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133.07
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133
133.00
Ambiguity in literature
and architecture
A reading of
Shakespeare’s wordplays
against Palladio’s and
Michelangelo’s
architecture
Junia Mortimer
133.01
Conjunto Heliópolis I, arquiteto Luis Espallargas Gimenez (Habi/Sehab) Análise gráfica, uma
Foto Luis Espallargas Gimenez questão de síntese
1/4 A hermenêutica no
ateliê de projeto
Hilton Berredo e
Guilherme Lassance
133.02
Circuito Cultural
Em sua edição de setembro de 2010, a revista AU – Arquitetura e Sustentável da Cidade
Urbanismo, com a qualidade que sempre a caracteriza, nos apresentou 25 de Santo André
jovens arquitetos em destaque, que “devem ser os profissionais mais Pela via de penetração
representativos do Brasil nas próximas duas décadas”. da Área Urbana até a
Área de Proteção
A reportagem estimula uma reflexão mais aprofundada. Não sobre a Ambiental
qualidade dos profissionais escolhidos, evidentemente, todos de Maria Rosana Ferreira
indiscutível talento. Mas sobre a lógica que serve para parametrizar o Navarro
que se considera hoje, no Brasil, um “arquiteto” e, mais ainda, um 133.03
arquiteto cujo sucesso profissional sirva para representar a profissão. Programa Minha Casa
Não se trata aqui de questionar o excelente trabalho da revista, e menos Minha Vida: a (mesma)
ainda a qualidade admirável do trabalho desses jovens. A questão que política habitacional
coloco neste artigo é que a brilhante produção de alguns escritórios de no Brasil
arquitetura – cujo foco de atuação é bastante restrito ao reduzido Denise Morado
mercado da construção civil que (ainda?) se vale da arquitetura – não Nascimento e Simone
deve ser o único aspecto de representatividade do que seja o “sucesso” na Parrela Tostes
profissão. Há uma necessidade premente de iluminar também uma outra face
da arquitetura e do urbanismo, menos vistosa, menos evidente e menos 133.04
festejada, mas cuja importância é fundamental para tirar a profissão do Arranha-céus: evolução
complexo impasse em que se encontra. e materialidade na
urbanização mundial
Em outras palavras, cabe a questão: não seria hora de revermos nossos Carlos Cassemiro
ideais de sucesso profissional, que no Brasil parecem reduzir a questão Casaril, Ricardo Luiz
tão somente a uma arquitetura autoral – por vezes excelente – destinada Töws e Cesar Miranda
quase que invariavelmente aos estratos sociais de alta renda? Pois, em Mendes
que pesem exceções (1), não há como negar que é esse o perfil que 133.05
aparece, nitidamente e majoritariamente, quando percorremos o que se Salvar Brasilia
considera a atual produção arquitetônica “de sucesso” no nosso país. O Raúl Pastrana
que fez um colega arquiteto europeu tecer-me o seguinte comentário, não
isento de razão: “a arquitetura brasileira é fenomenal, mas aparece para 133.06
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nós como uma arquitetura apenas de casas chiques, e quando não, de Jardins Verticais – uma
prédios habitacionais e comerciais de luxo”. oportunidade para as
nossas cidades?
Esta espécie de endeusamento da arquitetura autoral de talento genial Carlos Smaniotto Costa
limita o horizonte de perspectivas dos nossos estudantes e lhes apresenta
como única alternativa um mundo de alta competitividade, angustiante, no
qual aparentemente alcançará o sucesso apenas um pequeno grupo de
eleitos.
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alguns grandes escritórios. Porém, nossos jovens continuam aprendendo que
este é o modelo a seguir.
Façamos uma verificação bastante simples: nas seis edições das duas mais
importantes revistas de arquitetura do país, as revistas AU e Projeto,
entre fevereiro e agosto de 2010, excetuando-se os números especiais
sobre Brasília, dos 69 projetos brasileiros apresentados (não foram
somados os oito projetos internacionais), temos dezesseis de residências
de alto padrão e 28 de estabelecimentos comerciais para o mercado de alta
renda, ou seja 63% do total. Fogem à regra dois estabelecimentos
industriais e, bom sinal, os 28 de edifícios públicos (museus,
bibliotecas, escolas, estações, etc.). Prova de que ao menos os projetos
institucionais de uso público ganharam espaço, e que os concursos para os
mesmos aumentaram. Porém, vemos apenas quatro referências (projetos ou
textos analíticos) a questões de urbanização, e somente um projeto – 0,1%
do total! – de habitação “econômica”, aquela voltada à classe média-
baixa. Não há nenhum projeto de habitação social (para renda abaixo de 3
salários-mínimos), nenhum projeto no âmbito do PAC Assentamentos
Precários em andamento, nenhum projeto do Programa Minha Casa Minha Vida
(MCMV), nenhum projeto de companhias públicas, de assessorias de
mutirões. Esse “mundo” da habitação de interesse social, da informalidade
urbana (generalizada), simplesmente parece não pertencer ao “mundo” da
arquitetura.
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De quem é a culpa?
Mas antes de aprofundar essa discussão, vale uma observação: não se trata
aqui, de forma nenhuma, de “colocar a culpa” nos arquitetos de
escritórios, menos ainda nas revistas de arquitetura. Não há nenhum
problema – e é até muito positivo – que a produção arquitetônica de um
país tenha uma grande participação de escritórios voltados ao mercado
formal e de alta renda, com um enfoque mais autoral.
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A questão é que tais atitudes não são nem maioria, nem fáceis, porque
enfrentam um pensamento dominante que, seja conscientemente (o pior),
seja simplesmente por inércia (o menos pior), reproduz e divulga
permanentemente a visão da sociedade de elite, exclusivista e
segregadora. Em suma, o Brasil é um país exacerbadamente elitizado, que
precisa urgentemente começar a mudar essa situação. Suas cidades, que são
o reflexo no espaço dessa sociedade desequilibrada, também precisam
urgentemente mudar.
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Isso porque o Brasil está se transformando. Porém, paradoxalmente, o
crescimento econômico, tão festejado, muitas vezes escamoteia o
acirramento das tensões econômicas e sociais. Nas cidades, se não for
controlado, o crescimento acelerado significa, também paradoxalmente, o
aumento da destruição ambiental e dos problemas urbanos. Pois nosso
modelo de urbanização, que se intensifica neste momento de euforia de
crescimento, continua sendo o da impermeabilização das cidades, da
verticalização excessiva e não regulamentada nem planejada, dos grandes
condomínios fechados que renegam o espaço público e a cidade, dos
investimentos viários em detrimento do transporte público de massa, dos
sistemas de esgotamento e drenagem insuficientes, da ocupação
descontrolada das periferias, e assim por diante.
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arquitetura, que não estabelece relação com os processos construtivos,
pouco adequada à nossa tradição e que busca ornamentação em elementos
formais importados. Ao mesmo tempo, cidades do porte de Joinville ou
Guarulhos tem menos de 20% de cobertura de esgoto, a canalização de
córregos e a impermeabilização do solo continuam predominando, políticas
para os automóveis em detrimento do transporte público são a regra,
bairros exclusivos que segregam os mais pobres ainda ditam a conformação
do espaço urbano. Em suma, reproduz-se pelo país o desastre urbano e
ambiental que são nossas grandes cidades. E a arquitetura, como se coloca
frente a isso?
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um novo Brasil urbano”, levantou o estarrecedor cenário do boom da
construção civil ligado ao novo “segmento econômico”. Nele, mostramos que
nos empreendimentos verticalizados, as construtoras optam por tipologias
em “H” ou outras variações trazidas da habitação social da época do BNH,
com a mesma pouca qualidade construtiva e arquitetônica, dando-lhes certo
“glamour” de mercado, graças à utilização de cores permitidas pelos novos
materiais de revestimento, ou ainda ao uso dos mesmos equipamentos que
seduzem os empreendimentos de alto padrão: espaços gourmets, fitness
centers e afins. Economizam-se preciosos metros quadrados em cada
unidade, para em troca gastar uns trocados em um fogão ou algumas
máquinas de ginástica; erguem-se muros com cercas elétricas, colocam-se
guaritas, tudo para criar um sentimento de ascensão social que dinamize
as vendas. O questionável padrão urbanístico dos bairros ricos passou a
servir de modelo na proliferação dos novos bairros de classe média.
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A pergunta que nos cabe é a seguinte: onde está arquitetura em tudo isso?
Para além da festejada arquitetura brasileira dos escritórios autorais, a
profissão não deveria ser parte atuante na linha de frente desse processo
de urbanização que assistimos? Exigindo a realização de projetos, a
discussão de qualidade, incentivando novas tecnologias, a
industrialização construtiva com qualidade, etc? Porém, temos que admitir
que nossa profissão, até agora, está alienada disso tudo. Saudosos
tempos, quando em 1963, o Seminário Nacional de Habitação e Reforma
Urbana, contando com a participação de grandes arquitetos, fora capaz de
pautar as políticas habitacionais e urbanas do país.
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Não foi à toa, portanto, que o modernismo europeu já nos anos vinte, e
posteriormente no Pós-Guerra, elegeria a habitação social como o
principal desafio para mestres da arquitetura como May, Gropius, Le
Corbusier e tantos outros. Não havia vergonha nem hesitação em colocar a
profissão à frente da necessidade de produzir, em uma conjuntura
econômica de construção do capitalismo industrial de consumo de massa e
do bem-estar social, as moradias que tal momento demandava. "De Ledoux a
Le Corbusier, são constantes as sugestões que avançam sobre tempo",
aponta Ferro. O que pensariam esses mestres ao ver no nosso país,
reconhecido internacionalmente por perpetuar o modernismo, a sua
profissão alienada do desafio de responder a um déficit de seis milhões
de moradias e a cidades com metade de sua população vivendo na
informalidade? A arquitetura brasileira estaria acima de toda essa
reflexão, para permitir-se ficar distante das transformações que o país
passa?
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quanto a eles, já assimilaram), isso não quer dizer que tenhamos, na
outra face da moeda, resolvido a tragédia estrutural das nossas cidades,
resultante do próprio subdesenvolvimento.
Porém, a cidade informal ainda aparece mais do que tudo como um incômodo.
Assim sentenciava já em 2001 a revista Veja (Edição 1684, de 24 de
janeiro) ao estampar em sua capa um desenho em que um pequeno e colorido
grupo de casas arborizadas e prédios “de arquitetos” (dentre os quais se
reconhece o Copan e o Edifício Itália) aparecia envolto por uma massa
cinzenta de casebres, sob um título bastante revelador: “O cerco da
periferia: os bairros de classe média estão sendo espremidos por um
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cinturão de pobreza e criminalidade que cresce seis vezes mais que os
centros das metrópoles brasileiras”.
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O avanço nesse campo da arquitetura deveria ser visto com atenção pela
classe dos arquitetos-urbanistas, pois se trata justamente de uma mudança
que não resultou da ação de um ou outro arquiteto, mas sim de uma
mobilização institucional que envolveu governos, movimentos sociais,
técnicos do funcionalismo público, e também evidentemente, engenheiros e
arquitetos. Assim, vale o alerta: não se trata de fazer uma arquitetura
autoral aplicada a situações de precariedade ou na periferia, acreditando
que assim a “boa arquitetura” se generalizará. Mesmo porque, como já
dito, foi a experiência acumulada por quem trabalha na área, à sombra do
glamour da profissão, que está ditando os avanços que apontamos. Como diz
a urbanista Erminia Maricato, o Brasil é hoje um dos países que mais
exporta conhecimento na área da urbanização de assentamentos precários,
porém o espaço que essa produção tem no nosso próprio meio acadêmico não
só é mínimo, como desvalorizado. Prefere-se, de fato, buscar “soluções”
de arquitetos e universidades de países centrais, que aportam por aqui
com muita festa e com receitas que pouco se aplicam à nossa realidade. O
que vem de fora é sempre melhor, assim dita a cultura das “idéias fora do
lugar” tão acalentada por nossas elites.
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prática profissional, ou aproveitaremos a oportunidade para repensar, de
maneira tolerante, solidária e democrática, o papel da nossa profissão na
construção do nosso país e fazer uma verdadeira refundação da arquitetura
brasileira?
notas
1
Exceções como os recentes concursos para urbanização de favelas, no Rio de
Janeiro, ou de Habitação Social, em São Paulo, às quais estes mesmos jovens
arquitetos muitas vezes, e felizmente, se agarram na busca salutar de conseguir
alguma outra alternativa de atuação.
2
Exposição apresentada na Panamericana Escola de Arte e Design, e organizada
pela mesma, em parceria com o Arquiteto Siegbert Zanettini.
3
Cetelem/BNP Paribas, publicado em
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1558939-9356,00-
CLASSE+C+GANHOU+MILHOES+DE+PESSOAS+EM+CINCO+ANOS+DIZ+PESQUISA.html
4
A resolução 3177 do Banco Central, de 8 de março de 2004, obrigara as
instituições financeiras a aplicar efetivamente – já que esse dinheiro
costumava ficar no BC – porcentagem do Fundo de Compensação das Variações
Salariais (FCVS, 2%) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE – a
caderneta de poupança) em empréstimos imobiliários. Também exigiu dessas
instituições que cumprissem acordo anterior para liberar em parcelas o saldo do
FCVS acumulado desde 1996.
5
Com significativos fundos e facilitação de crédito, o programa beneficia o
mercado de renda média, mas também, pela primeira vez nessa escala, a classe de
renda muito baixa, abaixo de 3 salários-mínimos, oferecendo nesse caso
importantes e inéditos subsídios.
6
O que revela um dos desafios que o MCMV deve enfrentar, já que é nas grandes
metrópoles que se concentra a quase totalidade do déficit habitacional e da
demanda por moradia de interesse social.
7
Excelente nome dado pelo arquiteto Rodrigo Vicino, quando meu aluno.
sobre o autor
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