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Pedro Kupfer
29 de Setembro de 2017
O autor não nega a admiração que sente pela referida tradição. Porém,
cabe lembrar que ela, tão cheia de virtudes e defeitos como todas as
demais, não é estática nem ficou congelada no passado, bem como nunca
reivindicou direitos de exclusividade sobre o Yoga.
Abrimos este texto com algumas afirmações sobre o Yoga feitas pelo
célebre psicanalista suíço Carl Gustav Jung, pedindo desculpas ao paciente
leitor pela extensão das mesmas:
“Como europeu, não posso desejar aos europeus mais “controle” e mais
poder sobre a natureza interior e a que nos rodeia. De fato, devo
confessar para minha vergonha que devo meus melhores insights (e têm
havido alguns muito bons dentre eles) à circunstância que tenho sempre
feito exatamente o oposto daquilo que as regras do Yoga prescrevem.”
Psychology and Religion (páginas 500, 532, 533 e 534).
Ocidentais Ricos, o Yoga é Para Vocês?
Para resumir, o que o grande Jung recomenda aos ocidentais, não apenas
nestes trechos mas noutros textos seus, é ficarmos distantes do Yoga. Não
sabemos exatamente o que ele entende como sendo “as regras do Yoga”,
mas fica claro o recado: se quisermos ouvir nossa intuição, ou nos abrir
para nossos melhores insights, como ele mesmo fez, devemos ficar longe
de algo chamado Yoga.
Então, segundo Jung, o Yoga não seria para ricos, nem para pessoas que
não estivessem dispostas a ficar a vida inteira sentadas sob uma árvore ou
trancafiadas na cela de um mosteiro meditando. Parece que, para ele, não
há nenhuma possibilidade intermediária entre o yogi meditando sob a
árvore e um ocidental próspero olhando para seu telefone.
Yoga UHT.
Yoga Ocidental.
A ideia parece ser despojar o Yoga dos seus símbolos, da sua linguagem,
das suas características. Em suma, daquilo que faz com que o Yoga seja
Yoga. Nesse contexto, há alguma razão para seguir usando a palavra Yoga?
Não seria mais fácil escolher outro termo?
Não estou dizendo com isto que seja indispensável aprender sânscrito
para praticar Yoga ou obter autoconhecimento, mas esclarecendo que a
compreensão de alguns conceitos-chave irá nos ajudar na compreensão
de nós mesmos, ao abordar dimensões da ordem psicológica que não são
sempre facilmente acessíveis noutras linguagens quando usamos palavras
que já estão associadas a determinadas ideias.
COMENTÁRIOS
Me parece Pedro, que o yoga ocidental que prescindi da espiritualidade é aquele que
não dá espaço para entender a "diferença" da estrutura psicofísica do oriente, ou não
quer abrir mão do conhecimento de uma estrutura psicológica ocidental difusa, sem um
centro organizador.
Não sou especialista no Jung, mas tenho a impressão sobre o que estudei dele,que Jung
mesmo, caminhava para um centro organizador, uma consciência transcendente,
segundo suas próprias afirmações: "No nível coletivo, a consciência é o nome de um
novo valor supremo a nascer no homem moderno". Sobre a consciência e a tecnologia
do yoga, Feuerstein ainda diz:
Ignorar e rejeitar a espiritualidade e os valores que o Yoga propõe, sugere uma preguiça
de sair da zona de conforto para mergulhar nas profundezas do Ser, afinal, ficar só na
ponta do iceberg com os ásanas, pode impedir esse contato.
Krishna já havia dito algo pra Arjuna qualquer coisa do tipo que entre milhões de
homens poucos tem interesse em conhecê-lo e menos que isso o conheceriam de fato,
logo parece que aqueles que rejeitam os valores e a espiritualidade do yoga como você
disse estão realmente encaixando as práticas e o ensinamento do Yoga dentro dos
paradigmas dos seus alunos, nesse desinteresse.
No fim de sua vida, Jung declarou claramente a finalidade de a vida humana ser a
criação da consciência: " tanto quanto podemos discernir a finalidade única da
existência humana é a de avivar uma chama na escuridão do simples ser". Disse que
toda a angústia atual é devido à descentralização do homem.
Assim, no meu entender, Jung descobriu "sozinho" o que a tradição védica do yoga vem
passando de geração em geração, porém, parece que não deu tempo dele sacar isso.
Realmente, a aculturação do yoga ou o leva para uma cristianização do yoga, ou um
corte da espiritualização, devido a esse conhecimento ocidental das estruturas cognitivas
do ser humano, separando a espiritualidade para uma fé, fora da estrutura corpórea do
ser, ou outros interesses.
Jung estava chegando próximo dessas estruturas complexas orientais, na minha visão.
Pra mim, o processo de aculturação não poderá prescindir esse entendimento.
Abraço.
Hari Om.
https://www.yoga.pro.br/openarticle?id=1185&A-ACULTURA%C3%87%C3%83O-
DO-YOGA