os efeitos esperados.
qual deve, portanto, se preocupar para que
nenhuma objeção interna, nem autocrítica ou Os doentes ouviam a interpretação,
seleção de material, o impeça de comunicar mas o que esta lhes dizia frequen-
cada uma das ocorrências, entregando-se as- temente continuava sendo sentida
sim ao fluxo da associação livre. como alheia ao ego; não podiam
A regra de oposição à rejeição, à crítica reconhecer o que o analista lhes
ou à seleção constitui, de certa forma, um dizia sobre eles como algo próprio,
“engessamento” do paciente, quando ele e a conscientização do reprimido e,
não consegue comunicar algo devido ao pro- com isto, a integração da persona-
cesso inconsciente das resistências. lidade não se produzia. Freud viu
A insistência de Freud (1913) à livre as- logo a que se devia isso: as resistên-
sociação não deixa de ser uma pressão que cias continuavam e impossibilita-
impõe o compromisso da sinceridade do pa- vam que o inconsciente se tornasse
ciente, que deve comunicar tudo, um dever a consciente.8
cumprir, um mandado ou exigência. Embora o
conflito ocorra no analisando, o analista assu- O próprio Freud considerava o silên-
me o papel daquele que solicita que seja abo- cio do analisando como resistência ao proces-
lida a repressão, e o analisando, ao contrário, so terapêutico.
assume o papel daquele que resiste a essa so-
licitação. Completando a regra fundamental [...] pacientes que iniciam o trata-
de Freud tem-se: “Finalmente, jamais esqueça mento assegurando-nos que não
que prometeu ser absolutamente honesto e conseguem pensar em nada para
nunca deixar nada de fora, porque, por uma dizer [...]. Uma forte resistência
razão ou outra, é desagradável dizê-lo”. 7 adiantou-se, a fim de defender a
Os silêncios do analisando são conside- neurose; temos de aceitar o desa-
rados faltas ao comprometimento da regra fio, então e aí, a enfrentá-la. Afir-
fundamental da psicanálise, mas, por outro mações enérgicas e repetidas ao
lado, falar sem cessar durante a sessão de paciente de que lhe é impossível
análise não significa necessariamente que tal que não lhe ocorra idéia alguma
regra está sendo cumprida, pois as palavras no início, e de que o que se acha
também podem ser usadas por diferentes mo- em pauta é uma resistência contra
tivos, entre eles, silenciar outros pensamentos a análise [...]. É um mau sinal ele
ou sentimentos, não dizer nada relevante ou confessar que enquanto escutava
enganar o analista e, às vezes, a si mesmo. a regra fundamental de análise,
A interpretação a partir da compreensão fez a reserva mental de que, não
do significado dos derivados do inconsciente obstante, guardaria isto ou aquilo
remete aos impulsos infantis reprimidos. Se- para si [...]. Se negar estas e outras
gundo Racker (1982), Freud tinha esperança de possibilidades semelhantes, quan-
que, ao interpretar o que estava sendo reprimi- do se lhe são apresentadas, pode


7
Ibid., p. 177. 8
RACKER, 1982, p. 18.

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ser levado, por nossa insistência, a Ele introduz a concepção do terceiro
reconhecer que todavia desprezou analítico, em que cada um – analista e ana-
certos pensamentos que lhe ocu- lisando – participa no espaço analítico com
pavam a mente [...].9 suas subjetividades, construindo e criando
uma intersubjetividade (terceiro analítico in-
Ogden, ao examinar a regra fundamen- tersubjetivo), sendo diferente a contribuição
tal da psicanálise, faz uma crítica dizendo que de ambos nesse interjogo.
ela é falha, pois tem um aspecto estático e po-
der sufocante em razão do uso constante de A experiência do paciente e do ana-
termos, tais como “dever” e “insistir”.10 Diz lista, em relação ao terceiro analíti-
ainda que diante do “dizer tudo” surge o ris- co intersubjetivo, é assimétrica, não
co de se desenvolverem dois tipos de diálogo só quanto à forma pela qual cada
– um falado e outro oculto – dos quais resul- um colabora na construção e elabo-
tam situações adversas ao desenvolvimento ração. [...] O terceiro analítico não é
de um verdadeiro processo analítico. Assim, um evento único experenciado de
propõe uma mudança: modo idêntico por duas pessoas;
ao contrário ele é um conjunto de
Meu esforço é apresentar ao pa- experiências intersubjetivas cons-
ciente, na sessão inicial, (e em cada cientes e inconscientes, construído
sessão subseqüente) a natureza e experenciado conjuntamente,
de um diálogo psicanalítico (o qual embora assimetricamente [...].12
se caracteriza pela combinação de
qualidades que o analisando não Cura pela conversação – Talking
terá encontrado em nenhum outro Cure
lugar, uma vez que o diálogo analí- Em 1892, Breuer relatou a Freud o aten-
tico é diferente de qualquer outra dimento de uma jovem histérica, conhecida
forma de discurso humano). Tento por Anna O.13, no qual ele utilizou o hipnotis-
fazê-lo de uma maneira tal que isto mo (ou sugestão hipnótica), não para que a
não se anuncie com uma técnica.11 paciente esquecesse ou abandonasse seus
sintomas, mas para lhe dar a oportunidade de
Para Ogden parece ser antiético propor falar sobre seus sentimentos e recordar as ce-
que o analisando diga tudo o que lhe vier à nas nas quais os sintomas se originavam, isso
mente, porque isso é ir contra a concepção é a base do método catártico.
do processo psicanalítico, no qual há um in- A paciente, que no estado normal nada
terjogo da capacidade de devaneio do ana- sabia sobre a origem de sua doença, encon-
lista e do analisando. Ele enfatiza a liberdade trou na situação hipnótica a relação entre seus
que o paciente deve ter para falar ou silenciar, sintomas e vivências das cenas traumática.
revelar-se ou manter sua privacidade, que o Quando adoeceu, com 21 anos, apresentava
processo psicanalítico não deve priorizar um uma série de sintomas conversivos: não era ca-
dos pares antitéticos em detrimento do ou- paz de falar, perdeu as palavras e a linguagem.
tro, pois, se isso ocorre, tem-se o risco de a
A princípio, ficou claro que ela
capacidade de devanear ficar estagnada, e
sentia dificuldade de encontrar
consequentemente a capacidade de criação
as palavras, e essa dificuldade foi
no processo analítico ser comprometida.
aumentando de maneira gradati-
va. Posteriormente ela perdeu o
9
FREUD, 1913, p.180-181.
10
OGDEN, 1996, p.431. Ibid., p.423.
12

11
Ibid., p.430. FREUD e BREUER, 1893-1895, p.57-78.
13

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domínio da gramática e da sintaxe; Nacht (1967) não nega o valor e a impor-
não mais conjugava verbos [...]. tância da comunicação verbal no tratamento
Com o passar do tempo, ficou quase psicanalítico, pois é por meio dela que o ana-
totalmente desprovida de palavras lista pode conhecer muitos aspectos do pa-
[...]. Durante duas semanas emu- ciente: medos, desejos, o que gostaria de ser,
deceu por completo e, apesar de o que lhe falta, o que acredita ser.
envidar grandes e contínuos esfor-
ços, foi incapaz de emitir uma única [...] vemos que a palavra é utilizada
sílaba [...].14 pelo paciente não somente para
explicar, dar-se a conhecer, senão
Além disso, ela apresentava um alto também para tranqüilizar, seduzir,
grau de restrição do campo visual, não ouvia, desarmar o analista como objeto,
tinha sintomas motores e graves alucinações. sobretudo quando este é incons-
Breuer refere que Anna O. apresentava cientemente temido. Vemos, pois,
muita resistência e tinha se determinado a não que a palavra é o veículo de todos os
comunicar certos aspectos de sua vida, então afetos que subentendem a relação
ele a estimulou a falar a respeito de si mesma. analítica. E precisamente porque ex-
Quando a compreensão do sentido da mudez pressam ou provocam estes efeitos,
histérica ficou clara, a inibição desapareceu. A certas palavras adquirem um valor
paciente histérica diante da situação de tra- muito particular em determinados
tamento conseguiu adentrar em si mesma e momentos do tratamento.16
consequentemente falar, ver e ouvir por con-
ta própria, tinha então descoberto o que ela As primeiras vocalizações do bebê, as-
mesma denominou cura pela conversação ou sim como a palavra, originalmente se dirigem
talking cure. Ela pôde falar, quebrar o silêncio, ao primeiro objeto, ou seja, a mãe. Nessas
escutar-se e ser escutada, pois foi estimulada vocalizações há uma tentativa de a criança
a falar por meio da construção de um vínculo separar-se da mãe e de, por meio da palavra,
que se estabeleceu no contato entre paciente encontrar-se com ela novamente. Isso é um
e analista. Então, o poder da cura pela conver- paradoxo que faz parte da natureza humana:
sação ficou evidente. Anna libertou sua voz o desejo de se libertar e se separar da mãe,
que se encontrava aprisionada em si mesma, de quem depende para poder se desenvolver,
deixando surgir, para o mundo externo, o seu e, ao mesmo tempo, a busca e o encontro do
mundo interno que estava silenciado. objeto do qual está desfusionado. Esses dois
aspectos aparentemente antagônicos se re-
A não comunicação para outros encontram na situação analítica.
Psicanalistas O acesso ao mundo exterior implica
O artigo de Ferenczi (1992), cujo título fatalmente na separação sujeito-objeto. Ao
(O silêncio é de ouro) remete a um ditado po- mesmo tempo, o almejado mundo exterior
pular, aborda a análise de dois pacientes: um induz o sujeito a uma série de necessidades e
obsessivo – “ávaro de suas palavras e deveras desejos que, na verdade, é uma busca ilusória
inibido em suas associações” – e outro histé- do objeto primário. “Nada pode satisfazer o
rico – “com espasmos das cordas vocais e do sujeito, a não ser a única possessão que pode
esfíncter anal” – relacionando seus sintomas, apagar a separação” 17. Em razão disso, exis-
silêncio, afonia e espasmos esfincterianos te a profunda necessidade de o ser humano
com o erotismo anal.15 ter e possuir, a qual, a despeito de tudo o que

Ibid., p.60.
14 16
NACHT,1967, p.166-167.
FERENCZI, 1992, p.277.
15 17
Ibid., p.168.

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o mundo oferece, nunca será satisfeita, pois amenizado, pois segundo ele: “todo homem
o que o sujeito anseia no mais profundo do que teme não suporta o silêncio” 19 Portanto,
seu ser está além do que lhe é oferecido pelo para que o silêncio traga vantagens, é neces-
mundo exterior. O sujeito só poderia encon- sário que ele seja tolerável ao analisando e res-
trar repouso com uma união-fusão, quando peitado pelo analista, o qual não deve ser um
então se libertaria da necessidade de ter, pos- objeto temido – persecutório – ao paciente.
sibilitando o florescimento de ser. É por meio da postura do analista –
Essa necessidade de fusão entre sujeito sem temores, calmo, acolhedor, presente
e objeto, origina-se no processo evolutivo do autenticamente com seu paciente, demons­
ser humano, num período em que a palavra trando interesse por ele e disponibilidade
ainda não adquiriu sentido ou não se desen- inconsciente – que as palavras não são
volveu. É necessário que o ser já tenha alçado necessárias.
a etapa objetal – devido ao rompimento da Contudo, Nacht (1967) alerta para o risco
esfera fusional – em direção à discriminação de essa experiência tão enriquecedora trans-
entre sujeito e objeto, para que várias funções formar-se numa modalidade relacional em que
egoicas, dentre as quais a própria linguagem, o paciente se fixe, apegando-se a ela. Nada
possam emergir. deve afastá-lo do mundo externo, no qual deve
Logo, uma das aspirações fundamentais aprender a viver da melhor maneira possível.
do ser humano de união-fusão com o objeto Um exemplo muito interessante da pos-
também se manifesta no tratamento psicana- tura e atitude do analista diante do silêncio
lítico exatamente quando se cala a palavra e do analisando é dado por Nacht (1967), que
surge o silêncio, quando a palavra deixa espa- respeita o silêncio do paciente sem forçá-lo a
ço para o silêncio, momento que deve ser vivi- falar: “Entende-se que para que este silêncio
do com segurança e tranquilidade por ambas possa tornar-se fecundo é preciso que não so-
as partes: analista e analisando. mente o enfermo, senão também o analista
possam mantê-lo em perfeita tranquilidade,
[...] em inúmeras ocasiões que o isto é, sem temor”.20
paciente, no seio desse silêncio, A atitude do analista deve ser de quietude
volta a encontrar às vezes, com o sem praticar quaisquer ações que possam atra-
objeto-analista, num estado inte- palhar o estado em que o paciente se encontra,
rior de união graças ao qual chega a fim de não perturbar o momento fusional.
de novo, no mais profundo de seu
inconsciente, ao estado original em A união – ou a comunhão – já não é
que se anula a dualidade sujeito- possível então, pois entre o sujeito
-objeto. Com efeito, acontece que o e objeto se mantém insidioso o te-
ser se sente então uno com o mun- mor. O objeto já não é percebido
do [...] e confundido [...] no qual de- pelo sujeito como distinto, separa-
saparecem as limitações inerentes do, mas como perigoso, pois está in-
à condição humana. Então já não vadindo o mesmo pela inquietude.21
deseja nada mais, não busca nada Percebe-se, então, que o autor enfatiza
mais, senão que viver a intensa ale- a relação primitiva sujeito-objeto (fusional) no
gria de ser.18 processo psicanalítico, na dinâmica da trans-
ferência, valorizando a comunicação não ver-
Nacht (1967) diz que a condição mais im- bal e a relação pré-objetal.
portante para que a relação não verbal surja é
o medo já ter sido superado ou, pelo menos, 19
Ibid., p. 169.
20
Ibid., p. 172.
Ibid., p. 168-169.
18 21
Ibid., p. 172.

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Michel Balint, que foi analisado por Fe- caos, que é característico do estado mental
renczi e seu discípulo, afirma que dois aspec- em repouso, sem que o paciente tenha ne-
tos da técnica – interpretação e relação objetal cessidade de organizá-lo. Diante disso Winni-
– são de extrema importância, principalmente cott (1975) observa frequentemente que o
em pacientes muito regredidos e “quando o analista permanece em silêncio durante mui-
trabalho chegou à área da falta básica”. 22 to tempo não emitindo interpretações; tal re-
Nessas situações, a linguagem verbal tenção origina a interpretação fornecida pelo
tem uso limitado e impreciso, portanto o fa- analisando tempo depois.
tor terapêutico de maior relevância durante
a etapa de intensa regressão do paciente é o A criatividade do paciente pode ser
relacionamento que se estabelece entre pacien- facilmente frustrada por um tera-
te e analista, pois as palavras evidenciadas por peuta que saiba demais. Natural-
meio da interpretação são vividas como uma mente, não importa, na realidade,
invasão, não tendo nenhum efeito terapêutico. quanto o terapeuta saiba desde que
Posteriormente, após emergir da regressão, possa ocultar este conhecimento ou
restitui-se a palavra como comunicação, e a abster-se de anunciar o que sabe.23
linguagem verbal expressa nas interpretações
assume maior valor e importância. Para analisar Para Balint (1994), a técnica com pacien-
pacientes muito regredidos, Balint (1994) aban- tes regredidos ao nível da falta básica, ou da
donou o protótipo da técnica clássica psicana- criação, é aceitar e tolerar a regressão deles,
lítica e passou a trabalhar com comunicações sem fazer forçadamente intrusões com uma
não verbais, que denotam um nível menos evo- interpretação. O tempo de tolerância à re-
luído e anterior ao nível edípico. gressão pode variar de alguns minutos a al-
A linha de pensamento de Balint (1994) guns números de sessões. Isso indica que o
também foca o silêncio na área da criação. Si- analista deve aceitar o silêncio, inclusive dei-
lêncio que deve ser respeitado, pois ainda não xando de lado, por algum tempo, tentativas
existem objetos diferenciados e organizados, e forçamentos de retorno a um nível verbal.
e a intrusão de um objeto externo propiciado Nesse período não se “estrutura” o material
por meio da interpretação analítica, conduz à manifestado pelo paciente, mas o aceita tal
destruição da possibilidade criativa do anali- como emerge, incoerente, sem sentido e não
sando. Segundo Balint (1994), o processo de estruturado, até o momento em que o pacien-
criação que conduz à organização não deve te com o retorno à etapa edípica – da lingua-
ser influenciado pelo objeto externo, que é o gem verbal – propicie condições de compre-
analista, mas promanar do próprio analisando ensão analítica.
exigindo, portanto, o respeito ao tempo dele. O silêncio é considerado por Balint
Nesse momento, pode-se estabelecer (1994), na regressão terapêutica ao amor
uma relação entre o brincar, a atividade criati- objetal primário, como uma relação com a
va e a busca do eu (self) de Winnicott (1975). ausência do verbo, do objeto, e que não se
É no relaxamento, um estado de não integra- trata de uma técnica com palavras ou inter-
ção, que o indivíduo é capaz de atingir o es- pretações, as quais não têm sentido e são pré-
tado de repouso, podendo usufruir dele, e, a -simbolizações.
partir dele, podendo ocorrer a criatividade. A Tanto Balint (1994) quanto Nacht (1967)
associação livre que se mostra coerente de- dão grande importância ao papel do analista,
nuncia uma influência da ansiedade, e a união mas, de acordo com o primeiro autor, o pa-
coesa de ideias é uma defesa. Faz-se, então, ciente deve percebê-lo presente, para não se
mister observar em alguns pacientes esse sentir abandonado, entretanto essa presença
BALINT, 1994 , p.201.
22 23
WINNICOTT, 1975, p.83-84.

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deve permanecer a certa distância, não tão também na qualidade do ambiente em que
perto, para que ele não se sinta cerceado, ele está inserido, o qual deve ser empático,
sem liberdade. intuitivo, não intruso ou agressivo, e não per-
Winnicott (1963) é um dos autores da secutório. A regressão a esse estágio é um
psicanálise que mais ênfase dá aos paradoxos risco que o analisando deve ter coragem de
e mostra esse aspecto também na questão enfrentar ao se deparar com um analista que
da comunicação. Ele trabalha muito a comu- transmite confiabilidade e segurança, que
nicação humana, baseando-se e fundamen- esteja presente e que saiba respeitar o ritmo
tando-se originalmente no que transcorre na pessoal do paciente, bem como suas defesas.
relação entre mãe e bebê, nas trocas e nos Durante o período em que o analisando
intercâmbios que ocorrem entre eles. A mãe está regredido pode não ocorrer comunica-
já expressa sentimentos em relação ao bebê ção, ou pouco se falar, mas o fundamental é o
ainda na vida intrauterina, os quais são im- analista estar lá, vivo e adaptando-se suficien-
pregnados de aspectos imaginativos e têm re- temente bem às necessidades do paciente,
lação com a remota infância da mãe. Porém, a pois “o setting se torna mais importante do
habilidade de comunicar-se não promana da que a interpretação”25. O analista exercendo
aquisição da linguagem verbal propriamente a função de holding se deixa usar como objeto
dita, mas é anterior a esta, refere-se à lingua- subjetivo, ocorrendo assim uma comunicação
gem pré-verbal, pois há uma comunicação silenciosa entre analisando e analista, pois,
silenciosa, porque não é relevante nesse es- nessa etapa, a interpretação deixaria o analis-
tágio a palavra em si. Isso nos mostra que, em ta fora dos fenômenos subjetivos.
certas situações – momentos –, as palavras Ao falar da “reivindicação do direto de
podem não ter importância, e que as relações não me comunicar” 26, Winnicott (1963) sur-
objetais nos estágios iniciais do desenvolvi- preende a comunidade psicanalítica com essa
mento emocional são primordiais. proposição, pois o comum, na prática, é es-
Winnicott (1960) nos fala da criança pe- timular o analisando para que fale, e não se
quena, da ausência da linguagem verbal, da cale, pois o desvio dessa regra é considerado
importância desse estágio e dos cuidados ma- resistência. Embasando essa reivindicação,
ternos dispensados à criança, que são mais ne- encontra-se “a assustadora fantasia de ser
cessários do que as palavras propriamente ditas. infinitamente explorado. Em outras palavras,
esta seria a fantasia de ser devorado e engoli-
Na verdade a palavra infante signi- do [...] é a fantasia de ser descoberto”. 27
fica ‘sem fala’ (infans), e não é inútil O que Winnicott (1963) reivindica e pra-
pensar na infância como a fase ante- tica refere-se ao direito de não se comunicar,
rior à apresentação das palavras e que apresenta uma dimensão ética funda-
uso das palavras como símbolos. O mentada no direito, mas com maior amplitu-
corolário é que ela se refere à fase de na medida em que esse respeito sagrado
em que o infante (lactente) depende leve em consideração a subjetividade, o cons-
do cuidado materno que se baseia tituir-se enquanto ser, portanto é uma vivên-
na empatia materna mais do que na cia profunda que conduz à saída de aspectos
compreensão do que é ou poderia superficiais do homem.
ser verbalmente expresso.24 A existência de um ambiente favorável
e sustentador em que haja a redução de irri-
O desenvolvimento da capacidade de tações e intrusões, aos quais o paciente não
relacionamento do bebê com os objetos, na
etapa de dependência absoluta, sustenta-se 25
Idem, 1955-1956, p. 486.
26
Idem, 1963, p. 163.
24
Idem, 1960, p. 41. 27
Ibid., p. 163.

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precise reagir, poderá desenvolver o seu po- a seus pacientes e à tarefa que se
tencial inato, tornando-se uma continuidade lhe apresenta.29
sem aniquilamento do ser.
Com a instalação dos objetos subjetivos Além do mais, Freud (1910) já nos fala
e a posterior destruição deles é que se instala das perspectivas do progresso da psicanálise,
a externalidade, em que há o descobrimento tanto na teoria quanto na técnica, e que avan-
do outro, o reencontro com o outro, enquan- ços no conhecimento permitirão a melhoria
to outro, salvo de sua própria destruição, que dessa teoria na perspectiva terapêutica.
sobreviveu aos ataques do sujeito, o recusado
como não eu e reconhecido como outro. Há Espero que os senhores tenham
o uso e a relação com o outro que permite a formado a impressão de que quan-
alteridade – constituição de si mesmo e do ou- do soubermos tudo quanto, só ago-
tro, o reconhecimento desse outro enquanto ra, suspeitamos e realizarmos todas
distinto e diferente de mim. Como conse­ as melhorias na técnica, a que nos
guência, há uma mudança na capacidade de conduz uma observação mais pro-
relacionar-se, deixando para trás a área de funda dos pacientes o nosso proce-
onipotência onde crê que aquilo que vê é ele dimento clínico alcançará grau de
próprio e passando a perceber objetivamente precisão e certeza de sucesso [...].30
o eu e o não eu, atingindo-se, assim, o “viver
com”28, conduzindo o analisando a uma exis- Diante disso conclui-se que a psicanáli-
tência independente. se clássica apresenta flexibilidade e abertura
para aceitar, em seu corpo teórico-prático,
Conclusão aprimoramentos, novos conhecimentos e
A psicanálise clássica valoriza a comuni- mudanças que conduzirão a um progresso in-
cação verbal do paciente, o que fica eviden- terno dessa teoria.
ciado, em primeiro lugar, por meio do talking Os autores aqui comentados, que prio-
cure e, posteriormente, nos artigos sobre a rizam o vínculo terapêutico por meio de ex-
regra fundamental da psicanálise de Freud periências do processo analítico em pacientes
(1912), na qual a ausência de linguagem verbal mais graves e regredidos, alguns com incur-
no paciente é compreendida sempre como sões clínicas no terreno da infância em dire-
resistência à comunicação de aspectos esque- ção aos estágios primordiais da vida, trazem
cidos da vida infantil dos pacientes. contribuições à teoria e ao manejo da técnica
Apesar de Freud ser impositivo, rígido psicanalítica.
e até mesmo superegoico na colocação da O ambiente dos lactentes pode ser ade-
regra fundamental, mostra-se, na escrita de quado ou inadequado de maneira significati-
seus textos sobre técnica, uma postura dinâ- va. Na perspectiva da segunda possibilidade,
mica e aberta, pois, ao descrever várias regras ocorre a falta de cuidados maternos, que
que norteiam o tratamento, prefere chamá- podem ter sido retirados abrupta ou preco-
-las de recomendações. cemente, ou, então, terem existido, mas com
deficiências, o que acarreta nas invasões ou
[...] esta técnica é a única apropria- intrusões do ambiente de tal forma que o
da a minha individualidade; não bebê é levado a reagir a elas, havendo então
me arrisco a negar que um médico perturbações na continuidade do ser.
constituído de modo inteiramen- Essa teorização trouxe implicações no
te diferente possa ver-se levado a emprego da técnica. Passou-se a permitir, na
adotar atitude diferente em relação
29
Freud, 1913, p. 149.
28
Idem, 1960, p. 44. 30
Idem, 1910, p.131.

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análise, a regressão terapêutica do paciente Dentre as diversas possibilidades de
e, assim, prover um ambiente que fornece um abertura a diferentes perspectivas e vários
holding no qual haja a oportunidade de serem significados do silêncio na sessão de análise,
supridas as falhas que ocorreram em seu de- verificamos que os autores que enfatizam a
senvolvimento, as carências ou faltas. Refaz- relação terapêutica deram um passo além da
-se o ambiente analítico, que anteriormente, psicanálise clássica, ao demonstrarem com
na relação entre mãe e bebê, havia se mos- seus trabalhos clínicos que o silêncio é uma
trado prejudicial. O analista é, então, a mãe forma de comunicação, é uma expressão das
suficientemente boa que lhe propicia a possi- necessidades do analisando, que, ao serem
bilidade de restaurar o caminho do vir a ser. compreendidas, poderão facilitar o vir a ser,
Já o ambiente suficientemente bom é aquele na medida em que o analista propicie um am-
que se adapta às necessidades do bebê, e per- biente suficientemente bom. O constituir-se
mite que o seu potencial inato se desenvolva, enquanto sujeito, reconhecendo-se como tal,
possibilitando a continuidade do ser. conduz ao reconhecimento do outro, discri-
Tanto Nacht (1967), que fala do silên- minado de mim e com quem posso me rela-
cio do indivíduo que almeja a fusionalidade, cionar – alteridade.
como Winnicott (1963), com a comunicação Finalizando nossa jornada, podemos en-
silenciosa por meio de seus trabalhos clínicos, tão articular este ensaio com Eclesiastes 3:2-7
mostram o extremo cuidado, a singeleza e a
delicadeza ao lidar com a não comunicação Tudo neste mundo tem o seu
do paciente. Ambos apresentam uma postura tempo;
de profundo respeito ao direito humano (éti- cada coisa tem a sua ocasião.
ca), do não se comunicar, levando em consi- Há tempo de nascer e tempo de
deração o momento do paciente. morrer;
[...]
A análise não é apenas um exercício tempo de derrubar e tempo
técnico [...]. O que nos tornamos de construir
capazes de fazer permite que co- [...]
operemos com o paciente no an- tempo de abraçar e tempo de
damento do processo, aquilo que, afastar
para cada paciente, tem seu próprio [...]
ritmo e segue seu próprio curso; to- tempo de ficar calado e tempo
das as características importantes de falar ...
deste processo derivam do pacien-
te e não de nós como analistas.31

Winnicott, 1954-5, p.459.


31

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Referências

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Dados da Autora:

Maria dolores alvarez


Psicóloga pela PUCCAMP. Mestre em Psicologia pela PUCSP.
Professora e Supervisora do Estágio de Psicologia Clínica - Curso de
Psicologia da Unimep.

Recebido: 12-10-2011
Aprovado: 20-03-2012

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