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Sumário

Origem e dispersão dos citros, 9

Importância econômica, social e alimentar dos citros, 10

Taxonomia, 22

Morfologia, 25

Desenvolvimento da planta e do fruto, 35

Clima e solo, 54

Cultivares, 63

Porta-enxertos, 76

Propagação, 88

Melhoramento genético, 108

Formação do pomar, 116

Cultivos intercalares, 140

Práticas culturais, 143

Distúrbios fisiológicos dos frutos, 236

Técnicas para aumentar a fixação e tamanho dos frutos e reduzir a


alternância de produção, 243

Poda dos citros, 248

Colheita e pós-colheita dos citros, 256

Referências, 271
ORIGEM E DISPERSÃO DOS CITROS
A origem da maioria das espécies de citros não é conhecida com
exatidão, visto que as plantas das diferentes espécies que compõem o
gênero Citrus vêm sendo utilizadas e disseminadas pelo homem há
vários séculos, sem que houvesse nenhum tipo de registro dessa
movimentação, que ocorreu principalmente na forma de frutos e
sementes de um local para outro. O primeiro registro escrito sobre os
citros data de cerca de 2.000 anos a.C., na China. Nesse documento, os
citros foram mencionados em uma lista de tributos oferecidos a um
imperador chinês.
A maioria das espécies de citros originou-se nas regiões
tropicais e subtropicais do Sudeste Asiático abrangendo ampla faixa de
o
terra, situada aproximadamente entre os paralelos 15 e 25 Norte. Essa
região se estende desde o Himalaia até a China Central, Filipinas,
Miamar, Tailândia e Indonésia.
Há dúvidas quanto à origem do pomeleiro, também conhecido
como grapefruit, tendo em vista que plantas desse tipo de citros não
foram encontradas em estado selvagem na região de origem das demais
espécies. Acredita-se que possua origem americana (Antilhas),
provavelmente resultante de hibridação natural entre Citrus maxima
(toranjeira) e Citrus reticulata (tangerineira).
O sabor característico das frutas, com diferenças consideráveis
entre espécies e cultivares, a concentração razoável de vitamina C (10-80
mg/10mL de suco), a facilidade de adaptação às condições de clima e solos
variados e de processamento industrial dos frutos provavelmente foram os
principais fatores responsáveis pela disseminação e importância dos citros.
A primeira espécie de citros conhecida na Europa foi a cidreira
(Citrus medica), cuja introdução ocorreu cerca de 330 anos a.C. As
laranjeiras-doces (Citrus sinensis) e azedas (Citrus aurantium) e os
limoeiros (Citrus limon) foram introduzidos na Europa no século XII e
as tangerineiras (C. reticulata), no século XIX.
Na América, o introdutor dos citros foi Cristóvão Colombo, em
1493, nas Antilhas e Haiti, de onde foram levados posteriormente para
o México e Estados Unidos (Flórida). No Brasil, foi introduzido pelos
10 Siqueira e Salomão

portugueses, provavelmente na Bahia, pelas expedições colonizadoras.


A partir de 1530, com a chegada de novos habitantes, foram plantadas
as primeiras árvores de citros, iniciando a citricultura brasileira que,
entretanto, somente alcançou importância econômica cerca de 400 anos
após sua introdução no Brasil, a partir do início do século XX.
Inicialmente, os frutos eram utilizados apenas para consumo in natura.
A produção industrial de suco de laranjas para exportação iniciou-se a
partir da década de 1960, no Estado de São Paulo.

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA, SOCIAL E


ALIMENTAR DOS CITROS
Produção e importância econômica
Os frutos dos citros (laranjas, tangerinas, limas, limões, pomelos,
cidras, cunquates) são os mais produzidos no mundo (Tabela 1), sendo
cultivados em quase 150 países, localizados nas regiões tropicais e
subtropicais do planeta. A ampla capacidade de adaptação climática, a
facilidade de industrialização, associadas às características sensoriais e de
qualidade dos frutos são os principais fatores responsáveis por essa posição.
Tabela 1 - Principais frutas produzidas no mundo – 2013
Frutas Produção - t Porcentagem
Citros 135.761.181 20,1
Banana 106.714.205 15,8
Maçã 80.822.521 11,9
Uva 77.181.122 11,4
Outras frutas 276.191.413 40,8
Total 676.670.442 100,0
Fonte: FAOSTAT, 2015.

O maior produtor de citros do mundo na atualidade é a China,


cuja área cultivada vem aumentando acentuadamente nos últimos anos,
enquanto no Brasil a área está reduzindo, embora ainda ocupe o
segundo lugar na produção global de citros, com 14,5% da produção
total (Tabela 2).
Citros: do plantio à colheita 11

Tabela 2 - Principais países produtores de frutos dos citros no mundo –


2013
Países Produção - t Porcentagem
China 32.576.744 24,0
Brasil 19.734.725 14,5
Estados Unidos 10.133.246 7,5
Índia 10.090.000 7,4
México 7.613.105 5,6
Espanha 6.379.100 4,7
Egito 4.092.339 3,0
Nigéria 3.800.000 2,8
Turquia 3.681.158 2,7
Argentina 2.814.697 2,1
Outros 34.846.067 25,7
Total 135.761.181 100
Fonte: FAOSTAT, 2015.

Considerando apenas a produção de laranjas, o Brasil ocupa a


primeira posição, com 24,6% da produção mundial, seguido dos
Estados Unidos, China, Índia, México e Espanha (Tabela 3).
Tabela 3 - Principais países produtores de laranjas do mundo – 2013
Países Produção - t Porcentagem
Brasil 17.549.536 24,6
Estados Unidos 7.574.094 10,6
China 7.304.840 10,2
Índia 6.426.200 9,0
México 4.409.968 6,2
Espanha 3.394.100 4,8
Egito 2.886.015 4,0
Turquia 1.781.258 2,5
Itália 1.708.337 2,4
África do Sul 1.671.508 2,3
Outros 16.739.497 23,4
Total 71.445.353 100,0
Fonte: FAOSTAT, 2015.
12 Siqueira e Salomão

Após as laranjas, as tangerinas são os principais frutos dos


citros produzidos no mundo, sendo a China o principal produtor, com
mais da metade da produção mundial (52,9%), seguida pela Espanha,
que é o principal país exportador de laranjas e tangerinas para consumo
de mesa do mundo. O Brasil é o quarto maior produtor, com 3,3% da
produção mundial (Tabela 4). A quantidade de tangerinas produzidas
no Brasil representa apenas 5,3% da produção de laranjas, mostrando o
predomínio do cultivo de laranjas no país.

Tabela 4 - Principais países produtores de tangerinas do mundo – 2013


Países Produção - t Porcentagem
China 15.171.700 52,9
Espanha 2.198.900 7,7
Turquia 942.226 3,3
Brasil 937.819 3,3
Egito 917.404 3,2
Japão 895.900 3,1
Irã 837.347 2,9
Coreia 682.801 2,4
Marrocos 664.127 2,3
Itália 650.465 2,3
Outros 4.779.525 16,7
Total 28.678.214 100
Fonte: FAOSTAT, 2015.

Quanto às limas e aos limões, os principais produtores são


Índia, México e China, com Índia e México produzindo quantidades
muito próximas entre si, correspondendo a 16,6 e 14,1% da produção
mundial. O Brasil ocupa a quinta posição, produzindo 7,7% da
produção mundial (Tabela 5).
A produção mexicana, assim como a brasileira, está
concentrada na espécie Citrus latifolia, que é conhecida no Brasil como
‘limão’ ‘Tahiti’. Outros nomes do ‘Tahiti’ são limón criollo, limón
pérsico, Bearss lime e Persian lime. Já na China, Índia, Argentina,
Estados Unidos e Espanha predomina o cultivo dos limões verdadeiros
(Citrus limon).
Citros: do plantio à colheita 13

Tabela 5 - Principais países produtores de limas e limões no mundo –


2013
Países Produção - t Porcentagem
Índia 2.523.500 16,6
México 2.138.737 14,1
China 1.914.880 12,6
Argentina 1.301.902 8,6
Brasil 1.169.370 7,7
Estados Unidos 827.353 5,4
Turquia 726.283 4,8
Espanha 715.300 4,7
Irã 584.614 3,8
Itália 336.195 2,2
Outros 2.953.349 19,4
Total 15.191.483 100,0
Fonte: FAOSTAT, 2015.

No Brasil, as laranjas são produzidas em todas as regiões e


estados do país, com maior concentração nas Regiões Sudeste (78,6%),
Nordeste (10,2%) e Sul (8,4%). Na Região Sudeste destaca-se o Estado
de São Paulo, com 72,6% da produção nacional, seguido de Minas
Gerais, com 5,5% (Tabela 6).
Minas Gerais é o segundo estado maior produtor de laranjas do
Brasil, com a produção de frutos distribuídos em todo o estado. Porém,
as regiões tradicionais de cultivo e produção de citros são o Triângulo
Mineiro, Norte e Sul de Minas. No Triângulo Mineiro, a produção está
concentrada nas laranjas, que são destinadas, na maioria, às indústrias
produtoras de suco de São Paulo, proprietárias de vários pomares na
região. No Sul de Minas, concentra-se a produção de tangerinas
‘Poncã’, cujos frutos são de excelente qualidade devido ao clima.
No Norte de Minas, a produção de citros é toda irrigada, em
razão do clima semiárido. Nesta região, destaca-se a produção de limas
‘Tahiti’; entretanto o cultivo de tangerineiras, limeiras doces e
laranjeiras precoces e de meia estação está em pleno crescimento. O
diferencial da região consiste em produzir frutos mais precoces que os
produzidos nas regiões tradicionais, devido ao clima e ao manejo,
principalmente da irrigação.
14 Siqueira e Salomão

Tabela 6 - Produção de laranjas nas regiões e estados brasileiros – 2013


Área
Produtividade
Regiões Estados colhida Produção Porcentagem
(t/ha)
(ha)
AM 3.156 68.426 0,4 21,7
RR 222 2.153 0 9,7
Norte PA 11.821 195.941 1,2 16,6
AP 1.560 14.150 0,1 9,1
MA 1.007 6.391 0 6,3
Total 17.766 287.061 1,7 -
PI 353 3.235 0 9,2
CE 1.965 13.556 0,1 6,9
PB 834 6.002 0 7,2
Nordeste PE 606 3.166 0 5,2
AL 4.504 30.075 0,2 6,7
SE 52.221 626.440 3,8 12
BA 63.202 994.841 6,1 15,7
Total 123.685 1.677.315 10,2 -
MG 39.427 894.283 5,5 22,7
ES 1.208 15.882 0,1 13,1
Sudeste
RJ 4.439 60.279 0,4 13,6
SP 455.000 11.830.000 72,6 26,0
Total 500.074 12.800.444 78,6 -
PR 28.100 927.300 5,7 33,0
Sul SC 3.103 46.037 0,3 14,8
RS 27.063 390.538 2,4 14,4
Total 58.266 1.363.875 8,4 -
MS 679 15.433 0,1 22,7
Centro- MT 493 4.454 0 9,0
Oeste GO 6.577 130.062 0,8 19,8
DF 243 5.832 0,04 24,0
Total 7992 155.781 0,94
BRASIL 707.661 16.284.476 100 23
Fonte: AGRIANUAL, 2015.
28 Siqueira e Salomão

A ramificação do caule principal origina várias brotações, cuja


altura e ângulo de inserção dependem da espécie e do cultivar. Dessas
brotações vão surgir ramificações que serão responsáveis pela
sustentação de todos os demais ramos da planta. A partir dos ramos
primários são formados os secundários e assim sucessivamente até a
formação dos ramos vegetativos e reprodutivos terminais. Plantas de
citros oriundas de semente (seedlings) apresentam um período juvenil
relativamente longo, variando de 4 a 8 anos a partir da germinação das
sementes, cujo tempo depende da espécie e da variedade, sendo mais
curtos para tangerineiras, intermediários para limoeiros e mais longos
para laranjeiras. Plantas de citros juvenis apresentam hábito de
crescimento ereto, espinhos longos e em grande número (Figura 3a),
tendência a alternância de produção e distribuição desigual dos frutos
na copa, nos primeiros anos de produção.
Ramos jovens dos citros são de cor verde-clara, com quinas
proeminentes, devido a crescimentos desiguais, que se iniciam na base
de cada pecíolo. Essas quinas originam uma seção triangular quando o
ramo é cortado transversalmente (Figura 3b). Com o desenvolvimento,
os ramos tornam-se cilíndricos e com coloração acinzentada ou
castanha (Figura 3c), sendo possível visualizar claramente a separação
entre os surtos de crescimento.
Nos citros, geralmente observa-se a ocorrência de ramos
modificados (espinhos), que se inserem nas axilas das folhas. A região
do ramo onde se inserem as folhas, gemas e espinhos recebe o nome de
nó (Figura 3d). A quantidade e o vigor dos espinhos dependem da
espécie, cultivar, idade da planta e grau de juvenilidade. Quanto mais
juvenil, maior o número e vigor dos espinhos (Figura 3a). Os espinhos
dificultam a realização de determinadas práticas, tanto na fase de
produção das mudas quanto no campo, por exemplo, a colheita dos
frutos. A limeira-ácida ‘Galego’ (Citrus aurantifolia) é um cultivar que
se caracteriza por apresentar numerosos e agudos espinhos nas axilas
das folhas, medindo em torno de 1 cm de comprimento. A pulverização
de ácido giberélico em porta-enxertos de citros pode induzir ao
surgimento de folhas e brotações em espinhos, que se transformam em
ramos vegetativos. Esse fato foi observado em porta-enxertos de
limoeiro ‘Volcameriano’, pulverizados com ácido giberélico aplicado
na concentração de 20 mg do ingrediente ativo por litro.
Citros: do plantio à colheita 29

As folhas dos citros são de cor verde-clara quando novas e


verde-escura quando amadurecem. Com exceção do Poncirus trifoliata,
cujas plantas são caducifólias, os citros são plantas perenifólias,
portanto não se adaptam em regiões com inverno rigoroso.
Existe uma variabilidade considerável entre espécies e cultivares
de citros quanto à forma e tamanho das folhas (Figura 3e), que são
aparentemente folhas simples, mas botanicamente consideradas folhas
compostas unifoliadas, que perderam os folíolos durante a evolução das
espécies. Na maioria das espécies de Citrus, o pecíolo das folhas é alado,
cuja presença é útil na taxonomia de espécies e reconhecimento de
cultivares. Por exemplo, em folhas de pomeleiros e toranjeiras, as asas
são proeminentes, nas laranjeiras, são pequenas e ausentes nos limoeiros
(Figura 3f). Plantas de Poncirus trifoliata e híbridos possuem folhas
compostas por três folíolos, tornando fácil sua identificação em viveiros
e nos campos de produção de sementes de porta-enxertos (Figura 3e).
As folhas dos citros são distribuídas em espiral em torno do
caule, cuja direção é revertida a cada fluxo. A filotaxia é 3/8 para a
maioria das espécies; entretanto as toranjas e pomelos apresentam
filotaxia de 2/5. A distribuição das folhas nos ramos é importante para
que haja melhor captação da luz solar incidente.
As flores dos citros são hermafroditas, entretanto há espécies
como Citrus medica (cidra) e Citrus limon (limões), que produzem flores
masculinas, devido ao abortamento do pistilo (Figura 4a). Possuem de
três a cinco sépalas de coloração verde, de três a cinco pétalas de cor
branca ou púrpura (limões, cidras), sendo cinco o número mais comum
para ambas (Figura 4b). Os estames variam entre vinte e quarenta,
soldados pela base em grupos de três a quatro (Figura 4c). As anteras
possuem grãos de pólen amarelos-brilhantes, que são transportados por
insetos, principalmente abelhas. Há cultivares que são estéreis, como a
limeira ‘Tahiti’, cujas flores não produzem pólen e laranjeiras de umbigo
(‘Bahia’), cuja produção de pólen é muito pequena. O pistilo é formado
pela união de vários carpelos, com o ovário situando-se na sua base e o
estigma no seu ápice. Durante certo período, o estigma apresenta um
fluido viscoso no seu ápice, para facilitar a aderência, hidratação e
germinação dos grãos de pólen (Figura 4d). Há diversos cultivares com
esterilidade feminina, por defeito na formação do saco embrionário,
sendo relatada sua presença em cultivares de tangerineiras do grupo das
satsumas e nas laranjeiras de umbigo.
30 Siqueira e Salomão

a b

c d

e f

Figura 3 - Ramos de citros de planta juvenil, com espinhos longos (a); ramo
jovem de laranjeira, com quinas proeminentes, devido ao
crescimento desigual que inicia-se na base de cada pecíolo. Essas
quinas originam uma seção triangular quando o ramo é cortado
transversalmente (b); ramo maduro de laranjeira com caule
cilíndrico e folhas de cor verde-escura (c); nó, formado pelo
conjunto de gema, espinho, e folhas (d); folhas de citros com
diversos tamanhos, formatos e características das asas no pecíolo
(e); ramo novo de citros mostrando a distribuição das folhas (f).
Citros: do plantio à colheita 31

a b

c d

Figura 4 - Flor estaminada de limoeiro (Citrus limon), com as pétalas


púrpuras do lado externo (a); flor de Poncirus trifoliata, com
cinco pétalas brancas (b); flor de laranjeira mostrando os
estames em grupos de três, soldados pela base (c); detalhe das
anteras de coloração amarela e ápice do estigma, mostrando
líquido viscoso, que favorece a adesão dos grãos de pólen (d).

Os frutos são classificados como hesperídios, um tipo especial


de baga formada pelo epicarpo ou flavedo (parte externa, pigmentada),
pelo mesocarpo ou albedo (tecido normalmente branco, esponjoso), que
praticamente não existe em tangerinas maduras, e pelo endocarpo
(gomos ou segmentos) (Figura 5). A casca dos frutos é constituída pelo
exocarpo e o mesocarpo.
O flavedo (Figura 5a) é glabro em todas as espécies cítricas,
com exceção dos frutos de Poncirus trifoliata, que são pubescentes. O
flavedo é formado por algumas camadas de células parenquimáticas,
com formato tabular, compactas e cobertas pela cutícula. Abaixo destas
células estão algumas camadas de células globosas, onde se observam
Citros: do plantio à colheita 35

medica), toranjeira (Citrus maxima), limoeiros (Citrus limon) e


tangerinas do grupo das clementinas (Citrus clementina). Os embriões
zigóticos possuem maior dificuldade de sobrevivência, devido à
competição por espaço e nutrientes entre eles e os embriões nucelares.
Geralmente, quanto maior o número de embriões por semente, menores
serão o tamanho e a sobrevivência do embrião sexual. Os embriões
nucelares limitam a variabilidade genética na progênie de um
cruzamento qualquer, o que reduz a probabilidade de obtenção de novos
genótipos.

DESENVOLVIMENTO DA PLANTA E DO FRUTO


Planta
O ciclo de vida de uma planta de citros utilizada
comercialmente pode ser dividido em três diferentes fases, cuja
duração depende de vários fatores como cultivar copa e porta-enxerto,
clima, solo, tratos culturais e incidência de pragas e doenças. As fases
são:
Propagação – É a fase compreendida entre a semeadura dos
porta-enxertos e o momento em que as mudas estão com o
desenvolvimento adequado para serem plantadas no campo. O período
de produção da muda varia de acordo com o sistema usado (céu aberto
ou em ambiente protegido), do porta-enxerto e dos tratos culturais
empregados principalmente adubação, irrigação e controle de pragas e
doenças.
Formação da planta – É a fase em que a planta apresenta
crescimento ativo, formando toda sua estrutura vegetativa (raízes,
tronco, ramos e folhas) para sustentar a produção futura. A produção é
muito pequena ou nula no primeiro ano após o plantio, porém aumenta
gradativamente à medida que a planta vai envelhecendo. Nessa fase, os
recursos gerados com a venda dos frutos são inferiores aos custos de
produção, portanto é necessário que o produtor possua reservas de
recursos suficientes para realizar os tratos culturais necessários. A
duração média dessa fase é de quatro a cinco anos.
36 Siqueira e Salomão

Produção – Inicia-se a partir dos cinco anos. A produção


máxima de frutos pelas plantas é alcançada aos 8 a 10 anos após o
plantio, mantendo-se estável por vários anos. Nesse período, o
crescimento vegetativo da planta é pequeno, havendo apenas a
substituição de folhas que caem e de ramos que eventualmente secam.
Os pomares de citros, quando bem manejados, possuem potencial para
produzir comercialmente durante mais de trinta anos. Posteriormente,
entram na fase de senescência, na qual a produção e, consequentemente,
os lucros advindos dela decrescem gradualmente. Entretanto, devido ao
manejo inadequado e, principalmente, em razão da alta incidência de
doenças e pragas, os pomares em algumas regiões do Brasil têm sido
renovados com idade em torno de vinte anos ou menos.
O desenvolvimento dos ramos dos citros sofre influência
acentuada do clima, principalmente da temperatura e da umidade. O
crescimento normalmente ocorre em dois surtos anuais bem definidos
nas regiões de clima frio, enquanto nas regiões mais quentes, de clima
tropical ou subtropical úmido, podem acontecer três a cinco surtos.
O surto de crescimento mais importante é na primavera, quando
a planta emite ramos vegetativos e reprodutivos (Figura 6a). Os brotos
dos citros são classificados de acordo com a presença ou não de flores
nos ramos e com o número de flores e folhas: broto vegetativo (Figura
6b1) broto reprodutivo unifloral com folhas (Figura 6b2), broto
reprodutivo multifloral com folhas (Figura 6b3) broto reprodutivo
unifloral sem folhas (Figura 6b4), e broto reprodutivo multifloral sem
folhas (Figura 6b5).
Os demais surtos de crescimento ocorrem no verão e outono,
quando os ramos geralmente são mais longos, mais vigorosos, com
folhas maiores e entrenós mais compridos e não produzem flores, a não
ser que condições climáticas indutivas ao florescimento acontecem
antes da brotação das plantas. As flores dos citros originam-se de gemas
presentes nas brotações novas que, por sua vez, são originadas de gemas
presentes em ramos provenientes dos surtos ou fluxos de crescimento
do ano anterior. Percebe-se, portanto, que somente ramos maduros,
porém com idade inferior a um ano tem capacidade de emitir brotações
reprodutivas, por isso a produção dos citros está concentrada na parte
externa da copa.
Citros: do plantio à colheita 37

a b

1
2

3 4 5
Figura 6 - Laranjeira durante a brotação de primavera, emitindo ramos
reprodutivos (ramos com flores) e ramos apenas vegetativos
(a); Tipos de brotação dos citros (b): broto vegetativo (1),
broto reprodutivo unifloral com folhas (2), broto reprodutivo
multifloral com folhas (3) broto reprodutivo unifloral sem
folhas, (4) broto reprodutivo multifloral sem folhas (5).

O florescimento principal dos citros ocorre no início da


primavera (agosto – setembro no hemisfério sul e final de março a
início de maio no hemisfério norte), entretanto algumas espécies e
cultivares florescem várias vezes durante o ano, como a cidreira, os
limoeiros verdadeiros, a limeira-ácida ‘Tahiti’ e algumas laranjeiras,
como a ‘Pera Rio’.
Uma planta de citros adulta produz elevado número de flores,
podendo alcançar valores acima de 100.000 unidades; porém, o número
de frutos produzidos pela planta é baixo quando comparado ao de
flores, podendo oscilar entre 0,1 e 15% do total de flores produzidas.
Essa variação depende da idade das plantas, manejo do pomar, pragas,
doenças e uso de técnicas para aumentar o vingamento, como
anelamento de troncos e ramos. Geralmente, o vingamento de frutos é
maior em plantas mais novas, durante a fase de formação que em
plantas mais velhas, que já estão na época de produção.
A necessidade de polinização e fecundação para que ocorra a
fixação dos frutos dos citros é variável, dependendo do cultivar em
questão. Flores dos cultivares de citros, cujos frutos produzem muitas
sementes, necessitam ser polinizadas e fecundadas para a produção de
frutos. Entretanto, existem variedades partenocárpicas, que não
necessitam polinização e fecundação para que produzam frutos. Ainda,
38 Siqueira e Salomão

há aquelas flores que precisam apenas da polinização e não da


fecundação para que haja o desenvolvimento dos frutos. A polinização
é efetuada por insetos, principalmente abelhas, que são atraídas pela
fragrância liberada por elas.
Durante o florescimento e frutificação ocorre queda acentuada
de flores e frutos em vários estádios de desenvolvimento (Figura 7a).
Nas flores remanescentes, as pétalas caem ao mesmo tempo em que o
ovário inicia o seu desenvolvimento. Os pequenos frutos, no início do
desenvolvimento, que estão propensos a “vingar”, apresentam
coloração verde-escura e são brilhantes, enquanto os que irão cair ficam
amarelados (Figura 7b).

a b

Figura 7 - Frutinhos abscindidos de lima ácida ‘Tahiti’ com diferentes


tamanhos (a); frutos no início do desenvolvimento que estão
propensos a “vingar” possuem coloração verde-escura e são
brilhantes, enquanto os que irão cair ficam amarelados (b).

Fruto
O crescimento dos frutos dos citros é do tipo sigmoidal simples,
podendo ser dividido em três fases, embora não seja possível distinguir
claramente o término de uma fase e o início da subsequente. As fases
são denominadas fase I (divisão celular), II (expansão celular) e III
(amadurecimento dos frutos). A duração de cada fase depende da
espécie de citros e das condições climáticas. Em Viçosa, Minas Gerais,
o desenvolvimento de tangerinas ‘poncã’ a partir de cinco milímetros
de diâmetro até a colheita dos frutos, realizada quando com valor médio
de sólidos solúveis totais de 11,1 e acidez total titulável de 0,5 durou
276 dias (9,2 meses) (Figura 8).
Citros: do plantio à colheita 39

(DAPFL)

Figura 8 - Crescimento de tangerinas ‘Poncã’, a partir de cinco


milímetros de diâmetro até a colheita dos frutos, que
ocorreu quando estavam com valor médio de teores de
sólidos solúveis totais de 11,1 e acidez total titulável de
0,5.

Na fase I, que começa logo após o florescimento, antes da


queda das pétalas, o aumento em tamanho dos frutos é pequeno, restrito
praticamente à casca; entretanto, a divisão celular é intensa. Nesta fase
são formadas praticamente todas as células do fruto, cuja expansão na
fase subsequente será responsável pelo tamanho final dos frutos. Esta
fase dura de 1,0 a 1,5 mês após a antese, dependendo das condições
climáticas e do cultivar, podendo ir até o período de queda fisiológica
dos frutos (“queda de junho”, no hemisfério norte, ou “queda de
novembro”, no hemisfério sul).
Citros: do plantio à colheita 61

Quanto à umidade do ar, o efeito mais importante desse fator


relaciona-se à ocorrência de doenças nos pomares, principalmente de
doenças fúngicas, como a mancha-marrom (Alternaria alternata),
verrugose (Elsinoe) e podridão-floral-dos-citros (Colletotrichum).
Entretanto, a umidade do ar também interfere na qualidade dos
frutos. Em regiões onde a umidade relativa do ar é alta, as laranjas
tendem a ser maiores e mais achatadas, menos firmes e com menores
concentrações de carotenoides na casca e no suco e com mais baixos
teores de sólidos solúveis no suco.
O vento influi diretamente no microclima dos pomares através
de seu efeito no transporte de calor, vapor de água e CO2 entre as folhas
das plantas e a atmosfera. Essa ação interfere na taxa de assimilação de
CO2 e transpiração das plantas, atuando, portanto, no seu crescimento,
embora de forma mais discreta que os demais fatores descritos.
O vento, porém, atua diretamente no transporte de patógenos e
pragas entre pomares, além de provocar danos mecânicos às plantas e
aos frutos, no caso de ventos intensos. Esses efeitos desfavoráreis do
vento podem ser contornados com o uso de quebra-ventos.

Solo
Os citros são cultivados em solos com grande diversidade de
características físicas e químicas; entretanto desenvolvem-se melhor
em solos que tenham proporção equilibrada de areia e argila (textura
média), para garantir boa aeração, facilidade de drenagem, boa retenção
de água e capacidade de troca de cátions (CTC).
A profundidade efetiva recomendada do solo para o cultivo
dos citros deve ser de um metro, no mínimo, para garantir a
sustentação das plantas e maior exploração do solo pelas raízes; porém
são encontrados relatos de cultivo em solos rasos, com profundidade
efetiva em torno de 60 cm.
Os citros não toleram solos salinos, porém sua sensibilidade aos
sais depende de vários fatores como porta-enxerto, combinação porta-
enxerto/copa, solo, clima, método de irrigação etc. De modo geral, a
produtividade dos pomares reduz em 13% para cada 1,0 dS m-1 de
aumento da condutividade elétrica do solo, acima do valor limite de 1,4
dS m-1. Os efeitos da salinidade sobre a redução do crescimento e
62 Siqueira e Salomão

produtividade das plantas são o estresse osmótico causado pela redução


da absorção de água; efeitos tóxicos dos íons Cl- e Na+ sobre as células e
desequilíbrios nutricionais ocasionados pelos efeitos tóxicos desses íons.
Quando há redução na produtividade das plantas, causada pela
salinidade, sem haver acúmulo excessivo de Cl- e Na+ nos tecidos e sem
sintomas aparentes de toxidez nas folhas, provavelmente o efeito
predominante da salinidade sobre as plantas é o estresse osmótico.
Teores de sódio maiores que 0,25 g/kg e de cloro superiores a 0,5 g/kg
indicam a presença de salinidade no solo, com possíveis problemas no
desenvolvimento e produção das plantas.
Quanto às diferenças entre os porta-enxertos em relação à
tolerância à salinidade causada por cloreto, a ordem decrescente entre os
porta-enxertos usados no Brasil é: tangerina ‘Sunki’ > tangerina
‘Cleópatra’ > limão ‘Cravo’ > limão ‘Rugoso’ > Poncirus trifoliata >
citrange ‘Troyer’ > citrange ‘Carrizo’. Já, a ordem de tolerância ao sódio
é: tangerina ‘Cleópatra’ > limão ‘Rugoso’ > limão ‘Cravo’ > citrumelo
‘Swingle’ > citrange ‘Troyer’ > tangerina ‘Sunki’ > citrange ‘Carrizo’.
Verifica-se, portanto, que a tangerineira ‘Cleópatra’ e o limoeiro ‘Cravo’
são os mais tolerantes à salinidade, enquanto os trifoliolados citrumeleiro
‘Swingle’ e citranges ‘Troyer’ e ‘Carrizo’, os mais suscetíveis.
Os citros são plantas sensíveis à falta de oxigênio no solo
causada por excesso de umidade, com exceção do Poncirus trifoliata,
cujas plantas toleram solos mais úmidos. Devido à alta demanda por
oxigênio no solo, as plantas dos pomares implantados em solos com boa
drenagem e profundos são mais desenvolvidas, produtivas e longevas,
ao passo que em pomares ou parte de pomares situados em solos
superficiais e maldrenados, as plantas apresentam baixo crescimento,
são pouco produtivas e com menor longevidade.
O pH é uma das propriedades químicas mais importantes do
solo, porque influencia a disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Os citros preferem solos com pH entre 6,0 e 7,0; bem estruturados e
bem drenados. Na maioria das regiões brasileiras produtoras de citros
brasileiras não são encontrados solos com essas características; por isso,
geralmente os pomares têm que ser implantados em solos cujas
características não são as mais adequadas para as plantas. Portanto,
para que pomares implantados nesses solos, cujas características não
são as melhores para os citros, possam ser produtivos, medidas
criteriosas de manejo das plantas e do solo devem ser adotadas.
Citros: do plantio à colheita 63

CULTIVARES
Pelo fato de os citros serem plantas altamente heterogêneas
quanto às características dos frutos, eles são divididos em grupos,
procurando reunir plantas cujas características morfológicas dos frutos
são semelhantes, com o objetivo de facilitar a comunicação entre as
pessoas que se interessam pela citricultura, ou seja, técnicos,
pesquisadores, produtores, estudantes e consumidores. Essa
classificação é denominada agronômica ou hortícola e compreende oito
grupos, sendo alguns formados por apenas uma espécie botânica
enquanto outros incluem mais de uma.

Laranjeiras-doces [Citrus sinensis (L.) Osbeck].


É o grupo mais importante economicamente, tanto no Brasil
quanto na maioria dos países do mundo, com exceção da China, onde
predomina o cultivo de tangerineiras. Devido às diferenças
significativas entre as características dos frutos produzidos pelos
variados cultivares, as laranjas foram divididas em quatro subgrupos,
conforme descritos subsequentemente.

Laranjas-de-umbigo (Figura 21a)


Caracterizam-se pela presença de um fruto rudimentar inserido
no fruto principal. Esse fruto rudimentar é formado por um segundo
grupo de carpelos inserido sobre o carpelo inicial, porém dentro do
mesmo ovário. Outra característica importante das laranjas-de-umbigo
é a partenocarpia, resultante da falta de pólen funcional e presença de
um número muito reduzido de óvulos viáveis, por isso os frutos quase
não possuem sementes.
Os frutos dos cultivares pertencentes a esse grupo são indicados
para o consumo de mesa, pois, além da ausência de sementes, o
endocarpo possui textura crocante, o albedo é fácil de ser removido, os
gomos são facilmente separáveis, possuem sabor agradável e boa
coloração externa.
Não são indicados para a produção de suco, devido à presença
de limonina monolactona no albedo e no endocarpo dos frutos. Após o
76 Siqueira e Salomão

Cidra

Figura 21 - Classificação agronômica dos citros: Laranja-de-umbigo


(a); laranja-sanguínea (b); laranja de baixa acidez (c);
laranja-comum (d); laranja-azeda (e); tangerina-satsuma
(f); tangerina-do-mediterrâneo (g); tangerina-comum (h);
tangerina-clementina (i); limas-ácidas (j, l); lima-doce
(m); limão (n); pomelo (o); toranja (p); e cidra (q).
Obs.: As diferenças entre os tamanhos dos frutos visualizados não condizem com a
realidade, porque as fotografias não estão na mesma escala.

PORTA-ENXERTOS
A escolha do porta-enxerto é um dos principais fatores a
considerar quando se pretende implantar um pomar de citros, porque
ele é responsável pela sustentação da planta, absorção de água e
nutrientes do solo; síntese de alguns hormônios, pelo sistema radicular;
adaptação a solos com diferentes características, tolerância a pragas e
doenças, tamanho das plantas, e a qualidade dos frutos do cultivar copa
enxertado sobre ele (Tabela 10). Em razão de sua influência sobre todas
essas características, tão importantes para o citricultor, fica evidenciado
que a escolha de um porta-enxerto inadequado às condições de clima e
solo do local onde o pomar será implantado pode resultar em fracasso
do empreendimento.
Citros: do plantio à colheita 77

Além disso, para os viveiristas, é importante que as plantas


dos porta-enxertos possuam crescimento vigoroso e facilidade de
cultivo no viveiro, sejam homogêneas e apresentem compatibilidade
de enxertia com as principais variedades-copa cultivadas
comercialmente. Entretanto, é importante ressaltar que nem todos os
porta-enxertos de interesse dos citricultores atendem aos interesses
dos viveiristas. Por exemplo, o porta-enxerto ananicante trifoliata
‘Flying Dragon’, que induz baixo crescimento à planta como um
todo, apresenta crescimento lento no viveiro. Por isso, o tempo para
a produção da muda aumenta consideravelmente.
Também é importante lembrar que não existe um porta-
enxerto que seja adequado para todos os locais, variedades e
condições de manejo. Isso significa que é necessária a realização de
análise criteriosa das condições de clima e solo da área destinada à
implantação do pomar, das variedades copa a serem utilizadas e dos
tratos culturais a serem empregados no pomar, principalmente
irrigação, para definição de quais porta-enxertos deverão ser
utilizados. A citricultura é uma atividade dinâmica, que exige
mudanças frequentes com o passar do tempo, devido a alterações nas
preferências de mercado, necessidade de aumento da produtividade,
alterações climáticas, novas pragas e doenças, plantios em novas
regiões, com características de solo e de clima diferentes daquelas
das regiões tradicionais de cultivo. Esses fatores demandam, entre
outras modificações, a criação de novos cultivares-copa e novos
porta-enxertos, seja via introdução a partir de outros países ou
regiões, seja via programas de melhoramento conduzidos no Brasil.
Embora existam pesquisas sendo conduzidas nessa área, os porta-
enxertos usados pelos citricultores brasileiros têm sido os mesmos
nos últimos anos, com predomínio do limoeiro-cravo. Os principais
porta-enxertos usados no Brasil e sua influência sobre as variedades
copa estão apresentadas na Tabela 10.
78 Siqueira e Salomão 78
Tabela 10 - Principais características influenciadas pelos principais porta-enxertos de citros recomendados para o
Brasil
Características Principais porta-enxertos
influenciadas
Limoeiro Limoeiro Tangerineira Tangerineira Poncirus Citrumeleiro Citrangeiro Citrangeiro Laranjeira
pelos porta-
‘Cravo’ ‘Volkameriano’1 ‘Sunki’ ‘Cleópatra’ trifoliata2 ‘Swingle’2 ‘Troyer’2 ‘Carrizo’2 ‘Caipira’
enxertos
Tristeza Grande Grande Grande
Phytophthora Média Média Média Média Alta Alta Alta Alta Baixa
Declínio Suscetível Suscetível Tolerante Tolerante Suscetível Tolerante Suscetível Suscetível Tolerante
Morte súbita Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Tolerante Tolerante Tolerante Tolerante Tolerante
Nematoide
Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente Suscetível
T.semipenetrans
Areno- Úmido/ Arenoso/ Arenoso/ Arenoso/
Solo indicado Areno-argiloso Argiloso Argiloso Argiloso
argiloso argiloso Argiloso Argiloso argiloso
Tolerância à seca Grande Grande Média Média Média Média Média Média Baixa
Início da
Precoce Precoce Médio Tardia Precoce Precoce Precoce Precoce Médio
produção
Produtividade Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa Boa
Qualidade dos
Média Média Boa Boa Alta Boa Boa Boa Boa
frutos
Vigor da copa Médio Médio Grande Grande Pequeno Grande Médio Médio Grande
1 Não é indicado como porta-enxerto para a laranja ‘Pera Rio’

2
Não é indicado como porta-enxerto para a laranja ‘Pera Rio’ e tangoreira ‘Murcote’.
Siqueira e Salomão
Citros: do plantio à colheita 151

Adubações
A vegetação que cresce naturalmente em determinada região
evolui de acordo com as condições de clima e solo locais, portanto está
perfeitamente adaptada ao ambiente em que vive. Nesse ambiente, as
plantas extraem equilibradamente os nutrientes que necessitam do solo
e, ao morrerem, são decompostas, liberando nutrientes para outras
plantas, havendo, dessa forma, um ciclo fechado, no qual a fertilidade
do solo é mantida ou mesmo aumentada pelo acúmulo de matéria
orgânica e, ou, fixação de nitrogênio. Nesse caso, a vegetação natural
está perfeitamente adaptada ao sistema, ou seja, as suas necessidades
em nutrientes correspondem às características naturais de fertilidade do
solo.
Com a interferência humana, esse ciclo é alterado, devido à
remoção da vegetação natural e ao plantio de espécies cuja evolução,
na maioria das vezes, ocorreu em condições de clima e solo diferentes
das existentes no local de plantio do pomar. Assim, quando espécies
exóticas, como os citros, são introduzidas em uma região qualquer, por
melhor que se adaptem ao novo ambiente, não haverá o mesmo
equilíbrio que havia anteriormente com a vegetação natural, onde as
diversas espécies ali presentes convivem harmoniosamente. Além
disso, os citros são espécies selecionadas, visando potencializar a
capacidade de produção de frutos e, assim, as exigências nutricionais
também são potencializadas.
Um importante fator responsável pela redução da fertilidade
dos solos é a exportação de nutrientes pelos frutos colhidos, cuja
quantidade depende da adubação, solo, clima, porta-enxerto e copa
(Tabela 14). A ordem de exportação de macronutrientes é N > K > Ca
> P > Mg > S e a de micronutrientes é Fe > Zn > B > Mn > Cu. Os
nutrientes exportados devem ser repostos, para que a produtividade dos
pomares seja mantida. Por isso, a procura constante por aumento de
produtividade é importante fator de esgotamento das reservas minerais
do solo.
152 Siqueira e Salomão

Tabela 14 - Exportação de nutrientes pelos frutos de laranjeira ‘Pera’


enxertada em limoeiro ‘Cravo’
Macronutrientes Kg t-1 Micronutrientes G t-1
Nitrogênio (N) 2,6 Boro (B) 1,7
Fósforo (P) 0,5 Cobre (Cu) 0,7
Potássio (K) 2,9 Ferro (Fe) 3,5
Cálcio (Ca) 0,8 Manganês (Mn) 1,2
Magnésio (Mg) 0,2 Zinco (Zn) 1,8
Enxofre (S) 0,1 - -
Fonte: BOARETTO et al.,2007.

Em síntese, a necessidade de adubação em pomares de citros


advém da baixa fertilidade natural dos solos, exportação de nutrientes
pelos frutos comercializados e imobilização de nutrientes (fixados nas
raízes, caule e folhas).
Sempre que a quantidade de minerais fornecidos pelo solo for
inferior ao exigido pelas plantas, ocorrem efeitos negativos, que se
manifestam pelo menor crescimento, redução na produtividade e
perda de qualidade dos frutos. A adubação, portanto, é uma prática
essencial para aumentar a produtividade dos pomares de citros.
Entretanto, o aporte excessivo de nutrientes minerais pode provocar
graves problemas ambientais, além de desequilíbrios nutricionais
difíceis de serem corrigidos. Dependendo das características
edafoclimáticas e das práticas de manejo do solo e da adubação, pode
ocorrer a contaminação de rios, nascentes e do lençol freático.
Para que o manejo da fertilidade do solo e do desenvolvimento
das plantas seja eficiente, é necessário conhecer as características
químicas e físicas dos solos e químicas das folhas dos citros para
racionalizar o uso de corretivos e fertilizantes, assegurando maior
retorno econômico e redução dos impactos ambientais. Para o
conhecimento dessas características devem ser utilizadas ferramentas
de diagnóstico capazes de avaliar a disponibilidade de nutrientes no
solo e as concentrações na planta, com o objetivo de caracterizar
deficiências ou excessos que prejudicam o desenvolvimento do
pomar, a produtividade e a qualidade dos frutos. As ferramentas de
diagnóstico mais usadas são as análises de solo, de folhas e diagnose
visual.
Citros: do plantio à colheita 153

Análise de solo
A análise de solo, além de avaliar os teores nutrientes, com
exceção do nitrogênio, permite avaliar a reação do solo e os problemas
a ela relacionados, como acidez, alcalinidade e salinidade, permitindo a
adoção de medidas corretivas.
A primeira etapa do processo de avaliação da fertilidade do solo
é realizar uma amostragem adequada, pois, com base na análise química
dessa amostra, será avaliada a reserva de nutrientes disponíveis. Por
isso, as amostras devem ser representativas dos talhões de onde foram
retiradas. Uma amostragem incorreta do solo pode resultar em
avaliação equivocada da fertilidade e, consequentemente, gerar
recomendações de adubação também equivocadas.
Em locais onde serão implantados novos pomares, a área deve
ser dividida em talhões homogêneos, considerando a vegetação natural,
o relevo, o uso passado e atual, e características do solo, como textura
e cor. Quanto ao tamanho das unidades amostrais, não há um tamanho
definido para todas as situações, entretanto é importante que unidades
muito grandes sejam subdivididas para facilitar a amostragem. Em
grandes propriedades, unidades amostrais com áreas entre 10 e 20
hectares são consideradas adequadas, desde que sejam homogêneas.
Recomenda-se a coleta de 20 a 40 amostras simples por unidade
amostral, com os pontos de coleta distribuídos ao acaso por toda a área.
A profundidade de amostragem depende da camada do terreno
que será preparada para o plantio. Para culturas perenes, como os citros,
a profundidade poderá ir até 40 ou 60 cm, com a amostragem feita por
camadas de 0 a 20 cm; 20 a 40 cm; e 40 a 60 cm. A mistura das amostras
simples de cada profundidade constituirá as amostras compostas, que
serão enviadas ao laboratório para análise.
As amostragens devem ser realizadas alguns meses antes do
plantio das mudas, visando possibilitar que ocorra a reação do calcário
aplicado no solo e, se necessário, o cultivo de adubos verdes para a
melhoria das propriedades físicas do solo.
Em pomares já implantados, a divisão dos talhões, com o
objetivo de coletar amostras do solo para análises químicas e físicas,
devem-se considerar, além das características mencionadas
anteriormente, a idade das plantas, variedades copa, porta-enxertos e
154 Siqueira e Salomão

manejo do pomar. Alterações em qualquer um desses fatores indicam a


necessidade de coleta separada de amostras.
A amostragem deve ser feita, pelo menos, 60 dias após a data em
que foi realizada a última adubação, para evitar resultados superestimados
da análise de solo, devido a possíveis resíduos de adubos na amostra.
Quanto ao local de amostragem, as amostras devem ser
retiradas onde existe maior concentração de raízes absorventes, que é
também onde os adubos são aplicados, geralmente em faixas, nos dois
lados das plantas, voltados para as entrelinhas. Dessa forma,
recomenda-se que as amostras sejam retiradas a 0,50 m para dentro e
outra a 0,50 m para fora da linha de projeção da copa no solo. As
amostras devem ser secadas, destorroadas e peneiradas, embaladas em
sacos plásticos limpos e identificadas, antes do envio ao laboratório.
Bastam 300 g de amostra.

Análise foliar
As folhas são os órgãos que melhor expressam o estado
nutricional das plantas, considerando que existe correlação entre o
desenvolvimento e a produção dos citros com os teores foliares de
nutrientes. A análise foliar é uma técnica complementar à análise de
solo e tem como principais objetivos confirmar sintomas visuais de
deficiência nutricional, diagnóstico de deficiências incipientes, ou seja,
ainda sem sintomas visíveis nas folhas; identificar interações ou
antagonismos; verificar a absorção de nutrientes aplicados no solo; e
avaliar o estado nutricional das plantas.
A primeira iniciativa na obtenção dos teores de nutrientes
minerais nas folhas de citros é colher amostras de folhas do pomar para
enviar ao laboratório. A fim de garantir que a amostragem seja
representativa, devem ser coletadas folhas com a mesma idade, nos
quatro quadrantes de plantas cultivadas, em talhões homogêneos,
considerando cultivar copa e porta-enxerto, idade das plantas, tratos
culturais e características do solo. As folhas devem estar com
aproximadamente seis meses de idade, cuja contagem deve ser iniciada
a partir da brotação da primavera.
Recomenda-se amostrar no mínimo 25 plantas por unidade
amostral, nas quais devem ser coletadas quatro folhas por planta a 1,5 m
Citros: do plantio à colheita 155

de altura do solo, ou em altura mediana da copa. Após pulverização,


respeitar o mínimo de 30 dias antes de coletar folhas para análise.
A amostragem é feita em ramos com frutos situados na posição
terminal, coletando-se a terceira ou quarta folha com seis meses de
idade, conforme mencionado anteriormente. A contagem das folhas é
feita a partir do fruto em direção à base aos ramos (Figura 46). É
importante lembrar que o indicativo para a coleta das amostras de folhas
é a idade e não o tamanho dos frutos, que varia muito de acordo com o
cultivar e o manejo.
As amostras devem ser acondicionadas em sacos de papel e
conservadas à temperatura aproximada de 5°C, até o envio para o
laboratório.

Figura 46 - Setas indicam folhas que devem ser coletadas na amostragem


destinada à análise foliar de citros (terceira ou quarta folha
madura após o fruto terminal).

Para a interpretação dos resultados da análise foliar, os teores


de macro e micronutrientes nas folhas, analisados pelo laboratório,
devem ser comparados com os teores apresentados na Tabela 15.
Citros: do plantio à colheita 167

Doenças causadas por fungos


Gomose (Phythophthora nicotiane, P. citrophthora)
Embora as células dos fungos do gênero Phythophthora se
assemelhem ao micélio dos fungos, eles não são considerados fungos
verdadeiros, pelo fato de apresentarem diferenças na composição
química da parede celular e no sistema reprodutivo, quando
comparados aos fungos. Pertencem ao reino Straminipila, filo
Oomycota, no qual são classificados oomicetos, que possuem flagelos
em seus esporos assexuados.
Phytophthora nicotianae predomina nas regiões tropicais e
subtropicais, como no Brasil, enquanto Phytophthora citrophthora é
predominante nas regiões temperadas, embora também possa ocorrer
no Brasil com menor frequência.
O nome gomose deve-se à frequente exsudação de goma de cor
amarelo-dourada, semelhante ao mel, nas lesões situadas no tronco das
plantas doentes (Figura 48 a). É uma doença disseminada em todos os
países citrícolas do mundo e ataca plantas de qualquer idade, desde
mudas no viveiro até plantas adultas.
Espécies do gênero Phytophthora estão presentes na maioria dos
pomares de citros e podem sobreviver a condições adversas, na forma de
oósporos, que são esporos sexuais, ou como clamidósporos, que são
estruturas vegetativas de resistência, capazes de sobreviver no solo por
anos. Em condições ambientais favoráveis, como alta umidade e
temperaturas na faixa de 24 a 32 ºC, os clamidósporos germinam
rapidamente formando esporângios. A infecção das plantas ocorre devido
aos zoósporos liberados pelos esporângios em condições de alta umidade.
Zoósporos são esporos de grande mobilidade, que podem nadar na
solução do solo, atraídos por exsudados liberados pelas raízes, e serem
disseminados pela água da chuva ou de irrigação.
Os sintomas da gomose podem surgir na base do tronco, abaixo
da região da enxertia e também acima, dependendo da altura da enxertia
e do cultivar copa utilizado. Em limoeiros verdadeiros, é frequente a
ocorrência de gomose acima do ponto de enxertia (Figura 48b), devido
à alta suscetibilidade desse cultivar à doença.
A casca da região atacada morre e se rompe em vários pontos,
podendo haver desprendimento do lenho, originando uma “descamação”.
168 Siqueira e Salomão

Devido à morte da casca, a seiva do floema não chega até o sistema radicular,
provocando morte de raízes e, consequentemente, com o passar do tempo,
da parte aérea (Figura 48c). O tamanho das lesões depende do cultivar, do
tempo em que o patógeno está presente na planta e também do clima.
Os sintomas observados na copa da planta são a presença de
frutos de tamanho pequeno e folhas cloróticas, semelhantes àquelas
com sintomas de deficiência de nitrogênio, e com tamanho menor que
as folhas normais. Dependendo do tamanho e do local das lesões nas
raízes e tronco das plantas, os sintomas da gomose podem surgir em
apenas um ramo ou lado da copa das plantas (Figura 48d). Esses
sintomas não devem ser confundidos com os do greening ou de
deficiência de nitrogênio.
A gomose pode ocorrer apenas no sistema radicular, portanto
os sintomas característicos observados no tronco não podem ser vistos.
A morte da radicelas implica redução na absorção de água e nutrientes,
levando a planta à morte. Nesse caso, o diagnóstico do problema é mais
difícil, havendo necessidade de coletar amostras do solo e de raízes para
avaliação da presença do patógeno em laboratório ou a remoção do solo
que cobre as raízes, para examiná-las.
Há diferenças entre os cultivares-copa quanto à tolerância à
gomose, sendo os limoeiros, limeiras ácidas e doces mais suscetíveis
que as laranjeiras, que, por sua vez, são mais suscetíveis que
tangerineiras e híbridos.
Quanto aos porta-enxertos, o Poncirus trifoliata e citrumeleiro
Swingle são resistentes, os citrangeiros, ‘Troyer’ e ‘Carrizo’
apresentam tolerância e o limoeiro ‘Cravo’ é suscetível, principalmente
em solos argilosos que tendem a reter mais umidade e apresentar menor
capacidade de drenar a água das chuvas e da irrigação. Portanto, o uso
de porta-enxertos resistentes e tolerantes à gomose é uma importante
estratégia para o controle da doença.
Outras importantes medidas de controle da gomose são: evitar
plantio em solos úmidos, pincelar o tronco das plantas uma vez por ano
com pasta bordalesa, evitar o plantio profundo de mudas; os ferimentos
no tronco e nas raízes; não molhar o tronco das plantas com a água de
irrigação; e nunca deixar acúmulo de terra, matéria orgânica e outros
junto ao tronco das plantas. Como medida curativa, recomenda-se
retirar a parte danificada com faca e pincelar o local do ferimento com
pasta cúprica ou com fungicida sistêmico registrado para essa finalidade
(Tabela 17).
Citros: do plantio à colheita 169

a b

c d

Figura 48 - Tronco de planta de citros com sintomas de gomose (exsudação


de goma) apenas no porta-enxerto (a); tronco de limoeiro (Citrus
limon), altamente suscetível à gomose, com sintomas no porta-
enxerto e na copa (b); laranjeira com as folhas da copa totalmente
amarelas, morrendo, devido ao ataque de gomose (c); e sintomas
de gomose em apenas um ramo da planta, resultante da morte
dos tecidos da casca do tronco da planta apenas no lado em que
o sintoma está presente (d).

Verrugose (Elsinoe fawcettii e Elsione australis)


A verrugose dos citros é uma doença fúngica comum nas
regiões úmidas, por isso em locais com clima semiárido, como o
Nordeste do Brasil e Norte de Minas, raramente ocorre, devido às
condições climáticas desfavoráveis.
170 Siqueira e Salomão

Duas espécies do fungo causam problemas nos pomares:


verrugose dos citros, também conhecida por verrugose da laranja-azeda,
ocasionada por Elsinoe fawcettii, e verrugose da laranja doce, causada por
Elsinoe australis. Elsinoe fawcettii tem muitos patótipos, que são
patógenos da mesma espécie, com morfologia similar ou idêntica, mas com
diferentes níveis de virulência. Os hospedeiros são vários na citricultura,
podendo atacar frutos e folhas de tangerineiras e seus híbridos, pomeleiros
e limoeiros, mas não atacam laranjeiras. O fungo Elsinoe fawcettii
encontra-se disseminado em todos os países produtores de citros do
mundo, enquanto Elsinoe australis está restrito à América do Sul.
O fungo causador da verrugose da laranja-doce não ataca as
folhas das plantas, estando presentes os sintomas apenas nos frutos de
laranjeiras-doces e de algumas tangerineiras e híbridos.
Os esporos do fungo Elsinoe são disseminados na primavera, pela
chuva, orvalho, vento ou insetos e colonizam somente tecidos imaturos. Os
frutos permanecem suscetíveis ao fungo por aproximadamente três meses
após a queda das pétalas das flores.
A importância da doença varia de ano para ano, de acordo com
o clima, pois a presença de umidade nas plantas, ocasionada por chuvas,
neblinas, orvalho, durante os períodos de brotação e frutificação,
favorece o surgimento da doença. Os esporos necessitam no mínimo de
2,5 horas de umidade para germinar e causar infecção.
É uma doença importante, tanto em viveiros quanto em
pomares. Em viveiros, o limoeiro ‘Cravo’, que é principal porta-enxerto
utilizado no Brasil, pode ser severamente atacado pela verrugose,
prejudicando o crescimento das plantas. O fungo ataca os tecidos
jovens, sendo as lesões salientes e ásperas. As folhas e ramos novos
ficam retorcidos (Figura 49). Devido aos danos no meristema apical e
nas folhas, o crescimento dos porta-enxertos é prejudicado, havendo
excessiva brotação lateral das plantas, quando o controle do fungo não
é feito. Nas folhas, as lesões podem estar isoladas ou agrupadas e,
normalmente, são vistas na epiderme inferior.
Na maioria das variedades, as lesões surgem na forma de
verrugas salientes, sendo que no limoiero ‘Cravo’, as verrugas são mais
salientes que nas laranjas. Somente tecidos jovens são sensíveis ao
ataque da verrugose, porém quando estes estão infectados pelo fungo,
as verrugas crescem à medida que os tecidos vão amadurecendo.
Nos frutos, os sintomas são semelhantes aos das folhas. As
verrugas são superficiais, não afetam a qualidade do suco dos frutos e
Citros: do plantio à colheita 171

nem favorecem a penetração de outros patógenos, embora haja vários


relatos de que as lesões são importantes para o abrigo do ácaro-da-
leprose (Brevipalpus phoenicis).
A verrugose não deve ser confundida com a melanose, pois as
lesões causadas por ambas são salientes. Entretanto, no caso da
verrugose, as lesões são maiores e de coloração menos intensa.
Nas regiões onde ocorre a doença fúngica conhecida como
pinta-preta, causada por Guignardia citricarpa, o controle da verrugose
e da melanose é feito simultaneamente ao dessa doença, porque há
coincidência na época em que os frutos estão suscetíveis aos fungos e,
assim, os produtos usados podem ser os mesmos para as três doenças.
Esse período se estende desde a queda das pétalas das flores, geralmente
em setembro ou outubro, até a 17ª semana após a queda das pétalas. São
usados fungicidas protetores (cúpricos) e sistêmicos (Tabela 17) em
quatro a cinco pulverizações, dependendo do histórico da doença na
área. O controle da verrugose é essencial em viveiros, quando o
limoeiro ‘Cravo’ é usado como porta-enxerto.
a b

Figura 49 - Sintomas da verrugose (Sphaceloma fawcetii) em


frutinhos (a) e folhas de limoeiro ‘Cravo’ (b) e da
verrugose (Sphaceloma australis) em laranja-doce (c).
172 Siqueira e Salomão

Melanose (Diaporthe citri)


Embora não afete as características do suco e nem cause a
queda dos frutos, a melanose é uma das principais doenças da
citricultura de mesa, devido às manchas que surgem na casca dos frutos,
desvalorizando-os para o mercado. É uma doença que ataca quase todos
os cultivares de citros de interesse comercial, ocorrendo em laranjas,
tangerinas e limões.
A melanose é mais importante nas plantas onde existe abundância
de inóculo, como ramos secos e em regiões onde é comum a umidade
durante o período de desenvolvimento dos ramos e dos frutos. Esse
ambiente úmido ocorre nas principais regiões produtoras de citros do
sudeste brasileiro, com exceção das regiões semiáridas do norte de Minas,
onde o clima seco não favorece o desenvolvimento da doença. O fungo
coloniza os tecidos jovens das plantas, incluindo folhas, ramos e frutos
jovens de citros. Após a deposição dos esporos sobre o órgão, é necessário
um período de molhamento de 10-12 horas, para que ocorra a infecção, a
25 °C, enquanto a 15 °C esse período é de 18 a 24 horas.
Nos locais atacados pela melanose, são formadas pequenas
manchas escuras, deprimidas e com halos cloróticos. Os sintomas evoluem
rapidamente, e, assim, as manchas vão ficando necróticas, salientes e de
cor marrom-escura, e bem pequenas, medindo até 1 mm de diâmetro
(Figura 50a). Nas folhas, os sintomas ocorrem em ambas as superfícies,
que perdem a cor verde, podendo ficar retorcidas e cair prematuramente.
Nos frutos, as manchas geralmente se agregam, formando grandes
áreas, de cor marrom-escura, que podem ser distinguidas dos danos
causados pelo ácaro da ferrugem, por serem ásperas ao tato. As manchas
nos frutos surgem em diversas formas, podendo estar dispersas na casca ou
ter formato alongado, no sentido longitudinal, devido ao transporte dos
propágulos do fungo por gotas de água. Essas manchas são conhecidas
como “manchas de lágrima” (Figura 50b). Podem ser vistas agrupadas em
determinada parte dos frutos, com pequenas fissuras na casca. Nesse caso,
são conhecidas como “bolo de lama”.
Em frutos maduros, o fungo pode causar a “podridão
peduncular”, que normalmente se origina a partir do ponto de inserção
do pedúnculo no fruto (Figura 50c). A partir do ponto de inserção do
pedúnculo, a casca dos frutos vai lentamente ficando com coloração
marrom-escura. A podridão peduncular geralmente surge durante o
Citros: do plantio à colheita 173

período de armazenamento dos frutos, entretanto, ocasionalmente é


observada no campo, podendo causar queda dos frutos.
Uma vez que o fungo Diaporthe sobrevive nos pomares em
galhos secos, mortos por diversas causas, a doença é mais séria em
pomares abandonados, portanto uma medida importante de controle da
melanose é a poda de todos os ramos secos na planta. Conforme
mencionado, o controle químico da melanose é o mesmo feito para a
verrugose, que deve ser iniciado ao final da queda das pétalas.
a b

Figura 50 - Sintomas da melanose em laranja (a), lesões com formato


“escorrido”, denominado “mancha de lágrima” (b); e
sintoma da podridão peduncular, causada por Diaporthe
citri em tangerina ‘Poncã’ (c).
196 Siqueira e Salomão

Tabela 17 - Fungicidas indicados para a produção integrada de citros


Dose registro
Ingrediente Produto Grupo
Classe (mL ou g/
ativo registrado químico
100L)
Amistar WG Fungicida 8,0-16,0 Estrobilurina
Azoxistrobina
Vantigo Fungicida 8,0-16,0 Estrobilurina
Estrobilurina
Amistar Top Fungicida 20,0
Azoxistrobina + + Triazol
Difenoconazol Estrobilurina
Priori Top Fungicida 20,0
+ Triazol
Difenoconazol Score Fungicida 20,0 Triazol
Fosetil Aliette Fungicida 250,0 Fosfonato
Auge Fungicida 2,0-3,0 L/ha Inorgânico
0,85-1,7 Kg / ha
Contact Fungicida Inorgânico
ou 200,0
Ellect Fungicida 2,0-3,0 Kg/ha Inorgânico
Bactericida/ 0,85-1,7 Kg / ha
Garant Inorgânico
Fungicida ou 200,0
Bactericida/ 0,85-1,7 Kg / ha
Hidróxido de Garant BR Inorgânico
Fungicida ou 200,0
cobre
Garra 450 WP Fungicida 100,0-150,0 Inorgânico
Kentan 40 WG Fungicida 75,0-100,0 Inorgânico
Kocide WDG Bactericida/
75,0-125,0 Inorgânico
Bioactive Fungicida
Supera Fungicida 2,0-3,0 L/ha Inorgânico
Tutor Fungicida 175,0-225,0 Inorgânico
Imazalil* Magnate 500 EC Fungicida 200,0 Imidazol
Fungicida/B
Agrinose 400,0 Inorgânico
actericida
Cobox Fungicida 250,0 Inorgânico
Cobox DF Fungicida 250,0 Inorgânico
Cobre Fersol Fungicida 300,0 Inorgânico
150-200,0 ou 2-
Copsuper Fungicida Inorgânico
Oxicloreto de 2,5 L/ha
cobre Cup001 Fungicida 250,0 Inorgânico
Cupravit Azul BR Fungicida 300,0 Inorgânico
Cupravit Verde Fungicida 180,0 Inorgânico
Cuprogarb 350 Fungicida 200,0-300,0 Inorgânico
Cuprogarb 500 Fungicida 150,0-200,0 Inorgânico
Fungicida/B
Cupuran 500 PM 3 kg/ha Inorgânico
actericida
Continua...
Citros: do plantio à colheita 197

Tabela 17 – Cont.
Dose registro
Ingrediente Produto Grupo
Classe (mL ou g/
ativo registrado químico
100L)
Difere Fungicida 3,0-4,0 L/ha Inorgânico
Fanavid 85 Fungicida 300,0-450,0 Inorgânico
Fanavid Flowable Fungicida 300,0-450,0 Inorgânico
Funguran Verde Fungicida 100,0 Inorgânico
Fungitol Azul Fungicida 275,0 Inorgânico
Fungicida/B
Fungitol Verde 150,0 Inorgânico
Oxicloreto de actericida
cobre Neoram 37.5 WG Fungicida 300,0 Inorgânico
Ramexane 850 PM Fungicida 250,0 Inorgânico
Fungicida/B
Reconil 200,0 Inorgânico
actericida
Recop Fungicida 250,0 Inorgânico
150,0-200,0 ou
Status Fungicida Inorgânico
2-2,5 L/ha
Fungicida/B
Cobre Atar BR 150,0 Inorgânico
actericida
Óxido Cuproso Fungicida/B
Cobre Atar MZ 150,0 Inorgânico
actericida
Redshield 750 Fungicida 100,0 Inorgânico
Anilinopirimi
Pirimetanil Mythos Fungicida 1,0-1,5 L/ha
dina
Piraclostrobina Comet Fungicida 10,0-15,0 Estrobilurina
Egan Fungicida 75,0 Triazol
Tebuconazol
Produtorbr Fungicida 75,0 Triazol
Tiabendazol* Tecto SC Fungicida 103,0-1030,0 Benzimidazol
Trifloxistrobina Flint 500 WG Fungicida 10,0 Estrobilurina
Trifloxistrobina Estrobilurina
Nativo Fungicida 0,6-0,8 L/ha
+ Tebuconazol + Triazol
*Uso em tratamento pós-colheita.
Fonte: PIC Brasil, atualizada em 01/05/2015.

Doenças causadas por vírus


Os citros são acometidos por várias doenças causadas por vírus
e viroides, entre elas a tristeza-dos-citros, sorose, exocorte e xiloporose,
entretanto a premunização e a adoção de programas de produção
certificada de mudas têm evitado que essas doenças causem maiores
problemas aos pomares.
236 Siqueira e Salomão

se tornam imóveis. Os ovos de Tylenchulus semipenetrans podem ficar


quiescentes por até 10 anos no solo e são transportados por enxurradas
e água de irrigação. O plantio de mudas infectadas também é uma
importante forma de disseminação do nematoide.
O declínio lento pode estar associado à presença de patógenos
de solo como Phythopthora spp, causador da gomose-dos-citros, por
favorecer a infecção das raízes pelo patógeno.
O manejo do nematoide deve ser feito selecionando áreas
livres, usando porta-enxertos resistentes (Poncirus trifoliata), tolerantes
(citrumeleiro ‘Swingle’) ou nematicidas, embora no sítio do Ministério
da Agricultura (Agrofit) não conste nematicidas registrados para o
controle desse nematoide em citros.

DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS DOS


FRUTOS
Os distúrbios fisiológicos abióticos são disfunções resultantes
do mau funcionamento dos processos fisiológicos que ocorrem nos
tecidos dos frutos, devido a estresses causados por diversos fatores,
como temperaturas e umidade relativas muito altas ou muito baixas;
intoxicação por agrotóxicos; falta ou excesso de nutrientes, luz ou
umidade do solo; poluição atmosférica; acidez ou alcalinidade do solo,
entre outros.
Nos frutos dos citros, os distúrbios fisiológicos podem ocorrer
na casca, na polpa ou em ambos. Os principais distúrbios na casca dos
frutos são queimadura de sol (sunburn), rachadura dos frutos (splitting),
encrespamento (creasing ou albedo breakdown), estufamento da casca
(bufado, peel puffing), e oleocelose (Oleocelosis). Na polpa, os
distúrbios mais comuns são a granulação e a podridão-estilar-da-lima
‘Tahiti’, que ocorrem tanto na casca quanto na polpa.

Queimadura de sol (sunburn)


Este distúrbio é frequente em regiões áridas e semiáridas
(tropicais), como o Norte de Minas Gerais, onde são comuns frutos
Citros: do plantio à colheita 237

queimados pelo sol nos pomares. As condições de intensidade luminosa


muito alta, associada aos ventos quentes e secos, favorecem essa
ocorrência.
A queimadura pode ocorrer nos frutos e também na casca dos
ramos. Os danos nos frutos são comuns quando estes permanecem por
longos períodos expostos à incidência de radiação solar direta, portanto a
queimadura é pior nos cultivares que produzem frutos na parte externa da
copa e pouco protegidos por folhas. O tangor ‘Murcote’ é um dos frutos
cítricos mais suscetíveis à queimadura, além da tangerina ‘Poncã’.
A queimadura acontece com maior frequência em cultivares
cujos frutos possuem casca fina, como também é o caso do tangor
‘Murcote’. Na face do fruto voltada para o sol há desidratação e necrose
dos tecidos, que adquirem coloração escura (marrom ou preto) e são
circundados por um halo amarelado (Figura 74a). Além da casca, ocorre
também o secamento da polpa, no local onde houve a queimadura.
Para minimizar os efeitos ou reduzir incidência da queimadura,
recomenda-se pintar frutos e caules das plantas jovens e recém-podadas
com tinta branca à base de água (Figura 74b). O caulim misturado com
água é muito usado para essa finalidade.

a b

Figura 74 - Tangerina-’Poncã’ com queimadura de sol na casca (a),


tangerinas-’Poncã’, pulverizadas com produto à base de
cal, para reflexão da luz solar, visando minimizar
queimaduras de sol nos frutos (b).
238 Siqueira e Salomão

Rachadura dos frutos (splitting)


O sintoma inicial desse distúrbio é uma pequena fissura na zona
estilar do fruto, que progride em sentido longitudinal, podendo alcançar
todo ele. Está relacionada à incapacidade de a casca dos frutos de
algumas variedades acompanhar o desenvolvimento da polpa. O fluxo
de seiva para o interior do fruto provoca sua expansão, pressionando a
casca, que rompe nos pontos menos resistentes, como a região estilar,
onde a casca dos frutos é mais fina.
Normalmente, a rachadura ocorre antes do amadurecimento dos
frutos, com a exposição dos gomos e das vesículas de suco (Figura 75).
Os frutos ficam impróprios para o consumo, devido ao aspecto e
apodrecimento causado por fungos, como os mofos verde e azul,
provocados por Penicillium.
Embora a causa exata seja desconhecida, a rachadura dos frutos
provavelmente é resultado de estresse hídrico. Temperatura do ar
elevada, associada a ventos e baixa umidade relativa do ar desidratam
a planta e os frutos, que chegam a ficar murchos ou mesmo cair .Nessa
condição, se houver fornecimento repentino de água no solo, causado
por chuvas ou mesmo pela irrigação, a rápida absorção de água pela
planta e o movimento para os frutos, seguindo o fluxo transpiratório,
aumenta a incidência de frutos rachados. Essa situação foi observada
em diversos pomares de citros não irrigados em 2014 e 2015, devido ao
período prolongado de seca, com ocorrência esporádica de chuvas.

Figura 75 - Laranja com a casca rompida, expondo os gomos (rachadura


da casca).
256 Siqueira e Salomão

Figura 86 – Sobre-enxertia de tangerineira ‘Poncã’ sobre limeira


‘Tahiti’, cujo tronco foi podado a aproximadamente 30
cm do solo.

COLHEITA E PÓS-COLHEITA DOS


CITROS
Critérios para definição do ponto de colheita
O período compreendido entre a floração e a colheita dos frutos
dos citros é mais longo do que o da maioria das plantas frutíferas, como
a mangueira, pessegueiro, macieira, pereira, entre outros. Pode variar
de 4 a 14 meses, dependendo do cultivar e do clima. Geralmente, as
tangerineiras e limeiras apresentam período de safra mais curto, além
de serem mais precoces, enquanto a safra das laranjeiras é mais longa,
em razão da existência de cultivares com períodos entre florescimento-
colheita muito diferentes, sendo por isso classificadas como precoces,
da estação e tardias.
Os frutos dos citros são pobres em reservas de amido e
apresentam poucas alterações na qualidade interna após a colheita e
durante o armazenamento, portanto a evolução nos teores de açúcares e
ácidos, que são os principais componentes que determinam o sabor dos
frutos, é praticamente interrompida após a colheita. Por isso, é
importante que a colheita seja realizada quando os frutos já estiverem
em condições de consumo (maduros).
Geralmente, os frutos dos citros não entram em processo de
abscisão quando alcançam o ponto de consumo. Essa característica é
Citros: do plantio à colheita 257

importante, pois permite que a colheita seja planejada e realizada com


tranquilidade, além de prolongar o período de safra, o que é interessante
para o mercado. O tempo entre o ponto adequado para o consumo dos
frutos dos citros e a sua senescência depende do clima. Em climas
subtropicais, esse tempo é significativamente superior que em tropicais.
A colheita é uma operação de grande expectativa pelos
produtores, pois representa o momento em que esperam ser
recompensados financeiramente pela dedicação e investimentos
realizados no manejo da cultura, desde a colheita do ano anterior. É uma
atividade cara, principalmente quando realizada manualmente.
Representa de 25 a 30% dos custos totais da produção e usa mais de
50% da mão de obra necessária para o cultivo do pomar.
A produção e a qualidade dos frutos são definidas, em grande
parte, pelos tratos culturais usados durante a produção e pelo clima,
entretanto os cuidados na colheita, classificação, armazenamento e
transporte são fundamentais para manter a qualidade dos frutos
alcançada no campo e minimizar as perdas durante todo o processo,
desde a colheita até a comercialização.
As principais características dos frutos dos citros para consumo
in natura são: aspecto externo e cor da casca, tamanho, espessura da
casca, espessura das membranas que envolvem os gomos, suco com
adequado equilíbrio de acidez titulável e de sólidos solúveis, aroma
característico, número de sementes, resistência ao transporte e
conservação. Para o processamento, a qualidade organoléptica dada
pelo sabor, aroma, textura, cor e valor nutritivo são mais importantes.
Como descrito anteriormente, o amadurecimento dos frutos dos
citros é interrompido após a colheita, portanto é fundamental que sejam
colhidos quando estiverem com uma relação adequada entre a
concentração de açúcares e a acidez. Para que isso ocorra, é importante
encontrar características dos frutos que indiquem que eles estão com a
qualidade adequada para serem colhidos. A cor da casca dos frutos
poderia ser uma característica, entretanto nem sempre apresenta
correlação com o sabor do suco.
Nas regiões de clima tropical, onde a amplitude térmica diária
é baixa (pouca diferença entre as médias das temperaturas máximas
diurnas e mínimas noturnas), as laranjas e tangerinas não chegam a
desenvolver a coloração alaranjada na casca, ficando esverdeadas ou no

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