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Secretaria de Estado de Saúde

do Distrito Federal

CAMINHOS PARA UMA


CONVIVÊNCIA SAUDÁVEL
NA PERSPECTIVA DA SAÚDE
CAMINHOS PARA UMA
CONVIVÊNCIA SAUDÁVEL
Na Perspectiva da Saúde

Secretaria de Estado de Saúde


do Distrito Federal

Brasília, 2009
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte

Organização do Projeto
Laurez Ferreira Vilela

Grupo de Trabalho Técnico


Ana Lúcia Correa e Castro
Eliane Figueiredo Souza Jardim Corrêa
Laurez Ferreira Vilela
Marcelle Passarinho Mori
Tânia Mara Campos de Almeida
Vanessa Canabarro Dios

Edição, discussão e informações


SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL
Subsecretaria de Atenção à Saúde
Diretoria de Assistência Especializada
Gerência de Recursos Médico Hospitalares

Núcleo de Estudos e Programas para os Acidentes e Violência


SIA Sul Quadra 4C Lotes 02/07 Sobreloja do BRB
CEP: 71200-040
Tel.: (61) 3905 4635
Fax: (61) 3905 4637
E-mail: nepavses@gmail.com

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


NAU/BCE/FEPECS

Caminhos para uma convivência saudável na perspectiva da saúde. / Laurez Ferreira


Vilela (Org.). – Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2009.
128 p. il.

ISBN 85-89439-50-x

1. Prevenção da violência contra crianças e adolescentes. 2. Prevenção da violência


contra mulheres. 3. Promoção da saúde do homem versus violência.
4. Prevenção da violência contra a pessoa idosa. 5. Novas possibilidades de relações.
6. Atividades Preventivas. I. Vilela, Laurez Ferreira.

CDU 316.48:614
sumário

Apresentação 5

I – Módulo – Prevenção da violência contra crianças e adolescentes 7

A importância do desenvolvimento saudável da criança e do adolescente 8


Negligência – estratégias preventivas 13
Caminhos para educar sem castigo físico 19
Prevenção da violência sexual na infância e na juventude 23
A prevenção do trabalho infantil e a proteção do adolescente no trabalho 30
Bullying Escolar – conhecer para enfrentar 35
Prevenção da violência psicológica 38
Prevenção à violência na juventude 44
Aprendendo a conviver para prevenir a violência 48
Grupo de Instrumentalização de Pais – GIP 52

II – Módulo – Prevenção da violência contra mulheres 55

Orientações para a prevenção da violência contra as mulheres 56

III – Módulo – Promoção da saúde do homem x violência 64

IV – Módulo – Prevenção da violência contra a pessoa idosa 67

Prevenção primária da violência contra o idoso 68

V – Módulo – Novas possibilidades de relações 73

Assédio moral no trabalho: é possível prevenir 73


No caminho pedagógico da paz nas águas 78
Resiliência 84

VI – Módulo – Atividades preventivas para fortalecer grupo 100

Dança maluca................................................................................................................ 102


Construção coletiva da PAZ............................................................................................. 102
Atravessando um rio....................................................................................................... 102
O varal da violência – conhecer para prevenir.................................................................. 103
Definindo violência psicológica....................................................................................... 104
Convivência familiar . ..................................................................................................... 104
Roda de conversa – cuidando do corpo........................................................................... 105
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Empoderamento – acreditando no seu potencial............................................................. 105


Prevenção de situações de risco na adolescência............................................................ 106
Textos de apoio.............................................................................................................. 106
Todo mundo já teve a primeira vez menos eu.................................................................. 106
Estudo de caso............................................................................................................... 107
Prevenção do Bullying .......................................................................................................................107
Atividades com mulheres................................................................................................ 108
Técnicas para trabalhar relações de poder e gênero........................................................ 109
Tempestade de idéias..................................................................................................... 109
Pessoas e coisas............................................................................................................. 109
O que é ‘gênero’?............................................................................................................ 110
Risco e violência: as provas de coragem.......................................................................... 111
Prevenção da violência contra o idoso............................................................................. 112
Sentimentos................................................................................................................... 112
Trabalhando preconceitos............................................................................................... 113
Juntos somos mais......................................................................................................... 113
Técnicas para utilização em metodologias participativas – realização de Oficinas............ 114
Desenho do nome........................................................................................................... 115
Mãozinhas...................................................................................................................... 116
Salada de frutas............................................................................................................. 116
Passando a bola............................................................................................................. 117
Balão na roda................................................................................................................. 118
Projeto de vida............................................................................................................... 119
Texto de apoio................................................................................................................ 120
Música: Tente Outra Vez.................................................................................................. 121

Anexos 122

Locais na Rede de Saúde que realizam acompanhamento especializado


às vítimas de violência.................................................................................................... 122
Telefones Úteis do Distrito Federal.................................................................................... 123
Cose’s – Relação dos Centros de Orientação Socioeducativa............................................ 125
Creas – Relação dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social...................127

4
APRESENTAÇÃO

O Núcleo de Estudos e Programas para os Acidentes e Violência – NEPAV – da Secretaria de Estado


de Saúde do Distrito Federal, cujo objetivo é reduzir a morbimortalidade por acidentes e violências,
implantou como estratégia para desenvolver ações locais os Programas de Prevenção e Atendimento
às Vítimas de Acidentes e Violência – PAVs – nas regionais de saúde do DF.
Diante da dificuldade em realizar a prevenção primária da violência a equipe desse Núcleo elabo-
rou esta publicação com uma linguagem positiva, que aponta alternativas a profissionais que lidam
com a população de todas as áreas, principalmente para os que atuam na Atenção Básica à Saúde
para desenvolver um trabalho de multiplicação sobre promoção da saúde e prevenção das diversas
formas de violência. Aponta ações possíveis no espaço da saúde, educação, igrejas, instituições, co-
munidade, em ambientes que reúnam grupos de crianças e adolescentes, mulheres, adultos e idosos.
Considera-se prevenção primária as medidas de promoção à saúde e proteção específica, cujo
objetivo é evitar que a violência se manifeste. Para isso deve-se atuar nos fatores de risco, visando
reduzir a exposição de grupos populacionais, bem como atuar nos mecanismos protetores. Dessa
forma, buscamos proporcionar alguns caminhos e possibilidades para uma convivência saudável.
Sabe-se que as violências se reproduzem de forma naturalizada, invisível e simbólica em nosso
cotidiano. Elas atingem parcela importante da população e repercutem de forma significativa sobre
a saúde física e mental das pessoas a ela submetidas, independente de idade, sexo, raça, religião,
nacionalidade, escolaridade ou classe social.
A violência também configura um problema de Saúde Pública relevante que provoca mortes e
adoecimento. Tal situação aumenta o número de atendimentos hospitalares, causa debilidade físi-
ca, sofrimento e transtornos mentais, reduz a qualidade e o tempo de vida, abala a autoestima e o
bem-estar da população.
Fenômeno complexo, a violência envolve fatores sociais, ambientais, culturais, econômicos e polí-
ticos, constituindo-se em um desafio para profissionais e gestores do Sistema de Saúde e parceiros.
Para seu enfrentamento, necessita-se de ações interdisciplinares, transdisciplinares e intersetoriais,
além de comprometimento profissional e comunitário para juntos atuarem na formação de redes
de prevenção e atendimento.
Abordaremos as várias formas de violência, pois algumas pessoas não percebem seus atos
agressivos. É indispensável dar visibilidade ao fenômeno e suas consequências para mudança do
padrão de comportamento.
Situações opressoras ainda são aceitas, pois estão alicerçadas em crenças e costumes familiares
e culturais repassados de modo praticamente automático e que, portanto, não são questionados
por nós nem nos são conscientes.No entanto, esses valores, preconceitos e julgamentos autoritários
violam nosso direito a uma vida autônoma e feliz. Por isso, é preciso uma auto-reflexão constante
para identificar valores conservadores, a influência destes padrões no cotidiano e se nos dispomos
a romper com ideologias impostas que causam prejuízos e restringem possibilidades de uma exis-
tência plena.
Independente de a pessoa vivenciar ou não situações de violência, devemos apontar ou facilitar
o caminho para que o/a usuário/a do serviço desfrute de uma melhor existência, autonomia, boa
saúde física e mental e tenha noção plena de seus direitos a uma vida sem violência.
Para tal consecução, esta publicação está dividida em seis módulos. Contempla os seguintes temas:
Prevenção da violência contra crianças e adolescentes
Prevenção da violência contra mulheres
Promoção da saúde do homem versus violência
Prevenção da violência contra a pessoa idosa
Novas possibilidades de relações: no trabalho, com a água e estratégia de superação/resiliência
Atividades preventivas para fortalecer grupos

5
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

A proposta é atuar em favor de mudanças no padrão de sentimentos, pensamentos e compor-


tamentos do sujeito, da família e da comunidade, o que sabemos não ser nada fácil, além de exigir
respeito e esforço árduo de todos envolvidos no processo.
É imprescindível a ação intersetorial para alcançarmos uma cultura de paz, para o resgate de
valores essenciais para a boa convivência como o respeito ao próximo e às diferenças de raça, idade,
gênero, orientação sexual, classe social e outros. A escola é uma parceira indispensável na prevenção
da violência, seguida das unidades de saúde, assistência social, igrejas, associações comunitárias,
de bairro, prefeituras, mídia, dentre outros. Equipes interdisciplinares com formação específica para
acompanhar famílias em situações de violência, possibilitando intervenção qualificada e resolutiva,
também são fundamentais nesse enfrentamento.
Destaca-se a importância de realizar o diagnóstico da violência local a partir das notificações
da Saúde e órgãos envolvidos com a mesma temática, divulgar os dados na comunidade para que
juntos – comunidade, instituições e/ou órgãos, possam buscar estratégias de prevenção e promoção
da qualidade de vida da população.
Sem a intenção de responder todas as questões relacionadas à violência e muito menos propor
receitas prontas, a equipe do NEPAV acredita que este material possa apoiar profissionais de todas
as áreas, pais e responsáveis, na busca por relações mais harmoniosas, igualitárias e prazerosas
em suas famílias e em sua comunidade, promovendo, assim, uma convivência saudável.

6
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Módulo I

PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA
CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Na nossa sociedade a família é o espaço ideal para o desen-


volvimento físico, mental e social de suas crianças e adolescen-
tes. A comunidade e o Estado são corresponsáveis por legitimar
e contribuir com esse pleno desenvolvimento, principalmen-
te no fortalecimento das competências familiares, para que
possam cuidar adequadamente de sua prole, na busca da pro-
teção integral.
Esse módulo visa apontar alternativas positivas para educação
de crianças e adolescentes, abordando aspectos relacionados
ao estabelecimento de limites, resgate da autoridade dos pais e
cuidadores, ritmo com disciplina e reconhecimento dos direitos
básicos. Além de estimular a reflexão acerca das necessidades
para o crescimento e o desenvolvimento saudável das crianças
e adolescentes. É dirigido aos profissionais da Atenção Básica à
Saúde e a todos os outros que lidam com essa população.
Será abordada a importância de se conhecer as fases de desenvolvimento da criança e do
adolescente, além de relações de respeito e afeto, diálogo e bons exemplos de pais, responsáveis,
profissionais e educadores. Os cuidadores desempenham um papel crucial na formação do indivíduo,
pois é a partir da construção do vínculo, do sentimento de pertencimento e do suporte de modelos
adultos positivos que ocorre o desenvolvimento.
Destaca-se a importância de vivenciar o lúdico na infância para o desenvolvimento de capaci-
dades e habilidades, e também a compreensão do período da adolescência com suas mudanças
biopsicossociais que necessitam ser compreendidas dentro de seu contexto. Assim, discute-se a
necessidade de um ambiente familiar e social que lhes propicie condições saudáveis e que inclua
estímulos positivos, equilíbrio, vínculo afetivo, momentos lúdicos, diálogo, o resgate de valores, o
incentivo ao projeto de vida, entre outros aspectos.
Alguns contornos serão traçados para a compreensão da violência familiar. Na nossa sociedade,
a família é um dos espaços onde ocorrem os fatos mais expressivos da vida das pessoas: a desco-
berta do afeto, da subjetividade, da sexualidade, experiências de vida extremamente significativas,
socialização, a formação da identidade pessoal e social, dentre outras construções emocionais.
Nesse meio realizamos o primeiro aprendizado sobre os significados dos afetos e sobre represen-
tações, opiniões, valores, esperanças e frustrações.
Geralmente, a família é o porto seguro, sendo considerada por seus membros a referência
primária e espaço de proteção e segurança. Nela, procuram refúgio sempre que ameaçados. No
entanto, há vários casos em que, no núcleo familiar, acontecem situações extremamente dolorosas,
que modificam para sempre a vida de um indivíduo, deixando marcas em sua existência. A violência
física, psicológica, sexual e a negligência, que muitas vezes é vista como forma natural de educação,
podem causar prejuízos à saúde física e emocional. Um ambiente familiar hostil e estressante
afeta seriamente não só a capacidade de aprendizagem da criança e do adolescente, como o
desenvolvimento físico, mental, social e emocional de todos.
Portanto, realizar a prevenção de todas as formas de violência e encaminhar os casos de violação
de direitos para a Rede Intersetorial para que haja uma intervenção multidimensional é um compro-
misso profissional. Tal Rede é composta por várias instituições governamentais e não-governamentais
que realizam proteção, responsabilização e atendimento às vítimas.
Espera-se que ações de prevenção e a educação de crianças e adolescentes voltada para o afeto,
o vínculo e o respeito ao próximo venha possibilitar a construção de relações mais saudáveis em
nossa sociedade.

7
A importância do desenvolvimento
saudável da criança e adolescente

Laurez Ferreira Vilela*

Toda criança precisa de cuidados desde a sua concepção. Por isso, é necessário evitar que entre
em contato com os efeitos danosos do álcool, tabaco e outras drogas, além de um ambiente livre
de brigas.
A gestante necessita realizar o pré-natal para prevenir danos a ela e ao filho. A participação do
pai no momento das consultas, no parto e nos cuidados com a criança também é importante para
fortalecer laços afetivos e de responsabilidades.
Contar com outras pessoas da comunidade e parentes nos cuidados com a criança, principalmente
em situações excepcionais ou imprevistas, permite apoio e segurança para a família.
Além destas redes informais, deve-se identificar os serviços existentes em sua comunidade como
saúde, educação, assistência social, creche, ONGs e associação de moradores, para ampliar a rede
de apoio e garantir seus direitos.
Conhecer as fases de desenvolvimento da criança, com suas características, limitações e os
cuidados em cada etapa do infante contribui para reduzir atos de violência intrafamiliar. Os adultos
muitas vezes esperam que a criança faça ou entenda alguma coisa para a qual não está prepara-
da. Outras vezes não percebem que o seu modo de se relacionar com a criança está lhe causando
algum dano. Além disso, a família deve reconhecer a necessidade da criança de vivenciar o lúdico,
a interação afetiva com seus pais ou responsáveis, vivenciar exemplos construtivos e o respeito para
que possam se desenvolver de forma saudável.

Por favor, mamãe e papai

Minhas mãos são pequenas – eu não derramo meu leite de propósito.


Minhas pernas são curtas – por favor, andem devagar, assim eu posso acompanhá-los.
Eu amo coisas brilhantes e bonitas, então tenham paciência comigo quando eu tento tocá-las.
Por favor, olhem para mim quando eu falo com vocês – eu me sinto muito bem quando
eu sei que vocês estão me ouvindo.
Eu preciso experimentar coisas novas – me ajudem a fazer erros sem me sentir estúpido.
A cama que eu faço ou o quadro que desenhei podem não ser perfeitos – só me amem por tentar.
Lembre-se, eu sou uma criança, não um adulto pequeno. Algumas vezes eu não entendo quando
vocês estão falando.
Eu os amo, me ajude a entender que vocês me amam pelo que sou.
In: Vírginia Coalition for Child
Abuse prevention Month, 1996

Ao nascermos somos totalmente dependentes e temos necessidades que precisam ser supridas
pelos nossos cuidadores, mas nem sempre há um entendimento desses cuidados da maneira mais
adequada. Quer seja pela imposição de regras rígidas, quer seja em nome da distorcida “educação
do bebê” para que não fique manhoso e dependente de colo, seus responsáveis podem acabar por
negligenciar suas necessidades de carinho, de troca de roupa e até mesmo de alimentação. Há
crenças comuns como, por exemplo, as que afirmam rigidamente existir “hora ou momento” certo
para cada atividade, sem levar em conta o choro compulsivo, o medo ou a insegurança da criança.
Assim, devemos rever esses valores distorcidos e proporcionar à criança um desenvolvimento de
acordo com as suas particularidades etárias e individuais.

* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.

8
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

CONHECENDO AS CARACTERÍSTICAS DAS FASES DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

CARACTERÍSTICAS DAS FASES DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA (0 A 11 ANOS)

 bebê depende completamente e o tempo


O  uando o bebê chora, tenha paciência e des-
Q
todo dos adultos. cubra porque ele está chorando. Veja se está
 ma das formas privilegiadas que ele tem
U com fome, sujo, se sente calor, frio ou dor. Às
Nascimento para comunicar-se é o choro. vezes, ele chora só porque quer estar perto da
até 2 anos  essa fase, o contato físico é muito impor-
N mãe, do pai ou de outro cuidador.
tante para o desenvolvimento do bebê.  ão deixe o bebê aos cuidados de outra crian-
N
 colo dá segurança ao bebê.
O ça, mesmo que seja só por alguns instantes.
 le ainda não consegue compartilhar seus
E  e um a dois anos, o bebê não entende direito o
D
brinquedos quando está brincando com que você fala, mas percebe claramente quando
outras crianças. um adulto fala afetivamente com ele.

 criança começa a manifestar sua vontade


A  vite acidentes. Procure criar um ambiente
E
e é extremamente curiosa. seguro para as crianças brincarem. Tire do
Dos 2 aos  esta fase, a exploração dos diferentes
N alcance qualquer objeto perigoso (medicamen-
3 anos espaços e dos objetos é necessária e tos, produtos de limpeza, coisas que possam
importante para o desenvolvimento do quebrar, ser engolidas, que cortem ou com
conhecimento da criança. pontas). Cubra as tomadas.
 ntretanto, é preciso que um adulto esteja
E  ambém é preciso impedir que as crianças
T
sempre junto dela para evitar acidentes. fiquem sozinhas em locais como banheiro
 criança precisa aprender o que pode e o
A molhado, perto do fogão, perto de janelas ou
que não pode fazer. Prepare-se para dizer na porta da rua.
“não” muitas vezes.  e ela está na creche, procure conhecer bem
S
 la começa a aprender a controlar seu xixi
E o local e as crecheiras e esteja presente e
e cocô e a pedir para ir ao banheiro e já interessado nas atividades da escolinha e do
pode começar o treinamento da higiene, seu filho. Mantenha esses cuidados durante
abandonando as fraldas aos poucos. toda a vida escolar.
 ntende várias coisas do que se pede a ela,
E
mas pode se recusar a entender.

 criança é muito ativa; fala sozinha;


A  xplique sempre seus motivos quando disser
E
inventa “amigos imaginários”; colabora não.
com seus pais e professores e espera a  duque seu filho por meio de brincadeiras.
E
Dos 3 aos aprovação deles. Brinque sempre com ele.
5 anos  essa fase ela está testando os limites do
N  uando sair com ele, leve algo para distraí-lo,
Q
que pode e não pode fazer. como um brinquedo.
 ostuma tocar seus genitais e fazer per-
C  esponda às perguntas sobre sexo, na medida
R
guntas sobre como nascem os bebês. em que surgem e de forma bem simples.

A s crianças começam a se relacionar em  o momento para os pais, mães e educado-


É
sociedade e podem acontecer situações res apresentarem com clareza os valores e os
de conflito na família e na escola. limites de comportamento que acham impor-
Dos 6 aos P or outro lado, a criança já é capaz de tantes, envolvendo mais responsabilidades de
11 anos escutar e entender as razões dos outros. acordo com a idade.
G ostam de se relacionar com outras crian-  sempre bom explicar a importância dos
É
ças por meio de conversas ou jogos e de estudos e da rotina.
explorar o mundo correndo e pulando.  s pais são tomados como modelos de com-
O
Cada vez mais, ela consegue repartir os portamento. As atitudes familiares dizem mais
brinquedos que as palavras.
É uma fase de muitos acidentes, brigas  ssim como se devem impor limites e chamar
A
com irmãos e também de muita bagunça. a atenção para a importância de se respeitar
J á têm consciência sobre as atitudes que os outros e as regras, também é necessário
sociedade espera de um homem e de valorizar as crianças pelo bom comportamento
uma mulher. e elogiá-las por suas conquistas.
A influência do grupo de amigos começa  importante que a criança participe das deci-
É
a ficar mais forte. sões familiares e que seus desejos e vontades
sejam levados em consideração.
 s pais devem estar de acordo sobre a edu-
O
cação do filho. Quanto mais velho, mais ele
percebe as contradições entre os pais.
Fonte: Cuidar sem violência todo mundo pode – Guia Prático para Famílias e Comunidades – Instituto Promundo.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Você sabe como deve proceder para a


criança crescer de forma saudável?

A televisão é um importante veículo de informação


e repasse de valores, mas nem sempre a programação
é adequada às crianças. É imprescindível que os pais
selecionem os programas que possam contribuir com a
formação da criança e do adolescente. No entanto, não
podemos deixar que a TV seja a única fonte de entrete-
nimento dessa faixa.
A música também é um canal de transmissão de valo-
res. Os pais devem selecionar o repertório apropriado a
cada faixa etária, debater com os filhos as músicas que
por ventura estejam ouvindo ou cantando e que tenham
cunho pejorativo, para desenvolver senso crítico e des-
cartar, por exemplo, as que possuem letras de incentivo
à violência contra a mulher.
O lúdico adequado a cada idade é crucial no desenvol-
vimento de capacidades e habilidades da pessoa humana.
Sendo o brincar a principal atividade das crianças, vão vivenciando experiências e internalizando o
funcionamento do mundo adulto. Nessa fase de aprendizado acelerado e de descobertas, é importante
se relacionar com adultos e com outras crianças.
A família deve proporcionar um ambiente seguro e
livre de acidentes para que as crianças possam explo-
rar, tocar, mexer, cantar, dançar. Além disso, os pais
devem reservar um tempo para interagir com os filhos,
brincar, estimular a leitura, contar estórias, passear,
incentivar novas atividades, elogiar suas pequenas
conquistas, monitorar as tarefas escolares. Sabemos
que, com a vida agitada no dia a dia, não sobra tempo
para essa interação, mas esses momentos lúdicos e
de atenção devem ser prioridade. Uma estratégia é
buscar atividades que a criança goste e que também
agradem ao adulto. Isso faz bem para toda a família.
A criança, por ser totalmente dependente de seus
responsáveis, fica insegura quando vê seus pais sain-
do de casa para o trabalho. Muitas vezes espera o dia
inteiro
na porta aguardando a volta do pai ou da mãe. Dessa
forma, é necessário conversar com a criança e informar
que na hora do almoço, jantar ou noite estará de volta
para que ela sinta que não foi abandonada.
Portanto, além da fantasia, a criança precisa e tem
direito de estudar, estar a salvo de todas as formas
de opressão, viver em local seguro e protetor, ou seja,
crescer em famílias onde estejam livres da violência e te-
nham os cuidados que precisam para se desenvolver.

A importância do referencial familiar

Nosso referencial tem importância na vida de nos-


sos filhos, pois existe uma tendência a repetir nossas
histórias de vida. Os pais e responsáveis, querendo ou
não, são modelos de comportamento para a criança e

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

o adolescente. O cérebro apreende mais rápido e com consistência aquilo que vê, de tal modo que
as atitudes familiares dizem mais que as palavras, o que exige uma avaliação constante de seus
atos. Assim, devemos fazer uma reflexão e verificar quais são os valores e crenças que estamos
passando para nossos filhos.
A maneira como os pais expressam e administram sentimentos torna-se um modelo que será
lembrado por seus filhos em suas vidas. As crianças absorvem tudo que os pais fazem. Assim, quando
os pais adotam comportamentos negativos sobre tudo e todos, ensinam a não ver o lado positivo.
Um padrão de agressividade na família pode ensinar crianças que esta é uma forma natural de re-
solver conflitos. O uso de substâncias químicas, álcool, fumo, auto-medicação ou comportamento
ansioso ou discriminatório pode ser uma influência danosa para os filhos.
Quando os pais buscam apoio no cônjuge, nos amigos
e na família, e em troca proporcionam apoio e afeto,
mostram o valor da gratidão e também que precisamos
dos outros. Por outro lado, quando resolvem os proble-
mas sozinhos sinalizam que somos capazes de buscar
a solução, através de forças interiores. Esses modelos
fortalecem a criança e adolescente para lidar com adver­
sidades no futuro.
O reconhecimento do que fazemos bem é uma for-
ma de motivação e satisfação pessoal. A família que
tem o hábito de elogiar as ações (tarefas domésticas
realizadas, contribuição na comunidade, escola, igre-
ja), comportamentos (generosidade, responsabilidade,
sinceridade) além de êxitos e habilidades (escolares,
esporte, artísticos, no trabalho...), possibilita fortalecer
a autoestima de seus membros e os vínculos afetivos.
A negociação que é estabelecida entre o casal, o
compartilhar tarefas domésticas, o respeito nas relações
amorosas são legados importantes para a prole, além
de modelos para os relacionamentos futuros.
Destacamos que a demonstração de afeto para com
os filhos exige atitudes. Não basta dizer “amo você”. As palavras precisam ser acompanhadas de
gestos de carinho, aceitação, afeição, apreciação e atenção ao que sentem e dizem. Crianças que
sentem que são amadas e aceitas estruturam recursos próprios indispensáveis para perseguir seus
objetivos, criar laços com outras pessoas, se defender de situações de risco, além de desenvolver
respeito por seu valor pessoal.

Você conhece os direitos da criança e do adolescente?

As crianças e adolescentes não são propriedade dos pais. São pessoas que possuem direitos e
precisam ser respeitadas de acordo com suas características e necessidades individuais. Conforme
o artigo 227 da Constituição Federal do Brasil, “É dever da família, da sociedade e do Estado asse-
gurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
cia familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.”
Art. 5° – “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discri-
minação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por
ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Um instrumento que ajuda a fazer cumprir as leis é o Conselho Tutelar. A sociedade e a família
podem recorrer a esse órgão sempre que os direitos das crianças forem desrespeitados.
Ressaltamos que ao nascer o bebê tem direito a Certidão de Nascimento. Qualquer Cartório
de Registro Civil ou hospital com esse serviço pode emiti-la gratuitamente, garantindo o direito de

11
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

cidadania, que permite o acesso aos serviços de saúde, educação e outros. Nessa fase, a criança
deve ser vacinada, conforme o calendário do Cartão da Criança, para prevenir doenças.
Portanto, é de suma importância cuidar, conhecer e educar crianças e adolescentes para que
possam impulsionar seus direitos e garantir sua proteção.

Direitos da criança e adolescente

D ireito de ser respeitado


D ireito a dar sua opinião nas decisões da família
D ireito de mudar de ideia
D ireito de escolher livremente
D ireito de viver sem medo
D ireito de não ser maltratado
Direito de sentir raiva pelas palavras que ouve
e pancadas que leva
D
 ireito de mudar sua situação
D
 ireito de pedir e receber ajuda
D
 ireito de não estar isolado e de compartilhar
seus sentimentos
D
 ireito de dizer o que pensa e sente
D
 ireito de não ser perfeito
D
 ireito de ser diferente.

Fonte: Adaptação: Cuidar sem violência todo mundo pode – Guia Prático para Famílias e Comunidades – Instituto Promundo

Concluindo, a criação dos filhos exige muito mais que alimentação e vestuário. É necessário aten-
ção, amor, proteção, monitoramento, interação com os pais, referencial construtivo, reconhecimento
e acesso aos seus direitos para o pleno desenvolvimento, nas suas diversas fases.

Referências Bibliográficas

PROMUNDO e CIESPI. Cuidar sem violência, todo mundo pode. Fortalecendo as Bases de Apoio e
Comunidades para Crianças e Adolescentes. Disponível em www.promundo.org.br.
UNICEF. Kit Família Brasileira Fortalecida. Disponível em http://www.unicef.org/brazil/pt/
resources_10178.htm.
NOLTE, D.L; HARRIS, R. As crianças aprendem o que vivenciam. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
VILELA, Laurez (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF. Se-
cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Brasília, 2008.

12
Negligência – estratégias preventivas
Ana Lucia Correa e Castro*

“Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade
ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”.
Art. 4º do Estatuto do Idoso.
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, maus-tratos, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação
ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. Artigo 5° do Estatuto da Criança e do Adolescente.
“É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal”.
Artigo 8° do Estatuto da Criança e do Adolescente

A legislação brasileira, no tocante a temas


sociais, é tida como uma das mais avançadas do
mundo. A Constituição Federal, base de todas as
demais legislações, observa no artigo 3º, nos ob-
jetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil: (I) construir uma sociedade livre, justa e
solidária; (II) garantir o desenvolvimento nacional;
(III) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
as desigualdades sociais e regionais; (IV) promo-
ver o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Fica explícita a busca de uma sociedade onde
respeito, cuidado, atenção, proteção, prevenção,
assistência das pessoas e, consequentemente, das
famílias, fazem parte de um projeto nacional. Neste
âmbito, as relações, sejam individuais ou institucio-
nais, não toleram qualquer situação que viole o paradigma acima exposto. A violência seja qual for
sua expressão, tipo ou intensidade, se constitui uma violação dos direitos do cidadão. Neste contexto
se inscreve a negligência, porta de entrada para as demais situações de violência.
No âmbito deste trabalho, entende-se negligência como a omissão de responsabilidades da fa-
mília, sociedade e/ou Estado em suprir as necessidades básicas, físicas e emocionais, em relação a
pessoas em situação de vulnerabilidade em face de idade e/ou situação permanente ou temporária
de vida.
No tocante a pessoas vulneráveis, pode-se citar crianças, adolescentes, gestantes, puérperas,
usuários com patologias graves, acometidos de transtorno mental grave, acidentados, portadores
de necessidades especiais, idosos, dentre outros.
Conforme a intensidade do dano, uma negligência pode ser enquadrada como moderada ou se-
vera. Na primeira, o fato desencadeador e as consequências não geram danos graves e não houve
intencionalidade. Na negligência severa, havendo ou não a intenção, configuram-se prejuízos físicos
e psíquicos podendo levar a sequelas graves, irreversíveis, inclusive à morte. Também se enquadra
nesta categoria família com polireincidência de denúncias ou serviço que, por omissão ou descaso,
agrave a situação da pessoa vulnerável. O dano emocional proveniente de negligência tende a causar
sequelas, uma vez que o sofrimento psíquico intenso pode desdobrar-se em quadros ansiosos, medo,
fobia, delinquência, agressividade, dificuldade na aprendizagem, diversos transtornos, inclusive de
comportamento, suicídio e outros. A negligência, familiar ou social, também pode levar à delinquên­
cia ou mesmo à criminalidade.
* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.

13
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

O processo preventivo, apesar de considerar as situações de risco, deve investir na perspectiva


das possibilidades, tendo como lócus principal a comunidade, onde famílias sejam escutadas na
busca de soluções e participem da promoção e desenvolvimento local. Instituir ambiente social
e doméstico que proporcione condições de segurança física e emocional, cidadania, aceitação,
autoestima, autonomia, cuidado, atenção, aconchego e demais construções que atendam, pelo
menos, a necessidades básicas do ser humano, é um desafio que merece ser enfrentado.
Ao se deparar com situação negligente, o profissional precisa estar atento para intervir em situa-
ções aparentemente simples, mas que trazem no bojo um olhar de pouca atenção às necessidades
para com aquele que está sob sua responsabilidade. Isto é válido para cuidadores de pessoas vulne-
ráveis que precisem de supervisão sistemática. Identificados os sinais e sintomas, evite intervir no
dano utilizando comparações de uma história de vida com a de outrem, pois causam paralisações
e resistência, dificultando mudanças. Na abordagem de negligência simples, busca-se compreender
o contexto e, junto com a família, traçar alternativas possíveis de serem implementadas. No tocante
à negligência severa ou grave, após a notificação, inserir os responsáveis em programa/atividade
direcionado a mudanças na relação doméstica. O prognóstico da vítima pode ser bem reservado,
dependendo do comprometimento emocional e/ou físico. É preciso acreditar que, em algum patamar,
a intervenção técnica pode chegar à mudança de trajetória, não só para a situação vigente, como
também para prevenir nas gerações vindouras.

Formas de negligência

N
 o campo da Saúde: vacinas em atraso, doenças crônicas não tratadas ou com acompa-
nhamento irregular, descaso ou longos períodos sem atendimento médico, padrão de cres-
cimento deficiente, obesidade por falta de atenção, perdas constantes do cartão de saúde,
desnutrição, descaso no tratamento dentário, não se engajar no pré natal, privação de me-
dicamentos, responsáveis não realizam conduta protetiva; não acompanhamento adequado,
sendo levado apenas a serviços de emergência, acidentes repetiti-
vos, agravo passível de prevenção, danos na pele sem tratamento,
por uso de fraldas ou imobilização na cama, etc.
Na área de Educação: excesso de faltas escolares, criança/adoles-
cente fora da escola, não acompanhamento no andamento escolar,
hiper ou hipo-atividade sem cuidado, não matricular no período per-
tinente, etc.
Desleixo da família: criança com a aparência descuidada e suja,
fezes e urina pela casa, ambiente físico muito sujo ou lixo ao redor
deste, recusa de acolhimento ou expulsão de crianças/adolescen-
tes/idosos bem como a não busca para localizar a pessoa evadi-
da, a ausência de documentos, vestuário incompatível com o clima,
ausência de rotinas domésticas, roupas, alimentação ou outro indi-
cador que traduza tratamento desigual entre os filhos ou mesmo privilegiando os pais, anuên-
cia aos menores para o uso de álcool ou drogas, não acesso aos direitos de filiação, convivência
familiar, etc.
A
 usência de supervisão dos responsáveis: crianças pequenas sozinhas em casa ou constante-
mente fora de casa, em festas populares, em casa de vizinhos, nas ruas, em abandono, sem
cinto de segurança, vestimentas e alimentação ina-
dequadas, pedintes nas ruas. Crianças, adolescentes
e idosos são muitas vezes deixados sozinhos por di-
versos dias ou mesmo por muitas horas, chegando a
perecer em consequência de acidentes domésticos,
inanição e desidratação; não colocar limites; gravidez
precoce; prostituição e indiferença.
A
 cidentes previsíveis como:
q
 uedas da cama, berço, janelas, escadas, banheiras,
carro, na casa face a tapetes, pisos escorregadios;

14
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

a
 sfixias por objetos pequenos, brinquedos, travesseiros, fios de telefone, saco plástico, peda-
ços grandes de alimentos, cordão de chupeta e outros;
intoxicações por medicamentos, material de limpeza, veneno de rato, cosméticos, bebida
alcoólica, dentre outros;
q ueimaduras no forno quente, tomada, ferro de passar, velas, fósforos, panelas, líquidos
quentes, álcool e exposição excessiva ao sol;
a tropelamentos e afogamentos em piscinas, lagos, praias, banheiras, baldes e vasos sanitá-
rios, crianças na garupa de motocicletas ou andando no banco da frente de um carro;
O utras formas: conviver com violência a outros familiares, a permissividade, privação de con-
tatos sociais, inclusive ao lazer, mãe que protege o marido em detrimento dos filhos, substi-
tuição do afeto e proteção por bens de consumo, cuidados por terceiros às vezes desconhe-
cidos para os pais, profissional não realizar a notificação e encaminhamentos pertinentes,
assistir situação de violência sem buscar socorro, uso de drogas na gravidez.

Fatores causais
A pesar de ocorrer em todas as classes, a inadequada distribuição de renda e desigualdades
sociais gera desemprego, exclusão social e moral, e dificuldades sócioeconômicas da po-
pulação desdobrando na pobreza excessiva. Somando-se a este contexto, o pouco acesso a
informações interfere no padrão de higiene, cuidado com o ambiente e o corpo, nas escolhas
no manejo da alimentação, aumentando a situação de risco para a negligência.
D ificuldade de acesso ao registro civil, comum no interior do País.
P ouco investimento em estruturas sociais como creches, escolas com qualidade, espaço para
o contra-turno escolar, crianças abandonadas, fome, população de rua e similares.
P olíticas públicas inexistentes ou inadequadas, como valor reduzido dos programas de com-
plementação de renda, o parco ou nenhum monitoramento profissional de casos sob respon-
sabilidade técnica e ausência de intersetorialidade.
V alores, crenças e atitudes culturais e sociais da família sobre o cuidado infantil, atitudes coer­
civas de manejo de conflitos e que justifiquem e naturalizem o comportamento negligente;
Modelo transgeracional, isto é, conteúdos repassados pelos ascendentes, ex: mãe – incapaci-
dade de modelo maternal por ter sido negligênciada por sua mãe.
F
 alta de recursos financeiros e oportunidades de trabalho.

Características da família em situação de risco


H istória de negligência quando criança;
F amiliar ou cuidador dependente químico cria ambiente desprotegido propiciador a diversas
violências, inclusive abuso sexual;
P resença de grave desorganização de emocional no espaço do cuidado;
E spaço doméstico extremamente sujo, produtos de limpeza e medicamentos acessíveis à
criança, sem porta no banheiro e/ou quarto do casal sem delimitação;
G enitor(a) portador (a) de doença mental severa ou inteligência diminuída;
P assividade familiar demonstrando pouca ou nenhuma preocupação com a situação da crian-
ça/adolescente, principalmente se apresentam dificuldade no controle do comportamento;
G enitor(a) com baixa autoestima, severo desleixo com a higiene e aparência pessoal;
P aternidade oriunda da falta de planejamento familiar, gravidez precoce com filhos indesejados;
Apatia, desesperança, impulsividade, estresse, depressão, autoritarismo dos pais, bem como
rejeição, descuido, desproteção, indiferença, desafeto;
P
 apéis deficitários ou invertidos na família. Por exemplo, quando crianças são cuidadas por
menores não existe experiência acumulada para que o cuidado possa ocorrer;
P
 ouca ou nenhuma valorização, expressão de carinho e atenção ao idoso, ao jovem e ao in-
fante, inclusive quando é alvo de comentários depreciativos, frieza e distanciamento. Recusa
em segurar o bebê, alimentar, amamentar, repulsa pelas secreções e excrementos;

15
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

P atologia/situação crônica em membros familiares que exija atenção cuidadosa e sistemá-


tica;
I solamento da família, pois não possibilita trocas e novas perspectivas;
Dificuldades da família em utilizar a rede informal e as instituições de sua comunidade;
P
 role extensa e famílias monoparentais que sobrecarrega o responsável;
D
 escaso em estabelecer limites e disciplina;
T
 roca constante de parceiros expondo as crianças a valores às vezes antagônicos, como tam-
bém a situações de risco para abuso sexual;
D
 esconhecimento dos pais quanto às necessidades infantis e os diferentes estágios de desen-
volvimento da criança, bem como habilidades insuficientes no manejo parental.

Características de pessoas sob negligência


C rianças com crescimento inadequado para sua idade;
C omportamento depressivo, infantilizado, apático, submisso, agressivo, destrutivo, delin-
quente, apreensivo, medo principalmente quando estão com os cuidadores/responsáveis;
Expressões de grave insegurança emocional, de culpabilização, de dificuldade de auto aceita-
ção ou autoestima, pouco valor de si, coloca outros como prioritários às suas necessidades;
P
 ouco ou nenhum toque dos familiares com a pessoa vulnerável;
V
 erbalização de autoextermínio, atitudes masoquistas.

Mecanismos de proteção
As principais ferramentas protetoras são a informação e o acesso. O local mais importante é
a comunidade.
I nstituir programa que permita o acompanhamento sistemático de famílias que desejem
aprendizado nesta temática, bem como famílias em situação de vulnerabilidade social;
M ontar Grupos de Instrumentalização de Pais – GIP, no mínimo um em cada Regional
de Saúde;
A mpliar conhecimento das fases do desenvolvimento infanto-juvenil e os cuidados com
crianças;
C ompreender a velhice com suas possibilidades e limites;
C ompreender os cuidados importantes na gestação e a realização do pré-natal;
G arantir um pré-natal de qualidade;
A limentação adequada para as fases de vida;
P ortadores de necessidades especiais precisam de cuidados específicos. Uma ótima alter-
nativa é buscar grupos por especificidades;
N o atendimento puerperal e perinatal, observar sinais de depressão pós-parto, expressões
pejorativas, distanciamento ou repulsa do bebê, irritabilidade, apatia, distanciamento ou
rejeição na amamentação para atendimento específico e sistemático monitoramento;
E stimular o aconchego, toque como shantala, colo, canções infantis, verbalizando o seu
sentimento;
R esgatar aspectos culturais, histórias dos idosos;
T rabalhar habilidades pessoais, familiares e na interlocução com a rede de apoio;
Investir na melhora da situação econômica das famílias, principalmente as numerosas, através
da profissionalização dos adultos e adolescentes e da sua capacitação para profissões com
melhor remuneração, de forma a que a família possa suprir as necessidades básicas;
C onstruir redes locais, formais e informais, conhecendo os serviços oferecidos e formas
de acesso de políticas públicas para construir cenário protetivo às pessoas nos diversos
ciclos de vida;
C onhecer instituições religiosas ou não que favoreçam o convívio saudável e apoio familiar;
I dentificar entidades sociais que tenham programas de melhora da moradia ou traçar es-
tratégias que favoreçam o mutirão para tal consecução;

16
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

P articipar de atividades comunitárias que fortaleçam a autoestima e possibilitem treinamento


no cuidado e trocas para construção de alternativas a situações desprotetoras;
I nstrumentalizar os organismos sociais – escolas, unidades de saúde, igrejas, creches...
– para a compreensão do fenômeno, enfrentamento e formas de proteção;
E stimular debates na comunidade (escola, saúde, associação de moradores...) sobre o
respeito às diferenças e aos diferentes;
D isponibilizar anticonceptivos com facilidade para possibilitar o planejamento familiar e
prevenir a gravidez indesejada;
T rabalhar projeto de vida no espaço escolar e/ou nos COSEs (Centros de Orientação Sócio
Educativa);
C apacitar para a convivência cotidiana na perspectiva da proteção integral;
G rupo de pré-natal com gestantes adolescentes preferencialmente realizados em conjunto
com o pai do bebê que possibilite trabalhar as fases da gestação, amamentação, DSTs, a
maternagem, paternagem, importância de hábitos saudáveis, estimulação, compartilhar
valores, crenças, dentre outros assuntos. Trabalhar a importância do vínculo para a criança.
Buscar ampliar a rede de apoio destas jovens. Trabalhar com a família extensa dos jovens
com ênfase naquela que irá acolher a jovem e o bebê;
G rupo de Crescimento e Desenvolvimento de Crianças nas unidades de saúde, ou similares
em outras instituições, que possibilitem a participação do pai e da mãe, principalmente
se adolescentes, para conhecer as fases das crianças, favorecer o apoio de rede ampliada,
ser espaço de trocas e monitoramento dos profissionais; acompanhar/monitorar puérperas
adolescentes com especial cuidado e atenção;
E mpoderar famílias para que construam novas formas de relações sociais e domésticas a
partir das suas habilidades, vínculos, autonomia e apoio social;
P revenção secundária e/ou terciária a partir de plano de intervenção construído em conjunto
com a família e, se necessário, com organismos sociais, identificando os atores protetivos
(pessoas e instituições) com monitoramento;
T rabalhar o enfrentamento a partir de situações cotidianas trazidas pelos comunitários,
buscando identificar qual apoio deve ser mobilizado e o paradigma para conseguirem
alcançar a qualidade de convivência desejada.
E ngajar cuidadores e familiares de idosos em capacitações que sirvam também como
espaço de trocas;
T
 rabalhar famílias no sentido de revezamento no cuidado de pessoas com pouca ou nenhu-
ma autonomia;
P ara os idosos é importante a segurança na residência evitando tapetes, móveis instáveis,
com boa iluminação no ambiente, sem material que possa interferir na circulação domés-
tica (fiações no espaço de circulação), vestuário que permita liberdade nos movimentos
e sapatos com sola de borracha que calcem facilmente e sem cadarços. Utensílios com
alcance facilitado. Barras de apoio, em especial no banheiro;
F avorecer a auto-determinação e respeito à privacidade do idoso, espaços de ajuda mútua
e atividades de lazer;
C ampanhas publicitárias que sensibilizem para o tema;
I nstrumentalizar sobre a qualidade da proteção treinando cenários de enfrentamento co-
tidiano;
U so de cinto de segurança mesmo no banco traseiro dos carros e conduções escolares;
E stimular para o controle social, onde os conselhos de saúde (gestor, regional, distrital)
atendam às demandas reais, fortalecendo o cuidado e atenção da população.

Estes são alguns olhares na complexidade que envolve a negligência. Buscou-se compreender as
Formas de Negligência, Fatores Causais, Características da Família em Situação de Risco e, por fim,
os Mecanismos de Proteção para o enfrentamento e consequente mudança do cenário atual da Negli-
gência. Muitas outras formas de prevenção podem ser produzidas a partir de trabalhos comunitários,
pois a população tem soluções que demandam escuta para captar as várias formas do cuidar.

17
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

“O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude.
Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo.
Representa uma atitude de ocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”

Leonardo Boff

Referências Bibliográficas

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de Assistência Social (CNAS). Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
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cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2008.

18
Caminhos para educar sem castigo físico

Laurez Ferreira Vilela*

Código Penal Brasileiro


(Lei nº 2.848 de 07/09/1940)
Maus-tratos
Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilân-
cia, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação
ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer
abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º – Se resulta a morte: Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º – Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)

Para se trabalhar prevenção à violência física não se pode falar à comunidade ou a alguém sobre
o tema sem ser autêntico. E, para alcançar a autenticidade, temos que acreditar realmente que o
caminho para prevenir a agressão física só é trilhado por intermédio da queda de barreiras inter-
nas – a começar por nós, ao mesmo tempo em que há o empenho na construção e ampliação do
diálogo e respeito ao próximo.
Um bom começo operacional para o referido trabalho pode ocorrer pela comunicação e discussão
nos grupos onde atuamos e no diagnóstico da violência física levantado pela Saúde e outros órgãos,
partindo das notificações da área. Juntos, certamente, encontraremos estratégias e alternativas de
solução para a prevenção, a atenção e o encaminhamento mais eficaz dessa problemática.
Educar não é uma tarefa fácil. Relacionamento e convivência é um constante aprendizado, par-
tindo do princípio de que cada indivíduo é único, o mundo é dinâmico e questões vão surgindo,
temos que buscar novas formas de orientação para crianças e adolescentes. O diálogo, a paciência,
a orientação respeitosa, a fixação de limites e regras de convivência na família, escola e comunidade
e a definição de papéis parentais ainda são alternativas viáveis.
Muitos pais e responsáveis buscam formas diversas para educar seus filhos, mas não têm conhe-
cimento ou prática de como discipliná-los sem o castigo físico. No entanto, existem aqueles que até
conhecem, mas por processo de estresse acentuado, e expectativas irreais sobre o desempenho de
seus filhos, não controlam sua raiva, descarregando a tensão com agressões físicas.
O castigo físico de crianças e adolescentes é transmitido em nossa cultura, de geração a geração,
como método pedagógico, sem considerar que essa prática é danosa e não resolve o problema.
A palmada, a surra, o beliscão, o puxão de cabelo e outros atos similares são considerados agres-
sões, além de um meio errôneo de educação, e ainda atentam contra os direitos fundamentais da
criança e do adolescente à vida, à integridade física e psicológica e à dignidade.
Será que bater em nossos filhos resolve?. Quando são castigados fisicamente tendem a repetir
o erro de forma velada, demonstrando a falta de resultado desse método e gerando um sentimento
de que não são amados. Algumas crianças fogem de casa por não tolerar a agressão daqueles que
deveriam protegê-las, ficando expostas a outras violências e ao uso de drogas. Segundo Azevedo e
Guerra (1996), o risco da utilização do castigo físico na educação dos filhos é a escalada da violência,
além do resultado não ser eficaz como método pedagógico. Hoje você bate na criança, amanhã ela
faz a mesma coisa. A reação é bater com mais força e chegar uma escalada para níveis de violência
mais elevados. Também afeta negativamente sua autoestima e ainda ensina a resolver os conflitos
com agressividade na família, escola e comunidade.

* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.

19
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

No entanto, outras crianças e adolescentes reagem de forma contrária ao sofrer castigo físico. Tor-
nam-se limitados, inseguros, medrosos e não conseguem reagir ou se defender de agressões. Assim, a
agressão física pode levar padrões de agressividade ou passividade e submissão para a vida adulta.
Devemos considerar que alguns pais, depois de disciplinarem fisicamente seus filhos, apresentam
sentimento de culpa, o que os leva a procedimentos permissivos na orientação de sua prole.
Muitas vezes, verificamos que as pessoas têm a tendência a dizer que sofreram punição corporal
na infância e que isto não lhes fez mal algum, querendo com isso significar que este tipo de ação
não causa dano. Segundo Straus (1992), a razão para que os aspectos danosos desta punição
sejam ignorados reside no fato de que muitas pessoas se negam a admitir que seus próprios pais
fizeram algo de errado e se negam também a admitir que estão fazendo algo de errado com seus
próprios filhos.

Caminhos para educar criança e adolescente sem agressão física

Consequências danosas
Fatores de Risco Caminhos para prevenir a agressão física
do castigo físico
 amílias monoparentais;
 F  gressividade ou submissão;
A  isponibilizar creches nas comunidades;
D
traumas; desilusões; iso-  patia; hiperatividade ou depres-
A  uscar apoio na rede primária: amigos e par-
B
lamento; estresse; dificul- são; tendências auto-destrutivas e entes no cuidado com a criança;
dades financeiras; pais ao isolamento;
e mães com histórico de  ossibilitar o acesso ao planejamento familiar;
P
maus-tratos na infância;  aixa autoestima; fugas de casa;
B Incentivar interação de pais e filhos através do
 ravidez indesejada; de-
G  edo dos pais; tristeza; uso de
M lazer;
pressão na gravidez; au- drogas; ideação e/ou tentativa de Incluir obrigatoriamente crianças, adolescentes
sência ou pouca mani- suicídio; problema de aprendiza- e famílias em situação de vulnerabilidade em
festação de afeto entre do; faltas frequentes à escola; programas de saúde, educação, renda mínima,
pai/mãe/filho;  ão estimular a autonomia, nem
N erradicação do trabalho infantil, cursos de edu-
 ulpar a criança pelos
C permitir elaborar normas e crité- cação profissionalizante, geração de emprego e
problemas; rios morais próprios; medo; limitar renda, microcrédito entre outros;
o comportamento, a criatividade, a  ossibilitar o acesso ao atendimento biopsicos-
P
 anatismo religioso;
F inteligência e os sentidos; social para pessoas com transtorno mental e
 ranstorno mental;
T  mbivalência de amor e ódio em
A usuários de drogas;
 so de drogas.
U relação os pais/responsáveis  apacitar profissionais de educação, saúde,
C
agressores; assistência social, esporte, cultura, segurança
 ransgressão para chamar atenção
T pública e outros para a prevenção à violência
dos pais; física;
 entimento de injustiça;
S  ortalecer as competências familiares para educar
F
 entimento de que não tem apro-
S sem agressão;
vação e nem amor dos pais;  essignificar o conceito de educação, respeito
R
 egitimar o abuso de poder dentro
L e integridade física e mental de criança e ado-
das relações familiares. lescente;
 stabelecer com a criança e adolescente limites
E
claros, coerentes e consistentes, para que saibam
o que podem ou não fazer;
 ompartilhar valores com a criança, de acordo
C
com a etapa de seu desenvolvimento, assim ela
terá parâmetros para definir entre o correto e o
errado;
 izer aos filhos o que eles devem fazer – não
D
apenas o que não devem;
 xplique suas verdadeiras razões além de mostrar
E
os riscos para eles e/ou para outras pessoas;
 steja pronto para elogiar o comportamento que
E
você gostou, bem como repreender o comporta-
mento que você não gostou;
 uando eles fazem alguma coisa errada, explique-
Q
lhes o que é e de que forma poderão consertá-la;
 esmo quando você não aprecia o comporta-
M
mento de seu filho, nunca sugira que você não
gosta dele;
 edicar um tempo do dia para ficar com eles;
D

20
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Consequências danosas
Fatores de Risco Caminhos para prevenir a agressão física
do castigo físico

 rocurar tomar as decisões junto com crianças


P
e adolescentes, explicando os porquês quando
a sugestão da criança ou adolescente não puder
ser aceita;
 er flexível, buscar acordos justos à situação;
S
 scutar e respeitar a opinião da criança e esti-
E
mular a sua autonomia;
 logiar o que elas fazem bem e, no caso de uma
E
crítica, falar sobre a ação realizada não como se
fosse um problema pessoal;
 rocurar se colocar no lugar da criança e do
P
adolescente para entender o porquê dela estar
agindo ou pensando de uma determinada forma;
 assar bons exemplos, pois a tendência é copiar
P
os atos dos pais e responsáveis;
 onhecer as possibilidades das crianças em
C
cada uma das faixas etárias e deixá-las assumir
responsabilidades segundo suas capacidades;
 stabelecer regras dentro da família:
E
 rganizar brinquedos, livros, roupas e seu
O
quarto;
 judar nas tarefas domésticas;
A
 espeitar as diferenças;
R
 espeitar os pais;
R
 espeitar os professores;
R
 espeitar os mais velhos;
R
 espeitar os irmãos;
R
 espeitar os colegas.
R

Falta de Políticas Públicas Investir em Políticas Públicas


 ducação de qualidade, Cultura, Esporte, Saúde,
E
profissionalização e geração de renda;
 arantir verba orçamentária específica para
G
prevenção da violência física;
Implementar políticas de creches, de ações
sócioeducativas;
 ealizar capacitação de multiplicadores: lide-
R
ranças comunitárias, Igrejas, profissionais de
educação, saúde segurança pública, esporte,
cultura, assistência, ONGs para prevenir as
várias formas de violência.

Ressaltamos que no início


Crianças filhas de pais que não é fácil, mas com o tempo A violência é crime
não utilizam a punição cor- crianças e adolescentes vão mesmo quando os adultos têm
poral são mais fáceis de lidar aprendendo a respeitar regras a intenção de educar a criança
e se comportam com mais e limites. Por isso é necessário e o adolescente.
tranquilidade, pois tendem paciência, firmeza e respeito
a controlar seu próprio com- nas orientações.
portamento com base no Os profissionais da Atenção Básica, após identificar situações
que sua consciência informa de risco para agressão física e outras violências, devem comparti-
ser certo ou errado, assim, lhar a situação com a equipe para traçarem estratégias de enfren-
forma seu próprio senso de tamento. É interessante intervenção de forma coletiva (ex: visita
responsabilidade. com vários membros da equipe) de forma a configurar a questão
técnica e legal, evitando ficar focalizado em um profissional.
Inserir outros profissionais da Saúde, Educação, Assistência Social

21
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

e outras instituições da Rede de Proteção e sensibilizar a família a buscar apoio na rede primária
ampliada – parentes, amigos e vizinhos – como alternativas de proteção da criança e do adolescente
e de empoderamento dos pais.
Por fim, é imprescindível desenvolver ações educativas em todos os espaços, visando desconstruir
a metodologia do castigo físico e construir uma nova forma de educação, uma cultura de respeito
aos direitos individuais de crianças e adolescentes.
É possível vislumbrar um futuro sem violência se cada um de nós contribuir para novas formas
de relações sociais.

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cretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2008.

22
Prevenção da violência sexual
na infância e na juventude
Laurez Ferreira Vilela*

De acordo com o Código Penal a violência sexual é crime e fere a dignidade sexual. Apesar
de estar prevista em Lei, ainda existe muita dificuldade em falar sobre o esse tipo de violência,
principalmente contra crianças e adolescentes. O mais grave é que não se fala, mas se permite,
seja por negação de que possa existir um ato tão cruel na sociedade, principalmente dentro da
família, seja por medo do agressor, medo de desestruturar a família e de reviver a história pessoal
de violência. Nesse emaranhado perpetua-se o sofrimento da vítima e o fortalecimento do agressor.
Por isso, é necessário falar desse problema para preveni-lo.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 pela Assembleia Geral
das Nações Unidas, define que os países signatários devem tomar “todas as medidas legislativas,
administrativas, sociais e educativas” adequadas à proteção da criança, inclusive no que se refere
à violência sexual.
Educar é a melhor maneira de prevenir. Os pais, responsáveis, profissionais de educação, saúde
e outros que lidam com essa faixa etária devem promover contextos de proteção, além de fortalecer
as competências familiares para intervir nos fatores de risco, fortalecer os mecanismos protetores
e reconhecer formas de violência sexual para evitar maiores danos.
Conforme artigo 70 do ECA – “é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos da criança e do adolescente”. Dessa forma, a família, a sociedade e os órgãos governamen-
tais e não-governamentais devem atuar na educação e na informação junto a pessoas, grupos e à
comunidade em geral.

Você sabe o que é violência sexual?

É uma situação em que a criança ou adolescente é usado para a gratificação sexual de um adulto
ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado numa relação de poder, incluindo desde carícias,
manipulação da genitália, mama ou ânus, exposição de órgãos genitais à criança, toques, masturba-
ção, sexo oral, anal e genital; quando uma pessoa tem prazer em observar a nudez de crianças ou
adolescentes, ou ainda, após sua indução, observar os comportamentos masturbatórios ou sexuali-
zados de crianças ou adolescentes; uso de linguagem erotizada, em situação inadequada; exploração
sexual; pornografia e até o ato sexual com ou sem penetração e com ou sem violência física.
Esta forma de violência resulta da falta de fronteiras entre as gerações, predomínio da cultura
adultocêntrica, coisificação da infância e adolescência e abuso do poder econômico, da força física
e/ou hierarquia.
Ressaltamos que a exploração sexual de crianças e adolescentes englobam a prostituição tradi-
cional, o tráfico para fins sexuais e o turismo sexual. Geralmente, a criança e o adolescente inseridos
na prostituição já foram abusados por algum familiar, sendo também esses os aliciadores diretos
ou coniventes com a situação. Além da família, outras pessoas lucram indiretamente com essa
prática criminosa: donos de bares próximos onde adolescentes se oferecem, os donos de motéis
que permitem sua entrada, os donos de boates que toleram ou incentivam a presença de menores,
taxistas, que às vezes fazem a intermediação, entre outros.
As causas da exploração são múltiplas: o poder do adulto, a cultura de coisificação da criança e
do adolescente, o gênero feminino como objeto sexual, o mercado ascendente para o gênero mascu-
lino, a má distribuição de renda, a miséria, desestruturação familiar, falta de acesso a uma rede de
educação de qualidade, as migrações, o desemprego, o consumo de drogas e o trabalho precoce.

* Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Criança e Adolescente, Especialista em Terapia Familiar, Pós gra-
duada em Educação Sexual.

23
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Dessa forma, faz-se necessária uma intervenção intersetorial para desconstruir os aspectos cul-
turais, atuar nas causas socioeconômicas e realizar capacitação para profissionais que lidam com
essa faixa etária e prestadores de serviços que toleram essa prática, visando uma mudança nesse
quadro.
Destacamos que a dominação sexual perversa, exercida contra crianças e adolescentes, pode
ser incestuosa ou não, heterossexual ou homossexual. Pode ocorrer em lugares fechados como
residências, consultórios,internatos, hospitais, escolas e incluem diferentes e variadas formas de
relações abusivas.
É incestuosa quando o agressor faz parte do grupo familiar (pai, mãe, avós, tios, irmãos, pa-
drasto, madrasta, cunhados, tutor, curador, preceptor ou por qualquer outro título com autoridade
sobre ela). Nesse caso, considera-se família não apenas a consanguínea, mas também as famílias
adotivas e substitutas.
De acordo com a Lei nº 11.106, de 2005, artigo 226, II “A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de duas ou mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, pai ou mãe adotivos, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
tutor, curador, preceptor, ou empregador da vítima, ou pessoa que, por qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela.”
Sabe-se que a maioria dos agressores sexuais é algum familiar e/ou amigo íntimo da família,
pessoas em quem a criança confia. A violência com frequência é cometida dentro ou perto da casa
da criança ou do agressor, sendo que a maioria não é denunciada por motivos afetivos, medo de ser
causador da discórdia familiar ou medo do agressor.
Segundo Azevedo e Guerra (1996), os abusadores sexuais podem ser situacionais quando não
há preferência sexual por crianças, mas se aproveitam de oportunidade para cometer o crime, ou
pedófilos, onde o desejo sexual é voltado somente por crianças.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Pedofilia consiste na preferência sexual por crianças,
quer se trate de meninos ou meninas. É classificada como transtorno de personalidade que atinge
a esfera psicossexual.
Pedófilos violentam um número maior de crianças, uma vez que desenvolvem estratégias eficazes
para abordar suas vítimas. Muitas vezes fazem parte do círculo de amizade da família e preferem
a companhia de crianças a conversar com adultos. Outra estratégia comumente utilizada é usar a
internet para ganhar a confiança, pois entram com perfil infantil com assuntos próprios da idade
da criança, manifestando interesses a desenhos, jogos, brinquedos e outros.
É importante destacar que a criança raramente mente que é molestada. Por isso, é preciso estar
atento aos sentimentos envolvidos no momento do relato e desenvolver estratégias para sua proteção
e responsabilização do agressor.

Conhecendo os fatores de risco para prevenir

Segundo a literatura, estima-se que no Brasil 165 crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual
por dia ou sete a cada hora (ABRAPIA, 2002).
A violência sexual ocorre em todas as classes sociais, no entanto as estatísticas indicam que
ocorrem com mais intensidade em meninas entre 07 a 14 anos, negras e pardas, das camadas po-
pulares menos favorecidas. Cabe aqui uma discussão: se de fato ela é mais frequente nessa parcela
da população ou se apenas ela apresenta maior visibilidade, sendo mais notificada e denunciada.
Meninos também são alvos de violência sexual e, às vezes, enfrentam preconceito e a acusação de
terem uma orientação homossexual.
Muitas vezes a violência contra meninos é entendida pela família e outros como sendo uma ex-
periência de iniciação sexual importante para o adolescente.
Dessa forma, a violência passa a ser negada, dificultando sua visibilidade, seu tratamento e sua
prevenção.
As mães de classe de menor poder aquisitivo, não raramente, possuem parcas condições de fa-
zer a supervisão de suas crianças, pois não contam com creches e outras redes de apoio enquanto
trabalham, em geral, os filhos maiores cuidam dos irmãos menores. Essas mulheres muitas vezes

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

têm pouca informação sobre como abordar temas relativos à sexualidade com crianças e adoles-
centes.
Algumas mulheres dependem emocionalmente ou possuem maior grau de dependência da con-
tribuição financeira do companheiro/marido. Sendo estes os maiores agressores fica difícil para
elas denunciar o abuso.
Essa omissão tem raízes na cultura, pois até pouco tempo o homem detinha o poder familiar,
mas com a luta do movimento feminista e consequente mudanças na legislação a mulher passa a ter
os mesmos direitos na família. No entanto, pela falta de informação e pelas convenções simbólicas
que norteiam sua conduta, algumas continuam tolerantes e submissas à vontade do homem.
Diante disso, é imprescindível fortalecer a mulher em seus diferentes ciclos vitais (infância, ado-
lescência, adulta, velhice), para fazer valer seus direitos, atuar como agente de mudança em casa
e na comunidade, possibilitando a ela novas formas de educar seus filhos, pautadas em valores de
igualdade, de direitos entre os sexos, companheirismo, divisão das tarefas domésticas, flexibilida-
de e negociação entre homem e mulher. E, principalmente, não aceitar o abuso com naturalidade,
denunciar o agressor para, assim, romper o ciclo da violência.
Muitos pais foram vítimas de violência sexual na infância e quando percebem que os filhos também
estão vivendo a mesma situação ficam paralisados e não sabem protegê-los, uma vez que também
não foram protegidos. É necessário ressignificar o que é proteger para os pais e responsáveis , pois
a negligência nos cuidados pode gerar o abuso sexual por familiares, vizinhos ou desconhecidos. As
crianças não podem ficar sem supervisão soltas nas ruas ou na casa de vizinhos. Algumas famílias
por falta de espaço colocam parentes ou conhecidos adultos para dormir no mesmo cômodo que
as crianças. Isso é um risco que deve ser considerado. Portanto, é imperioso que os pais ou respon-
sáveis sejam orientados a cuidar e proteger seus filhos.
Ressaltamos que a pobreza não determina a violência, mas facilita. As condições precárias de
moradia como residir em um único cômodo, compartilhar mesma cama, ausência de porta no ba-
nheiro caracterizam a falta de limite na intimidade e são fatores de risco para o abuso sexual, pois
podem promover um ambiente promíscuo.
A prevenção deve ser realizada em rede e neste caso é necessária haver uma intervenção ime-
diata da Secretaria de Estado responsável pela assistência, para solucionar o problema da moradia
e integrar a família nos programas sociais. É necessário reivindicar direitos para que eles sejam
cumpridos.
A mídia, como veículo de informação e repasse de valores, principalmente a televisiva, trata
indistintamente as faixas etárias. Temas e conteúdos restritos aos adultos, tais como cenas eróticas,
crimes, guerras, corrupção são expostos em horários frequentados por crianças. Dessa forma, as
crianças são literalmente expulsas da infância e projetadas na idade adulta.
A música também é veículo de transmissão de valores, pois repassa conhecimentos, conceitos,
valores e estimula a afetividade. No entanto, algumas são declarações de animalização, submissão,
agressão e vulgarização da condição feminina, ensinam a meninos que eles devem vê-las, tratá-las
e usá-las como meros objetos de prazer.
Sabemos que a iniciação sexual precoce das crianças pode ser incentivada através de hábitos
aparentemente inocentes como as danças eróticas, músicas com letras de cunho sexual e vestimenta
inadequada à faixa etária, o que estimula a erotização de crianças. Ressaltamos que a iniciação sexual
prematura pode conduzir a DSTs, gravidez indesejada na adolescência, aborto e outros problemas.
A educação sexual é responsabilidade da família e da escola. No entanto, na nossa cultura falar
com os filhos sobre sexualidade não é uma prática muito comum. Por isso, a escola deve buscar
estratégias para realizar a educação sexual com uma metodologia compartilhada com os pais e
responsáveis, além de orientar que ninguém tem direito de violar seu corpo e que devem recusar
toques nas partes íntimas, vagina, pênis, anus e mamas. Essa abordagem precisa ser realizada com
naturalidade, assim como orientamos a escovar os dentes. É melhor que eles procurem tirar suas
dúvidas com seus responsáveis e com profissionais qualificados do que com estranhos. É impor-
tante informar sobre prevenção de violência sexual, doenças sexualmente transmissíveis, enfatizar
o respeito ao corpo, à sexualidade do outro e a si próprio; encorajar as crianças e adolescentes a
contar sempre para alguma pessoa de sua confiança o que lhes afligem e a dizer não quando alguma
situação não lhes é favorável. Incentivar repertório musical e televisivo que possam contribuir com
sua formação e desenvolver senso crítico para descartar apelos danosos.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Considerações sobre alguns fatores de risco

A criança e o adolescente devem ser monitorados diariamente. Os pais precisam ficar atentos
ao que os filhos querem dizer por meio do olhar, gestos, comportamentos e somatizações, sempre
à procura de reconhecer na sua individualidade desejos e ansiedades. Se houver mudanças, os
adultos responsáveis devem perguntar o que está acontecendo e se aproximar ao máximo deles,
demonstrando cuidado e preocupação. A melhor forma de educar é conversar, elogiar, incentivar e
ressaltar tudo de bom que a criança e o adolescente faz.
Ressaltamos que para uma criança ou adolescente sentir-se fortalecido e começar a dizer não
a qualquer risco é necessário que tenha uma base que o sustente, tal como: sentir que é amado,
que tem valor, que pode contar com sua família e que ela se preocupa com seus sentimentos. Isso
contribuirá para sua autoestima e seu auto-cuidado.
Em uma família, é necessária a definição clara de papéis parentais para não haver confusão nos
relacionamentos. Filha assumindo posição de mulher do pai, filho na posição de marido da mãe, é
fator de risco para violência familiar.
O trabalho infantil, além de ilegal, é outro fator de risco para abuso sexual de crianças, uma vez
que não há o monitoramento de seus responsáveis, principalmente no trabalho doméstico. Famílias
carentes deixam suas filhas em casa de amigos, parentes e conhecidos com a finalidade de traba-
lhar para conseguir estudar, mas algumas não conseguem esse objetivo, e muitas vezes ainda são
vítimas de violência sexual pelos homens da casa.
Família usuária de drogas também coloca em risco seus filhos, pois o efeito da drogadição acarreta
confusão mental, comprometendo a percepção de dano e proteção. Com isso tanto pode abusar
ou permitir que outros cometam essa violência. Faz-se mister o acompanhamento psicossocial do
usuário e seus familiares em Centro Atendimento Psicossocial de Atendimento a Álcool e Drogas –
CAPS – AD e instituições similares.
A convivência diária de múltiplos parceiros dos pais pode colocar a saúde mental, física e
sexual das crianças e adolescentes em risco, uma vez que o vínculo é frágil pela rotatividade e falta
responsabilidade para com os menores.
Na adolescência há uma inquietação para melhorar o padrão de vida e muitos utilizam a pros-
tituição, inclusive por falsas promessas de ficarem ricos. É preciso informar que muitos são enga-
nados e terminam explorados no tráfico sexual sem nenhum ganho, além de engravidar, contrair
DST, sofrer violência física e sexual e traumas psicológicos. Dessa forma, é necessário promover
a qualificação profissional e a geração de renda para jovens para prevenir a exploração sexual.
Ressalta-se que podem ser relatadas si-
tuações de violência pessoal ou familiar nas
reuniões educativas. As pessoas/vítimas de-
vem ser acolhidas e informadas dos procedi-
mentos corretos e onde buscar ajuda, além de
os facilitadores se mostrarem acessíveis para
conversar individualmente quando alguém do
grupo necessitar.
Por fim, é imprescindível implementar
políticas de cultura, esporte, educação sexual,
creches e pré-escolas, além de intervenção
intersetorial para desconstruir os aspectos
culturais, relações de poder, atuar nas causas
socioeconômicas, capacitar atores sociais
multiplicadores para realizar prevenção e
assim fortalecer as competências familiares,
construir uma nova forma de educação, uma
cultura de respeito aos direitos individuais de
crianças e adolescentes.
Prevenir é dever de todos. Violência sexual é crime!
A seguir serão destacados alguns fatores Notificar ao Conselho Tutelar
de risco e seus mecanismos protetores: Denúncia anônima disque 100

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Prevenção da violência sexual de crianças e adolescente

Fatores de risco Mecanismos protetores


Negligência – falta de supervisão  ortalecer as competências familiares para o cuidado;
F
de crianças  ducar os filhos para o auto-cuidado e senso crítico para perceber
E
invasão de intimidade;
 bservar mudanças bruscas no comportamento de crianças e
O
adolescentes e realizar uma intervenção.
Falta de creches nas comunidades  eunir a comunidade para reivindicar a implementação de políticas
R
de creches na comunidade.
Referencial de violência sexual  essignificar o conceito de proteção familiar.
R
na família
Papéis parentais invertidos  efinir papéis parentais corretos pai/mãe e filhos.
D
Erotização precoce  elecionar programação da TV, repertório musical e vestimenta
S
adequadas a crianças.
Família em condições de miséria Identificar e intervir de forma integral nas situações de risco pessoal
e crianças e adolescentes mora- e social.
dores de rua
Trabalho Infantil Intervir e prevenir o trabalho infantil em todas as modalidades.
Família usuária de álcool e drogas  ossibilitar o acesso ao atendimento psicossocial para usuários de
P
drogas e seus familiares.
Pais com múltiplos parceiros Informar os riscos que os filhos correm na convivência e rotatividade
de parceiros dos pais.
Falta de fronteiras entre as gera- Resgatar valores de limites entre as gerações
ções
Machismo – abuso do poder  ormar uma nova cultura de direitos iguais entre os sexos.
F
Cultura adultocêntrica  apacitar profissionais da educação, saúde, assistência social, es-
C
porte, cultura e segurança pública e outros para difundir uma nova
cultura de respeito aos direitos dessa faixa etária.
Pobreza, miséria, Incluir obrigatoriamente crianças, adolescentes ou famílias em
desestruturação familiar, situação de vulnerabilidade em programas de educação em saúde,
desemprego e trabalho precoce renda mínima, erradicação do trabalho infantil, cursos de educação
profissionalizante, geração de emprego e renda, microcrédito, entre
outros.
Falta de acesso à educação de  esenvolver ações de prevenção na área da educação, saúde, assis-
D
base tência social, esporte, cultura e segurança pública, ONGs e outros
para população em geral.
Prostituição infantil  esenvolver uma cultura de respeito aos direitos das crianças,
D
buscar estratégias intersetoriais para intervir nas causas de dessa
problemática, realizar campanhas de prevenção a prostituição e
responsabilização de agressores e aliciadores.
Prostituição Juvenil  romover campanhas de prevenção e qualificação profissional e
P
geração de renda para jovens para prevenir a exploração sexual.
Intermediação do setor privado  ensibilizar e capacitar prestadores de serviço para prevenção: taxis-
S
no incentivo a prostituição tas, funcionários de hotéis, motéis, bares, boates e outros afins.
juvenil
Cultura da impunidade fortalece N otificar os casos de violência aos Conselhos Tutelares e Delegacias
as transgressões de Polícia;
Informar sobre a Lei de Crimes Contra a Dignidade Sexual;
D ivulgar que a violência sexual cometida por familiar ou responsável
a pena é aumentada de metade;
Informar sobre as penalidades para quem abusa ou induz a exploração
sexual e
D ivulgar na mídia a função do Conselho Tutelar e número de telefone
100 para denúncia anônima.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Falta de informação Realizar campanhas de prevenção à violência sexual


Informar sobre as penalidades para quem abusa e induz a violência
sexual;
E nsinar a criança e o adolescente a dizer NÃO;
C ontar a alguém de confiança;
P roteger seu próprio corpo;
N ão manter segredos;
C olocar limites nos relacionamentos;
O rientar a proteger de toques suas partes íntimas;
Informar as crianças sobre artimanhas de Pedófilos;
O rientar as crianças a não abrir sites desconhecidos;
N ão colocar câmeras, fotos e informações pessoais na internet;
Informar do risco de falsas promessas de emprego para adolescentes;
E ducação sexual nas escolas em parceria com a família;
E ducar e fortalecer mulheres nos diferentes ciclos para defender
seus direitos;
E ducar crianças e adolescentes sobre seus direitos;
F ortalecer a autoestima de crianças e adolescentes;
Informar sobre rede de apoio para quem sofre violência;
Informar e motivar a participação em eventos culturais e esportivos
da localidade;
M otivar o protagonismo infanto-juvenil visando impulsionar seus
direitos e garantir sua proteção;
R ealizar campanhas de prevenção a exploração sexual de crianças
e adolescentes.
Falta de Políticas Públicas Investir em Políticas Públicas
G arantir o acesso a Políticas Públicas: Trabalho, Educação, Saúde,
creche, Justiça, Habitação, Esporte, Cultura, Lazer, Políticas Sociais
e Sócio-educativas;
Garantir verba orçamentária específica para a prevenção da violência
sexual; desenvolver ações preventivas;
 ealizar capacitação de multiplicadores: lideranças comunitárias,
R
Igrejas, profissionais de educação, saúde, segurança pública, esporte,
cultura, assistência, ONGs para prevenir a violência sexual.

Sugestões de atividades para prevenção


Realizar concurso com participação de crianças e adolescentes para a produção de material de prevenção
à violência sexual
 edação
R
 artaz/ilustração
C
 older
F
 úsica
M
 eatro
T
 ímbolo de proteção
S
 alendário
C
 presentar filmes/vídeos que abordam diversos tipos de violência
A
 ormar grupo de jovens para discutir sobre: vida, medo, coragem, corpo, sexualidade, drogas, gravidez
F
precoce, DST, delinquência, suicídio e como prevenir o abuso e a exploração sexual
 presentar filmes que fortaleçam o jovem e que contenham mensagem positiva da vida, mostrando que
A
as dificuldades podem ser superadas
 iscutir as situações de risco: muitas vezes o jovem se deixa conduzir para pertencer a algum grupo e tem
D
como consequência: uso de álcool, drogas, sexo, prostituição, crimes (furto, roubo, homicídio e outros).

“Há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor, flores e frutos”
Milton Nascimento e Fernando Brant

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

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29
A prevenção do trabalho infantil e a
proteção do adolescente no trabalho
Ana Lucia Correa e Castro*

Entende-se como Trabalho Precoce “qualquer atividade produtiva no mercado formal ou informal,
que retire a criança e/ou o adolescente do convívio com a família e com outras crianças, prejudi-
cando, assim, as atividades lúdicas próprias da idade, por comprometer o seu desenvolvimento
cognitivo, físico e psíquico.” (Brasil, 2001). Agregam-se a este entendimento as atividades realizadas
no espaço doméstico, substituindo o trabalho do adulto incompatível com a condição de pessoa
em desenvolvimento.
No Brasil, é proibido o trabalho aos menores de 16 anos, sendo tolerável na condição de aprendiz
a partir dos 14 anos, respeitadas as determinações legais. Acima dos 16 anos, somente se garantidos
os direitos trabalhistas. Aos menores de 18 anos, está vetado o descrito na Lista das Piores Formas
de Trabalho Infantil, conforme Decreto 6481 de 12 de junho de 2008, onde se destaca a proibição
do trabalho doméstico bem como nos lixões, tráfico de drogas, prostituição e outros.
O Enfrentamento ao Trabalho Infantil vem assumindo relevância a partir do entendimento deste
fenômeno social e suas implicações extremamente danosas para a sociedade.
Tornar inaceitável o trabalho precoce é uma perspectiva que interfere positivamente na construção
de novos valores de relação social. Por tal, é importante sensibilizar sobre os riscos, com destaque
ao trabalho doméstico – crianças invisíveis (ANDI, 2003) e o de rua, tornando visíveis situações
graves como maus tratos, exploração e violência sexual (CEDECA EMAUS, 2002).

Crenças e Valores

Enfrentar o trabalho precoce exige um firme em-


penho para desconstruir as crenças e valores que
sustentam crianças e adolescentes no mundo do tra-
balho formal e informal, em suas diversas expressões.
A começar pelo realizado no espaço doméstico, onde
as ações executadas pelo infanto-juvenil substituem
as realizadas por adultos, ocupando o tempo que
deveria estar direcionado a atividades da infância e
desrespeitando sua peculiar condição infantil. O tra-
balho precoce provoca sequelas físicas, emocionais
e sociais, destacando-se o prejuízo educacional e
consequente manutenção do ciclo da pobreza.
Dentre as crenças distorcidas do trabalho infantil
pode-se destacar (1) o trabalho infanto-juvenil como
preventivo da marginalidade, evitar que se torne ma-
landro; (2) como forma de transmitir aos filhos o ofício
de pais; (3) as concepções historicamente instituídas
ancoradas na ideologia judaico-cristã e nos resquícios
da escravidão; (4) trabalho doméstico como “ajuda”;
(5) ser disciplinador; (6) “receita” para depressão;
(7) “o trabalho enobrece o homem”; (8) ócio leva à marginalidade “cabeça vazia, oficina do diabo”;
(9) trabalhar dignifica o homem. Diante do exposto é necessário desconstruir essas crenças equi-
vocadas, para trabalhar os danos do trabalho infanto-juvenil precoce.
Contribuir nas tarefas domésticas compatíveis a cada faixa etária é fundamental para fortalecer
o empenho do infante que gosta de ser prestativo, útil, de ajudar em ações não perigosas, pois o

* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.

30
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

êxito em pequenas tarefas (organizar seus brinquedos, pertences...) fortalece o senso de responsa-
bilidade, de solidariedade e contribui para a formação do ser humano. Estruturar hábitos e sistemas
de valores saudáveis é preventivo a uma série de situações futuras.
O entendimento do trabalho doméstico como responsabilidade do feminino vem contribuindo
para manter concepções distorcidas e alimentando o trabalho precoce e a violência de gênero. As
tarefas domésticas devem ser distribuídas entre os diferentes sexos respeitando as condições dos
infantes. Esta construção contribui para que as relações de gênero sejam mais equânimes e os fa-
miliares mais parceiros. Tudo isto e mais contribui para melhorar a convivência doméstica e mudar
concepções para novas gerações mais solidárias.

Intervenção nas situações de risco

Ao detectar trabalho infanto-juvenil nas famílias é necessário, primeiramente, compreender a


dinâmica familiar, identificar e fortalecer as competências e habilidades, para poder se alcançar
alguma mudança. Discutir juntos os danos e construir, no coletivo, alternativas de enfrentamento.
Estimular famílias à proteção e inclusão social, como identificar e utilizar redes de apoio (pessoas
na comunidade; espaços religiosos; grupo de mútua ajuda como AA, Alanon, MADA/PADA; serviços
públicos;...) que respondam às dificuldades inerentes ao cotidiano. Inserir em capacitações que
possibilitem geração de trabalho e renda na busca de condições necessárias à sobrevivência. Sair
do insulamento contribui para novas estratégias de sobrevivência onde não caiba a exploração da
mão-de-obra infantil.
Intervir nas situações com potencial de risco trabalhando com pares (mulheres e homens do lixão,
pessoas em situação de prostituição...), identificar como percebem este trabalho, quais possíveis
danos à criança/adolescente e estimular estratégias necessárias para enfrentar as situações iden-
tificadas são algumas formas para atuar neste cenário. Para tanto, é importante que se estabeleça
algum vínculo que possibilite uma cumplicidade para conversar e buscar soluções para situações que,
sem alternativas, terminam interferindo em escolhas que desembocam no trabalho precoce. Neste
contexto torna-se imprescendível trabalhar situações que envolvam o consumismo x necessidades,
geração de trabalho e renda, transgeracionalidade, programas sociais e outros.
Nos casos crônicos, resistentes e os reincidentes, a família precisa ser escutada, acompanhada
mais de perto em plano de ação intersetorial com a participação de diversos atores institucionais
– saúde, escola, assistência, conselho tutelar e outros de acordo com as variáveis que forem se
estabelecendo, possibilita maior resolutividade.

Fatores Protetores

As gangues, o tráfico, a prostituição são, muitas vezes, espa-


ços onde crianças e jovens se percebem protegidos, valorizados.
Assim, a amorosidade nas relações familiares, o referencial de
valores positivos, a interação com educadores ou pessoas sig-
nificativas para a criança/adolescente, previne a inserção em
redes de delinquência, como também a inclusão de famílias,
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social
em programas de renda mínima, erradicação do trabalho infantil,
cursos de educação profissionalizante, geração de emprego e
renda, microcrédito, entre outros.
Estabelecer limites coerentes, onde as crianças e adolescentes
tenham clareza do que pode ou não ser feito, de forma a com-
preenderem os riscos e danos, vai permitindo que seja interna-
lizada a perspectiva protetiva. Isto é, estabelecer limites e gerar
autonomia. Assim, limites é sinônimo de amorosidade.
O cuidado, os limites, o sentimento de pertencer a algo bom (família, pessoas, grupos), o engaja-
mento em grupos esportivos, lazer, educativos disponibilizados em vários horários na comunidade,
contribuem na formação de competências e habilidades, mesmo num contexto financeiramente

31
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

precário. Prepara a pessoa para ser resiliente a pressões externas que conduziriam, muitas vezes, ao
comércio de drogas e prostituição, categorizados dentre as piores formas de trabalho infanto-juvenil.
Aos atores de proteção é importante aprofundar o conceito de RESILIÊNCIA e suas variáveis.
Motivar e estabelecer projeto de vida para cada fase da existência distinguindo ações individuais
das coletivas contribui para o autoconhecimento, respeito à identidade, autoestima, sentimento
de pertença a uma coletividade e a estabelecer propósitos direcionados. Passam a construir redes
que possibilitem alcançar seus intentos. Isto contribui para prevenção de uma série de prejuízos,
inclusive o engajamento no tráfico de drogas.

Políticas Públicas na Prevenção

Faleiros e Faleiros (2008) aponta outras estratégias preventivas que passam pela educação
básica de qualidade, com acesso a creches e à pré escola, programas socioeducativos – esporte,
atividades criativas em horário inverso à escola para o desenvolvimento de competências para lidar
com o cotidiano e motivação para um contínuo processo de aprendizagem. Articulação com enti-
dades comunitárias para programas de alfabetização para crianças, jovens e adultos é sumamente
importante no enfrentamento ao trabalho infantil.
Estas estratégias exigem a preparação de profissionais para o manejo de especificidades como
crianças e adolescentes negligenciados, abandonados, condutas especiais, transtornos emocionais
e outros quadros singulares.
Levar esta temática aos Conselhos de Saúde e outros espaços de controle social possibilita o
engajamento destes atores para evitar o trabalho infantil e proteger o adolescente no trabalho.
Conhecer os cenários de vulnerabilidade e fortalecer os de proteção, para estruturar soluções mais
próximas da realidade local. Implementar parcerias com a saúde, escolas, assistência social, segu-
rança pública, igrejas, creches, sindicatos para compartilhar percepções acerca do trabalho precoce
e construir estratégias conjuntas. Em todo este coletivo, os gestores devem compreender o processo
para que possam apoiar as ações.
A rede intersetorial local deve conhecer o funcionamento e formas de acesso dos programas como
PETI, Bolsa Família, Viva Melhor (DF), Benefício da Prestação Continuada – BPC, Mais Educação,
PROJOVEM, Alfabetização e Educação Básica de jovens e adultos que possibilitem retirar do trabalho
infantil e integrar a família nos programas de proteção social.
Tornar conhecidos documentos produzidos para que algumas sugestões já pensadas possam ser
adaptadas e repensadas, no contexto local. Abaixo algumas sugestões ressaltando que os Planos
Nacionais são repensados e propostas locais são elaboradas:

P olítica Nacional de Atenção à Saúde de Crianças e Adolescentes em situação de Trabalho


Infantil que resulta a Portaria GM 777/ 2004 do Ministério da Saúde.
Trabalho infantil: diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adolescentes eco-
nomicamente ativos (2005).
P
 lano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador
Adolescente (2004).
P
 lano Nacional de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
P
 lano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Convivência Familiar e Comunitária (2006).

Adolescentes

Aos maiores de 16 anos existem estratégias para prevenir trabalhos danosos (trabalhos penosos,
insalubres e noturnos), como a inclusão digital, formação profissional, programa primeiro emprego,
treinamento de uma profissão/ocupação para entrar no mercado formal. Divulgar em espaço de
ampla circulação (escolas, rodoviárias, unidades de saúde e de assistência) uma lista dos locais onde
jovens podem se instrumentalizar para inserir no mercado formal contribui para abrir perspectivas
e possibilitar o acesso.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Motivar e implementar o protagonismo juvenil abre portas para que adolescentes utilizem seu
potencial para a construção de novas possibilidades cidadãs. No endereço eletrônico http://4pilares.
net/text-cont/costa-protagonismo.htm pode-se acessar uma série de orientações sobre este processo
educativo social. Aprender a identificar e utilizar as estruturas da rede local, construir um processo
de identidade grupal e de referências saudáveis para a estruturação de suas vidas e de suas famílias
são alguns dos ganhos desta forma de organização. Discutir a partir do conteúdo trazido por eles,
após acordos para tal trabalho grupal, possibilita que propostas significativas sejam trabalhadas.
No mais simples, pode ser um excelente momento de convivência, fundamental para estruturar a
existência.
Oficinas inserindo jovens portadores de necessidades especiais com outros da sua faixa etária
que abordem a descoberta de identidade, autoimagem, autoconhecimento, negociação familiar,
espaço lúdico, trabalhando temas como raça, etnia, classe social, consumo são outras estratégias
pertinentes à prevenção do trabalho precoce.

Estratégias de Comunicação com a população

Por ser um espaço formador de opiniões, a mídia pode ser um grande aliado no enfrentamento
do trabalho precoce. Um exemplo é o realizado pela ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da
Infância – que, através do site www.andi.org.br, tem se empenhado em subsidiar profissionais da
mídia com informações para coberturas qualificadas.
Outras estratégias são materiais de campanha para os diferentes públicos com camisas, botons,
cartazes, folders e vídeos, bem como estabelecer um kit pedagógico que permita a profissionais
a compreensão deste fenômeno com bibliografias, musicas e literatura infantil que valorizem as
raízes culturais e a não violência.
Promoção de seminários locais e centrais para sensibilizar a sociedade, permitindo a visibilidade
do fenômeno, a extensão na sua localidade e compreensão dos danos relativos ao trabalho precoce
é de suma importância. Pode ser uma ação profícua a participação de atores estratégicos como
aqueles que compõem a rede de garantia de direitos juntamente com algumas pessoas que possam
interferir na mudança do cenário local, em eventos que desestimulem o trabalho infantil e resultem
em respostas concretas.

Legislação

Diversas determinações legais, brasileiras e internacionais, vêm instituindo o arcabouço onde a


humanidade expressa a intolerância do trabalho precoce bem como apresentando propostas para o
enfrentamento desse fenômeno. A Constituição Federal de 1988, no artigo 7º inciso XXXIII, acrescido
do preceito descrito no art. 227; o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), principalmente o
descrito no art. 67 e no art. 69. O Decreto Legislativo nº 178/99 sanciona a Convenção nº 182 e
sua Recomendação 190 da OIT e o Decreto Legislativo nº 179/99, que ratifica a Convenção 138 e
sua Recomendação 146 (OIT), são outros marcos importantes. No endereço http://www.mte.gov.br/
trab_infantil/default.asp, disponibiliza legislações e outros materiais referentes ao trabalho infantil.
O Decreto nº 6.481/2008 descreve as piores formas de trabalho infantil e a Portaria Nº 88/2009
remete aos que são considerados locais e serviços perigosos ou insalubres, proibidos ao trabalho
do menor de 18 (dezoito) anos.
Concluindo, o trabalho infanto-juvenil reforça o ciclo da pobreza, pois dificulta a aprendizagem de
crianças e adolescentes, a qualificação profissional de adultos para inserção no mercado de trabalho
formal consequentemente, idosos em situação de penúria. Assim, é imprescindível intervenção in-
tersetorial para atuar nas situações de vulnerabilidade social, capacitar profissionais e comunidades
para desenvolver ações preventivas visando desconstruir as crenças e valores a respeito do trabalho
infanto-juvenil e formar uma nova concepção de infância e adolescência.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Bibliografia

BRASIL. Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adoles-
cente. Prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção ao trabalhador adolescente. Brasília:
Ministério do Trabalho e Emprego, Secretaria de Inspeção do Trabalho, 2004.
_____; MDS. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Site: http://www.mds.gov.br/progra-
mas/rede-suas/protecao-social-especial/programa-de-erradicacao-do-trabalho-infantil-peti.
_____; MINISTÉRIO DA SAÚDE. Trabalho Infantil – diretrizes a Atenção Integral à Saúde de Crianças
e Adolescentes Economicamente Ativos. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007.
_____;_____. Cadernos de Atenção Básica. Programa Saúde da Família. Caderno 5, Brasília, 2001.
CARVALHO, I.M.M. Algumas lições do Programa de Erradicação do trabalho Infantil. São Paulo em
Perspectiva, 2004.
CEDECA EMAÚS. Mosaico de Estrelas – Historias de meninas trabalhadoras infantis domesticas.
Volume II CEDECA Emaús, Belém, 2002.
ECOAR – Educação, Comunicação e Arte na Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Brasília:
OIT, 2007.
FILHO, R.C.A.; NETO, W.N.; GROF, R. Guia Metodológico para Implementação de Planos de Prevenção e
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OIT/IPEC. Coleção de boas práticas e lições aprendidas em prevenção e erradicação da exploração sexual
comercial (ESC) de meninas, meninos e adolescentes: PREVENÇÃO E RETIRO. Asunción: OIT, 2005.
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menina, programa de acção, Brasil, Paraguai, Pub OIT. 02.02.1.
PROMUNDO (coord.). Série. Trabalhando com Homens Jovens. Rio de Janeiro: Aliança H., 2002.
_____ e CIESPI. Cuidar sem violência, todo mundo pode. Fortalecendo as Bases de Apoio e Comunida-
des para Crianças e Adolescentes. Rio de Janeiro, 2003.

34
Bullying Escolar – conhecer
para enfrentar
Cléo Fante*
José Augusto Pedra**

Dentre as diversas formas em que


se apresenta a violência escolar, o
bullying vem preocupando pais e estu-
diosos em todo o mundo, por envolver
crianças em tenra idade escolar.
É conceituado como sendo um
“conjunto de atitudes agressivas, in-
tencionais e repetitivas, que ocorrem
sem motivação evidente, adotadas por
um ou mais alunos contra outro(s),
por um prolongado período de tempo,
causando dor, angústia e sofrimento,
e executadas dentro de uma relação
desigual de poder, tornando possível a
intimidação da vítima”. Trata-se de um
fenômeno encontrado em escolas pú-
blicas e privadas em todo o mundo.
Os autores de bullying, denominados “bullies”, perseguem e hostilizam suas vítimas, desferindo-
lhes uma série de maus-tratos, como apelidos pejorativos, humilhações, zoações, perseguições,
exclusões, ameaças, calúnias, difamações.
As agressões são deliberadas e cruéis, com o intuito de ferir o outro e colocá-lo em situação de
medo, constrangimento e tensão, provocando sentimentos de inferioridade, vergonha, rebaixamento
da autoestima, queda no sistema imunológico devido ao estresse mobilizado, queda nas capacidades
cognitivas, déficit no processo de socialização, além de raiva reprimida e desejo de vingança em
alguns casos. Podem ocorrer de forma verbal, moral, sexual, física, material, psicológica e virtual.
Esta última é denominada ciberbullying, decorrente da indevida utilização das diversas ferra-
mentas tecnológicas – como a Internet, os celulares, as câmeras fotográficas –, da falsa crença no
anonimato e na impunidade.
Geralmente os agressores escolhem dentre seus pares aqueles que são considerados diferentes
ou “esquisitos”. Aqueles que demonstram insegurança, passividade, submissão, ansiedade, baixa
autoestima, hipersensibilidade, dificuldade de autoafirmação e de autoexpressão, nervosismo ou
aspectos depressivos.
Timidez, retraimento, passividade, submissão, ansiedade, dificuldade de defesa, de expressão e
relacionamentos, além das diferenças de raça, religião, opção sexual, desenvolvimento acadêmico,
sotaque e maneira de ser e de se vestir parecem perfilar o retrato das vítimas.
Impossibilitadas de defesa e sem contar com a compreensão e ajuda adequada para lidarem
com o constrangimento sofrido, as vítimas aos poucos vão se retraindo, se isolando do grupo,
carregando consigo as sequelas da vitimização, podendo extrapolar ao período acadêmico, se não
houver intervenção adequada.
Essa forma de violência tem sido, ao longo do tempo, motivo de traumas e sofrimentos para
muitos, sendo ignorada pela maioria das pessoas, que acreditam tratar-se de “brincadeiras próprias
da idade”, sem, contudo, considerar os danos causados aos envolvidos.

* Pedagoga. Especialista em Bullying Escolar. Autora do programa antibullying Educar para a Paz. Consultora Educacional.
** Psicólogo.

35
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Os estudos sobre o bullying escolar tiveram início na Suécia, na década de 70, e na Noruega, na
década de 80, revelando altos índices de incidência. Aos poucos, os estudos vêm se intensificando em
diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Portugal, Reino Unido, Espanha, França, etc.
No Brasil, os estudos são recentes, datam do ano de 2000, motivo pelo qual a maioria das pessoas
desconhece o tema, sua gravidade e abrangência. Estudos pioneiros realizados pela professora Cléo
Fante, na região de São José do Rio Preto, com um grupo de dois mil estudantes de escolas públicas
e privadas mostraram o envolvimento de 49% em bullying. Desses, 22% atuavam como vítimas, 15%
como agressores e 12% como vítimas agressoras, aquelas que reproduzem a vitimização.
No município do Rio de Janeiro, um outro estudo foi realizado com um grupo de 5.875 estudan-
tes, de nove escolas públicas municipais e duas escolas particulares, revelando o envolvimento de
40,5%. Desses, 17% eram vítimas, 13% agressores e 11% vítimas agressoras.
Dados mundiais revelam que o fenômeno envolve entre 6% e 40% de crianças em idade escolar.
Revelam também que os atos bullying tendem a aumentar nos próximos anos, assim como a violência
entre os jovens e na sociedade em geral. Dados coletados pelo Cemeobes-Centro Multidisciplinar
de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar indicam o envolvimento de 45% dos estudantes
brasileiros.
As consequências do bullying são graves, pois afetam o psiquismo do indivíduo e comprometem o
processo de socialização e de aprendizagem, bem como a saúde física e emocional, especialmente
das vítimas. O isolamento a que são submetidas mobiliza uma série de sentimentos negativos, que
comprometem a estruturação da personalidade e da autoestima, além da incerteza de estarem em
um ambiente educativo seguro, onde possam se desenvolver plenamente.
Dependendo do grau de exposição às formas de ataques e da intensidade das emoções vivencia-
das, as vítimas podem mobilizar elevados índices de ansiedade e estresse, podendo vir a desenvol-
ver inúmeros transtornos comportamentais, como obsessivos, compulsivos, depressão ou doenças
psicossomáticas, como gastrite, alergias, bulimia, anorexia, dentre outras.
Em casos crônicos podem tentar ou cometer o suicídio. Em casos extremos, planejam estraté-
gias de vingança contra a instituição escolar, podendo protagonizar massacres suicidas, como os
ocorridos em Paducah, Jonesboro, Springfield, Columbine, Red Lake, Virginia Tech, nos Estados
Unidos, Carmen de Patagones, na Argentina, Tuusula, na Finlândia, Taiuva e Remanso, no Brasil,
além de outros.
Quanto aos autores, seu comportamento intimidador poderá se solidificar com o tempo, com-
prometendo as relações afetivas e sociais, além da aprendizagem de valores humanos, como a
solidariedade, a empatia, a compaixão, o respeito a si mesmo e ao outro, o que afetará as diversas
áreas de sua vida. Muitos tendem à depressão, às ideias suicidas, ao envolvimento em delinquência,
ao uso de drogas e à criminalidade. Muitos, quando adultos, cometem a violência doméstica e o
assédio moral no trabalho.
Há, ainda, que se considerar os riscos para os espectadores, podendo afetar seu desenvolvimento
sócio-moral, o que contribui para a escassez da empatia, insensibilidade aos sentimentos alheios,
insegurança pessoal, medo do futuro e deficiente desenvolvimento de valores pró-sociais, dentre
outros aspectos.
Alguns fatores propiciam o bullying, sua banalização e legitimidade. As atitudes culturais, como
o desrespeito, a intolerância, a desconsideração ao considerado “diferente”; a hierarquização nas
relações de poder estabelecidas em detrimento da fraqueza de outros; o desejo de popularidade, a
manutenção do status a qualquer preço; a reprodução do comportamento abusivo como uma dinâ-
mica psicossocial epidêmica; a falta de habilidades de defesa, a submissão, a passividade, o silêncio
e sofrimento das vítimas; a conivência e o incentivo às ações cada vez mais cruéis e desumanizantes
daqueles que a assistem; a violência doméstica, a ausência de limites, a permissividade familiar, a
falta de exemplos positivos, a influência da mídia e dos jogos virtuais; a omissão, o despreparo, a
falta de interesse e comprometimento de muitos profissionais e instituições escolares; a impunida-
de, o descaso e a falta de investimentos e políticas públicas voltadas à educação e à saúde para o
tratamento e prevenção, dentre outros.
O desconhecimento do fenômeno e a dificuldade no desenvolvimento de ações eficazes – devido
à sua complexidade e identificação – têm contribuído para a disseminação em larga escala, uma vez
que 80% das vítimas tendem a reproduzir a vitimização nos mais diversos contextos, o que agrava
ainda mais o problema.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Por isso, é urgente o desenvolvimento de programas anti-bullying, que envolvam toda a comu-
nidade escolar, em parceria com as diversas instituições e membros da sociedade. Este fenômeno
psicossocial não se enfrenta isoladamente, mas com a conscientização de toda a comunidade e com
estratégias que estimulem e propiciem aos jovens escolares o engajamento em ações de cooperação
e solidariedade, que promovam a tolerância e o respeito às diferenças.
Enfatizar a importância da vítima não silenciar seu sofrimento, mas procurar a ajuda dos pais,
dos amigos, dos professores, bem como de profissionais de saúde especializados, a fim de que seja
minimizada qualquer possibilidade de sequelas para o futuro.
Hoje é possível denunciar os casos de bullying pelo Disque 100, com a devida segurança ao
denunciante.
A prevenção começa pelo conhecimento, portanto, é imprescindível que as escolas conscientizem
seus alunos e profissionais sobre a gravidade desse tipo de comportamento, que são passíveis de
punição em Lei.

Créditos:
Cemeobes – Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar.

Contatos:
cleofante@terra.com.br
www.bullying.pro.br
www.cemeobes.com.br
cemeobes@terra.com.br

Indicações Bibliográficas

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Cam-
pinas: Verus Editora, 2005.
FANTE, Cleo & PEDRA, José Augusto. Bullying Escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed,
2008.

37
Prevenção da violência psicológica
Marcelle Passarinho*

Só é possível pensar em prevenção na


medida em que os profissionais de saúde
possam oferecer condições de acolhimen-
to e de escuta às vítimas de violência, para
tanto deverão criar espaços para ouvir, en-
tender e enfrentar a violência.
Essa escuta deverá ser atenta, sobretu-
do, para a violência psicológica, pois essa
forma apesar de frequente é muito difícil de
ser detectada, já que não deixa marcas visí-
veis. No entanto, pode levar a pessoa a sen-
tir-se desvalorizada, adoecer com facilidade
e sofrer com depressão e/ou ansiedade. As
situações de violência psicológica, quando
duram muito tempo ou, se agravadas, podem, até mesmo, levar a pessoa a provocar o suicídio.
É importante destacar que a violência psicológica não afeta somente a vítima de forma direta. Ela
atinge a todos que presenciam ou convivem com essa situação. Citamos como exemplo os filhos que
testemunham a violência psicológica entre os pais e que tendem a reproduzi-la por identificação ou
mimetismo, passando a agir de forma semelhante com irmãos, colegas de escola e, futuramente,
com as relações afetivas.
O Ministério da Saúde (2002) define violência psicológica como toda ação ou omissão que
causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. São,
portanto, todas as condutas ou ações que tenham como propósito ofender, controlar e bloquear a
autonomia de outro ser humano, seu comportamento, suas crenças e decisões.

A violência psicológica pode ocorrer por meio de:


1. Agressão Verbal (ameaças, xingamentos, gritar)
2. Ofensa verbal de forma repetida
3. Desvalorização
4. Ridicularização
5. Indiferença
6. Humilhações
7. Intimidação
8. Chantagem
9. Desqualificação
10. Proibição
11. Cobranças de comportamento
12. Discriminação
13. Exploração
14. Crítica pelo desempenho sexual
15. Não deixar a pessoa sair de casa, provocando o isolamento de amigos e familiares
(reclusão ou privação)
16. Controle econômico ou qualquer outra conduta que interfira nesse direito básico de
autodeterminação e desenvolvimento pessoal.

* Especialista em Psicologia Hospitalar.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Diante do supracitado confirmamos que dentre as modalidades de violência, a psicológica é a


mais difícil de ser identificada, até porque muitas vezes a própria vítima não a reconhece, seja por
“naturalizar” tal forma de relacionamento, seja por associar a fenômenos emocionais agravados
por: uso de álcool, perda do emprego, problemas com os filhos, sofrimento ou morte de familiares
e outras situações de crise.
Mas enfatizamos que, para algumas mulheres, as ofensas constantes e a tirania constituem
uma agressão emocional tão grave quanto as físicas, porque abalam o valor de si, a segurança e a
confiança em si mesma. Ressaltamos que um único episódio de violência física pode intensificar o
impacto e significado da violência psicológica. Para algumas mulheres, o pior não é a violência em
si, mas a tortura mental e a convivência com o medo e o terror.
Por isso, este tipo de violência deve ser analisado como um grave problema de saúde pública e,
como tal, merece espaço de discussão, ampliação de formas de prevenção e criação de políticas
públicas específicas para o seu enfrentamento.
Segundo Azevedo & Guerra (2001, p. 25), “o termo violência psicológica doméstica foi cunhado
no seio da literatura feminista como parte da luta das mulheres para tornar pública a violência
cotidianamente sofrida por elas na vida familiar privada”. De maneira geral, a violência psicológica
está sempre presente na violência física e sexual contra a mulher, principalmente quando ocorre
dentro de casa ou entre familiares, onde o agressor é um membro da família. Neste contexto ele
vai minando a autoestima da mulher, anulando ou desclassificando suas emoções, desvalorizando
suas realizações e ridicularizando-a em casa ou na rua.
Muitas mulheres acabam se enganando e fingindo que essa violência não está realmente acon-
tecendo. Faz parte dessa situação que a mulher interiorize opiniões do companheiro sobre si re-
forçando, ainda mais, sua baixa autoestima e agravando a situação. Outras não só interiorizam as
opiniões do companheiro, como absorvem desejos e vontades que a ele pertencem, anulando os
seus. Ou, ainda, se justificam e se desculpam perante o companheiro, assim como se desculpam
com as demais pessoas pelo comportamento do marido.
Além de explorar e maltratar psicologicamente as vítimas, os agressores fazem uso de seu
poder na família para controlar e manipular a percepção dos agredidos. Assim, as esposas são
persuadidas a se sentir incompetentes, frígidas, e os filhos maltratados são referidos como ruins e
incontrolados e etc. Este movimento da violência é sutil e, muitas vezes, imperceptível para ambos
– agressor e vítima – e, com frequência, a vítima tende a justificar o padrão de comportamento de
seu agressor, o que a torna, de certa forma, conivente com ele.
Também existe a violência psicológica perpetrada pela mulher ao seu companheiro, seja por re-
vide de agressões ou por já haver um modelo de desqualificação familiar. Essas ofensas têm como
objetivo atingir pontos fracos do homem, o que podem acarretar em novas agressões físicas.
Na relação marido e mulher os papéis de vítima e agressor podem alternar. Segundo Cristina
Ravazzola (2002), a responsabilidade na manutenção do padrão violento é do casal. Assim, necessita
consciência da participação de ambos como agressores para que haja mudança no relacionamento.

Contra a criança

A violência psicológica contra a criança e o adolescente é caracterizada como uma agressão


realizada por um adulto no sentido de:

R ejeitar (ele se recusa a reconhecer a importância da criança/adolescente e a legitimidade


de suas necessidades);
I solar (ele separa a criança/adolescente de experiências sociais normais, a impede de
fazer amizades e a faz acreditar que está sozinha no mundo);
A terrorizar (a criança/adolescente é atacada verbalmente, criando um clima de medo,
ameaça, fazendo-a acreditar que o mundo é hostil);
I gnorar (ele priva a criança de estimulação, reprimindo o desenvolvimento emocional e
intelectual);
C
 orromper a criança/adolescente (o adulto conduz negativamente a socialização, estimula
e reforça o seu engajamento no comportamento anti-social).

39
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Destacamos que os principais locais onde ocorre esse tipo de violência são em casa e na escola.
Uma forma de violência psicológica que ocorre exclusivamente na escola é o bullying.

Outras formas de violência psicológica

Bullying é uma palavra inglesa que significa usar o poder ou força para intimidar, excluir, implicar,
humilhar, não dar atenção, fazer pouco caso e perseguir os outros.  Fante (2005) caracteriza-o
como um “conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação
evidente, de forma velada ou explícita, adotada por um ou mais indivíduos contra outro(s),
causando-lhe dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que
magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e
infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais
são algumas das manifestações do comportamento do bullying” (p. 29).
O assédio moral, outra forma de violência psicológica, é a exposição dos trabalhadores a situações
humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no
exercício de suas funções. São mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas,
em que predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de
um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinados, desestabilizando a relação da vítima com
o ambiente de trabalho e a organização. Em geral, provocam ações humilhantes ao profissional ou
a exigência de tarefas absurdas e impossíveis de realizar com o objetivo de gerar a ridicularização
pública no ambiente de trabalho e a humilhação do profissional.
Aquele que realiza o assédio moral pode ter desejo de abuso de poder para se sentir mais forte
do que realmente é. Alguns inclusive são sádicos e provocam outras violências além da moral. Por
ser algo privado, nem sempre a vítima consegue provar judicialmente o que sofreu, principalmente
pela dificuldade de conseguir testemunhas, e por isso prefere se calar a colocar o emprego em risco.
Portanto, a violência psicológica, apesar de difícil de ser identificada, devido às sequelas invisíveis,
o agressor manipular a vítima ou por ser cultural e repetitivo na família, acarreta graves danos ao
desenvolvimento psicológico, físico, sexual e social. Podemos observar alguns desses indicadores:

Criança Mulher Idoso

Enurese noturna Tristeza, desesperança  assividade


P
Dificuldade de aprendizagem Depressão retraimento
Baixo conceito de si mesmo Baixa autoestima 
Tristeza
Insônia  oenças
D desesperança
Agressividade/muita timidez/apatia psicossomáticas Depressão
Destrutivo ou autodestrutivo Insegurança Ansiedade, agitação
Doenças psicossomáticas Distúrbio do sono  edo de falar
M
Tendência suicida Distúrbio alimentar livremente
Isolamento da criança ou adolescente  omportamento sexual
C  vita contato
E
Obesidade de alto risco físico e verbal com
Dificuldades de concentração  omportamentos
C o cuidador ou
Medo de acidentes compulsivos familiares
 entimento de culpa por não ter como cessar
S  roblemas
P Distúrbio do sono.
a violência e por sentir afeto (amor e ódio) pelo psiquiátricos.
agressor
 omportamentos delinquentes (fuga de casa,
C
uso de drogas, álcool etc.)
Problemas psiquiátricos.

Constatamos que há certa desinformação tanto em relação às formas de violência que ocorrem
no dia-a-dia, como em relação aos serviços para atendimento às vítimas. Esse desconhecimento
é maior quando se trata da violência psicológica. Parece existir uma negação de que fenômenos
como humilhação, desqualificação, críticas destrutivas, exposição a situações vexatórias, bem
como desvalorização da mulher, da criança/adolescente e do idoso constituem, de fato, formas de
violência que, muitas vezes, culminam na violência física.

40
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Para o profissional de saúde

A violência psicológica se inicia de uma forma lenta e silenciosa, que progride em intensidade
e consequências. Destacamos que o autor de violência, em suas primeiras manifestações, não
lança mão de agressões físicas, mas parte para o cerceamento da liberdade individual da vítima,
avançando para o constrangimento e humilhação.
O agressor, antes de poder ferir fisicamente, precisa baixar a autoestima da vítima de tal forma
que ela tolere as agressões. Por isso, é importante que o profissional de saúde possa ampliar seu
olhar e:

P
 ossibilitar à pessoa se identificar como vítima ou ter condições de perceber a violência
ainda em estágio inicial. Isto é, quando a violência doméstica psicológica ainda não evoluiu
para a violência física sendo, portanto, mais fácil de frear sua evolução;
P
 ossibilitar à vítima e às demais pessoas de suas relações a compreensão da violência e
dos direitos humanos, favorecendo a busca de soluções por meio de mecanismos legais e
do exercício da cidadania;
P
 restar um atendimento respeitoso, de modo a contribuir para que a vítima possa se
expressar livremente, o que propiciará a clara exposição dos fatos, tendo como consequência
o entendimento da dinâmica da violência e a maior chance de solução da situação;
V
 alorizar a pessoa e fortalecê-la;
P
 restar um atendimento humanizado;
E
 ncaminhar para os locais de referência, quando necessário e para acompanhamento
psicoterápico.

Prevenção

Destacamos que a prevenção da violência psicológica pode ser pensada como uma estratégia de
prevenção da violência de modo geral. Por ser transgeracional, uma pessoa que cresce e desenvolve-
se numa família violenta pode reproduzir um comportamento violento como forma de solução de
problemas ou simplesmente, como mais uma maneira de relacionar-se com o outro.
De acordo com o Ministério da Saúde (2002), uma política de prevenção, mesmo no nível local,
deve estar voltada para dar visibilidade ao problema, desconstruindo o conceito de que a violência
é algo que faz parte da natureza, reforçando o conceito de que a violência é cultural e por isso pode
ser eliminada da convivência social.
Pesquisas revelam que mulheres que vivenciam situações de violência de gênero procuram mais
os serviços de saúde e falam sobre as violências que sofrem, desde que se dê a elas condições de
acolhimento e de escuta. Portanto, recomenda-se que os serviços de atenção primária em saúde
criem espaços para ouvir, entender e enfrentar a violência. Tais como:

A
 companhamento em visitas domiciliares semanais, quinzenais ou mensais, conforme
necessário;
P
 alestras, sensibilização e comitês voltados a profissionais das diversas áreas de atendi-
mento e proteção à criança e ao adolescente, à mulher e ao idoso;
C
 artilhas elaboradas para orientação acerca do fenômeno e suas implicações, divididas em
duas formas: para pais e para técnicos das áreas de atendimento;
D
 istribuição dessas cartilhas/folders na comunidade;
P
 romoção do acesso a serviços adequados e apoio institucional às famílias e pessoas
vulneráveis à situação de violência;
V
 alorização da resolução não-violenta de conflitos.

41
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Formas de Prevenção

S ensibilizar sobre as formas de violência contra a criança/adolescente, mulher e idoso;


R ealizar grupos de apoio para famílias;
I nserir nos grupos de Crescimento e Desenvolvimento as temáticas da violência e acidentes,
I nserir nos demais grupos do Centro de Saúde a temática da violência (grupos de CD,
hipertensão, pré-natal, diabético, planejamento familiar, conselho de saúde...);
E stimular os pais e mães no sentido de proporcionar proteção, afeto e segurança a seus filhos;
I dentificar os fatores de risco associados à violência psicológica;
S ensibilizar para a melhora da comunicação intrafamiliar;
I ncentivo à maternagem e paternagem;
I ncentivo ao aleitamento materno;
P romover “ambientes familiares saudáveis”;
I dentificar e divulgar a Rede de Apoio da comunidade;
E stimular relações familiares mais igualitárias entre homens e mulheres.

Ressaltamos que todo o processo de prevenção não ocorre de maneira homogênea. Existem
avanços e retrocessos, êxitos e obstáculos. É importante que as equipes estejam preparadas para
lidar com estes altos e baixos, sem desanimar. Por sua complexidade, o processo de prevenção
requer um exercício de muita paciência, perseverança e, sobretudo, a colaboração e integração dos
profissionais de diferentes áreas profissionais e da comunidade.

Rede de Proteção

Fonte: Manual Violência Intrafamiliar – orientações para a prática em serviço –


Cadernos de Atenção Básica nº 8.

42
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Bibliografia

BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Secretaria
de Políticas de Saúde. Brasília, 2001 (Série Cadernos de Atenção Básica; n. 8).
____. Secretaria de Assistência à Saúde. Notificação de maus-tratos contra crianças e adolescentes pelos
profissionais um passo a mais na cidadania em saúde. Normas e Manuais Técnicos, série A, nº 167.
Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
KRONBEAUER, J.F.D.; MENEGHEL, S.N. Perfil da violência de gênero perpetrada por companheiro. São
Paulo: Revista Saúde Pública [on line], vol.39 no.5,  2005.
PASSARINHO, Marcelle. “Violência Psicológica”. In Vilela, L. – coord. Enfrentando a violência na rede
de saúde pública do Distrito Federal. Brasília: Secretaria de Estado de Saúde. 2005.
SILVA, L,L; COELHO, E.B.S & CUCURULLO DE CAPO, S.N.Violência silenciosa: violência psicológica
como condição da violência física doméstica. Interface, vol. 11 nº 21, 2007. Acessado em 10/07/2009
em http://www.scielo.br.
VILELA, Laurez F. (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF.
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Brasília, 2008.

43
Prevenção à violência na juventude
Maria Aparecida Penso*

A instabilidade social atual e o Jovem

O fenômeno da violência precisa ser compreendido


em toda a sua complexidade: como resultado de fatores
individuais, relacionais, sociais e culturais. Portanto,
qualquer explicação que ignore essa complexidade estará
fadada ao reducionismo e à simplificação. No que diz
respeito à questão de juventude e violência, temos duas
situações. Aquela em que o jovem é vítima de violência
e aquela em que ele é o autor da violência. Mas não
podemos nos esquecer de que em muitos momentos
estas duas situações se misturam e o jovem, ao mesmo
tempo que é vítima, é também o autor da violência. Ou
seja, são jovens matando jovens por motivos banais.
Estamos todos vivendo em uma cultura que possibilita
a ocorrência de comportamentos violentos entre seus
membros e agimos no sentido de manter, conservar
a violência como resposta possível aos conflitos gerados pela convivência (Zuma, 2004). É uma
sociedade instável, sem muitas oportunidades e perspectivas de futuro, onde o jovem encontra-
se desmotivado e suscetível ao envolvimento com situações de violência. Esta configuração
sociocultural incentiva as tendências agressivas, criando uma insensibilidade à violência que é
absorvida passivamente, em vez de despertar sentimentos de indignação.
A instabilidade e a falta de perspectivas de futuro geram a sensação de que os bens de consumo,
a sobrevivência financeira e até mesmo as pessoas são descartáveis. O resultado é a insegurança
generalizada, a banalização da vida e a indiferença frente à violência.

O Conceito de Juventude

Considera-se como jovem o sujeito com idade entre 15 Estes dados, dos quais
a 24 anos. Esta definição tem sido utilizada por diversos não temos porque nos or-
pesquisadores e instituições de pesquisa nas últimas duas gulhar, torna a violência na
décadas, e possivelmente no futuro próximo se configurará população jovem brasilei-
como uma nova fase no ciclo de vida da nossa população. ra um grave problema de
saúde pública. Isto signifi-
ca que todos os níveis de
Os Jovens e a Violência atenção à saúde precisam
estar atentos a esta situa-
As estatísticas sobre a mortalidade de jovens, especialmente ção e implantar programas
aqueles do sexo masculino, são alarmantes, principalmente as de prevenção e atenção,
mortes relacionadas a causas violentas (homicídios, suicídios e principalmente para jovens
acidentes de trânsito). Os homicídios nesta faixa etária estão, na que vivem em contextos de
maioria das vezes, relacionados com o uso de drogas e brigas risco social e pessoal, bem
de gangues. O IBGE divulgou recentemente um levantamento, como para suas famílias.
onde a violência urbana é apontada como responsável por 68%
das mortes de jovens, na faixa de 15 a 24 anos. Em 2004, a

* Psicóloga. Terapeuta Familiar. Doutora em Psicologia Clinica pela Universidade de Brasília e Professora do Mestrado e da Graduação
de Psicologia da Universidade Católica de Brasília.

44
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

UNESCO divulgou os dados da pesquisa “Mapa da Violência 4” em que se constatou que o Brasil
tem a quinta maior taxa de homicídio de jovens, entre os 67 países analisados. Jorge Werthein,
representante da UNESCO, aponta que os jovens são a parcela da população mais vulnerável à
violência em todo o mundo, mas considera como “absolutamente inaceitáveis” esses índices.

Fatores relacionados à Violência na Juventude e morte de Jovens

A violência na juventude está relacionada à escassez de


fatores de proteção, de recursos materiais e sociais, bem Não podemos deixar nos-
como ao local de moradia, especificamente com áreas de sos jovens morrer! Somos
grande concentração de jovens sem perspectivas de futuro, em todos responsáveis por ofe-
razão das alterações no mercado de trabalho e da estagnação recer a eles possibilidades
econômica. Isto significa que a violência nesta faixa etária diferentes. Chega de fechar
ocorre em razão da superposição de carências e da ampliação os olhos ou dizer que não
da desigualdade de direitos referentes à educação, à saúde, à temos nada a ver com este
moradia e ao trabalho. (Rodriguez e Kovács, 2005), afirmam problema. a realidade é que
que muitos adolescentes vivem em áreas marcadas pela baixa muitos jovens estão morren-
escolaridade, falta de estímulos para estudar, baixa renda, do antes de completarem
baixos índices de emprego, casas precárias, habitações com 25 anos.
vários núcleos familiares gerando tensão, sem acesso à rede de
esgotos, asfalto, iluminação e áreas de lazer, além do pouco acesso a saúde, entre outras políticas
públicas. Todos estes fatores colocam os jovens em situação de vulnerabilidade para o envolvimento
com drogas, prostituição, cometimento de atos infracionais, gravidez precoce, entre outros.
Além disso, a falta de modelos adultos consistentes e legítimos, de valores sólidos na família e
no contexto escolar também prejudica o desenvolvimento do jovem. Sem apoio na família, na escola
e no ambiente social os jovens têm dificuldades com a definição de sua identidade, facilitando o
envolvimento com situações de violência.
Levisky (2004), afirma que jovens se unem pela manifestação da violência como forma de
expressarem suas tensões, angústias e dizer que eles existem. Além disso, existe a banalização da
violência física como forma de solução de conflitos e do jovem que precisa se autoafirmar perante
os outros.
Carreteiro (2004), nos alerta para o fato de que não podemos nos esquecer que vivendo numa
cultura que estimula a competitividade e a desvalorização do ser humano, o jovem passa a acreditar
que a violência é um signo de coragem e um valor, e que o uso da palavra para resolver problemas
representa uma covardia.

Violência intrafamiliar e Juventude

Muitos jovens convivem com a violência dentro da sua própria casa, onde aqueles que deveriam
protegê-los são os seus primeiros agressores. Esta situação inicia-se quando o jovem ainda é uma
criança e se prolonga até a sua juventude. As pesquisas mostram que na maioria dos casos quem
comete a violência é o homem (pai, padrasto, tios, avós, etc). Outra informação importante é que
a violência dentro da família é dirigida a jovens de ambos os sexos, mas se manifesta de forma
diferente. No caso dos jovens do sexo masculino, a principal forma de violência ainda é física, sendo
que no caso das jovens, prevalece a violência sexual. Mas o número de jovens do sexo masculino
que são vítimas de violência sexual também é significativo e tem crescido nos últimos tempos.
No entanto, os jovens temem fazer a denúncia, pelo preconceito que terão que enfrentar, já que
culturalmente tal situação é vista como muito vergonhosa, pois significa que o homem não soube
se defender, que é fraco. Além disso, ainda existe o mito de que, por ter sido abusado, este jovem
estará fatalmente condenado a ser homossexual. É importante ressaltar que, independente do sexo,
do tipo de violência e de quem a comete, os jovens terão a tendência de repetir o comportamento
aprendido em casa em seus relacionamentos futuros, perpetuando o “ciclo da violência”. ESTA É
UMA SITUAÇÃO INACEITÁVEL E QUE PRECISA SER ENFRENTADA POR TODOS.

45
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

As Violências Sutis

Além das violências facilmente identificáveis pelas marcas deixadas no corpo, não podemos
deixar de lembrar daquelas que nos parecem invisíveis, mas que também deixam cicatrizes
profundas na vida do jovem. Entre elas podemos citar: a prostituição na adolescência, por ambos
os sexos, o tráfico de mulheres, o autoextermínio, as propostas “irrecusáveis” para trabalhos fora
do país, as agressões verbais, a desvalorização do adolescente.
Todas estas situações devem ser pensadas como violências, às quais estão submetidas grande
parte da juventude brasileira pela falta de informações, suporte familiar, social, econômico ou
emocional.

Alternativas para Prevenir a Violência entre Jovens

Precisamos pensar em diversas alternativas para modificar a situação de grande parte da nossa
população, especificamente os jovens. Estas alternativas estão relacionadas ao oferecimento de
atividades de lazer, cultura e esporte que possam influenciar no seu desenvolvimento físico e
emocional, até num melhor desempenho escolar. Partimos do pressuposto de que a ocupação do
tempo dos jovens, ao oferecer novos interesses e desenvolver
novas habilidades coletivamente construídas, pode influenciar As medidas preventivas
o seu afastamento de situações de violência, uso de drogas e custam mais barato do
criminalidade. Segundo Mizne, diretor executivo do Instituto que as repressivas, como
“Sou da Paz”, além de desarmar a população, é preciso a internação de jovens em
“desarmar o espírito” e buscar novas formas de educação na unidades socioeducativas
família, na escola e na sociedade que provoquem a inclusão ou os gastos com acidentes
dos jovens no contexto sócio-familiar. Para isso, é importante a de trânsito e armas de fogo,
integração de diferentes instituições responsáveis pelo jovem são possíveis de ser realiza-
como serviços de saúde, escola, instituições de assistência das nos diferentes espaços
social e família, possibilitando o resgate de valores e de de convivência do jovem:
respeito ao próximo. escola, saúde, grupos de
Tendo como base as colocações sobre o tema, enumera- jovens, entre outros.
mos a seguir algumas sugestões práticas para a prevenção
à violência.

1–E
 laboração de políticas públicas de inclusão social, a partir de projetos de vida sólidos,
geradores de segurança e confiança dos jovens na sua capacidade de construir o seu
futuro.
2–M
 anutenção de atividades esportivas, de recreação e culturais para os jovens nos finais
de semana.
3 – Implantação de políticas de emprego, como a contratação de jovens monitores nos
programas culturais e esportivos dentro do projeto Primeiro Emprego.
4–C
 riação de programas e atividades que ajudem a preservar os vínculos afetivos e a
transmissão de valores éticos por pais e educadores, como atividades de lazer e culturais
na comunidade. As atividades ligadas às artes, como teatro, construção de textos,
redações, pequenas obras como revistas, jornais, desenhos, pinturas, quadros etc., e aos
esportes podem dar um sentido melhor à vida dos jovens e oferecer uma percepção maior
da realidade em que vivem.
5 – Implantação de programas de orientação a pais e familiares sobre a importância do
estabelecimento de limites para os jovens, que lhes protejam dos perigos e do contato
com a violência.
6 – Incentivo ao diálogo entre jovens e responsáveis, para que estes últimos possam agir
como mediadores a respeito de informações que os adolescentes recebem, por exemplo,

46
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

pela mídia, mostrando quais são suas opiniões e seus valores em relação a determinados
assuntos como, por exemplo: prostituição na adolescência; propostas para trabalho no
exterior; suicídio; prevenção às DSTs; respeito consigo mesmo, no que diz respeito à
sexualidade.
7–D
 iscussão com os jovens sobre os índices e fatores que estão contribuindo para a violência
em sua faixa etária e juntos buscar alternativas de prevenção.
8–C
 riação de espaços de conversação com os jovens sobre comportamentos de risco e
formas de auto-proteção, levando-os a assumirem a posição de protagonistas críticos da
sua própria vida.

Referências Bibliográficas

GUARESCHI, N. M. de F.; OLIVEIRA, F. P.; GIANNECHINI, L. G.; COMUNELLO, L. N. NARDINI, M. &


PACHECO, M. L. Pobreza, violência e trabalho: a produção de sentidos de meninos e meninas de uma
favela. Estudos de Psicologia, 2003.
MINAIYO, M. C. A complexidade das relações entre drogas, álcool e violência. Rio de Janeiro: Cadernos
de Saúde Pública, jan-mar, 1998.
PENSO, M. A.; Envolvimento em atos infracionais e com drogas como possibilidades para lidar com o
papel de filho parental. São Paulo: Revista Psicologia USP, 2005.
PENSO, M. A.; RAMOS, M. E. C.; GUSMÃO, M. M. “O pai de botas – Violência intrafamiliar sofrida
por adolescentes envolvidos em atos infracionais e com drogas”. In: COSTA, Liana Fortunato; AL-
MEIDA, Tânia Mara Campos de (Org.). Violência no cotidiano: do risco à proteção. Brasília: Liber
Livro/Universa, 2005.
PENSO, M. A.; RAMOS, M. E. C.; GUSMÃO, M. M. “A violência na família: reflexo da exclusão social”.
In: RIBEIRO, Maria Alexina; COSTA, Liana Fortunato (Org.). Família e problemas da contemporaneidade.
Brasília: Universa, 2004.
RODRIGUEZ, C. F. & KOVÁCS, M. J. O que os jovens têm a dizer sobre as altas taxas de mortalidade na
adolescência? Imaginário vol. 11, no. 11,São Paulo, Dec. 2005.
ZUMA, C. E. A visão sistêmica e a metáfora de rede social no trabalho de prevenção de violência intrafa-
miliar em comunidades. Nova Perspectiva Sistêmica, ano XIII, n. 23, 2004.

47
Aprendendo a conviver para
prevenir a violência
Vanessa Canabarro Dios*

A discussão sobre prevenção à violência não


pode ocorrer sem que sejam abordados temas
como saúde e educação. Pensar em saúde e
em educação é investir na qualidade de vida, é
ter acesso à informação, é sentir-se inserido e
respeitado num grupo, é sentir-se amado e im-
portante para as pessoas, é compreender que
o aprendizado e a saúde são um direito e que,
principalmente, somos protagonistas na cons-
trução desses espaços. Entender que a violên-
cia está relacionada com aspectos do nosso dia
a dia e, principalmente, nos percebermos como
fazendo parte desse contexto é fundamental.
Todos temos uma parcela de responsabili-
dade, e portanto, temos algo a fazer no sentido
de promover relações e contextos não violentos.
A construção dessas novas relações necessita
de sujeitos ativos e implicados para a discus-
são e reflexão sobre a paz, tanto em relações
micropolíticas, quanto macro.
Além disso, a prevenção à violência precisa
ser entendida e tratada dentro de sua complexi-
dade, sendo reconhecida como objeto de refle-
xão, estudo e ação de todas as áreas de conhe-
cimento. É necessário, portanto, que sejamos
humildes para reconhecer que precisamos do
outro para enfrentá-la, precisamos formar redes multiprofissionais que de fato funcionem, precisa-
mos de todas as especialidades, pois nenhum grupo pode assumir controle total sobre um assunto
tão relevante e importante e que tráz tão graves e sérias consequências.
Precisamos, ainda, de políticas públicas e, também, do investimento privado, necessitamos das
famílias e da comunidade, das crianças, dos adolescentes, das mulheres e dos jovens e a partir
desse compromisso repensarmos nossa forma de estar no mundo, de conviver com o outro, de nos
relacionarmos com as coisas e com as pessoas.
A violência nos obriga a pensar nas relações, pois para enfrentá-la é necessário que promovamos
um encontro com o outro, que reconheçamos a importância de um outro olhar. Portanto, significa
investir nas nossas relações não violentas, de valorização e qualificação do outro, significa fugir do
isolamento.
A violência sempre existiu como forma de resolução de conflitos entre as pessoas, entre grupos
e entre nações. Não é fácil acabar com ela, pois expressa sentimentos humanos que, se negados,
seriam como se negássemos nossa própria essência. Entretanto, podemos aprender a lidar com
nossas emoções para que elas possam ser expressas de maneira não violentas. Apesar de sermos
em princípio contra as guerras e a favor da cultura da paz, nos envolvemos em pequenas lutas no
nosso dia a dia. Luta quando o filho desobedece ou vai mal na escola, quando nosso companheiro
não concorda com tudo, quando estamos apressados no trânsito, no trabalho.

* Psicóloga do Programa Violeta da Secretaria de Saúde do DF, mestre em psicologia clínica pela UnB, terapeuta de família.

48
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

A abordagem à violência requer estratégias que modifiquem o padrão de relacionamento entre


as pessoas. A forma como interpretamos as situações, a leitura que fazemos dos fatos determinam
se a nossa reação será violenta ou não, se será abusiva ou não. Os conflitos necessariamente fazem
parte da vida social, mas a dimensão que eles ocupam depende do sentido dado pelas pessoas
envolvidas. Buscamos fortalecer relações amorosas, mesmo em contextos violentos, mesmo em
situações abusivas. Relações amorosas impõem limites claros, respeito e reconhecimento do outro
como parte importante da relação. A valorização do outro é fundamental para que as relações não
se transformem em violentas. Se eu desqualifico o outro, eu estou sendo violento com ele. Mesmo
em relações de desigualdade de poder, podemos reconhecer o valor do outro. Uma criança possui
inúmeros atributos que a fazem ser especial e o adulto precisa reconhecer isso, reconhecer o
espaço da criança e do adolescente naquela relação. Desqualificar isso é ser extremamente violento
com o outro. Portanto, o sentido atribuído aos fatos é fundamental para que possamos entender
as pessoas e suas fragilidades, mas também suas responsabilidades perante as suas atitudes.
Trabalhar com relações violentas significa investir na modificação das relações interpessoais a fim
de que todas as partes se sintam representadas, reconhecidas, ouvidas. Significa dar força para
aquela parte que está “desempoderada”. Significa dar reconhecimento para o sofrimento do outro
que se sentiu violado, exposto, ferido e ao mesmo tempo provocar a reflexão para a parte que
foi a autora da violência. É um trabalho difícil, mas não impossível. É desafiador porque lidamos
com pessoas, cujas relações são permeadas por sentimentos, emoções, histórias de vida, crenças,
valores que muitas vezes não são compartilhados. É comum que nem a própria pessoa saiba
nomear o que está sentindo ou quais emoções foram suscitadas naquele momento.
Somos analfabetos quando falamos sobre sentimentos e emoções e como não conseguimos
nos entender agimos pela impulsividade, agimos sem saber por que estamos agindo, agimos
sem entender o sentido da nossa ação. Os resultados? Não poderiam ser piores. Desqualificação,
agressão, violência. Em geral somos violentos quando sentimos que estamos perdendo o controle
da situação, quando não temos mais recursos, quando não vemos outra saída. Como não nos
conhecemos e não sabemos de fato o que estamos sentindo, fica difícil agir de outra forma. Às
vezes, bastaria dizer: “eu estou muito triste e magoado (a), eu sou tua mãe (pai) e te amo muito e
não aceito que você fale comigo desse jeito”.

Vamo-nos conhecer?

Por isso, o primeiro convite que faço a você é: vamo-nos conhecer? Vamos saber o que sentimos e
reconhecer nossas emoções? Acho que esse é o primeiro passo. Diante de uma situação de conflito
a primeira coisa a pensar é no que eu estou sentindo agora. O que essa relação está trazendo
para mim? Que sentimentos são esses? São positivos, negativos, me faz sentir-me bem ou mal?
Ninguém tem o direito de nos maltratar, portanto quando sentimos que o outro tem razão em nos
desqualificar, quando achamos que nós não somos bons o suficiente, quando achamos que uma
vida sofrida e triste é o que de melhor possa nos acontecer é porque há algo de errado acontecendo.
Se sentirmos algum incômodo, se algo não está indo bem, nesse momento é importante colocarmos
o nosso limite: “eu não aceito ser tratado assim, eu não mereço isso”. Às vezes, colocar limites é
simplesmente pedir ajuda para alguém e falar sobre o que você está sentindo. Tenho aprendido que
todas as vezes que falamos dos nossos sentimentos para alguém somos bem recebidos, as pessoas
se emocionam conosco e somos ouvidos e ajudados. Acredite, há muita gente para ajudar quem
está sofrendo e viver sofrendo não é natural.

Confiança: precisamos do outro

O segundo convite que faço a você é: compartilhe o que está sentido com alguém que possa
te ajudar. E lembre-se de que sempre tem alguém que pode ajudar, seja um professor, alguém da
família, um colega, um amigo etc. Relações violentas fazem mal para a gente, se não nos cuidarmos,
adoecemos. Podemos adoecer fisicamente ou emocionalmente, quando deixamos de acreditar em
nós mesmos, quando ficamos nos sentindo para baixo ou quando começamos a nos sentir diferente

49
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

de todas as pessoas, incompreendidos, sozinhos, amargurados. Portanto, confie em alguém e


peça ajuda.

Seja diferente, aja diferente: violência não se combate com violência

Procure entender a situação do outro para que você também não aja de forma violenta. Às vezes,
quando estamos envolvidos em situações de violência, temos a tendência de sermos agressivos
também nas nossas relações. Dessa forma, cria-se uma cadeia em que a violência de um obtém
como resposta a violência do outro, a agressividade é respondida com agressividade, a briga é
respondida com a briga. Se ele me bateu, eu tenho de bater também. Para entendermos melhor
o outro, temos de treinar a vê-lo de uma maneira diferente e apresentar respostas diferentes para
conflitos antigos. Qual atitude eu posso ter diante da violência do outro? Um caminho possível e
comum, porém pouco efetivo, é responder na mesma moeda. Uma forma alternativa, inteligente e
diferente seria responder utilizando outras estratégias, como o diálogo e a negociação. Essas coisas
podem e devem ser aprendidas. Saber conversar, respeitar o outro e negociar uma situação é um
princípio básico de sobrevivência e saúde. Todos deveriam ser formados nisso, mas infelizmente
as coisas não são ainda assim. Nós podemos começar a mudar ao entender que nas relações
pessoais se um perde os dois perdem, ou seja, o conflito de um se espalha e contagia o outro que
está próximo. Então, se eu invisto na destruição do outro, na verdade estou investindo na minha
própria destruição. Em guerras, não temos ganhadores e perdedores, pois na guerra todos perdem,
até aquele que ganha.
Da mesma forma, a alegria, o bem-estar, a saúde do outro também nos atinge. Portanto, eu
tenho de lutar para que o outro fique bem, pois assim eu ficarei bem também. Então, atitudes de
valorização do outro, respeito, consideração, cooperação, solidariedade vão-nos fazer viver mais
felizes. Aproveitando esses recursos poderemos estabelecer nossos limites. Esse é um grande
passo contra a violência, e o melhor, está ao nosso alcance.

Somos sujeitos em contato com o outro: vamos aprender a conviver?

Somos seres que vivem em contato permanente com o outro. Nossa identidade é formada, tam-
bém, pelas relações que estabelecemos com as pessoas. Aprendemos ao longo da vida se somos
inteligentes, espertos, bons ou maus. Esse aprendizado inicia-se muito cedo, quando os pais come-
çam a imaginar como serão os seus filhos. De-
pois, quando os filhos nascem as expectativas
são tão grandes e diversas, e as crianças vão
aprendendo o que são quando ouvem: “como
esse menino é inteligente, olha o que ele apren-
deu hoje” “Como ela é amorosa” “Como ela é
esperta” etc. As crianças aprendem muito rá-
pido e cedo, por isso temos de tomar cuidado
com o que falamos perto delas. Se pensarmos
que ela é preguiçosa, ela vai aprender a se com-
portar dessa forma. E assim, o que pensamos
vai se confirmando à medida que a criança e
o adolescente correspondem à expectativa da
família. A identidade, nesse sentido, é co-cons-
truída, pois a partir das nossas relações sociais
e do contato com o outro vamos internalizando
emoções, comportamentos, atitudes.
Portanto, diante de atitudes violentas,
seja amoroso; diante de animosidades, seja
amigo; diante da injustiça, seja justo; diante da
descrença, tenha esperança. Procure agir da

50
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

maneira mais positiva possível, pois para muitas pessoas o início de uma boa relação depende
apenas de um pequeno sinal, e você pode dar esse primeiro passo. Não espere do outro, faça você
mesmo esse investimento para a criação de relações harmoniosas e saudáveis. Essas mudanças
podem começar dentro da própria família, faça isso com seus irmãos, seus pais, seus filhos. Depois
amplie com os amigos, colegas de escola, professores etc. Busque ter como meta a valorização do
outro, reconhecendo seus aspectos positivos.
É claro que as pessoas não são perfeitas e que todos nós temos coisas boas e coisas não tão
boas, mas o convite aqui é para que as coisas positivas possam ser ressaltadas e mais valorizadas,
dessa forma todos saem ganhando. Além disso, estamos investindo na autoestima, na auto-
confiança, na auto-valorização. Quando for preciso falar de algo que não gostamos é fundamental
que consigamos separar a pessoa do seu comportamento.
A pessoa é muito maior do que sua atitude, ou seja, existem muitas outras coisas além daquele
comportamento de que não gostamos. Esse olhar pode contribuir para o diálogo e o encontro com
o outro a partir do momento em que favorece a compreensão de que eu não me relaciono com o
comportamento do qual não gosto, mas sim com uma pessoa, cujas características extrapolam as
ações que nos magoaram.
A transformação das relações é algo que pode ser aprendido a partir do reconhecimento das
competências de cada um, a partir da valorização do outro, e a partir de um desejo nosso de tentar
fazer diferente. Com isso, estamos ensinando e aprendendo a conviver e, finalmente, construindo
a paz.

Referências Bibliográficas

DIOS, V. e LINHARES, A. “Programa de atendimento ao adolescente vivendo uma situação especial


de violência”. In VILELA, L. coord. (2005) Enfrentando a violência na rede de saúde pública do Distrito
Federal. Brasília: Secretaria de Estado de Saúde.
ORTEGA, R. & Del Rey, R. Estratégias para a prevenção da violência. UNESCO do Brasil,
Brasília, DF (2002).

51
Grupo de Instrumentalização de Pais – GIP
Uelma Araújo Azevedo*

O PAV – Programa de Prevenção de Acidentes


e Violências – da Regional de Taguatinga
vem desenvolvendo suas ações basicamente
pautadas no acolhimento e escuta da família,
além da inclusão das vítimas nas rotinas de
atendimento já preconizadas pelo NEPAV/
SES/DF.
As expectativas em relação à família estão,
no imaginário coletivo, ainda impregnadas de
idealizações, das quais a chamada família nu-
clear é um dos símbolos. A maior expectativa é
de que ela produza cuidados, proteção, apren-
dizado dos afetos, construção de identidades
e vínculos relacionais de pertencimento, ca-
pazes de promover melhor qualidade de vida
a seus membros e efetiva inclusão social na
comunidade e sociedade em que vivem. No en-
tanto, estas expectativas são possibilidades, e
não garantias. A família vive num dado contex-
to que pode ser fortalecedor ou esfacelador de
suas possibilidades e potencialidades (BRANT DE CARVALHO, 2003).
Os serviços de assistência e saúde implementados pelas atuais políticas públicas combinam
modalidades de atendimento ancoradas na família e na comunidade. Fala-se menos em hospitali-
zação e mais em internação domiciliar, médico da família, cuidador domiciliar, agentes comunitá-
rios de saúde e outros. Com isso a família é revalorizada na sua função socializadora, além disso,
é convocada a exercer autoridade e definir limites. Dentro desse contexto, não se pode pensar em
prevenção à violência sem a efetiva inclusão da família assistida, num espaço de escuta e cresci-
mento mútuo.
Espaços onde adultos possam refletir sobre formas de comunicação, estratégias para resol-
ver conflitos, negociação, autoridade e autoritarismo possibilitam que as famílias adquiram mais
competência para exercer a maternagem e a paternagem. Aprender a separar o fato de ser pai e
mãe com o de ser marido e mulher permite que haja menos vulnerabilidade nas famílias monopa-
rentais.
Em outubro de 2006 foi instituído o Grupo de Instrumentalização de Pais – GIP no PAV/Taguatinga
a partir da adaptação de uma experiência já existente na Unidade do Adolescentro, Asa Sul/DF
redirecionada para atendimento às famílias notificadas com situação de violência. O critério de
inclusão é que esta família esteja também sendo atendida nas outras rotinas do PAV: notificação da
violência; atendimento de emergência; atendimento psicossocial e ambulatorial para as vítimas de
acordo com a demanda exigida no caso.
Primeiramente essa família passa pelo acolhimento no Serviço Social da Emergência do HRT.
Feita Entrevista Social, ela é esclarecida sobre as rotinas do Programa e sensibilizada quanto
à necessidade de participação no GIP (o responsável legal e/ou pessoa que possa dar afeto e
cuidados à vítima).
A abordagem que nos serve como referência fundamenta-se no modelo sistêmico-complexo e
concentra-se nos pais e/ou pessoa de vínculo positivo na família, mas que apresenta dificuldades
para exercitá-los. É um processo de instrumentalização para promoção e resgate da competência,

* Assistente social e coordenadora do Programa de Prevenção aos Acidentes e Violência da Regional de Saúde Taguatinga/DF.

52
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

fortalecimento da autoridade, construção das relações amorosas entre pais e filhos, e, principalmente
formação de parcerias para prevenção da violência intra-familiar.
As reuniões são quinzenais, atualmente nas quintas-feiras pela manhã, com calendário trimes-
tral entregue em mãos aos participantes, antecipadamente. É um grupo dinâmico, tendo como me-
todologia a instrumentalização através da discussão e aplicabilidade das atitudes descritas abaixo
correlacionando-as com as dificuldades apresentadas pelos componentes do grupo, tais como:
medos, inseguranças, conflitos, incompatibilidades de valores/culturas, resgate de autoridade legí-
tima, imposição de limites, bloqueios, agressividade, baixa autoestima, abandono, etc, proporcio-
nando aos participantes principalmente compartilhar experiências positivas que de alguma forma
possam conduzir o grupo para uma reflexão sobre as suas atitudes individuais e assim oferecer a
sua mudança para mudança do outro.

ATITUDES

1) Primeira Atitude: Separar a pessoa do comportamento.


* Costumamos reduzir as pessoas/nossos filhos ao comportamento deles. É importante contar
para nós, que continuamos amando nosso filho. Tendo respeito por aquela pessoa dos nossos
afetos... O que nós não aceitamos é o comportamento deles.
Temos que repetir 200 vezes, três vezes ao dia o “mantra” para que possamos mudar o nosso
condicionamento: “Eu amo o meu filho, não aceito é o seu comportamento de matar aula” (por
exemplo).

Finalidade: Esta atitude nos ensina a aceitar o outro.

2) Segunda Atitude: Falando na primeira pessoa – sempre que for conversar, comece com a
palavra EU.
* Usando uma estratégia simples, mas que exige muito exercício, que é: sempre que formos
conversar com nossos filhos, companheiro, irmãos, amigos, etc, devemos usar a palavra “EU”.
Com a palavra EU, construo um diálogo, e com a palavra VOCÊ, compro uma briga.
Convidamos os pais a passar de uma comunicação racional (conselhos, sermões, orientações
baseadas na nossa experiência passada) para uma comunicação afetiva, usando a força dos nossos
sentimentos.

Finalidade: Esta atitude nos ensina e permite vivenciar e perceber as relações intersubjetivas
construídas, e identificar os significados que damos ao comportamento do outro e as emoções
que sentimos: sofrimento, preocupação, medo de perda, certeza de não ter o controle de
situação (Ajuda a trabalhar você).

3) Terceira Atitude: Quem é quem na relação.


* Sempre que formos falar, elogiar nossos filhos e/ou corrigir, definir quem é quem nessa relação
e quais são suas funções.
Começar com as palavras mágicas: eu sou sua mãe (seu pai), você é meu filho (minha filha), eu
te amo muito e gostaria...

Finalidade: Esta atitude nos ensina a reconhecer o outro e a nós mesmo, quando nomeamos
quem é quem na relação. Resgatar a autoridade sem gritos, ameaças, violências.

4) Quarta Atitude: Elogiar – Confirmar o outro – Apostar no positivo.


* Vamos reaprender a olhar as coisas positivas que eles fazem e a elogiar sem medo de “elogiá-
los” não vamos esperar que eles façam grandes mudanças ou tenham comportamentos heróicos
para elogiá-los. Os elogios devem ser feitos por pequenos comportamentos. Sobretudo para aquelas
coisas que nós achamos que não são mais do que a obrigação deles, tais como: estudos, ir à escola,
arrumar a bagunça do quarto deles, etc.

53
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Finalidade: Esta atitude nos ensina a confirmar e positivar o outro na relação.

Observação: A construção do elogio tem três etapas:


1ª etapa: Identificar um comportamento positivo, pequeno, cotidiano que seja.
2ª etapa: Perguntar: Qual a qualidade que essa pessoa tem que proporciona este comportamento?
A resposta vai apontar para vários adjetivos positivos. Escolha a qualidade para a qual você deseja
que ele se mova, e que ele mais gostaria de ouvir.
3ª etapa: Fazer o elogio em duas partes: a primeira fala do sujeito da ação. Exemplo: Como Você
é um filho cuidadoso com sua mãe, quando sai e diz, até logo mãe! E a segunda do sujeito que está
falando. Exemplo: Como eu fico muito feliz, orgulhosa, com isso!

Elogio: Como você é um filho cuidadoso com sua mãe, quando sai diz: Até logo mãe! Como
eu fico feliz com isso!

5) Quinta Atitude: abraçar


* Esse abraço é planejado, estratégico, intencional. E não espontâneo. Sempre que abraçar
mentalizar a ordem:
“O seu coração vai ouvir o meu coração.”

Finalidade: Reduzir distância. Aproximar. Quebrar barreiras no relacionamento.


É o exercício de: proteger, aceitar e amar o outro.

Ressaltamos que os principais resultados em 03 (três) anos de atividade são a reconstrução


do vínculo de pertencimento fortes/sólidos e a sensível redução do tempo de acompanhamento
dessas vítimas de violência nos serviços de saúde.

Bibliografia

BEZERRA, V. C. & LINHARES, A. C. B. A Arte de Construir Relações Amorosas na Família. Como criar
um canal de comunicação amoroso com os filhos e colocar limites sem culpa, mágoas ou medo de
perdê-los. Laboratório de Pesquisas Sopa de Pedra, Brasília, 2006.
CARVALHO, M. C. B. (org.) A família contemporânea em debate. 5ª edição. São Paulo: Educ./Cortez.
2003. Pág. 9-19.

54
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Módulo II

prevenção da violência contra mulheres

A violência interfere na saúde e no


desenvolvimento da mulher e de seus fa-
miliares e traz repercussões importantes
para as relações. A discussão sobre a vio-
lência contra a mulher vem despertando o
interesse de estudiosos e pesquisadores
da área da saúde que buscam compre-
ender melhor esse fenômeno, que apesar
de sua magnitude e repercussão, ainda
é cercado pelo silêncio, pela dor e pelo
segredo.
Em qualquer forma de violência, o
outro é descaracterizado, desumanizado,
despersonalizado, ou seja, é visto como
um objeto. O paradoxo presente nesse
contexto é a perpetuação de relações
amorosas que ferem, maltratam e cau-
sam danos psíquicos, e ao mesmo tempo
são mantidas e desejadas. Entender que
vínculo é este, dentro de suas múltiplas
determinações e complexidades, é um
desafio.
Portanto, a noção de que a violência
é um fenômeno complexo exige-nos
também um olhar complexo, ou seja,
nenhum fato isolado pode explicá-la em
sua plenitude. No caminho dessa reflexão a interdisciplinaridade é fundamental.
Compreender a violência contra a mulher é contribuir para pensar em caminhos mais eficazes para
solucionar ou, ao menos, minimizar os danos causados por ela. Eleger formas menos rudimentares
para a resolução dos nossos conflitos não só é possível, como desejável.
Muitos avanços têm ocorrido em face da discussão dessa temática, sendo a Lei Maria da Penha
nº 11.340/2006, uma dessas maiores conquistas. Entretanto, inúmeros desafios ainda imperam.
O texto a seguir visa discutir alguns desses impasses ao abordar e discutir o papel das relações de
gênero, da tradição patriarcal, da construção da relação entre homens e mulheres, da violência visí-
vel e invisível como fundamentais para a manutenção da violência. Além disso, a autora realiza uma
análise histórica e social da violência contra a mulher para ao final propor estratégias de prevenção.
O objetivo principal é levar essa informação a diversas áreas, comunidades, da esfera pública e
privada, envolvidas com a temática da violência doméstica para um atendimento humanizado, buscan-
do sensibilizar, esclarecer e instrumentalizar para o acolhimento e atendimento multidisciplinar.
Prevenção e atenção integral são fatores que, com o desenvolvimento de políticas públicas es-
pecíficas, podem proporcionar o empoderamento e o fortalecimento de práticas positivas para que
se enfrente a violência doméstica, tanto no âmbito intrafamiliar, quanto nas relações de trabalho e
relações do dia a dia.
Contudo, o auxílio aos direitos fundamentais das mulheres, como medida de proteção, não alcança
todas as mulheres submetidas a violências. Nesse contexto, as políticas públicas devem ser suporte
de prevenção e promoção de uma cultura de paz para a construção de relações não violentas.

55
Orientações para a prevenção
da violência contra as mulheres

Tânia Mara Campos de Almeida*

Ao nos dedicarmos a refletir sobre medidas de prevenção relativas à


violência contra as mulheres, duas perguntas interrelacionadas surgem,
solicitando respostas. Diante delas poderemos identificar melhor os passos
a serem dados na direção do desenvolvimento de ações protetivas a uma
vida sem violências para as mulheres em nossa sociedade.
Passemos, então, às perguntas:

Por que a violência contra as mulheres continua


tão fortemente resistente e disseminada entre nós?

Apesar dos avanços no campo dos direitos a uma vida sem restrições e privações às mulheres,
da disseminação de programas que protegem esses direitos, da mudança de mentalidade e do re-
conhecimento jurídico de sua condição de cidadania igual à dos homens, a realidade evidencia uma
expressiva quantidade de casos em conflito permanente com tais avanços. Práticas, sentimentos e
pensamentos em número significativo ainda se mostram conservadores à aceitação e efetivação de
novas relações entre homens e mulheres.
Vemos logo que responder a esta pergunta não é uma tarefa fácil. Mas algumas pistas podem
nos auxiliar a decifrá-la:

1. As relações de gênero

De imediato, podemos desconsiderar as explicações de natureza essencialistas, que associam os


comportamentos de homens e mulheres a um determinismo biológico, não nos fornecendo respostas
convincentes à pergunta. Hoje, vários estudos apontam para a aprendizagem social como forma
de desenvolvimento de uma formação psicossocial particular, relativa a esse tipo de dominação e
que integra o processo básico e secundário de socialização dos sujeitos. A socialização não é mais
do que a construção de lugares e de papéis “próprios” (para homens e mulheres), dentro das hie-
rarquias sociais, que estruturam as relações entre as pessoas e os grupos, apresentando-nos tais
lugares e papéis como se fossem imutáveis e autoevidentes.
Ser homem ou mulher é uma questão que diz respeito aos modelos e às expectativas sócio-
culturais, por parte de um dado grupo e época, conforme nos atesta a variedade de caracterizações
ao longo da história e das sociedades. Por exemplo, entre nós, as meninas são incentivadas a ser
passivas, sensíveis, frágeis e dependentes emocionalmente, haja vista que a maioria dos brinque-
dos e jogos infantis reforça o papel de mãe, dona de casa e ocorrem dentro do espaço doméstico.
A sexualidade delas também tem sido relacionada à reprodução e ao dar prazer. Por outro lado,
os meninos brincam em espaços abertos, jogam bola, competem entre si em lutas e guerras
imaginárias. Desde pequenos, circulam por situações e espaços simbólicos de poder, movimento,
força física e valentia, não lhes sendo geralmente cobradas as tarefas domésticas e o cuidado com
o outro. Soma-se a isto o fato do exercício constante da sexualidade, para eles, ser um sinal de
masculinidade e prestígio.
Ver, portanto, homens e mulheres em separado nada nos acrescenta, uma vez que não existe a
“Mulher” ou o “Homem” no singular, com letra maiúscula e de maneira universal. As relações entre

* Cientista social, mestre e doutora em Antropologia, com pós-doutorado em psicossociologia. Professora e pesquisadora da Univer-
sidade Católica de Brasília (UCB), com diversas publicações e atuações a respeito da violência de gênero e contra as mulheres.

56
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

eles não são, portanto, reflexos de seus traços anatômicos, mas de interações histórico-sociais,
pautadas por imagens idealizadas que se tem deles, pela definição de papéis que lhes são atribuídos
e pelas representações vigentes a seu respeito. Trata-se de relações de gênero, as quais devem ser
o ponto de partida para aproximarmo-nos do que vem a ser homens e mulheres num grupo social
(Bandeira e Almeida, 2005).

2. A tradição patriarcal

No nosso meio, o processo de diferenciação “mulheres – homens” vem se fazendo a partir da


antiga tradição patriarcal, que institui o reconhecimento da diferença entre eles como a definição
da diferença fundante desse tipo de sociedade e das identidades de cada um(a). Esta diferença
fundante apresenta-se polarizada e complementar, resultando de uma positivação do universo dos
homens, ao mesmo tempo em que negativa e desvaloriza o que se refere às mulheres. No mundo
patriarcal, o valor das pessoas é desigual já em sua primeira classificação, de acordo com suas
marcas de gênero, às quais são agregadas outras marcas distintivas da desigualdade (raça, idade,
classe social, etnia, nação ou região). Tal processo complexo se concretiza entre violências e atos
de poder de várias ordens com a finalidade de perpetuar tal desigualdade (Jodelet, 2002), o que
nem sempre é percebido enquanto tal pelas pessoas.
Assim, os discursos predominantes integram e organizam a sociedade, as sociabilidades e os
afetos, veiculando, por exemplo, que a violência é uma manifestação de virilidade masculina e da
posição de superioridade e dominação dos homens sobre as mulheres. Embora mudanças de atitu-
des, pensamentos e sentimentos já sejam percebidas em instâncias jurídicas, legislativas e comuns
da vida social, ainda se mostram insuficientes para se
constituírem em transformação profunda das relações de
gênero e na erradicação dos diferentes tipos de violência
contra as mulheres.
Haja vista que, nos últimos anos, embora as mulhe-
res estejam conquistando sua independência financeira
e ingressando intensamente no mercado de trabalho, as
desigualdades delas frente aos homens ainda permane-
cem. Em geral, elas ganham menos que eles em vários
campos e atuações profissionais, mesmo que exerçam
as mesmas funções; elas têm sofrido impactos sobre sua
saúde física e mental com a dupla jornada de trabalho e
o sentimento de culpa de não estarem desempenhando
à risca os tradicionais papéis de mãe e dona de casa;
assim como elas têm tido menos oportunidades de obter
cargos diretivos nas empresas e instituições.

3. Crítica ao par “vítima versus algoz”

Esse conjunto de violências surge como “produto” de uma relação entre sujeitos. Para compreendê-
lo, é necessário decifrar as relações existentes, perguntando-nos sobre o papel desempenhado pelas
simbolizações patriarcais de homem e mulher na estruturação do cotidiano privado da família e
também dos espaços públicos, tal como das instituições de saúde.
Segundo Segato (2003), a sociedade patriarcal produziu uma estrutura fixa, que mantém os
símbolos opressivos por detrás da imensa variedade de tipos de organização familiar e uniões
conjugais – espaços e cenários patriarcais em que mais ocorrem as práticas de violências de gênero
atualmente. Desse modo, confundimo-nos ao deduzir que as mudanças nas relações são efetivas e
profundas, uma vez que ainda existe o padrão de convivência baseado na ameaça, desqualificação,
ciúme, competição e intolerância para aceitar as diferenças individuais e a forma de ser das
mulheres.

57
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Nesse sentido, a ideia de vítima versus algoz também deve cair por terra, passando a ser
contextualizada na dinâmica da relação homens-mulheres. Esta se encontra para além das variáveis
individuais, sendo regida pela lógica da estrutura social predominante e articulada com o que a
cultura oferece aos homens e às mulheres ao se identificarem, em geral, com o que se concebe
como os lugares predominantes do masculino e do feminino.
Por essa perspectiva, confirmamos Suárez (2006:22): “no estudo da violência de gênero não se
tem considerado, ou não se percebeu que se deve considerar a necessidade de se estabelecerem me-
diações entre os fenômenos aos quais se atribui caráter estrutural, como o patriarcado e sua expres-
são na cultura individual”. Isto é, consideram-se a importância do espaço relacional, as interações
entre homens e mulheres por meio de gestos, sentimentos e pensamentos que levam à violência.

4. A violência invisível e visível


As pesquisas sobre a violência contra as mulheres mostram-nos que nenhum fator isolado pode
explicá-la em sua complexidade. Ao contrário, o resultado delas indica que devem ser considerados
diferentes fatores explicativos no seu entendimento. Ou seja, além dos componentes situacionais,
talvez seja interessante pensarmos, de acordo com Suarez (2006), o que poderia ser a motivação de
um homem ao praticar um ato de violência contra uma mulher, na maioria das vezes ligada a ele por
vínculo afetivo? Os principais fatores causadores dessa violência podem ser: 1) a resolução violenta
de conflitos interpessoais; 2) desigualdade econômica entre eles; 3) masculinidade associada a
um ideal de dominação, resistência e honra; e 4) predomínio da autoridade masculina em tomar
as decisões. Agrega-se a esse conjunto o exercício do controle sobre as mulheres, antigo recurso
exercido por meio de estratégias violentas.
Por outro lado, as pesquisas apontam para a consideração de nexos entre as diversas situações
de violência, sendo algumas a argamassa invisível para a irrupção da violência física e sexual,
que são aquelas possuidoras de maior visibilidade na sociedade. Por exemplo, a violência moral
e psicológica cumprem o papel de alicerce, reciclando diária e microscopicamente a ordem
hierárquica de onde emergem outras violências, além de fazerem tal ordem parecer legítima e
normal (Segato, 2003).

Resposta

Todas essas pistas nos levam a constatar que as mulheres ainda se encontram em posição
inferiorizada em diversos discursos e práticas sociais, sendo vistas pelos homens e, muitas vezes,
por elas mesmas na condição de parte integrante do cenário do patriarcado tradicional, cujos
direitos individuais não lhes são concedidos e reconhecidos. Para se alcançar outro patamar de
relações entre homens e mulheres, é imprescindível, portanto, que se criem meios de reformulação
das representações sociais vigentes, que servem de modelos para as identidades individuais e para
o estabelecimento da desigualdade de valor entre as pessoas, levando as mulheres a serem vistas
como extensão das posses, dos objetos e da honra dos homens.
Trata-se, pois, de romper com a ideia patriarcal antiga de que os homens, em suas trajetórias
pessoais, aprendem a não conviver bem com a diferença de gênero e, em paralelo, resguardam para
si a importância de relacionar-se igualmente com os grupos de homens. Esses grupos, por sua vez,
para se manterem coesos e entre os que se respeitam mutuamente, impõem exigências e regras
de pertencimento aos membros, as quais se definem exatamente pelas provas de reprodução da
dita desigualdade por meio de violências contra as mulheres. Logo, encontramo-nos diante da
segunda pergunta:

Qual é a especificidade da violência contra as mulheres


em relação às demais práticas de violências?

Nem todas as sociedades da história civilizatória têm qualificado os atos violentos contra as
mulheres enquanto crimes. É recente a sua percepção dessa forma1, a qual se deve à perspectiva

1 Em 07/08/2006, foi sancionado um decreto-lei – Lei Maria da Penha nº 11.340 – para tratar da especificidade desses tipos de
crimes, o qual tipifica a violência familiar e doméstica como crime, bem como a coibe.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

dos direitos humanos, empenhada em aplacar variedades do sofrimento humano. Trata-se do


reconhecimento de que existem categorias de pessoas com problemas diferenciados e uma
experiência histórica comum entre elas de opressão, que as levam a ser vistas como sujeitos
coletivos, com direitos próprios.
Nesse sentido, Piovesan e Guimarães (2005: 02) escrevem que, ao contrário do sistema penal
de proteção, cujo destinatário é qualquer pessoa, “(…) o sistema especial de proteção dos direitos
humanos é endereçado a um sujeito de direito concreto, visto em sua especificidade e na concreti-
cidade de suas diversas relações. Vale dizer, do sujeito de direito abstrato, genérico, destituído de
cor, sexo, etnia, idade, classe social, dentre outros critérios, emerge o sujeito de direito concreto,
historicamente situado, com especificidades e particularidades.”

Resposta

Por essa perspectiva, a distinção da violência contra as mulheres emerge da questão da


diferença fundante na sociedade patriarcal. Ou seja, esse tipo de violência não se refere a atitudes
e pensamentos de aniquilação do outro, que venha a ser uma pessoa considerada igual ou que é
vista nas mesmas condições de existência e valor que o seu perpetrador. Pelo contrário, tal violência
ocorre motivada pela desigualdade baseada no sexo, tendo ela começado no universo familiar, nas
relações de gênero como protótipo, exemplo valioso das relações hierárquicas – embora quem
subjugue e quem é subjugado possam, em outras situações, receber marcas de raça, idade, classe,
etc, modificando sua posição na relação.
Por isso, a célula elementar de todos os atos violentos, que nos deixam tão atônitos e horrori-
zados, são as relações de gênero e a violência moral-psicológica onipresente no seio familiar, con-
siderada normal. Estes são pilares sustentadores que mantêm o sistema hierárquico e de poder
funcionando. Desse modo, entende-se melhor a argumentação de Segato (2003), que afirma ter
a violência contra as mulheres uma dimensão muito mais expressiva que utilitária. O estupro, por
exemplo, é uma agressão em si mesma, carecendo de um objetivo pragmático, como o caso de
roubar para sobreviver. É como se o estuprador fosse reconhecido igual pelo grupo de homens, no
espaço simbólico da fraternidade viril em que a masculinidade se reconhece, compete e dá provas
mútuas de sua existência.
Desse modo, o foco de atenção nos atos de violência contra as mulheres não deve se centrar
apenas no par “algoz-vítima” e na “síndrome do abandono”, a qual aponta para o lado infantilizado
e inseguro de homens ao agredirem a mulheres. Esse foco de atenção habitual, que precisa ser
ampliado, se volta para as seguintes questões:
Como os homens se sentem ameaçados por comportamentos ou atitudes da mulher (casos em
que a esposa não deixou de trabalhar, traição, autonomia da mulher)? Como ocorrem as inversões
de papéis sociais, diante da perda do trabalho do homem-provedor? A desestabilização do homem
o faz agressor, a começar pela imposição de exigências à companheira (não sair de casa, não ter
amizades, não visitar a família, não maquiar-se)? Como se configura o sentimento de onipotência,
o qual implica no desconhecimento da existência e das necessidades do outro, ou mesmo na sua
submissão? Por sua vez, há o lado das mulheres já bastante explorado, o qual vem sendo decifrado
a partir da dinâmica psicossocial gerada pelo impacto de se viver sob o medo e a ameaça, tornando-
as submissas à vontade do agressor e isoladas do meio social, bem como introjetando-lhes fortes
sentimentos de culpa e pouca valorização de si.
Contudo, o foco também deve se dirigir a conhecer e aprofundar as relações entre os iguais, por
questões semelhantes a: Como os homens se relacionam entre si? Como descrever o comportamento
agressivo exercitado entre os homens desde a infância? De que modo os homens se identificam com
os outros, no que diz respeito à imitação de agressores e adoção de símbolos de poder? De que modo
os grupos reconhecem os seus membros como iguais, por exemplo, em momentos de lazer violento?
Na verdade, os dois focos presentes na violência contra as mulheres são importantes e
complementares, necessitando ambos de atenção. Afinal, o mesmo homem frágil, que se identifica
com o sentimento de abandono e se sente tão ameaçado em sua masculinidade pela mulher, também
é quem precisa provar que é um “igual”, é alguém que se encontra em posição de subordinação
frente aos outros homens. Longe de ser uma prova de poder, a agressão funciona como um esforço
em restaurar uma autoridade masculina enfraquecida. Enfim, o agressor não atua porque tem
poder, mas justamente porque precisa estar constantemente obtendo e garantindo-o.

59
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Passos para a prevenção

A possibilidade de ensinar, apontar, mostrar ou facilitar o caminho para que as meninas, moças
e mulheres, com as quais nos deparamos em nosso dia-a-dia, desfrutem de melhor existência,
autonomia, boa saúde e tenham noção de seus direitos a uma vida sem violência é de responsabilidade
de todos nós, que temos informações a respeito, conhecemos as leis protetoras e desejamos uma
sociedade mais justa e equânime.
A seguir, indicamos alguns passos, ou medidas, relevantes em serem observados e adotados
enquanto orientações para prevenção dos atos violentos contra as mulheres, os quais podem ser
físicos, simbólicos, psicológicos, sexuais, patrimoniais e morais, bem como podem ocorrer na esfera
doméstica, nas relações interfamiliares, no espaço do trabalho e nas ruas, conforme esclarece o
quadro abaixo.

Violência contra as mulheres


É qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada
contra as mulheres, e que cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico,
sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou, ainda, perda patrimonial. Pode
acontecer tanto em espaços públicos como privados.

Violência de gênero
Normalmente, entre nós, associamos este tipo de violência àquela sofrida por alguém pelo
simples fato de ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer
outra condição; produto de um sistema social que subordina o sexo feminino, equivalendo-se,
de certa forma, à violência contra as mulheres.

Violência física
Qualquer ação que machuque ou agrida intencionalmente uma pessoa, por meio de força
física, arma ou objeto, provocando, ou não, danos e lesões no seu corpo.

Violência moral
Ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher e das mulheres
em geral, como por exemplo a ofensa disseminada no senso comum de que mulheres loiras
são burras.

Violência patrimonial
Ato que implique em dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos
pessoais, bens, valores e similares de alguém.

Violência psicológica
Ação ou omissão destinada a degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e
decisões de outra pessoa, por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta,
humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que acarrete prejuízo à saúde psicológica,
à auto-determinação, autoestima ou ao desenvolvimento pessoal.

Violência sexual
Toda relação sexual em que a pessoa é obrigada a se submeter, contra a sua vontade, por
meio de força física, coerção, sedução, ameaça ou influência psicológica. Este tipo de
violência é crime, mesmo quando praticado por um familiar, seja o pai, marido, namorado ou
companheiro. Considera-se, também, violência sexual o fato do agressor obrigar a vítima a
realizar alguns desses atos com terceiros. Consta, no Código Penal Brasileiro, que a violência
sexual pode se apresentar de forma física, psicológica ou sob coação, compreendendo em
atos de estupro, a tentativa de estupro, assédio sexual e ato obsceno.

60
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

A ordem em que algumas medidas para prevenção são aqui apresentadas é arbitrária, não esta-
belecendo entre elas nenhuma sequência a ser seguida. Ressaltamos, também, que tais medidas
estão altamente interligadas.

Aos/às profissionais de saúde:

1. Para transformarmos a subjugação de homens sobre mulheres é necessário o desenvolvimento


da consciência reflexiva, voltada para a reforma da intimidade das relações, deixando
para trás a tradição patriarcal. Assim, iniciamos o desmonte da escalada da violência, do
nível microscópico das agressões domésticas ao macroscópico de redes internacionais de
exploração sexual. Ou seja, o combate às formas rotineiras de violência é possível, desde
que envolva a todos/as no entendimento de que esta luta é parte integrante de um trabalho
de desestabilização a iniciar por si mesmo, pela própria ordem hierárquica que nos rege.
A responsabilidade que temos nas mãos, por intermédio dos exemplos, dados a partir das
opiniões emitidas, dos sentimentos expressos e dos atos feitos em nosso dia-a-dia é um dos
grandes meios de iniciarmos as ações de prevenção.
2. Procurar estratégias entre colegas para formar grupos de estudo e discussão a respeito
do tema, em encontros regulares, que visem partilhar conhecimento e, também, falar dos
próprios sentimentos e experiências correlatas. Além disso, procurar se integrar a redes
locais, regionais e/ou intersetoriais de enfrentamento à violência. Certamente, haverá um
fortalecimento mútuo entre os/as participantes, que terão melhores condições de identificar
formas eficazes e alternativas de prevenção e intervenção, nos diversos contextos.
3. Romper o segredo em situações de qualquer modalidade de violência, o que significa não
compartilhar com esquemas de ocultação, pois podem se equilibrar mutuamente, agressor
e agredida, numa estrutura de apoio-proteção (Ricotta, 2002), nociva não só a eles como
a crianças e adolescentes. O processo de socialização iniciado em um ambiente violento
facilitará a sua repetição em futuras fases da vida, gerando um ciclo transgeracional difícil
de ser quebrado, que se prolonga da infância à velhice nas várias gerações de mulheres
numa mesma família.
4. Ter atenção a marcas, hematomas, sinais físicos de violência sofrida recentemente ou no
passado, assim como à instabilidade emocional de mulheres que podem estar em situação
de tensão e stress permanente, visando à prevenção de novas violências.
5. Deixar sempre claro, nas palestras e nos atendimentos individuais, que todas as formas de
violência de gênero são experiências não desejáveis.
6. Expressar desaprovação em relação às formas jocosas de desvalorização da mulher, nos
diversos tipos de mídia, músicas e nas interações sociais rotineiras, tais como nas rodas de
piadas que denigrem as mulhres nos seus diversos sub-grupos (mulheres-negras; mulheres-
lésbicas; mulheres-prostitutas; mulheres-pobres; etc).

Às mulheres:

Nas relações privadas, onde se encontram as elevadas


estatísticas de violência contra as mulheres, recomenda-
mos que os/as profissionais atuem no sentido de:

7. Apoiar a independência financeira das mulheres


que a desejarem por meio de estudos, qualifi-
cação e/ou capacitação profissional, bem como
associativismo entre elas. Haja vista que é bas-
tante comum a existência do controle econômico
por parte dos seus companheiros, levando-as à
situação de coerção, intimidamento ou cercea-
mento da liberdade.

61
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

8. Ajudar as mulheres a identificar atividades intelectuais, profissionais, manuais, enfim, de di-


versas naturezas que tenham prazer em realizar, sem necessariamente visar lucro, envolver
filhos ou ganhos para além da própria satisfação. Desse modo, ao dedicarem momentos da
vida a si mesmas, pode-se apoiá-las no fortalecimento da autoestima, na segurança inter-
pessoal e no cultivo de sentimentos esperançosos, como um ser humano que tem valor pelo
o que é, pelo simples fato de existir.
9. E  stimular o surgimento de condições mais igualitárias na criação dos meninos e das meninas
por parte das mães, exigindo de ambos o cumprimento das mesmas tarefas domésticas e
permitindo com que as brincadeiras sejam realizadas sem distinção.
10. B uscar inserir as mulheres em redes sociais e comunitárias de apoio, dificultando o controle
da sua sociabilidade pelo companheiro, cerceando-a das relações pessoais com chantagens
afetivas e impeditivas de contato com amigos e familiares. Por isso, é importante perguntar-
lhes sobre seu grupo familiar, de amigos, além das pessoas que sejam suas confidentes,
que as aceitem sem críticas destrutivas e com elas contem em caso de necessidade.
11. Incentivar o contato regular das mulheres com a rede de saúde, criando uma referência po-
sitiva em suas vidas. Marcar retorno de atendimento, com frequência regular e em períodos
curtos, para mulheres que estejam isoladas de redes sociais, deprimidas ou em situação de
risco, visando o acompanhamento próximo ou encaminhamento do seu caso.

Nas relações da esfera pública, algumas medidas para a prevenção da violência podem ser adotadas:

12. N
 ão permitir a desqualificação intelectual das mulheres, a depreciação da sua capacidade
de discernimento e entendimento do mundo, mediante a imposição de restrições a seu
discurso ou expressão variada. Por isso, a criação de espaços livres e coletivos para a mani-
festação verbal, gestual, escrita, das mulheres é sempre importante, dentre vários aspectos,
para a manutenção da dignidade e consciência dos seus direitos.
13. A
 lertar em relação ao assédio moral e sexual no trabalho, evidenciando às mulheres formas
comuns de humilhação, de dúvida sobre a competência profissional ou de insinuações
eróticas ofensivas.

Nas relações entre desconhecidos, tem-se a violência sexual e as ofensas morais como mais
frequentes, o que demanda alguns cuidados preventivos, tais como:

14. C
 hamar a atenção sobre a necessidade de se andar sempre em companhia de outras
pessoas em lugares isolados e horários de menor circulação, assim como procurar definir
trajetos que andem menos a pé ou possam ter a proteção de conhecidos ou mesmo de
outras pessoas.
15. L
 embrar às mulheres de terem à mão telefones úteis, para serem utilizados em momentos de
denúncia de ameaças e desrespeitos. Afinal, não devem deixar de pedir ajuda ou encaminhar
às autoridades competentes situações que pareçam ser esporádicas ou de baixo potencial
ofensivo, tal como um grito ou um xingamento.

Nas representações sociais e nos modelos divulgados para a população sobre o que é ser mulher,
encontram-se falas, imagens e brincadeiras, consideradas inocentes e engraçadas, que são fortes,
o suficiente para transmitir valores negativos e desrespeitosos. A importância de se desenvolver
um senso crítico, não só individualmente como em grupos, ajuda a enfrentar situações de violência
simbólica, tal como o menosprezo estético, que tem, como padrão de beleza, tipos físicos distantes
da maioria das brasileiras, ou a imagem da mulher objeto sexual disponível aos homens.

Aos homens:
16. Desenvolver trabalhos e atuações que visem ajudar aos homens a não mais se identificarem
com os ditados impostos acerca da mulher genérica (exemplos: “toda mulher gosta de
apanhar” e “toda mulher é safada”) e a buscarem convivência com representações e imagens
em que a liberdade da mulher não os ameacem, em que companheiros não lhes imponham
condições para pertencer ao grupo e nem lhes mostrem as mulheres enquanto extensão de
suas posses e sua honra.

62
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

17. Quebrar estereótipos machistas, tais como “homem não chora”, “não é sensível”, “não tem
compaixão” e “não relativiza”.
18. Revisar processos educativos patriarcais, ditos obrigatórias para ser homem na nossa
sociedade, a começar por assumir, por exemplo, como de sua responsabilidade, tarefas
domésticas e relativas aos cuidados com filhos.

Dinâmicas para se trabalhar com grupos

A título de sugestão, apresentaremos dinâmicas, descritas no módulo 5 desta publicação, que


podem facilitar o trabalho de profissionais de saúde com os grupos sociais, introduzindo informações,
temas, discussões e reflexões a respeito da violência contra as mulheres. De modo, geral, essas
dinâmicas foram adaptadas e resumidas da obra intitulada “Trabalhando com mulheres jovens:
empoderamento, cidadania e saúde” (2008), mas podem perfeitamente sofrer novas adequações
de acordo com as circunstâncias de cada grupo e com as ideias surgidas com a experiência dos(as)
profissionais.
Outras orientações para o trabalho produtivo com grupos, no que diz a outras dinâmicas e
ao respeito ao papel dos(as) profissionais enquanto facilitadores(as) de atividades que visem à
transformação de mentalidades e realidades, devem ser buscadas em referências específicas,
incluindo a obra acima mencionada. Afinal, é importante que a capacitação seja contínua e auto-
reflexiva, buscando se criticar positivamente ao longo de todo o processo e ampliar seus horizontes
de repercussão social.

Referências Bibliográficas

BANDEIRA, Lourdes e ALMEIDA, Tânia Mara C. Relações de gênero, violência e assédio moral. Brasília:
AGENDE/ELETROBRÁS, 2005.
JODELET, Denise. “A alteridade como produto e processo psicossocial”. In ARRUDA, Ângela (org.)
Representando a alteridade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998/2002 – pp. 47-67.
Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 – Coibe a violência doméstica e
familiar contra a Mulher, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres – Presidência da Repú-
blica, Brasília, 2006.
PIOVESAN, Flávia e GUIMARÃES, Luis Carlos R. Convenção internacional sobre a eliminação de todas
as formas de discriminação racial em DHNet – http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes – 5 de
julho de 2005.
RICOTTA, Luíza. Quem grita perde a razão: a educação começa em casa e a violência também. São
Paulo: Ágora, 2002.
Segato, Rita. Las estructuras elementales de la violencia – ensayos sobre género entre la antropología,
el psicoanálisis y los derechos humanos. Universidad Nacional de Quilmes, Buenos Aires: 2003.
Suarez, Mireya. Provocando la reflexión sobre el discurso “Violencia contra la mujer”. In: Revista
Sociedade e Estado. Depto. de Sociologia, 2006.
Trabalhando com mulheres jovens: empoderamento, cidadania e saúde – Promundo;
Salud e Gênero; ECOS; Instituto PAPAI; World Education. Rio de Janeiro: Promundo, 2008.

63
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Módulo IiI
Promoção da saúde do homem
versus violência
Ana Lúcia Correa e Castro*
Laurez Ferreira Vilela**

Historicamente, na nossa cultura, o homem é so-


cializado cumprindo exigências mais ou menos co-
muns como: defender a prole, ser provedor, dominar,
competir, vencer, ser invulnerável, pró-ativo, enfrentar
riscos e superá-los além de outros comportamentos
que normatizam a masculinidade.
Segundo Lyra et al ( 2008), o cuidado está cul-
turalmente delegado à mulher, seja com crianças,
idosos, família e outros. O homem, por sua vez, é es-
timulado a responder expectativas sociais de defesa,
ataque e enfrentar riscos. Dessa forma ele aprende a
não cuidar de si e tampouco cuidar dos outros.
A Organização Pan-American de Saúde (OPAS,
2000) afirmou que “determinadas construções sociais
de masculinidade podem ser prejudiciais para a saúde
dos homens”. Essas referências de masculinidade ain-
da vigente em nossa sociedade causam danos a mi-
lhares de homens, haja vista as estatísticas de mortes
por homicídios, trânsito principalmente, acidentes
com motocicletas, envolvimento com álcool e drogas.
Outro fator de mortalidade é o auto extermínio. Apesar das mulheres atentarem mais contra a vida,
o número maior de óbitos por suicídio é de homens, pois utilizam meios mais drásticos.
Alguns homens na aposentadoria ou viuvez entram num isolamento que se desdobra em
depressão e/ou suicídio. Isso é agravado, pois o meio viril não permite demonstrar fraquezas,
principalmente perante outro homem, o que dificulta a formação de redes de apoio entre os pares
– homens cuidando de homens, ou mesmo a busca de suporte técnico terapêutico.
Diante disso, a população masculina é menor do que a de mulheres devido às mortes por
causas externas. Segundo dados do IBGE, ao longo de 2008, morreram, por dia, 150 homens de
15 a 39 anos no País. Homens em idade produtiva, a pesquisa também mostra que, entre 1998
e 2008, morreram diariamente 68 homens jovens de 15 a 24 anos no Brasil por causas externas
(acidentes de trânsito, homicídios e suicídios), totalizando cerca de 272,5 mil óbitos neste período.
(BRASIL, 2009).
Nessa correlação com a cultura, quando o homem não consegue satisfazer as expectativas do
meio ele se defende através da violência, furtos seguidos de homicídios, às vezes agressão contra si
próprio, uma vez que tem baixa resistência às frustrações, pois foi educado para ser um vencedor. Na
tentativa de resgate da sua dignidade, geralmente o homem utiliza a transgressão de normas sociais
e agressão a quem está mais próximo, como mulheres, filhos e outros, momentaneamente, pode sen-
tir um grande poder através da submissão de sua vítima, porém, os atos violentos não geram alívio, e
sim a irritabilidade e depressão, agravando o sofrimento em si mesmo, na forma de remorso.

* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.
** Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Especialista em Terapia Familiar, Pós-graduada
em Educação Sexual.

64
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

A aceitação destas formas de resposta ao contexto vem automaticamente, não ocorrendo o


questionamento, principalmente por não haver consciência do padrão imposto pela cultura. Nesse
contexto, o homem internaliza tudo que a tradição impõe como uma convicção própria, sem crítica
da imposição de convenções simbólicas. Atualmente as mudanças desse modelo de conduta ainda
são pequenas para modificar o quadro de mortalidade.
O perfil da mortalidade dessa população indica a correlação com a cultura do másculo,
estruturado a partir de vários arranjos sociais onde a migração e o desemprego e a falta de políticas
de profissionalização e emprego nas cidades têm provocado maior inserção do homem no mundo
das drogas – como usuário e/ou fornecedor, e outras situações de risco para diversas expressões
da violência. As políticas públicas historicamente ratificam este funcionamento privilegiando
estratégias repressivas e o encarceramento, em detrimento às educativas.
A Saúde vem participando da construção deste novo paradigma estruturado a partir do processo
reflexivo educativo buscando atender especificidades deste segmento populacional para alcançar
o conceito de integralidade. Inserir atividades atrativas que estimulem a participação de homens
nos trabalhos realizados na Saúde é fundamental para alguma mudança social. De acordo com
Schraiber et al. (2005), o setor saúde deve programar atividade junto ao homem para o cuidado de
si e no cuidado com o outro.
Na atenção básica de saúde, há espaço propício para realizar ações educativas, nos programas:
diabetes, hipertensão, grupos de adolescentes, instrumentalização de pais, bem como na sala
de espera de consulta de Centros de Saúde, em grupos de homens, grupos mistos e outros. Uma
estratégia interessante é apresentar filmes sobre a violência de gênero, realizar discussão da
violência que o homem vivencia para conseguir atender às expectativas da sociedade, construir
coletivamente um nova forma de relacionar com os outros homens, com sua parceira e prole,
estimular a autoestima e segurança para contrapor a influências culturais danosas, refletir sobre
violência simbólica (homem não chora, homem tem que ser viril – mitos) e o que leva à violência
doméstica. Novas formas de resolução de conflitos, outras expressões de contato e de cuidado,
os diversos sentimentos inerentes à pessoa humana (independente do gênero), as consequências
danosas de referenciais violentos, aspectos da educação dos ascendentes, através do diálogo
refletido ou dinâmicas direcionadas.
Compreendendo a dificuldade em expressar sua dor, os serviços precisam capacitar profissionais
para a escuta masculina, criando mecanismos para estimular a participação deste segmento.
Compreender a complexidade que envolve o comportamento masculino, instrumentalizar para
evitar abordagens culpabilizadoras ou vitimizadoras e conteúdos distorcidos provenientes do senso
comum.
A comunidade precisa ser inserida nesta construção de novo paradigma. Realizar eventos locais
com a participação de religiosos (as), agentes públicos (escola, PSF, CRAS, CREAS, Delegacias...),
formadores de opinião, conselheiros – tutelares, de saúde, de segurança – bem como integrantes
da sociedade organizada, contribui para sensibilizar e trazer o tema para a pauta da localidade.
Traçar estratégias que possibilitem acesso a educação de qualidade, saúde, lazer, profissionali-
zação, convivência, direitos sociais e outros, inclusive com a participação do segmento jovem na
comunidade.

Referências Bibliográficas

BRASIL. IBGE, Tábuas Completas de Mortalidade – 2008. Comunicação Social, 01 de dezembro de 2009.
site:http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1507&id_
pagina=1 Último acesso em 06.12.2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Secretaria
de Políticas de Saúde. Brasília, 2001 (Série Cadernos de Atenção Básica; n. 8).
CONNELL, R. W. Masculinities. Berkeley. Los Angeles: University of Califórnia Press, 1995.

65
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F. A produção do conhecimento da saúde pública sobre a relação


homem-saúde: uma revisão bibliográfica. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 22, n. 5,
p. 901–911, 2006. Disponível no site: http://www.scielo.br/pdf/csp/v22n5/03.pdf Último acesso
em 06.12.2009.
GUILMORE, David D. Menhood in the making: cultural concepts of masculinity. New Haven, Yale Uni-
versity Press, 1999. Apud: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência
Intrafamiliar: orientação para prática em serviço. Brasília: Ministério de Saúde, 2001.
LYRA Jorge. “Homens e cuidado: uma outra família?” In: ANA Rojas Acosta, Maria Amalia Faller Vitale
(orgs ). Família: Redes, Laços e Políticas Públicas. São Paulo: Cortez, 2008.

66
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Módulo IV

Prevenção da violência contra


a pessoa idosa

N
as culturas tradicionais o idoso é vis-
to como um símbolo de sabedoria e
respeito. Suas lembranças se consti-
tuem como um patrimônio, revivido perma-
nentemente com as gerações mais novas de
adultos e crianças. Desta forma, representa
a continuidade da história e manutenção dos
valores de um núcleo familiar.
No entanto, observamos uma mudança
na nossa sociedade, marcada pelo consumo
e produtividade, em que o idoso perde o seu
lugar de memória, lembrança e respeito.
Onde a experiência não tem valor.
Porém, acreditamos não só no papel
que os idosos exercem na sociedade para a
construção de sua história e memória, como
também no respeito, valorização e proteção
que devemos ter com a terceira idade.
A composição das famílias vem passando por várias alterações nas últimas décadas, principalmen-
te pela redução da natalidade e o aumento no número de anos vividos pelas pessoas. Aumentando
o número de idosos com problemas decorrentes do processo de envelhecimento.
O desconhecimento deste processo gera uma série de dificuldades: do idoso, que não aceita e não
se reconhece como tal e da família, que não se identifica com o envelhecimento e tem dificuldades
no cuidado, ocasionando o isolamento ou atitudes violentas.
Portanto, dialogar sobre este processo para que ambos, família e idoso, possam entender e
compreender esta nova fase do ciclo vital é de suma importância para evitar conflitos ou mesmo
situações de violência.
A vida em família é um processo de constantes rupturas, perdas e ganhos, apegos e desapegos,
construção e reconstrução da trajetória de uma existência compartilhada. Por isso, cultivar a
afetividade, a cumplicidade e o amor é fundamental para a solução de conflitos e fortalecimento
das relações.
Pode-se refletir a partir disso que, apesar das significativas mudanças experenciadas e vivencia-
das pela sociedade, a família pode oferecer um lugar de segurança e felicidade, independente da
idade cronológica.

67
Prevenção primária
da violência contra o idoso
Marcelle Passarinho*

No início do século XX, apenas 25% dos brasileiros atingiam idade superior a 60 anos, mas
próximo ao século XXI, 65% dos homens e 78% das mulheres ultrapassaram este patamar, tornando-
se parte significativa da população geral e fazendo planos de longo prazo: mudando o conceito do
que se entendia por velhice. A expectativa é de que em 2025 existirão 1,1 bilhão de pessoas com
mais de 65 anos e no mundo e em 2050, um quinto da população será de idosos (IBGE, 2004). Em
2020, o Brasil, que já foi considerado um país jovem, deverá ter a sexta população de idosos do
mundo – 17 milhões de pessoas, ou seja, um em cada 13 brasileiros será idoso.
O aumento dessa população nas diversas culturas pode evidenciar a separação, de forma real ou
simbólica, do idoso da sociedade, possibilitando situações de violência. Nesse contexto sabemos
que tais situações fazem parte da violência social em geral e constitui um fenômeno universal. Em
muitas sociedades, diversas expressões de violência frequentemente são tratadas como uma forma
de agir “normal” e “naturalizada”, ficando ocultas nos usos, nos costumes e nas relações entre as
pessoas (Minayo, site).
Podem apresentar-se de várias formas: desqualificação pela idade, falta de produtividade,
mobilidade, virilidade e pela aparência, perpassam as famílias e atingem a pessoa idosa na esfera
física, psicológica, sexual, patrimonial e na provisão de suas necessidades básicas.
Frequentemente a violência contra idosos é denominada como maus-tratos e abusos. Esse
conjunto de termos se refere a abusos físicos, psicológicos e sexuais, assim como o abandono, as
negligências, os abusos financeiros e até mesmo a auto-negligência.
É importante enfatizar que a negligência é uma das formas de violência contra os idosos
mais presentes em nosso país. É conceituada como a recusa, omissão ou fracasso, por parte do
responsável pelo idoso, em proporcionar-lhe os cuidados de que necessita, principalmente ao idoso
que se encontra em situação de dependência ou incapacidade. Isto ocasiona, frequentemente,
lesões e traumas físicos, emocionais e sociais.
Os dados bibliográficos mostram que 95% dos casos de violência contra os idosos ocorrem
na família, dentro da própria casa, onde o choque de gerações, problemas de espaço físico e
dificuldades financeiras costumam se somar a um imaginário social que considera a velhice como
“decadência” (Minayo & Coimbra Jr, 2002), contribuindo para o afastamento do idoso do convívio
social e familiar. Este isolamento social tem uma relação direta com a ocorrência de maus-tratos
e com a incapacidade dessas pessoas em obter ajuda de terceiros para acabar com o ciclo da
violência.
Outra forma usual que acontece dentro da família é o abuso financeiro, que ocorre quando os
familiares se apropriam da aposentadoria do idoso e não permitem que ele tenha acesso a um
recurso que lhe pertence.
O Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) em 2000, de acordo com a FIOCRUZ,
referencia que 39,6% dos agressores eram filhos das vítimas. E estudos internacionais, como os
de Chavez (2002) e Kleinschmidt (1997), também demonstram que 90% dos casos de maus-
tratos e negligência ocorrem nos lares. Essas pesquisas revelam que cerca de 2/3 dos agressores
são filhos e cônjuges dos idosos vitimizados (Chavez, 2002; Reay & Browne, 2001; Williamson
& Schaffer, 2001). Tais dados, além de mostrar o ambiente familiar como conflituoso, abusivo
e perigoso, ressaltam o fato de a questão do idoso continuar a ser, na maioria das sociedades,
responsabilidade das famílias.
Um fator que parece contribuir para a perpetuação da violência domiciliar estaria relacionado
tanto à existência de um grande número de idosos dependentes de suas famílias, dado o aumento

* Especialista em Psicologia Hospitalar.

68
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

da expectativa de vida da população, quanto à vulnerabilidade e fragilidade do seu estado de


saúde.
Estudos nacionais (Menezes, 1999; MS, 2001) e internacionais (Anetzberger et al., 1994;
Ortmann et al., 2001; Wolf, 1995) demonstram que existe um perfil do abusador familiar: por
ordem de frequência, costumam ser, em primeiro lugar, os filhos homens mais que as filhas; a
seguir, noras, genros e esposos. E de acordo com o IBGE, 55% são mulheres idosas que sofrem
violência. Nota-se, então, a forte influência da violência de gênero que existe na sociedade nos
diversos níveis, classes e faixas etárias. É importante destacar a grande dificuldade dessas idosas
em denunciar o próprio filho ou neto passando um processo, até mesmo, de culpabilização.
Outros indicadores podem ser assinalados, tais como: agressor e vítima viverem na mesma
casa; o fato de os filhos serem dependentes financeiramente de seus pais de idade avançada; os
idosos dependerem da família para sua manutenção e sobrevivência; o abuso de álcool e drogas
pelos familiares; haver, na família, vínculos frouxos, com pouca comunicação e afeto; o idoso ter
sido ou ser uma pessoa agressiva nas relações com seus familiares; haver história de violência na
família e os cuidadores terem sido vítimas de violência doméstica.
A violência contra o idoso é tida como uma das mais severas e desiguais formas de agressão, visto
que há uma ampla relação de desigualdade do ponto de vista físico e psicológico. Isto ocorre devido
aos déficits auditivo, visual, motor e cognitivo que o idoso apresenta, tornando-o mais dependente
de cuidados, além de ser submetido a situação constrangedora diante dos outros familiares. Esses
fatores em conjunto, ou mesmo isoladamente, são capazes de desencadear situações de maus-
tratos e de negligência contra o idoso no âmbito doméstico.
Portanto, a qualidade da relação antes do adoecimento ou anterior ao estado de dependência
do idoso em relação ao cuidador/familiar, é que determina a forma positiva (dedicação amorosa)
ou negativa (castigo ou punição) do tratamento dispensado. Portanto, depende dos vínculos e das
formas de relacionamentos anteriores entre pais e filhos.

Como prevenir

A violência afeta a saúde, apesar de não ser um problema especifico desta área. Como afirma
Agudelo (1990), “ela representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a
vida, altera a saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade próxima”.
Ou como analisa a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em seu último documento sobre o
tema: “a violência, pelo número de vítimas e a magnitude de sequelas orgânicas e emocionais que produz,
adquiriu um caráter endêmico e se converteu num problema de saúde pública em vários países” (...)
“O setor saúde constitui a encruzilhada para onde confluem todos os corolários da violência, pela pressão
que exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência, de atenção especializada, de reabilitação física,
psicológica e de assistência social” (OPAS, l993: 01).
A área da saúde tem concentrado seus esforços em atender as consequencias da violência: o
tratamento dos traumas e lesões físicas nos serviços de emergência, na atenção especializada, nos
processos de reabilitação, nos aspectos médico-legais e nos registros de informações. Ultimamente,
em relação à violência em todas as faixas etárias começa a haver uma abordagem mais sistemática
que inclui aspectos psicológicos e sociais tanto em relação ao impacto sobre as vítimas como nos
fatores ambientais e características da família e dos agressores.
A mensagem mais importante que se pode dar a partir do setor saúde é que, na sua maioria, os
eventos violentos e os traumatismos não são acidentais, não são fatalidades, não são falta de sorte:
eles podem ser enfrentados, prevenidos e evitados.
Por isso, é importante voltar nossa atenção para a Prevenção (ações preventivas). Para tal,
faz-se necessário a sensibilização dos profissionais para a temática da violência, estimulando a
compreensão e o reconhecimento dos fatores de risco e, como consequência, criar estratégias para
algumas causas específicas. Os profissionais da saúde, juntamente com outros setores e com as
comunidades locais, têm se mobilizado, sobretudo, na quebra do ciclo repetitivo da violência. Por
isso, é preciso despertar e manter a sensibilidade dos profissionais para com os atos de covardia e
injustiça praticados contra a vida humana.
  Prevenção significa antecipação de mecanismos protetores sobre uma situação de risco. Na
área da saúde, prevenção é uma ação fundamental, tanto no que diz respeito aos fatores desenca-

69
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

deantes dos agravos, como nos atos terapêuti-


cos. A ideia central é que a maioria dos casos
de violências reincidirá (com igual ou superior
gravidade) se não houver alguma ação que in-
terrompa sua dinâmica.
De acordo com a experiência, as práticas
educativas têm como objetivo estimular a
percepção e a reflexão das pessoas de forma
pragmática e responsável (consciência críti-
ca e criativa), promovendo o autocuidado e,
consequentemente, melhorando a qualidade
de vida.
Por isso, nos serviços básicos de saúde, os
profissionais podem atuar como importantes
aliados na prevenção primária das violências
domésticas contra o idoso, seja atuando em
grupos educativos, seja nas atividades dos
agentes de saúde ou nos grupos comunitá-
rios.
É fundamental destacar que o papel do pro-
fissional de saúde é de grande importância,
uma vez que ele tem acesso direto ao idoso
nas diferentes complexidades da assistência.
Assim sendo, deve estar capacitado e prepara-
do para realizar a prevenção primária e secun-
dária, identificar casos de abusos contra os
idosos, bem como dar encaminhamentos corretos a cada situação e prestar orientações à família,
atentando para a satisfação das necessidades físicas, psicológicas e sociais de cada vítima.
Faz-se necessário destacar que qualquer ação para superar a violência deve passar por uma
articulação intersetorial, interdisciplinar, multiprofissional e com organizações da sociedade civil e
comunitárias que militam por direitos e cidadania. E, sobretudo, superarmos noções de “fatalidade”
e/ou “inevitabilidade” para justificar ou minimizar atos de violência.
Destacamos quatro aspectos necessários para que o profissional de saúde possa fundamentar
suas ações no enfrentamento da violência:

1) Reconhecer a dignidade das pessoas;


2) Respeitar o outro;
3) Respeitar os valores humanos;
4) Não julgar/prejulgar.

E, principalmente, se colocar no lugar do outro. Identificar-se com ele se trata de empatia,


o que é suficiente para que vários atos de covardia e abuso fossem reconhecidos e combatidos
não apenas pelos profissionais de saúde, mas por toda a sociedade, amenizando o sofrimento de
muitos idosos.

Formas de Prevenção:

S ensibilizar a população para respeitar os direitos do idoso;


I nformar sobre seus direitos, tendo por referência o Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, de
01 de outubro de 2003;
I nformar sobre as penalidades em caso de violação de direitos;
M otivar para exercício físico adequado a sua idade e condições de saúde e para a alimentação
correta. Com isso, o idoso terá condição de viver mais, ter mais disposição para trabalhar
e mais qualidade de vida;

70
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

B uscar estratégias para evitar o isolamento social;


S ocializar o idoso;
P roporcionar momentos de lazer junto com a família;
C riar/aumentar sua rede social;
M otivar para denunciar os casos de violência;
E mpoderar o idoso para: tomada de decisão, o direito de escolha, a liberdade de expres-
são, o direito à saúde e o direito de envelhecer saudável e com dignidade;
I dentificar e orientar familiar dependente de álcool e/ou drogas;
E stimular o interesse por coisas novas;
N ão desvalorizar e/ou simplificar a doença do idoso;
P romover o autocuidado e incentivar a autoproteção;
M otivar o idoso a sentir-se parte da família;
E stimular o convívio familiar e o contato constante com os filhos;
P ossibilitar autonomia (dentro do possível);
P revenir aos acidentes e quedas;
A dequar a casa às dificuldades motoras dos idosos, por exemplo: uso de tapetes anti-
derrapantes e apoio nos banheiros, melhor iluminação, colocação de corrimão em áreas
arriscadas, eliminação de tapetes soltos ou outros obstáculos;
Oferecer horizontes para novas realizações, seja
no campo do conhecimento, incluindo meios de
despertar sua curiosidade para as novas tecno-
logias, ou aproveitando suas habilidades adqui-
ridas ao longo da vida;
A valiação domiciliar de: problemas relativos
ao idoso ou seu cuidador, indagar sobre a
dependência econômica dos filhos, problemas
passados que tenham relação com alguma forma
de violência e dificuldades de relacionamento
interpessoal;
O rientar para mudança de crenças e atitudes
tanto nos comportamentos individuais quanto
no ambiente;
I ncentivar a ter uma atividade, seja ela qual for,
para que possa sentir-se útil;
E vitar infantilizar os idosos com o uso de dimi-
nutivos na comunicação com eles, o que lhes di-
minui importância e os torna menos confiantes
em si próprios;
A bertura para diálogo e argumentação franca
entre os membros da família;
P romover orientações ao cuidador, para que ele
busque estratégias para dividir as tarefas junto
ao idoso;
E stratégias educativas na comunidade.

Atuação do profissional de saúde:

O
 bter lista de referência de instituições, serviços, organizações governamentais e não-
governamentais que possam receber os encaminhamentos dos casos de violência contra o
idoso, integrando uma rede de atenção e prevenção;
E
 stabelecer rotinas de atuação tanto para os casos de violência quanto para indicadores
que podem desencadeá-la;
P
 lanejar ações de prevenção junto à comunidade;

71
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

I nserir nos grupos da Atenção Básica de Saúde a temática da violência;


I ntervir o mais precocemente possível nas comunidades afetadas buscando sua colaboração;
C omunicação e a troca de impressões entre profissionais da equipe multiprofissional;
E xercitar a observação e avaliação;
A dotar uma postura de aprendizado contínuo;
R econhecer os sinais deixados pelas lesões e traumas que chegam aos serviços de saúde ou
levam a óbitos, fazendo uma leitura de violência;
P
 restar atenção à aparência do idoso;
P
 restar atenção ao fato do idoso procurar seguidamente o serviço de saúde para o mesmo
diagnóstico;
A
 tenção às repetidas ausências às consultas agendadas e aos sinais físicos suspeitos e às
explicações improváveis de familiares para determinadas lesões e traumas.

Importante: No caso de você observar a ocorrência de abusos ou negligências, deve providenciar


um monitoramento mais cuidadoso que inclua visitas domiciliares periódicas, e se for o caso,
que denuncie às autoridades competentes, a existência de maus-tratos, para que estas tomem
providências relativas a proteção dos idosos e a penalização dos abusadores.

Referências Bibliográficas

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Epideniologico de la OPS, 11: 01-07.
AGUDELO, S. F., 1989. Violencia y/o Salud: Elementos Preliminares para Pensarlas y Actuar. Washington,
DC: PAHO/OMS. (Mimeo)
DESLANDES, S. F 1999. O atendimento às vítimas de violência na emergência: “prevenção numa hora
dessas?, Ciênc. saúde coletiva, vol.4, nº 1, Rio de Janeiro.
IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm. Acessado em 10
de agosto de 2008.
JUNIOR, C.M.P & REICHENHEIM, M.E, 2006. Uma revisão sobre instrumentos de rastreamento de vio-
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MENEZES, M. R., 1999. Da Violência Revelada à Violência Silenciada. Tese de Doutorado, Ribeirão
Preto: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.
MINAYO, M. C. S. Violência social sob a perspectiva da saúde pública. Cad. Saúde Pública, vol.10 supl.
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OLIVEIRA, A.C.P, SILVA, C.A, CARVALHO, L.S, MENEZES M.R, 2007. A construção da violência contra
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PASSARINHO, Marcelle. “O Envelhecimento e seus Destinos”. In VILELA, L. (coord.) Enfrentando a
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VILELA, Laurez F (coord.). Manual para Atendimento às Vítimas de Violência na Rede Pública do DF.
Brasília: Secretaria de Estado de Saúde, 2008.

72
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Novas possibilidades de relações Módulo V

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

Verônica Nascimento*

Risco para a Saúde do Trabalhador

O Assédio Moral constitui um risco concreto à


saúde dos trabalhadores, devendo ser eliminado
antes que a Saúde do Trabalhador se deteriore.
Novas exigências nas relações de trabalho vêm
contribuindo para o estabelecimento de ambien-
tes desumanizados ao extremamente competiti-
vos, cau­sando sofrimento e adoecimento do tra-
balhador.
A principal e mais eficaz forma de prevenção
está na informação.

O que é o Assédio Moral no local de trabalho?

É a exposição do trabalhador ou grupo de trabalhadores a situações de constrangimentos e


humilhações que causam dano à dignidade, integridade psíquica e/ou física do trabalhador.

Quem pratica?
C
 hefias contra seus subordinados;
E
 ntre colegas do mesmo nível;
S
 ubordinados em relação aos chefes.

O que caracteriza o assédio moral

R etirar os instrumentos de trabalho (telefone, fax, computador, mesa, etc);


S onegar informações indispensáveis ao desempenho das suas funções;
P edir-lhe, sem necessidade, trabalhos urgentes ou sobrecarregá-lo com tarefas;
I gnorar a presença do trabalhador na frente dos outros e/ou não lhe dirigir a palavra;
I mpor-lhe horários injustificados;
S egregação física do trabalhador no ambiente de trabalho, ou seja, casos em que o mesmo
é colocado em local isolado, com dificuldade de se comunicar com os demais colegas;
I mpedir o trabalhador de expressar-se, sem explicar os motivos;
C ircular boato maldoso e calúnias sobre o trabalhador e/ou insinuar que ele tem problemas
mentais ou familiares;
G ritar, xingar, apelidar, contar piadas para ridicularizar o trabalhador;

* Assistente Social.

73
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

M
 arcação sobre o número de vezes e o tempo que permanece no banheiro;
D
 esvalorização da atividade profissional do trabalhador;
T
 roca de horários ou turnos do trabalhador sem avisá-lo;
P
 roibição de tomar cafezinho ou redução do horário das refeições;
A
 dvertência em razão de atestados médicos ou de reclamação de direitos;
A
 s condutas de assédio têm como alvo frequente as mulheres e os trabalhadores doentes,
ou que sofreram acidentes do trabalho, que são discriminados e segregados;
P
 erseguição constante e, ao mesmo tempo, a indução das pessoas que trabalham no
mesmo ambiente a comportamentos que reforcem a discriminação.

O que se pretende com a prática do Assédio Moral:

D esqualificar e desestabilizar emocionalmente a relação do trabalhador com o ambiente


de trabalho;
P rovocar um clima de medo no ambiente de trabalho;
F azer com que o trabalhador tenha uma má imagem de si próprio e que o mesmo seja
desacreditado;
I nduzir o trabalhador ao erro;
F orçar o trabalhador a pedir demissão ou remoção para outro local de trabalho.

O que o Assédio Moral acarreta como danos à saúde do trabalhador?

I rritação constante, falta de confiança em si próprio;


F adiga;
A lterações do sono: pesadelos, insônia;
A lteração da capacidade de concentrar-se e memorizar;
I nteresse claramente diminuído em manter atividades consideradas importantes anterior-
mente;
S entimento de culpa;
V ivência depressiva;
P ensamentos e/ou tentativas de suicídio;
M udança de comportamento. Pode reproduzir a violência moral;
A umento de peso ou emagrecimento exagerado;
D istúrbios digestivos;
A gravamento de doenças pré-existentes;
H ipertensão arterial;
T remores. Palpitações;
D iminuição de libido;
D ores de cabeça;
E stresse;
A gravamento do diabetes;
A umento de consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas.

Dicas para se defender do Assédio Moral

R
 econheça-se como vítima do assédio;
N
 ão permita o sentimento de culpa, medo ou vergonha impostos pelo agressor;
F
 aça anotações sobre as humilhações a que você vem sendo exposto(a);
F
 aça um registro diário e detalhado, mas não esqueça nenhum detalhe, tais como nome
do(a) chefe, local, data, tarefa, agressão, colegas que estavam presentes;
E
 xija explicações do agressor por escrito, guardando sempre comprovante do envio e da
possível resposta. Se possível, procure conversar sempre na presença de testemunhas;

74
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

C
 omunique ao Departamento de Pessoal ou Recursos Humanos;
P
 rocure orientação jurídica junto aos sindicatos da categoria, para denunciar o assédio
moral;
A
 proxime-se de seus colegas, conte-lhes o que está acontecendo, peça ajuda de todo (a)s;
B
 usque reforçar a solidariedade no local de trabalho;
P
 rocure saber quem já sofreu humilhações e faça um dossiê conjunto;
B
 usque apoio da família, dos amigos, nesses momentos é muito importante para o
restabelecimento da sua autoestima e equilíbrio psicológico;
S
 e você está sofrendo qualquer mudança de comportamento ou se sua saúde estiver
abalada, procure ajuda médica ou psicológica;
A
 credite nos sinais de alarme do seu corpo, como stress, gastrite ou depressão;
P
 rocure um médico para o diagnóstico da doença.

O que pode ser usado como prova de Assédio Moral?

T
 estemunhas;
G
 ravações das agressões;
F
 ilmes de circuito interno de TV;
D
 ocumentos, advertência por escrito ou outro documento encaminhado à vítima.

Há proteção legal para as vítimas?  dica mais importante


A
para as vítimas de vio-
A legislação específica sobre assédio moral no Brasil lência moral no traba-
ainda está em fase de construção. Existem várias leis e
lho é resistir;
projetos de lei nesse sentido. Nesse contexto, constituir um
advogado é fundamental.  ais importante que se
M
Entretanto, já é possível pleitear a tutela dos direitos manter no emprego é
do trabalhador com base no dano moral trabalhista e no não perder a capacida-
direito ao meio ambiente de trabalho saudável, garantidos de para o trabalho.
pela Constituição Federal.
No campo da Previdência (para trabalhadores celetistas),
a luta é para fazer com que o assédio moral seja reconhecido como doença relacionada ao trabalho.
E aí a importância de emitir a CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho, descrevendo a patologia
como assédio moral.

Assédio Moral pode gerar indenização?

Sim. Os danos sofridos pela vítima podem gerar perdas de caráter material e moral surgindo
o direito à indenização. Em muitos casos, a vítima acaba por pedir demissão ou, no caso de
servidor público, exoneração, abandonando o emprego ou o cargo, o que deve ser indenizado. A
indenização por danos materiais pode abranger:

G
 astos com doenças em função do assédio moral, com tratamentos médicos e medica-
mentos;
O
 que a vítima deixou de ganhar, como no caso do trabalhador que pediu demissão
ocasionada pelo assédio, deixando assim de receber seus vencimentos;
D
 ano moral, relativo ao sofrimento psicológico que a vítima suportou em virtude do assédio
moral.

O Assédio Moral no Serviço Público

A prática do assédio moral no Serviço Público pode gerar Punição Disciplinar (Administrativa e
Trabalhista).

75
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

O assediador pode receber punições disciplinares, de acordo com o que tiver previsto no Estatuto
do Funcionalismo Público de cada órgão governamental.
Por exemplo, a conduta do assediador pode ser enquadrada numa das punições previstas no
Regime Jurídico Único – RJU – porque afronta o dever de moralidade, podendo constituir-se em
incontinência de conduta.

Como deve se posicionar o Empregador (Empresa) diante do Assédio Moral?


Cabe ao empregador, diante do assédio moral, tomar as seguintes providências:

I nvestir no relacionamento entre os seus funcionários. Conscientizar os trabalhadores


sobre a importância da realização de seminários, palestras e outras atividades voltadas à
discussão do problema.
T rabalhar insistentemente para que exista um clima saudável na empresa;
D iagnosticar o assédio, identificando o agressor, investigando seu objetivo e ouvindo
testemunhas. Avaliar a situação, através de ação integrada dos recursos humanos, da CIPA
e de SESMT;
C onversar com as partes envolvidas separadamente e depois em conjunto, para saber a
visão de ambas sobre o caso; caso isso não seja possível, deverão ser adotadas medidas
disciplinares contra o assediador, inclusive sua demissão, se necessária;
E stabelecer um código de conduta que deve ser seguido por todos os trabalhadores, que
proíba todas as formas de discriminação e de assédio moral;
C riar na empresa “espaços de confiança”, para que o funcionário possa denunciar o assédio
moral;
O ferecer todo o apoio médico e psicológico à vítima e, caso já tenha sido demitida, a sua
readmissão;
S e for necessário, é importante encaminhar o assediador para um tratamento psicológico
ou até mesmo psiquiátrico.
E missão da CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho;
E mpresa de pequeno porte, em que o assediador seja o próprio empregador, somente a
conscientização e a prevenção do empregador pode ser eficaz contra o assédio moral.

Onde Procurar Ajuda?

GAVAM – Grupo de Apoio às Vítimas de Assédio Moral no Trabalho


Coordenadora: Verônica Nascimento
Contatos: assediomoral.df@gmail.com Telefone: 3346-8051

CEREST – Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador


SEPS 712/912 Bloco D – Prédio Central da Diretoria de Saúde do Trabalhador/DISAT/SFHS/SES
Telefone: 3346-8051

DRT/DF – Núcleo de Combate a Discriminação no Mercado de Trabalho


SEPN 509 Bloco E, Edifício Sede da SRTE/DF Telefone: 3340-3246

MPT – Ministério Público do Trabalho


E-mail: www.prt10.mpt.gov.br Telefone: 3340-7989

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil


Telefone: 3036-7000

Câmara Legislativa do Distrito Federal – Comissão dos Direitos Humanos Cidadania e Ética
Telefone: 3966-8700

Assédio Moral
Endereço na Internet – http://www.assédio moral.org

76
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Referências Bibliográficas

HIRIGOVEN, Marie-france. Assédio Moral – A Violência Perversa no Cotidiano. São Paulo: Editora Ber-
trand, 2000.
____. Mal-estar no Trabalho – Redefinindo o Assédio Moral. São Paulo: Editora Bertrand, 2002.
HELOANI, Roberto. Gestão e Organização no Capitalismo Globalizado / História da Manipulação Psico-
lógica no Mundo do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2003.
BATALHA, L. R. Assédio Moral em Face ao Servidor Público. Rio de Janeiro: Editora Noa, 2005.
BARRETO, Margarida. Violência, saúde, trabalho – Uma jornada de humilhações. Dissertação de mes-
trado em Psicologia Social, PUC, São Paulo, 2000.
NASCIMENTO, Verônica Lopes da Silva. Base legal para ação de vigilância em saúde do trabalhador na
questão assédio moral. Monografia apresentada no âmbito do Curso de Especialização em Direito
Sanitário para Profissionais de Saúde, Fundação Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro 2003.

Cartilhas:
Núcleo de Combate à Discriminação e Promoção da Igualdade de Oportunidades. Assédio moral no
local de trabalho. Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. Sem data.
Núcleo de Estudo e Ações sobre Violência no Trabalho. Cartilha Violência no Trabalho. Câmara Legis-
lativa do Distrito Federal. Brasília. 2008.

77
No caminho pedagógico da paz nas águas
Marly A. Simões e Silva*
Vera Lessa Catalão**

Se tivéssemos que utilizar um elemento da natureza para fortalecer as palavras de ordem de


programas como as Escolas de Paz1, que incentivam a cada um de nós, principalmente a criança,
a respeitar a vida, ser generosa, ouvir para compreender, preservar o planeta e redescobrir a
solidariedade... que elemento seria este? Seria, sem dúvida, a água.
A gente ouve dizer que: “se eu quero mudar o mundo, preciso começar comigo mesmo: nos
pensamentos, nas palavras, nas ações”. E como este elemento poderia ajudar a encurtar a distância
entre o “pensar” e o “agir” das pessoas?
Existiria uma forma de demonstrar que os pequenos esforços diários podem nos transformar?
Que ao ajudarmos e respeitarmos uns aos outros, vivemos com muito mais alegria e felicidade?
Que vale a pena investir na alegria, pois ela é contagiante? 2 E que as emoções, os pensamentos, os
estados de relaxamento e meditativos influenciam a bioquímica do nosso corpo...? 3,4
A Água, sob muitas perspectivas, é considerada a matriz da vida! Educadores, profissionais
da saúde, da área social, ambientalistas, cientistas de diversas áreas, têm eleito este elemento
como aquele que mais favorece grandes transformações, seja no aspecto individual, social ou
ambiental.
A água é considerada o traço de união entre os registros da natureza e a cultura, mediadora de
uma ecopedagogia da flexibilidade, do fluxo, do ritmo e da alternância, da receptividade, da visão
sistêmica, do pensamento reflexivo e do movimento contínuo que alterna permanência e mudança,
da aceitação e da plasticidade.5,6 O que isso tudo significa?
Significa que a água é o elemento que compõe 70% do corpo físico humano e 70% do corpo
terrestre. Significa que a fluidez que cria e transforma a vida planetária depende do movimento
constante da água, de sua flexibilidade viva. Que as bacias hidrográficas e seus inúmeros afluentes
organizam-se em um sistema circulatório como o do corpo humano: veias, artérias, vasos e tecidos
irrigados. Ela faz interagir todas as funções vitais que são animadas pelo ar e pela respiração.
Significa ainda que as águas correntes existentes no corpo humano e no corpo da Terra propiciam
a purificação e a regeneração, enquanto as águas paradas simbolizam a degeneração e a morte.5
A água mantém seu estado vital através de movimentos rítmicos e próprios, circulares e espirais7.
No corpo humano algo similar acontece.
Para Gaston Bachelard, a água é o único dos elementos que possui o dom de embalar; somente
a água nos envolve e nos transporta novamente ao ventre materno.8
Ela é o elemento das mudanças, das metamorfoses. As diversas fases do embrião no líquido
amniótico nos remetem às diversas formas das águas nos estados de criação: o elemento líquido
predomina, como podemos perceber na folhas jovens ou na quantidade de água presente no corpo
dos fetos dos animais, que em alguns chega a 95%.5
E onde quer que a água apareça, ela tende a propiciar o diálogo das polaridades que se estabelece
entre águas diferentes, quando confluem-se ou separam-se. A mistura de águas que se estranham
e finalmente se fundem, evoca interações das diferenças, postura essencial para as práticas de
Educação Ambiental5 e para a promoção da Cultura da Paz.
Para que haja paz, seres diferentes preservam suas naturezas mas estabelecem trocas, numa
relação criativa entre os contrários. “A Paz, assim como a água, constitui-se nesse movimento e
portanto não aceita a estagnação de energias e de atitudes. A circulação, a inclusão, a troca e a
recriação, a partir do acolhimento das diferenças, são qualidades da Paz e da Água. Para uma gota,
isolar-se é morrer”.9

* Médica pediatra e acupunturista, lotada no Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração (NUMENATI), da Secretaria
de Estado de Saúde do Distrito Federal, na coordenação da Meditação. meditacao.ses.gdf@gmail.com
** Mestre em Educação pela UnB e Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Paris VIII (2002), tem como linha de pesquisa
a abordagem transversal em projetos de Educação Ambiental, especialmente sobre o tema Água e seus aspectos culturais e simbólicos.
É professora na graduação e na pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação-UnB e coordena o Núcleo da Agenda Ambiental
da UnB vinculado ao Decanato de Extensão. vera.catalao@terra.com.br

78
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

O ser humano também adoece com o isolamento; sua natureza é nutrida pela solidariedade e
pela união com os outros seres vivos.
A paz também é receptiva como um rio que a todos acolhe. A humildade é uma outra qualidade
pacifica da água, ou aquática da paz: a água coloca-se nos níveis mais baixos do relevo – quanto
mais baixo coloca seu leito, mais receptiva estende seus braços. O rio principal de uma bacia
hidrográfica é o que mais baixo se encontra e pode assim receber e incluir os demais. A modéstia
da água é louvada por S. Francisco de Assis e pelos taoístas.9
Diz o Taoismo que “Nada no mundo é mais dócil e frágil que a água. Entretanto, nada a supera para
afetar o que é rígido e forte e ninguém pode igualar-se à água em persistência”.
A paz da água é uma paz que persevera no seu intenso desejo de estar em relação e em incluir
o que está à margem.9
A água nos leva ainda a uma abordagem transdisciplinar e transversal que nos permite articular
saberes sistematizados a saberes que emergem da prática, da cultura popular, das expressões
estéticas e simbólicas presentes nas artes, mitos e religiões. A água possui uma dimensão ecológica
essencial tanto no campo das ciências da natureza e das ciências humanas, além de permitir a
ecologia dos saberes,10 incluindo o senso comum.
A sensibilidade que a água detém em seu estado original consegue captar e registrar estímulos
diversos que recebe e dá forma às influências ambientais que a envolvem5. Schwenk, estudioso
de engenharia hídrica e dos fenômenos climáticos, em sua grande obra Caos Sensível11, faz uma
afirmação inédita e ousada: “A água é tão sensível que não se restringe somente a responder às
modificações à sua volta; ela recebe também as influências sutis e imponderáveis, procedentes do
universo”.
O vídeo Water – The great mystery12 destaca pesquisas, como as de Jacques Benveniste5, sobre a
memória da água. Demonstra que a água traz para as células a informação sobre a organização dos
seres vivos e que a Água é comunicadora e guardiã da memória dos códigos da vida.
O pesquisador japonês Masaru Emoto13 aponta na mesma direção sobre a capacidade da água
em carrear informações. Vejamos uma síntese e alguns exemplos do livro de Emoto “A Mensagem
da Água”, no qual ele apresenta fotografias das moléculas congeladas da água quando expostas a
estímulos como os pensamentos e sentimentos humanos e confirmam esta sensibilidade.

A Mensagem da Água13

O pesquisador japonês Masaru Emoto descobriu que ao congelar a água e observá-la em um


microscópio é possível identificar formas de cristais hexagonais no gelo, a exemplo do que acontece
com a neve. Ele realizou mais de 15.000 fotografias e concluiu que as diferentes formas dos cristais
podem estar relacionadas a diversos fatores a que a água se expõe, como por exemplo as águas
límpidas de uma nascente e as águas poluídas de um rio.
Aprofundando sua pesquisa, levantou a hipótese de que ela poderia também responder a
eventos não físicos. Realizou então vários estudos onde aplicou estímulos mentais, falados ou
escritos, a frascos de água de diversas procedências e fotografou os resultados ao microscópio de
campo escuro. Os resultados são surpreendentes! Percebeu que a vibração das palavras, o som
das músicas, as diferentes imagens e até mesmo os diferentes pensamentos, provocam na água
diferentes respostas, mostradas pelas imagens dos cristais.
Destacamos, abaixo, algumas imagens que ilustram a referida pesquisa. Estes exemplos e este
texto podem favorecer e despertar reflexões sobre o tema Paz e Água, com a comunidade atendida:

Como sabemos, a maior parte do nosso corpo é água, cerca de 70%.


Com o nosso planeta acontece a mesma coisa: 70% de toda superfície da Terra está coberta de
água. Por isso a Terra também é chamada de Planeta Água.
Olhe ao redor e veja como a água faz parte da sua vida! Ela pode existir de muitas formas: na chuva,
nos rios, no mar. No céu, a água aparece em forma de nuvens. Toda a água é preciosa para nós!
Mas nenhuma água é igual a outra. Cada uma delas tem uma mensagem diferente. Esta mensagem
pode aparecer na forma de cristais. Observe as fotografias.

79
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Experiência 1

 ma primeira garrafa com água recebeu uma etiqueta com a palavra “Paz”
U
Na segunda, foram escritas as palavras “Você me adoece. Eu vou matar você”
Numa terceira garrafa foram colocadas as palavras “Amor e Gratidão”
E, finalmente, uma quarta recebeu a palavra “Sabedoria”.

Assim, as quatro garrafas foram deixadas durante uma noite. Na manhã seguinte amostras
foram colhidas, congeladas e na sequência as fotografias foram realizadas.
Vejam as diferenças entre os cristais!
A experiência foi realizada inúmeras vezes e os resultados foram sempre os mesmos.

80
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Experiência 2

Poderia a água detectar diferenças entre as mensagens colocadas nos rótulos com as
seguintes palavras?
“Faça isso!” (como alguém dando uma ordem)
“Vamos fazer isso!” (como um convite para realizar uma tarefa em conjunto)
Fizeram o teste.
Observem as imagens dos diferentes cristais que se formaram!

AMOSTRA DE ÁGUA CUJO FRASCO FOI SUBMETIDO


AO SOM DO “HINO NACIONAL DO BRASIL”

Experiência 3

E como será que a água responderia ao som de diferentes músicas?


Também foi realizada esta experiência. Duas garrafas de água foram deixadas entre duas
caixas de som durante toda a noite, cada uma delas exposta a uma música diferente, em
ambientes diferentes. Na manhã seguinte estas amostras foram congeladas e foram tiradas
fotografias dos cristais. O que lhes parece?
A água demonstra que ficou positivamente influenciada pela música harmoniosa!

81
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Experiência 4

Foram colhidas três amostras de água no lei-


to de um rio.
A primeira amostra foi na nascente do rio.
A segunda no leito médio do mesmo rio.
A terceira amostra foi colhida próximo a uma
cidade que lançava muito lixo neste rio.
Vejam os resultados!

Experiência 5

Foram colhidas amostras de água de uma


represa no Japão, antes e depois de um gru-
po de pessoas fazer orações para as águas.
Foto menor – cristal antes da oração.
Foto maior – cristal depois da oração.
O que acham?

Dos resultados desta pesquisa surgiu, em 2006, o projeto “Emoto para a Paz”, que consiste em levar,
gratuitamente, a todas as crianças do mundo a seguinte mensagem: água é vida; eu sou água;
pacificar a água é pacificar a mim mesma e pacificar o mundo. Este projeto integra as atividades
desenvolvidas para a Década Internacional da Água (2005-2015) e Década Internacional da Paz
(2000-2010), ambas promovidas pelas Nações Unidas. Um livro infantil com esta mensagem foi
criado pelo Instituto Emoto e traduzido, até o momento, para 12 idiomas. O mais recente, em
português, foi lançado em outubro de 2009, em Brasília, pelos integrantes do Centro de Estudo
Transdisciplinar da Água (CET-Água) do qual a Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
faz parte. O evento contou com a presença do pesquisador Masaru Emoto e o livro está disponível
para reprodução e utilização nas atividades de educação em saúde promovidas pelos serviços da
SES-DF e oferecidos à comunidade.
O Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração (NUMENATI/GRMH/DIASE) e a Dire-
toria de Vigilância Ambiental em Saúde (DIVAL) representam a SES-DF no CET-Água, incentivando
e valorizando os múltiplos olhares sobre a Água, numa abordagem inclusiva sobre seu sentido,
propriedades e ética do uso, extrapolando a esfera do olhar utilitarista sobre este elemento que nos
dá a vida.

“Se pensarmos que mais de 70% do nosso corpo é composto por água, imagine o que nossos
pensamentos podem fazer conosco e como deveríamos tratar as pessoas e o ambiente”
(Demetrios Christofidis)

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Conclusão

Se queremos uma nova ordem, com mais paz, justiça, equidade e felicidade, temos que reor-
denar nossas atitudes e hábitos. Mesmo que, aparentemente, façamos pouco globalmente, muito
podemos fazer localmente. Podemos começar, por exemplo, pela racionalização do uso da água em
nossas casas e pelo consumo ético e saudável dos alimentos mais ecológicos.
Do ponto de vista da ecologia interior, também podemos contribuir para a paz e o equilíbrio
planetário ao assumir novas atitudes, fomentar e vivenciar pensamentos e sentimentos de solidarie-
dade e respeito à alteridade. Nada existe separado, a vida é relação. Quem melhor que a água para
tornar visível a teia de relações e o contexto favorável que está na origem e na manutenção da vida?
A água faz a mediação do Eu interno e o Eu externo. Ela é a matriz que nos leva a dialogar com a
nossa essência cósmica. O estado meditativo favorece o re-encontro do Ser com suas Águas.
A água pode funcionar pedagogicamente como traço de união entre a ação local e a perspectiva
global, práticas coletivas e subjetivas de grupos e indivíduos envolvidos na formação.
Uma pedagogia da Água é um convite para uma aproximação multirreferencial desse elemento:
água como bem ecológico, água como bem econômico, água como bem comum, água como maté-
ria carregada de simbolismo. Uma pedagogia da água enfatiza sobretudo a sua imensa capacidade
de estimular condutas, lançar pontes sobre a memória adormecida e latente dos estados primor-
diais que nos originaram. Pensar a água é, também, ouvi-la, senti-la em todos os seus estados,
inclusive no estado de graça.14
Se um dia a consciência reflexiva nasceu da contemplação em águas plácidas e transparentes,
podemos evocar essa lembrança arquetípica para estabelecer uma nova aliança com as águas pela
paz, por escolha, sentimento e razão.

Referências Bibliográficas

1. DISKIN, Lia. Paz; ROIZMAN, Laura G. Paz como se faz? semeando cultura de paz nas escolas. Rio
de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.
2. FOWLER, H. James; CHRISTAKIS A. Nicholas. Dynamic spread of happiness in a large social the
Framingham Heart Study network: longitudinal analysis over 20 years in.
3. TOSTA, C. Eduardo. A Prece Cura. Brasília Med, 2004; vol. 41:38-45.
4. TOSTA, C. Eduardo. A Psiconeuroimunologia do Amor e Meditação. Palestra no projeto Abraçando
a saúde: Qualidade de Vida, humanização das relações e prevenção das doenças crônicas não-
transmissíveis. LACEN – Brasília 7/12/2007.
5. CATALÃO, L. Vera. “A água e os movimentos criativos na natureza e na cultura” In: Roteiros de um
curso d´água. Vera L. Catalão e Maria do Socorro Rodrigues (orgs). Brasilia: Unesco/UnB, 2008.
6. CATALÃO, L. Vera. “As qualidades sensíveis da água” In: Água como Matriz Ecopedagógica; um
projeto a muitas mãos. Vera Lessa Catalão e Maria do S. Rodrigues (orgs). Brasília: Depto de
Ecologia, 2006.
7. WILKES, John; Flowforms. O poder rítmico da água. SENAC, 2008
8. BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria
9. CATALÃO, L. Vera. Água e Paz, Texto publicado na Revista da Educação Ambiental nº zero, Bra-
sília, 2006.
10. SANTOS, Boaventura de Souza. “A ecologia dos saberes” In: A Gramática do Tempo. Para uma
nova cultura política. S. Paulo: Cortez, 2006.
11. SCHWENK, Theodore. Le Chaos Sensible. Paris: Editions Triades, 1990.
12. WATER. The Great Mystery, DVD video, Intention Media, 2008.
13. EMOTO, Masaru. A mensagem da água. S. Paulo: Editora Isis, 2004.
14. CATALÃO, Vera. “As metáforas da água e a mediação entre natureza e cultura”. In SATO, Michèle
(Org.) ECO-AR-TE para o reencantamento do mundo. São Carlos: RiMa, 2009 [no prelo].

83
Resiliência

Ana Lucia C. e Castro*


Laurez Vilela**
Marcelle Passarinho***
Eliane F. Jardim Corrêa****

Este artigo tem a finalidade de apresentar diversos conceitos de resiliência, as características


das crianças, adolescentes, idosos e famílias resilientes, bem como os fatores de risco e proteção.
Além da intervenção profissional, objetiva a promoção dos fatores protetores para desenvolver e
potencializar a resiliência nas diferentes faixas etárias.
Visando o acesso de profissionais que trabalham com diferentes ciclos de vida e também
com famílias, este artigo foi elaborado com o objetivo de possibilitar a leitura de partes do texto
relacionadas ao interesse específico do leitor. Portanto, algumas repetições foram necessárias.
A capacidade do indivíduo em superar dificuldades e traumas denomina-se resiliência. Essa
depende dos fatores de risco para se desenvolver e de fatores de proteção – condições internas e
externas para conseguir vencer obstáculos que requerem do sujeito uma capacidade de superação
e mudança, para o enfrentamento destes desafios (Barreira; Nakamura, 2006, p. 105).
A palavra resiliência provém do latim resalir: saltar e voltar a saltar do problema, recomeçar
(Torralba; Vasquez-Bronfman, 2006, p. 30).
Termo emprestado da Física e Engenharia, a resiliência surgiu em 1807 e significa que uma
barra submetida a forças de distensão até seu limite elástico máximo volta ao seu estado original
quando estas forças deixam de atuar. É portanto, uma força de recuperação.
Estendendo-se à Psicologia, este fenômeno designa a capacidade do indivíduo, em face de uma
situação crítica, em desenvolver mecanismos positivos de adaptação e habilidade de superação, ti-
rando proveito dos sofrimentos inerentes às dificuldades. Esse fenômeno, estruturado a partir da re-
lação com o meio onde a pessoa se desenvolve, pode ser um caminho para a prevenção da violência.
O estudo desenvolvido por Martineau (1999, apud Yunes 2003), deixa claro que “resiliência tem
diferentes formas entre diferentes indivíduos em diferentes contextos, assim como acontece com o
conceito de risco” isto é, os mesmos estressores podem ser vivenciados de maneira diferente por
diferentes pessoas.
Portanto, o funcionamento resiliente edifica-se, através de um jogo complexo de processos
defensivos de ordem intrapsíquica e de fatores de proteção internos e externos onde algumas
características pessoais contribuem para a estruturação da resiliência como a autodeterminação,
confiança e sentimento de competência.
A noção de adversidade refere-se aos fatores de risco que o sujeito vivencia em diferentes situa-
ções. Ao utilizar-se da adaptação positiva ou superação do problema, este movimento proporciona
a instalação do processo de resiliência. Este processo considera a dinâmica entre os mecanis-
mos emocionais, cognitivos e também sócio-culturais que influenciam no desenvolvimento humano
(Torralba; Vasquez-Bronfman, 2006).
Assis (2005) compreende que superar as dificuldades não significa escapar sem marcas das
situações difíceis. As adversidades deixam feridas mais ou menos profundas e duradouras, de
acordo com a forma como cada um reage às situações adversas. A capacidade de resiliência varia
ao longo da vida. Uma pessoa capaz de superar uma situação difícil em um momento pode não ter
a mesma habilidade em outras situações ou em outros momentos.

* Assistente Social. Terapeuta Familiar. Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Especialista em Saúde Mental.
** Assistente Social, Especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Especialista em Terapia Familiar, Pós-
graduada em Educação Sexual.
*** Especialista em Psicologia Hospitalar.
**** Especialista em Psicologia Jurídica.

84
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Características do indivíduo resiliente

As características individuais são importantes para a formação da capacidade de resiliência


de cada um, mas o ambiente em que se vive tem profunda influência nessa estruturação. Isso sig-
nifica que todos podemos nos transformar no curso de nossas vidas, dentro de nossos limites e
possibilidades.
As principais características do resiliente são: autodeterminação, confiança e sentimento de
competência. A primeira vem através do tempo e ensina que o processo evolutivo é construído
diariamente, pois o problema não está na realidade, mas na forma como é interpretado. Quanto à
autoconfiança, essa é a característica mais marcante no comportamento resiliente. A superação
acontece porque acreditamos em nosso potencial regenerativo, em nossa capacidade de crer e agir
em prol dos nossos objetivos. Ressalta-se que determinadas pessoas estão mais vulneráveis a algu-
mas situações que causam sofrimento e dor, reduzindo a sua capacidade de superação.
Sentir-se competente é uma característica que ajuda o indivíduo a buscar a solução dos pro-
blemas e a interagir de forma eficaz com outras pessoas e com o seu ambiente social, a pessoa
é capaz de obter resultados positivos frente a metas pré-determinadas como, por exemplo, bom
desempenho acadêmico e ser confiante na tomada de decisões.
A autoeficácia, resultado da confiança e sentimento de competência, significa “acreditar que se
é capaz de organizar e executar determinados cursos de ação necessários para lidar com certas
situações; o sentimento de auto-eficácia leva à eficiência diante dos contratempos” (Bandura, 1980
apud Cloninger, 2003). A meta da resiliência também é criar e reforçar as expectativas de eficácia
pessoal.
Martineau (1999, apud Yunes 2003), com base em pesquisas qualitativas e dados obtidos com
adultos considerados resilientes, identifica traços como sociabilidade e criatividade na resolução
de problemas e um senso de autonomia e resposta.
Portanto, a característica do resiliente é buscar a resolução ativa do contexto adverso em quase
todas as situações, só evitando-o quando ele está além do seu alcance ou quando ele é impossível
de ser solucionado.
No entanto, o indivíduo pouco resiliente tende a perder o foco da solução de problemas, não per-
siste muito quando algo que planejou não deu certo, mostrando-se mais desanimado em relação às
dificuldades e se vendo com pouca capacidade de seguir em frente.

Tipos de Resiliência

De acordo com Rutter (1990), existem três tipos de resiliência: emocional, acadêmica e social.
No desenvolvimento da resiliência emocional aponta como fatores: experiências positivas que
levam a sentimentos de autoeficácia, autonomia e autoestima, habilidade para lidar com mu-
danças e adaptações, e um repertório amplo de abordagens para enfrentamento de situações
desfavoráveis.
Com relação à resiliência acadêmica, a escola pode propiciar o aumento e o fortalecimento de
habilidades de resolução de problemas e a aprendizagem de novas estratégias, bem como capaci-
tar professores para auxiliar estudantes com dificuldades gerais.
A resiliência social apresenta como fatores protetivos o não envolvimento em delinquência, ter
um grupo de amigos de relações saudáveis e o sentimento de pertencimento ao mesmo, relacio-
namentos íntimos, bom vínculo com a escola, supervisão dos pais e familiares, família estrutu-
rada, bem como modelos sociais que promovam uma aprendizagem construtiva nas situações
(familiares, escolares) e equilíbrio entre as responsabilidades sociais e as exigências por obter
determinados benefícios.

85
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

CRIANÇA RESILIENTE

Resiliência é um conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam


ter uma vida “sadia” num ambiente “insano” (Rutter, 1993). Koller (1999) compara
o desenvolvimento de uma criança ao de uma planta. Com essa metáfora, diz que
o infante é como uma semente, que lançada à terra pode transformar-se em uma
planta saudável. No entanto, necessita de cuidados para crescer, pois é um ser
biológico que vive em um ambiente ecológico e complexo. Portanto, numa aborda-
gem ecológica do desenvolvimento, ainda que vulnerável e lançada a uma terra ári-
da, se encontrar algum auxílio poderá ser uma sementinha que irá se desenvolver.
Luthar e cols. (2000) reiteram que o termo “criança resiliente”, empregado por
muitos autores, não se refere a atributos pessoais, mas sim à pressuposição de condições de resili-
ência, a saber: a) a presença de fatores de risco ao bem-estar da criança, e b) a adaptação positiva
da criança, apesar das adversidades.
Portanto, a capacidade da criança dar respostas adaptadas face às dificuldades e estresses,
sem que estes interfiram no seu desenvolvimento, indica que é uma criança resiliente. Porém, essa
característica individual não é um fator inato, estático. E se as circunstâncias mudam a resiliência
também se altera.
Existem situações prejudiciais ao desenvolvimento do ser humano e que podem acarretar danos
graves em outras etapas da vida. As experiências consideradas muito dolorosas para crianças e
adolescentes são as guerras e as catástrofes naturais que matam, mutilam e deixam traumas per-
manentes em suas vidas. Mas, outras experiências também podem marcar negativamente sua exis-
tência como o abandono, as doenças e mortes na família, o uso de álcool e drogas principalmente
por parte dos genitores, os conflitos e a separação dos pais, a ausência prolongada materna e pa-
terna, a situação de pobreza e a convivência com a violência, seja ela física, psicológica ou sexual.
Ressalta-se que cada pessoa tem um potencial de desenvolver resiliência em maior ou menor
grau. Na criança esse potencial depende dos fatores de proteção que ela tem.
Por conseguinte, as dificuldades enfrentadas durante a infância podem deixar marcas, sendo
necessária uma intervenção nos fatores de risco. Por isso, é importante investir na promoção da
saúde da criança para que, na vida adulta, tenha recursos internos e possa compreender melhor
os problemas e buscar soluções.
Destacam-se alguns fatores de risco:
Q
 uando sentimentos e necessidades são ignorados
Ausência do lúdico na infância
R
 epertório de reações habituais destrutivas
C
 renças restritivas (discriminação, preconceito e violência simbólica), pois limitam o entendi-
mento e as relações interpessoais
M
 edos catastróficos de perdas podem nos levar a comportamentos que tragam prejuízo
A
 lgumas crianças de camadas sociais desfavorecidas se sentem responsáveis e capazes de
ser o provedor familiar. Essa troca de papel de criança para adulto e o sentimento de compe-
tência exacerbado para resolver a situação pode ser risco para ingressar no trabalho infantil
e na exploração sexual
A
 usência de organismos sociais (creches, pré-escola) para retaguarda familiar
P
 rivações vivenciadas na infância:
F
 alhas na função parental de proteção, impossibilidade de elaborar a angústia além de
experiências traumáticas e danosas. A gravidade se constitui em função da frequência,
intensidade e duração do dano.
A
 privação de afeto significa uma ameaça de rompimento de um forte laço emocional entre
os pais e a criança, gerando insegurança e ansiedade.

O
 abandono pode ser a forma mais precoce e mais grave de privação, envolvendo a perda
de referenciais e não implica necessariamente numa ausência.
A
 negligência também é um fator de risco no eixo das privações, uma vez que ocorrem
falhas em prover as necessidades básicas e o cuidado é inexistente ou inadequado.

86
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Alguns mecanismos são fatores de proteção e recursos para a constituição da resiliência na


criança:
Fatores do ambiente – cuidado materno suficientemente bom (atendendo a necessidades ine-
rentes à faixa etária e especificidades individuais, incluindo incentivo à criatividade e explanação
de suas ideias, construção do vínculo e internalização do mesmo), transmissão de valores e atitu-
des positivas dos pais, a fé religiosa na solução das dificuldades, rede formal (escola) e informal
(amigos, parentes, vizinhança); valorização das raízes parentais e culturais; sentimento de união e
proteção familiar; confiança mútua; referência de família como “porto seguro”;
Fatores pessoais – ausência de perdas de pessoas significativas, de separações precoces e au-
sência de deficiências orgânicas;
Peculiaridades pessoais – adaptabilidade, criatividade, autonomia, autoestima, empatia, organi-
zação e senso de humor.
Destaca-se a rede social como espaço protetor e facilitador do desenvolvimento infantil. Porém,
as instituições precisam estar preparadas para acolher e contribuir neste processo. Creches, pré-
escolas, escolas, centros de assistência infantil e similares devem ser capacitados para estimular
a resiliência nas crianças, estimulando habilidades, refletindo formas adequadas de lidar com
os conflitos, compartilhar, brincar (possibilita entender o funcionamento do mundo). Estes locais
podem promover um ambiente como fontes de recursos para que as crianças recebam e troquem
afeto, vivam sua infância, incentivem as habilidades sociais e emocionais, amenizando de certa
forma angústias e ansiedades.
Diante disso, a implementação de programas de intervenção junto a grupos de crianças em
situação de risco pode potencializar e favorecer o desenvolvimento da resiliência.

Resiliência em Adolescentes

A resiliência é a capacidade de superar dificuldades atra-


vés de recursos internos (competência para resolver proble-
mas, autoconfiança, autonomia...) e externos – rede primária
(pessoas significativas, como família e amigos) e secundária
(pessoas de instituições – religiosas, comunitárias, profissio-
nal da Saúde, Educação, Assistência e outros).
A adolescência é um período de transformações biopsicos-
sociais. Cada adolescente, seja do sexo feminino ou masculino,
reagirá a essas mudanças de forma diferenciada. Sua capa-
cidade de adaptação ao novo contexto dependerá do grau de
sua resi­liência: recursos internos desenvolvidos ao longo de
sua infância e apoio de sua família e sua rede social.
Já outros adolescentes que não tiveram uma base sólida
em seu desenvolvimento e nem apoio do meio podem se sentir
fragilizados nesse período, acarretando a falta de habilidade
para lidar com as dificuldades.
Assim, o jovem não pode ser considerado como problema
social, sinônimo de instabilidade e descompromisso, como o
único responsável pelas conturbações nas relações sociais. Projetos de intervenção psicossocial são
imprescindíveis, nesses casos, pois acabam por despertar e ampliar nesse jovem o sentimento de
competência e auto-confiança para lidar com adversidades e também atuar no protagonismo juvenil,
com a mobilização e articulação sócio-política, seja pela via dos movimentos populares, seja por seu
próprio reconhecimento enquanto sujeito autônomo comprometido com o seu tempo.
Porém, ser resiliente não é ser resistente a todas as situações desfavoráveis. Uma estratégia
para a estruturação da resiliência consiste em refletir com os adolescentes que o processo não
atende a todas as situações na existência e que a capacidade de enfrentar e superar constantemen-
te situações difíceis vai sendo amadurecida. Outro ponto a destacar com os jovens é que, quando
não se percebe condições para resolver os problemas, deve-se recorrer a pessoas significativas que
gram confiaça, se fortalecendo para enfrentar as adversidades e seguir em frente.

87
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Características do adolescente resiliente

Sabemos que a resiliência do indivíduo tem relação com o meio. A boa notícia é que se pode
transformar o curso de nossas vidas dentro de limites e possibilidades.
O sentimento de ser competente ajuda o adolescente a resolver os problemas psicossociais,
possibilitando uma satisfação pelo seu valor pessoal, facilita as relações interpessoais e impulsiona
a resultados positivos e confiança em suas escolhas no enfrentamento dos problemas.
Já o adolescente menos resiliente, resultado de uma vivência desprotegida e ambiente desfa-
vorável, apresenta confusão e indecisão, dificuldade em verbalizar problemas pessoais, insônia,
poucas amizades, desinteresse em geral, pensamentos suicidas, crítico em demasia, falta de apoio
social, sentimento de menor valia e inutilidade, relação conturbada na família, escola e na rede
social e/ou comportamentos delinquentes.
Fatores de Risco: são situações danosas que enfraquecem as pessoas e deixam marcas em
suas vidas:
A bandono
D oenças e mortes na família
A usência da mãe ou do pai por longos períodos
C onvivência com a violência, seja ela física, psicológica ou sexual
I nsegurança na comunidade onde habita
S eparação de familiares por morte, prisão, assassinato ou conflitos graves
D oenças ou acidentes de familiares e a morte de animal de estimação
A não aceitação de deficiência física ou mental na família
C onsumo de álcool e drogas por familiares, principalmente se são os genitores
A violência física, psicológica e sexual intrafamiliar traz muito sofrimento para o adolescente,
atingindo igualmente famílias ricas e pobres. Quando é praticada pelos pais, de quem se
espera afeto e proteção, o trauma pode ser ainda maior
A violência psicológica compromete o potencial de resiliência, pois com a desvalorização
sentem-se pouco capazes de superar os contextos adversos
A violência sexual, por sua vez, é ainda mais prejudicial com adolescentes quando envolve
familiares, uma vez que gera trauma e dificulta a superação de problemas
A s condições precárias de existência na família ocasionadas por desemprego, sub-emprego,
moradia inadequada, acarretam violências, pouca supervisão dos filhos e interferem na qua-
lidade de vida
A pobreza não determina a qualidade da resiliência, pois a capacidade de superar dificuldades
é uma característica tanto de pessoas pobres como ricas
O Bullying abala a autoestima do adolescente
R eprovação escolar pode provocar angústia e sentimento de incompetência

Alguns aspectos promovem a estruturação e desenvolvimento da resiliência nos adolescentes.


São os fatores protetores, descritos abaixo:
Fatores Internos: autonomia, autoconfiança, autoestima positiva, ser afetivo, equilibrar os
impulsos, ser maleável com as pessoas.
Fatores Externos:
A
 poio familiar: contribui para promover estabilidade, dar suporte às dificuldades, ensinar a
respeitar as pessoas e aprender a caminhar por si mesmo, passar exemplos e normas não
violentas, monitorar o cotidiano do jovem, estimular a solidariedade e a sobriedade.
E
 m algumas situações a separação dos pais pode ser benéfica para a família, uma vez que
reduz as brigas, os pais ficam mais afetuosos e aumentam o cuidado com os filhos, e tem
maior divisão de atribuições.
A
 poio social: colabora para favorecer o relacionamento com amigos. Por ser característico do
adolescente a vivência em grupo, facilita o suporte para o enfrentamento das dificuldades
além do suporte de professores ou outras pessoas significativas para a vida do jovem e que
são referências seguras, reforçando seu sentimento de ser querido, amado e respeitado.

Receber apoio ou ajuda de familiares, de professores, colegas e outras pessoas significativas


para trilhar os caminhos da vida e estar bem consigo e com os outros proporciona sentimento de

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

segurança que tende a se conservar no decorrer da vida, mesmo quando se enfrentam momentos
de doença, morte, decepção com alguém, separação na família ou qualquer situação dolorosa.
A importância de Políticas Públicas na proteção de jovens como: Saúde, Educação, Cultura, Es-
porte, Assistência, Segurança e outras com qualidade e acesso que possibilitam o desenvolvimento
de suas potencialidades.
É necessário implantar ou implementar ações para adolescentes em órgãos governamentais e não
governamentais onde o modelo de educação seja pautado no incentivo a afetividade, preservação
da autoestima, autoconfiança, autocompetência, a comunicação verbal respeitosa e o protagonismo
juvenil onde os adolescentes possam impulsionar seus direitos e garantir sua proteção, além de
engajar na comunidade para exigir serviços de qualidade de interesse comum. Exercita-se, assim,
estratégias que possam desenvolver e/ou estimular o potencial de resiliência dessa população.
O espaço de ensino fundamental, médio ou superior deve estimular a elaboração de projeto de
vida, o diálogo, valorização individual, incentivo ao trabalho coletivo, autoridade sem autoritarismo,
afeto, respeito num investimento compartilhado entre família e comunidade acadêmica. Isso pro-
porciona segurança, confiança no decorrer da vida do adolescente.
Assim, a rede social comunitária exerce um papel característico que é estimulador do potencial
de resiliência.
A espiritualidade é fator importante para fortalecer a resiliência no adolescente. Não necessa-
riamente atrelada a um dogma religioso, mas a confiança em uma força maior que o ajuda a lidar
com desafios e perdas.
Portanto, o adolescente que viveu situações adversas ao longo de sua vida, mesmo com pouco
apoio afetivo, pode se tornar uma pessoa resiliente no futuro se o ambiente em que vive lhe possi-
bilita suporte de pessoas significativas e se as instituições realizam ações voltadas para promoção
à saúde. As pessoas têm capacidade de superação e de (re)construir laços afetivos se tiverem apoio
do meio capaz de estimular as potencialidades do indivíduo.
É imprescindível que os organismos governamentais e não governamentais desenvolvam ações
que promovam a saúde dos adolescentes, estimulem a autonomia e a confiança, possibilitando a
compreensão de dificuldades com as possíveis soluções.

Resiliência na pessoa idosa

De acordo com Laranjeira (2007), a resiliência é um fe-


nômeno, um funcionamento, ou ainda, por vezes, uma arte
de se adaptar às situações adversas (condições biológicas e
sociopsicológicas), desenvolvendo capacidades ligadas aos
recursos internos (intrapsíquicos) e externos (ambiente so-
cial e afetivo), que permitem aliar uma construção psíquica
adequada à inserção social. Não significa ser insensível ou
imune aos problemas, mas ter capacidade de adaptação e
superação.
A resiliência, por ser dinâmica e não fixa, independe de
idade, e sexo, classe social onde o indivíduo possui caracte-
rísticas como autonomia, bom humor, flexibilidade, autoes-
tima, empatia, senso de planejamento e competência para
gerar uma rede de apoio social e familiar.
Para Rowe e Kahn (1999, apud Laranjeiras 2007), uma
velhice bem-sucedida, aliada a um percurso resiliente, significa a ausência de doença ou pelo me-
nos de invalidez ou ausência de handicap, um elevado nível de funcionamento mental e psicológico
e a inserção social por meio de atividades e relações interpessoais.
O processo de envelhecer é caracterizado por transformações significativas e irreversíveis como:
perdas de irmão, amigos, filhos, cônjuge e outros. É peculiar nesse ciclo de vida a degeneração
orgânica, doença, vertigem, a redução da acuidade visual e auditiva, redução da memória, cansaço
frequente, mobilidade limitada, rejeições, dificuldade do novo, desconfiança, irritação, depressão,
isolamento social, aposentadoria e renda insuficiente.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Esses problemas, dependendo do momento ou situação, podem ser superados e contribuir para
potencializar a resiliência do idoso. No entanto, em contextos de fragilidade é possível que ele não
consiga superar as dificuldades sem o apoio da familia, ou da rede social e/ou institucional.
O idoso deveria ser respeitado pela experiência, sabedoria, repassador de legados, suporte a
seus descendentes no cuidado de netos e nos afazeres domésticos. Em algumas camadas sociais,
ultimamente, a pessoa idosa vem se destacando como provedora da família, através de sua apo-
sentadoria, uma vez que o mercado de trabalho para jovens é restrito e o nível de desemprego
no Brasil é alarmante. No entanto, apesar de sua importância no seio familiar, ainda é comum o
desrespeito e a desvalorização. Dessa forma, o Estatuto do Idoso foi instituído no ano de 2003,
para defender os direitos inerentes a essa faixa etária visando à melhoria na sua qualidade de vida.
Atualmente, com o aumento da expectativa de vida consequentemente do volume dessa popu-
lação, mudanças vêm ocorrendo nesse ciclo de vida. O estereótipo do “velho” que ficava em casa
fazendo tricô e aparência desleixada já não é o mesmo de outrora. Hoje em dia alguns idosos vêm
se destacando na sociedade, no mercado de trabalho e no engajamento em movimentos importan-
tes como: participação no controle social (conselhos de direitos), lideranças comunitárias e outros.
O resgate da utilidade social demonstra que podem superar as injustiças e a desvalorização que
lhes são atribuídas, além de intercorrências na saúde próprias da idade. Assim, apesar de todos os
problemas a pessoa idosa continua enfrentado as dificuldades.

Resiliência diante às enfermidades

“Se, diante de eventos de risco, um indivíduo desencadeia uma doença, pode ser
identificado como vulnerável, porém se consegue dominar a situação através de um
comportamento adaptativo positivo, é resiliente” (De Antoni & Koller, 2000)

A internação hospitalar do idoso decorre por várias causas, como: traumatismos, cardiopatias,
AVC e outros quadros graves. Esse momento é doloroso, pois muda sua rotina, hábitos, sai do seu
ambiente normal para um lugar muitas vezes hostil, onde o atendimento é massificado, envolvendo
expressões infantilizadas (vôzinho ou vovozinha), sendo mais um número e uma patologia, mostrando
que o sistema de saúde não está preparado para lidar com esta faixa etária. Nessa ocasião, o paciente
necessita de apoio dos profissionais para aderir ao tratamento e potencializar seus recursos internos
para superar esse quadro, assim, desenvolver ou potencializar sua resiliência.

Considerações sobre fator de proteção

A família é um importante fator de proteção quando apoia as necessidades biopsicossociais do


idoso, mas pode ser de risco quando agride, negligencia e/ou abandona.
Whitbourne, (2001, apud Laranjeira 2007), a partir da observação de famílias desfavorecidas,
conclui que a resiliência assenta em três tipos de fatores de proteção:
F
 atores individuais: o temperamento, a autonomia, a reflexão, as capacidades cognitivas,
sentimentos de empatia, humor, e as competências sociais,
 atores familiares: o calor humano, a coesão e a atenção por parte do principal prestador de
F
cuidados e
F
 atores de suporte: (rede de apoio familiar, igreja, vizinhança, o sistema de serviços sociais.
Segundo Fonagy (2001), esses três polos de proteção favorecem a resiliência porque melho-
ram a autoestima e a autoeficácia e abrem novas possibilidades para o sujeito.
Ressalta-se que todo fator protetor individual, se exacerbado, pode se tornar um risco por in-
terferir negativamente na sua resiliência, uma vez que ficará desprotegido por excesso de auto-
confiança. Exemplo: o idoso que acredita que pode ficar sozinho, apesar da falta de mobilidade ou
deficiências orgânicas severas coloca em risco sua integridade física.
Portanto, o cerne da resiliência é o fato de trabalhar os potenciais e os modos dos sujeitos dian-
te do perigo. Ou seja, considerar os fatores de proteção e não apenas os fatores de risco. Assim,
para fortalecer a resiliência do idoso é imprescindível articulação com as rede primária (familiares,
vizinhos, amigos) e secundária (igrejas, associações comunitárias, centros de saúde, centros de
assistência e outros ) onde a pessoa possa participar e buscar suporte em momentos difíceis, bem

90
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

como apoio em interesses comuns. Sluzki (1997) referencia que uma rede social pessoal estável,
sensível, ativa e confiável protege a pessoa contra doenças, atua como agente de ajuda e enca­
minhamento, afeta a pertinência e a rapidez da utilização de serviços de saúde, acelera os proces-
sos de cura e aumenta a sobrevida, ou seja, é geradora de saúde.
Portanto, a resiliência seria construída pelo indivíduo perante as dificuldades da vida, e o sujeito
resiliente, ao vencer os obstáculos, surgiria mais fortalecido para enfrentar novos desafios na sua
trajetória de vida. Assim, faz-se mister aproveitar as experiências bem-sucedidas de momentos
difíceis para equacionar as situações na velhice.
Apesar das limitações, desvalorização na sociedade, perda da utilidade social e mazelas alguns
idosos continuam ultrapassando as dificuldades evidenciando resiliência em seu cotidiano.

RESILIÊNCIA EM FAMÍLIA

Segundo McCubbin (1988, apud Yunes 2003), famílias resi­


lientes são caracterizadas pela capacidade de resistirem às
intercorrências provenientes de situações de crise, (re) adap-
tando ao novo contexto.
Para Hawley e DeHann (1996, apud Yunes 2003) “resiliên-
cia em família descreve a trajetória da família no sentido de
sua adaptação e prosperidade diante de situações de estresse,
tanto no presente como ao longo do tempo. Famílias resilientes
respondem positivamente a estas condições de uma maneira
singular, dependendo do contexto, do nível de desenvolvimen-
to, da interação resultante da combinação entre fatores de ris-
co, de proteção e de esquemas compartilhados” (p. 293).
Ao estudar a resiliência familiar é imprescindível entendê-la
em diferentes classes sociais e étnicas, além de contextualizar
sua relação com a comunidade e a necessidade de se incremen-
tar políticas públicas com programas de apoio às famílias.
O funcionamento familiar flexível, além da personalidade e
temperamento da pessoa, define a intensidade e qualidade das respostas resilientes do indivíduo.
Este processo é evolutivo e interativo e depende da intervenção frente aos problemas sem permitir
que eles interfiram na qualidade das relações no seio desse grupo social.
A família geralmente é um lugar de proteção, mas em algumas situações pode ser fator de risco.
Quando o alcoolismo está presente na dinâmica familiar, os danos são concretos à medida que não
se consegue garantir a segurança emocional e física dos seus membros. A violência intrafamiliar
gera um ambiente conflituoso e traumas que prejudicam o desenvolvimento da resiliência. A pobre-
za, em alguns contextos, pode interferir na saúde, dificultar o acesso às necessidades básicas, à
qualidade da supervisão e o cuidado dos filhos.
A mudança do ciclo de vida familiar (nascimentos, casamento, divórcio, recasamento, aposenta-
doria, mortes), bem como o desemprego, a migração, a violência urbana e familiar, são fatores que
interferem negativamente no nível de resiliência familiar.
Pode-se elencar outros fatores de risco como a falta de aceitação das diferenças, quadro de
transtorno mental, adictos, desestruturação familiar, gravidez precoce, pouca ou nenhuma escola-
ridade, inexistência de suporte da família extensa.
No entanto, quando a família proporciona equilíbrio emocional, proteção e suporte interpessoal,
contribui para a estruturação da resiliência em seus membros e aliada a crenças e atitudes positi-
vas como: busca da união, comunicação, flexibilidade, demonstração de afeto, autoridade com res-
peito, confiança mútua, referências de fé na capacidade de superação, empatia, acompanhamento
no desempenho escolar, cuidado, acolhimento, estabilidade, enfrentamento de problemas na crise,
disciplina sem violência, orientar sobre relações sociais saudáveis e rede de suporte social como
recurso nas dificuldades, uma vez que o apoio social pode aparecer como um dos determinantes
da saúde mental. Tavares (2001) aponta para a maneira como o apoio social atua como fator de
proteção. Considera que é a percepção do suporte social que protege os indivíduos contra a deses-
tabilização. Por isso, o importante não é apenas a rede, mas o significado dessa para o indivíduo.

91
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

As situações traumáticas repetitivas, dependendo do significado, podem enfraquecer ou impul-


sionar o potencial dos membros familiares. As dificuldades são inerentes à existência, mas a respos-
ta às situações conflituosas não pode gerar grandes prejuízos e deve favorecer a resiliência.

Processos-chave da resiliência em famílias

SISTEMA DE CRENÇAS (o coração e a alma da resiliência)

1. Atribuir sentido à adversidade:


V alorização das relações interpessoais (senso de pertencimento)
C ontextualização dos estressores como parte do ciclo de vida da família
S entido de coerência das crises: como desafios administráveis
P ercepção da situação de crise: crenças facilitadoras ou constrangedoras
2. Olhar positivo
Iniciativa (ação) e perseverança

Coragem e encorajamento (foco no potencial)
E sperança e otimismo: confiança na superação das adversidades
C onfrontar o que é possível: aceitar o que não pode ser mudado
3. Transcendência e espiritualidade
V alores, propostas e objetivos de vida

Espiritualidade: fé, comunhão e rituais
Inspiração: criatividade e visualização de novas possibilidades

Transformação: aprender e crescer através das adversidades.

PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO

4. Flexibilidade

Capacidade para mudanças: reformulação, reorganização e adaptação

Estabilidade: sentido de continuidade e rotinas
5. Coesão
 poio mútuo, colaboração e compromisso
A
 espeito às diferenças, necessidades e limites individuais
R
 orte liderança: prover, proteger e guiar crianças e membros vulneráveis
F
 usca de reconciliação e reunião em casos de relacionamentos problemáticos
B
6. Recursos sociais e econômicos
 obilização da família extensa e da rede de apoio social
M
 onstrução de uma rede de trabalho comunitário: família trabalhando junto
C
 onstrução de segurança financeira: equilíbrio entre trabalho e exigências familiares.
C

PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO

7. Clareza

Mensagens claras e consistentes (palavras e ações)
E sclarecimentos de informações ambíguas
8. Expressões emocionais “abertas”
S entimentos variados são compartilhados (felicidade e dor; esperança e medo)
E mpatia nas relações: tolerância das diferenças
R esponsabilidade pelos próprios sentimentos e comportamentos, sem busca do “culpado”
Interações prazerosas e bem-humoradas
9. Colaboração na solução de problemas
Identificação de problemas, estressores, opções
“ Explosão de idéias” com criatividade

Tomada de decisões compartilhada: negociação, reciprocidade e justiça
F oco nos objetivos: dar passos concretos; aprender através dos erros
Postura proativa: prevenção de problemas, resolução de crises, preparação para futuros desafios.
Quadro Resumo dos processos-chave da resiliência em famílias, traduzido por Maria Angela Mattar Yunes, extraído do livro Strengthening
family resilience (Walsh, 1998), Apud: YUNES, M.A.M. – Psicologia Positiva e Resiliência: o foco no Indivíduo e na Família, 2003.

92
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

A família como local de repasse de valores e proteção deve ser trabalhada por todos os pro­
fissionais que realizam atendimento a este grupo social para que ela tenha competência para de-
senvolver no seu meio sentimentos de coesão, pertencimento, solidariedade, afetividade de forma
a estimular seus membros a desenvolver seu potencial para enfrentar desafios e ter capacidade de
superação com apoio familiar ou de pessoas significativas que, aliados aos seus recursos internos,
será capaz de “sacudir a poeira e dar a volta por cima”.

Intervenção Profissional para promover a resiliência

A resiliência pode ser estimulada por qualquer grupo social ou instituição (escolas, comunida-
des, profissionais, famílias) no sentido de potencializar respostas positivas pelos indivíduos e/ou
famílias às dificuldades e contrariedades.
Como o profissional pode estimular e/ou potencializar a resiliência?
Após compreender o fenômeno da resiliência, ele deve ter ciência dos fatores protetores e de
risco que permeiam a situação que está sendo foco de intervenção, bem como as condições co-
munitárias que interferem em tais fatores. A atuação
técnica deve ser individual, familiar e comunitária,
Saber Viver
considerando a interface da família na comunidade
e vice-versa. É importante a geração de programas Não sei... Se a vida é curta
comunitários e preventivos específicos para a popu- ou longa demais pra nós,
lação à qual se dirigem. mas sei que nada do que vivemos
O Programa Saúde da Família (PSF) e os Agente tem sentido, se não tocamos o
Comunitários de Saúde (ACS) são de suma impor- coração das pessoas.
tância para disseminar ações que promovam uma
convivência saudável, a partir de intervenções focali- Muitas vezes basta ser:
zadas na educação de base que instrumentalizem as colo que acolhe,
famílias e seus membros para prevenir risco e poten- braço que envolve,
cializar proteção. Outro ponto importante é motivar palavra que conforta,
silêncio que respeita,
a comunidade a buscar seus direitos – articular entre
alegria que contagia,
si para buscar seus direitos fundamentais enquanto
lágrima que corre,
cidadãos.
olhar que acaricia,
As situações que envolvem violência são capazes
desejo que sacia,
de desencadear transtornos emocionais, às vezes
amor que promove.
severos, patologias psicossomáticas e outros danos.
Cabe ao profissional trabalhar de forma interdisci- E isso não é coisa de outro mundo,
plinar para contribuir com a recuperação e supe- e o que dá sentido à vida.
ração, através dos recursos internos e externos de É o que faz com que ela
cada pessoa. Dessa forma, o indivíduo pode sair da não seja nem curta,
condição de vítima e se desenvolver de forma ple- nem longa demais,
na, sem perder de vista o sofrimento proveniente da mas que seja intensa,
agressão. verdadeira, pura...
É importante realizar o atendimento individual, enquanto durar.
bem como em pequenos grupos, para contribuir na
Cora Coralina
qualidade dos resultados da ação.
Além de propiciar aos participantes a compreen-
são do conceito de resiliência individual e familiar, bem como, quais recursos podem ser utilizados
no desenvolvimento dessa capacidade. Ressaltar que a própria família possui potencialidade para
lidar com as crises e adversidades.
Clarificar o conceito de resiliência, uma vez que é confundido com invulnerabilidade, onde a
pessoa sente-se insensível aos problemas e sofrimentos. Já a resiliência é enfrentar os contextos
adversos e buscar a solução com recursos próprios e/ou apoio nas redes primárias e secundárias.
Isso não significa passar ileso ao sofrimento, mas a capacidade de superar as dificuldades.
Partindo do princípio de que a família vivencia conflitos internos, é importante eleger o valor do
afeto na ação com famílias. Trabalhar o valor afeto não é ajudar as pessoas a ocultar a miséria, a

93
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

dor e manter família unida, mas potencializar as pessoas para enfrentar a desestruturação, desor-
ganização, as contrariedades, os danos e o sofrimento.
Algumas famílias se engancham nos problemas e não conseguem avançar. Nesses casos é neces-
sário desfocalizar do cenário negativo para impulsionar mudanças. Assim, pesquisar, compreender
e fortalecer os aspectos sadios e de sucesso do grupo familiar significa identificar elementos das
experiências de vida que foram positivos que contribuam para buscar novas estratégias de se rela-
cionar para a resolução dos problemas.
É necessário discutir crenças facilitadoras e crenças restritivas que desenvolvem e evoluem nas
famílias ao longo do tempo. Um conjunto de crenças e narrativas compartilhadas que fomentem
sentimentos de coerência, colaboração, eficácia e confiança são essenciais para a superação e
domínio dos problemas.
Motivar a articulação com famílias, escola, saúde, assistência e comunidade na busca de me-
lhorias das condições de vida. Isso desenvolve a habilidade das pessoas de estabelecer relações
de confiança, de cooperação e associação de interesses comuns e ainda sentimento de pertença e
consequentemente resiliência.

Intervenção com adolescentes

Para trabalhar com adolescentes é necessário conhecer suas potencialidades e pontos fracos, a
qualidade das relações familiares e comunitárias.
Como é possível compreender e estimular em cada um o potencial de superação diante das ad-
versidades? No primeiro momento, deve-se compreender que cada adolescente é único e complexo.
No seu desenvolvimento biopsicossocial ocorrem mudanças que podem potencializar sua resiliên-
cia. Estimular a autoestima, competências, a integração, participação em redes sociais primárias
e secundárias efetivas, proporcionando a troca de experiências com seus pares, pois o apoio e
vivências semelhantes contribuem para a superação de dificuldades.
Ressaltar que os problemas podem ser equacionados com apoio de pessoas significativas. No
entanto, é importante ter o entendimento de que algumas situações não podem ser mudadas, e sim
transformadas e ressignificadas.

Intervenção com a pessoa idosa

Complementando ao que já foi apresentado no artigo referente a essa faixa etária, o profissio-
nal deve estimular o resgate da autoestima e competências do idoso, os cuidados com sua saúde
com visitas periódicas ao médico para verificar suas condições orgânicas e também resgatar as
relações sociais como: grupo da igreja, amigos, parentes, trabalhos manuais, atividades físicas,
artísticas e outros.
Identificar hobbies e demais preferências dos idosos estimulando sua realização para desenvol-
ver ou fortalecer a resiliência.

Metodologia para trabalhar com indivíduos e grupos

Desenvolver técnicas de motivação e promoção da resiliência requer norteamento. Dessa forma,


o modelo abaixo, criado por Grotberg (1995), direcionado para crianças, pode ser utilizado para
trabalhar com diferentes faixas etárias, pois instrumentaliza para o desenvolvimento e fortaleci-
mento da resiliência.

Eu tenho; Eu sou; Eu estou; Eu posso

O que se busca para se tornar o indivíduo resiliente é desenvolver as condições que já possui,
preencher e ampliar as condições que não estão completas ou, mesmo, construir as que estão
ausentes. As condições encontradas e que podem ser fomentadas são:

94
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

EU TENHO
Pessoas ao meu redor em quem confio.
Pessoas que não me deixam me perder.
Pessoas que sabem me mostrar o certo.
Pessoas que me ensinam a fazer coisas por
mim mesmo e vigiam o resultado.
Pessoas que me ajudam quando fico doente ou em perigo.

EU SOU
Uma pessoa que pode ser amada, querida, apreciada por outros.
Uma pessoa capaz de fazer bem para outros.
Uma pessoa respeitada por outros e posso me respeitar.
Uma pessoa responsável pelo que faço.
Uma pessoa confiante que as coisas vão dar certo.

EU ESTOU
Seguro de que tudo sairá bem.
Rodeado de companheiros e colegas que me apreciam.
Disposto a me responsabilizar por meus atos.
Triste, reconheço e mostro, mas com a segurança de encontrar apoio.

EU POSSO
Contar para os outros sobre coisas que me assustam.
Encontrar caminhos para resolver problemas que eu enfrente.
Controlar-me ao fazer algo errado ou perigoso.
Encontrar alguém que possa me ajudar quando preciso.
Encontrar o momento certo de falar ou agir.
Fazer travessuras e não perder o afeto de meus pais.

Fatores que promovem a resiliência

Recursos na Criança Intervenção


Recursos na Velhice Recursos na Família
e Adolescente Profissional
Recursos Internos Recursos Internos
Criatividade, flexibili-
 daptabilidade, sentimento de segurança, autoaceitação, criatividade, auto-
A
dade, alteridade, senso
nomia, autoestima positiva, empatia, organização e bom humor.
de humor, dinamismo,

Inteligência, capacidade de resolver problema e gerar uma rede social e man-
coerência, sociabilida-
tê-la. Planejamento, sociabilidade e autoeficácia, flexibilidade, autodetermi-
de, segurança, orga-
nação, confiança, competência, equilíbrio dos impulsos, ser afetivo, sentir-se
nização, equilíbrio e
amado e respeitado, autocuidado.
comprometimento
Recursos na Criança
Recursos na Velhice Recursos na Família Recursos Humanos
e Adolescente
Recursos familiares Recursos familiares Recursos familiares  resiliência pode
A

Maternagem 
Escuta, 
Compartilhar valores de ser trabalhada
satisfatória, incentivo acolhimento, respeito ao próximo. e estimulada
à criatividade e aceitação, 
Repassar exemplos e por qualquer
explanação de suas solidariedade, normas não violentas grupo social ou
idéias. cuidado e atenção. 
Incentivar afetividade instituição (escolas,

Transmissão de 
Integração entre nas relações entre comunidades,
valores positivos, as gerações. seus membros, dar profissionais) no
religiosidade 
Compartilhar lazer suporte às dificuldades, sentido de investir
na solução das com familiares. estimular a autonomia, na promoção da
dificuldades. coesão. saúde.

95
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Recursos na Criança
Recursos na Velhice Recursos na Família Intervenção Técnica
e Adolescente

Recursos familiares Recursos familiares Recursos familiares P otencializar respostas


 alorização das raízes
V 
Cuidado O que torna as famílias positivas pelos
parentais e culturais – compartilhado fortes: indivíduos e famílias às
sentimento de união, entre os familiares. T empo juntos adversidades.
proteção e confiança  ompartilhar
C R ituais familiares R econhecer as forças e
mútua; família como as refeições no L ugares especiais habilidades da família
“porto seguro”. cotidiano H istórias da família para lidar com as
 nião nas
U Interesses partilhados crises e adversidades.
adversidades. V ínculo afetivo C onhecer as fases de
 arinho, afeto, apoio
C desenvolvimento da
emocional e estrutura Fatores que impulsionam criança e as mudanças
de limites claros e a resiliência biopsicossocias que
razoáveis pelos pais A mbiente seguro ocorrem na adolescên-
ou responsáveis. O portunizar a cia e velhice para poder
 onitorar o cotidiano
M expressão intervir nas situações.
do jovem. P ossibilitar a E stimular a busca de
 xperiência
E compreensão da solução nos problemas
compartilhada história famliar a autonomia e
E stimular o confiança
desenvolvimento de Incentivar o afeto na
seus membros família
O ferecer figuras de Instrumentalizar
identificação as famílias e seus
N ão rotular membros para prevenir
O portunizar a vitória. risco e potencializar
P erseverança proteção
C oragem M otivar a comunidade
E ncorajamento a buscar seus direitos
E sperança – articular entre si para
O timismo reivindicar direitos
M otivar para o sucesso fundamentais.
Ilusões positivas C ontribuir para
C onfiança partilhada potencializar
H umor a autoestima
Inspiração criativa dos indivíduos,
autocompetência e
autoconfiança.
E stimular a autoestima
de idosos, através dos
cuidados com sua
saúde, resgate de seu
grupo social, amigos
parentes.
Identificar gostos e
preferências, estimular
sua realização
para desenvolver a
resiliência.
Incentivar o protagonis-
mo infanto-juvenil
I ncentivar articulação
com Redes
E stimular as pessoas a
buscar seus direitos.

96
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Recursos na Criança
Recursos na Velhice Recursos na Família Recursos Externos
e Adolescente

Fatores pessoais Fatores pessoais  esquisar e buscar


P
 usência de perdas de
A  usência de
A material educativo
pessoas significativas, doença ou pelo (filmes, textos) para
de separações menos de invalidez trabalhar com a
precoces e ausência e um elevado nível população
de deficiências de funcionamento.  apacitação e
C
orgânicas. mental e atualização sobre
psicológico. Promoção à Saúde e
 derência a
A Prevenção da Violência
tratamentos.  apear os recursos da
M
Recursos Externos Recursos Externos comunidade
Rede Social Rede Social  istematizar reuniões
S
 poio de pessoas
A  inserção
A com a Rede Local para
significativas. social por meio efetivar ações.
 ede formal –
R de atividades
escola motivadora, e relações
assistência, ONGs, interpessoais
creches, igreja.  ede de apoio,
R
 ede Informal –
R vizinhos, amigos e
Amigos, vizinhos, igreja.
parentes.

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99
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Módulo VI

Atividades Preventivas

Dinâmicas e sua utilização

As dinâmicas como instrumentos, ferramentas de um processo de formação e organização,


possibilitam a criação e recriação do conhecimento. Por isso, mais que um conjunto de técnicas,
a dinâmica precisa ser vista como uma estratégia para abrir possibilidades sobre as formas de
perceber, refletir e, após ressignificar, estabelecer formas alternativas de ação e relação com os
outros. As dinâmicas devem ser consideradas como meio e não como fim, servindo para expandir
o conhecimento no grupo e ampliar de interação entre os participantes (AFONSO, 2006).
O facilitador precisa reconhecer e valorizar o que ocorre no grupo, em detrimento do que foi
programado e planejado. Valorizar o ponto de vista do outro, reconhecendo sua importância, seu
ritmo e tempo é fundamental.
Nesse sentido, o operador da dinâmica precisa amadurecer uma posição humana, tendo a
relação como o foco, que se traduz em gestos e atitudes para promover o encontro com o outro.
O objetivo não “no lugar de”, mas sim facilitar uma reflexão sobre os problemas coletivos, encora-
jando um movimento de transformação do grupo (SANICOLA, 2008). Assim, o agente fundamen-
tal de mudança não é o facilitador, mas as pessoas organizadas que interferem na mudança da
comunidade a que pertencem, constituída pelos laços de família, de vizinhança, de amizade e de
trabalho. Quando um grupo muda, processualmente provoca mudanças.
As dinâmicas têm como objetivos principais: levantar a prática (identificar o que pensam as
pessoas, o que sentem, o que vivem e sofrem); desenvolver um caminho sobre esta prática como
um processo sistemático, ordenado e progressivo; transformá-la e redimensioná-la (ressignificar
suas experiências a partir do conhecimento trazido pelo grupo através da técnica); e incluir novos
elementos que permitem explicar e entender os processos vividos.
Para que uma técnica sirva como ferramenta educativa deve ser utilizada em função de temas
específicos, com objetivos concretos e aplicados de acordo com os participantes com os quais es-
teja trabalhando. Quando a técnica não for bem aceita pelo grupo, o facilitador deve desistir dela.
Para AFONSO (2006), na medida em que se incrementam os processos de comunicação, abrem-
se possibilidade de ressignificação e as novas narrativas surgem no campo grupal como um tesouro
de significantes e significados. Entretanto, esse processo não ocorre por si só. O facilitador necessi-
ta promover um espaço de reflexão e expansão, relacionando a técnica e o resultado dela com suas
experiências e vivências.
As atividades desenvolvidas precisam partir da necessidade do próprio grupo. Esse é o primeiro
passo. Do que as pessoas precisam? Quais temas gostariam que fossem trabalhados? Qual é a ne-
cessidade da sua comunidade, família, escola? A partir dessa análise, poderemos construir ativida-
des em conjunto que tenham como foco essas demandas. No primeiro encontro com o grupo pode
ser feito um levantamento de como as pessoas gostariam de usar aquele espaço para, a partir de
então, construirmos em conjunto o que será realizado.
Podem-se utilizar textos curtos, que forneçam um panorama dos principais pontos ou mensa-
gens da atividade desenvolvida, lidos em voz alta ou expostos em multimídia.Vídeos ou trechos
de vídeos, também, podem cumprir o papel dos textos para a finalização, ou mesmo abertura, de
dinâmicas.

100
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Destacamos que, além das técnicas e objetivos claros do se que quer ser alcançado, para a rea-
lização da dinâmica é importante estar atento a outros elementos tais como:

• Materiais e recursos que ajudam na execução e na aplicação da dinâmica;


• A
 mbiente/clima: o local deve possibilitar a aplicação da dinâmica (amplo, fechado, escuro,
claro, forrado, coberto...);
• T
 empo aproximado com início, meio e fim;
• P
 assos: ter clareza dos momentos necessários para o desenvolvimento, que permitam chegar
ao final de maneira gradual e clara;
• N
 úmero de participantes: ajudará a ter uma previsão do material e do tempo para o desenvol-
vimento da dinâmica;
• P
 erguntas e conclusões que permitam resgatar a experiência, avaliando o que foi visto, os
sentimentos e o que aprendeu.

Referências Bibliográficas

AFONSO, M.L. – org. Oficinas em dinâmicas de grupo na área da saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2006.
SANICOLA, L. As dinâmicas de rede e o trabalho social. São Paulo: Veras editora, 2008.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Dança maluca

Objetivo: promover a descontração, a brincadeira, a integração entre os membros do grupo

Materiais necessários: 1 aparelho de som e cd de música

Tempo previsto: 15 minutos

Procedimento:
Ao som de uma música “alegre”, dançar com as partes do corpo, uma de cada vez: com
a mão direita, a mão esquerda, com as duas mãos, a cabeça, o pé, etc. Pode ser feito em
roda ou com as pessoas espalhadas pela sala pode ser utilizada como aquecimento para
outra atividade do período. Procurar sentir o ritmo do grupo para saber o momento exato do
término da atividade.

Fonte: Fonte: Afonso, M.L. (2006) Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde. Casa do Psicólogo, São Paulo.

Construção coletiva da PAZ

Objetivo: buscar alternativas conjuntas para uma convivência saudável

Materiais necessários: canetas coloridas, papel ofício ou cartolina

Tempo previsto: irá depender do número de participantes. Para um grupo de 15 pessoas


estma-se 45 minutos

Procedimento:
Associação livre em grupo – Com caneta e papel, cada um escreve tudo que lhe vem à mente,
a partir de uma “palavra-geradora”, por exemplo, PAZ. Pode-se escrever individualmente, ou
ir passando a folha de mão em mão, no grupo, para que todos escrevam na mesma folha.
A partir do registro pode-se montar um quadro com o conteúdo levantado. Discutir.

Fonte: Adaptado de Afonso, M.L. – org. (2006) Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde.Casa do Psicólogo, São Paulo.

Atravessando um rio

Objetivo: promover a confiança no grupo

Materiais necessários: giz ou fita crepe

Tempo previsto: 30 minutos

Procedimento:
O grupo é estimulado a imaginar que a sala é um grande rio. O coordenador desenha no chão
com giz ou marca com fita crepe pedras imaginárias. A turma é dividida em duplas ou trios
e terá de atravessar o rio, de mãos dadas pulando nas pedras imaginárias sem deixar o seu
companheiro de lado. Estimula-se o cuidado e preocupação com o outro.

Fonte: Vanessa Canabarro Dios.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

O varal da violência – conhecer para prevenir

Objetivo: identificar as formas de violência que praticamos ou que são cometidas contra nós.

Materiais necessários: barbante para o varal. Fita. Três folhas de papel (tamanho A4 ou
equivalente) para cada participante. Prendedores.

Tempo previsto: uma hora e meia.

Dicas/notas para planejamento: Quando se fala em violência, pensa-se muito em agressão


física. É importante discutir outras formas de violência que não física. Ressaltar que também
sofremos e cometemos atos de violência intra e extra familiar. Ajudar os jovens a compreender
que a violência sofrida pode causar sua reprodução, e pensar sobre a dor que a violência
causou neles é uma forma potencial de interromper o ciclo da violência de vítima para o
agressor. Caso o facilitador tenha conhecimento de atos violentos, incluindo abuso sexual ou
abuso físico sistemático em sua casa – e a vítima tiver menos de 18 anos de idade – notificar
às autoridades competentes de proteção à infância e juventude.

Procedimentos:
Colocar 04 varais com os seguintes títulos:
• Violências praticadas contra mim
• Violências que eu pratico
• Como eu me sinto quando pratico violência
• Como eu me sinto quando a violência é praticada contra mim

Todos os participantes deverão escrever em poucas palavras.

Perguntas para discussão

Qual é o tipo mais comum de violência que se Existe alguma violência que seja pior do que outra?
comete contra nós?
Geralmente, quando somos violentos ou quando sofre-
Como cada um se sente em ser vítima deste tipo mos violência, nós falamos sobre isso? Denunciamos?
de violência? Falamos sobre como nos sentimos? Se não, por quê?

Que tipo de violência é mais comum cometermos Alguns pesquisadores dizem que a violência é como
contra os outros? um ciclo, ou seja, quem é vítima de violência é mais
provável que cometa atos de violência depois. Se isto
está correto, como podemos interromper este ciclo da
Como sabemos se de fato cometemos violência
violência?
contra alguém?

Existe alguma conexão entre a violência que prati-


camos e a violência de que somos vítimas?

Como nos sentimos quando praticamos violência?

Fonte adaptação: Da Violência para Convivência Projeto Série – Trabalhando com Homens Jovens, caderno 03 – Instituto PROMUNDO.
2008. (Realizada por Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social)

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Definindo violência psicológica


Objetivo: conceituar e prevenir a violência psicológica

Materiais necessários: papel A4

Tempo previsto: 10 min

Procedimento
Solicite que cada participante amasse bem uma folha de papel. Depois que estiver bem
amassada peça para que as pessoas tentem desamassá-la totalmente, para que o papel fique
o mais liso possível.
Depois discuta o conceito de violência psicológica com o grupo e conclua que a essa forma
de violência deixa marcas, apesar de não serem visíveis, que não são possíveis apagar.
Assim como o papel.

Fonte: Marcelle Passarinho Mori – psicóloga.

Convivência familiar

Objetivos: Identificar situações de dano no contexto familiar.


Sensibilizar pais ou responsáveis para escuta ativa junto aos filhos.
Estimular para um convívio participativo.
Buscar alternativas de prevenção.

Materiais necessários: Folhas de papel pardo formando um ou dois grandes painéis, cola,
revistas, barbante, caneta hidrocor ou similar. Filme ou texto para sensibilização dos pais.

Tempo previsto: 1 hora e meia.

Atividades:
O facilitador ou professor deverá refletir com o grupo sobre o que é convivência na família.
Propor que seja elaborado pela turma um painel com desenho e colagem, sobre o que
gostariam que melhorasse no convívio familiar. Explicar que será utilizado numa dinâmica
com pais/responsáveis e que, por isso, deve ser evitada a identificação nominal.
Quando concluírem, sentar em circulo para que verbalizem como se perceberam na dinâmica
e se propõem soluções. Se houver tempo, pedir para montarem um segundo painel com as
soluções.
Terminar a vivência com um aplauso coletivo pela produção do grupo.
Obs: deve-se observar se algum participante expressa um sofrimento maior em gestos,
palavras, expressões e mesmo no desenho/colagem. Este deve ter atendimento individual,
posteriormente.

Devolutiva aos pais para melhorar o relacionamento:


Em reunião agendada com os pais/responsáveis, apresentar um texto ou pequeno filme (*)
sobre convivência doméstica destacando a importância da escuta e atenção aos filhos. (20 m)
Apresentar o(s) painel(eis) elaborado(s).
Em pequenos círculos deve ser solicitado que reflitam sobre o que foi produzido. (20 m)
No grupo grande, pedir que compartilhem as discussões do pequeno grupo. (30m)
O professor/facilitador deverá ficar atento às distorções que forem fluindo, destacando que
as crenças são construídas e podem ser modificadas. Evitar o confronto para não entrar
na resistência. A proposta é consensuar soluções a partir da reflexão no coletivo. Qualquer

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

sugestão de outros participantes sobre a fala de alguém deverá ser a partir de si mesmo e
não como palpite de como o outro deva agir.
Se algum integrante tiver demanda para conversar, poderá fazê-lo no grupo, ou mesmo
oferecido a escuta individual.
Para o êxito da atividade, deve-se fortalecer a competência das famílias no cuidado com
sua prole.
Terminar a vivência com um aplauso coletivo pelo compromisso dos presentes no cuidado e
atenção dos filhos e na busca por uma melhor convivência familiar.
Fonte: Ana Lúcia Correa e Castro – Assistente Social.
(*) Sugestão de filme: os produzidos pela PROMUNDO (www.promundo.org.br), em especial o “Era uma vez uma família”.

Roda de conversa – cuidando do corpo

Material: bonecos sexuados (masculino e feminino)

Objetivo: prevenir a violência sexual na infância

Tempo previsto: 1 hora e meia

Procedimento
O facilitador ou professor coloca as crianças em círculo para uma Roda de Conversa –
Começa falar no cuidado que precisamos ter com o nosso corpo. Devemos escovar os
dentes todos os dias, lavar as orelhas, lavar os pés e mãos, lavar a cabeça, lavar nossas
partes íntimas com cuidado, que aliás somente nós podemos tocar – As crianças vão
simulando o banho no boneco do seu sexo, a partir do comando do professor/facilitador.
Importância do auto cuidado é preservar sua intimidade. Enfatizar que ninguém tem o
direito de invadir sua privacidade.
Cada um coloca o que acha ser íntimo e a conversa vai ficando animada.
Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social.

Empoderamento – acreditando no seu potencial

Material: caixa de papelão e tarjas de papel com uma frase


Objetivo: previnir o bullying, a violência psicológica e fortalecer a autoestima do grupo para
descartar críticas destrutivas.
Tempo previsto: 2 horas

Procedimento
Cada participante tira uma frase da caixa de papelão e lê em voz alta. A partir disso abre uma
discussão no grupo sobre cada situação. O facilitador deve complementar cada frase depois
que o grupo se posicionar.
Sugestões de frases
Nem melhor nem pior – sou único(a)
Todos são especiais com suas peculiaridades
Todos merecem respeito
Quando alguém disser que você é diferente diga: sou mesmo, por isso sou especial!!
NUNCA ACREDITE QUANDO ALGUÉM TE DENEGRIR
Q
 uando alguém zombar de seu sotaque, maneira de ser e de se vestir, diga: acho muito
legal esse meu jeito de ser!!!
Não é qualquer um que está preparado para mensurar nosso valor!
(outras frases podem ser feitas de acordo com o seu objetivo).
Laurez Ferreira Vilela – Assistente social

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Prevenção de situações de risco na adolescência

Objetivo: promover o respeito, auto-cuidado e autoestima e prevenir situações de risco.

Material: caneta, tarja de papel escrito “Todo mundo já ... menos eu” e um saco de plástico

Tempo previsto: para grupo de 15 pessoas, 1 hora

Procedimento:
Todo mundo já ... menos eu
Cada participante do grupo completa essa frase. Escreve num papel sem assinar o nome.
Todas as frases são colocadas num saco;
Cada um retira do saco uma frase e lê em voz alta;
Abre-se um espaço para comentários e o grupo discute as situações.
Fonte: Projeto Trance Essa Rede – GTPOS Grupo de trabalho em pesquisa em orientação sexual – Adolescência Vulnerabilidade.

Textos de apoio

Influências de Grupo

Todos nós queremos SER ou FAZER PARTE de alguma coisa, para isso necessitamos ser iguais
nos costumes, no modo de vestir, falar, no corte de cabelo, nos adereços e outros.
Na adolescência a necessidade de fazer parte de um grupo e ser igual é mais acentuada, a
família deixa de ser a única referência, os companheiros são imprescindíveis.
Existe uma necessidade do SER humano em ser reconhecido e aceito pelos outros, e muitas
vezes significa despir-se de preferências e opiniões pessoais para adotar uma espécie de “re-
gra grupal”. Geralmente o grupo possui um líder que estabelece as regras, por isso é difícil
questionar o que está instituído. Dessa forma, os adolescentes podem ser conduzidos para:
uso de álcool, drogas, sexo, prostituição, crimes (furto, roubo, homicídio ...)

SEJA DONO DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA!!!


Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social.

Todo mundo já teve a primeira vez menos eu

As pessoas possuem estágios físico e emocional de desenvolvimento diferentes, e cada uma


deve seguir seu próprio ritmo. Ninguém é obrigado a ser igual.
 lguns adolescentes de ambos os sexos não se sentem preparados para uma relação sexual
A
e isso não deve ser encarado como problema, mas como ritmo pessoal.
O momento chegará com calma, qualidade, carinho e amor.
Adolescente não precisa se dar sexualmente para ser amado.
Quem se respeita é mais valorizado e ninguém melhor do que você para demonstrar o seu
valor.
Uma relação sexual prazerosa é pautada no respeito ao corpo e ao sentimento do outro,
precisa ser livre de imposições, ambos devem estar em estágio físico e emocional prepa-
rados para esse momento, sem perder de vista a responsabilidade na prevenção de DSTs
e gravidez.

Sugestão: Vídeo YOUTUBE – EU SOU O PRIMEIRO – Aborda que não é necessário ter rela-
ção sexual se não está preparado(a) emocionalmente – acesso: http://www.youtube.com/
watch?v=xwn9wE7IrEE
Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Estudo de caso

Janaína diz que ela quer transar com Luiz. Ela tira suas roupas e está na cama com ele
quando decide que não quer mais transar. Ele a força. É violência sexual?
Resposta: Sim por que ninguém tem o direito de forçar alguém a uma relação sexual. É crime
conforme art. 213 do Código Penal.
As pessoas possuem estágios (físico e emocional) de desenvolvimento diferentes, e cada uma
deve seguir seu próprio ritmo.

Fonte: Laurez Ferreira Vilela – 2009.

Prevenção do Bullying

Objetivos: Identificar situações danosas nas relações no âmbito da escola.


Traçar estratégias preventivas ao bullying.

Material: Folhas de papel, cola, revistas, caneta hidrocor ou similar.

Tempo previsto: para grupo de 15 pessoas, 1 hora e meia.

Procedimento:
O facilitador ou professor refletirá com o grupo sobre a tarefa explicando que a identidade
será preservada. Após anuência, entregar aos alunos uma folha de papel com um quadro
dividido ao meio. No lado esquerdo deve estar escrito ESCOLA, e do lado direto, COLEGAS.
Solicitar aos alunos desenhar, colar ou escrever algo que os incomodam ou entristecem na
escola relativo aos seus colegas e educadores (sem identificação).

Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Atividades com mulheres

Por uma questão histórica as mulheres sempre foram consideradas “o sexo frágil” e incentivadas
a ser subjugadas pelo homem. Com o advento da Revolução Industrial e das duas grandes guer-
ras, o elemento feminino passou a atuar em espaços que antes eram reservados aos homens.
A mulher entrou para o mercado de trabalho e o surgimento da pílula anticoncepcional colabo-
rou para sua independência sexual e a modificação da estrutura familiar vigente. Contudo, ela
ainda tem dupla jornada (no trabalho e em casa).
A mulher acaba por aceitar seu destino porque durante anos a fio a concepção de seu papel
como submissa foi passado de geração em geração e muito pouco questionado. A violência
contra a mulher durante anos foi “normalizada”. Com a criação da Delegacia da Mulher e novas
leis como a Lei Maria da Penha, há um enfoque maior sobre este tema.
Ao longo de meu trabalho com grupos de pacientes somáticos no Hospital de Base do Distrito
Federal, fui aprendendo, inventando e aplicando técnicas que ajudam as pessoas a sentirem que
podem mudar suas vidas e que têm poder sobre si próprias (empoderamento). Muitos pacientes
com dores crônicas e doenças sérias melhoraram a ponto de não precisarem mais usar remédios,
por conta dos grupos e das técnicas que se seguem e que funcionam para qualquer pessoa.
Em primeiro lugar acho importante dizer que empoderamento, no meu ponto vista, envolve a
pessoa apoderar-se, tomar conta de si própria em todos os seus aspectos, físicos, emocionais,
sociais e espirituais. Quando o indivíduo se conhece e reconhece que colabora na construção
de sua própria vida, ele se torna mais bem preparado para enfrentá-la e conduzi-la de modo a
ser feliz. 
Os seguintes exercícios que ensino, alguns cujas fontes se perderam no tempo, se praticados
todos os dias ajudam ao ser humano a realmente cuidar de si e estar no controle de sua exis-
tência. Estar em controle de si acarreta mais segurança par enfrentar sua própria vida.

Técnicas:

1) q
 uando a pessoa está em uma situação difícil, é importante que se pergunte “como é que
eu estou contribuindo para esta situação da qual eu reclamo?” (importantíssimo para que
perceba que muitas vezes ela é responsável pelo que está acontecendo consigo mesma) 
2) pensar em algum talento que tenha, por menor que este possa parecer, e praticá-lo
3) envolver-se na comunidade à qual pertence, ter amigos, passear, fazer algo de que goste
4) c
 uidar de si como se fosse mãe e pai de você mesma – pergunte-se “se fosse meu filho pas-
sando por esta situação, o que eu lhe diria? o que eu faria?”
5) q
 uando se sentir muito angustiada e não for capaz de se controlar, respire bem fundo, prenda
a respiração e imagine-se nadando debaixo d’água; solte a respiração lentamente e volte a
prender sua respiração e imaginar que está nadando, etc.. faça até se acalmar... o oxigênio é
um excelente calmante. Se você tem medo de água, respire e se imagine tomando um banho
de chuveiro onde a água está levando embora todos os seus males (sempre prendendo a
respiração e soltando vagarosamente)
6) p
 ense sobre você, sua vida, e trace um plano de vida, fechando os olhos e imaginando e sen-
tindo que ele está acontecendo. Detalhe cada passo de seu projeto de vida e organizá-lo por
prioridade e facilidade de colocá-lo em prática. Quando temos objetivos na vida ela passa a
fazer mais sentido e conseguimos superar muitas dificuldades por conta deles... há pessoas
condenadas por doenças graves que acabam se recuperando por terem um plano na vida
7) e
 ncarar suas dificuldades como um aprendizado de vida em que você sairá delas uma pessoa
mais preparada e rica de vivências que poderão ajudar outras pessoas também
8) a
 proveitar do passado aquelas lições que lhe servem para viver melhor. Prestar atenção se
você não está repetindo alguma situação que seus pais viveram e, principalmente, “jogue fora
no lixo aquilo que não serve para nada”. Viva bem o agora, o hoje.
Fonte: Marilia Lohmann Couri – psicóloga, psicoterapeuta individual, casal e familiar, psicóloga do Hospital de Base do DF e Programa Vio-
leta do HRAS/SES/DF, especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes especialista e mestre em terapia familiar.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Técnicas para trabalhar relações de poder e gênero

“Tempestade de idéias”

Objetivo: estimular a conversa em grupo sobre um assunto específico.

Materiais necessários: cartolina, cartaz ou quadrol, bem como pincéis atômicos ou giz.

Tempo recomendado para todas as dinâmicas: Uma hora e meia, se o grupo for aproxima-
damente de 15 pessoas.

Dicas/notas para planejamento de todas as dinâmicas: atentar-se para o fato de que algumas
pessoas são tímidas e deve, portanto, ser facilitada a sua expressão espontânea. Também,
deve-se estabelecer o acordo de que as pessoas não se julguem, escutem com respeito a
opinião alheia e não saiam do ambiente comentando o que ali ocorreu, mantendo o sigilo em
relação às falas individuais.

Procedimentos:

Escrever, em um papel ou quadro, palavras ou ideias ditas pelos(as) participantes, como se


fosse uma “tempestade”. O panorama final facilita a percepção do grupo de sua visão sobre
o tema. Todos/as os/as participantes deverão escrever em poucas palavras.

“Pessoas e coisas”

Objetivo: facilitar o reconhecimento da existência de relações de poder e do seu impacto


sobre os indivíduos e seus relacionamentos.

Procedimentos:

Divida as(os) participantes em três grupos. Cada grupo deve ter o mesmo número de
participantes. Escolha, aleatoriamente, um grupo para ser “coisas,” outro “pessoas” e o
último “observadoras(es)”. Leia as regras para cada grupo:
COISAS: As coisas não podem pensar, não sentem, não podem tomar decisões, têm que fazer
aquilo que as pessoas ordenam. Se uma coisa quer se mover ou fazer algo, tem que pedir
permissão à pessoa.
PESSOAS: As pessoas pensam, podem tomar decisões, sentem e, além disso, podem pegar
as coisas que querem.
OBSERVADORAS: Observam em silêncio.
Em seguida, peça para o grupo de “pessoas” pegar as “coisas” e fazer com elas o que quiser
em 10 minutos. Peça ao grupo que volte ao seu lugar e pergunte para as «coisas». Como
foi tratada por sua “pessoa”? Como se sentiu sendo tratada como coisa? Você se sentiu
impotente? Por que sim ou por que não? Para as «pessoas»: Como tratou sua “coisa”? Como
se sentiu tratando alguém como coisa? Você se sentiu poderosa? Por que sim ou por que não?
Por que as “coisas” obedeceram às ordens das “pessoas”? Para as(os) observadoras(es):
Houve pessoas do grupo de “coisas” ou “pessoas” que resistiram ao exercício? Em nossa vida
cotidiana, nós somos tratadas como coisas? Quem nos trata assim? Por quê? Nós tratamos
outras pessoas como coisas? Quem? Por quê?
Por fim, deve-se lançar para todo o grupo as seguintes questões: Como se sentiu no papel que
foi lhe atribuído sem dizer nada? Você gostaria de ter interferido em algo? Se sim, o que você

109
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

poderia ter feito? Na vida cotidiana, nós somos “observadores” de situações em que algumas
pessoas tratam outras como coisas? Nós interferimos? Por que as pessoas tratam os outros
dessa maneira? Quais são as consequências de um relacionamento em que uma pessoa trata
a outra como coisa? Na sua comunidade, as mulheres costumam pertencer a um desses três
grupos? A qual? Por quê? E os homens, costumam pertencer a um desses três grupos? Qual?
Como uma sociedade perpetua ou apoia esse tipo de relacionamento? O que você aprendeu
com esta atividade?

“O que é ‘gênero’?”

Objetivo: estimular a reflexão sobre como as normas e os papéis sociais de gênero influenciam
a vida e os relacionamentos de homens e mulheres. Ou seja, facilitar a compreensão de que
gênero é uma construção sócio-cultural por meio da qual certas atitudes e comportamentos
são designados às pessoas, caracterizando-as como homens ou mulheres.

Materiais necessários: papel flip-chart ou quadro; bem como pincéis atômicos ou giz.

Tempo previsto: 1 hora e meia, se o grupo for composto por aproximadamente 15 pessoas.

Dicas/notas para planejamento: atentar-se para o fato de que algumas pessoas são tímidas
e deve, portanto, ser facilitada a sua expressão espontânea. Também, deve-se estabelecer
o acordo de que as pessoas não se julguem, escutem com respeito a opinião alheia e não
saiam do ambiente comentando o que ali ocorreu, mantendo o sigilo em relação às falas
individuais.

Procedimentos:

Desenhe duas colunas e, na primeira, escreva “mulher” e, na segunda, escreva “homem”. Peça
aos participantes para falarem palavras e coisas associadas à ideia de “ser mulher”. Escreva-
as na primeira coluna. As respostas podem ter características positivas ou negativas. Repita a
mesma atividade para a coluna “homem”. Em seguida, cite características listadas em cada
coluna para reforçar o que aos participantes disseram. Troque os títulos de cada coluna, isto
é, substitua a palavra mulher pela palavra homem na primeira coluna e vice-versa.
Pergunte se as características listadas para as mulheres poderiam ser atribuídas aos homens
e vice-versa. Pergunte, ainda, sobre quais características aos participantes pensam não poder
ser atribuídas a ambos, homens e mulheres, e por quê.
Por fim, lance as seguintes perguntas para a discussão: O que significa ser mulher? O que
significa ser homem? Vocês acham que homens e mulheres são criados da mesma forma?
Por quê? Que características atribuídas ao homem ou à mulher são avaliadas como positivas
ou negativas em nossa sociedade? Como seria para uma mulher assumir características
atribuídas tradicionalmente ao homem? Seria fácil ou difícil? Como seria para um homem
assumir características relacionadas tradicionalmente a uma mulher? Qual a influência que as
nossas famílias e amigos exercem sobre percepções do significado de ser homem ou mulher?
Quais os efeitos que os meios de comunicação (televisão, revistas, rádio, etc.) têm sobre as
nossas percepções do que significa ser homem ou ser mulher? Como é que a mídia mostra o
que é ser mulher? E ser homem? Existe alguma relação entre gênero e poder? Explique. Enfim,
o que aprendemos durante esta atividade? Existe algo que poderia ser aplicado em nossas
vidas e relacionamentos?
Fonte: adaptação de “Trabalhando com mulheres jovens: empoderamento, cidadania e saúde” Promundo, 2008 (realizada por Tânia
Mara C. Almeida – Antropóloga).

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Risco e violência: as provas de coragem

Objetivo:
Refletir sobre “provas de coragem” e exposição a riscos para demonstrar coragem, virilidade
e masculinidade como forma de aceitação pelo grupo de pares (turma de amigos). Assim,
responder as expectativas da cultura.

Materiais necessários: espaço para trabalhar e criatividade.

Tempo previsto: duas horas.

Dicas/notas para planejamento:

Sentimentos envolvidos

Quem não o faz, é taxado de frouxo, careta ou covarde. Outras vezes, a vontade de sentir uma
emoção diferente, enfrentando situações de desafio e perigo, faz com que os jovens também
se exponham a riscos.
Algumas histórias têm um fim trágico,acabando em lesões, algumas graves e irreversíveis,
quando não em morte. O que isso tem a ver com homens jovens? Por que a necessidade de
“provar que é corajoso”?

Procedimentos:

1. F
 ormar grupos menores de 4-5 participantes.
2. C
 ada um dos grupos receberá uma folha de papel com o início de uma história, para que
o grupo complete a sua história da maneira que quiser, apresentando-a para os demais.
3. D
 e preferência, montar uma pequena peça com a narrativa da história.
4. D
 ar a cada grupo cerca de 20 minutos para completar essa tarefa.
5. P
 edir para cada grupo fazer suas apresentações e depois abrir a discussão.

Roteiro para discussão

Que provas de coragem eu já dei?


O que eu queria provar e a quem?
Como é curtir o “perigo”?
Como me senti?
Já pensou que podia ter acontecido algo errado?
E se ficar alguma marca no corpo (cicatrizou coisa parecida)?
E se eu me recusar a fazer uma destas provas, como é que fico?
Alguém conhece algum caso que tenha acabado mal?
Vocês conhecem as estatísticas de mortalidade masculina e suas causas?
Qual é a influência da cultura de masculinidade nos índices de mortalidade?

O grupo poderá sugerir as situações de risco.


Fonte: Adaptação: Da Violência para Convivência – Projeto Série – Trabalhando com Homens Jovens caderno 03 – Instituto PROMUNDO.
(Realizada por Laurez Ferreira Vilela – assistente Social)

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Prevenção da violência contra o idoso

Valorização do Idoso

Objetivo: valorização da experiência e prevenção da violência na 3ª idade

Material: folhas de papel ofício recortadas em forma de coração. De acordo com o número
de participantes

Tempo previsto: 1 hora e 40 minutos

Procedimento:
Ler o texto ou contar a história do “Coração partido” – Certo homem estava para ganhar o
concurso do coração mais bonito. Seu coração era lindo, sem nenhuma ruga, sem nenhum
estrago. Até que apareceu um velho e disse que seu coração era o mais bonito, pois nele
havia marcas. Houve vários comentários do tipo: “Como seu coração é o mais bonito, com
tantas marcas?” O bom velhinho então explicou que por isso mesmo seu coração era lindo.
Aquelas marcas representavam sua vivência, as pessoas a quem ele amou e que o amaram.
Finalmente todos concordaram. O coração do moço, apesar de lisinho, não tinha a experiên-
cia do idoso.
Após ler o texto o facilitador deve distribuir a cada participante um recorte de coração
(dobrado ao meio e cortado em forma de coração), revistas, cola e tesoura. Os participantes
deverão procurar figuras que poderiam estar dentro do coração de cada um. Fazer a colagem
e apresentar ao grupo. Depois cada um vai receber um coração menor e será instruído que
dentro dele deverá escrever o que quer para o seu coração na sua velhice.
Ao final o instrutor deverá conduzir o grupo a trocar os corações, entregar o seu coração a
outro. E todos devem ler para o grupo o que está no coração que pegou do colega.
Fazer a troca de cartões com uma música apropriada, tipo: Coração de Estudante, Canção
da América ou outra.
Após a troca de cartões o coordenador abre para discussão, para que o grupo fale de seus
sentimentos.

Fonte: Eliane Figueiredo Souza Jardim Corrêa – Psicóloga.

Sentimentos

Objetivo: promover o cuidado com o próximo

Tempo previsto: 30 minutos

Procedimento:
As pessoas fazem expressões faciais a partir de palavras-geradoras, como tristeza, raiva,
alegria, preocupação. O grupo precisa adivinhar qual é o sentimento que o colega deseja
expressar. Conversar sobre situações que nos fazem sentir tristes, alegres etc. Promover a
expressão dos sentimentos, conversar sobre as dificuldades de cada um, discutir sobre o
cuidado com o outro.

Fonte: Vanessa Canabarro Dios.

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Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Trabalhando preconceitos

Objetivo: prevenir o preconceito

Material: cartolinas, folhas de papel, fita crepe e caneta

Tempo previsto: 1 hora e 40 minutos

Procedimento:
Cara a cara. O coordenador prepara cartões pequenos contendo com frases curtas que iden-
tifiquem situações, tais como: sou gay, sou transexual, sou portador do vírus HIV, estou muito
doente, quero ser feliz, tenho câncer, sou trabalhador, vivi violência sexual, apanhei quando
era criança, meu marido me bate, gosto da minha família, gosto de ler, adoro ir para a escola
etc. Os cartões deverão ser afixados com fita crepe nas costas dos participantes sem que eles
vejam qual é a sua frase. Os participantes deverão caminhar pela sala buscando expressar
seus sentimentos ao entrar em contato com os dizeres afixados nas costas dos colegas. Ao
mesmo tempo, cada membro do grupo deve ficar atento à reação das pessoas à sua própria
frase. Promover ao final, uma discussão sobre preconceitos, bullying, violência entre pares.

Fonte: Vanessa Canabarro Dios – Psicóloga.

“Juntos somos mais”

Objetivo: Suscitar a importância do apoio e a união de todos

Material: Balão colorido, tiras de papel e caneta

Tempo previsto: 2 horas

Procedimento:
Formação em círculo, um balão vazio para cada participante, com uma tira de papel que
deverá ser preenchida após o comando do facilitador.
O facilitador dirá para o grupo que aqueles balões são os problemas que enfrentamos no nosso
dia-a-dia, de acordo com a vivência de cada um: desinteresse, intrigas, fofocas, competições,
inimizade, apoio, solidariedade e outras que contribuam no contexto.
Após escrever o problema sem se identificar, o aluno será orientado a colocar o papel preen-
chido dobrado dentro do balão. Cada um deverá encher seu balão e brincar com ele jogando-o
para cima com as diversas partes do corpo, depois com os outros participantes sem deixar
a mesma tocar o chão.
Aos poucos o facilitador pedirá para alguns dos participantes deixarem seu balão no ar e
sentarem, os restantes continuam no jogo. Quando o facilitador perceber que quem ficou no
centro não está dando conta de segurar todos os problemas peça para que todos voltem ao
círculo para ajudar quem ficou sozinho e então ele pergunta:
1) a
 quem ficou no centro, o que sentiu quando percebeu que estava ficando sobrecarregado;
2) a quem saiu, o que sentiu.
Neste contexto, o facilitador refletirá sobre como ficou mais fácil o grupo maior cuidando dos
problemas ou o grupo menor?
Ainda sentados, pedirá aos participantes que estourem os balões, leiam o papel e, um a um,
faça um comentário para o grupo sobre o que aquela palavra significa para ele e como poderia
contribuir para solucionar a situação descrita. O foco é que podemos compartilhar angústias
para, que juntos, resolvamos problemas que interferem no cotidiano.
Dicas de palavras – amizade, solidariedade, confiança, cooperação, apoio, aprendizado, hu-
mildade, tolerância, paciência, diálogo, alegria, prazer, tranquilidade, troca, crítica, motivação,
aceitação e outras que contribuam no contexto.
(As palavras devem ser feitas de acordo com o seu objetivo).
Fonte: Laurez Ferreira Vilela – Assistente Social

113
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Técnicas para utilização em metodologias


participativas – realização de Oficinas

Role Playing Game

Objetivos: Trabalhar o Preconceito e a Discriminação; Propiciar aos participantes a oportu-


nidade de atuar em diferentes papéis que evidenciem preconceitos; Aquecer o grupo para
construção coletiva. Ex: Promover uma discussão; Observar uma situação preconceituosa,
em um determinado Grupo;Evidenciar aspectos positivos ou negativos da atuação de uma
equipe em determinado trabalho.

Material: Cartolina para crachás; Fita crepe; Flip Chart; Canetas para Flip Chart.

Tempo previsto: cerca de 40 minutos.

Procedimento:

 screver previamente nos crachás as funções a serem desempenhadas pelos participantes.


1. E
Reuni-los num pequeno círculo enquanto o restante do grupo permanece num círculo
maior, externo a esse.
 ombinar com os participantes componentes do pequeno grupo o papel ou tipo de serviço
2. C
que irão representar, determinando personagens e atores.
 olocar os crachás nos participantes e pedir que cada um se concentre no seu papel. Dar
3. C
início ao diálogo.
 ar chance para cada personagem se expressar, pelo menos, duas vezes, e só então iniciar
4. D
a troca de papéis. Trocar o crachá do HIV+ (por exemplo, no personagem mais resistente
ao convívio com o soropositivo) e os papéis permitindo que representem diferentes per-
sonagens. Todos devem vivenciar o personagem do HIV+. Pode ocorrer que o grupo tome
alguma decisão antes da troca de personagens.
Observação: Caso você perceba que dentre os personagens do grupo nenhum tem atitude
discriminatória clara, mas o preconceito está “escondido”, coloque-se no lugar dele e
provoque o grupo, interferindo, representando um personagem bem polêmico.
 edir aos “atores”, ao final da encenação, que falem sobre os personagens e os papéis
5. P
mais difíceis de interpretar. Pedir para que identifiquem qual o sentimento que tiveram
quando representaram, por exemplo, o personagem soropositivo ou dependente químico,
de acordo com o contexto a ser trabalhado.
 edir em seguida, ao grande grupo que faça observações sobre a representação.
6. P

Pontos para discussão: Preconceito; Dificuldades na aceitação do próprio preconceito; Auto-


avaliação do serviço representado.

Observações:

 tarefa do facilitador nesta técnica é mostrar ao grupo as resistências dos personagens.


1. A
 importante adequar o grupo às situações a serem simuladas. Sugere-se que estas sejam
2. É
bem próximas à realidade da clientela.
3. Importante não utilizar esta técnica com crianças.

Fonte: Alves, Ivanilde* e Miranda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.

114
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Desenho do nome

Objetivos: Apresentar os participantes do grupo; Promover a integração da equipe; Refletir


acerca do nome; Incentivar discussão sobre a autoestima a partir do próprio nome; Refletir
sobre o trabalho a ser desenvolvido.

Material: Pincel atômico de várias cores; Caneta hidrocor; Gizão de cera; Papel em branco
(tipo chamex); Papel pardo; Aparelho de som; Música calma.

Tempo previsto: cerca de 40 minutos.

Procedimentos:

1. D
 ispor o grupo sentado, em círculo.
2. D
 istribuir uma folha de papel para cada participante, deixando o restante do material, no
centro do grupo, ao alcance de todos.
3. S
 olicitar ao grupo que reflita sobre todo o seu nome e que destaque o que eles mais
gostarem (nome, sobrenome, apelido).
4. P
 edir que desenhem alguma coisa que possa representar o nome ou a parte do mesmo
que foi escolhida, ou mesmo algo que possa identificá-la, lembrando a não necessidade
de um desenho artístico.
5. E
 m seguida, pedir que prenda o desenho ao seu tórax, com fita adesiva, e que caminhe
na sala em silêncio, ao som da música, observando os colegas e seus respectivos
desenhos.
Observação: “Nesse momento, o facilitador deverá lembrar a importância dos sentidos
“audição” e “visão” e de como os temos utilizados. Por exemplo: escutamos, mas não
ouvimos/vemos, mas não observamos.
6. A
 pós a reflexão, pedir que cada um pare ao lado de uma pessoa desconhecida ou
que conheça pouco e que juntos possam falar a respeito de seus nomes e desenhos,
apresentando-se um ao outro.
7. E
 m seguida, solicitar que as duplas possam sentar-se juntas e que um apresentem o
outro ao grande grupo.
8. D
 epois da apresentação, pedir para que cada membro do grupo cole o seu desenho numa
folha de papel pardo, previamente deixada no centro da sala, construindo assim, uma
“imagem” do grupo.
9. E
 ncerrar a atividade, levantando a discussão sobre o trabalho em equipe, refletindo sobre
a imagem formada anteriormente.

Pontos para discussão:

1. Importância do trabalho em equipe.


2. D
 e que forma a imagem do grupo representada no papel corresponde à imagem real.

Sugestão – Poderá ser adaptada para qualquer tipo de grupo.

Fonte: Alves, Ivanilde* e Miranda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.

115
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Mãozinhas

Objetivos: Levantar as expectativas do grupo em relação ao tipo de trabalho a ser realizado;


Verificar a disponibilidade interna de cada integrante do grupo, em relação ao trabalho a ser
realizado.

Material: Folhas de papel sulfite; Canetas ou lápis; Borrachas; Flip Chart; Canetas para
Flip Chart.

Tempo previsto: cerca de 20 minutos.

Procedimentos:

1. D
 ispor o grupo sentado, em círculo, em cadeiras com apoio (adaptar à realidade do local).
2. D
 istribuir uma folha de papel sulfite e uma caneta para cada participante.
3. S
 olicitar que cada integrante do grupo contorne, na folha de papel, sua mão direita e
esquerda, utilizando para isso, também, o verso da folha.
4. P
 edir que, após o desenho, cada participante escreva em um dos contornos da mão suas
expectativas em relação ao trabalho e, na outra, o tipo de contribuição que pode oferecer
ao mesmo.
5. S
 olicitar, após, que seja feita a leitura individual para o grande grupo, observando em qual
das mãos (direita ou esquerda) estão as contribuições para o trabalho. Nesse momento,
anotar no flip chart as expectativas.
Observação: Medir o grau de importância entre Contribuições e Expectativas, se as
mesmas estão descritas nas mãos “direita” ou esquerda”.
6. E
 ncerrar a atividade expondo os objetivos do trabalho em questão, tecendo comentários
sobre a disponibilidade interna de cada um sobre o trabalho que será realizado

Pontos para discussão: Trabalho em equipe; Disponibilidade interna; Boa vontade para reali­
zação de um trabalho; Expectativas.

Sugestão: Poderá ser utilizada para trabalhar grupos de qualquer faixa etária, desde que os
mesmos sejam alfabetizados

Salada de frutas

Objetivos: Dividir o grande grupo em subgrupos de trabalho; Aquecer o grupo para o


trabalho em subgrupos; Identificar possíveis conflitos do grupo; Estimular discussão sobre
competitividade.

Material: Sala ampla; Cadeiras.

Tempo previsto: cerca de 20 minutos.

Procedimentos:

1. D
 ispor o grupo sentado, em círculo.
2. V
 erificar o número de subgrupos que se deseja formar, para que o mesmo possa corres-
ponder ao número de frutas, no trabalho.
 etectar no grupo quais as frutas que eles mais gostam, de acordo com o número de
3. D
subgrupos que se deseja formar.
Exemplo: 04 subgrupos (maçã, uva, morango, abacaxi)

116
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

4. D
 istribuir os nomes das frutas para cada membro do grupo, solicitando aos mesmos que
não esqueçam o nome de sua fruta.
5. S
 olicitar ao grupo que, ao comando do facilitador, seus integrantes com os nomes das
frutas troquem de lugar.
6. R
 etirar do círculo uma cadeira, de forma que uma pessoa do grupo possa ficar de pé, no
momento do primeiro comando.
Exemplo: o facilitador dirá “maçã” e todas as “maçãs” trocarão de lugar. No momento
em que for dito “Salada de Frutas”, todas as frutas deverão trocar de lugar, ficando uma
pessoa de pé. Essa pessoa deverá comandar a brincadeira e assim, sucessivamente. Nessa
hora, o facilitador será apenas um mero observador do jogo.
7. E
 ncerrar a atividade, perguntando o sentimento de cada um nas diversas fases do jogo.

Pontos para Ddiscussão: Competitividade; Liderança; Ajuda mútua.

Observação: Deve-se ressaltar no Grupo o cuidado para não se machucarem; É importante


que o facilitador não interfira no momento em que o grupo estiver pontuando sobre seus
sentimentos, fazendo o processamento depois.

Sugestão:

Poderá ser utilizada para qualquer Grupo de Trabalho, tendo-se um cuidado maior com grupo
de crianças.

Passando a bola

Objetivos: Aquecer o grupo para trabalho coletivo; Promover uma descontração no grupo;
Discutir responsabilidades dentro de uma equipe ou de uma família; Refletir sobre o trabalho
em equipe ou sobre o papel desempenhado dentro de uma família; Descontrair e estimular
a atenção.

Material: Sala ampla; Bola de tamanho pequeno a médio.

Tempo previsto: de 15 a 20 minutos.

Procedimentos:

1. D
 ispor o grupo de pé, em círculo fechado.
2. P
 assar a bola para um membro do grupo, solicitando que o mesmo repita o procedimento
com os demais.
3. D
 eixar que a bola seja passada pelo menos duas vezes para cada componente do grupo,
inclusive para o facilitador.
 ncerrar a atividade solicitando que cada um possa se colocar sobre o sentimento gerado
4. E
no jogo, conduzindo as informações para os próprios objetivos da técnica em questão.

Pontos para discussão: Dificuldade de concentração e atenção; Responsabilidade de uma


equipe; Liderança; Papel profissional ou familiar; Objetivos em comum.

Sugestão: Podemos utilizar esta técnica, para trabalhar o tema: Negligência, com grupo
de pais, educadores ou profissionais; – Como Técnica de Apresentação de Grupos adultos,
adolescentes, crianças ou idosos, também poderá ser adaptada.
Fonte: Alves, Ivanilde* e Miranda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.

117
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Balão na roda

Objetivos:
1. Encerrar atividades.
2. Refletir sobre o trabalho realizado.
3. Avaliar o grau de importância do trabalho realizado para a vida profissional e pessoal.
4. Refletir acerca dos obstáculos que se apresentam diante de todo trabalho.
5. Facilitar o processo de despedida do grupo.

Material: Balões coloridos; Papéis cortados em tamanho pequeno, em número maior que o
dos componentes do grupo; Canetas ou lápis; Aparelho de som; Música animada.

Tempo previsto: cerca de 30 minutos.

Procedimentos:

1. D
 istribuir um pedaço pequeno de papel e uma caneta ou lápis para cada componente
do grupo, solicitando que os mesmos possam escrever uma mensagem bonita no papel,
dobrando-o depois em tamanho pequeno.
2. O
 ferecer um balão colorido para cada um, (deixando que os mesmos possam escolher a
cor), pedindo que seja colocada dentro do balão a pequena mensagem dobrada.
3. S
 olicitar que encham o balão e que seja dado um nó na ponta.
4. P
 edir que todos os balões sejam jogados para cima, de maneira que todo o grupo
possa tocá-los, avisando-os de que nenhum balão poderá cair no chão. Se isso ocorrer, o
facilitador deverá estimular o grupo a jogá-los para cima.
Observação: utilizar música animada.
5. E
 ncerrar a brincadeira, solicitando que cada pessoa pegue um balão de cor diferente
da sua.
6. T
 rocar a música, colocando uma música relaxante.
7. D
 ispor o grupo de pé, em círculo, pedindo que seja feito um exercício respiratório para
descansar.
8. S
 olicitar que o balão seja estourado e que cada um pegue a mensagem de dentro.
A mesma deverá ser lida em conjunto para todos, ao som da música suave, promovendo
uma reflexão no grupo.
9. T
 rocar a música e pedir para que o grupo a ouça de olhos fechados, incentivando nesse
momento uma breve avaliação, ou mesmo pedir para que deixem, uma mensagem para
o grupo. Música sugerida: “Força Estranha”. (Gal Costa).
10. E
 ncerrar a técnica falando o quanto foi importante o trabalho com a equipe em questão,
motivando os mesmos para a continuidade do trabalho.

Pontos a derem discutidos: Continuidade do trabalho; Perseverança nas dificuldades;


Trabalho em equipe.

Sugestão: Esta mesma técnica poderá ser adaptada, para trabalhar dificuldades dentro de
um grupo. Exemplo: Grupos de pais, adolescentes, crianças ou educadores. Basta colocar difi-
culdades, dúvidas ou situações problemas,dentro dos balões. Após a leitura, o próprio grupo
poderá dar sugestões para as dúvidas ou dificuldades apresentadas, ficando o facilitador
com a responsabilidade de moderar a discussão e de dar respostas corretas e científicas às
dúvidas apresentadas.
Fonte: Alves, Ivanilde* e Mir‑anda Torres, M.P.S – Manual de Técnicas Participativas – Fact/Family Heath Internacional do Brasil.
* Ivanilde Alves, Educadora, Psicanalista, Especialista em Educação Sexual.

118
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

“Projeto de vida”

Objetivos: construir uma proposta para a existência.


Material: folhas de papel, cola, revistas, caneta hidrocor ou similar.
Tempo previsto: 2 horas.
Procedimento:
1ª) TÚNEL DO TEMPO: Cada integrante demarca uma linha do tempo na sala com fita crepe
ou com barbante. Nessa linha serão marcadas quatro datas futuras que podem ser daqui a 6
meses, 1 ano, 2 anos e 5 anos. Sugere-se que os participantes caminhem ao longo da linha pa-
rando em cada data. A cada parada, deverão refletir sobre: “Como estou? O que estou fazendo?
O que desejo fazer?” O objetivo é que se imaginem e se percebam no futuro. Pode-se sugerir áre-
as específicas para os projetos de vida, tais como: saúde física, saúde espiritual, saúde intelec-
tual, saúde familiar, saúde social, saúde financeira, saúde profissional, saúde ecológica (planos
e metas relacionados à natureza e ao planeta Terra, tais como: participação em coleta seletiva
de lixo, economia de água, plantio de uma árvore etc.). Dessa forma, serão identificados os prin-
cipais projetos de vida de cada um. Após a chegada na última data, promove-se uma reflexão
sobre como foi a “viagem para o futuro”. Caso um ou mais participantes não consigam vislum-
brar projetos e metas de vida, os facilitadores poderão trazer essa reflexão para o grupo.
2ª) REALIZANDO MEU DIAGNÓSTICO: Após a reflexão no “túnel do tempo”, os participantes
deverão discutir sobre as condições que os cercam e definir as circunstâncias e características
que podem ajudar ou atrapalhar o alcance das metas. Pode-se sugerir a realização de um qua-
dro diagnóstico semelhante ao descrito a seguir para cada projeto. Nesse quadro, os partici-
pantes deverão refletir sobre as características externas e internas que favorecem ou ameaçam
a realização do projeto. Essas informações deverão ser descritas no espaço “análise pessoal
e contextual”. A seguir os participantes deverão refletir sobre soluções para atingir tal meta e
descrevê-las no espaço “soluções”.
MEU DIAGNÓSTICO
Referências Análise pessoal e contextual Soluções
Circunstâncias Ameaças
Externas Oportunidades
Características Forças
Pessoais Fraquezas

3ª) CRIANDO MEU PLANO DE AÇÃO: Após a realização do “meu diagnóstico”, utilize o formulário
Plano de Ação, detalhando as ações necessárias para concretizar o seu Projeto de Vida. É
importante ter consciência de que você não precisa estabelecer metas grandiosas. Inicie com
metas menores e pequenas e tente relacioná-las com as metas mais amplas que exigem maior
investimento e maior tempo. Escreva-as de maneira objetiva e detalhada, para que você possa
acompanhá-las. Lembre-se que um passo se dá atrás do outro e que para se fazer um caminho,
primeiro é preciso caminhar.
MEU PLANO DE AÇÃO
MINHA META É: ex: Comprar um terreno para a construção da minha casa

Quando vou Que estratégias vou usar para não


O que vou fazer? Como vou fazer isto?
começar? falhar?

Ex: 1. Escolher o bair- Ex: 1. Imediato; Ex: 1. Discutir critérios com a Ex: 1. Conversas com companheiro (a);
ro onde quero morar; 2. 12/01/2010 família; 2. E
 nvolver as crianças;
2. V
 erificar o preço 3. 01/07/2010 2. C onsultar jornais, imobiliárias, 3. A
 brir poupança sem facilidades de
dos terrenos; 4. Final do ano moradores, etc; saque;
3. D
 efinir programas 3. Identificar todos os custos 4. N
 ão retirar o dinheiro da aplicação
de poupança; fixos, abrir poupança e cortar para outros gastos;
4. D
 ar entrada no gastos, 5. A
 ssinar cheques pré-datados ou
terreno. 4. C ontrato com o proprietário. pagar prestações.
Fonte: Adaptação – ANTUNES, R.C. Projeto de Vida. Acessível no endereço eletrônico: http://www.scribid.com/doc./7327520/Projeto-de-Vida-
Roteiro Último acesso 07.12.2009 (Realizada por Vanessa Canabarro Dios – Psicóloga)

119
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Texto de apoio

Motivando o Projeto de Vida

Em 1990 havia um cavalo pangaré chamado Mumu dos Anjos que era usado por um
desses catadores de papelão para puxar carroça. Mumu era visto subindo e descendo o
morro da Favela no Rio de Janeiro, carregando o pesado e ingrato fardo de coisas velhas e
papelão usado. Esta era a vida de Mumu e o seu destino parecia terminar assim, até que seu
dono decidiu vendê-lo para pegar um dinheirinho.
Naquela região havia um Senhor que queria comprar um cavalo para dar à sua filha
adolescente que estava aprendendo a cavalgar, por esta razão nada melhor que usar um
pangaré. Aconteceu que o pai desta menina tinha outro cavalo (só que de raça) e estava
participando de um torneio na Hípica do Rio de Janeiro.
No dia anterior à competição o cavalo de raça se machucou e ficou impedido de participar
do torneio. A solução para manter-se inscrito era usar outro cavalo, foi então que colocaram o
pangaré Mumu, somente para manter o nome da equipe inscrita. Desengonçado, sem sangue
Árabe, sem treinamento, sem pedigree e sem história, Mumu era um daqueles que ninguém
acreditava, nem sequer apostava. Bom, a surpresa veio!
Mumu viu e entendeu que a vida lhe estava abrindo uma porta, e correu, correu, correu
como nunca e ganhou. Ninguém acreditou. Anos depois o preço de Mumu estava por volta de
Meio Milhão de Dólares, passando a ser transportado de avião, comendo ração importada, e
sendo tratado como um rei. Obviamente continua correndo!
A historia deste pangaré é verdadeira e foi publicada no Jornal Gazeta Mercantil em 1990.
Assim como Mumu, eu, você e muitos outros não tivemos uma família super-rica que nos
sustentasse com tudo de bom e de melhor. Isto às vezes se torna um peso para muitas
pessoas, que não lutam por acharem que não são capacitadas.
No entanto, veja que a vida de Mumu mudou a partir do dia que ele teve uma oportunidade
e entendeu que precisava correr para não continuar naquela situação. Apesar de ter uma
aparência de que nunca chegaria lá, ele mostrou ser possível.
Amigo de Deus, não importa sua idade, está na hora de largar a carroça, deixar para trás
os sentimentos de eu não consigo, sou pobre, sou feio, sou sozinho, ninguém me ajuda, não
tenho sorte etc. É hora de acordar e saber que lá fora tem uma corrida acontecendo. Se as
coisas não acontecem na vida profissional e você não é realizado, ao invés de reclamar das
bagas de milho que possa estar comendo, procure ver aquilo que está faltando.
Quem sabe você não tem feito a coisa da forma certa, um currículo mal elaborado, é
muito ansioso nas entrevistas, fala demais, não sabe ouvir, não é confiável no trabalho, falta
muito, chega sempre atrasado, vive dizendo pequenas mentirinhas, não tem educação para
falar com as pessoas ou é do tipo pavio curto? Quem sabe falta aquele – Muito obrigado –
Com licença – Por favor – Me desculpe, ou ainda um sorriso. De repente um simples sorriso
muda tudo e abre muitas portas. Um Coração alegre aformoseia o rosto, portanto deixe de
ser zangão. Lembre-se que antes de querer ser Divino é necessário ser mais Humano. Talvez
o problema seja simplesmente que você tenha que voltar à escola e terminar o ginásio, fazer
uma faculdade, uma Pós-Graduação ou quem sabe aquele curso de Idiomas.
Existem muitos cursos de ótima qualidade e que são gratuitos oferecidos pelas Prefeituras,
Associações de Comunidade e Igrejas, CORRA! Busque nos jornais de Domingo, consulte
na Internet, pergunte às pessoas que você conhece, e finalmente espalhe que você quer
correr atrás de algo que lhe falta. Certamente alguém será usado para lhe abrir a porta da
oportunidade.
Quando isto acontecer e seu nome for chamado, Levante e Corra. Mais corra, corra, corra
muito mesmo, pois esta pode ser a sua chance de largar a Carroça e ter muito sucesso
na vida.

Fonte: Nelson Aprígio de Lima.

120
Música: Tente Outra Vez

Veja, não diga que a canção está perdida.


Tenha fé em Deus, tenha fé na vida.
Tente outra vez.
Beba, pois a água viva ainda está na fonte.
Você tem dois pés para cruzar a ponte.
Nada acabou, não, não, não.
Tente, levante sua mão sedenta e recomece a andar.
Não pense que a cabeça aguenta se você parar.
Não, não, não, não, não.
Há uma voz que canta,
Há uma voz que dança.
Há uma voz que gira, bailando no ar.
Queira, basta ser sincera e desejar profundo.
Você será capaz de sacudir o mundo.
Vai, tente outra vez.
Tente, e não diga que a vitória está perdida.
Se é de batalhas que se vive a vida.
Tente outra vez

Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta

121
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Anexos
Locais na Rede de Saúde que Realizam Acompanhamento
Especializado às Vítimas de Violência

Adolescentro
(só para adolescentes)
End.: Av. L2 Sul Q. 605
Centro de Saúde nº 6
Tel.: (61) 3242-1447
(61) 3443-1855

HRC
HRAS
Hospital Regional
Hospital Regional
da Ceilândia
da Asa Sul
Tel.: (61) 3371-7550
Tel.: (61) 3445-7669
(realiza terapia ocupacional)

HRAN
Hospital Regional
da Asa Norte
Programa Margarida HRT
Tel.: (61) 3325-4249 Hospital Regional
End.: SMHN Área Especial de Taguatinga
Corredor laranja Sala 28 Tel.: (61) 3353-1159
Atendimento na
quarta-feira pela manhã.

COMPP HRPa
Centro de Orientação Hospital do Paranoá
Médico-Psicopedagógica Triagem realizada pelo Serviço Social
End.: SMHN 501 Bloco B CAPS II – Centro Atenção Psicossocial
Asa Norte End: Quadra 02 – Área Especial
Tel: (61) 3326-3201 ao lado do HRPa
(61) 3325-4945 Tel: (61) 3369-9933

122
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

TELEFONES ÚTEIS DO DISTRITO FEDERAL

HORÁRIO DE
INSTITUIÇÃO ENDEREÇO TELEFONE
FUNCIONAMENTO

Instituto de Medicina Legal Sudoeste, Complexo da Polícia


3362-5693 24 horas
– IML Civil, Bloco E

Delegacia Especial de SAI – Sudoeste, Bloco D, Lote 29 –


3361-1049 8h às 13h /
Proteção à Criança e ao Complexo da Polícia Civil – prédio
3362-5941 14h30min às 19h
Adolescente – DPCA da CPE, Parque da Cidade

3905-1349
SEPN 515 Norte, Ed. Banco do
Conselho Tutelar de Brasília 3905-1354 Horário comercial
Brasil, Bloco A, Lote 1, 2º andar
3905-1278

0800-644 2031
Conselho Tutelar de Quadra 24, Lotes 06/07 – Setor 3479-4361
Horário comercial
Brazlândia Tradicional de Brazlândia 3479-4412
Fax: 3479 4689

Conselho Tutelar de QNN 13, Área Especial, Módulo B, 0800-644 2028


Horário comercial
Ceilândia Sala 01 – Centro Cultural 3905-1358

0800-644 2033
Entrequadra 13/17, Área Especial
Conselho Tutelar do Gama 3905-1361 Horário comercial
– Setor Oeste (ao lado da 20ª DP)
3905-1362

0800-644 2034
Conselho Tutelar do Quadra 21, Área Especial (ao lado
3905-1363 Horário comercial
Paranoá do Centro de Saúde)
3905-1364

0800-644 2027
Conselho Tutelar de Área Especial, Módulo H, nº 06, 3389-6763
Horário comercial
Planaltina Sala 11 – CDS de Planaltina 3389-5663
Fax: 3388-8235

0800-644 2060
Conselho Tutelar de QR 301, Conjunto 04, Lote 01 –
3905-1368 Horário comercial
Samambaia Samambaia Sul
3905-1369

0800-644 2032
Conselho Tutelar de Santa Área Especial, Lote B, EQ 209/309 3392-1886
Horário comercial
Maria – Santa Maria 3393-5727
3393-0572

0800-644 2026
Conselho Tutelar de Quadra 06, Área Especial, n. 03 – 3591-0660
Horário comercial
Sobradinho prédio do CDS 3487-5301
Fax: 3387-1559

0800-644 2024
3351-7133
Conselho Tutelar de C 12, Área Especial – Taguatinga
3352-8443 Horário comercial
Taguatinga Centro
3562-8532
Fax: 3352-2812

123
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

Vara da Infância e da
SGAN 909, Bloco C, Lotes D/E 3348-6600 13h às 19h
Juventude

Conselho dos Direitos da SRTVS, Q. 701, Bloco I, Ed. Palácio 9h às 12h / 14h
3322-2266
Mulher DF da Imprensa, 5º andar às 18h

Delegacia de Atendimento 3442-3400


EQS 204/205 – Asa Sul 24 horas
à Mulher – DEAM 3244-4583

Atendimento às Vítimas
de Violência (criança, 3342-1407
Denúncia via telefone 24 horas
adolescente e idoso) –
CREAS

Central Judicial do Idoso TJDFT, Bloco B, 3343-76 21


13h às 17h
Entrealas A/B, 3° andar 3343 -7609

Ministério Público
– Promotoria de Justiça 3343-9721
Ed. Sede do MPDFT, Praça
de Defesa do Idoso e do 3343-76 21 8h às 19h
Municipal, 1º andar
Portador de Deficiência
(Prodide)

Defensoria Pública do DF
3343-7612
– Núcleo de Assistência TJDFT, Bloco B, 1º andar –
3343-7470 13h às 19h
Jurídica de Defesa do Ceajur
Idoso

Gerência de Valorização do SEPN 515, Bloco A, Ed. Banco 3905-1348


8h às 17h
Idoso – GVI do Brasil 3905-1251

124
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

COSE’s – RELAÇÃO DOS CENTROS DE ORIENTAÇÃO SOCIOEDUCATIVA

COORDENADOR
COSE QUANT. NOME E ENDEREÇO TELEFONE
DO COSE

COSE VILA PLANALTO


Acampamento Pacheco
Brasília 01 3306-1345 Eliane Gomes Rosa
Fernandes, Rua dos
Engenheiros, Casa 0

COSE CENTRAL Vera Lúcia Leza de


Área Especial, n. 1, Lotes K/L – 3479-6176 Menezes Bonifácio
Setor Norte 8137-0024
Brazlândia 02

COSE VILA SÃO JOSÉ Marta Pedro da Rocha


3391-5223
Área Especial II, Quadra 36 8417-4537

COSE GUARIROBA José Isidoro Mascarenhas


QNN 16, Módulo A – 3378-2681 da Silva
Ceilândia Sul 9983-0426

COSE P. SUL
Josildo Soares Freire
EQNP 12/16, Lotes A e B, 3376-7318
8477-5640
Área Especial, Setor P. Sul
Ceilândia 04

COSE SUL
Tomé Aguiar Oliveira
QNM 15, Módulo A, Área 3371-2536
8402-4352
Especial – Ceilândia Sul

COSE OESTE Lúcia Maria Figueiredo


QNN 15, Módulo A – Ceilândia 3374-7756 Rocha
Norte 9162-2263

COSE SUL
Ascionara Ramalho Alves
Área Especial, Entrequadra 5/11 3556-0042
9236-3308
– Setor Sul
Gama 02
COSE OESTE
Osni das Graças Evangelho
Área Especial, Entrequadra 3556-6712
9553-4998
13/17 – Setor Oeste

COSE GUARÁ I Eliane Cavalcanti Caetano


Guará 01 3568-2483
QE 01, Área Especial J da Silva – 8116-9630

COSE DIVINÉIA Lúcia Helena Maciel da


Núcleo
01 3ª Avenida, Bloco 1915, Área 3386-6467 Silva
Bandeirante
Especial 8441-8602

COSE CENTRAL Josélia Soares Afonço


Paranoá 01 3408-1643
Quadra 02, Área Especial, S/N 9824-0920

Raimundo Nonato de
COSE CENTRAL 3388-4100
Planaltina 01 Sousa
Área Especial H, Lote 06 3388 -1167
8199-1660

125
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

COSE-GO
Recanto das Vargem da Benção – Estrada 3434-1031 Maria Aparecida Tiveron
02
Emas Parque Taguatinga/Gama, km 3334-1855 9972-4932
03 Recanto das Emas

COSE CENTRAL
Carla Andréa Maria Alves
Sobradinho 01 Quadra 06, Área Especial n. 03, 3591-2603
9112-9949
Lotes 06/07

COSE BERNARDO SAYÃO Marisleide Aparecida de


QNM 36/38, Área Especial – 3491-2454 Cardoso de Amorim
M. Norte 9965-6566
Taguatinga 02
COSE MOUZARD PARADA Claudilene da Silva
CNL 1, Projeção A, Área 3336-8508 Olimpio
Especial 8188-0019

126
Caminhos para uma Convivência Saudável na Perspectiva da Saúde

CREAS

RELAÇÃO DOS CENTROS DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

CREAS/
ORD. ENDEREÇO/E-MAIL FONE/FAX COORDENADOR
ABRANGÊNCIA

BRASÍLIA (Cruzeiro, Lago


Sul, Lago Norte, Sudoeste/ 3346-9332
Lauro Regis
Octogonal, Brasília, AV. L2 Sul, QD. 614/615, 3346-1407
Nogueira de
01 Núcleo Bandeirante, Lote 04 3245-8131
Marco
Candangolândia, Park creasbsb@sedest.df.gov.br 3245-8129
8151-3033
Way, Guará, Varjão, Jardim Fax: 3245-8131
Botânico e São Sebastião).

3387-8651
SODRADINHO (Sobradinho, QD. 06, Área Especial nº 03 Marilise Costa
3387-2241
02 Sobradinho II, Paranoá, creassob@sedest.df.gov.br Freire de Oliveira
Fax: 3387-1559
Itapoá e Planaltina). 9961-1498
(Conselho Tutelar)

TAGUATINGA (SCIA/
Setor D Sul, Área Especial –
Estrutural, Taguatinga, Águas 3563-3155 Izabel Cristina
03 Tag. Sul
Claras, Samambaia, Riacho FAX: 3351-8129 9158-8256
creastag@sedest.df.gov.br
Fundo I e Riacho Fundo II).

3556-3973 Iraneide Pinho


Área Especial n. 11/13, Setor
GAMA (Gama, Santa Maria 3484-1257 Vieira
04 Central
e Recanto das Emas) 3384-4810 9913-6057
iraneidevieira@pop.com.br
Fax: 3484-1257

Qd. 03, Conj. B, Lote 06 Vânia Cristina


05 Estrutural Estrutural Barbosa Santana
vaninhacris@superig.com.br 8491-7707

Quadra 06, Área Especial n. 3389-1664 Silvia Antonia


06 Planaltina 03 Ramal: 21 Coleto de Assis
crassob@sedest.df.gov.br 3389-8996 8119-6470

Flávio Wilson
QNM 16, Área Especial,
CEILÂNDIA (Ceilândia e 3581-2260 Campos de
07 Módulo A – Ceilândia Norte
Brazlândia) Fax: 3373-9854 Carvalho
flaviowilson@gmail.com
8165-3301

127
“Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos, que
nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não
ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos”.

Fernando Pessoa

Projeto Gráfico e Diagramação Ilustrador Revisão ortográfica


Samuel Tabos a de Castro Marcílio Tabosa de Castro Marina Macêdo Mendes
Esta publicação, com uma linguagem simples e acessível a públicos
variados, compartilha olhares de diversos autores, estudiosos e
experientes no assunto relativo à violência contra crianças, adolescentes,
mulheres, homens e idosos.

A sua finalidade primordial é contribuir para o paradigma da


prevenção primária da violência nas unidades de saúde, principalmente
no âmbito da Atenção Básica, bem como na Educação, Assistência, entre
outras áreas que lidam com tais grupos sociais.

Dada a complexidade da violência em nossa sociedade, a efetiva


prevenção passa pela compreensão do fenômeno e por ações que
possam interferir em suas circunstâncias e seus eixos desencadeadores.

À frente desta proposta está o Núcleo de Estudos e Programas para


os Acidentes e Violências – NEPAV – da Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal, com a incumbência de apontar caminhos para
diferentes profissionais, sempre com o intuito de apoiar a promoção da
convivência saudável nos diversos ciclos de vida.

Realização Apoio

Ministério
Núcleo de Estudos e Programas da Saúde
para os Acidentes e Violências
Secretaria de Estado de Saúde
do Distrito Federal
Convênio 3122/05

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