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Sumário
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Os livros Poéticos – Introdução
Os livros Hagiógrafos do Antigo Testamento são para os judeus o que nós chamamos
de Livros Poéticos e compreendem: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, e Cantares, alguns
dos nossos estudiosos incluem neste grupo as Lamentações de Jeremias.
No cânon hebraico tradicional, contudo, apenas Jó, Salmos, e Provérbios são
chamados de "poesia". Eclesiastes e Cantares fazem parte do grupo de livros chamados "os 5
rolos", lidos anualmente por ocasião das 5 festas sagradas dos judeus.
Estes livros não são chamados poéticos por romancearem seus relatos ou por
tratarem de assuntos imaginários ou irreais, mas este nome se deve à forma literária em que
foram escritos, à elegância do estilo e das expressões usadas e ao Paralelismo de idéias.
Paralelismo
O Paralelismo é o nome dado à principal característica da poesia hebraica, onde há
correspondência ou no pensamento ou na linguagem de uma frase com a outra. Esta
correspondência pode ser por repetição, ênfase ou contraste de idéias, assim o ritmo não se
obtém pela repetição de sons semelhantes (rima) e nem pela métrica.
"A poesia hebraica enfatiza o ritmo da idéia e não o ritmo do som, pois a mente
oriental está mais interessada no conteúdo da idéia do que nos meros artifícios literários".
Staniey Eilisen
Tipos de paralelismo
Eles são de muitos tipos:
a) Sinônimo:
Uma frase encontra expressão sinônima na frase seguinte.
Ex.: SI. 24:1 - "Ao Senhor pertence a terra, e tudo o que nela contém; o mundo e os que
nele habitam".
Sl. 19:1 - "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de
Suas mãos".
SI. 19:2 - "Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a
outra noite".
b) Antitético:
Uma frase expressa idéia contrária à outra frase. O realce é pelo contraste. Ex.: SI. 1:6 -
"Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá".
c) Sintético ou Construtivo:
As frases vão se completando e correspondendo, como uma construção.
Ex.: Pv. 15:17 - "Melhor é um prato de hortaliças onde há amor, do que o boi cevado e
com ele ódio".
SI. 19:7 - "A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma, o testemunho do Senhor é fiel e
dá sabedoria aos simples".
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Pv. 10:22 - "A bênção do Senhor enriquece, e com ela não traz desgosto".
d) Há certos tipos de paralelismo menos importantes como: Analítico (SI. 23:1), climático (SI.
29:1), emblemático (SI. 103:1), quiasmo (SI. 51:1).
a) A correspondência de uma frase do período com outra, quer pelo sinônimo ou pela
antítese, muitas vezes ajuda o leitor na interpretação de uma idéia difícil ou ambígua do
texto.
b) Ele realça e amplia o brilho do texto.
c) Como independe de métrica ou rima, a beleza do texto e da mensagem não se perde nas
traduções e versões para outros idiomas, como acontece com a Bíblia.
Acrósticos
Por vezes os versos hebraicos estão escritos em ordem alfabética, sendo a primeira
letra de cada linha ou verso, as letras do alfabeto hebraico na devida ordem.
Ex.: Salmos 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119, 145. (Veja também as Lamentações de Jeremias).
Isto tinha como finalidade para eles facilitar a memorização, mas para nós este valor
se perde na tradução.
Os livros são escritos por homens de Deus, inspirados pelo Espírito Santo, os quais
vivem uma variedade de experiências do cotidiano, semelhantes às nossas, e que nos são
úteis na medida em que apareceram no texto sagrado interpretadas. São aplicadas a nós pelo
mesmo Espírito Santo que produziu estas experiências e inspirou os autores sagrados a
registrarem-nas.
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Jó
NOME - Assim como Ester, o nome do livro não é o nome do seu autor, mas do seu
personagem principal.
No hebraico Jó "IYYOB" que pode significar "o perseguido", enquanto no árabe quer dizer
"arrependimento". Como a história parece se dar na parte norte da Arábia, o significado mais
plausível é o segundo.
AUTOR - O livro é anônimo, e vários são os cogitados como autores: Jó, Eliú (Jó 32:6),
Jeremias, e mais fortemente, Moisés ou Salomão. A tradição hebraica crê ser Moisés, o qual
conheceu a história durante o período de sua vida que esteve em Midiã. Outros estudiosos,
comparando o estilo e o conteúdo de Eclesiastes com Jó, afirmam ser Salomão o seu autor.
DATA DA ESCRITA - Como não se conhece com precisão seu autor, não se conhece, por
conseguinte sua data de escrita.
Se foi Eliú a data é o XXII século a.C.; se Moisés, em torno de 1450 a.C.; se Salomão, em torno
de 950 a.C..
TEMPO DA AÇÃO - Embora não se saiba ao certo quando este livro foi escrito, parece
haver, no entanto poucas dúvidas de que Jó foi realmente um personagem histórico e não
alguém fictício criado para fins de lições morais e espirituais (Ez. 14:14; Tg. 5:11), habitou a
cidade de Uz (Jó 1:1), cidade à sudeste da Palestina, norte da Arábia, vizinha de Edom; e que
esta história verídica se deu no período patriarcal antes de Moisés e Abraão, mas apôs o
dilúvio (portanto entre Gênesis 11 e 12). As razões para que se creia nisto são:
VERSO-CHAVE - É o 23:10 - "Mas Ele sabe o meu caminho; se Ele me privasse, sairia eu
como o ouro."
Mas também poderia ser o 1:21 - "Nú saí do ventre de minha mãe, e nú voltarei; o
Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!"
Este livro nos mostra as diferentes facetas interpretativas, humanas e teológicas, que
compõem a discussão do problema do sofrimento humano, em especial, do sofrimento do
justo.
Aqui aparecem a perspectiva satânica, a do piedoso sofredor, a de seus amigos de
fora do problema, e a de Deus.
Dentre muitos objetivos, o livro destaca como a soberania de Deus está acima do
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poder de Satanás, e pode usá-lo para que através do sofrimento, amadureça, purifique e
estimule a fé de seu povo.
A história começa com a apresentação de Jó como um homem íntegro e temente a
Deus (Jó 1:1), próspero e feliz (Jó 1:2-3).
Satanás aparece diante de Deus entre os seus anjos, e claramente é descrito não como
"uma força impessoal" ou um "espírito mau", mas uma pessoa angelical, poderosa, inimiga
de Deus e do homem, que observa atentamente o ser humano procurando uma brecha para
derrotá-lo (compare: Jó 1:6-11 e 2:1-5; com II Co. 2:11; 11:14; Ef. 2:2; I Pe. 5:8).
Satanás acusa (Ap. 12:10) Jó de ser interesseiro e mercenário, pois sendo rico e feliz
não podia servir de exemplo de amor e temor a Deus. Deus permite a Satanás tirar-lhe os
seus bens materiais e a saúde sem, contudo tirar-lhe a vida (compare: Jó 1:12 e 2:6 com I Co.
10:13).
Ao lhe sobrevir terríveis sofrimentos, Jó é incentivado por sua néscia esposa a
maldizer e abandonar Deus (Jó 2:9), porém Jó permanece fiel ao Senhor crendo que Deus era
o Senhor de todas as coisas (Jó 2:10).
É neste ponto que surgem três amigos (Elifaz, Zofar e Bildade) os quais possuem a
virtude de não abandoná-lo na dor, de condoerem-se, de chorarem com ele, e de uma forma
ou outra tentarem ajudá-lo (Jó 2:11-13).
Em que seus amigos foram maus conselheiros? Na aplicação de sua “teologia
insensível da prosperidade" ou "lei da causa e efeito do Deus que retribui o bem com o bem e
o mal com o mal."
Eles criam, como muitos ainda em nossos dias, que por serem ricos e saudáveis, eram
justos, e que doença e pobreza eram sinais de impiedade castigada. Era um legalismo
insensível. Deus estaria sempre disposto a abençoar o homem com bênçãos materiais,
espirituais e de saúde, desde que o homem merecesse, não havendo outra forma de Deus
revelar sua graça.
Transmitiram isto a Jó, concluindo que ele estava em pecado, portanto merecedor de
castigo, e o não reconhecer isto, além de ser blasfêmia contra Deus, o impediria de ser
abençoado.
Jó reage a esta teologia, e o livro todo é uma resposta a esta terrível "teologia
insensível da prosperidade", de um Deus "toma-lá-dá-cá", de um "Deus monótono" em sua
ação abençoadora. Jó buscou a verdadeira teologia que pudesse firmar-lhe a fé, vendo a
graça de Deus em meio ao sofrimento.
Há justos que sofrem e são pobres, enquanto há ímpios prósperos e felizes (ver Sl. 37
e 73).
Quando lemos os discursos dos três amigos de Jó, devemos nos lembrar que a
Palavra de Deus ali é o registro inspirado dos discursos, servindo-nos como ilustrações e não
propriamente o conteúdo de suas argumentações (o mesmo princípio se aplica às palavras
de Satanás que aparecem na Bíblia).
Em meio a estes debates surge Eliú, o qual não é citado no prólogo (Jó 2:11) porque
aparece quando os discursos já iam adiantados. É ele quem mais se aproxima da verdade,
enaltecendo a perfeita justiça de Deus e o caráter educacional do sofrimento na vida do justo
(Jó 32 a 37). No entanto também Eliú não traz a verdade completa e não apresenta soluções
concretas.
O fim dos debates é marcado por dois grandes discursos do Senhor, o qual antes de
discutir com Jó as razões do sofrimento e as respostas às questões a Ele feitas, discorre sobre
Seu grande poder criador e controlador de todo o Universo, visando propósitos bem
definidos seus, e incalculáveis pela limitada mente de Jó (Jó 38 a 41).
O Senhor condena a auto-piedade e justiça-própria, reclamados por Jó (Jó 29).
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Na conclusão do livro, Jó alcança os propósitos de Deus para a sua provação. Jó
reconhece a soberania, o poder e a sabedoria de Deus. Vendo mais realmente a Deus, Jó viu-
se melhor. É como a experiência de Isaías 6:1-5. Jó viu suas limitações e fraquezas, sua total
dependência de Deus. Este atual, experiencial e profundo conhecimento de Deus, contrasta-
se com o anterior teórico conhecimento quando em meio à prosperidade (Jó 42:1-6).
Deus então lhe restaura em dobro tudo o que ele tinha antes das provações (Jó 42:10).
1a) Jó é um poema com duas prosas no prólogo e epílogo, intermediados por um diálogo.
Dividiríamos o livro então:
2a) Poderíamos dividi-lo também, segundo a presença dos personagens que surgem na
história:
a) Jó - cap. 1:1-6
b) Deus e Satanás - cap. 1:6-2:10
c) Jó e seus amigos - cap. 2:11-37
d) Deus e Jó - caps. 38 a 42
COMENTÁRIOS
1 - “As perspectivas para o sofrimento dos justos que aparecem no livro de Jó, são as
seguintes”:
a) a de Satanás: ele usa o sofrimento para forçar o justo a abandonar Deus (1:11 e 2: 4 e 5).
d) a de Jó: - o sofrimento é para o iníquo e não para o justo (6:24 e 7:20). - o sofrimento é um
processo refinador como se produz ouro (23:10).
- o sofrimento é um apelo para confiar, mesmo quando não entendemos o propósito (13:15).
- o sofrimento pode ser um meio de Deus trazer alguém a um ponto em que ele já não saiba
mais o que fazer, e de tal forma indefeso, faça de Deus seu único possível defensor (42:3-7).
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b) Nossa desobediência às leis naturais e espirituais que regem a terra. Deus criou
este mundo e o faz existir sob leis naturais. Da mesma forma, relaciona-se com o homem sob
leis espirituais. O infringir tais leis, trará sobre nós inevitavelmente sofrimentos.
c) Satanás - Ele é o príncipe deste mundo que alimenta o ódio contra Deu e contra o
homem, em especial contra aqueles que buscam aproximar-se de Deus (I Pe. 5:8; II Tm. 3:12;
Lc. 22:31).
3 - Em oposição clara aos argumentos dos amigos de Jó, de que sofrimento sempre significa
pecado ou distanciamento de Deus temos:
a) Os textos listados acima que revelam os propósitos de Deus na vida dos seus servos,
através do sofrimento.
b) Os ímpios que, em contrapartida, prosperam.
c) O testemunho de Jó, Estêvão (At. 7:59), Paulo (II Co. 12:7) e Jesus (I Pé. 2:21; Hb. 5:8).
4 - Jó é o livro mais antigo da Bíblia junto com o Gênesis, no entanto fala de conhecimentos
modernos da ciência, como a pressão barométrica (Jó 28:24 e 25), a evaporação e hidrometria
(Jó 36:27 e 28).
Traz ainda uma série de revelações teológicas como: atividades angelicais (Hb. 1:14),
o caráter satânico (Ap. 12:10; Lc. 22:31; I Pé. 5:8) o ministério do Messias (Jó 16:19), a
ressurreição dos mortos (Jó 19:26 e 27), a ressurreição de Jesus (Jó 19:25), e o combate à
reencarnação (Jó 7:9 e 10; 10:19-22; 14:7-14).
6 - Este é o terceiro livro do cânon, que embora apareça em seqüência aos demais, no entanto
contém fatos concomitantes a outros livros precedentes. Veja: Rute é concomitante aos
Juizes, Ester é concomitante ao relato de Esdras e Jó está situado cronologicamente entre
Gênesis 11 e 12.
7 - Staniey Eilisen em seu livro "Conheça melhor o Antigo Testamento" - Ed. VIDA faz as
seguintes e interessantes comparações entre Jó e Ester:
a) Ambas as histórias são dramas - Em Ester o herói passa da pobreza à riqueza a fim de
servir a Deus e ao seu povo. Em Jó o herói passa da riqueza à pobreza para servir a Deus e ao
seu povo.
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Salmos
NOME - O nome que usamos é derivado do grego "PSALMOI" que significa poemas
cantados com instrumentos musicais", e no hebraico o título do livro é Sefer Tehillim ou
"livro de louvores".
É uma característica do livro de Salmos, dar nomes ou títulos também a muitos de
seus capítulos, títulos estes, que parece terem sido dados não originalmente, mas antes da
versão da Septuaginta.
Ex.: Mizmor (canção para ser acompanhada com instrumentos de corda) - SI. 76
Shiggayon - (salmo penitenciai) - SI. 7
Ao mestre de canto (instrução musical) - SI. 75
Estes títulos na Bíblia hebraica foram incorporados ao texto, tornando-se os primeiros
versos destes capítulos.
AUTOR - São muitos os autores, os quais são conhecidos pelos títulos apostos aos salmos, já
que em si mesmos os salmos não declaram sua autoria.
Os salmos são muitas vezes chamados de "Salmos de Davi" porque ele foi o autor da
maioria deles, mas há entre títulos apostos e informações da tradição judaica, cerca de 12
autores:
- Davi compôs 73 salmos.
- Asafe (I Cr. 6:39, I Cr. 16:4 e 5 e II Cr. 29:30) era diretor de louvor no templo e
também profeta, compôs 12 salmos - o 50 e os de 73 a 83.
- os filhos de Coré (I Cr. 26:1 e I Cr. 9:19) eram cantores e porteiros do templo,
compuseram 12 salmos - os de 42 - 49, 84, 85, 87 e 88.
- Salomão, compôs os 72 e 127.
- Hemã (I Cr. 6:33 e I Rs. 4:31), o 88.
-Etã (ICr. 15:19), o 89.
- Moisés, o 90.
- Jeremias, o 137.
- Ageu, o 146.
- Zacarias, o 147.
- Esdras, o 119.
- e há cerca de 48 salmos anônimos.
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34, etc.).
Certamente ele foi o primeiro a arrumar um hinário para ser usado nos cultos, é o que
nos revela o texto de SI. 72:20.
c) Salomão constrói o templo, compõe seus salmos assim como Asafe, os filhos de
Core, Etã e Hemã.
4000 cantores entoavam os Salmos sob a direção dos diretores de música Asafe, Hemã
e Jedutum (I Cr. 23:5 e 25:1).
d) Alguns salmos foram compostos no período do cativeiro e pós-cativeiro, quando
seria reerguido o 2° templo. (Já que o 1° de Salomão fora destruído por Nabucodonosor).
Parece ter sido Esdras o colecionador, e organizador final do saltério com os 150 salmos que
hoje temos.
CONTEÚDO
Este é o livro da Bíblia mais lido, conhecido e citado, por homens e pelos próprios
outros livros das Escrituras Sagradas. Isto se deve sem dúvida alguma à abrangência,
utilidade, pragmatismo, beleza e profundidade que há em seu conteúdo.
São todas as nossas situações cotidianas encontrando explicações, soluções e curas. São
expressões de ações de graça, adoração, quebrantamento, perplexidade, dúvidas, clamor por
libertação, lágrimas e júbilo, traduzidos sob forma de louvor diante do Senhor.
DIVISÃO - Há uma divisão existente no próprio livro que divide os Salmos em cinco livros.
Na opinião de muitos estudiosos eles foram assim divididos para corresponderem ao
Pentateuco, terminando sempre cada um dos livros com uma doxologia. Desta forma
teríamos:
a) Livro I - SI. 1 ao 41 - Corresponde ao Gênesis, e seu tema principal é o homem, seu estado
de bem aventurança, queda e restauração. Exemplo: Salmo 8. Quase a totalidade destes
salmos pertence a Davi.
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Exemplo: SI. 42 e 68. Alguns destes salmos são dos filhos de Coré, mas a maior parte é de
Davi.
e) Livro V - SI. 107 a 150 - Corresponde a Deuteronômio e seu tema principal é a Palavra de
Deus. Exemplo: SI. 119. Muitos deles são de Davi, mas a maioria é anônima.
COMENTÁRIOS
1 - Os autores sagrados citam os salmos 112 vezes em seus escritos, abrangendo 97 dos 150
Salmos. Damos aqui alguns poucos exemplos: Ef. 4:26 e SL 4:4; I Pe. 2:3 e SL 34:8; Lc. 1:53 e
SL 107:9; Ap. 5:9 e SL 144:9; SL 14:1-3 e Rm. 3:10-18.
2 – A palavra "Selá" (Sl. 66:15) que aparece cerca de 70 vezes nos salmos pode ter vários
significados:
3 - A palavra "Aleluia" deve ser traduzida como "Louvai ao Senhor". Ela é uma palavra
composta de duas outras: hallel (louvar) e Yah (abreviatura de Yahweh-Senhor).
a) Na maioria das vezes o inimigo focalizado no Salmo não deve ser visto como um
indivíduo pessoal que guerreia com outro indivíduo, mas o simbolismo de inimigos do
próprio Deus, como sejam Satanás ou sistemas sobre os quais realmente recaem terríveis
maldições.
c) Os salmistas não estão vivendo sob o espírito do evangelho, mas sob a antiga lei da
retribuição de Lv. 24:17-20.
5 - Staniey Elissen, em seu livro "Conheça melhor o Antigo Testamento" Ed. VIDA nos diz
que os cinco salmos finais (146-150) dão ao livro de Salmos seu clímax de encerramento e
síntese. Cada um desses capítulos começa e termina com "Aleluia" ou "Louvai ao Senhor".
SI. 146 - Quando louvar ao Senhor? - "Enquanto eu viver".
SI. 147 - Por quê? - "Porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus".
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SI. 148 - Quem? - "Toda a criação, todos os povos".
Si. 149 - Onde? - "No santuário, nas festas, nos leitos, nas guerras".
Si. 150 - É o resumo: quem, onde, por quê, como e por quem será dado o louvor.
6 - Uma outra divisão do livro dos Salmos, citada por Henrietta Mears em seu livro "Estudo
Panorâmico da Bíblia" - Ed. VIDA é:
a) Livro I - SI. l a 41 - o Homem, sua bem-aventurança, queda e restauração.
b) Livro II - SI. 42 a 72 - Israel.
c) Livro III - SI. 73 a 89 - o santuário.
d) Livro IV - SI. 90 a 106 - a terra.
e) Livro V - SI. 107 a 150 - a Palavra de Deus.
b) Na Septuaginta, o Salmo 114 foi unido com o 115 formando um só, tendo na Bíblia
católica, portanto esta união o salmo de número 113. A diferença numérica é, portanto agora
de dois números, mas...
d) Da mesma forma o nosso Salmo 147 foi desmembrado nos Salmos 146 e 147 da
Bíblia católica, encerrando os dois saltérios, o protestante e o católico com 150 salmos.
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Provérbios
AUTOR - Salomão foi o autor e compilador da maioria dos provérbios (Pv. 1:1; I Reis 4:32),
apresentados entre os capítulos 1 ao 24. Foi também o autor dos provérbios que estão
contidos nos capítulos 25 ao 29 (Pv. 25:1), os quais foram, no entanto, compilados pelos
escribas do rei Ezequias (profetas Isaías e Miquéias?). Agur e o rei Lemuel foram os autores
dos capítulos 30 e 31, mas são pessoas desconhecidas para nós.
Quando analisamos a disposição do livro, ele parece apresentar uma conclusão no
capítulo 24, provérbios estes que precedem o período do reinado de Ezequias. Este rei
provavelmente reuniu então provérbios adicionais, durante o período de avivamento
espiritual experimentado em seu reino.
DATA DA ESCRITA - Segundo o relato de I Rs. 4:32, Salomão durante o seu reinado (971-
931 a.C.) compôs cerca de 3000 provérbios, porém o livro só apresenta 400 destes.
Quando e como, estes foram selecionados? Quando foram acrescentadas as
composições de outros sábios (Pv. 22:17), Agur e Lemuel?
Uma resposta precisa não se tem, mas o próprio livro de Provérbios declara ter
havido uma seleção de provérbios feita pelos sábios do tempo do rei Ezequias (± 700 a.C.),
crendo-se então girar em torno desta data a compilação final do livro de Provérbios.
Coincide este fato com o período de reformas implantadas pelo rei Ezequias. (II Cr. 29:25-30)
TEMPO DE AÇÃO - Como já vimos, este livro cobre vários séculos de produção literária.
São quase 300 anos, pois há composições de Salomão (971 a.C.), seleção dos sábios de
Ezequias (700 a.C.) e obras de prováveis contemporâneos de Ezequias como Agur e Lemuel.
CONTEÚDO
Salomão foi o homem mais sábio que já viveu sobre a terra (I Rs. 4:29-32), e esta
sabedoria foi recebida de Deus, a qual também está ao nosso alcance (Tg. 1:5 e 6).
O tema central deste livro é a sabedoria de forma prática, não apenas para viver uma
"boa vida", mas para viver no temor do Senhor. Deus é a sua fonte, e o princípio dela é o
próprio temor do Senhor. Todas as máximas apresentadas no livro objetivam gerar homens
saudáveis e redimidos, bem sucedidos na vida, segundo o projeto de Deus para nós.
Os princípios de vida são divinamente inspirados e apresentados sob a forma de
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ditados, que por contraste ou comparação, retraíam as experiências, características e o
caminhar do sábio e do tolo, do justo, do preguiçoso, do bom e do mau, do insensato, da
mulher virtuosa, etc.
Esta sabedoria atravessa gerações e deve ser a base para nosso viver diário, bem como
parâmetro para avaliação de nossa conduta.
Os provérbios não são princípios infalíveis de sucesso, mas normas gerais de Deus
trabalhar. As exceções, por exemplo, um justo que não goza paz, felicidade ou longevidade
devem-se a projetos e propósitos particulares de Deus para aquelas vidas.
É ampla a gama de assuntos no livro abordado: o uso das riquezas, o tratamento para
com os pobres, amigos e vizinhos, o controle da língua, a honestidade, a justiça, a obediência
aos pais, etc.
Poderíamos dizer de forma prática, que os Provérbios no A.T. corresponde ou
equivale ao Tiago no N.T..
3 - Stanley Ellisen, em seu livro "Conheça melhor o Antigo Testamento" - Ed. VIDA, diz que
Provérbios nos apresenta três níveis de insensatez:
a) O simples ou néscio - É o ingênuo, o inocente, que se deixa levar facilmente.
b) O louco ou insensato - os que rejeitam a verdade, desprezam a sabedoria, odeiam o
conhecimento.
c) O escarnecedor - O desordeiro que deliberadamente zomba da integridade e ridiculariza
qualquer tipo de correção.
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Eclesiastes
NOME - No hebraico é "Qoheleth" que significa "o pregador" (em uma assembléia). No
grego é Eclesiastes ou "palavras do pregador". Talvez este material tenha sido discursado
publicamente, com finalidades instrutivas, aos seus ouvintes.
AUTOR - Como o próprio livro, a autoria é enigmática. Alguns crêem ser Salomão,
baseando-se para isto nos versos 1:1, 12 e 16 e 12:9. Mas outros contestam questionando:
Como ser Salomão se ele afirma em 1:12, "Fui rei" (no hebraico), e "a sabedoria estava longe
de mim" em 7:23?
Os argumentos a favor e contra a autoria de Salomão são os seguintes:
A FAVOR
a) O autor ao identificar-se apresenta-se como o sábio rei de Israel, filho de Davi (1:1,
12 e 16; 2:9).
b) Compôs e reuniu muitos provérbios (12:9).
c) A tradição judaica afirma ser Salomão o autor.
d) O autor do livro é sábio, rico, vitorioso, que passou por momentos de queda
espiritual e ao final se levanta novamente. Como a história de Salomão.
CONTRA
a) O nome de Salomão não aparece neste livro, tal como aparece em Cantares e
Provérbios.
b) A linguagem, o estilo, algumas palavras não se adequam ao tempo contemporâneo
a Salomão, e sim ao período pós-exílico.
c) Muitos dos estudiosos de hoje descrêem da autoria de Salomão.
DATA DA ESCRITA - Aceitando Salomão como autor do Eclesiastes, a data da escrita deve
ter sido ao final de seu reinado, aproximadamente 935 a.C.
TEMPO DA AÇÃO - Este livro seria um discurso reflexivo de arrependimento ao final de
sua vida, o que solucionaria a questão deixada em I Reis 11 sobre a apostasia de Salomão.
VERSO-CHAVE - É o 2:11 - "Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como
também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás
do vento e nenhum proveito havia debaixo do sol".
CONTEÚDO
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fim.
Ao final de sua vida, depois de grandes obras e de usar santamente a sabedoria e os
recursos materiais dados por Deus, Salomão desviou-se do Senhor (I Rs. 11:1-8) passando a
viver na idolatria e no pecado (Ec. 2:1-11) e aí aplicando sua sabedoria na busca do
significado da vida humana, agora sem a perspectiva de Deus.
Há 4 frases-chave no livro e elas nos ajudam, por sua freqüência de repetições, a
compreender o estado de Salomão e seus propósitos.
"Eu vi" "debaixo do sol", retraíam a limitação em que ele se encontrava sem a
presença de Deus e a perspectiva que tinha da vida e de tudo sem olhar para cima,
descrendo dos propósitos e da intervenção de Deus na existência humana. Como resultado
desta situação, deste estado, ele conclui que "tudo era vaidade" e "correr atrás do vento",
tudo era futilidade, vazio.
As conclusões apresentadas no livro, deste tempo distante de Deus, não são
inspiradas por Deus, porém o registro delas sim, servem-nos para nossa reflexão quanto à
visão da vida, e a interpretação dos fatos, para um homem sem Deus.
Eclesiastes é um discurso de Salomão ante uma assembléia, após novamente cair em
si e arrepender-se, e em meio às suas perplexas lembranças do seu tempo de pecado, ele
acaba concluindo suas palavras e compartilhando a seus ouvintes, fortes afirmações
piedosas, (caps. 11 e 12)
COMENTÁRIOS
1 - Neste livro o nome de Deus, Jeová, aquele com o qual o Senhor se apresenta e trata com o
homem em missão redentora, não aparece.
Entretanto a sabedoria de Deus e seu poder criador são enfatizados pelo nome de
Deus, Elohim, que aparece mais de 40 vezes.
2 - Eclesiastes também enfatiza a eternidade da vida e o juízo de Deus através dos textos
(3:11 e 17; 11:9; 12:5,7 e 14).
3 - Henrietta Mears, em seu livro "Estudo Panorâmico da Bíblia" - Ed. VIDA, nos diz que o
problema de Salomão era: como achar felicidade e satisfação longe de Deus? (Ec. 1:1- 3).
Ele busca na ciência (1:4-11), e na filosofia (1: 12-18), mas em vão.
Descobre que o prazer (2:1-11), a alegria (2:1), a bebida (2:3), a construção (2:4), as
possessões (2:5-7), a riqueza e a música (2:8), são todos vazios.
Em termos de correntes filosóficas, ele experimentou o materialismo (2:12-26), o
fatalismo (3:1-15), o deísmo (3:1-4:16), mas também eram vãos. A religião (5:1-18)), a riqueza
(5:9 - 6:12) e até a moralidade (7:1 - 12:12), são igualmente inúteis. Sua conclusão é 12:13:
"teme a Deus e guarda seus mandamentos".
17
Cantares de Salomão
NOME - No hebraico o nome do livro é "Cântico dos Cânticos" pois as primeiras palavras do
livro são: Cântico dos Cânticos de Salomão, e representam o principal dos 1005 cânticos
compostos por Salomão (I Rs 4:32).
Alguns estudiosos modernos tentam negar esta autoria afirmando haver no livro,
palavras persas, aramaicas e gregas. Porém a autoria de Salomão é confirmada, pois:
a) Salomão era um rei com intensa relação exterior em seu reino e comércio, além de
ter-se casado com várias esposas estrangeiras, explicando seu rico vocabulário.
b) Salomão era profundo conhecedor de plantas e animais (IRs. 4:33) e menciona em
Cantares, vinte e uma espécies diferentes de plantas (rosa de sarom, lírios, macieiras, canela,
etc.) e quinze espécies de animais (cervos, gazelas, pombas, etc...).
c) A tradição judaica afirma ser Salomão.
d) Semelhanças terminológicas com Provérbios e Eclesiastes.
e) Faz referências geográficas ao Sul e ao Norte de Israel, como uma nação ainda
unida, já que após sua morte o reino foi dividido.
TEMPO DA AÇÃO - Salomão já era rei, e já tinha expandido seu reino até Jezreel, porém
seu harém ainda era relativamente pequeno (Ct. 6:8 e 9). Cantares parece corresponder ao
inicio do reinado de Salomão, assim como Provérbios ao meio de seu reinado e Eclesiastes ao
final. Em tomo de 965 a.C.
VERSO-CHAVE - É o 6:3 - "Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia
entre os lírios”.
TEMA - AS DELÍCIAS DO PURO AMOR CONJUGAL
CONTEÚDO
Este é talvez o principal cântico, dos cânticos de Salomão, contando a história do
conhecimento, noivado e casamento de dois personagens: o rei Salomão ("Príncipe da paz") e
a Sunamita ("a pretendente da Paz"). O poema não tem pausas, é entrecortado subitamente
por um coro de jovens, e traz a fala dos dois personagens passando da voz de um para a voz
do outro de forma repentina.
Na história do poema (idílio lírico), uma camponesa da cidade de Suném, na encosta
do monte Hermon, apascentava cordeiros e lavrava a vinha da família, que na verdade
pertencia ao rei Salomão. Um dia, estando a cuidar do rebanho, encontrou-se com um
formoso estranho (era Salomão disfarçado de pastor) ao qual se afeiçoou. Eles convivem
durante um tempo, prometem-se em casamento até que um dia este estranho parte
prometendo voltar. Ela esperou muito tempo crendo na promessa e sonhando com este dia.
Certo dia ele volta, e vem com grande séqüito proclamando-a sua esposa, levando-a
18
então para o palácio. E aí no palácio que o poema é cantado, fazendo-se recordações do
passado.
O livro de Cantares em primeiro lugar, enaltece a beleza e pureza do casamento,
permeio da história de Salomão e sua esposa; em segundo lugar, traz na história uma
revelação figurada do amor de Deus para com Israel, o povo de sua aliança (Is. 54:5 e 6; 62:4
e 5; Os. 2:16-23); e em terceiro lugar, aqui os cristãos podem encontrar uma interpretação
alegórica do relacionamento entre Cristo e sua noiva celestial, a Igreja (II Co.ll:! e 2; Ef. 5:25;
Ap.19:7 e 8; 21:2 e 9).
DIVISÃO
É preciso conhecer bem o estilo de escrita de Cantares para que o possamos entender
e dividir. As falas parecem por vezes confundirem os personagens e o desenvolvimento da
história não é simples de se compreender.
Além das muitas metáforas na linguagem poética este poema é um idílio lírico, ou
seja, uma história campestre, contada sob a forma de um poema onde o relato não segue
uma seqüência lógica cronológica, mas há "flash-backs" e coros entrecortando o relato.
Dividiremos o livro em cinco cenas:
COMENTÁRIOS
1 - Alguns estudiosos modernos analisam o texto não como um idílio lírico, mas como um
drama onde a Sunamita seria noiva de um pastor como ela, em sua terra. Salomão a encontra
em sua vinha e a leva para seu palácio em Jerusalém fazendo todo esforço para convencê-la a
desposá-lo, ela, contudo permanece fiel ao seu noivo. Até que por fim, com a aprovação do
rei, ela retorna à sua terra para desposar seu noivo, enaltecendo a fidelidade do amor.
Esta hipótese é rejeitada pela maioria porque:
2 - O livro, tal como Ester, não traz uma vez sequer o nome de Deus. Não é um conto
religioso, ou um estímulo à fé. Mas é tão belo, tão verdadeiro, tão sincero, que foi
considerado sagrado pêlos judeus porque este relacionamento amoroso é perfeita alegoria
para o amor entre Deus e seu povo Israel.
Por este motivo, o livro é lido anualmente por ocasião da festa da Páscoa, a
comemoração mais importante para os judeus.
3 - Podemos afirmar sem sombra de dúvida, que Cantares é o livro menos lido e menos
pregado em nossas igrejas. É o livro mais deturpado pelos ascetas e pelos sensuais, sendo
19
contudo de grande importância nos dias que vivemos.
A má interpretação dada ao livro divide os cristãos em dois grandes grupos:
a - Aqueles que acham o livro dispensável, vendo nele um conto erótico, que faz enrubescer,
pela mera leitura.
b - Aqueles que o espiritualizam completamente, transcendentalizam-no, tornam seu relato
sobrenatural. Crêem que é uma história alegórica e tentam encontrar significados espirituais
para cada detalhe da história, das palavras e dos acontecimentos.
b) Os judeus viram nesta história real uma bela figura alegórica para o relacionamento
amoroso entre Deus e seu povo Israel. A igreja primitiva, entretanto relaciona a história
de Cantares com Cristo e sua noiva, a Igreja.
c) A alegorização, no entanto, total do texto é absurda, difícil e por incrível quanto pareça,
quase pagã.
Como a história é uma verdadeira história, pode servir-nos para alegorizar ou tipificar o
relacionamento entre Deus e Israel, Cristo e a Igreja, nos seus pontos centrais, mas não em
todos os detalhes como querem aqueles que vêem no poema, uma mera e total alegoria.
Torna-se difícil e requer "mágica" encontrar significados espirituais para cada palavra do
noivo, da noiva, ou detalhe físico destacado e enaltecido por um dos noivos, por exemplo.
E a visão grega do ascetismo, que condena o que é físico, carnal, material, a algo inferior,
considerando sublime apenas o que é espiritual, que, foi assumida por grande parte dos
cristãos ainda hoje. É pagã esta visão! O físico, criado por Deus também é belo, inspirador
e deve ser cuidado, embelezado e enaltecido, sem pecaminosa vaidade. O corpo é tão
importante que seremos eternamente espíritos com corpos glorificados, não corruptíveis,
tal como Cristo é hoje.
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Os livros proféticos
"O Senhor advertiu a Israel e Judá por intermédio de todos os profetas e de todos os
videntes dizendo: Voltai-vos dos vossos maus caminhos e guardai os meus mandamentos e
os meus estatutos, segundo toda a lei que prescrevi a vossos pais e que vos enviei por
intermédio dos meus servos os profetas". II Rs. 17:13.
"Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu
segredo aos seus servos, os profetas". Am 3:7.
NOME
Os nomes de todos os livros proféticos são sempre os nomes de seus autores e mensageiros,
os quais identificam-se no primeiro versículo (exceto Daniel).
Além disto, o significado de seus nomes expressa quase sempre de maneira
magnífica o conteúdo de suas mensagens.
Deus a princípio falava diretamente ao homem. Seu plano de comunicação não
contava com intermediários, mas o pecado afastou o homem, de Deus. Este decidiu usar os
Patriarcas como seus porta-vozes e falar às famílias através de seus líderes comprometidos
com Ele.
Com a organização da nação de Israel o ofício profético passa aos levitas os quais
tinham a responsabilidade de representar Deus na terra, ensinar e aplicar a lei aos assuntos
do cotidiano. A medida que os sacerdotes e levitas foram tornando-se "profissionais",
"técnicos", distantes do compromisso de santidade e envolvidos com o pecado e com o
decadente sistema secular, a fim de que a verdadeira mensagem de Deus se mantivesse
íntegra, Deus decidiu mudar de porta-vozes e chamar homens de outras tribos de Israel, em
diferentes tempos e lugares, fazendo-os seus confiáveis porta-vozes.
Estes homens, de vida santa, consagrada a Deus, foram enviados com mensagens aos
sacerdotes, aos reis e autoridades, ao povo de Israel e às nações pagãs.
Entendemos um pouco mais do que representa o ministério profético a partir do
significado dos nomes atribuídos aos profetas de forma geral nas Escrituras Sagradas. Há
cinco palavras ou expressões usadas na descrição ou denominação dos profetas:
b) Vidente -1 Sm 9:9
Eram assim chamados porque viam o que os olhos humanos comuns não
podiam ver.
Não era uma questão de possuírem psicologia profunda, inteligência incomparável
ou uma manifestação de ocultismo. E verdade que Deus revelava sua mensagem
muitas vezes sob forma de visões (Am 1:1), mas esse nome vinha, sobretudo pelo
21
fato deles receberem o ponto de vista de Deus. Eles viam as coisas como Deus as
via e não iludidos pela aparência externa delas.
AUTOR
Chamamos de profetas orais aqueles cujos nomes e ministérios são conhecidos, mas
que nada deixaram escrito compondo o Cânon Sagrado. Suas mensagens e missões foram
aplicadas apenas a crises contemporâneas.
Ex.: Nata, Gade, Aias, Micaías.
Os profetas eram levantados em primeiro lugar para trazer mensagens aos seus
próprios contemporâneos, assim o seu contexto histórico e geográfico, social, político e
espiritual, não eram somente o pano de fundo, mas a razão e o alvo primeiro dos seus
ministérios.
Eles falavam:
b) Ao reino vizinho
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Diante da semelhança do contexto, Deus muitas vezes ao falar através de um profeta
ao seu próprio reino, o conduzia (ou às suas mensagens) ao reino vizinho também. Exemplo
disto são Miquéias e Amós.
c) Aos inimigos circunvizinhos
Freqüentemente a história do povo de Israel é marcada pela presença de povos
circunvizinhos quase sempre em situações adversas. Filístia, Edom, Moabe, Síria, Egito, são
inimigos constantes. Contra eles também muitas vezes Deus levantou seus profetas,
anunciando-lhes juízo.
Exemplo: Isaías capítulos 7, 15, 17, 18, 19, 21 e 23.
931 a.C. - Israel divide-se em dois reinos, Judá ao Sul e Israel ao Norte.
Joel (840 - 830 a.C.) - em Judá
Jonas (790 - 770 a.C.) - em Israel
Amos (780 - 740 a.C.) - em Israel
Oséias (760 - 720 a.C.) - em Israel
Miquéias (740 - 700 a.C.) - em Judá
Isaías (740 - 695 a.C.) - em Judá
23
Malaquias (450 - 400 a.C.) - Em Judá, após o cativeiro
Após Malaquias, Deus faz um silêncio profético, só voltando a falar através de João
Batista.
Tema e conteúdo
Algumas vezes as mensagens dos profetas eram simples, diretas e objetivas, voltadas
às nações pagãs:
Jonas vai a Nínive pregar arrependimento. Naum prega juízo contra Nínive. Obadias
prega juízo contra Edom.
Exceto isto, na grande maioria das vezes encontramos três elementos na mensagem
dos profetas:
b) No entanto, o Deus misericordioso tem um plano para o seu povo, ainda que não
possa aceitar o pecado, oferece uma oportunidade, fazendo convites ao arrependimento e à
conversão sincera.
COMENTÁRIOS
1 - Podemos avaliar a importância do estudo destes livros e o papel que eles possuem no
Cânon Sagrado segundo alguns parâmetros:
a) Pelo espaço que ocupam no Cânon.
Toda a Bíblia é Palavra de Deus para nossas vidas, nada nela é vão ou desprezível.
Em toda ela Deus nos fala revelando seu caráter, sua vontade, seu querer, etc. Ela expõe-nos
a nós mesmos como um espelho. Esta Palavra é eterna, pois foi para ontem, é para hoje e o
será para amanhã.
Ao estudarmos a Bíblia, descobrimos que 25% do Antigo Testamento é profecia, isto
significa quase 20% de toda a Bíblia.
24
Se não atentarmos para os livros proféticos do Antigo Testamento sob conteúdo
alcançava gerações futuras, dava-lhes uma visão completa e complexa, onde incluía ao
mesmo tempo elementos do presente, de um futuro próximo e de um futuro distante ou
remoto, tudo ao mesmo tempo, sem que fosse dado ao profeta, discernimento completo
sobre o que pertencia a que tempo, e quanto tempo decorria entre um evento e outro.
E algo que se assemelha a contemplarmos uma serra montanhosa à distância.
Aparentemente uma montanha se justapõe à outra, parecendo estarem intimamente ou
continuamente ligadas. À medida, no entanto que nos aproximamos, percebemos que há
enormes distâncias separando as montanhas com belíssimos detalhes não percebidos à
distância como vales, rios, cascadas, etc.
Na mensagem profética, proveniente de semelhante revelação, há eventos por vezes
descritos como se fossem contemporâneos, mas que estão na verdade separados por
milhares de anos (Is. 9:6). Há profecias sobre a vinda do Messias, que contém elementos de
sua primeira e da segunda vinda.
Veja Joel 1: 4 a 6 - Há a praga contemporânea, o juízo num futuro imediato através
dos Assírios e o juízo final.
25
Isaías
AUTOR - O autor é Isaías, filho de Amós, marido de uma profetiza e pai de dois filhos (1:1 e
8:3). Membro da família real, neto do rei Joás, primo do rei Uzias, foi profeta no palácio por
cerca de 50 anos, durante os reinados de Uzias Jotão, Acaz e Ezequias.
Morreu, segundo a tradição judaica, serrado ao meio, após ser enterrado vivo dentro
de um tronco oco, sob as ordens do terrível rei Manassés (ver Hb. 11:37).
Sua autoria única de todo o livro é contestada por muitos estudiosos da alta crítica,
porque o livro nitidamente possui duas partes (caps. 1 a 39 e caps. 40 a 66) diferentes quanto
à abordagem teológica, temática e conteúdo.
A segunda parte do livro teria sido escrita por outro autor durante o período pós-
exílico, pois nesta 2a parte:
TEMPO DA AÇÃO - Seu ministério profético durou cerca de 50 anos respondendo aos
últimos dias do reino do Norte. Isaías profetiza no reino Sul, entre 740 - 695 a.C. e são seus
contemporâneos Amós, Oséias e Miquéias.
Um pouco antes e durante a primeira parte de seu ministério, por volta 40 a.C., Amós
e a seguir Oséias, profetizavam no reino do Norte, enquanto Miquéias era conterrâneo e
contemporâneo de Isaías no reino do Sul, falando ovo do interior, já que Isaías era profeta
palaciano.
26
Israel, e apontar o Messias e sua graça.
CONTEÚDO
Isaías é considerado o maior dos profetas do A.T., sendo ao mesmo tempo profeta,
poeta, estadista e grande orador. Deus o usa, assim como usou Amós, o boiadeiro agricultor,
revelando com isto não fazer acepção de pessoas e sua disposição de usar homens
independentemente de suas qualidades ou utributos pessoais. Seu livro contém variadíssimo
material profético, pois ele denunciou o mal em Israel e Judá, ameaçou os inimigos
circunvizinhos como Egito, Assíria, Moabe, Filístia, Síria e Edom (cap. 13 a 23), aconselhou
reis como Ezequias (caps. 36 a 39), anunciou o Messias com tal riqueza de detalhes que é
chamado de "o profeta evangélico", anunciou a queda do reino do Norte pela Assíria (8:4) e
presenciou o cumprimento de sua profecia, quase 200 anos predisse o cativeiro babilônico e
até o nome do futuro libertador (41:25; 44:28 e 45:1). Seu estilo literário é belíssimo, usando
em sua mensagem inúmeras figuras de linguagem (3:16-24; 5:1-7; 26) e figuras dramáticas
(7:3; 4; 20:2 e 3).
Começa seu ministério sob os reinados de Uzias e Jotão (caps. 1 a 6, ver 6:1) falando
contra a ganância de alianças com povos pagãos e idolatria. Prosseguiu falando quando o
mau rei Acaz subiu ao trono (caps. 7 a 14, ver 7: 1), este era um rei idólatra declarado e por
isto sofreu castigos de Deus como invasões freqüentes em seu reino. É um tempo de
profetizar juízo (cap. 8) e anunciar a esperança messiânica (caps. 7 e 9, 10 e 11). Babilônia,
futura inimiga, também seria destruída (caps. 13 e 14). Morre Acaz, mas segundo Isaías, não
morreram as opressões sobre um povo distante de Deus (14:28-32).
O rei Ezequias assume o trono, é um período fundamental na história do povo de
Deus e ocupa a maior parte das mensagens proféticas de Isaías (caps. 15 a 66). Um rei
piedoso, que começou bem seu reinado, mas terminou mal. Durante o 6° ano de seu reinado
a Assíria invadiu o Norte e destruiu Israel, vindo após oito anos a invadir também o reino de
Judá, Ezequias adoeceu mortalmente. Isaías foi forte apoio ao rei neste período crítico (caps
36 a 39; II Rs. 18 a 20).
Isaías freqüentemente neste período condena a idolatria e as alianças espúrias, tal
como a que Ezequias fez com o Egito para livrar-se da Assíria.
Os capítulos 40 a 66 trazem principalmente uma mensagem de consolação e
restauração, enfatizando a graça de Deus e a vinda do Messias, o "servo sofredor". O capítulo
53 é o central não só numericamente quanto tematicamente.
DIVISÃO - Há formas diversas de dividir o rico livro de Isaías. Uma delas é a que
apresentamos no conteúdo do livro, correspondendo ao período dos reis:
27
c) Libertação, redenção e consolo - caps, 40 a 66.
A maioria dos autores, contudo, adota uma divisão mais simples e concisa:
a) Denúncia e condenação - caps. 1 a 39
b) Conforto e consolação - caps. 40 a 66.
COMENTÁRIOS
1 - Isaías é "o profeta evangélico" ou "o profeta messiânico" porque é rico nas predições e
em seus detalhes a respeito de Jesus. Fala:
2 - Isaías apresenta um servo sofredor de Jeová, entre os capítulos 42 a 53. Jesus veio a
serviço do Senhor, cumprindo Sua vontade e trazendo redenção a Israel e ao mundo
pelo caminho do sofrimento. Ele foi o último sacrifício derramado pelo pecado de todos
nós.
3 - Isaías 14:12-23 e Ezequiel 28:12-19, são os dois textos mais ricos da Bíblia sobre a beleza e
perfeição original de Satanás, e os motivos de sua queda. Os profetas o apresentam como o
"rei da Babilônia" e o "rei de Tiro", na verdade tomando, numa figura de linguagem, as
figuras pelo figurado (Satanás) que estava por trás de seus reinados satânicos.
Daniel usa a mesma figura em Dn. 10:20.
4 - Quase todos os estudiosos de Isaías apresentam seu livro como uma Mini-Bíblia, diante
de tantas "coincidências". Vejamos:
b) A Bíblia se divide em duas partes: A.T. com 39 livros e N.T. 27 livros; e Isaías tem
duas partes, a primeira fala de julgamento e condenação (caps. 1 a 39) e a segunda fala de
graça e redenção (cap. 40 a 66).
c) A primeira parte da Bíblia (V. T.), se encerra com profecias messiânicas e é assim
que termina a primeira parte de Isaías (cap.34 e 35). A segunda parte da Bíblia (N.T.) se abre
com o precursor do Messias (João Batista) e trata da pessoa e obra de Jesus. A segunda parte
de Isaías (cap. 40) começa falando de João Batista e anuncia a graça salvadora do Messias.
d) A Bíblia termina com o Apocalipse e Isaías termina com a visão de um novo céu e
uma nova terra (cap. 65:17)
28
Jeremias
AUTOR - O autor é o profeta Jeremias, com seu escrivão Baruque fazendo as anotações
(36:4).
É o livro profético que mais nos apresenta seu próprio autor. Era filho de Hilquias, o
sumo-sacerdote que achou o livro da Lei no tempo da reforma do rei Josias (II Rs. 22:8-20).
Hilquias foi bisavô de Esdras (Ed. 7:1).
Jeremias foi vocacionado ainda jovem, e tentou fugir do duríssimo ministério que se
vislumbrava. Mas Deus o havia vocacionado ainda no ventre de sua mãe, e tocou-lhe os
lábios, pondo-lhe na boca suas santas palavras (1:4-10).
Profetizou durante 40 anos, pelo reinado de cinco reis e um governador de Judá,
sendo sempre desprezado, perseguido e castigado.
Só sobreviveu porque realmente "Jeová o estabeleceu".
Era jovem, tímido e sensível. Chorava com facilidade (9:1 e 13:17). Só teve
reconhecido seu valor, depois de morto, pelo povo que voltou do exílio, segundo
cumprimento de suas profecias.
Foi contemporâneo de: Habacuque, Sofonias, Naum, Obadias, Ezequiel e Daniel.
DATA DA ESCRITA - Jeremias recebe ordens de Deus, no meio do seu ministério, para
escrever as suas profecias. (36:1 e 2) - 605 a.C.
Seu escrivão Baruque registra suas profecias, e Jeremias é preso. Baruque lê as
profecias no templo e no palácio (36: 6-19), e enraivecido, o rei Jeoaquim rasga o rolo e o
lança ao fogo.
Jeremias reescreve as profecias e acrescenta ainda mais novas palavras. Registra até
próximo ao final do seu ministério. Cerca de (586 a.C.).
TEMPO DE AÇÃO - Jeremias foi chamado a profetizar com 20 anos de idade, durante o
reinado de Josias (626 a.C.) e ministrou até pouco antes de sua morte no Egito (586 a.C.).
VERSO-CHAVE - É o 1:18 - "Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de
ferro, e por muros de bronze, contra todo o país, contra os reis de Judá, contra os seus
príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo".
CONTEÚDO
Jeremias era um jovem tímido e sensível e foi chamado por Deus com uma missão duríssima
(vide o verso-chave), anunciar o juízo de Deus contra Judá, diante da severa oposição do
povo, dos líderes políticos, reis e sacerdotes. Ninguém a seu favor, ninguém a lhe reconhecer
méritos, ninguém a se converter, durante as décadas que seu ministério duraria.
Começa a profetizar durante o reinado do também jovem rei Josias e o ajuda em suas
reformas e avivamento religioso (II Cr. 34 e 35). As profecias do reinado de Josias são as dos
capítulos 2 a 12, e em sua maioria são um apelo à conversão de Judá. As lutas contra ele
começam e seus próprios conterrâneos querem matá-lo (cap. 11).
29
No ano 609 a.C. o rei Josias é morto na batalha de Megido contra o Egito, e isto traz
intensa comoção em Judá (II Cr. 35:20-27).
Jeoacaz, filho de Josias só reina por 3 meses, pois é preso pelo rei Neco do Egito e vem
a morrer cativo. Neco nomeia Jeoaquim como rei de sua confiança em Judá (II Rs. 23:28-37).
DIVISÃO
As profecias de Jeremias não estão arrumadas cronologicamente, tornando difícil a
sua divisão didática e memorização.
É bom lembrarmos que suas profecias foram escritas em um rolo, já no meio de seu
ministério, o que tornou necessário buscar muita coisa de memória, em meio a
30
acontecimentos atuais para ele, que as registrava. Além disto, seu rolo profético foi
queimado, e tudo precisou ser reescrito, num trabalho que deve ter durado anos. Isto explica
a desarrumação cronológica.
A maioria dos autores rearranja os capítulos de acordo com o período dos reis de
Judá, ao tempo em que Jeremias profetiza:
a) No reinado de Josias - caps. 1 a 12.
b) No reinado de Jeoaquim - caps. 13 a 20; 25 a 27:11; 35 e 36.
c) No reinado de Zedequias - caps. 21 a 24; 27 a 34; 37 a 39.
d) Durante o cativeiro - caps. 40 a 44.
e) Em tempos diversos aos povos circunvizinhos - caps. 45 a 52.
COMENTÁRIOS
1 - Jeremias dramatizava freqüentemente suas profecias para torná-las mais inteligíveis e
memorizáveis.
2 - A Palavra de Deus é apresentada por Jeremias como o martelo que esmiúça a penha em
23:29. Outros textos belíssimos e muito conhecidos são: 9:23 e 24; 10:10-13 e 23; 17:5 a 10; 20:9
e 12; 22:13 a 16; 23:1, 5 e 6,23 e 24, 31 e 32; 29:7.
6 - Jeremias foi o mais perseguido e impopular profeta que a Bíblia apresenta. Pregou mais
de 40 anos sem que aparentemente fosse ouvido.
Contudo após a sua morte, suas palavras foram fonte de esperança e alegria para os
milhares de judeus que estavam cativos.
31
Lamentações
NOME - No grego o livro chama-se "threnoi" que quer dizer, "alto choro", "lamentação".
Os hebreus o chamavam "Ekah" ou "Como!”... que é a primeira palavra do livro no
hebraico. Posteriormente os rabinos passaram a entitulá-lo "qunoth" que significa "pranto",
"alto choro", "lamentação".
AUTOR - O livro não fala quem é o seu autor, mas não há dúvidas de que foi Jeremias.
Esta é a crença tanto das tradições judaicas quanto cristãs, inclusive este livro fazia
parte da profecia de Jeremias, de onde foi separado.
Ninguém melhor que o profeta Jeremias podia escrever este livro, como sua própria
profecia, através do seu escrivão Baruque.
Ninguém amava tanto Jerusalém, ninguém anunciou tanto este doloroso fim,
ninguém tão presente ao quadro podia revelar tão íntima dor, como este sentimental profeta.
TEMPO DA AÇÃO - A data da invasão e destruição foi 7 de agosto de 586 a.C. É este o
tempo da ação a que se refere o livro.
No ano 70 A.D., em 9 de agosto, o general romano Tito, destrói Jerusalém pela
segunda vez. A data 9 de agosto é celebrada anualmente pelos judeus, por causa das duas
destruições do templo e, por ocasião deste dia, o livro de Lamentações é lido nas sinagogas.
CONTEÚDO
Após os dois primeiros cercos a Jerusalém promovidos por Nabucodonosor, rei da
Babilônia, em 605 a.C. e 597 a.C, o rei Zedequias foi colocado no trono de Judá como homem
de confiança de Nabucodonosor. Zedequias, contudo traiu esta confiança e aliou-se ao rei do
Egito contra a Babilônia.
Durante 40 anos o profeta Jeremias advertiu contra o pecado e anunciou este provável
castigo por mãos Babilônicas. Condenou Zedequias e aconselhou-o e, ao povo, que se
entregassem ao juízo de Deus. Agora, no ano 586 a.C., Nabucodonosor, invade Jerusalém
32
leva cativo o povo e o rei Zedequias, a quem fura os olhos (Jr. 39:6 e 7), arrasa a cidade,
queima e destrói tudo, inclusive o templo do Senhor, bela, imponente, majestosa, sagrada
obra, inestimavelmente amada pelo povo.
Era o fim de tudo quanto o povo considerava inviolável e invencível, a cidade e o
templo. Quem sabe o povo até continuava pecando, apesar das advertências proféticas,
porque julgava impossível Deus abandonar seu povo, sua cidade e seu templo. Mas como
prometera, cumprira. Deus é de palavra. O juízo veio, como Jeremias advertira em sua
mensagem. E, ele, que sabia com certeza que tudo isto ia acontecer, é, contudo o mais
surpreso, ou melhor, estupefato; há tristeza, dor, lamento.
Suas lamentações expressam a dor de quem vê tudo em cinzas, de quem vê a glória de
Deus afastar-se dali, de quem vê Deus cumprir sua palavra, castigando o pecado (2:17).
Esta ação foi divina e não Babilônica, é a mensagem de Jeremias neste livro. Os nomes
de Nabucodonosor e da Babilônia não aparecem em meio a todo o caos, em suas lamentações
(3:1).
E o cumprimento da Palavra de Deus, e da consciência de ter sido Ele autor de tudo,
que traz ainda, em meio à dor, alento e esperança. "Ele fez a ferida, e a atará" (Os. 6:1).
Jeremias traz à memória o que lhe pode dar esperança (Lm. 3:21): Deus justo, fiel, bom
e misericordioso. "O Senhor não nos rejeitará para sempre" (Lm. 3:31), arrependam-se dos
seus pecados, voltemo-nos para Deus, é a inclusão e exortação do profeta ao povo que foi
para o cativeiro (Lm. 3:22-42).
DIVISÃO
O livro pode ser dividido em seus próprios cinco capítulos que são cinco poesias, ou
cinco hinos fúnebres, e onde, em cada capítulo, a cidade é representada por uma figura
metafórica.
a) Capítulo 1 - A cidade é uma viúva chorando.
b) Capítulo 2 - A cidade é uma mulher com véu, chorando entre as ruínas.
c) Capítulo 3 - A cidade é o profeta chorando ante um juiz que é Jeová.
d) Capítulo 4 - A cidade é como ouro embaçado, degradado.
e) Capítulo 5 - A cidade é um suplicante diante de Deus.
COMENTÁRIOS
2 - A Bíblia hebraica só possui três livros poéticos (Salmos, Provérbios e Jó) e são chamados
Hagiógrafos.
O livro de Lamentações faz parte de um grupo chamado Megilloth, ou "os cinco
rolos", onde cada um dos rolos é lido numa das cinco festas mais importantes dos judeus.
São eles:
Cantares - lido na Páscoa
Rute - lido no Pentecostes
Eclesiastes - lido na Festa dos Tabernáculos
Ester - lido no Purim
Lamentações - lido no aniversário da destruição de Jerusalém, todo 9 de agosto, e por muitas
sinagogas de Israel, em toda sexta-feira, no "muro das Lamentações".
3 - Jerusalém foi destruída novamente no ano 70 A.D. pelo general romano Tito, cumprindo
a profecia de Jesus em Lc. 19:41-44.
33
Ezequiel
TEMPO DA AÇÃO - Seu livro, e ministério, começa no quinto ano do cativeiro do rei
Joaquim (II Rs. 25:10 -16), em 5 de julho de 592 a.C. (Ez. 1:2), e suas últimas profecias são: (Ez:
40:1) que é uma visão ocupando os últimos capítulos do livro, e que está datada de 10 de
abril de 572 a.C., e ainda Ez. 29:17, onde há uma profecia contra o Egito, em l de abril de 570
a.C.
CONTEÚDO
Ezequiel era sacerdote. Antes que iniciasse seu ministério sacerdotal em Judá, foi
levado cativo aos 30 anos, para a Babilônia, na 2a leva de exilados, em 597 a.C.
Um grupo de importantes pessoas, entre elas Daniel, já estava no exílio desde 605 a.C.
Ele passa cinco anos em Tel Abibe quando então, é vocacionado para ministério
profético através de uma visão (592 a.C.).
Seu ministério era específico, devia admoestar o povo no cativeiro a lembrar-se
34
constantemente do porquê de estarem ali, anunciar o juízo iminente sobre Jerusalém (fato
que se deu no ano de 586 a.C.), anunciar ainda juízo de Deus sobre as nações poderosas,
inimigas de Judá, e por fim, sumular a esperança e confiança do povo na reunião dos judeus
e na restauração da cidade e do templo.
Suas profecias estão cronologicamente arrumadas e datadas. Ezequiel um profeta de
visões, sinais, parábolas e símbolos, assemelhando-se em muito João e seu Apocalipse.
A primeira parte do ministério de Ezequiel (caps. 1-24), vai do ano 592 C. ao ano da
queda de Jerusalém 586 a.C. Durante estes seis anos ele fala contra “obstinados” e "surdos"
exilados e sua mensagem procura mostrar-lhes os pecados como causa de estarem ali na
Babilônia (caps. 11-24), fazendo-os esquecer da idéia pregada por alguns de que logo
estariam de volta à Jerusalém. Preparava-lhes para a breve destruição da cidade e do templo,
que viria como manifestação final do juízo de Deus.
O fato de que seu contemporâneo Daniel, nesta altura, já ter galgado lições de honra
no palácio babilônico, dava certo conforto e bom tratamento àqueles milhares de cativos
exilados.
Isaías (39:6) e Miquéias (4:10) já haviam dezenas de anos antes, inunciado o cativeiro,
Jeremias (25) recentemente revelara a sua duração, mas povo ainda não cria no que estava
vendo e vivendo. Ainda não haviam se voltado arrependidos ao Senhor. Era isto que
ocupava o ministério de Ezequiel. Era seu povo, mas gente de dura cerviz e duro coração
(Ez. 3:4-11 e 16-22).
Ezequiel fala da glória de Deus, que significava a presença de Deus, a qual ocupava
o Santo dos Santos no templo, sobre o propiciatório entre os querubins (Êx. 25:17-22). Em
suas profecias deste período, nos onze primeiros capítulos, ele descreve esta glória
gradativamente retirando-se do templo, como sinal de juízo e condenação ao pecado. (8:3 e
4; 9:3; 10:4,18,19; 11:22-24). Esta glória só retornará ao templo e à profecia de Ezequiel em
sua última parte ministerial, quando anuncia a restauração de Israel.
Ainda nesta primeira parte de seu ministério anuncia o cerco final a Jerusalém, sua
destruição e o destino dos sitiados. (Ez.. 4:1-3; 4-8; 9-17 e 5:1-17). Roga pela manutenção de
um remanescente a ser restaurado (Ez.. 11:13-21).
Quando Jerusalém é sitiada e invadida (586 a.C,), Ezequiel passa à segunda etapa de
seu ministério e anuncia o juízo de Deus, vindo também sobre os inimigos de Judá (caps. 25
a 32).
A queda anunciada por ele, da cidade e do templo, dá também início a uma palavra
de consolo e esperança: "Deus julgará nossos inimigos", e "Israel, será restaurado".
Sua terceira e última etapa ministerial têm a ênfase sobre o futuro de Israel. Ele
apresenta-se como um atalaia (cap. 33), anuncia o Messias como o Pastor descendente de
Davi, que contrasta com os pastores infiéis que Israel conhecera até ali (cap.34).
Virá um tempo de ressurreição para Israel (cap. 37), o Espírito vivificará a nação, não só
daqueles cativos ali após 70 anos, mas num futuro longínquo, judeus de todas as nações. É
uma palavra também escatológica (cap. 38 e 39).
Sua última visão é a do templo restaurado (caps. 40-46), onde a glória do Senhor
tornará a habitar. Este templo tem cumprimento profético em parte, no templo reconstruído
e visitado por Jesus, e em parte, na igreja do Novo Testamento como templo e santuário do
Altíssimo, e por fim no templo escatológico do milênio.
35
COMENTÁRIOS
2 - O ministério de Ezequiel começou nas casas dos judeus no exílio (1:3 e 5).
Provavelmente este foi o embrião das sinagogas.
No cativeiro não havia templo, altar ou sacrifícios. Ezequiel era sacerdote, e no tempo
que iniciaria sua missão sacerdotal foi levado cativo.
3 - O texto de Ez. 37, é um dos capítulos mais ricos da Bíblia, em lições sobre reavivamento.
a) Deus mostra a Ezequiel que aquele vale de ossos secos não era a reunião simbólica
dos ímpios, mas o quadro em que o "povo de Deus" se encontrava (37:11). Israel havia
desprezado a Palavra de Deus (II Cr. 33:10; 34:14-21; 36:15 e 16).
b) Deus fez de Ezequiel um instrumento útil (Ez. 2; 3:1-3; 37:1-3, 7 e 10), humilde,
quebrantado, comprometido, alimentando-se da Palavra, obediente, cheio do Espírito Santo.
c) O reavivamento começa pelo "ouvir" da Palavra de Deus (Ez. 37;4; Mt. 11:15; Ap. 2
e 3). Ouvir no sentido completo da palavra (Mt. 7:24-27 e Tg. 1:22-25).
d) O reavivamento é produzido pelo sopro de vida do Espírito Santo (Ez. 37:5 e 9).
36
Daniel
DATA DA ESCRITA - Em tomo de 535 a.C., após 70 anos na Babilônia, quando recebe e
registra sua última visão.(10: 1)
CONTEÚDO
O livro de Daniel, embora pequeno, abrange um período histórico de 70 anos, que é o
tempo do cativeiro.
Daniel foi levado com alguns jovens importantes e nobres de Judá, para a Babilônia,
na ocasião do primeiro cerco de Nabucodonosor ao reino de Judá, no ano 605 a.C.
Toda sua vida praticamente é vivida lá na Babilônia, pois com aproximadamente 90
37
anos, ele assiste a última leva de judeus voltar do exílio, mas ele, já muito idoso, permanece
por lá.
Nestes 70 anos de cativeiro para os judeus, e de vida profética para Daniel, ele
assistiu a ascensão e a queda de grandes impérios, sendo este o tema de suas mensagens, as
quais revelam a soberania de Deus sobre nações e antecipam muito do calendário histórico
de reinos gentios, que Deus através de visões, lhe mostrou.
Daniel assiste a queda da Assíria (612 a.C.), participa do 1° cerco Babilônico a Judá
(605 a.C.) onde é feito cativo, assiste a queda de Jerusalém (586 a.C.) e a queda da própria
Babilônia ante o exército persa (539 a.C.).
Sua história começa aos 16 anos de idade, chegando cativo na Babilônia, foi instalado
no palácio com seus amigos, e naquele meio de liberdade moral e idolatria espiritual,
recebem treinamento e preparação a ocuparem altos postos no governo como assessores de
Nabucodonosor.
A primeira decisão que tomam é de não se contaminarem com as s iguarias da mesa
real, pois eram deliciosos manjares antes oferecidos criticados aos deuses Babilônicos.
Gozavam do carinho do chefe dos eunucos, Aspenaz, que além de lhes mudar os nomes (1:6
e 7) aceita lhes mudar os nomes (1.6,7) aceita lhes servir apenas água e legumes. (1:8-20)
No ano seguinte, Nabucodonosor tem um sonho e ninguém, senão Daniel, consegue
interpretá-lo (cap. 2).
A grande estátua feita de vários metais era a sucessão de reinos e impérios mundiais,
chamados pela Bíblia "o tempo dos gentios", pois se referem ao governo não exercido pelos
judeus.
Quatro grandes impérios mundiais se sucederiam no governo do mundo, desde
Nabucodonosor até o fim de tudo.
A Babilônia era a cabeça de ouro; o peito e os braços de prata, seriam o império
sucessor medo-persa. O ventre e os quadris de bronze eram a Grécia que sucedeu a Pérsia,
sob o governo de Alexandre o Grande. O quarto e último reino é uma mistura de ferro e
barro, numa liga que não se une. Este último reino começa sendo representado pelas pernas
de ferro, o Império romano, mas sua continuidade histórica nos pés de ferro e barro, são
uma confederação de dez nações cujos governos são inconciliáveis, marcando o fim de tudo
e a chegada do reino messiânico.
O interessante é que, à medida que o tempo passar, e os reinos se sucederem
(representados na estátua pela ordem da cabeça para os pés), os reinos serão cada vez mais
fracos (metais de menor valor) e divididos (até a desunião e desarmonia dos 10 dedos dos
pés de ferro e barro). Não é este o tempo em que temos vivido, no esforço da reunião de
reinos tão diversos quanto são o ferro e o barro, e a evidente fraqueza destas pretensas
ligações?
Daniel acrescenta ainda que um outro reino invencível e indestrutível será levantado
por Deus (2:44) e como uma pedra esmiuçará todos os demais reinos, quando a estátua for
"apedrejada" (2:34 e 35). Esta pedra é o reino eterno e final de Cristo sobre a Terra (SI 118:2;
Is 8:14; 28:16; e Zc. 3:9).
Por causa desta interpretação, é alçado à posição de governador da província da
Babilônia (2:47-49).
Alguns anos se passaram, e não sabemos quantos, quando se dá o acontecimento da
estátua de ouro e dos companheiros de Daniel lançados na fornalha (cap. 3). O livramento
dado a eles fez com que Nabucodonosor incluísse "o Deus deles" na galeria dos deuses
adorados na Babilônia, com muito realce e importância, mas sem conversão.
O capítulo quatro nos conta de um novo sonho dado a Nabucodonosor, o da grande
árvore, que significava ele mesmo, e revelava a mão de Deus pesando sobre ele até que
glorificasse e bendissesse o Senhor, como o verdadeiro Deus. É o fim do reinado de
38
Nabucodonosor, e Daniel tem cerca de 60 anos.
Quando iniciamos a leitura do capítulo cinco, já é Belsazar quem está no trono.
Portanto os capítulos 1 a 4 referem-se ao tempo do reinado de Nabucodonosor (607 - 562
a.C.).
Belsazar é neto de Nabucodonosor e reina com seu pai Nabonido após o ano de 556
a.C.
Há uma grande festa, onde os utensílios usados eram os do templo do Senhor,
carregados quando Jerusalém foi invadida (597 a.C. - II Rs. 24:13). Nesta festa o Senhor
escreve na parede, e Daniel com 82 anos é chamado para interpretar, anunciando o fim do
império Babilônico e sua derrota para os medos e persas, fato este que se cumpriu naquela
mesma noite.
Esta festa foi no ano 539 a.C. Belsazar reinou entre 556 e 539 a.C.
Dario, o medo, é deixado no trono Babilônico enquanto Ciro, o persa, prossegue em
suas conquistas. Daniel logo lhe foi querido, e o evento narrado no capítulo seis, surge como
manifestação de ciúme dos demais governadores e Sátrapas (homens de confiança de Dario).
Dario se entristeceu (6:14), mas por decreto foi obrigado a lançar Daniel aos 83 anos na cova
dos leões. O livramento dado pelo Senhor alegrou Dario, e o “Deus de Daniel" foi
engrandecido novamente em toda a Babilônia.
Daniel continuava a gozar de prestígio entre os reis na Babilônia (6:2-8).
Os capítulos 7 e 8 de Daniel estão fora da ordem cronológica, pois referem-se a visões
tidas no início do reinado de Belsazar, datados de 553 a.C. (a visão do capítulo 7) e 551 a.C.
(a visão do capítulo 8).
Os quatro animais selvagens vistos no capítulo sete são figuras nas para os quatro
grandes reinos do sonho de Nabucodonosor interpretado no capítulo 2.
Daniel os interpreta (7: 17-23) como: a Babilônia era o leão com as de águia (a cabeça
de ouro da estátua em 2:37 e 38), a Pérsia era o urso (o peito e os braços de prata da estátua
em 2:32, 39), um leopardo asas e quatro cabeças era a Grécia (o ventre e os quadris de bronze
da estátua em 2:32 e 39), o quarto animal era terrível e sobremodo forte, tinha dez chifres
(como os dez dedos que compunham os pés da estátua em 2:33, 40-44). O pequeno chifre, do
último reino, é o anticristo (Ap.13.1), veja Dn. 7:25, cujo governo será encerrado pelo eterno
reino do Altíssimo (Dn. 7:27 e 2:44).
A visão do capítulo oito, com o carneiro e o bode, referem-se aos reinos da Pérsia e
Grécia (Dn. 8: 20 e 21) que imediatamente sucederiam o reino da Babilônia. O rei Antíoco
Epifânio era o pequeno chifre de 8:9-13, que no ano 175 a.C. invade Jerusalém e profana o
templo e o altar do Senhor.
No capitulo nove voltamos ao período do governo de Dano (tal como o capítulo 6).
Ele está orando e lendo as profecias de Jeremias quando descobre que os 70 anos do cativeiro
já se haviam findado (605 - 536 a.C.), intercedendo então ao Senhor em favor do seu povo.
Deus lhe responde com a visão das setenta semanas.
Se as visões anteriores referiam-se aos governos gentios, estas 70 semanas referiam-se
ao povo de Israel.
As setenta semanas são setenta períodos de sete anos, portanto 490 anos. As primeiras
69 semanas incluíram a reconstrução da cidade, dos muros e do templo, sob tempos
angustiosos (vide Esdras e Neemias), e este período se encerraria com a morte de Cristo
(9:26, no ano 30 A.D.).
Antes de a história entrar na última semana para os judeus há um espaço de tempo,
um parêntese, onde nós nos encontramos agora. É o tempo da Igreja, no tempo dos gentios.
Na última semana, Deus vai tratar exclusivamente com os judeus, é o tempo que
inclui a presença do anticristo.
Os capítulos 10 a 12 são o registro da última visão de Daniel, sob o governo de Ciro,
39
no ano 536 a.C., quando o povo preparava-se para retornar à Jerusalém, voltando do
cativeiro. São revelações mais detalhadas sobre os reinos da Pérsia e da Grécia, encerrando-
se com o capítulo 12 que fala do tempo do fim e da grande tribulação.
DIVISÃO - A maioria dos autores divide o livro de Daniel em duas partes:
a) História - caps. 1 a 6
b) Profecias - caps. 7 a 12 (cronologicamente concomitantes aos caps.1 a 6)
Há também uma forma de dividi-lo segundo os acontecimentos referentes ao período
de cada rei, ou seja:
a) Sob o reinado de Nabucodonosor - caps. 1 a 4
b) Sob o reinado de Belsazar - caps. 5, 7 e 8
c) Sob o reinado de Dario - caps. 6 e 9
d) Sob o reinado de Ciro - caps. 10 a 12
COMENTÁRIOS
2 - Daniel é junto com Isaías, o autor do A.T. mais discutido como verdadeiro. Os
argumentos para isto usados são:
a) "Ele não é incluído entre os "profetas" no cânon hebraico, mas sim entre os "escritos",
último grupo de livros a serem aceitos como canônicos entre os judeus."
Este argumento é rebatido pelo fato de que outros livros que foram incluídos entre os
escritos, foram escritos bem antes de Daniel como Salmos, Provérbios, Jó, etc.
b) "A presença de termos medos e persas, bem como gregos no livro, apontam para um
escritor do período interbíblico.". Daniel no entanto viveu o tempo persa, e os gregos eram já
bem conhecidos, em especial para um nobre que viveu 70 anos na corte babilônica.
3 - O livro de Daniel tem enfoque nas profecias sobre a soberania de Deus em relação a
história dos reinos gentios. Foi fortemente influenciado por sua formação nobre e política,
pela vida toda no palácio, e por presenciar ascensão e queda de impérios.
Seu livro é na maior parte escrita em aramaico (2:4 a 7:28), a língua que falava na Babilônia.
4 - Daniel é um profeta apocalíptico, e muitos dos eventos descritos no livro de João só são
bem entendidos após o estudo das profecias de Daniel.
Entretanto não podemos nos esquecer que as ênfases da vida piedosa do profeta são
extremamente práticas e imutáveis: vida pura e santa, estudo da palavra de Deus, intensa
oração.
6 - Contado, pesado, divivido, são as traduções literais das palavras escritas na parede.
Parsim é o plural de Peres. Embora na própria língua dos caldeus só Daniel as pode ler e
40
interpretar (5:5,8,25-28).
41
Oséias
AUTOR - E o próprio profeta Oséias, filho de Beeri, contemporâneo dos profetas Amós,
Miquéias e Isaias (1:1).
TEMPO DA AÇÃO - O primeiro verso no livro nos informa que Oséias profetizou durante o
tempo do reinado do rei Jeroboão II em Israel (794 - 753 a.C.), contemporaneamente aos reis
Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (791 - 696 a.C.) em Judá.
Ao conciliarmos as datas, e observarmos que sua profecia advertia principalmente
Israel quanto à sua infidelidade e ao seu iminente castigo, o qual veio pelos Assírios em 722
a.C., concluímos que seu ministério profético deu-se entre 760 - 720 a.C., portanto alcançando
todos os reis citados.
VERSO-CHAVE - É o 1:2 -"... vai toma uma mulher de prostituições, e terás filhos de
prostituição, porque a terra se prostituiu, desviando-se do Senhor."
CONTEÚDO
Oséias é vocacionado no reino do Norte, ao tempo em que o
rei Jeroboão II reinava.
Politicamente era um tempo áureo, pois Israel se expandira bastante (II Rs. 14:23-29 a
II Rs. 17), mas espiritualmente vivia um tempo negro.
Os profetas Elias, Eliseu e recentemente Amos, advertiram Israel de seus maus
caminhos, mas nada mudara. Pecado disseminado, idolatria tal que prostitutas cultuais e
sacrifícios infantis ali eram realizados, sacerdotes corrompidos e ladrões, cultos vazios e
hipócritas, graves injustiças sociais, eram o terrível retraio deste que se chamava povo de
Deus (Os. 4:2, 9, 12, 13, 17, 18). Povo infiel, adúltero e traidor.
O juízo em breve viria, se não houvesse conversão sincera (Os. 6:1-7). Deus então usa a
mensagem do profeta através de sua história familiar. Oséias casa-se com uma mulher
prostituta por orientação de Deus (se o profeta já sabia ser ela prostituta antes de casar-se ou
não, a Bíblia não nos diz). Ele a ama intensamente, mas ela o trai, foge, prostitui-se e se toma
escrava (Os. l e 2). Oséias, contudo continua a amá-la e a perdoa, compra-a (Os. 3).
Todo este quadro representava o casamento de Deus com Israel e sua traição (Os.
2:19).
Oséias revela ao povo a sua infidelidade para com o Senhor, e o juízo que adviria disto
(Os. 4-10), porém como seu nome o diz, aponta ao final da mensagem, um caminho de
arrependimento, graça e salvação (Os. 11:14). "Volta ó Israel para o Senhor" (Os. 14:1). O
amor de Deus era um amor antigo: "Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei
o meu filho" (Os. 11:1). Promete cura e restauração: "curarei a sua infidelidade... serei para
Israel como orvalho" (Os. 14:4, 5).
Israel, contudo não ouviu esta mensagem e foi destruído no ano 722 a.C., pelos
42
Assírios.
a) Advertências contra o pecado - Juízo: caps. 1 a 3,4 a 10, e 13 "Eu castigarei a todos
eles".
b) Convite ao arrependimento: caps. 11,12,14:1-3; 6:4-6 e 2:19.
c) Revelações escatológicas: caps. 14:4-9 “Israel florescerá como o lírio”.
COMENTÁRIOS
1 - Oséias dirige sua profecia a Israel, ou seja, às 10 tribos do reino do Norte após a divisão
ocorrida no ano 931 a.C. (I Rs. 12). Algumas vezes ele chama Israel de Efraim, porque esta
era a mais importante tribo entre as 10 que compunham o Reino do Norte (Os. 3:1; 4 e 5; 5:3 e
11 - 14). Anuncia com toda a clareza, o destino em breve do povo a ser submetido aos
assírios (Os. 11:5).
2 - A imagem de esposa e marido, noivo e noiva é comumente usada por Deus em Sua
Palavra, é uma figura rica que fala entre outras coisas de: complementação, ajuda, proteção,
sustento, carinho, amor, fidelidade, dependência, relação prazerosa etc ...
Veja: Is. 62:5; Jr. 3:14; Ef. 5:31-33; Ap. 19:6-8; Ap. 21:2, 9 e 10; Jo. 3:28 e 29; Lc. 5:34 e 35; Mt.
25:1-13.
43
Joel
AUTOR - É o profeta Joel, filho de Petuel, falando ao reino do Sul, Judá (1:1 e 3:1).
Provavelmente tenha sido criança no tempo dos ministérios de Elias e Eliseu.
DATA DA ESCRITA - O tempo em que profetizou e escreveu, não aparece revelado em seu
livro, mas acredita-se estar em tomo do ano 830 a.C.
a) Joás subiu ao trono com seis anos de idade, e neste tempo, na prática, o povo foi
governado pelo sumo-sacerdote Joiada. Joel não fala de nenhum rei em Judá.
b) Neste tempo os impérios Assírio, Babilônico e Persa, não existiam como tal, e não
aparecem citados como inimigos no texto de Joel.
c) Faz referência ao vale de Josafá (3:2), recente rei bom, morto próximo àquela época.
Seu ministério profético deve ter se dado entre 840 - 825 a.C.
VERSO-CHAVE - É o 1:15 - "Ah! que dia! porque o dia do Senhor está perto, e vem como
assolação do Todo Poderoso".
CONTEÚDO
A terra acabara de ser assolada por uma praga de gafanhotos que devorara toda a
plantação, promovendo fome, seca e desemprego. Morriam o povo e os animais. O
desespero era incomparável. Esta é a ocasião em que o profeta se levanta em nome do
Senhor anunciando-lhes que a praga era juízo imediato ao estado de pecado e indiferença do
povo para com Deus; era também símbolo do juízo final, do "dia do Senhor".
Joel é detalhado em sua mensagem descrevendo vivamente o que acontecera. Nós,
seus leitores, acompanhamos seu relato como se contemplando o evento.
Nada antes assim havia acontecido (l: 2) e até mesmo os alienados bêbados sentiriam
os efeitos da desgraça (1:5).
Não havia o que colher, o que plantar, o que comer ou mesmo oferecer no templo
(1:9-12).
Os gafanhotos foram comparados a "um povo com dentes de leoa" (1:6), Isto é, na
visão profética, mais do que a constatação do juízo imediato pela praga, é o anúncio de um
juízo em futuro breve, por mãos dos Assírios cujo símbolo de seus exércitos era o leão.
O "dia do Senhor está perto" (1:15), vamos nos arrepender e jejuar (1:13 e 14).
44
Novamente há aqui uma visão completa e complexa, pois o dia do Senhor é
profeticamente um dia escatológico, o dia do juízo final, mas era naquela hora também o dia
da praga de gafanhotos e o dia da invasão dos Assírios, dias estes onde o Senhor, em escala
menor, manifestara e manifestaria o seu juízo.
Há um convite de Deus à conversão (2:12 e 13).
Deus lhes promete então a restauração (2:21-27) incluindo aqui a promessa futura do
Pentecostes (2:28-32). Veja Atos 2:16. Haverá também juízo para as nações que cercavam e
ameaçavam o povo de Deus, pois Deus é o Senhor do Universo e não somente de Judá (cap.
3).
COMENTÁRIOS
2 - Joel recebe uma visão transtemporal, complexa, a qual nos transmite em seu livro.
Vejamos:
a) Ele vê a praga dos gafanhotos, e sua devastação é enorme, patente aos seus olhos
(1:4).
b) Imediatamente ele vê a praga como "um povo" poderoso e inumerável que tem
dentes de leão (1:6).
Mais à frente ainda descrevendo a desgraça, fala de cavalos e cavaleiros, carros, fogo e
combate (2:4-9).
Deus ao lhe consolar, fala que vai remover o "exército" que vem do Norte (2:20).
Toda esta descrição encaixa-se perfeitamente na destruição iminente, que em breve
(alguns anos) sobreviria ao Reino do Norte por mãos do terrível e poderoso exército Assírio,
o qual viria do Norte e possuía como símbolo o leão.
c) Na mesma visão ainda ele chora e lamenta pelo terrível "dia do Senhor" (1:15; 2:1;
2:11; 2:31; 3:14).
O "dia do Senhor", dia do juízo do Senhor, de uma certa forma era mesmo o dia da
praga dos gafanhotos e o dia do juízo Assírio, alguns anos depois. Porém isto numa forma
45
bem restrita.
O profeta ao descrever este dia, o faz como um evento futuro e tão tremendamente
grande, que não se cumpriria apenas com a invasão Assíria, pois inclui acontecimentos
universais (2:2; 2:10 e 11; 2:28-32). O "dia do Senhor" em sua versão completa e final
envolverá todas as nações (3:1 e 2), e mudará a história do mundo (3:18-21).
46
Amós
AUTOR - O autor é o próprio Amós, que se apresenta como pastor, boiadeiro e colhedor de
sicômoros (1:1 e 7:14). Até ser vocacionado não fazia parte do grupo de religiosos de Israel, já
que não era profeta, filho de profeta, aluno da escola de profetas e nem mesmo sacerdote.
Ainda que com um linguajar rude, rural, direto, objetivo, seu estilo de escrita é belo e
seu livro bem coordenado, com seções de mensagens marcadas pela repetição periódica de
expressões tais como:
"Assim diz o Senhor", "Ouvi a palavra" e "O Senhor Jeová assim me fez ver".
Natural de Tecoa, aldeia que ficava 20 Km ao sul de Jerusalém, e, embora morasse em
Judá (Reino do Sul), é enviado a pregar em Betel, centro religioso de Israel (Reino do Norte).
É contemporâneo de Oséias, falando ao mesmo povo, quase ao mesmo tempo e sob o
mesmo contexto. É interessante ler estes dois livros em conjunto.
Quando menino, deve ter conhecido Jonas, Eliseu e Joel. O final de seu ministério
coincide com o início do ministério, no reino do Sul, dos profetas Isaias e Miquéias.
DATA DA ESCRITA - Provavelmente foi escrito entre 760-750 a.C., pouco tempo depois do
terremoto que ele descreve em 1:1.
O terremoto aconteceu em 763 a.C., suas visões proféticas começaram dois anos antes,
mas sua escrita deu-se logo após isto.
TEMPO DA AÇÃO - Amos declara que profetizou durante os reinados de Uzias em Judá, e
Jeroboão II em Israel, isto significa entre 790-752 a.C. O terremoto que marca o início de seu
ministério aconteceu em 763 a.C., e foi tão importante que até Zacarias refere-se a ele, quase
300 anos depois (Zc. 14:5).
VERSO-CHAVE - Há dois versos muito conhecidos neste livro e que sintetizam a ênfase do
livro:
É o 4:12 - "Portanto assim te farei, ó Israel! E porque isto te farei, prepara-te, ó Israel
para te encontrares com teu Deus".
E o 5:24 - "Antes corra o juízo como as águas e a justiça como ribeiro perene".
CONTEÚDO
47
Jeroboão I, quando houve a divisão dos dois reinos - 931 a.C. (ver I Rs. 12:25-33), seus
sacerdotes eram escolhidos politicamente (tal como o atual Amazias - Am. 7:10-17),
corruptos, ladrões e hipócritas, os cultos eram mecânicos e vazios, os juizes eram
subornáveis, os pobres eram oprimidos pelos ricos, havia adultério e promiscuidade, tudo
realizado por um povo que se chamava "Povo de Deus".
Como havia paz e prosperidade econômica, eles se achavam protegidos do Senhor e
isentos de qualquer juízo condenatório. Deus então levanta um insuspeito não profeta, não
religioso, no reino do Sul, com visões simbólicas, e o envia a Israel.
Amós vai parar no centro religioso corrupto do reino do Norte, Betel (IRs 12:25-33), e
ali começa a entregar suas mensagens.
Sabiamente reúne auditório em torno de si mesmo, ao iniciar suas palavras de juízo
contra as nações inimigas (cap. 1 e 2:1-3). O auditório aumentava e vibrava. Logo depois
invocou juízo de Deus contra o vizinho reino do Sul, Judá (cap. 2:4 e 5), até que
inesperadamente dirige-se ante o grande e boquiaberto auditório, contra o próprio povo de
Israel (2:6-16).
Amós é firme, objetivo e claro. De nada adiantou Deus ter sido bom para com Israel,
pois agora o juízo viria de forma dura e eles não resistiriam: "o mais corajoso entre os
valentes fugirá nu".
Israel é sim nação escolhida (3:2) mas não para prevalecer-se disto e exercer idolatria,
impiedade e injustiça, pelo contrário, Deus os responsabiliza ante o mundo para serem
modelo e exemplo. O juízo virá (e veio pelos Assírios cerca de 40 anos depois) e de nada
adiantará esconderem-se em seus palácios de verão ou fazendas de inverno, construídas com
o dinheiro de roubo e exploração dos pobres (3:15).
As mulheres de Samaria estavam belas, fortes, gordas tais como, as vacas tratadas no
monte Basã (4:1), mas tão irracionais quanto elas.
Preparem-se para o juízo, no encontro com seu Deus! (4:12)
Vós que praticais a injustiça social, buscai a Deus, em verdade e sinceridade para que
vivais (5:4-14), Deus estava enojado de cultos hipócritas de um povo que era idólatra e
opressor do pobre. De que vale um culto sem a respectiva vida que cultua no cotidiano?
(5:21-27)
O juízo virá inevitavelmente (cap. 6).
Deus dá a Amós uma sucessão de cinco visões a respeito do iminente juízo que lhes
traria por mão dos Assírios. Cada visão a ser relatada é iniciada pela expressão "O Senhor me
fez ver". São as visões de 7: 1-3 (os gafanhotos); 7; 4-6 (o fogo); 7: 7-11 (o prumo); 8: 1-3 (o
cesto de frutos) e 9: 1-10 (o Senhor junto ao altar).
Ao findar suas mensagens, o sacerdote e falso profeta Amazias, com autorização do rei
Jeroboão II, expulsa Amós de Israel, mandando-o de volta à sua terra, Judá (7: 10-17).
Amós encerra seu ministério ali, anunciando um tempo de restauração ao final de
tudo, é a mensagem messiânica de esperança (9:11-15). Os dispersos de Israel serão reunidos,
Jerusalém será capital poderosa, haverá paz e prosperidade entre o povo de Deus.
Oséias e Amos falam quase ao mesmo tempo, ao mesmo povo, mas com ênfases
distintas.
Oséias enfatiza o amor de Deus que foi traído pela idolatria, Amos enfatiza a justiça de
Deus que se fará sobre seu povo, o qual em nome de Deus, oprimia os pobres.
48
Mas também de acordo com os três elementos que aparecem na mensagem profética,
segundo os apresentamos na introdução aos livros proféticos, podemos dividir Amós em:
a) Advertências contra o pecado - Juízo - cap. 1; 4:11; 5:16 e 9:10 "Oprimis os pobres e
esmagais os necessitados." "Levantarei contra vós uma nação que os oprimirá."
b) Convite ao arrependimento - cap. 4:12 e 5:15.
"Buscai a Deus e vivei."
c) Revelação messiânica e escatológica - cap. 9: 11-15 "A Israel celestial".
COMENTÁRIOS
1- O tempo histórico de Jeroboão e Uzias aparece relatado em II Rs. 14:23-29 e II Cr. 26. Este
tempo de paz e prosperidade fez parecer loucura aos olhos do povo a mensagem de juízo
iminente trazida por Amos. A Assíria, em 722 a.C., entretanto fez cumprir-se o juízo
anunciado.
2 - A grande ênfase de Amos era contra a injustiça social, a exploração do pobre, efetuada
por um povo que trazia o nome de Deus: 2:6 e 7; 3:15; 5:11 e 12; 5:24; 6:3-7; 8:4-7. Ser povo de
Deus não atenua responsabilidades, pelo contrário, as aumenta, e não nos isenta de
prestarmos conta de nossos erros (5:21-24 e 6: 3-6).
49
Obadias
TEMPO DA AÇÃO - A profecia é uma visão dada ao profeta, a respeito do futuro reservado
ao vizinho reino de Edom, nos dias da invasão e destruição de Jerusalém através dos caldeus
liderados por Nabucodonosor.
VERSO-CHAVE - É o 21- "Salvadores hão de subir no monte Sião para julgarem o monte de
Esaú; e o reino será do Senhor."
CONTEÚDO
Este livro é uma profecia de um só capítulo, é o menor livro do Velho Testamento.
Estamos no ano 586 a.C., o povo de Deus agora se resumia ao reino de Judá, pois o reino de
Israel ao Norte havia sido dispersado pela Assíria em 722 a.C.
Apesar das recentes advertências de Jeremias, o povo de Judá não muda seus maus
caminhos e é cercado e invadido pelos babilônicos, exército de Nabucodonosor. Derrubam as
muralhas, invadem as casas, saqueiam e seqüestram famílias, pisoteiam crianças, matam
pessoas, arrasam plantações, pilham bens, destroem o sagrado templo do Senhor. Levam
tudo e todos cativos para a Babilônia, deixando apenas naquela terra desolada os aleijados,
os loucos e os velhos. Jeremias fica entre eles compondo suas Lamentações.
Nesta terrível invasão, os babilônicos contam com a inesperada ajuda do pequeno
vizinho de Judá, o inimigo reino de Edom.
Edom presenciou o cerco e ajudou a invasão (v. 11), alegrando-se com isso (v. 12),
colaborando na pilhagem (v. 13 e 14) e na entrega dos fugitivos (SI. 137:7 e Lm. 4:21).
Judá é desolado, angustiado, entristecido e arruinado, enquanto em Edom havia
alegria, júbilo, orgulho, festa, sensação de vitória.
Neste contexto Deus levanta Obadias com uma visão sobre o juízo de Deus vindo
contra Edom. Aquele comportamento enchera a taça da ira do Senhor. "Assim diz o Senhor
Deus a respeito de Edom: Eis que te fiz pequeno entre as nações; tu és mui desprezado... tu
serás exterminado para sempre..." (2,10).
A rixa entre Edom e Judá era bem antiga e remonta às origens dos povos, já que
Edom é descendência de Esaú, e Judá é descendência de Jacó. Obadias tem em mente esta
história dos antepassados, pois freqüentemente chama Esaú a Edom, e Jacó a Judá (6, 8, 10,
17- 19). Antes do evento de 586 a.C., muitas outras intrigas e guerras entre eles já houvera:
1406 a.C. (Nm. 20:14-21); 992 a.C, (II Sm. 8:13); 860 a.C. (II Cr. 20); 847 a.C. (11 Cr. 21:8); 845
a.C. (II Cr. 21:16 e 17); 785 a.C. (II Cr. 25: 11 e 12); 735 a.C. (II Cr. 28:17).
50
Deus não suportava mais nada de Edom, em especial por causa da traição desta hora.
Edom era pequeno, mas aparentemente inexpugnável, pois estava localizada numa cadeia
de montanhas e sua capital Sela (ou Petra) era inacessível como um ninho de águia, sua
única entrada era um desfiladeiro de dois quilômetros entre penhascos de 200 metros de
altura. Orgulhava-se de seus homens, eram valentes e sábios.
Pois a mensagem de juízo do Senhor começa por desprezar toda esta arrogância
geográfica e humana (veja os versos 3, 4, 8 e 9), anunciando-lhes o juízo por mãos dos seus
próprios aliados (7) que lhe saqueariam mais do que necessitariam (5 e 6). Tal ocorreu
inicialmente pêlos babilônicos cerca de cinco anos depois desta profecia, e pêlos árabes em
torno de 70 A.D., a quem aliaram-se na destruição que os romanos efetuaram sobre
Jerusalém no mesmo ano 70 A.D..
O profeta termina fazendo uma comparação surpreendentemente, diante do contexto
daquela hora, favorável à Judá e desfavorável a Edom.
O dia do Senhor virá e será dia de retribuição (15). O monte Sião, monte sagrado de
Judá, será monte de vitória, de libertação, e o monte Seir, monte de Edom, será destruído.
A casa de Jacó será chama, fogo, e a casa de Esaú será cinzas, restolho (18).
Os agora desalojados terão suas terras, mas os atuais alegres edomitas deixarão de
existir e então o reino será do Senhor (19 a 21).
Obadias, assim como Habacuque, Jonas e Naum, são profecias dirigidas a povos
pagãos.
1 - Não há unanimidade quanto à data de 586 a.C. para a profecia de Obadias. Grande parte
dos estudiosos acredita que esta invasão e pilhagem de Edom, é datada de 845 a.C., junto
com a invasão pêlos filisteus, segundo descrição de II Cr.21:16 e 17.
Nós, contudo, nos posicionamos ao lado da maior parte dos estudiosos que situa
Obadias em 586 a.C.
2 - O início de toda esta rixa e desgraça foi um problema familiar na casa de servos de Deus.
Jacó era o filho preferido de sua mãe Rebeca e Esaú o preferido do pai Isaque.
Além das preferências, há a agravante de que os pais deixaram isto ser percebido e
tramaram em favor dos seus filhos. Leia com atenção os textos de Gn. 25:19-34 e Gn.27.
51
A ira e amargura fizeram morada no coração de Esaú, de tal forma que contaminou
toda a sua descendência. Leia Hb. 12: 15-17.
Até Herodes que era edomita ou idumeu, descendente, portanto de Esaú, perseguiu
Jesus, ao tornar-se rei da Judéia, imposto ali pelo Império Romano.
3 - Os fatos, a aparência visível das coisas, não são a única realidade para os que crêem no
Senhor.
Em 586 a.C. os fatos apontaram a desgraça, a destruição total, o desterro, o cativeiro
de Judá, e a vitória, o júbilo de Edom. Mas aquela não era úItima palavra, Deus anunciou por
Obadias que Judá teria seu monte Sião de volta e possuiria suas herdades; quanto a Edom
seria banido da história eternamente.
Naquela hora tudo isto parecia loucura, mas era a palavra de Deus. Tal se
Cumpriu e hoje nada mais de Edom se conhece.
A última palavra vem da boca do Senhor, pois os fatos espirituais (invisíveis) são tão
reais quanto os de concretude material (visíveis).
4 - Contemplar a desgraça era terrível para Obadias, porém mais terrível ainda constatar a
aparente vitória do ímpio.
Deus, contudo não é amoral ou omisso e vem anunciando a justiça. Veja 73 e o SI. 37.
Deus por vezes usa uma temporária vitória do ímpio e fracasso do justo, com fins
didáticos e disciplinares. . Veja: II Co. 4:8-11, 17 e 18; Tg. 1:2-4; Hb. 12: 11-23 e I Pe. 1: 6 e 7.
52
Jonas
NOME - Seu nome significa "pombo" e este é na verdade o melhor símbolo para o seu
ministério profético, levando uma mensagem de paz à Nínive, capital da Assíria.
AUTOR - O autor é o próprio Jonas embora o livro esteja escrito na terceira pessoa.
É um personagem verdadeiramente histórico, e não fictício ou simbólico. É filho de Amitai (1:
1 e II Rs. 14:25-27), morador de Gate-Hefer, aldeia situada mais ou menos a três quilômetros à
nordeste de Nazaré, em Israel, reino do Norte.
TEMPO DA AÇÃO - Jonas viveu e ministrou no tempo do rei Jeroboão II entre 790 - 770, de
acordo com II Rs 14:25. Falou-lhes da misericórdia de Deus para com eles e que o Senhor lhes
concederia prosperidade. Além de profetizar estas coisas ao povo de Deus em Israel, Deus o
levou a entregar uma mensagem de arrependimento e paz a Nínive.
Provavelmente no seu retorno, ao final de seu ministério, ele escreveu este livro como
uma lição a Israel. É bom destacarmos que este livro foi escrito para o povo de Deus, embora
o seu conteúdo relate o ministério de Jonas em Nínive. Foi pensando em seu povo, e nas
lições que aqueles acontecimentos podiam lhes trazer que Jonas, pela ordenança de Deus,
escreveu sua história.
VERSO-CHAVE - É o 3:2 - "Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive, e proclama contra ela
a mensagem que eu te digo”.
CONTEÚDO
Nos dias do rei Jeroboão II havia paz e prosperidade política em Israel. Israel se expandia e
não se sentia ainda ameaçado pela Assíria, que era o grande império mundial, e um inimigo
potencial de todas as pequenas nações.
Jonas era profeta de Deus em Israel e falava bastante da misericórdia, de Deus (II Rs.
14:25-27).
Chegou o momento de Deus testar a visão que Jonas tinha desta misericórdia, e o
envia a pregar arrependimento em Nínive, capital da Assíria, e eles não se arrependessem
Deus os destruiria. Jonas bem consciente da vontade de Deus, objetiva e claramente
apresentada, foge, provavelmente desejando que o juízo logo se manifestasse contra o
grande e terrível império Assírio. Uma visão estreita e preconceituosa, de um Deus local e
particular, que não ama e não tem planos para mais ninguém que não Israel.
"Que me importa eles?” Deus se importa.
Fora da vontade de Deus o homem só desce, à Jope (1:3), ao navio, ao porão do navio (1:5),
ao fundo do mar (1:15) e ao ventre do grande peixe (1:17).
53
Lá, ele após 3 dias de reflexão, descobriu-se fugitivo de Deus e portanto desgraçado.
Clamou por socorro e o peixe o devolveu à praia.
Deus não mudara de planos e o vocaciona com a mesma mensagem; Jonas levantou-
se e foi.
Sua mensagem era curta e simples, atravessando a enorme, bela, importante e
cosmopolita Nínive, com a frase: "Ainda quarenta dias e Nínive subvertida". Era mesmo uma
palavra de Deus, pois imediatamente toda a cidade converteu-se desde o povo até as mais
altas autoridades (cap. 3). Deus não os destruiria mais.
Mas Jonas desgostou-se e ficou irado (4:1). "Eu sabia que és Deus clemente e
misericordioso!".
Enquanto ele resmungava, Deus fez subir uma planta que o abrigou com sombra, e o
alegrou sobremaneira (4: 5 e 6), mas no dia seguinte mandou um verme destruir toda a
planta (4:7).
Novamente Jonas desgostou-se, porque a agradável plantinha que lhe servia, morreu
precocemente. Deus completa sua lição, comparando seu sentimento humano e imperfeito
por uma plantinha, com a compaixão e misericórdia divinos por todas as suas criaturas (4:8-
11).
Um servo de Deus deve ter como objetivo de vida, alcançar os perdidos com a
mensagem da graça salvadora de Deus, mediante o arrependimento sincero. Quaisquer que
sejam os nomes, endereços ou aparências destes perdidos. A graça e o juízo de Deus são para
todos.
COMENTÁRIOS
1 - Jonas e Adão são os dois personagens bíblicos mais inverossímeis aos olhos humanos
naturais. Parecem ser alegorias e não história.
O que traz esta visão humana sobre o profeta Jonas é a riqueza de milagres
sobrenaturais que seu curto livro apresenta:
a) A tempestade súbita por estar ele no navio fugindo de Deus.
b) A tempestade que cessa ao ser ele arremetido ao mar.
c) O grande peixe que o engole vivo.
d) Sua permanência vivo no ventre do peixe por três dias.
e) O grande peixe obedecendo às ordens de Deus.
f) Ser devolvido vivo pelo peixe, e pronto a profetizar.
g) A conversão da idólatra Nínive, em sua totalidade, mediante a palavra de um
desconhecido, de outra terra, com uma curta mensagem. Sua pregação não contou
com solos de hino ao fundo, músicas comoventes, e nem rica e convincente oratória.
h) A planta cresce em um dia.
i) O verme obediente que providencialmente come aquela planta em um dia.
No entanto Jonas é verdade histórica, personagem real da história de Israel (Jn. 1:1 e
II Rs. 14:25). Deus é pródigo neste livro em milagres, porém isto apenas consulta a sua
vontade e seus propósitos, como Senhor dos céus e da terra.
54
aos escribas e fariseus que lhe pediram um sinal que avalizasse suas afirmações. (Mt. 12:38-
40)
Aponta Jonas, figura reconhecida pelos sábios da lei de Israel, como um tipo seu,
dizendo que assim como Jonas esteve oculto três dias e três noites no ventre do peixe e de lá
saiu vivo, com mensagem de vida, assim também aconteceria com Ele após sua morte. (Mt.
16:4). Jonas é tão histórico quanto Salomão (Mt.12:41, 42).
3 - Nínive era capital do império Assírio, ficava a quase 1000 Km de Israel, necessitando de
uma viagem longa até lá, talvez cerca de três meses naquele tempo.
Era uma cidade rica, bela, idólatra, mantendo relações políticas e culturais com muitas
outras nações.
Estava cercada e protegida por várias muralhas, cujas alturas chegavam a 30 metros e
cujas larguras permitiam que três carros, lado-a-lado andassem sobre elas.
Sua gente era sensual, promíscua e adúltera; seus exércitos, cruéis e sanguinários.
Dizem alguns autores, que ajudou a conversão de Nínive o fato de que um dos deuses
adorados naquela cidade era o deus Dagom, meio homem meio peixe, e que provavelmente
acompanhava Jonas a informação de ter ele sido entregue àquela terra, vivo, de dentro de
um grande peixe.
5 - A afirmação de 3:10, onde diz o texto que "Deus se arrependeu", deve ser entendida como
uma figura de linguagem chamada "antropopatia". É a atribuição a Deus de sentimentos
humanos.
Deus contudo é imutável em sua essência e em sua vontade, planos e propósitos
(Nm. 23:19 e I Sm. 15:29).
Deus julga com equidade e não os condenaria, tal como afirmou a Jonas. É Jonas quem,
ao verificar a misericórdia de Deus, afirma que o Senhor "mudara de idéia",
arrependendo-se de seus intentos.
6 - A tradição judaica afirma que Jonas era o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado por
Elias. (I Rs. 17:8-24)
Não há provas bíblicas disto, mas cronologicamente isto seria possível.
55
Miquéias
VERSO-CHAVE - É o 6:8 - "Ele te declarou ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor
pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com
o teu Deus?"
CONTEÚDO
Miquéias vive e profetiza no reino do Sul, em Judá, mas sua mensagem se dirige a
ambos os reinos que viviam momentos semelhantes, Samaria capital de Israel e Jerusalém
capital de Judá.
Idolatria, prostituição, religiosidade hipócrita, e, sobretudo opressão aos pobres por
graves injustiças sociais promovidas pelos líderes políticos e religiosos (2:1).
Deus não admite pecado de ninguém, sobretudo dos poderosos que oprimem os
pobres, daqueles que receberam autoridade e poder, para dirigir e decidir, e, no entanto
prevaricam em seus ministérios.
Miquéias é homem humilde, do povo, de formação não tão nobre, culta e palaciana
56
quanto Isaías, e talvez por isto, embora contemporâneos, notemos diferenças em suas
mensagens.
Isaías fala sobre os inimigos externos de Judá, estendendo a eles a palavra de juízo e
condenando alianças políticas que contrariam o Senhor. Miquéias, no entanto desenvolve
com obstinada objetividade uma palavra direta aos líderes de Judá e Israel, condenando as
injustiças sociais e os pecados pessoais que trariam iminentes juízos sobre ambos os reinos.
Miquéias e Isaías, ao lado de suas palavras de juízo, anunciaram a vinda futura do
Messias, o qual, no dizer de Miquéias, trará paz (5:5).
A lista de pecados condenados por Deus, segundo Miquéias era longa (2:1-3; 2: 9 e 11;
3: 1-3; 3: 9-11; 7: 2-7). O reino do Norte já estava condenado e sem possibilidade de cura (1:9),
seu juízo, poucos anos depois, veio por mãos assírias. Esta contaminação atingira Judá (1:9),
a qual seria levada para a Babilônia (4:10). A profecia é dada mais de 140 anos antes que tal
fato viesse a acontecer.
Os falsos profetas recriminavam Miquéias, dizendo:
"Não fale bobagens Miquéias" (2:6), mas ele respondia: "eu estou cheio do poder do
Espírito do Senhor" (3:8).
"Tanto Samaria quanto Jerusalém serão destruídas e reduzidas a um montão de
pedras" (l: 6 e 7 e 3: 12).
Miquéias chamava o povo a um diálogo com Deus. Se eles não aceitavam que eram
pecadores, que se apresentassem ante Deus, o Juiz, e defendessem sua causa (1:2; 5:1; 6: 1-8).
Deus é misericordioso, um justo juiz, e os convida a uma sincera e verdadeira
conversão (6:8; 7: 18 e 19). Completa sua mensagem com o anúncio da vinda do Messias (5:2-
5) o qual implantará um reino de paz e justiça sobre aqueles de Israel que permanecessem
fiéis ao Senhor (2:12; 4:7; 5:7; 7:20).
DIVISÃO - Podemos dividir a profecia de Miquéias em três partes, seguindo suas naturais
três seções, todas iniciadas pela conclamação: ouvi!, e encerradas por promessas:
Outra forma de dividirmos o livro, como temos feito com todos os livros proféticos, é
segundo os elementos contidos na mensagem profética.
COMENTÁRIOS
1 - Certa vez, uma profecia de Miquéias salva o profeta Jeremias (Jr. 26: 10-19).
2 - É linda a verdade de que Deus bane de sua presença para sempre os nossos pecados
confessados e deixados, lançando-os no fundo do mar (7: 18 e 19).
3 - Miquéias nos ensina que Deus não se deixa enganar por uma religiosidade de aparências,
e nem requer de nós algo complexo e misterioso, mas:
57
a) Vida prática, justa, coerente com a justiça Dele.
b) Coração amoroso, compassivo e misericordioso no trato com o semelhante.
c) Convivência e relacionamento, em humildade, diário com Deus. É a explicação do
texto 6:8.
4 - É Miquéias quem anuncia a cidade natal do Messias, servindo de bússola aos magos do
Oriente para encontrarem e adorarem o Senhor Jesus (5:2 e Mt. 2:6),
58
Naum
Veja Na. 1:15 e II Rs. 22 e 23. Concluímos que a data deve estar entre 663 a.C. e 612
a.C., talvez próxima a 620 a.C.
TEMPO DA AÇÃO - Como vimos acima, a profecia, provavelmente está se dando em torno
de 620 a.C., e seu cumprimento, ou seja, a destruição da cidade de Nínive, se deu por mãos
dos medos e babilônios em 612 a.C., após uma enchente que destruiu as muralhas que a
cercavam. (1:8 e 2:6 e 8)
VERSO-CHAVE - E o 3:7 - "Há de ser que todos os que te virem fugirão de ti e dirão:
Nínive está destruída; quem terá compaixão dela? De onde buscarei os que te
consolem?"
CONTEÚDO
A Assíria era o grande império mundial, expansão esta realizada através de invasões, saques,
destruição cruel e sanguinária, corrupção e exploração das terras ocupadas.
59
Pelo seu poderio militar, pela sua história e pela fortaleza quase inexpugnável de sua
capital Nínive, a Assíria julgava-se invencível e indestrutível. Desafiava, enfrentava e vencia
todos os pequenos povos que queria.
Após destruir o reino do Norte em 722 a.C., rumava para o Sul, e significava constante
ameaça para o povo de Judá.
Fica claro que há dois pecados condenados: o violento uso de seu poderio militar (2:8-
13); a corrupção e o comércio sem escrúpulos (3:1-5).
Naum dirige-se a Nínive inicialmente e apresenta a sentença proveniente do tribunal
do Senhor, Deus de Israel e Senhor do Universo. (1:1)
O Juiz é apresentado em todo o primeiro capítulo, como um Deus soberano, zeloso,
vingador, reto, longânimo e misericordioso (Nínive já provara isto com o ministério de
Jonas), mas que não inocenta o culpado.
A seguir, após apresentar o juiz, Naum apresenta a sentença e descreve o seu
cumprimento. O juízo viria por mãos dos medos (exército vermelho, 2:3) e babilônicos, após
inundação que destruiria parte das inexpugnáveis muralhas (2:6). O Leão feroz (símbolo dos
Assírios), fugiria atônito e apavorado. (2:11-13; 2:4, 5, 7-10). Há ironia em Naum, o que
agrava a própria dor do juízo (2:1 e 3:5, 12-15), mas este era definitivo (3:19).
Uma fama, um império, com terror construído ao longo de séculos, dava à Assíria,
ante o mundo, a imagem de alguém que simbolizava onipotência, injustiça, maldade e
invencibilidade, até que o único e verdadeiro Senhor dos céus e terra, o Santo e Justo Juiz,
Soberano Deus, bate o martelo em seu tribunal e decreta a chegada de seu tempo do fim,
COMENTÁRIOS
1 - A Assíria foi por cerca de 500 anos um dos maiores impérios do mundo antigo, e um
terrível flagelo para as pequenas nações. E considerado por muitos, o mais poderoso e
implacável inimigo que o povo de Deus já teve.
Ela aparece citada em dez dos livros dos profetas do A.T., sempre advertida ou
condenada por sua impiedade.
Nínive era cidade fortaleza, cercada por muralhas de 100 Km de circunferência e 30
metros de altura com largura suficiente para que três carros andassem lado a lado sobre elas.
Havia ainda um fosso de 40 metros de largura por 30 metros de profundidade
guarnecendo as muralhas.
60
- Senaqueribe - o qual afirmou após chegar de uma de suas cruéis jornadas: “Varri
esta terra como um furacão, devastei 34 cidades queimando-as com fogo, a fumaça delas
obscureceu o céu". E o personagem de graves momentos de cerco e opressão ao povo de Judá
em I Rs. 18:13-37 e 19:1-20.
- Esar-Hadom - Deus refere-se a ele em Is. 19:4, como "um senhor duro, um rei feroz".
- Assurbanipal - declarou que rasgou os lábios e as mãos dos reis
inimigos, pondo arreios em três reis capturados, obrigando-os a puxar seu carro de guerra.
3 - A alegria e o júbilo de Naum ante a destruição de Nínive não eram apenas fruto da
contemplação da derrota de um aterrorizante inimigo, mas, sobretudo fruto de vitória da
Santidade do Deus Todo-poderoso.
O profeta não era apenas um nacionalista vingativo, mas alguém comprometido com
a causa do seu Senhor cuja santidade e justiça ansiava ver vitoriosa sobre a tirania
desumana de um reino pagão que pisoteava brutalmente as nações súditas e se ufanava de
sua crueldade.
Naum podia, pelo Espírito Santo, discernir que aquele castigo era a operação da
justiça de Deus.
5 - Ainda que a conversão tivesse vindo sobre Nínive quando Jonas ali esteve (Jn. 3:10), ela
não permaneceu, e cerca de 150 anos depois chega esta palavra de juízo.
Deus lhes assegura que não haverá deles descendência (Na. 1:14), e a verdade é que
Nínive hoje é só ruínas.
Quando Alexandre o Grande esteve ali perto em 331 a.C., nem sabia que houvera ali
uma cidade, tal a ausência de vestígios.
6- Naum e Obadias são dois livros proféticos, cujas mensagens exclusivamente dirigem juízo
a povos pagãos.
61
Habacuque
TEMPO DA AÇÃO - Habacuque está assustado com a proximidade dos caldeus e suas
ascensão militar (1:6). É um tempo de violência e graves pecados em Judá. (1:2-4). Não há
nenhuma referência aos Assírios, mas juízo também é anunciado contra os caldeus (2:6- 20).
Historicamente falando, os caldeus (Babilônicos) haviam destruído Nínive, a capital da
Assíria em 612 a.C. Por volta do ano 609 a.C., o rei Josias, de Judá, é morto, e grave
conturbação política, social e espiritual isto causou em Judá. No ano 605 a.C., a Babilônia
marchou sobre Jerusalém e cercou o reino de Judá. Habacuque deve estar presenciando tudo
isto e sua profecia, está certamente entre 605 e 609 a.C., ou talvez no tempo do próprio cerco.
A Assíria caíra ante a Babilônia em 612 a.C., o Egito fora derrotado pela mesma
Babilônia em 605 a.C., e agora o rei Nabucodonosor marchava para cercar o povo de Deus
em Judá.
Internamente, os problemas não eram menores, Josias morrera, suas reformas e
avivamento não atingiram efeitos profundos e prolongados, e o iníquo rei, Jeoaquim
assumira o trono (II Rs. 23:31-24:9). Judá estava às voltas com graves pecados sociais e
espirituais.
Jeremias profetizava sem ser ouvido. A derrota do reino do Norte, subjugado pela
Assíria (também por causa de pecados) 120 anos antes, em nada convencera o reino do Sul a
rever seu comportamento.
Em meio a tudo isto o profeta Habacuque ergue-se orando e dialogando com o Senhor.
Faz perguntas difíceis e espera respostas.
Não conseguia conciliar sua fé com os fatos que presenciava.
Por que Deus não ouvia aos seus clamores? (1:2)
Violência, injustiça, idolatria em Judá, sem intervenção divina?
Deus lhe respondeu dizendo que agia e agiria de uma forma tão maravilhosa, que
eles não creriam ao lhes ser contado (1:5). Deus estava trazendo os caldeus sobre eles como
manifestação de juízo (1:6). Esta resposta perturba ainda mais o profeta.
Por que Deus, santo, usa instrumentos iníquos? (1:12 e 13)
Pôs-se a aguardar resposta. (2:1)
Deus é o Senhor do Universo, e dispõe, e usa, quem quer, como quer, para o fim que
desejar. Os caldeus também teriam o seu juízo. O ímpio não prosperará para sempre, e
quanto ao justo, este viverá pela fé. (2:2-20)
62
O justo não vive pelo que vê, não se pauta pela aparência das coisas, não tem também
em suas mãos o poder de decidir e solucionar seus problemas, sobretudo precisa andar e
viver pela fé no Senhor, seu criador, mantenedor e salvador.
Habacuque entende as respostas e ora cantando, (ou canta orando?), Deus é o Senhor
do Universo e faz cumprir os seus propósitos. O justo confia, espera, pela fé, na salvação do
Senhor (3:13). A passageira luta, a momentânea dificuldade, não podem abater aquele que
faz do Senhor sua fortaleza (3:17-19).
COMENTÁRIOS
2 - Naum e Habacuque são seqüenciados em nosso cânon; anunciam juízo final para os dois
maiores impérios mundiais de então, os quais foram executores do juízo de Deus sobre o seu
próprio povo.
A Assíria trouxe juízo sobre Israel, o reino do Norte, em 722 a.C. e Naum anuncia o seu
fim.
A Babilônia trouxe juízo sobre Judá, o reino do sul, em 605 a.C., 597 a.C, e por fim 586
a.C.
Habacuque profetiza juízo sobre eles.
3 - O verso chave deste livro, 2:4, é "o justo viverá pela fé". Ele foi citado por Paulo em sua
doutrina de justificação nas cartas aos Romanos (1:17), aos Gálatas (3:11); e pelo autor da
carta aos Hebreus (10:38).
Neste texto também, Lutero encontrou inspiração para a Reforma Protestante.
4-Textos belíssimos de Habacuque são: 1:5; l: 12 e 13; 2:1, 2 e 4; 2:14; 2:20; 3:2; 3:17-19.
63
Sofonias
NOME - Sofonias quer dizer "Jeová guardou" ou "Jeová escondeu", e em meio a palavras
fortíssimas de juízo e condenação, Deus anuncia ter guardado para si um remanescente fiel
(3:12, 13 e 15).
TEMPO DA AÇÃO - Sofonias é profeta durante o reinado de Josias, que reinou entre 639 -
609 a.C. Dois fatos nos ajudam a estimar aproximadamente a data de sua mensagem:
a) Anuncia um futuro juízo contra Nínive, tal como Naum (2:13-15). Este juízo
aconteceu em 612 a.C.
b) Faz ameaças contra os pecados de Judá, e sabemos que houve um reavivamento
durante o reinado de Josias, logo após ser reencontrado o livro da lei do Senhor, na reforma
do templo (II Rs. 22 e 23 - 621 a.C.).
Assim Sofonias deve estar profetizando logo no início do reinado de Josias, em
seqüência aos péssimos e pecaminosos reinados dos antecessores Manassés e Amom.
VERSO-CHAVE - É o 1:14 - "Está perto o grande dia do Senhor, está perto e muito se
apressa. Atenção o dia do Senhor é amargo e nele clama até o homem poderoso."
CONTEÚDO
Sofonias se levanta num dos períodos mais negros da história de Judá.
Israel, ao Norte, havia sido dizimado pela Assíria por causa de seus pecados, há quase
100 anos.
Isaías e Miquéias já haviam se calado há 70 anos. Mas nada fizera o reino de Judá
demover-se de seus maus caminhos, caminhos estes precipitados ainda mais pelos seus dois
últimos reis, os piores reis de Judá, Manassés e Amom.
Idolatria, sincretismo religioso, sacrifícios infantis a Moleque, prostituição, opressão
aos pobres, falsos profetas, sacerdotes ladrões, e tudo o de pior que se possa pensar.
Tudo isso se reflete na mais dura e objetiva profecia de juízo dos profetas menores, a
de Sofonias. Veja o capítulo 1 e o 3: 1-7.
Sofonias anuncia, tal como Joel, a vinda do "dia do Senhor" Cl.7, 14; 2:2). Dia de juízo,
de angústia e desolação. De uma certa forma seria o dia da invasão babilônica, será o dia da
grande tribulação, será o dia do juízo final.
O juízo do Senhor não virá apenas sobre o seu povo, mas estender-se-á aos vizinhos
pagãos também (cap. 2).
64
e Na. 2:10; 3:19).
Faz um convite ao concerto com Deus, valendo-se do recurso do significado de seu
nome "Jeová escondeu" (2:3).
Conclui sua mensagem profetizando a restauração futura de Israel. O remanescente
voltará a Sião, e a beleza das palavras parece não limitá-las aos sobreviventes do cativeiro
babilônico, mas à Israel final que terá Cristo sobre seu trono reinando em grande glória (3:8-
20). Leia este trecho e veja a beleza das suas palavras e promessas.
Veja também Romanos 11:15 e Isaías 1:9.
COMENTÁRIOS
1 - Sofonias é como Joel, o profeta do "dia do Senhor". Esta expressão aparece algumas vezes
também em outros profetas e refere-se a um tempo especial na economia divina, em que Ele
mais nitidamente assume o governo do mundo e faz revelar sua glória, seu poder, sua
soberania e seu juízo.
É contemporaneamente, o dia em que o Senhor manifesta seu juízo local como foi o da
Assíria sobre o Reino de Israel, e o da Babilônia sobre o Reino de Judá.
Mas escatologicamente é, segundo alguns estudiosos, o dia da Grande Tribulação e do
reinado milenar de Cristo. Para outros, será o dia do juízo final.
65
Ageu
DATA DA ESCRITA - Sua mensagem aparece bem datada (l: l, 2: l, 2:10 e 20), e seu
ministério se dá no segundo ano do rei Dario Histaspes, rei da Pérsia, Portanto no ano 520
a.C.
TEMPO DA AÇÃO - Após o decreto de libertação promulgado por Ciro em 537 a.C., a
primeira leva de judeus retorna sob a liderança de Zorobabel, governador nomeado para
Jerusalém (Esdras 2 e 3). Eles então iniciam a reconstrução do templo.
Esta reconstrução é interrompida (534 a.C.) pela ação ameaçadora dos samaritanos,
os quais conseguem a chancela oficial para este impedimento, com o rei Cambises (529-522
a.C.).
Dario Histaspes sobe ao trono em 521 a.C., e só então o templo recomeça a ser
reconstruído, com a interveniência de Ageu e Zacarias (Esdras 5:1 e 2, e Ageu 1:14 e 15)
A ação profética de Ageu vai de l de setembro a 24 de dezembro de 520 a.C.
CONTEÚDO
A primeira leva do povo de Deus que volta do cativeiro, sob o comando do governador
Zorobabel e do sumo-sacerdote Josué, contava apenas com cerca de 42 mil homens. Eram
pobres e logo após iniciarem a reconstrução do templo com o lançamento de seus alicerces,
sofreram oposição dos samaritanos. A resistência a esta oposição foi pequena, e seguiu-se a
esta parada um desânimo completo, diante de toda sorte de dificuldades que encontravam.
Voltaram-se imediatamente então para seus interesses pessoais, em plantar, colher e
construir suas próprias casas. Nisto investindo cerca de 14 anos (534-520 a.C.).
A princípio Deus os advertiu do pecado da negligência para com Sua casa através de
secas, más colheitas e toda sorte de dificuldades econômicas (Ag. 1:2-11), mas eles não
entenderam a mensagem, necessitando que o profeta fosse levantado com uma palavra de
66
advertência, exortação e estímulo (Ag. 1:12).
Era tempo de reconstruir totalmente o templo do Senhor. Cerca de um mês e meio depois
(1:1 e 2:1), o Senhor volta a falar ao povo e aos líderes através do profeta Ageu. A causa
desta nova mensagem era o fato de que a reconstrução pobre do segundo templo chocava,
entristecia, desanimava aqueles que conheceram a majestade, riqueza, beleza e glória do
primeiro templo erguido por Salomão, (ver Ed. 3:8-13).
O estímulo que o Senhor lhes dava era que não somente Ele estava entre eles (Ag. 2:5),
como a glória do Senhor, o "desejado das nações" estaria naquela casa, profeticamente
anunciando o Messias, o Senhor Jesus, como um dos freqüentadores daquele segundo
templo. (Ag. 2:7-9)
Após três meses e meio de reinicio da reconstrução do templo o Senhor volta a falar-
lhes, e a mostrar-lhes que a impureza do povo e o pecado do abandono da casa do Senhor.
Eram causadores de juízo de Deus sobre eles (Ag. 2:10-19). Mas a partir da retomada, do
novo ânimo, da priorização às coisas do Senhor, então o Senhor estava com eles (Ag. 2:19).
Neste mesmo dia, Ageu entrega uma mensagem ao governador Zorobabel, príncipe de
Judá, pois era neto do rei Joaquim (ou Jeconias) que fora levado cativo por Nabucodonosor
(II Rs. 24:10-12). Deus abalará os tronos dos reinos gentios (Ag. 2:21 e 22), e faz-lhe uma
promessa: "Serás como um anel de selar". Sinal de autoridade e reconhecimento. Seu avô,
descendente de Davi, o rei Joaquim (Jeconias) havia sido amaldiçoado por Deus, mas agora,
na preservação da linhagem davídica, para a vinda do Messias, Zorobabel estava sendo
restaurado e abençoado por Deus. Veja: Jeremias 22:24-30, Mt.1:11 e 12.
COMENTÁRIOS
1 - Ageu é o segundo menor livro do Velho Testamento, só maior que Obadias,
2 - Ageu e seu contemporâneo Zacarias profetizam logo após o retorno do cativeiro. Ageu
tem seu ministério bem curto, só quatro meses, enquanto Zacarias profetiza por cerca de três
anos.
As mensagens de Ageu são curtas, mas poderosas, freqüentemente reforçados pela
esclarecedora confissão de que suas palavras eram "assim diz o Senhor" (26 vezes nos seus 38
versículos).
3 - Embora a prata e o ouro pertençam ao Senhor (Ag. 2:8), este segundo templo era,
materialmente, infinitamente mais pobre que o primeiro templo construído por Salomão.
No entanto a glória desta segunda casa seria maior porque "as coisas preciosas" ou
numa melhor tradução, "o desejado das nações" (Ag. 2:7) estaria dentro daquele templo.
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Zacarias
NOME - Zacarias significa "Jeová se lembra". Sua mensagem para um povo desanimado ante
tantas dificuldades é a de que o Senhor se lembra de seu povo e das promessas maravilhosas
que fez para Israel.
AUTOR - Zacarias é o autor de seu livro profético. É sacerdote, filho do sacerdote Baraquias
e neto do sacerdote Ido. Eles foram como sacerdotes, os maiores incentivadores da primeira
leva que retornou à Jerusalém, do cativeiro babilônico, sob a liderança do governador
Zorobabel. (Ne. 12:4 e 16).
Era jovem, nascido na Babilônia, e contemporâneo do velho profeta Ageu.
DATA DA ESCRITA - A maioria dos capítulos proféticos aparece datada, exceto os seis
últimos, e assim podemos estimar a data da escrita entre 520 e 480 a.C.
Veja: 1:1-1° de novembro de 520 a.C.
1:7 - 24 de fevereiro de 519 a.C.
7:1 - 4 de dezembro de 518 a.C.
9:13 - aproximadamente 480 a.C. quando a Grécia tornou-se o grande império.
VERSO-CHAVE - É o 9:9 - "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta ó filha de Jerusalém: eis
aí te vem o teu Rei, justo e salvador, montado em jumento, num jumentinho, cria de
jumento". Confira esta palavra com Mt. 21:1-11.
TEMA - RESTAURAÇÃO
O profeta começa tratando da restauração do templo e conclui com a restauração a
nação.
CONTEÚDO
Zacarias volta na primeira leva do povo que vem do exílio babilônico e chega à Jerusalém em
ruínas. O povo além das dificuldades próprias de uma reconstrução penosa e cansativa
encontra oposição dos samaritanos (Ed. 4). Há desânimo e uma parada de cerca de 14 anos
nas obras. Deus os adverte através de seca, calor, colheitas estéreis, e levanta os profetas
Ageu e Zacarias (Ed. 5:1 e 6:14).
68
Os primeiros oito capítulos de Zacarias tratam deste objetivo, a reconstrução do
templo. Ele os está advertindo, mas ao mesmo tempo restaurando confiança própria e
esperança. O povo se sentia fraco, impotente, desamparado. Zacarias investe aí quase quatro
anos de ministério, de 520-516 a.C.
"Nem por força, e nem por poder, mas pelo Espírito" (4:6)
Numa só noite (1:8) ele recebe oito visões, e as compartilha, sendo elas referentes a
assuntos diversos. (1:7 e 8; 1:18; 2:1; 3:1; 4:1; 5:1; 5:5 e 9; 6:1)
Estas visões falam dos pecados de Israel, de suas derrotas, mas também da esperança
de restauração da nação, de seu papel mundial, do Messias que haveria de vir, da justiça de
Deus que seria sobre todas as nações.
Este trecho da profecia se encerra com um ato simbólico muito lindo e significativo.
Deus ordena a Zacarias que faça uma coroa com prata e ouro e a coloque sobre a
cabeça do sacerdote Josué (6:11). Neste ato Deus estava anunciando que o Messias, o Renovo,
Jesus (o mesmo Josué no grego), reuniria em si mesmo os ministérios de sacerdote e Rei,
ministrando a Deus em nome dos homens, sendo caminho para o Pai, e ao mesmo tempo
reinando em glória, assentado sobre o trono eterno de Deus. (6:12-13). Desde que o pecado
entrou na história humana, o poder humano, político e o poder espiritual, de representação
divina, não puderam conciliar-se, até que Cristo pode reunir em si não somente estes dois,
mas também o ministério profético. Jesus foi Profeta, Sacerdote e Rei, projeto de Deus para
todo o homem, projeto frustrado pelo pecado.
Dois anos depois destas visões (7: 1) o profeta recebe uma comitiva (7:2 e 3) que vem
consultar os sacerdotes sobre a necessidade e oportunidade de manterem a prática de jejuns
por ocasião de suas festas comemorativas. Deus os surpreende perguntando se realmente foi
para Ele aqueles jejuns (7:5 e 6).
Também lhes fala novamente das razões de seu cativeiro, exortando-os à prática
sincera de justiça e vida santa em lugar de ritos de pausa alimentar (Veja [Sm. 15:22; Mq. 6.8;
Am. 5:24; Os. 6:6; Is. 1:11-17)
Que lindo este capítulo oito! Deus lhes anuncia a restauração futura de Israel, é
maravilhoso o futuro de Israel. (8:23)
Deus ainda os exorta à obediência, apresentando-lhes promessas de futuras bênçãos.
Os planos do Senhor para Sião são que esta seja uma cidade de paz, verdade e justiça (8:16-
19). Os fatos neste capítulo descrito são de cumprimento escatológico, no reino milenial.
Compare Is. 65:20 e 22 com os versos 8: 4 e 5, 10-12. Estas palavras ainda são respostas de
Deus através de Zacarias ao povo, naquele momento de consulta (7:1-3), quando o povo
carecia de estímulos em meio às obras de reconstrução do templo. Os jejuns deviam
transformar-se em festas (8:18 e 19).
Nesta primeira parte da profecia de Zacarias, entre os capítulos um ao oito, o tempo
enfocado é o próprio tempo do profeta, incentivando o povo à reconstrução do templo,
porém na segunda parte que se inicia no capítulo neve e vai até o quatorze, o foco está sobre
o futuro e deve ter sido escrito muito tempo depois dos primeiros oito capítulos.
Nos capítulos 9 e 10, Israel aparece sob o domínio grego (9:13), no capítulo 11 sob o
domínio romano, enquanto nos capítulos 12 a 14, Israel vive seus últimos dias de história
nacional.
O capítulo nove apresenta um contraste belíssimo, descreve nos versos 1 - 8 a futura
caminhada vitoriosa de Alexandre Magno, imperador grego, e a preservação de Judá dos
exércitos gregos introduzindo a humilde, porém invencível, caminhada do Messias (versos
9-17), em sua primeira (v.9) e segunda (v. 10) vinda. Neste capítulo os versos 13 a 17,
parecem descrever a vitória dos irmãos Macabeus contra os gregos, por volta do século II
antes de Cristo.
O capítulo 10 é de uma certa forma o prosseguimento do 9, onde Zacarias continua a
69
descrever as bênçãos de Deus sobre Judá, através da obediência do povo, não se limitando
ao tempo dos Macabeus, mas ao tempo do reinado do Messias sobre Israel (10:4), o qual
tornar-se-á então invencível.
Zacarias está antevendo no capítulo 11, a rejeição do bom pastor Jesus, quando Israel
esteve sob domínio romano, pois O vendeu por 30 moedas de prata (11: 12 e 13 e Mt. 27:9 e
10), preço de um escravo doente.
O juízo sobre eles veio no ano 70 A.D. quando por mãos dos exércitos romanos, um
milhão e rneio de judeus foram mortos, como também o templo foi definitivamente
destruído (11:6 e 9). O pastor inútil e insensato que virá, por certo será o Anticristo, sobre
quem também virá juízo ao final (11:17).
Assim como os capítulos 9 a 11 estão interligados, o mesmo acontece com os
capítulos 12 a 14, onde se trata da consumação histórica de Israel.
No capítulo 12, Zacarias profetiza o cerco final dos inimigos contra Jerusalém e sua
vitória pelo braço do Senhor com a conseqüente conversão de Israel (12:10), em um pranto
de arrependimento nacional (12:11-14).
O capítulo 13 continua a tratar da conversão de Israel, onde os versos de 7 a 9 falam
de Jesus, o pastor ferido, aquele que é homem e ao mesmo tempo companheiro ("um com")
de Deus (13:7).
O tempo e a descrição dos eventos no capítulo 14 são os mesmos do capítulo 12, trata-
se da guerra do Armagedom. É o "dia do Senhor", tão falado por Joel, Sofonias, etc...
Compare 14:4 com Atos 1:11 e 12; 14:5 com ITs. 3:13 e 4:14; 14:8 com Ap. 22:1; 14:9
com Ap. 11:15 e 19:16.
Enfim a santidade será universal e permeará todos os aspectos da vida dos homens
(14:20 e 21). As panelas das casas serão tão sagradas quanto às que serviram como utensílios
no templo. Não haverá mais mercador (ou "cananeu") todos serão santos, do povo de Deus.
Aleluia!
DIVISÃO - Podemos didaticamente dividir o livro de Zacarias, como a maioria dos autores
o faz, em duas partes:
a) O povo e o templo - o presente para Zacarias - cap. 1 a 8
b) O Messias e a Israel eterna - o futuro para Zacarias - cap. 9 a 14
COMENTÁRIOS
3 - Tal como Isaías, alguns estudiosos da alta crítica contestam ser o livro de Zacarias uma
unidade escrita apenas por ele. A firmam que a segunda parte do livro, dos caps. 9 a 14 deve
ser contemporânea do período interbíblico escrita por outro autor.
Contudo em nossa maneira de ver a questão, concordamos com a tradição judaica e
cristã, bem como com a maioria dos estudiosos que asseguram a unidade do livro e a fiel
autoria de Zacarias.
70
Malaquias
TEMPO DA AÇÃO - Cerca de 100 anos já haviam se passado desde a volta do povo do
cativeiro babilônico. O templo fora reconstruído (516 a.C.) sob o incentivo de Ageu e
Zacarias, o culto restaurado por Esdras (457 a.C.), e os muros reerguidos com Neemias (444
a.C.). Mas as grandes esperanças, o reavivamento espiritual e a fidelidade a Deus
começavam a desaparecer ante a vida duríssima que experimentavam. Deixaram de dizimar
e sofriam desemprego, baixas colheitas, fome, seca, etc.
Tudo os levava a duvidar do amor de Deus (Ml. 1:20) e a invejar a prosperidade dos
ímpios (Ml. 3:14 e 15).
Divorciavam-se de suas mulheres judias por motivos fúteis (Ml. 2:10-16) e cumpriam
uma religião fria e formal, inclusive com a colaboração de sacerdotes corrompidos.
Renasciam a feitiçaria, o adultério, a desonestidade e a opressão aos pobres (Ml. 3:5).
Neste contexto todo, entre 445 - 400 a.C., Malaquias é levantado com um ministério
bastante claro e objetivo.
CONTEÚDO
Malaquias é levantado e põe-se ao lado de Neemias naquele
momento terrível do povo de Deus. Ele exorta o povo, mas é
questionado provocante e freqüentemente (1:2, 6, 12; 2:14, 17;
3:7 e 13).
Começa sua mensagem atacando a irreverência do povo contra Deus, o que no fim
explicava em grande parte tudo o que acontecia. Um contraste entre o amor de Deus e a
incredulidade deles nisto (1:1-5).
A seguir os sacerdotes são duramente reprovados por sua falta de reverência (1:6),
71
pelas ofertas defeituosas (1:7-14) que os tornavam desprezíveis e às suas ofertas (1:10). Nem
entre os adoradores do Senhor que havia entre os povos pagãos, tal comportamento era visto
(1:11 e 14). O sacerdócio era relaxado, e esquecido da aliança de Levi (2:1-9).
Suas exortações então se dirigem à nação como um todo, em especial por causa dos
divórcios fáceis e casamentos com estrangeiras (2:10-16), Profanação e traição para com Deus
(2:10-11) e para com suas esposas (2:14).
O povo não cria mais no justo juízo de Deus e em seu caráter santo e reto, afrouxando
na vida moral e invejando os idólatras que prosperavam. (2:17; 3:5, 13-15).
Deus lhes responde assegurando-lhes sua presença, poder e ação.
O Messias virá em breve, precedido por um mensageiro (3: 1), e quando este dia
chegar quem poderá resistir à sua purificadora justiça? (3:2-4)
Quanto ao aparente sucesso dos ímpios, Deus possui uma memória inapagável, e fará
justiça (3:16-18).
Suas advertências completam-se na advertência quanto à sonegação dos dízimos, e
por isto são chamados de ladrões (3:6-9). A bênção da fartura e prosperidade vem como
conseqüência à fidelidade na entrega do que pertence ao Senhor (3:10-12).
O A.T. se encerra com a reafirmação de Malaquias quanto à chegada do "dia do
Senhor". Dia de glória e vitória, de governo completo, justo e definitivo do Senhor. Este dia
nascerá com o levantar do Sol da Justiça. Sol que promoverá luz, vida, alegria aos justos, tal
como os bezerros soltos num campo, em um belo dia claro e ensolarado; mas este mesmo sol
será causticante, fogo consumidor a abrasar os ímpios que, como reles ervas daninhas, serão
destruídos sem deixar marcas ou raízes (4:1-3).
O apelo é para que voltem à obediência, à observância da lei de Moisés! (4:4) Não é
este verso uma síntese de todo o A.T.?
O sinal mais breve de que tudo isto se cumprirá será o envio de um mensageiro, um
preparador de caminhos, um anunciador profético, o qual chegará com o mesmo poder,
autoridade, sinais, prodígios e mensagem (arrependimento) com que Elias veio a Israel
centenas de anos antes. (4:5 e 6).
Seguem-se 400 anos de silêncio profético.
Tudo estava dito e anunciado. Era tempo agora de meditarem, arrependerem-se e
aguardarem o Messias.
COMENTÁRIOS
1 - A primeira palavra de Deus para aquele calamitoso Israel é: "Eu vos tenho amado”.
A consciência completa, total do amor de Deus por nós, é o remédio, o bálsamo, a
resposta a todos os nossos males e dores. Quando temos absoluta certeza de que Deus nos
ama, tudo o mais, mesmo os mais graves problemas, tornam-se sem importância.
2 - "O Senhor dos exércitos" é um nome referente a Deus que aparece mais de 20 vezes nesta
profecia.
72
b) Despreza o culto e o altar do Senhor.
c) É mesquinho, guardando para seu uso próprio o que possui de melhor, ofertando a
Deus o que lhe é dispensável, sobra, desprezível.
d) Não vê Deus como o Senhor de todas as coisas.
e) Julga Deus alguém pequeno, tolo e inepto. Como se Deus não soubesse reconhecer
o que é bom, vindo a conformar-se, distrair-se, alegrar-se em receber o que é
defeituoso.
f) Cultua por formalidade, com enfado e canseira, não motivado espiritualmente.
4 - Deus não aceita este tipo de culto, vazio, formal, hipócrita, fraudulento, com ofertas que
procedem de um coração distante.
Tal mensagem aparece em: Ml. 1:10; Is. 1:10-17; Am. 5:21-24; Mq. 6:6-8 etc.
7 - João Batista não é a reencarnação de Elias (Ml. 3:5), pois esta doutrina não faz parte das
Escrituras, pelo contrário é claramente oposta às suas revelações (Hb. 9:27; Lc. 16:22-31; Jó 7:9
e 10; Jó 14:14).
João e Elias assemelhavam-se fisicamente, em suas vestimentas e hábitos, em seus
ministérios, em suas mensagens, no contexto de opressão e apostasia que viveram, no poder
e força do Espírito que os vocacionou.
8 - O Velho Testamento termina com a palavra "maldição", pois quem vivia em pecado e sob
o domínio da lei, assim realmente se encontrava.
Cristo surge nos evangelhos, e em todo o Novo Testamento, com a mensagem de
Salvação, da graça redentora e abençoadora de Deus. (Gl. 3:13 e 14)
Nas Bíblias hebraicas, o verso cinco é repetido após o verso seis, para que as
Escrituras não se encerrem com esta palavra de condenação. A mesma coisa acontece nos
livros de Isaías, Lamentações e Eclesiastes.
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Bibliografia
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EXCLUSIVO da ESUTES, e protegido pela Lei nº 6.896/80 que regula direitos autorais e de
compilação de obra, sendo proibida a sua utilização em outro estabelecimento de ensino
missiológico e/ou teológico.
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AVALIAÇÃO DO MÓDULO DE A.T. – LIVROS POÉTICOS E
PROFÉTICOS
1- Qual o significado do livro de Salmos; quem são os seus autores; qual sua
característica; qual o seu tema?
2- Sabemos que o livro de Cantares de Salomão é um poema de amor e por isso é
ainda hoje um livro discriminado por muitos. Porém, há neste livro um simbolismo
espiritual. Explique:
3- Cite as cinco formas pelas quais eram chamados ou denominados os profetas:
4- Os profetas de Deus eram usados por Ele para trazerem mensagens de cunho
profético e escatológico. A quem eles falavam? Cite pelo menos uma passagem que
comprove como Deus os usava diversificadamente a vários povos:
5- Cite os livros que compõe os profetas maiores. Quem são seus autores? Faça um
paralelo entre eles (Quando foram escritos, a quem profetizaram, qual o conteúdo de suas
profecias):
6- Malaquias foi o último profeta usado por Deus no período Vétero-testamentário.
Faça um breve comentário sobre o livro de Malaquias.
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DICAS DE ESTUDO ON-LINE
a) Não deixe para estudar muito tarde, pois o sono pode atrapalhá-lo em
sua concentração;
b) Não deixe a luz do ambiente em que estiver, apagada, pois a claridade
da tela do computador torna-se ainda maior, provocando dor de
cabeça e irritabilidade.
3- Pense na possibilidade de imprimir sua apostila, pois pode ser que isso dê a
opção, por exemplo, de carregá-la para onde quiser e de grifar com caneta,
partes que ache importante.
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