4 Clínica

Só para gatos

É no Porto, na zona da Boavista, que fica a primeira clínica veterinária especializada e exclusiva para gatos.
Falámos com a Dr.ª Helena Felga, veterinária residente e uma das sócias, com o intuito de conhecer melhor este
projecto inovador em Portugal.

Clínica do Gatos. Mais elucidativo nome não pode-

ria existir para descrever um espaço que se dedica ex-
clusivamente a esses felinos. Situada na Rua Direita
de Campinas, junto ao estádio do Bessa, no Porto, e
presente na Internet em www.clinicadosgatos.pt, é
pertença de dois sócios, ambos médicos veterinários:
Dr. Luís Lima Lobo, director clínico, e a veterinária resi-
dente, Dr.ª Helena Castro Felga.
Dispõe de um espaço com cerca de 100 m2, com dois
consultórios, uma sala de raios X, uma sala de máqui-
nas e separação de resíduos, uma sala de preparação
e internamento e uma sala de cirurgia, com antecâma-
ra de preparação e esterilização de material. Segun-
do a Dr.ª Helena Felga, «temos equipamento de uso
corrente em consulta, máquina de medição da pres-
são arterial não invasiva, equipamento de radiografia,
e cirurgia equipada com máquina de anestesia volátil,
oxigénio, bisturi eléctrico, aparelho de ultra-sons den-
tário. Para análises específicas e ecografias trabalha-
mos em associação com laboratórios de medicina ve-
terinária da região Norte». Uma vez que iniciou a sua
actividade no passado mês de Outubro, e apesar de
estar preparada para ter três funcionários permanen-
tes – com dois médicos veterinários e uma auxiliar ve- a veterinária residente refere que nos últimos anos, e especialmente no espaço urbano,
terinária – nesta fase apenas um médico veterinário se se tem observado um aumento significativo do número de gatos que visitam
encontra a trabalhar a tempo inteiro. o veterinário.

A companhia do séc. XXI
Perguntámos à Dr.ª Helena Felga como surgiu esta
ideia de uma clínica exclusiva para gatos, e fica-se com
a evidente impressão que um espaço próprio para es-
tes felinos já era imprescindível: «ao longo dos anos
fomo-nos apercebendo da necessidade que os gatos
e os seus donos sentiam para ter um espaço exclusi-
vamente seu. Também sabemos que, nos últimos anos
e especialmente no espaço urbano, se tem observado
um aumento significativo do número de gatos que visi-
tam o veterinário». A clínica surgiu assim como forma
de dar resposta ao aumento significativo do número
de animais que visitam o médico veterinário nos últi-
mos anos. E este aumento talvez seja culpa do buliço
dos dias que correm, até porque «hoje em dia as pes-
soas passam cada vez menos tempo em casa, vivem
em apartamentos de espaço limitado, não têm mui-
to tempo livre, e o gato torna-se o animal de estima-
ção mais conveniente. É independente mas interage
imenso com o dono, adora estar sozinho mas faz com-
panhia, vai sozinho à casa de banho, é fácil de trans-
portar, vive feliz em pequenos espaços, não incomoda
vizinhos, é muito bonito e dotado de uma forte per-
sonalidade... enfim, é o animal de companhia do sé-
culo XXI».
E se existem em maior número, mais felinos se en-
contram nas salas de espera das “normais” clínicas
veterinárias. E aí passam por um autêntico martírio, o
que os torna muito assustados, agressivos e difíceis
de tratar. Isto porque os animais estão fora do seu am-
biente e entram num espaço que, normalmente, tem
cães desconhecidos, e «onde cheira imenso a cão (não
esquecer que o faro deles é muito mais apurado que o
nosso), há cães presentes na sala de espera a olhar e
a ladrar para eles». Tudo isto torna o animal mais as-
sustado e relutante à manipulação. E sem esse à-von-
tade, a análise torna-se bastante difícil.
Todas estas evidências levaram à necessidade de
criar um espaço diferente, à semelhança dos já exis-
tentes noutros países. Assim, tomou-se como mode-
lo a seguir a solução presente em alguns espaços no
Reino Unido, onde «visitámos algumas Cat Clinics, e
reunimos ideias necessárias ao projecto». É que, como
é norma em todas as especializações, este projecto é
completamente diferente de uma clínica veterinária
normal, uma vez que o gato é um animal de tamanho
muito pouco variável e de dimensões reduzidas «o
que permite uniformizar todo o espaço, reduzir áreas
de trabalho, jaulas de internamento/recobro, mesas
de consulta, banheira para banhos. A nível de design
de interior permite ainda criar um espaço muito mais
confortável e acolhedor, em materiais e tons quentes,
sem grandes problemas com higienização, dado o ani-
mal em questão».
Internamento para dez gatos
A inauguração oficial da Clínica dos Gatos teve lugar
no passado mês de Outubro, e neste curto espaço de
actividade o balanço tem sido positivo. Diz-nos a Dr.ª
a clínica tem internamento com capacidade máxima de dez gatos, com jaulas
de tamanho adequado e estrategicamente colocadas, para que os gatos observem
o que os rodeia de um ponto elevado.
Helena Felga que «têm aparecido muitos clientes no-
vos. E eles encontram um espaço diferente, relaxado,
acolhedor, onde o seu gato pode andar solto na recep-
ção, afiar as unhas no arranhador, passear e espreitar
à janela». A funcionar em horário normal durante a se-
mana, e na manhã de sábado, a clínica trabalha com
consultas marcadas para, assim, tentar racionalizar o
tempo e evitar esperas dos clientes. Claro que existem
excepções, e as situações mais urgentes são atendi-
das prioritariamente.
A clínica tem também internamento com capa-
cidade máxima de dez gatos, «com jaulas de tama-
nho adequado, sendo que duas das jaulas são maio-
res para períodos de internamento mais prolongado.
Nenhuma das jaulas fica ao nível do chão porque os
gatos adoram observar o que os rodeia de um ponto
elevado. O estar fechado numa jaula ao nível do chão
iria stressar ainda mais o paciente». E por enquanto
tem-se verificado que é boa a reacção dos próprios
felinos ao espaço físico, «onde notamos que se sen-
tem à vontade e calmos, permitindo um relaciona-
mento com o veterinário que não era possível numa
clínica clássica».
E vontade de expandir este conceito? Por enquan-
to, e como nos revelou a responsável, «o objectivo é
fornecer um serviço único de tratamento exclusivo ao
gato, que abranja toda a Área Metropolitana do Por-
to. Não existem para já planos de expansão da Clínica
dos Gatos. A marca está registada mas podem sempre
surgir novos projectos semelhantes de outros colegas,
com outro nome».
E se mais projectos surgirem, fica a Clínica dos Ga-
tos, no Porto, com a coroa de louros de ter sido a pri-
meira. E, por vezes, ser a primeira é importante, mais
que não seja porque inicia uma tendência, e será sem-
pre o espaço com mais experiência nesta actividade
“felina”. z