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Sâmera Eichholz
Pelotas, 2014
Sâmera Eichholz
Pelotas, 2014
Banca examinadora:
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Profª Drª Ana Inez Klein (Departamento de História)
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Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezat (Departamento de História)
Resumo
The present paper aims to contribute to the history of Pelotas city when the subject is
directed to fashion, photography and representation of female behavior in the early of
20’s. The purpose was to analyze the image of Pelotas woman or, more specifically,
the way in which female behavior was represented taking as sources clothes,
photographs and writings inserted in “Illustração Pelotense” magazine in 1919 and
1920. “Illustração Pelotense” the was an important journal that circulated in many
cities of Rio Grande do Sul state, but the emphasis in its pages was the city of
Pelotas and its elite. The paper was done with the view the sources that represented
the lives of the ladies in a society that lived the height of modernity in its "Belle
Époque" late looking. The Modernity announced changes that were confronted with
traditional values and customs of this aristocratic city. The research also tried to
understand and discuss, through the details of the sources contained in “Illustração
Pelotense”, how this announcement happened and what changed in the everyday life
of the fine ladies who lived in Pelotas city in the first decades of the century XX.
Introdução
Capítulo I –
Capítulo II –
Capítulo III –
Introdução
“Eis-me em Pelotas.
Eis-me na cidade das flores, da música, das mulheres lindas, dos rapazes
elegantes; na cidade dos carros, do luxo, da aristocracia educada, gentil e
chic; na cidade vasta, formosa, com as suas ruas largas, extensas,
paralelas todas, duma edificação quase uniforme, na beleza das vistosas
habitações, no conforto e higiene dos seus grandes armazéns, onde o
comércio forte, poderoso, vai impulsionando, de parceria com a pujante
indústria, o progresso da terra hospitaleira, cognominada com justiça a
Princesa do Sul” (MAGALHÃES. 2002, p. 253).
Eram novos tempos que prenunciavam mudanças que não ficavam somente
restritas à urbanização da cidade, mas também de um novo estilo de vida de seus
citadinos. Seguiam-se tendências ao que estava na moda. Seja tanto na vestimenta
quanto no portar-se, bem como Marroni (2008) aponta:
A “moda” era vista das mais variadas formas. Não se limitava, apenas, ao
modo de vestir, às roupas expostas nas vitrinas ou estampadas nos
“figurinos” vindos de Paris, mas refletia-se no jeito de ser, de andar de se
comportar em diferentes situações. A moda provocava mudanças no
cotidiano local. Desestabilizava. Rompia com um passado e impunha novos
valores. Na sua permanência, a construção de um novo modo de vida. E
esta moda ou modo de ser, persuadia, tentava, seduzia (MARRONI, 2008,
p. 59).
Capítulo II
A Illustração Pelotense
Balbuciando...
Com o novo ano, surge a Illustração Pelotense. Nasce com todas as
esperanças que desperta uma nova era de paz. Ergue-se confiante no
apoio que não lhe negará o nosso brilhante meio literário e elegante. O seu
programa é simples e claro. Pelotas já é um centro intelectual e um centro
elegante. Notáveis homens de letras e artistas visitam Pelotas e dedicam
trabalhos, ao seu publico.
O nosso meio social conta já com excelentes poetas e prosadores cujas
produções honram Pelotas. É mister animar os nossos intelectuais, os
nossos literatos, dando-lhes um órgão de publicidade. Por isso a
“Illustração” será literária. Com prazer e desvanecimento receberá ela a
colaboração espontânea dos nossos escritores. Aqui eles estarão em seu
lugar próprio. O noticiarismo, os telegramas, a nota política não virão tomar-
lhes espaço.
Além de dedicar-se ao meio literário, a “Illustração” pretende tornar-se a
revista do nosso mundo elegante. Para isso procurará arquivar pela
fotografia os mais importantes acontecimentos sociais: festas públicas,
cívicas, religiosas, carnavalescas, literárias, quermesses, bailes, concertos,
exposições, reuniões elegantes, enlaces nupciais, terão aqui o seu registro.
E não se esquecerá a “Illustração” de iluminar suas páginas com o retrato
das nossas belas e elegantes conterrâneas, que para isso honrarem a
nossa revista com o seu valioso consentimento.
Eis, em linhas gerais, o nosso objetivo, que será completado com uma
propaganda em prol dos mais alevantados ideais pátrios, nesta hora feliz de
resurgimento universal.
A “Illustração”, ao nascer, cumprimenta os seus brilhantes colegas da
imprensa local, agradece ao honrado comércio o franco apoio que lhe foi
prestado, saúda afetuosamente o publico pelotense, e deseja a todos Feliz
Ano Novo.
(ILLUSTRAÇÃO PELOTENSE, janeiro de 1919)
A revista “nascia”, como o autor bem frisou, justamente “nesta hora feliz de
resurgimento universal”. Aparando as arestas de angústias e incertezas deixadas
pelo período da Primeira Guerra Mundial. O cronista ainda ressalta sobre o centro
de intelectualidades presente na cidade, cuja revista serviu para amplitude deste
meio. Visto que nunca antes a cidade teve uma revista dedicada primordialmente
aos temas culturais e do cotidiano.
Por meio de uma leitura atenta nos quatro primeiros fascículos é possível
enxergar certo destaque em privilegiar alguns lugares de lazer da cidade em relação
aos outros. Um exemplo disso, Taborda (2012) aponta na sua tese:
Após essas quatro primeiras edições mensais, a revista para de circular sem
qualquer explicação. Retornado somente três meses depois, em setembro, e se
tornando um periódico quinzenal. Para explicar aos seus leitores e leitoras, a
primeira página apresenta uma “nota de esclarecimento”, onde é mencionado que a
revista não tem o intuito de privilegiar qualquer instituição que seja, pregando pela
“imparcialidade” de suas ações:
Resurgindo...
Reaparece hoje a Illustração Pelotense, que espera de nosso meio social o
mesmo benévolo acolhimento que lhe foi dispensado em sua primeira fase
e do qual não pode absolutamente prescindir.
Motivos que não cabe assinalar aqui lhe determinaram um eclipse de três
longos meses, com desprazer, queremo-nos acreditar, de quantos a vinham
distinguindo com a sua carinhosa simpatia.
Desaparecidos esses motivos, surge de novo, na arena da publicidade, sem
elmo e de viseira erguida, para a defesa apaixonada do Belo, em todas as
suas manifestações sublimes.
Sem cor política ou religiosa, terá suas colunas abertas a todos que, sob
sua exclusiva responsabilidade e dando aos seus trabalhos feição literária,
quiseram externar, no terreno elevado dos princípios e, pois, impessoal,
suas opiniões e suas crenças.
Sem preferência por esta ou aquela sociedade carnavalesca, este ou
aquele clube sportivo, registrará imparcialmente, como acontecimentos
sociais, todos os atos solenes das associações locais cultuadoras de Momo
ou do generalizado e interessante jogo bretão.
Terminado esta secção redatorial, que já vai tresandando a plataforma
política, saudamos como no primeiro número, a sociedade pelotense,
hipotecando-lhes o nosso franco e decidido apoio em todos os
cometimentos que visem a manutenção dos seus foros de cultura.
(ILLUSTRAÇÃO PELOTENSE, setembro de 1919)
Neste capítulo será analisada por meio da moda, das fotografias e dos
escritos ou textos presentes na Illustração Pelotense a representação sob as
interpretações das sensibilidades para decifrar o comportamento das mulheres que
viveram na cidade de Pelotas, no início da década 1920. Como bem já foi dito, foram
analisadas as edições que correspondem aos anos de 1919 e 1920. Nelas foram
priorizados textos que tivessem relação à mulher. Escritos tanto por homens quanto
por elas, os textos comportam o que se esperava de uma mulher da elite, inserida
naquele contexto: como ser uma boa filha, mãe e esposa; como se vestir
adequadamente seguindo os padrões importados; o que deveria ler e ouvir. As
inúmeras fotografias também presentes nos periódicos fazem-se mister como fonte
para uma compreensão mais realista tanto do visual esperado, quanto do cotidiano
para assim poder entender como deveria ser a vida de uma típica senhorinha nos
anunciados “anos 20”.
Dessa forma, Sandra Pesavento (2004) aponta que o historiador ao fazer esta
interpretação das fontes deve ter o cuidado na leitura dos aspectos que representam
aquele passado porque ao
A mulher modelo
- Deve parecer-se com echo que não fala sem interrogarem ; não devem
porem, como echo, procurar ser o ultimo a falar.
Outra coisa que incomodava era a audácia feminina: elas começavam a expor
as suas ideias. E não era mais nas cartas trocadas com suas amigas. Era através da
independência que ia sendo conquistada diariamente. No então momento, elas
também podiam praticar esportes junto aos homens e não ficar somente atreladas
ao corte e costura e, sobretudo, começavam a ter o mesmo nível de educação dos
homens quando se inserem nas faculdades. Como representa a Figura tal (ver foto)
Elas também faziam parte do grupo de atiradoras do clube: elas, portanto, estavam
usufruindo dos espaços oferecidos e mudando a forma de vislumbrá-los.
E por que são moças e belas e espirituosas, o que ellas dizem ficar nunca
mais desapparece, e tão bem se justapoem nos cousas, que se integram
nesses causos, como se fossem parte dellas.
Realmente a tal fila lateral do Ponto Chic é um dos pontos mais estratégicos
que se conhecem para os ardentes e ternas batalhas do coração.
Pois bem essa poética fila que certas noites parece uma longa exposição de
brinquedos, as nossas moças denominaram – A fila dos coiós!
(ILLUSTRAÇÃO PELOTENSE, fevereiro de 1919)
Este fragmento que chama a atenção pelo título e com uma leitura levada
pelo tracejar do perfil feminino ambíguo relata um episódio do cotidiano pelotense no
começo do ano de 1919. A fila dos coiós indica uma dualidade de posicionamentos
quanto ao comportamento das senhorinhas que mesmo ”á superfície da sua
bondade complacente, floresce com todos os seus espinhos e com todas as suas
cores palpitantes, uma rosa cruel de ironia e sarcasmo”. Neste caso também pode
ser associado um perfil de comparações, o texto anterior analisado se preocupava
com a esfera do público/privado, enquanto este remete ao gênio espirituoso delas:
do bom ao mau; do encantador ao perverso. As mulheres se tornam um ponto de
interrogação para os homens. A ponto de serem caracterizadas, conforme a
ilustração abaixo, como uma espécie de “armadilha” aos rapazes.
A partir do texto talvez seja possível fazer o exercício mental de criar a fila do
conceituado Ponto Chic para uma matinê: 1919, de um lado senhorinhas
cochichando entre elas, rindo e expressando uma feição esnobe, caso seja
conveniente. De outro, rapazes apreensivos esperando serem retribuídos por algum
olhar dócil de compaixão. Em meio ao atrevido portar-se das moças, o autor
denomina a submissão dos sentimentos dos moços. Invertendo os papéis como se
agora o alvo fossem eles e as mulheres os seres que transpareciam os mais
desnecessários sentimentos de sarcasmo e audácia que duelavam com a mais
singela aparência de bondade e formosura.
Figura .. – A saída da matinée do Ponto Chic
Ao ler estas crônicas escritas por homens convém pensar sobre o que talvez
tenham os motivados para tal ato. A resposta poderá vir de um olhar não retribuído
ou de um amor platônico por alguma senhorinha que não compartilhe de tamanho
sentimento. Como nada pode ser generalizado é imprescindível ter em mente que,
de fato, algumas moças tinham a vontade de poder fazer as suas próprias escolhas
e as colocava em prática, seja estudando na faculdade predominantemente ocupada
por homens (senhorinha Carmen doglia que terminnou com brilhantismo o seo curso
de odontologia), seja por vestir-se com a última tendência que fez o seu vestido
deixar a mostra o seu braço. Entretanto, muitas delas ainda conservavam valores
ditos tradicionais e mantinha apenas as atividades exclusivamente femininas, bem
como se resguardavam em seus trajares pouco inovadores.
[...] Os preços das luvas aumentaram de tal maneira que já não se sabe
como fazer para andar enluvada sem ficar arruinada. Talvez as experiências
que se estão fazendo com seda artificial venha resolver o problema [...].
Agora que as mangas curtas são permitidas, eis como se faz facilmente
uma blusa: em um metro e três quartos de tecido faz-se uma abertura para
passar a cabeça e uma outra pequena na frente; no lugar da cintura põe-se
um elástico estreito e as cavas com botões. [...] (ILLUSTRAÇÃO
PELOTENSE, fevereiro de 1919).
Indicações intimas
O luto
Ora o luto o véo no rosto e o manto já não se usam, foram substituidos pelo
gorro singelo com ampla cauda de crepe georgette e tul pelo rosto e levitan
ou casaco largo ou a capa moderna que é tão seria e elegante.
(ILLUSTRAÇÃO PELOTENSE, março de 1919)
CHONICA DA MODA
(A. BOUFRATELLO)
Em Pariz, actualmente, o vestido de saraó, geralmente faz de Taffetas
Pompadour, pannejado e com crinoline. Parece que volvem, após essa
grande guerra européa, quanto á moda, os deliciosos tempos de Luiz
Quinze e da senhora Pompadour.
Durante a guerra o traje de alfaiate quase cahiu no olvido e havia para isso
a seguinte razão: Os alfaiates, que são indispensáveis para fazel-o foram
chamados ao serviço militar e as modistas não são capazes de executal-o,
por muito gosto e por muita boa vontade que tenham. Distingui-se de logo o
trabalho do alfaiate do trabalho da costureira. As modistas durante a guerra
substituiram o sastre pela bata camisa que estamos fartos de ver e que por
ser de confeição simples, a qualquer pessoa é facil fazel-a por si mesmo.
Quem entende um pouco de costura, com uns pannos rectos e um cinturão
preso ao talhe, atraz, adiantte, ou solto, já tem uma bata-camisa
(ILLUSTRAÇÃO PELOTENSE, maio de 1920).
O contrario se dá com o traje sastre que fez seu reapparecimento logo após
formada a paz, por terem regressado os homens da guerra. Meio
dissimuladamente no primeiro verão após o termo da confragação, mais
estensivo no inverno ultimo em Paris, reappareceu em estylo-homem :
sacco curto com bolsos, collarinhos e punhos de cores variadas : azul,
verde, granadas, xadrez, branco e preto, negro e castanho, amarello ocre e
pardo.
A educação da mulher
A mulher deve ser bella, deve ter graças e encantos. Nem todas podem ser
lindas, que formosura não ficou em dote a todas filhas de Eva ; mas todas
podem ser bellas. Belleza não é formosura nem lindeza ; belleza é o
resultado das graças ; e toda a mulher bem educada pode ter graças :
pode-lh’as dar educação, póde substituir a formosura e fazer linda a
fealdade.
Mães cegas, que vos enlevaes na formosura de vossas filhas e cuidaes que
não precisam mai encantos – mães, que choraes sobre a fealdade das
vossas filhas e julgaes que nenhuns attractivos podem ter – voltae d’esse
erro fatal a ambas, e tão funesto a umas como outras.
Se a natureza foi liberal com tua filha, não desprezes essa vantagem ; cuida
da sua formosura, preserva essa tez delicada, conserva essas mãos finas,
cultiva essas rosas de saúde, nutre esse cabello ondeado, molda esse talhe
airoso, concerta esse porte elegante. Tua filha será formosa ; tanto melhor
para ella : com virtude, instrucção e formosura. Foi á tua filha escassa ou
madrasta a natureza ? – não a creias infeliz por isso : em tua mão não está
fazê-la formosa, - bella sim. (ILLUSTRAÇÃO PELOTENSE, 1920).
Portanto, as “filhas de Eva” sejam para aquelas que apenas deveriam
preservar a formosura ou para as outras que por crueldade do destino nasceram
feias e deveriam, ao menos, se esforçar intelectualmente para compensar na
educação o mínimo de serem belas. Na verdade, para ambas, as graças e destrezas
eram atribuídos sentidos de suas posturas. As poses, expressões e gestos numa
fotografia podem dizer muito sobre a intencionalidade de reproduzir o perfil
desejado.
Conclusão
Amabilidades conjugaes
Não vás muitas vezes á cosinha e não te intromettas nos arranjos da casa.
Beija a tua mulher antes de sahir de casa para que á tua volta não a
encontres em pranto.
E ahi temos uns conselhos, para que a felicidade e paz domestica sejam
relativamente completas.
LUCA, Tania Regina de. “Fontes impressas: História dos , nos e por meio
dos periódicos.” In:“Fontes Históricas”. Org. Carla Bassanegi Pinsky. São Paulo:
Contexto. 2005. p.111-153.