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PESSOAS, COISAS & GILBERTO FREYRE a co | = . IY, ‘ PESSOAS, COISAS & ANIMAIS. Gilberto Freyre Gilberto Freyre, “uma das glérias do pensa- mento brasileira", no dizer de mestre Celso Pedra Luft, é internacionalmente conhecido como sociélego. Sua obra principal nesse campo, Casa-Grande & Senzala, teva mais de uma edigdo em inglés e foi premiada nos Esta- des Unidos como a melhor obra sobre relagoes inter-raciais. Outro livro do autor muito apre- ciade no Brasil ¢ Sobrados @ Macambos. Dona Sinhé ¢ o Filho Padre, seminavela pu- blicada em 1964, projetou Gilberto Freyre como ficcionista. Dois anos antes surgira Tal- vez Poesia, antologia de poemas selecionados Por Ledo Ivo, Mauro Mota e Thiago de Melo, A Editora Globo, prestando mais um inesti- mavel servigo & cultura brasileira, langa agora Pessoas, Coisas & Animais, uma coletanea de ensaios, conferéncias e artigos de Gilberto Freyre reunidas e apresentados por Edson Nery da Fonseca, Registre-se que ¢ a primeira vez que a presente obra é publicada comer- cialmente, pois velo a lume no Natal de 1979 na forma de edi¢ao especial para MPM Propa- ganda — MPM Casabranca Propaganda fora de comércia. Vio portanto os leitores tomar contato com uma série interessantissima de trabalhos do "Mestre do Recife”, a maioria pu- blicada ha trés ou quatro décadas e por conse- guinte praticamente desconhecida. Constam alias escritos inéditos como, por exemplo, a conferéncia sobre Emilia Cardoso Ayres e 0 Siscurso sobre Rodrigo Melle Franco de An- drade. Num estilo simples e so alcance de todos, que @, diga-se de passagem, uma das suas ca- racteristicas, Gilberto Freyre aborda diversos assuntos. Na primeira parte da obra, “Pas- soas", destacam-se: 'S. Severino da Ramo’ reminiscéncia do tempo de menina; "0 Pe Ibigpins e suas maes-sinhds”, revelagdo de um {Continua na 2? abe} PESSOAS, COISAS & ANIMAIS 18 Série Gilberto Freyre Desenho de Getilio Delphin @ partir de uma fotografia de Berko, Alemanha Ocidental, GILBERTO FREYRE PESSOAS, COISAS & ANIMAIS 19 SERIE Enssios, conferéncias e artigos reunidos e apresentados por Edson Nery da Fonseca 24 Edigdo EDITORA GLOBO Porto Alegre + Rio de Janeiro 1981 Desta obra foi feita, no Natal de 1979, uma edi¢do especial para MPM Propaganda MPM — Casabranca Propaganda numeérada de 0001 a 8000, fora do comércio, Copyright © 1980 by Gilberto Freyre (Capa de Leonardo Menna Barreto Gomes Fotogratia de Clodomir Bezerra Planejamento gréfico de Maria Lais Fett Lima Direitos exclusivas de edi¢do, em lingua portuguesa, da Editora Globo S, A, Av, GetUlio Vargas, 1271 - 90000 Porto Alegre, RS. Rua Sarg. Silvio Hollenbach, 350 — 21510 Rio de Janeiro, RJ PESSOAS, COISAS & ANIMAIS 19 Série CIP-Brasii. Catalogacdo-ne-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RU, Freire, Gilberto, 1900- F933e — Passoas, coisas ¢ animais ; 1 série : ensaiog, conferincias e artigos / reunidos © spresentados Por Edson Nery da Fonseca, — 2. ed. — Porta Alegre — Ric de Janeiro ; Globo, 1981. 1, Freire, Gilberto, 1900+ — Coletanea |, Fonseca, Edson Nérl da Il, Tftulo DD — 869,98 CDU — 869.0 (81) Freire, G. 412 SUMARIO Apresentacdéo . . 1 PESSOAS Santos 6 quase santos §, Severino da Ramo 17 Sto, Antonio, militar no Brasil .. es 22 Um ortodoxo brasileiro do século XIX. . 25 O P.2 Ibiapina e suas Maes-Sinhas 30 Um homem que “‘seguiu Jesus”: Orlando Dantas . 35 Santos e homens . a ie 37 Um mundo necessitado de profetas, 1 41 Pai Addo, babalorixd ortodoxo .. . 44 Aco e contemplacdo dos franciscanos 47 Os carmelitas no Brasil 53 Santo e guerreiro ... auneate 56 Coro e outros CoreSes oii eee ee eee eee eee BD Poetas e ensaistas QO indianismo postico e cientifica de Goncalves TINGS po cia sscererauarorein a negecgyy: aceasta teal 62 O romantico Ribeiro Couto ...... seseeee 68 Augusto Frederico Schmidt, poeta e homem de agdO'.... wees came: 70 Moysés Vellinho e sua intarpretago do. Rio Grande do Sul . dae VET ew mney 73 Um critico na verdade criador: Roberto Alvim Corréa ........ aoe 76 Vianna Moog, ensaista literdrio e socio Tes Reena 81 Valdemar Cavalcanti, escritor . bees 83 O pensador Prudente de Morais, Neto | 86 Tobias Monteiro, mestre de jornalismo e de Historia do Brasil .... . 88 91 Quatro pintores e um inventor O drama de Pedro Américo ......, rors SF Telles Jdnior, mestre de Desenho e Hintor da mata pernambucana.......... 0.22.00 02008 101 0 esquecido Emilio, precursor, no comeco do século XX, da modernizacdo da pintura no Brasil .. 119 O brasileirismo teldrico de Portinari... 2.2.2.2... 130 O pessoal é 0 universal em Santos Dumont Santos Dumont é 6 mito do amarelinho eee 135 Universalidade de Santos Dumont . 138 Pensadores e homens de ac4o Martins Junior, jurista desgarrado num tempo que néo era aindao seu 2.0... ccc. eee eee ee ee 153 Teodoro Sampaio, colaborador de OR SEO ES: oo ccna csuouese sue eecer canna ea as eiaowre we aE 156 Monteiro Lobato e Urupés: uma revolugdo na literatura brasileira 60... cece eee eee eee 158 Silva Melo, cientistae humanista ..........-..... 161 Anisio Teixeira, renovador da educagdo e reformador social .. - 178 vill Rodrigo Mello Franco de Andrade, humanista e homem de acdo - 186 Epitacio Pessoa, bacharel antibacharelesco . . 197 Afranio de Mello Franco: seu bom-senso . . ve. 204 De Afranio a Gilberto Amado 6... 0... . eee a ees 209 Estadistas e politicos Ciéncia, humanismo e acao politica: o exemplo de José Bonifacio 211 OP Feijé e seu jansenismo caboclo , . 215 Rio Branco: a estatua ¢ o homem , . 220 Rui Barbosa: um quase défrogué desgarrado napolltiessss este Se eee as Joao Mangabeira, Rui Barbosa e a questdo social .. . Ruj Barbosa e a realidade brasileira Dois inimigos de Rui Barbosa .... Terei sido um anti-Rui? .......... Maua, m/stico do progresso industrial Maude Pedro ll ......0.5005 Virg (lio de Mello Franca: seu mado belo e leal de ser politico Getilio Vargas, artista pol{tico , COISAS Diarios e memérias . Citar ou ndo citar . Valores rotarianos e valores baianos A proposito de palavras inglesas na !{ngua portuguesa ,.,.. vette eee eee e ee SO Grandeza e decadéncia do charuto eae Bee O gaucho, parente do bedu/no . a seee. S41 Nacionalismo e internacionalismo t nas s historias em quadrinhas Paz, guerra e brinqueda A propésito de camas de noivos ........-... 2065. 350 Um circo e um antipalhago .... Em defesa da saudade . O pudor do lucro ...... 0.0. ANIMAIS Recordacao de Joujou ..... Arte de cavalgar no tempo dos flamengos . . Bichos reais e imaginarios Homens, casas, animais e barcos do S. Francisco .... 385 Os sultées das ruas do Rio de Janeiro .. Presenga do cavalo . APRESENTAGAO Na primeira edicdo de Uma Cultura Ameacada: a Luso-Brasileira (Recife, 1940) estéo anunciadas, entre as obras subseqiientes de Gilberto Freyre, algumas que no foram ainda e, talvez, jamais venham a ser publicadas, co- mo Um Srasileiro na Espanha e quias praticos, histéricos e sentimentais da Bahia, do Rio de Janeiro e de Belém do Pard, semelhantes aos dedicados ao Recife (1934) e a Olin- da (1939), Esses dois guias foram — diga-se de passagem — pioneiros no género em todo o mundo. E no Brasil talvez tenham sido os primeiros livros para bibliéfilos, assim cha- mados pela primorosa apresentag4o grdfica e tiragens limi- tadas. Dentre os livros anunciados em 1940 havia um com o titulo escolhido para esta coleténea de trabalhos inéditos e dispersos do autor, publicada pela MPM Propaganda no Natal de 1979, em continuidade a uma série de edicdes artfsticas pelas quais a literatura brasileira Ihe ficard para sempre devedora, Tanto a selecdo dos textos como sua sistematizacao ficaram sob minha exclusiva responsabilidade, por honrosa delegagao do autor e da casa publicadora: delegagdo que, aqui, desvanecido, agradego, Também s8o meus os titulos atribuidos a maior parte dos trabalhos escolhidos, embora o estilo gilbertiano seja neles evidente, pois foram colhi- dos nos respectivos textos, tal coma os indexadores esco- hem as palavras-chaves em determinado tipo de indice: o KWIC, ou Key World in Context. Embora Pessoas, Coisas & Animais tenha sido 0 titu- lo genérico da colaboragdo de Gilberto Freyre em O Cru- zeiro, este livra néo se constitui apenas de artigos publica- dos na referida revista, mas também de outros que, em di- ferentes épocas, foram divulgados no Didrio de Pernambu- co, no Jornal do Camércio do Recife, em O Jornal, A Manhé& @ Jornal de Brasil, do Rio de Janeiro. Foram ainda incluidos trabalhos inéditos como, por exemplo, a confe- réncia sobre Emilio Cardoso Ayres eo discurso sobre Ro- drigo Mello Franco de Andrade, As fontes e as datas estdo indicadas no fim de cada artigo. Destacam-se neste conjunto de inéditos e dispersos de Gilberto Freyre a variedade tematica e a originalidade estilistica. Tanto uma como outra podem ser observadas jé nos artigos da primeira fase de sua atividade jornalistica, recentemente reunidos em dois volumes da obra Tempo de Aprendiz (Sao Paulo, IBRASA, em convénio com o Insti- tuto Nacional do Livro, 1979). E pena que os editores da referida obra — graficamen- te elogidvel — ndo tenham acrescentado ao texto um indice Onomédstico € temdtico. A omissdo de (ndices é um dos pe- cados mais graves e constantes dos editores brasileiros. Um autor inglés reclama indices até em obras de ficcdo, para que os leitores possam encontrar facilmente certos perso- nagens e determinados episddios, O jndice onomastico e tematico é ainda mais indispensavel em obras como Tempo 2 de Aprendiz: tanto por seu carater compdsito como pela ordenacdo cronolégica dos textos reunidos. Além de facili- tar a consulta, um (ndice como o sugerido evidenciaria o generalismo que cedo madrugou em Gilberto Freyre., Nao © generalismo superficial de quem trata de tudo sem se aprofundar em nada, nem o generalismo puramente con- ceitual dos pensadores abstratos, mas generalismo como viséo global e interdisciplinar de cada tema ou problema estudado: a abordagem sistémica de que tanto se fala hoje em dia. Fosse Gilberto Freyre um generalista por pure e sim- ples diletantismo e ndo teria certamente se antecipade a varios autores, brasileiros e estrangeiros, na defesa de certas idéias, conceitos e iniciativas. Hd neste livro, por exemplo, uma antecipagdo que é oportuno salientar, face 4 publica- So recente de uma obra que vem sendog insistentemente considerada pelos noticiaristas literérios — neste ponto e em outros, melancélicos repetidores de press release — co- mo pioneira em destacar a participagdo do povo na His- toria do Brasil, Qu muito me engano, ou foi em 1933 e através de Casa-Grande & Senzala que 9 povo entrou em nossa Histo- ria, Isto foi, alias, reconhecido pelo antropdélogo Darcy Ribeiro no inteligentissimo prefacio que escreveu para a edigdo venezuelana daquela obra de Gilberto Freyre (Cara- cas, Biblioteca Ayacucho, 1977, p. XI et passim). Em arti- go de 1942 — agora reproduzido em Pessoas, Coisas & Ani- mais — Gilberto Freyre volta Aquela sua tese de 1933. Ca- mentando uma observacdo do Prof. Castro Rebelo endossa- da por Lidia Besouchet — a de que “em torno de Maud po- de-se escrever a historia econdmica do Império” — escreve ele: “Nao € em torno de nenhum grande homem de fraque e cartola — nem mesmo o Imperador — que se pode escre- ver a histéria econdmica do Império, mas — a termos que escrevé-la em torno de alguém — em volta do escravo ne- a gro. Pais o negro é que foi o alicerce vivo do sistema mono- cultor, escravocrata e latifundidrio em que consistiu a eco- nomia — na verdade a civilizagao inteira — do Império”. Ha varias outras antecipacdes de Gilberto Freyre que este livra recolhe. Duas delas esto na segunda parte e se referem ao fendmeno da criagdo cientifica e artistica e ao Problema das histérias em quadrinhos, Os dois assuntos vém sendo ultimamente muito debatidos pelos especialistas em ciéncia da informacao (information science) e em co- municaggo de massas (mass communication). No Brasil, a Prioridade no trato de tais temas cabe, sem duvida, ao au- tor deste livro, como se pode ver pelos anos de publicacdo do artigo Citar ou Nao Citar’ (1943) e das crénicas sobre quadrinhos (1948 a 1951). Embora graduado em Ciéncias Sociais e apesar de suas importantes contribuig6es 4 Sociologia, 4 Antropologia e & Historia Social, Gilberto Freyre poderia ser definido como antiespecialista. Emprego o verbo no candicional porque o prefixo anti néo me parece inteiramente adequa- do & Weltanschauung gilbertiana, que parece caracterizar-se antes pela concilia¢ao do que pela oposi¢go entre contrd- trios. Admirador de Marx, por exemplo, mas fazendo reser- vas a muitas das idéias do genial pensadar, ele sempre se considerou, néo antimarxista, mas pds-marxista. E com a mesma disposicéo de tudo compreender, ndo se considera catdlico nem anticatélico, mas acatdlico; nfo pré ou con- tra as academias, mas inacadémico, Um autor assim open minded, com uma Weiltans- chauung téo generosamente abrangente, sd poderia ter como lema o conhecide verso no qual Teréncio dizia que, por ser homem, nada de humano reputava alheio a si. Com 17 anos, em discurso de “Adeus ao Colégio” (depois in- cluido em Aegigo e Tracicdo), Gilberto Freyre | citava em latim 0 verso de Teréncio: Home sum: humani nihil ame ailienum puta. Creio mesmo que a cosmovisio gilbertiana é 4 ainda mais amplamente integradora do que a terenciana. Sobre sua evalucdo intelectual existe significativa confi- déncia, porventura esquecida em nota de abertura de um livro publicado em 1935: aquela em que o autor afirma terem suas idéias de adolescente se modificado em varios pontos, “num sentido que lhe parece mais humano e me- nos humanista’’ (cf, Artigas de Jornal, Recife, Edicdes Mozart, p. 9). Hoje ele talvez pudesse dizer, parafraseando Teréncio: sou vivo: nada do que & vivo repute alheio a mim, Pois sua abrangente curiosidade se estende a pessoas, coisas e animals. Da juventude inquieta de Gilberto Freyre nos Estados Unidas, sabernas que em vez de limitar-se 4 rotina académi- ca das aulas, semindrios e laboratarios, incluiu uma varieda- de enorme de impressdes e de contatos, como ele proprio recordou, em 1934, para estudantes que 0 convidaram a falar na velha Faculdade de Direito do Recife. Vale a pena reproduzir, jpsis litteris, essa recordacdo, porque ela se insere num contexto muito expressivo de um dos aspectos do estilo gilbertiana: sua proustianidade, se me permitem o neglogismo. Num escritor mais cartesiano do que proustiano, 2 recordacdo ficaria reduzida 4 seguinte frase: “De uma adolescéncia passada quase toda nos Estados Unidos, re- cordarei hoje algumas experiéncias de possivel interesse para os alunos desta Escola e para os seus amigos aqui reu- nidos". No estilo proustiano de Gilberto Freyre a enume- ragio exemplificativa — nele muito freqiiente — est4 como que suspensa entre dois travess6es que fazem a frase esten- der-se por quase trés paginas (estou citando a primeira adic3o da conferéncia, adiante referenciada): “De uma adolescéncia passada quase toda nos Estados Unidos — em universidades, principalmente na de Columbia — e um pou- co por toda a parte, até por Greenwich Vilfage, que é em New York o bairro de artistas e de intelectuais mais ou 5 Menos neurdticos, vitimas do puritanismo das cidades do interior, em busca de uma libertacdo que as vezes se resol- ve em pura libertinagem; em revivals de negros no Texas e em Kentucky; na Universidade Catélica, entre Dominica- nos e Beneditinos, ascetas magros, angulosos, estudando quimica e teologia; em Salt-Lake City, a cidade onde no tempo de Joseph Smith se praticou tamanho excesso de poligamia, cidade quase vizinha da de Reno, que vive, ao contrario, de verdadeiro turismo de gente 4 procura de di- Vorcio; de uma vida, na América do Norte, que me fez sentir © poema em que Vachel Lindsay — uma das maiores vozes na jovem poesia americana — vasou todo 0 lirismo da mobilidade transcontinental: They tour from Memphis, Atlanta, Savannah, Tallahassee and Texarkana, They tour from St. Louis, Columbus, Manistee They tour from Peoria, Davenport, Kankakee Cars from Concord, Niagara, Boston, Cars from Topeka, Emporia and Austin Cars from Chicago, Hannibal, Cairo, Cars from Alton, Oswego, Toledo Cars from Buffalo, Kokomo, Delphi, Cars from Lodi, Carmi, Loami, Ho for Kansas, land that restores us When houses choke us, and great books bore us e ndo 36 senti-lo com relacao 4s cidades e aos lugares, mas com relacdo as classes ¢ aos grupos que as vezes numa mes- ma cidade grande, vertical, se distanciam mais que os conti- nentes; senti-lo com relacao as distdncias sociais — que ain- da sdo enormes na suposta terra da democracia — conhecer poetas negros de Harlem, indios de Arizona, caboclos das Filipinas, John D. Rockefeller Junior no palacete de New York em que, mais de uma vez, no meu tempo de Colum- bia, ele recebeu os estudantes estrangeiros; Calvin Coolidge 6 na Casa Branca; e num segundo andar de suburbio de Brooklyn tomar ché da Russia com o romancista Leon Kobrin, judeu da Litudnia que foi companheiro de jornalis- mo de Trotsky em New York; ver-se matar boi e se fazer chourigo nos grandes matadouros de Armour @ Swift e se imprimir o New York Times; e sobretudo conhecer a vi- da intelectual e artistica na intimidade — poetas como Vachel Lindsay com quem mais de uma vez jantei no Brevoort — ele sempre com um olhar triste que talvez fosse de saudade do mundo que ia deixar té0 cedo — aquele seu pais de fords rodando de Norte a Sul, de Leste a Oeste, onde tantas vezes viajou sem dinheiro, cantando seus poe- mas pelos povoadas, pelas granjas, entre os negros dos al- godoais, entre os montanheses, tomando banho nos rigs, dependurando as roupas pra secar nas drvores, como Amy Lowell, de quem fui héspede na sua casa de Brookline, a velha casa dos Lowell onde ela vivia rodeada de livros ra- ros, de jarros chineses e dé caixas de charutos de Manilla; criticos como Mencken; escritores como Carl van Doren; cientistas como Boas: sébios como Giddings e Seligman; de uma vida de estudante que incluiu uma variedade de im- presses e de contatos fora dos livros, das aulas, dos semi- nérios, dos laboratérios — recordarei hoje algumas expe- riancias de possivel interesse para os alunos desta Escola e para os seus amigos aqui reunidos’’. (O Estuco das Clén- cias Sociais nas Universidades Americanas. Recife, Edigao de Momento, 1934, p. 20-23, 22 ed. publicada na hoje ex- tinta revista Rumo, Rio de Janeiro, v. |, n° 1, p, 4-24, 1° trimestre de 1943.) Foi Alvaro Lins quem primeiro comparou o estilo de Gilberto Freyre com o de Marcel Proust, esclarecendo: “Ambos se afastam da linha dos estilos tradicionais das suas linguas. Ambos estao determinados pela introspecc#o é pela busca do ‘tempo perdido’, um no homem, o outro na sociedade. Ambos estado sustentadas por uma unidade 7

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