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POSTER
AGRICULTURA FAMILIAR
Resumo
O tema agricultura familiar tem sido foco de inúmeras discussões teóricas, havendo diversos
entendimentos a respeito de seu futuro na sociedade contemporânea, existindo desde aqueles
que profetizam o seu desaparecimento até os que acreditam que esta categoria social é capaz
de se manter e se reproduzir ao longo das gerações. Este artigo se propõe a uma reflexão
sobre o lugar da agricultura familiar na sociedade contemporânea, realizando um estudo
analítico-comparativo entre as perspectivas que se convencionou chamar de camponesa
composta pelos trabalhos de Maria Nazaré Baudel Wanderley, de marxista clássica composta
pelo trabalho de José Graziano da Silva e de neomarxista composta pelos trabalhos de
Ricardo Abramovay, Bruno Jean, Delma Pessanha Neves e Sérgio Schneider. O texto visa a
permitir a análise dessas perspectivas e a explicitar e refletir sobre seus fundamentos teóricos,
almejando contribuir para o debate em torno da agricultura familiar, reafirmando a
necessidade de compreensão da diversidade e da especificidade desta categoria social.
Concluiu-se que a agricultura familiar entendida como uma categoria social não torna
possível a construção de uma Teoria Social, mas sim de uma perspectiva teórica que permita a
compreensão da realidade. Para a perspectiva neomarxista o lugar da agricultura familiar na
sociedade contemporânea precisa ser reconhecido pela sociedade e pelo Estado, necessitando
de políticas públicas que assegurem sua reprodução. Para os marxistas clássicos seu lugar será
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Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
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conquistado num mundo rural diferenciado que considere não só as atividades produtivas
convencionais, mas a produção de serviços e bens não-agrícolas. E, para a perspectiva
camponesa o lugar da agricultura familiar sempre foi subalterno e secundário, sendo
impossibilitado de desenvolver suas potencialidades, mas marcado por lutas para a
manutenção de seu patrimônio sociocultural.
Abstract
The familiar agricultural theme has been the focus of several theorical discussions, getting
several agreement concerning the contemporary society future, existing since those who
prophesize its desappearing to those who believe this social category is able to maintain and
reproduce through generations. This article proposes a refletion about familiar agricultural in
the contemporary society, taking an analytical/comparative study betwen the perspective we
call “camponesa” by Maria Nazaré Baudel Wanderley works, by the classical marxist by José
Graziano da Silva work and the classical neomarxist through Ricardo Abramovay, Bruno
Jean, Delma Pessanha Neves e Sérgio Schneider works. The text permits the anlaysis of these
perspectives and explicitate and reflect about theorical basis, aiming at contributing to the
debate around the familiar agricultural, reinforcing the necessity of understanding the
diversity and the specificity of this social category. The conclusion is that the familiar
agricultural that is seen as a social category does not make the construction of a social theory,
but a theorical perspective that allows the reality understanding. To the neomarxist
perspective the place for the familiar agricultural in the contemporary society needs to be
recognized throug the society and the State. It needs public politics that assure its
reproduction. To the classical marxist it will take place in a different rural world that consider
not just the conventional productives but also the services production and the non-agriculture
issues. And to the “camponesa” perspective the place for familiar agricultural was always
underground and secundary. It does not allow it to develop its potencialities and its marked
for struggle to maintain its sociocultural patrimony.
Key Words: familiar agricultural, social theory, rural development, diversity, contemporary
society
1. INTRODUÇÃO
O tema agricultura familiar tem sido foco de inúmeras discussões teóricas, havendo
diversos entendimentos a respeito de seu futuro na sociedade contemporânea, existindo desde
aqueles que profetizam o seu desaparecimento até os que acreditam que esta categoria social é
capaz de se manter e se reproduzir ao longo das gerações.
No Brasil, a expressão agricultura familiar ganhou projeção nacional no final dos anos
1980 e, principalmente, a partir da primeira metade da década de 1990. O debate,
inicialmente, concentrou-se no campo político e, posteriormente, acadêmico. Verifica-se que
os teóricos dos estudos rurais até o final dos anos 50 concentravam suas análises sobre a
natureza das relações de produção no campo. A partir dos anos 90 surgiram pesquisas com o
intuito de conhecer o caráter familiar dos estabelecimentos agrícolas e suas formas de
funcionamento, cuidando-se, portanto, de tema atual (SCHNEIDER, 1999).
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Este artigo se propõe a uma reflexão sobre o lugar da agricultura familiar na sociedade
contemporânea, realizando um estudo analítico-comparativo entre as perspectivas camponesa
e marxista (visão clássica e neomarxista) à luz das contribuições brasileiras ao debate.
O texto visa a permitir a análise dessas perspectivas e a explicitar e refletir sobre seus
fundamentos teóricos, sem, contudo, ter a pretensão de reconstruir toda a complexidade da
discussão sobre o tema. Com isso, almeja-se contribuir para o debate em torno da agricultura
familiar, reafirmando a necessidade de compreensão da diversidade e da especificidade desta
categoria social.
Há uma vasta bibliografia sobre o pensamento social agrário e sobre as condições e os
obstáculos ao processo de desenvolvimento do capitalismo no campo. No entanto, este
trabalho limita-se a estudar e discutir as questões referentes à agricultura familiar brasileira e
ao seu espaço empírico.
Para tanto, dividiu-se o corpo do artigo em três seções. A primeira trata da perspectiva
camponesa em que o estudo se concentra na visão de Maria Nazaré Baudel Wanderley. A
segunda trata da perspectiva marxista clássica focada no trabalho de José Graziano da Silva e
na perspectiva neomarxista em que se analisam os trabalhos de Ricardo Abramovay, Bruno
Jean, Delma Pessanha Neves e Sérgio Schneider. A terceira realiza uma discussão entre os
autores retramencionados, enfocando as similitudes e as diferenças entre seus entendimentos.
Com isso, se deseja responder as seguintes questões:
- Quais as principais contribuições dos autores brasileiros ao debate sobre a
agricultura familiar?
- Como entender a persistência da agricultura familiar a partir da teoria marxista
clássica?
- Quais as razões que levam os neomarxistas a explicarem a persistência das
formas familiares ao longo do século XX?
2. PERSPECTIVA CAMPONESA
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O trabalho de Wanderley tem respaldo teórico na proposta analítica de Hugues Lamarche, que “parece
atualizar o modelo teórico estrutural-funcionalista proposto por Mendras” (Schneider, 1999, p. 62-64) e na
concepção teórica de Chayanov sobre a organização da unidade econômica camponesa.
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3. PERSPECTIVA MARXISTA
Entre os autores que compõem a perspectiva que se denominou marxista clássica, será
o objetivo dessa seção a discussão sobre a colaboração de José Graziano da Silva e do
trabalho realizado pela FEE ao debate.
Graziano da Silva (1999), através de uma pesquisa empírica realizada em 1982,
analisou o caso dos produtores de feijão da região de Itararé, em São Paulo.
A argumentação de Graziano se apóia na teoria da diferenciação social de Lênin que
ampliou a concepção teórica da divisão de classes proposta por Marx. Para Marx, o que
caracteriza uma classe social é sua posição no processo de produção, sua relação com o
sistema de propriedade. No capitalismo, dois tipos diferentes de possuidores de mercadorias
irão confrontar-se: a burguesia (proprietários do dinheiro, dos meios de produção e dos meios
de subsistência) e o proletariado (vendedores da própria força de trabalho) (MARX, 1996).
Esta categorização em classes sociais antagônicas delineia a antítese dentro do pensamento
marxista e representa a base objetiva dos conflitos político-sociais e das transformações
históricas (SANDRONI, 1994).
Resumidamente, conforme a teoria marxista, no capitalismo há uma separação entre os
meios de produção e o trabalho, os donos da força produtiva apropriam-se do excedente
gerado pelos trabalhadores. Portanto, não seria possível a existência de uma classe social que
fosse ao mesmo tempo detentora dos meios de produção e vendedora da sua força de trabalho.
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“mais pobres”, porém, mantendo os traços típicos da produção camponesa, como o uso da
força de trabalho familiar como base de produção. O processo de “decomposição” das
economias camponesas, por sua vez, significa que as transformações a que está submetida a
unidade de produção foram tão profundas que a levaram, num sentido ascendente, a
transformar-se numa unidade capitalista de produção (capitalização) ou, num sentido
descendente, a perder a condição de unidade produtora autônoma (proletarização). No
processo de decomposição, como se pode perceber, as unidades perdem o caráter camponês e
se transformam em outros tipos de empresa ou levam a família camponesa ao assalariamento
total ou parcial.
Segundo Graziano da Silva (1999), o debate sobre a pequena produção, no Brasil,
ficou prejudicado pela falta de clareza. Não obstante, três estereótipos podem ser levantados:
o produtor de subsistência, o produtor familiar eficiente e o produtor com pluriatividade.
Esses tipos sofrem mecanismos de diferenciação e de decomposição, formando categorias
intermediárias que dificultam a caracterização das classes sociais.
O autor destaca a dificuldade de apresentar uma posição quanto ao futuro desses
indivíduos, às vezes chamados de agricultores familiares, às vezes de pequenos produtores ou
camponeses, afirmando que esses “tipos” não são nem proletários, nem capitalistas típicos e
que em função disso fica difícil não repetir as velhas propostas para evitar constrangimentos e
omissões (GRAZIANO DA SILVA, 1999).
Graziano da Silva destaca que a pequena produção é determinada pela dinâmica do
núcleo capitalista da economia brasileira e que o processo de diferenciação em que se vêem
submetidos exige um esforço permanente do pequeno produtor para não ser levado à
decomposição (proletarização).
Finalmente, o autor conclui preconizando que uma política de desenvolvimento rural
precisa articular um amplo conjunto de outras políticas não-agrícolas que ampare os
trabalhadores rurais menos favorecidos, em que políticas sociais compensatórias se convertam
em instrumentos auxiliares para as políticas tradicionais. Assim será possível uma política de
desenvolvimento rural que objetive o combate à pobreza do campo.
Este argumento de Jean está respaldado pelas explicações de Marx para a pequena
produção parcelária em que destaca que nesta o camponês é proprietário livre da terra, mas a
agricultura se destina em grande parte à subsistência imediata e a terra é indispensável campo
de atividade do trabalho e do capital. No caso da pequena propriedade camponesa, o
camponês apenas receberá o equivalente a sua sobrevivência, conforme Marx (1996, p. 923),
Realizar um diálogo entre as perspectivas e os autores não é uma tarefa simples, por
isso levantam-se algumas questões consideradas relevantes e traçam-se algumas similitudes e
diferenças.
A utilização do termo agricultura e agricultor familiar não é um consenso entre os
autores estudados, contudo acredita-se estar se tratando de uma mesma categoria social.
Wanderley utiliza os termos agricultor familiar e camponês, Tedesco usa colono e camponês,
Graziano da Silva aceita pequeno-produtor, camponês e agricultor familiar como sinônimos,
Neves utiliza agricultor familiar e produtor, Jean utiliza agricultor familiar moderno e
Schneider usa agricultor familiar e formas familiares.
Quanto à percepção do agricultor como um sujeito ativo, um agente, destaca-se a
posição de quatro autores Schneider, Neves, Wanderley e Tedesco que deixam explícitos em
seus trabalhos essa questão. Isso não quer dizer que os demais autores não concordem com tal
posição, apenas que não colocam claramente tal afirmação nos textos analisados.
Outro aspecto não menos importante está relacionado ao trabalho externo e à
contratação de trabalho assalariado. Tanto Neves e Schneider, como Tedesco e Wanderley
deixam claro que este fato não leva à transformação do agricultor familiar em capitalista nem
em proletário. Os quatro autores utilizam argumentos parecidos para suas conclusões, embora
pertençam a perspectivas diversas e apresentem aportes teóricos distintos para explicar tal
fato.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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