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Universidade Federal da Bahia 

Faculdade de Comunicação

ROSACRUCIANDO
Um código místico de vida

Autora:
Andréa Conceição Costa

Orientador:
Jonicael Cedraz

Salvador, 2000
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ROSACRUCIANDO
Um código místico de vida

Projeto Experimental para obtenção do


título de Bacharel em Comunicação Social,
com habilitação em Jornalismo, na
Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia, no primeiro semestre de 2000.

Autora:
Andréa Conceição Costa
Orientador:
Jonicael Cedraz

Salvador, 2000
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“Quem sabe encontro a rosa bendita


Desabrochando a fúria do querer
Saber que posso e devo viver
Para ver e para crer
No absoluto e farto sentido da vida”
Andréa Conceição Costa, 1999, in: “Nella routa della vita”.
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Agradecimentos
À Deus, acima de tudo.

Aos meus queridíssimos pais,


pelo imenso amor que nos une e nos fortalece
principalmente nos momentos mais difíceis.

Ao Prof. Me. Jonicael Cedraz,


pelo precioso apoio e amizade demonstrados
durante a orientação deste trabalho e
na convivência acadêmica.

Aos membros da Ordem Rosacruz


de Salvador, pela atenção especial e carinhosa
com que sempre me receberam. 

ÍNDICE

I PARTE – Memór ia Descr itiva e Analítica 

Apr esentação ................................................................................... 08

·  Capítulo I 
O meio e o tema ......................................................................... 09
·  Capítulo II 
Relato dos procedimentos........................................................... 12
·  Capítulo III 
Análise do produto ..................................................................... 16 

II PARTE – ROSACRUCIANDO: um código místico de vida

·  Capítulo I 
Por trás do muro rosa ................................................................. 20
·  Capítulo II 
Falando de Amor ........................................................................ 39
·  Capítulo III 
Lar Místico Lar .......................................................................... 49
·  Capítulo IV 
Cristo pela Rosacruz .................................................................. 62
·  Capítulo V 
Experiência Mística ................................................................... 67
·  Capítulo VI 
As dificuldades .......................................................................... 72
·  Capítulo VII 
Em busca do despertar ............................................................... 78
·  Capítulo VIII 
O Artesão ................................................................................... 86
·  Capítulo IX 
Culto ao Sigilo ........................................................................... 91
·  Capítulo X 
No Quarto Milênio? ................................................................... 95
·  Capítulo XI 
Nova Era .................................................................................... 101
·  Capítulo XII 
Um templo, uma encarnação ..................................................... 106
·  Capítulo XIII 
Uma senda faraônica – I ............................................................ 113
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·  Capítulo XIV 
Uma senda faraônica – II ........................................................... 122
·  Capítulo XV 
Vale a pena rosacruciar?............................................................. 130 

Considerações Finais .......................................................................... 141 

Bibliogr afia .......................................................................................... 145 

Anexos .................................................................................................. 146 
­  Endereços da AMORC.......................................................... 146 
­  Perfil dos rosacruzes ............................................................. 147 
­  Fotografias de filiais e membros da AMORC ...................... 148

I Parte

Memória Descritiva e Analítica


APRESENTAÇÃO 

Na  Faculdade  de  Comunicação  da  UFBA,  tive  noções  essenciais  do  que  é  o  jornalismo,  sua 

função  social  e  ética,  sua  linguagem,  suas  técnicas,  suas  aplicações  no  dia  a  dia  de  uma 

redação. Conheci todas as etapas pelas quais uma notícia passa até chegar as mãos do leitor, 

desde  a  seleção  das  pautas  até  a  edição  final,  acompanhada  das  fotos  e  da  programação 

visual. Enfim,  entendi o  que  é e como se  processa  o jornalismo nos seus diversos gêneros e 

suportes. 

Uma  disciplina  específica,  no  entanto,  me  pareceu  mais  condizente  com  os  meus  ideais: 

Estudo  Orientado  em  Jornalismo,  dada  pela  Professora  Rosângela  Vieira.  A  versão  bem 

rudimentar  do  presente  trabalho  nasceu  ao  longo  da  minha  passagem  por  essa  disciplina  e, 

desde já, pensava em desenvolvê­lo como trabalho de conclusão de curso. 

Através  dessa  disciplina,  tive  a  chance  de  saber  que  EU  PODIA  OUSAR  no  jornalismo  ­ 

transformar, subverter as  técnicas de uso corrente, e   experimentar outras. É importantíssimo 

que  se  dê  andamento  à  evolução  da  comunicação  jornalística,  que  não  pode  ser  vista  como 

algo  estático,  que  não  pode  sofrer  mudanças.  É  preciso  ousar,  começando  a  se  perguntar: 

Como eu gostaria fazer jornalismo? Assim, nasceu ROSACRUCIANDO – um código místico de 

vida, contendo a forma que eu achei mais prazerosa de elaborar um texto jornalístico. 

I ­ O MEIO E O TEMA 

Para  elaborar  um  trabalho  em  um  semestre  letivo,  é  preciso  muita  afinidade  e  gosto  pelo 

assunto escolhido. Por isso optei, sem pestanejar, por algo ligado ao esoterismo. Percorro este 

caminho  há  mais  de  dez  anos,  lendo  livros  e  participando  de  debates,  seminários,  vivências, 

etc.

Encontrei vários elementos de cunho místico interessantes por seu histórico, mas quase todos 

sem  um  quê  de  novidade,  pela  forma  maciça  com  que  estão  sendo  divulgados  atualmente. 

Temas  milenares  como  o  poder  dos  cristais,  das  runas,  do  tarô,  dos  anjos,  das  fadas,  das 

bruxas  e  dos  duendes  freqüentam  hoje  os  diversos  meios  de  comunicação,  como  um  vulcão 

que,  anteriormente  adormecido,  de  repente  entra  em  erupção,  para  nos  auxiliar  no  limiar  na 

nova era, do próximo século, do futuro milênio. 

Uma  vertente  que  se  apresentou  não  tão  popular  e  amplamente  camuflada  de  mistérios  foi  a 

das Sociedades Secretas. O que  veio ao encontro de um gosto profundo que tenho de entrar 

em  contato  com  o  que  chamo  de  comunidades  guetizadas,  formadas  por  grupos  fechados  e 

com um singular modo de vida. A sensação é a de estar  em uma grande aventura. Há mistura 

de euforia, curiosidade e imenso prazer por entrar em um novo mundo. 

Outrossim, foi preciso escolher apenas uma dentre essas variadas comunidades. Delimitações 

são necessárias para o bom andamento do trabalho. A Antiga e Mística Ordem  Rosae Crucis 

recebeu a preferência por ser tradicionalmente a mais antiga do mundo; ter grande quantidade 

de filiais em todos os continentes – 266 só na jurisdição de língua portuguesa (Brasil, Portugal 

e  Angola); pelo respeito e  prestígio que lhe  são  atribuídos pelas outras organizações místico­ 

iniciáticas; por aparentar seriedade em seus propósitos e, principalmente, pelo mistério que há 

milênios cercam seus ensinamentos. 

A  Antiga  e  Mística  Ordem  Rosae  Crucis,  AMORC,  organização  apolítica,  de 

caráter  educacional,  cultural  e  fraternal,  desenvolve  um  trabalho  de pesquisa, 

estudos e difusão das Leis de Deus e da Natureza, que visa proporcionar aos 

seus  estudantes  um  caminho  prático  de  evolução  e  realização  pessoal:  o 

domínio  da  vida,  por  meio  de  teorias  e  práticas  de  tradição  milenar  e 

inacessíveis  aos  que  não  são  iniciados  nessa  senda.  Francis  Bacon,  John 

Dalton, Isaac Newton Jacob Boehme, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e o 

brasileiro Juscelino Kubitschek, foram algumas das célebres personalidades do
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movimento  rosacrucianista,  que  se  espalha  pelo  mundo  há  mais  de  trinta 

séculos. 

ROSACRUCIANDO  –  um  código  místico  de  vida,  trabalho  de  conclusão  do 

Curso de Comunicação Social da FACOM/UFBA, é uma reportagem que utiliza 

o  meio  impresso,  o  qual  eu  tenho  mais  afinidade,  para  falar  sobre  os 

pensamentos  e  hábitos  dos  rosacruzes,  tendo  como  âmbito  a  Bahia, 

especificamente  a  Loja  Rosacruz  Salvador,  que  foi  a  primeira  filial  da  Ordem 

Rosacruz em nosso estado. 

O  verbo  ROSACRUCIANDO,  neologismo  criado  durante  a  elaboração  deste 

trabalho,  circula  por  duas  vertentes:  tanto  pode  ser  entendido  como 

TEORIZANDO,  como  também  PRATICANDO  os  ensinamentos  místicos  da 

AMORC. 

Ser  fiel  à  idiossincrasias,  detalhes,  perfis  de  pessoas  e  ambientes,  requer  sensibilidade  e 

técnica. Não aquela técnica esquematizada para aprisionar o sentido a partir e tão­somente da 

visão  do  redator.  Antes  sim,  essa  reportagem  necessita  da  utilização  de  uma  técnica  que 

permita a humanização do diálogo, onde o entrevistado seja de fato o protagonista da história e 

o  texto,  o  espelho  do  seu  falar,  agir,  pensar,  e  o  leitor  seja  participante  e  não  mais  um  mero 

espectador de histórias fragmentadas do cotidiano. 

Para tanto, faz­se necessário amparar essa proposta em um gênero de narração que dê vida a 

um  relacionamento  entre  uma  profissional  e  um  modo  de  fazer  jornalismo  humanizado.  É 

escolhido,  então,  o  uso  da  linguagem  dialógica  interativa,  que  estabelece  um  elo  forte  de 

ligação  entre  os  interlocutores  da  reportagem,  consideradas  as  participações  ativas  dos 

entrevistados  (fontes  de  informação),  do  entrevistador  (mediador  do  discurso)  e  do  receptor
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(enquanto  sujeito  da  interpretação),  através,  inclusive,  do  aproveitamento  por  vezes  integral 

dos  discursos  das  fontes  de  informação,  sob  a  pretensão  de  privilegiar  a  compreensão  em 

detrimento da explicação do fato. (Cremilda Medina, 1986: 27) 

II – RELATO DOS PROCEDIMENTOS 

O trabalho está vinculado ao fazer jornalístico, considerando­se que o método utilizado na sua 

execução  orienta­se  pelas  normas  que  fundamentam  essa  atividade:  entrevista,  trabalho  de 

campo  (reportagem),  pesquisa,  observação,  difusão,  edição  (compreendida  a  seleção  e  a 

organização de pautas das pesquisas e entrevistas). 

Pesquisei na Internet – http://www.amorc.org.br , li alguns livros publicados pela Ordem (Ordem 

Rosacruz em perguntas e respostas, Manual Rosacruz, A Vida Mística de Jesus e As Doutrinas 

Secretas  de  Jesus)  e  vários  números  dos  periódicos  que  produzem  (O  Rosacruz,  AMORC­ 

GLP, O Domínio da Vida e AMORC­Cultural). 

Dentre vários assuntos interessantes que poderiam servir como o gancho da reportagem, fiquei 

na  dúvida  entre  duas  possibilidades:  a)  pensamentos  e  práticas  dos  rosacruzes  mirins 

(crianças  e  adolescentes);  b)  pensamentos  e  práticas  dos  rosacruzes  adultos.  Para  decidir, 

resolvi  sondar  alguns  membros  mirins  a  adultos,  fazendo­lhes  perguntas  sobre  a  sua  vida 

naquela comunidade de místicos e o que estavam aprendendo nos ensinamentos da Ordem. 

No  começo,  os  membros  adultos  da  AMORC  foram  extremamente  reticentes  em  sua  grande 

maioria. Pareciam  estar tão intrinsecamente comprometidos com a questão do sigilo, que não 

eram  muito  de  falar  e  muito  menos  de  deixar  que  os  estudantes  mirins  fossem  abordados. 

Educadamente, limitaram­se a me indicar que procurasse respostas nos livros da Ordem, cujo
12 

discurso já teria passado pelo processo de adequação de linguagem e conteúdo para o público 

em geral. 

Com o tempo, foi crescendo uma empatia entre ambas as partes, já que eu tinha demonstrado 

respeito  pelos  trabalhos  da  Ordem,  uma  certa  bagagem  de  conhecimentos  e  vivências  de 

cunho  místico  e  também  por  contar  com  o  apoio  de  alguns  conhecidos  meus  que  eram 

rosacruzes, os quais, há cinco anos atrás, já tinham me levado para conhecer a Loja Rosacruz 

Salvador. 

Conversando e observado daqui e dali, havia percebido o quanto os rosacruzes respeitavam a 

palavra dos que ocupavam o topo da hierarquia – Mestre, Mestre­Auxiliar, Artesãos. Foi com a 

ajuda  deles  que,  foi  possível:  determinar  que  o  gancho  da  reportagem  fossem  os 

pensamentos  e  práticas  dos  rosacruzes  adultos;  combinar  encontros  para  entrevistas 

coletivas,  sempre  aos  sábados,  quando  haveria  maior  quantidade  de  membros  na  Loja; 

levantar      assuntos  que  poderiam  ser  abordados  nas  entrevistas,  sem  que  houvesse  uma 

intervenção  muito  profunda  nos  ensinamentos  sigilosos.  As  pautas  das  entrevistas  realizadas 

foram elaboradas, por vezes, de forma prévia – como ocorreu nos capítulos 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 

13 e 14  ­ ou de maneira intuitiva, de acordo com o momento – como aconteceu  nos capítulos 

2, 10, 11, 12 e 15. 

Foi  decidida  a  realização  de  entrevistas  até  mesmo  porque  é  compreensível  a  inevitabilidade 

de aceitação da idéia de que “todos os profissionais que tratam de problemas humanos – e, por 

isso, devem ter contato direto com os indivíduos – lidam fatalmente com a entrevista” 1 

O texto, por isso, foi construído a partir de depoimentos e entrevistas  de 32 membros da Loja 

Rosacruz Salvador.  Desta forma, tentou­se aproximar o discurso do perfil dialógico interativo, 

intencionando  possibilitar  a  interrelação  entre  os  sujeitos  constituintes  e  constitutivos  da 


NAHOUM, Charles, in: MEDINA, Cremilda. Entrevista – o diálogo possível, São Paulo, Ática, 1986).
13 

reportagem. Para isso, houve o aproveitamento, por vezes integral, dos discursos das fontes de 

informações.  É como afirma Edvaldo Pereira Lima (1993: 85): 

“... é bastante habitual o livro­reportagem aproveitar diversas entrevistas ao longo de 

suas páginas... A entrevista desponta no livro como uma forma  de expressão  por si, 

dotada  de  individualidade,  força,  tensão,  drama,  esclarecimento,  emoção,  razão, 

beleza.  Nasci  daí  o  diálogo  possível,  o  crescimento  do  contato  humano  entre 

entrevistador  e  entrevistado,  que  só  acontece  porque  não  há  a  pauta  fechada 

castrando  a  criatividade.  Em  muitas  ocasiões,  surge  o  painel  de  multivozes  e  o 

repórter,  o  autor,  é  apenas  um  sutil  maestro  que  costura  os  depoimentos,  interliga 

visões de mundo com tal talento que  parece natural tal arranjo, como se surgisse ali 

espontaneamente, perfeito. Nessas ocasiões, o jornalista­escritor atinge uma situação 

máxima  de  excelência  no  domínio  da  entrevista:  a  de  tecedor invisível  da realidade, 

que salta, vívida, das páginas para o coração, a mente e todo o aparato perceptivo do 

leitor.” 

É compreensível a probabilidade, nesse trabalho, de efetivação de uma dita inclinação para a 

utilização  de  textos  mais  humanizados  por  jornalistas  que,  apesar  de  cercados  no  cotidiano 

profissional  por  determinações  estruturais  das  empresas  de  comunicação,  aproveitam  janelas 

que se lhes abrem e  realizam reportagens que aprofundam temas, em geral, humanísticos ou 

existencialistas.  Jornalistas  que  diante  de  pautas  de  reportagens  abrangentes,  enxergam  a 

possibilidade de ruptura com o rigor racionalista de teorias ortodoxas que ostentam  pirâmides 

invertidas,  leads,  sub­leads.  Permitem­se  o  desprendimento  do  pragmatismo/formalismo 

técnico  e  a  aproximação  da  linguagem  subjetivada.  Descompromissado  das  amarras  que 

conformam o texto jornalístico nessas fórmulas, o redator se autoriza a expressar sentimentos, 

emoções, comportamentos, conceitos, valores, histórico de vida dos entrevistados, bem como 

a  caracterização  do  ambiente  para  complementação  do  universo  receptivo  da  mensagem, 

levando  em  conta  a  emissão  de  mensagem,  subjetivada  ou  submetida  ao  olhar  do 

entrevistador,  a  emissão  de  significados  pelo  entrevistado  e  a  capacidade  interpretativa  do 

receptor.
14 

III – ANÁLISE DO PRODUTO 

Para  elaborar  esse  trabalho sobre  a Ordem  Rosacruz, foi  escolhido o  formato 

de  livro­reportagem,  que,  apesar  de  baseado  em  informações  de  fatos  reais 

coletadas através da técnica de observação participativa e a partir de relatos de 

membros  da  Ordem,  oferece  um  leque  de  experimentações  para  o  modo 

convencional de se fazer jornalismo. 

Não que haja o desejo de contestar infundadamente o formato atual de notícia,  de linguagem 

predominantemente  substantiva,  que  visa  garantir  o  máximo  de  distanciamento  entre  quem 

escreve, quem informa, e o que  escreve, o que informa. Em meio a insatisfações e protestos 

manifestos  e  latentes,  entretanto,  ouvem­se  brados  de  ruptura  e  inovação.  Já  disse  Medina 

(1986:  16)  no  Projeto  São  Paulo  de  Perfil:  “...  vive­se  a  emergência  da  comunicação  e 

emergente se faz a construção do signo da interação social transformadora” 

A insatisfação predominante nos meios acadêmicos em relação ao equacionamento da notícia 

através  de  leads,  que  conformam  respostas  intocáveis  às  estáticas  perguntas:  quem,  o  quê, 

quando, onde, como e por quê, é generalizada. Na FACOM/UFBA não é diferente.
15 

A  partir  desse  panorama,  está  dada  a  sugestão  de  uma  análise  mais  conseqüente  dessa 

problemática,  já  que  enxergamos  o  papel  social  do  jornalista  e  entendemos  o  quanto  esse 

profissional pode ser útil à formação e transformação dos valores da sociedade. Provavelmente 

essa possibilidade pode partir da assunção de um jornalismo crítico,  audacioso,  independente 

e comprometido com a realidade coletiva. 

Outro  fator  incentivador  na escolha  desse  produto  foi  também  a  possibilidade 

de detalhamento  que  o  livro­reportagem  promove.  Como  fala  Edvaldo Pereira 

Lima (1993: 16): 

“O  livro­reportagem  cumpre  um  relevante  papel,  preenchendo  vazios  deixados  pelo 

jornal, pela revista, pelas emissoras  de rádio, pelos noticiários de televisão. Mais do 

que  isso,  avança  para  o  aprofundamento  do  conhecimento  do  nosso  tempo, 

eliminando,  parcialmente  que  seja,  o  aspecto  efêmero  da  mensagem  da  atualidade 

praticado pelos canais de cotidianos da informação jornalística.” 

Trabalhando  com  os  conceitos  de  Pereira  Lima,  o  presente  livro­reportagem  pode  ser 

enquadrado  em um gênero híbrido, assim entendido por situar­se  em uma  zona intermediária 

entre  livro­reportagem­retrato  ­  que  visa  traçar  um  retrato  do  objeto  em  questão,  elucidando, 

principalmente, seus mecanismos de funcionamento, seus problemas e  suas complexidades – 

e  livro­reportagem­ensaio,  que  “tem  como  forma  a  postura  de  ensaio,  o  que  vale  dizer,  a 

presença  evidenciada  do  autor  e  de  suas  opiniões  sobre  o  tema,  conduzida  de  tal  forma  a 

convencer o leitor a compartilhar do ponto de vista do autor.” (1993:45­49)
16
17 

II Parte

ROSACRUCIANDO
Um código místico de vida

CAPÍTULO I
18

Por trás do muro rosa

Sábado, dia 22/01/2000, por volta das duas horas da tarde,

cheguei ao fim de linha da Boca do Rio, à procura da Rua Antônio

do Amor Divino, e qual não foi a minha surpresa, quando descobri

que a tal rua, agora, já recebera outro nome: Rua Boa Ventura

Andrade. Encontrando­a, precisava, então, continuar a caminhada,

até localizar o prédio da Ordem Rosacruz. Lembrava­me com

exatidão que era cercado por um muro de tonalidade não muito

comum em relação aos outros. Era um muro cor­de­rosa, que,

apesar de pintado com o tom mais suave da cor, destacava­se entre

os demais muros do local, justamente por ser o único a ter recebido

tal tintura naquela rua Pois bem, não demorou dois minutos para,

enfim, avistá­lo. Jamais poderia perder­me, utilizando tão eficaz

ponto de referência.

Ultrapassando, pois, os portões do muro rosa, o

estacionamento e,... Deus! Não me recordava: o prédio também era

rosa. Ah, nesse dia, a cor rosa nunca esteve tão rosa. O rosa estava

em tudo. Aliás, minto. Os carros não eram rosa, as plantas também

não, muito menos os rosacruzes. Mas podem acreditar, o sorriso


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deles, ao me verem, parecia um intenso desabrochar de uma rosa.

Pude vislumbrar uma recepção agradável. Afinal, era um

reencontro.

A Mestre da Loja, Maria Carneiro de Almeida ­ servidora

pública federal, 57 anos, 14 como rosacruz ­ foi a primeira a dar­me

as boas­vindas. Em seguida, vieram a mim os demais membros

presentes naquele horário. Eram doze ao todo: quatro mulheres e

oito homens. “Normalmente, os estudantes mais antigos na Ordem

chegam mais cedo e saem mais tarde que os outros, sem falar na assiduidade

exemplar”, observou sorridente e satisfeita a Mestre, ao tempo em

que cada um se apresentava e pronunciava a característica saudação

rosacruz: Paz Profunda!

Entre rostos já conhecidos por mim e outros não, pude sentir

o desejo mútuo de estarmos juntos e trocarmos idéias. A curiosidade

pairava recíproca e contínua. Eu apenas queria sabê­los como

místicos e, por que não, também, como pessoas comuns que deviam

ser. Seriam capazes de falar sobre isso sem muitas reservas?

Nem todos. Eu já tinha ouvido em outros momentos,

respostas mais que evasivas: “Não sei se posso dizer”; É delicado

explicar”; “Desculpe­me, esse assunto é sigiloso”; Pergunte a fulano de


20

tal”. Não vai ser fácil. Entretanto, algo parecia dizer­me que agora

eu tinha encontrado as pessoas certas, que poderiam melhor relatar

sobre os princípios da AMORC. Ah! As paredes do interior do

prédio também eram cor­de­rosa.

Como eu e a Mestre tínhamos combinado, por telefone, que

haveríamos de ter, neste primeiro encontro, mais uma “conversa

entre amigos” do que propriamente as delongas de uma grande

entrevista em grupo. Era preciso que conhecessem melhor o

trabalho que eu estava querendo desenvolver com eles.

Fomos todos, então, para a Antecâmara do Templo, local

pequeno e aconchegante, em que os postulantes são preparados

para os rituais de Iniciação. Nessas ocasiões, este recinto fica sob a

responsabilidade de um rosacruz sob o cargo de oficial Guardião do

Templo, de modo que ninguém pode nele penetrar sem a sua

permissão, exceto se autorizado pelo Mestre, para outros fins como

estudo, trabalho e meditação que não sejam privativos. A

reportagem foi enquadrada como uma atividade deste tipo.

Como não poderiam deixar de faltar, motivos egípcios que

tomavam as paredes de fundo rosa, velas e incenso, que se

encontravam dispostos em uma mesinha, pareciam tornar o


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ambiente mais propício à manifestação sublimada do ideal místico

rosacruz. Havia também bancos de madeira distribuídos nos quatro

lados, formando uma figura retangular. Antes de sentarmos nos

referidos bancos, a Mestre envida uma prece rogando bons fluidos

às hostes cósmicas: “Deus do nosso coração, Deus de nossa compreensão,

concedei­nos a inspiração necessária para que consigamos êxito no trabalho

que iremos realizar agora, através da purificação de nossos pensamentos,

palavras e atos. Assim seja!” E todos respondem em uníssono: “Assim

seja!”

Sentamos. Depois de fazer um discurso de dez minutos sobre

projeto desta reportagem, com os olhos e o gravador sempre a

postos, mal sabia eu que aquele encontro seria o primeiro de vários

outros, onde eu documentaria alguns comportamentos e

pensamentos diferentes do comum e, por vezes, fascinantes para

qualquer leigo.

Para começar a captar declarações, não contive a vontade

mais do que óbvia de lhes perguntar o porquê da predominância da

cor rosa naquele lugar. Será que tinha algo a ver com o termo

rosacruz ?
22

Olharam­se uns aos outros e começaram a sorrir. A Mestre,

então, responde também sorridente:

“É apenas uma bela coincidência, ou, talvez, uma inspiração divina

recebida pelos fundadores desse prédio. Afinal, misticamente, a cor rosa

representa o amor. Então, pode­se dizer que, queiramos ou não, aqui dentro

estamos verdadeiramente unidos e cercados pelo amor universal. O fato é

que cada prédio da Ordem recebe a cor escolhida por seus membros. Mas,

falando sobre a palavra rosacruz, temos duas das mais importantes

insígnias na nossa Ordem: a rosa e a cruz. Rosa, no caso, não tem a ver

com a cor e sim com a flor”.

Apontando para a cruz cultuada pelos rosacruzes, que estava

fixada na parede, Cristina Lyris de Miranda, servidora pública

estadual, 41 anos, 25 na AMORC, completa a fala da Mestre:

“A cruz é dourada (flamejante) com a s extremidades em forma de

trevo, que tem em seu centro uma pequena rosa vermelho­rubi (cor do

espírito) entreaberta. Como tudo na vida nós rosacruzes consideramos dual,

ou seja, com duas faces – positiva e negativa, material e espiritual ­, temos

dois significados para este símbolo. O significado exotérico (material),

onde a cruz é o corpo físico do homem, com os braços abertos, voltados para

a luz; e a rosa, parcialmente desabrochada, representa a consciência do ser


23

humano em evolução, à medida que recebe a Luz Maior. Já no significado

esotérico (espiritual), a cruz simboliza as vicissitudes da vida humana no

mundo; e a rosa, a evolução do ser humano mediantes essas vicissitudes.

Quer dizer, olhando para este precioso símbolo, podemos nos lembrar

sempre do grande ideal de desenvolvimento da natureza humana,

perpetuado há séculos por nossa amada Ordem. A AMORC é uma espécie

de escola de misticismo, onde aprendemos a conduzir nossa própria

evolução”.

Perguntei­lhes, então, como eram dados esses ensinamentos.

Prontamente, respondeu Niltro Orlando Rios, aposentado da

Petrobrás, 61 anos, 27 de rosacruz:

“O programa de ensino da AMORC é basicamente por

correspondência. Os ensinamentos são fornecidos sob a forma de

monografias com 26 páginas, remetidas cada uma em lotes trimestrais pelo

correio, para a casa dos membros, que devem estudá­las e praticar os

exercícios místicos nelas contidos, em seu SANCTUM, oratório rosacruz

do lar. Passa­se por várias graduações. Os iniciantes passam por três níveis

preliminares intitulados Seções de Neófito. Depois de mais ou menos um

ano estudando e praticando os ensinamentos para Neófitos, estão


24

preparados psiquicamente para, então, iniciar sua jornada nos 12 Graus de

Templo. De uns tempos para cá, as monografias ficaram menores, mais

objetivas. Antigamente, você passava cerca de 20 anos para chegar ao

décimo segundo grau. Hoje em dia, é possível realizá­los em apenas 14. E,

para cada Grau e Seção, existe um Mestre de Classe que, atuando na sede

da AMORC em Curitiba, realiza o acompanhamento dos estudantes, que

podem debater ou tirar suas dúvidas, ou via correio normal, ou e­mail. Só

que, mais do que estudar em casa, é necessário que os estudantes

freqüentem as filiais da Ordem, para participarem das convocações

ritualísticas, fazerem suas Iniciações em cada grau e estarem presente nos

fóruns que nós fazemos para discutirmos o que não ficou claro nas

monografias. Além disso, é preciso combater o egoísmo, fazendo com que as

energias desenvolvidas e os conhecimentos adquiridos sejam

compartilhados entre os outros membros e colocados em prática nas

atividades de ajuda à humanidade, começando pela comunidade local”.

Que atividades são desenvolvidas para ajuda à humanidade

ou à comunidade local? Quem respondeu foi a funcionária pública

estadual aposentada, Lindaura Lima Costa, 54 anos, 14 na AMORC:


25

”Destinado a qualquer pessoa, rosacruz ou não, para tratamento de

saúde e resolução de problemas pessoais, temos o Auxílio Metafísico à

distância, realizado pela Comissão de Conforto de cada filial da Ordem, e/ou

pelo Conselho de Sólace localizado na sede. A pessoa entra em contato

conosco e nós a ajudamos psiquicamente, através de mentalizações que

procuram canalizar as vibrações criativas e curativas do Cósmico de tal

forma que atuem no pedinte de maneira mais eficaz do que o normal. É só

para indivíduos encarnados. Tem dado ótimos resultados, os quais,

naturalmente, não podemos revelar. Além da ajuda à distância, temos

inclusive a Comissão de Visitação, que realiza visitas a quem precisa de

ajuda, a fim de por em prática os princípios rosacruzes de cura. Os dois

trabalhos mencionados não ficam restritos às comissões, cada rosacruz pode

fazê­los individualmente em seu dia a dia. Colocamos à disposição do

público também alguns dos suprimentos exclusivos da AMORC , como as

revistas trimestrais ‘O Rosacruz’ e ‘AMORC Cultural’, CDs, muitos

livros e cassetes que só podem ser adquiridos nas filiais da Ordem. Outra

coisa, quem quiser fazer um retiro místico, temos vários espaços no Brasil:

na Bahia, dispomos de um sítio em Mutá; mas o lugar que mais se destaca

pela beleza e infra­estrututa é a Morada do Silêncio, situada a 40 KM de

Curitiba ­ no município de Quatro Barras­PR – com 48 apartamentos, um

Templo Rosacruz e demais dependências, ocupando 2000 m2, em 52


26

alqueires de Mata Atlântica. A AMORC apresenta, ainda, um programa de

leituras e práticas destinado a casais, membros ou não da Ordem, com

filhos, que abrange desde à gestação até a idade de cinco anos. Contém

orientação à gestante e ao pai, para a educação da criança até aquela idade,

seguindo princípios rosacruzes. É notório que as crianças submetidas a esse

programa, normalmente, ficam mais ativas que as demais, desenvolvendo­

se muito rápido. Agora, com relação, especificamente, à comunidade local

que é carente, fazemos sempre doações de cesta básica com alimentos não

perecíveis, itens de vestuário, calçados,... principalmente em períodos

comemorativos”.

Quando nós pensamos em bate­papo, é comum imaginarmos

um grupo de pessoas conversando, às vezes tendo um que fala ao

mesmo tempo que outro, desvio de atenção e, ainda, interrupções de

assuntos (como estou fazendo agora com os caros leitores). Mas,

enquanto ouvia a declaração acima, achei interessante o

comportamento daqueles rosacruzes: todos permaneciam atentos e

em silêncio, enquanto um deles estivesse falando. O silêncio, a

disciplina, o respeito ao próximo são características marcantes dos

membros dessa Ordem.


27

Continuando o bate­papo, resolvi perguntar, em seguida, que

outros benefícios a Ordem Rosacruz oferece, que não podem ser

estendidos ao público em geral. Tâmara Arapiraca, universitária, 22

anos, “rosacruz desde a barriga da mãe”, como ela mesmo diz, toma

a palavra:

“Temos a revista bimestral AMORC­GLP, que, além de notícias da

AMORC no Brasil e no mundo, traz um espaço onde há a possibilidade de

todos os rosacruzes do planeta fazerem quaisquer perguntas sobre a Ordem

e o misticismo em geral, que serão respondidas pelo Imperator, Christian

Bernard, pelo Grande Mestre da AMORC no Brasil, Charles Vega

Parucker, juntamente com outros Grandes Mestres, para serem publicadas

na íntegra. As perguntas são pertinentes a qualquer um (Quem é Deus?,

Como fazer para eliminar um mau hábito?, Qual a diferença entre místico e

metafísico?...), mas, as respostas, só os membros da Ordem têm acesso. Nos

é ofertado também uma série de cursos (Magnetismo, Shantala,

Musicoterapia, Alegria de viver, Florais de Bach,...); excursões para lugares

místicos (Egito, Machu Pichu, Caminho de Santiago, Tibete,...);

convenções rosacruzes regionais, nacionais e internacionais; cerimônias não

religiosas, feitas de forma mística (Matrimônio, Aposição de Nome – uma

espécie de batismo de crianças filhas de pais rosacruzes­, Ritual Fúnebre).


28

Para os membros que atingem a primeira monografia do Primeiro Grau de

Templo, é oferecida a possibilidade de também ingressar na Tradicional

Ordem Martinista – TOM, um sistema de Misticismo Cristão, lançado

oficialmente no Brasil, em outubro de 1986. No entanto, quem almeja

desfrutar dos ensinamentos da TOM, ser um martinista, implica­se

necessariamente ser um rosacruz. Aqui na Loja Salvador, há rituais tanto

rosacruzes, quanto martinistas. A Ordem tem ainda a AMORC infanto­

juvenil: é a Ordem Juvenil dos Portadores do Archote. Trata­se de um

programa especial para jovens dos seis até os 17 anos, que oferece pequenas

monografias, livros, uma revista trimestral (AMORC Juvenil), atividades

ritualísticas e recreativas e encontros regionais e nacionais. Aos 17 anos,

esses estudantes já podem optar por seguir a Ordem Rosacruz ‘dos adultos’,

visto que é a idade mínima para se entrar na Ordem. Só que, tudo isso não

se compara aos benefícios que colhemos através dos ensinamentos e práticas

das monografias. Tudo o que é ensinado já foi amplamente testado na

Universidade Rose Croix, situada na Califórnia, a qual somente rosacruzes

já graduados, em qualquer área, podem realizar lá estudos e pesquisas. Em

breve, o Brasil também vai ser sede de uma universidade rosacruz e uma

rádio. São projetos que estão em rápido andamento”.


29

Bom, nesse último relato, falou­se em termos como

Imperator, Grande Mestre e Loja Salvador. Foi preciso uma

explicação e quem a deu foi Afonso Costa, servidor público estadual

aposentado, 65 anos, 14 na AMORC:

“Existem inúmeros termos utilizados na Ordem, vamos falar

apenas os principais. Os rosacruzes de todo o mundo se tratam como

Frater e Soror, que quer dizer, respectivamente, irmão e irmã em hebráico.

É uma tradição que nos fortalece em união e fraternidade em qualquer lugar

da Terra. O Imperator é o mais alto oficial executivo rosacruz, que,

juntamente com os Membros do Conselho Supremo, dirige e estabelece os

princípios fundamentais da Ordem Rosacruz no mundo, diretamente da

sede mundial da AMORC, denominada Suprema Grande Loja, localizada

em Quebec (Canadá). A Ordem está dividida mundialmente em ‘jurisdições

idiomáticas’ chamadas de Grandes Lojas. Cada uma delas é dirigida por

um rosacruz que ocupa o cargo de Grande Mestre e por uma junta de

diretores. Os rosacruzes de língua portuguesa são afiliados à Grande Loja

da Jurisdição de Língua Portuguesa (GLP), situada no Brasil, em

Curitiba­PR. Inclusive, o atual Grande Mestre desta jurisdição, Charles

Vega Parucker, através de um programa de expansão da Ordem, planeja

para o ano 2000, duplicar o número de membros da jurisdição que dirige:


30

de 30 mil para 60 mil. Para isso, nada de grandes estratégias de marketing.

Todos os membros da GLP estão incumbidos, desde 1998, de indicar pelo

menos o nome e o endereço de duas pessoas – normalmente parentes,

amigos, vizinhos – que estejam efetivamente na busca de conhecimentos e

de práticas para uma vida em harmonia com Deus e com a natureza. E,

para o desenvolvimento de atividades da Ordem e a confraternização dos

membros nas diversas localidades de sua jurisdição, toda Grande Loja pode

autorizar a construção de organismos afiliados, como Lojas (mínimo de 50

membros ativos), Capítulos (mínimo de 40 membros) e Pronaoi – latim,

singular: Pronaos, que quer dizer vestíbulo de entrada no templo (mínimo

de 30 membros). Estamos conversando exatamente na Loja Salvador.

Estes corpos afiliados são coordenados, cada um, por um rosacruz sob o

cargo de Mestre. Na Bahia, temos nove filiais. Quem se inscreve em uma

delas, deve contribuir mensalmente com a quantia de sete reais e cinqüenta

centavos, para ajudar a cobrir as despesas operacionais da mesma. Todos os

membros chamados para ocupar cargos administrativos ou ritualísticos na

Ordem não obtêm retorno financeiro por isso. Eles se comprometem apenas

a prestar um serviço altruístico, sem a expectativa de receber alguma

recompensa, a não ser sua evolução interior”.


31

Uma Sociedade Secreta ter um programa de expansão de

membros pode parecer contraditório para alguns. Em contrapartida,

os membros da Ordem Rosacruz defendem a idéia de que expansão,

longe da idéia de massificação, é uma das melhores formas de

contribuir para a perpetuação dos ensinamentos da AMORC. Pois,

sem a entrada de novos membros, a Ordem estaria fadada a

extinção.

Com relação aos vocábulos usados na Rosacruz, nenhum dos

rosacruzes entrevistados conseguiu explicar o porquê da utilização

do termo “Loja” para identificar uma das filiais da AMORC. Apenas

deixaram bem claro que o uso de tal palavra, na Ordem, não tem

qualquer conotação comercial e nem relação com a Maçonaria.

Bom, logo que acabamos de ouvir a explanação do Frater

Afonso Costa, a Mestre olhou para o relógio e avisou que só

tínhamos mais 10 minutos de conversa, pois já tinham chegado

vários membros e era preciso tomar medidas administrativas e

organizar as preparações para os rituais do dia. Fiz, então, uma

última pergunta: Como entrar para a Ordem Rosacruz? A própria

Mestre respondeu:
32

“A inclusão na Ordem pode ser individual ou dual (com um

parente). Quem estiver voltado para o despertar de suas faculdades

interiores e desejar incluir­se na AMORC deverá escrever para o órgão

central, em Curitiba­PR ou procurar alguma filial da Ordem em sua região.

Feito isso, é fornecido aos interessados um livreto intitulado ‘O Domínio da

Vida’, que trará em anexo o formulário de proposta de afiliação. Este requer

os dados pessoais, a exposição dos motivos do desejo de inclusão e, por fim,

a assinatura do aspirante assumindo o tradicional compromisso de todos os

postulantes ou neófitos: ‘Conservarei confidencial toda a literatura rosacruz

privativa que me for enviada e me empenharei em seguir seu sistema de

orientação para uma vida de maior compreensão’. A proposta deve ser

remetida pelo correio junto com um cheque nominal à AMORC, referente à

taxa de inscrição (10 reais) e a primeira trimestralidade (35 reais). Isto não

significa admissão imediata. A aceitação da proposta depende dos motivos

expressos no formulário e das qualificações de caráter dos interessados.

Uma comissão examinará o pedido, de maneira formal e rigorosa, como

também observará metafisicamente o peticionário por três meses. Caso não

seja aceito o pedido, o solicitante receberá seu dinheiro de volta, junto com

uma carta fraterna, explicando que ainda não chegara o momento de afiliar­

se a AMORC. Vale ressaltar, ainda, que a contribuição financeira dos

membros, a cada três meses, é necessária, para que a Ordem mantenha sua
33

estrutura e pague aos funcionários (não­rosacruzes) contratados para

algumas partes da área administrativa”.

EXERCÍCIO MÍSTICO

Para finalizar, fizeram questão de realizar uma prática

mística, que eles chamam de experimento, utilizando como

principal instrumento, nada mais, nada menos do que a cor rosa.

Num instante, todos os presentes àquele recinto, ainda

sentados, ficaram de olhos fechados, posição ereta, mãos estendidas

no colo, palmas para baixo, em absoluto silêncio. Fiz o mesmo.

Depois fui saber que era a típica postura de meditação rosacruz.

Uma voz feminina, reconhecidamente da Mestre, ecoando devagar e

suave, orientou os passos seguintes dessa prática mental:

“Depois de três inspirações profundas, vamos relaxar lentamente

todas as partes do corpo, começando pelos pés, até alcançar o topo da cabeça

(pausa). Esta técnica resulta da combinação de três elementos:

VISUALIZAÇÃO, SENSAÇÃO e um ATO DE VONTADE. Primeiro,

criemos uma sensação de amor, de excitação, de afeição nas proximidades do


34

coração. Visualizemos isto como uma aura cor de rosa, brilhante, que

emana do coração e circunda o corpo (pausa). Depois, mentalizemos a

pessoa, o grupo de pessoas ou a entidade que desejamos beneficiar, auxiliar

(pausa). Agora, por uma ato de vontade, transmitamos uma parte de nossa

aura, em forma de nuvem rosada, ao objeto de nosso amor; sintamos amor

por essa pessoa ou coisa e vejamos a nuvem envolvê­la em uma aura rosada

de proteção. É importante não desejar ou prever nenhum resultado

particular. A manifestação deve ser deixada a cargo do Cósmico, que

sempre expressará na forma mais necessária e mais satisfatória (pausa).

Imediatamente após, eliminemos tudo isto de nossa mente como missão

cumprida (pausa). Que Assim Seja! Voltemos aos poucos à consciência

objetiva, movendo um membro de cada vez. Então, abramos os olhos.”

Um estado de leveza e bem­estar nos acometeu a todos. Por

uns minutos, tive a sensação de fazer parte daquela família.

Guardadas as devidas proporções, nesse pequeno espaço de tempo,

senti realmente que estava rosacruciando junto com os rosacruzes.

Uma oportunidade rara.

Soube, em seguida, que o experimento realizado é muito

conhecido e praticado por todos os membros da AMORC. De


35

autoria do Frater Joseph J. Weed, foi publicado, pela primeira vez,

na revista O Rosacruz de fevereiro de 1967, como parte do artigo

denominado A Natureza do Amor.

CAPÍTULO II

Falando de Amor

No sábado seguinte, dia 29/01/2000, realizamos, no mesmo

horário, duas e meia da tarde, o nosso segundo encontro. Desta vez,

senti que era preciso discutirmos agora sobre um tema específico.

Lembrando­me encantada com o experimento de amor feito no

primeiro encontro, nada melhor do que investigar os conceitos

rosacruzes para o amor, uma palavra que, embora pequena em

tamanho, sempre foi alvo de grandes especulações.


36

Existem diversas definições para o termo amor, e em todas as

filosofias lhe é dado significado tão amplo e abstrato que, após toda

uma análise, não conseguimos compreendê­lo completamente.

Segundo o Lama Padma Santem, físico quântico e monge

budista, o Budismo considera o amor como uma das Viharas ou

Condições Sublimes, sendo as demais a compaixão, a alegria e a

equanimidade.

Na doutrina Cristã, encontramos o amor interpretado como

uma das noções centrais sobre as quais se assenta a boa conduta,

sendo a outra a fé. “No Cristianismo, do amor dependeria o cumprimento

da Lei e o único valor moral do dever cristão, isto é, amar a Deus, em

primeiro lugar, e em segundo, a toda a humanidade.” (H. Spencer Lwis,

1916: 19).

No cartesianismo, de acordo com as doutrinas propagadas

por Descartes, Malebranche e Spinoza, encontramos uma definição

mais concreta do amor. A ânsia pelo bem em geral, diz a doutrina

cartesiana, pela satisfação absoluta, é um amor divino natural,

comum a todos. Desse amor divino nasce o amor que sentimos por

nós mesmos e aquele que sentimos pelos outros, os quais

representam as inclinações naturais que pertencem a todos os


37

espíritos criados. Pois essas inclinações são os elementos do Amor

que está em Deus e que ele, portanto, inspira em todas as suas

criaturas.

O rosacrucianismo, entretanto, tem um conceito bastante

idealista do amor: O AMOR É A CONSCIENTIZAÇÃO DA

IDEALIDADE.

“Analisando esta afirmação, em primeiro lugar, afirma­se que o

amor é uma CONSCIENTIZAÇÃO. O amor foi grosseira, mas

corretamente, denominado uma emoção. É uma emoção porque é sentido; é

uma emoção no sentido fisiológico porque estimula certos centros nervosos

e produz certas condições fisiológicas, tanto quanto condições psicológicas.

No processo que vai da realidade mental para a realidade fisiológica está

envolvida, essencialmente, a diferença entre atualidade e realidade. Assim,

em alguns casos, o Amor pode ser uma conscientização sem que resulte

num estímulo verdadeiro. Sabemos que amamos; em si mesmo, o amor

pressupõe a conscientização de algo; sem essa tomada de consciência ele não

é possível. O ato de amar requer a apreciação da conscientização – Mas

conscientização do que? Fisiologicamente, a única condição na verdade que

se faz consciente é, até certo ponto, proporcional ao grau de conscientização

do elemento responsável pelo amor. Portanto, o amor pode apresentar graus


38

de intensidade, profundidade e expressão. Quando a conscientização do

amor é extrema, plena, satisfatória, ela produz o máximo de estimulação dos

centros nervosos, do mesmo modo que a alegria, a tristeza, o medo, a raiva e

outros elementos emocionais. Mas, enquanto todas as outras emoções

provocam um efeito de animação, excitamento ou agitação, o amor produz

calma, paz, aquietamento dos nervos, uma harmonização que não é

produzida por nenhuma outra emoção. Então, o rosacrucianismo afirma

que o amor é uma conscientização da... IDEALIDADE ! Eis a chave secreta

– idealidade. Nesta palavra vemos aquilo que a doutrina cartesiana quer

dizer quando afirma que o amor é uma ânsia pelo bem, pela satisfação

absoluta.”

Esta foi a explicação fornecida pela Soror Ana Lúcia Rios,

Mestre­Auxiliar da Loja Salvador, pedagoga, 34 anos, 11 de

rosacruz.

Refletindo, então, sobre o que a Soror falou, cada um de nós,

então, possuiria certos ideais que poderiam estar em estado

adormecido em nossa consciência. Esses ideais, esses padrões,

modelos absolutamente perfeitos, poderiam ser de nossa própria

autoria, construídos através de estudos, análises, experiências e


39

inspirações divinas, ao longo de semanas, meses, anos ou

encarnações. Consciente ou inconscientemente, poderíamos

aumentar, diminuir, remodelar, aperfeiçoar esses ideais que

acreditaríamos infinitos, supremos.

É certo que os ideais podem se referir a um número infinito

de condições, experiências, sons, visões, sensações, etc. Na música,

nosso ideal, consciente ou não, poderia ser um certo grupo de

acorde de notas, um ou dois compassos, uma passagem ou uma ária

completa. Na pintura, nosso ideal poderia ser uma certa

combinação de cores, ou uma determinada cor em seus diversos

tons, ou de certas linhas e curvas em determinada justaposição. No

caráter, nosso ideal poderia ter certas características, hábitos e

qualidades bem desenvolvidas, enquanto outras seriam eliminadas

ou estariam ausentes.

Segundo o rosacrucianismo, é quando entramos em contato,

ou nos tornamos conscientes de um dos nossos ideais, que temos a

tomada de consciência de nosso ideal e esta conscientização faria

surgir ou estimularia a emoção a que chamamos amor, e esta

emoção seria dirigida ao ideal e, assim, diríamos que o amamos.


40

Então, o amor de um homem por uma mulher se deveria à

sua conscientização de certos ideais nela ou acerca dela, e ele a

amaria não por ela mesma, mas aquelas coisas, nela ou acerca dela,

as quais ele estaria amando. Seu desejo de possuí­la seria devido ao

seu desejo de possuir, de manter constantemente em seu poder a

realização, a materialização de seus ideais. O crescimento do amor

de um homem por uma mulher dependeria, igualmente, de

conscientizações novas ou continuadas dos ideais conscientizados,

ou da descoberta de novos ideais. Inversamente, a diminuição do

amor entre um homem e uma mulher seria proporcional à

eliminação ou modificação daqueles ideais, antes presentes.

Da mesma maneira, tornando­nos súbita ou gradualmente

conscientes dos nossos ideais em uma coisa ou de uma coisa,

amaríamos certos tipos de música, literatura, alimentos, conforto,

etc.

Portanto, existiria o amor vindo de Deus, nosso amor pela

humanidade e, o maior de todos, o amor de Deus por nós.

“A Bíblia nos diz: ‘ No princípio era o Verbo, e o verbo estava com

Deus e o Verbo era Deus.’ Contemplando a criação do mundo, podemos

julgar que, primeiro, Deus concebeu toda a criação como uma idealidade e,
41

concebendo uma criação ideal, Deus pronunciou o Verbo – o comando – em

sua consciência; e formou­se, como parte da criação, o mundo que

conhecemos. Então, na concepção de uma criação ideal, houve uma mistura

harmoniosa, associação uniforme e unidades matematicamente corretas de

muitos ideais. Cada um deles baseou­se em elementos a que Deus amou

quando tornados conscientes, e quando a criação se completou. Ele

materializou, em unidade, todos os ideais, do maior ao menor. Assim, o

universo foi concebido essencialmente do amor, pois em amor, Deus criou o

mundo e com amor, ou seja, com consciência do ideal, contemplou Deus

toda a criação, desde cada célula polarizada dos oceanos até o corpo

humano, criado à sua semelhança, isto é, formado segundo o ideal na

consciência de Deus, aquele ideal a que Deus mais amava” , foi o exemplo

dado pelo Frater Mário Ferrari, técnico de Segurança Industrial

aposentado, 69 anos, 26 na AMORC.

Desse modo, o homem e toda a criação teriam sido

concebidos em e do amor, e Deus expressara seu amor em todas as

coisas criadas.

O amor, naturalmente, precederia toda criação, uma vez que

a mesma seria a materialização de ideais. Isso aconteceria porque o


42

amor ao ideal levaria a uma busca e à realização desse ideal, ou à

criação de uma materialização do mesmo.

Nesse sentido, um artista seria inspirado a pintar e pôr numa

tela uma maravilhosa imagem. Esta teria sido concebida em amor,

pois constituiria uma expressão dos ideais que ele ama; e quando

pronta, tornar­se­ia a materialização desses ideais, e seria por isso

um resultado do amor.

A chamada inspiração poderia ser atribuída, em qualquer

caso, a um estímulo mental resultante da conscientização de um

ideal e, uma vez que todos os ideais teriam sua origem nos ideais

primordiais do amor de Deus, a inspiração seria, em si mesma, uma

expressão do amor de Deus.

Então, podemos dizer que, para os rosacruzes, o amor é o

grande incentivo, o grande prazer, a maior energia inspiradora do

mundo; e já que o amor deve ter ideais como seus elementos de

expressão, o amor é essencialmente bom. Filosofando, dentro da

Lógica Aristotélica: o Amor é o Bem, o Bem é Deus, Deus é Amor,

Amor é Deus; ou... Deus é Amor, Deus é a Fonte de todo o Bem,

logo o Amor é a fonte de toda a bondade, o maior poder em todo o

universo.
43

De acordo com a Soror Tânia Arapiraca, comerciante, 49

anos, 31 na Ordem, “reportando­nos à Bíblia, encontramos essas idéias

muito bem expressas no quarto capítulo de João, versículo 1: ‘Meus bem­

amados, amemos uns aos outros, pois o Amor é Deus; e todo aquele que

ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama, não conhece

a Deus, pois Deus é Amor. Se nos amarmos uns aos outros, Deus habita em

nós, e seu Amor é perfeito em nós. Amamos a Deus, porque Ele nos amou

primeiro. Se um homem diz que ama a Deus e odeia seu irmão, é um

mentiroso; pois quem não ama seu irmão a quem pode ver (conscientizar­

se), como pode amar a Deus a quem não pode ver? E esse mandamento

recebemos dele: Que todo aquele que ama a Deus ame também seu irmão.’

Esse mandamento é a lei sobre a qual o Ordem Rosae Crucis se

fundamenta”, conclui a Soror.

Logo no término desse segundo encontro, quando eu já

estava em despedidas, a Mestre Auxiliar da Loja, Ana Lúcia Rios,

juntamente com seu pai, Niltro Rios, que já exercera o mestrado em

1998, chamaram­me a uma conversa à parte. Entre manifestações de

elogios e gratidão pelo tema rosacrucianismo ter sido escolhido para

a reportagem, inesperadamente recebi um precioso convite: passar


44

uma tarde inteira na casa onde moram, no dia seguinte (domingo),

ganhando a oportunidade de estar mais próxima do que seria o dia

a dia de uma família rosacruz.


45

CAPÍTULO III

Lar Místico Lar

No dia seguinte, então, 30/01, cheguei ao apartamento da

família Rios, localizado no bairro de Brotas. Eram quase duas da

tarde. Logo que entrei, senti um aroma delicioso de incenso e

nenhum sinal de cristais, bruxas, fadas ou pirâmides pela casa. Eram

místicos discretos.

Receberam­me, com sorrisos serenos, o Frater Niltro Rios, a

esposa, Yara Rios, e as filhas do casal, as Sorores Ana Lúcia e Vilma

Rios. Quase todos rosacruzes – Yara Rios não é ­ , cada um com

uma história para contar a respeito do porquê entraram na AMORC

e o que mudou em suas vidas, a partir de então.

O Frater Nitro foi o primeiro a falar:

“Entrei na Ordem porque desejava um encontro comigo mesmo.

Havia várias perguntas e eu não encontrava respostas plausíveis para

nenhuma delas. Procurava saber quem sou eu, por que estou aqui neste
46

planeta, quem é Deus, em vários lugares ­ na Igreja Católica, na Batista, no

Espiritismo (que me esclareceu um pouco mais), na Maçonaria (que me

abriu as portas para as Ciências Ocultas) e, por fim, na Rosacruz, onde,

além de encontrar respostas convincentes, passei a ter uma vida mais

equilibrada, coerente com as leis divinas, juntamente com uma ampla visão

de fraternidade. Outra coisa, por ser da Ordem Rosacruz, freqüentemente

sou procurado por pessoas que pedem orientação para amenizar seus

dessabores. Então, vou tentar ajudá­las através da prática rosacruz de cura.

E, graças ao Cósmico, tenho tido muitas oportunidades de amenizar os

sofrimentos de outrem, tanto na parte física, quanto na espiritual”.

Toma a palavra, agora, a Soror Ana Lúcia:

“Bom, antes de me afiliar a AMORC, tinha uma necessidade

compulsiva de tudo sobre misticismo e civilização egípcia. Quando parava,

sentia um vazio muito grande, tamanha era a sede de responder a

indagações a respeito do mundo, da vida, de nossa existência, enfim, do

universo. Depois de alguns questionamentos e reflexões, algumas vezes

junto com meu pai, cheguei a conclusão de que a AMORC era um canal

para que essa busca se concretizasse. Isto é, a busca do conhecimento. E

como bem dizem os sábios ‘é da ignorância e só dela que devemos nos


47

libertar’. E, na Rosacruz, a mudança foi grande, não dá para expressar com

palavras o meu crescimento pessoal e espiritual. Acredito que o valor maior

é a consciência de sabermos que, a cada dia, descobrimos que nada sabemos,

mas que muito podemos fazer em prol da humanidade”.

Agora quem responde é a Soror Vilma:

“Eu, a caçula, freqüentava apenas o Espiritismo, como minha mãe

faz até hoje. Cheguei a fazer também Tai­chi­chuan e Dança do Ventre. Só

depois de quatro anos de casada e no segundo ano de faculdade de Artes

Plásticas, foi que eu comecei a me interessar pela AMORC. Tudo foi

acontecendo aos poucos. Eu ia lá na Loja Salvador, de vez em quando, ao

lado de minha irmã e meu pai, para sentir o ambiente, conversar com os

membros, ler alguns livros na biblioteca... Acabei realmente me encantando

e resolvi me afiliar. Meu marido não, ele acha que ainda não está preparado.

O melhor do começo foi poder trabalhar junto à Ordem Juvenil,

incentivando nos meninos o aprendizado dos preceitos rosacruzes através

da arte, que é a minha área. Me senti em casa. As mudanças a gente percebe

no dia a dia, quando por meio dos ensinamentos e dos vários exercícios de

meditação, você melhora mental e fisicamente – meu problema de tireóide

melhorou bastante ­, você percebe que está com a cabeça mais arejada para
48

enfrentar os problemas, os pensamentos estão mais concatenados, diminui o

estresse e você passa a sentir, de verdade, que os outros não são outros, são

seus irmãos”.

Yara Rios, a mãe da meninas, não quis falar muito, apenas se

diz satisfeita com a sua escolha pelo Espiritismo e também pela

harmonia que a Rosacruz traz para a vida de seu marido e de suas

filhas. Encurtou a conversa nos trazendo chá de maçã, suco de uva e

torradas.

Nesse momento do lanche, eram quase três horas da tarde,

percebi que, antes de tocar na comida, faziam um gestual diferente.

ALIMENTANDO­SE

Então disseram­me que, ao iniciar qualquer refeição, todo

rosacruz, lava bem as mãos e, depois, coloca as palmas para baixo,

por alguns segundos, sobre o prato com o alimento. Então,

mentalmente, roga que a bênção de Deus se comunique ao alimento

que irá comer, a fim de que seja ele magnetizado com as radiações

espirituais de suas mãos e, assim, supra eficazmente as necessidades

do organismo. Antes de comer o primeiro bocado, diz mentalmente:


49

“Que todos os que necessitam de alimento comigo partilhem aquilo de que

desfruto, e que Deus me faça ver como poderei partilhar com os outros

aquilo de que sejam carentes.”

Durante toda a refeição, o rosacruz procura estar consciente

do valor espiritual e material do alimento e da bebida.

“Devemos fazer com que ambos agradem à nossa alma como ao

nosso corpo, a fim de que seja estabelecida por seu intermédio uma

comunhão íntima entre o nosso eu exterior e o nosso eu interior. Devemos

pensar igualmente que, associando todos aqueles que têm fome à nossa

refeição, a eles levamos um sustento real num outro plano. Tudo está ligado

no Cósmico e nossa compaixão nutrirá sua alma de uma energia espiritual

que, em certa medida, há de lhes permitir suportar melhor sua falta de

alimento terrestre”, explica a Soror Ana Lúcia.

Este método é recomendado a todo rosacruz, mas ninguém é

obrigado a segui­lo e, uma vez que se escolha fazê­lo, o que é

decerto desejável, é preciso saber ajustá­lo às circunstâncias. O

objetivo não é fazer uma grande demonstração às pessoas à volta.

De modo que agem sempre discretamente. Como têm o dever de

proteger a Ordem, evitando que ela seja exposta a críticas ou


50

julgamentos negativos, podem, quando estão em público, fazer esse

breve trabalho místico exclusivamente de maneira mental, por

exemplo, visualizando suas mãos por sobre o prato sem que elas

realmente estejam lá. O poder do pensamento é considerado real e,

em todos os casos, maior do que um ato feito inconscientemente.

ACORDANDO

Começaram, a partir daí, a falar sobre outros hábitos e rituais

comuns a todo o rosacruz.

Ao levantar­se, pela manhã, o rosacruz começa o dia com

uma prece de agradecimento a Deus pelo retorno da consciência, em

virtude das oportunidades que isto oferece para prosseguir em sua

missão terrena. Depois, volta­se para o leste geográfico dando três

passos à frente. E, no seu âmago interno, diz ou sente: “Saúdo o

leste, símbolo da luz, do poder, da sabedoria e da retidão”. Em

seguida, inala o ar fresco em sete respirações profundas, exalando

lentamente e com a mente concentrada na vitalidade que, então, se

propagará para todas as partes do corpo, a fim de despertar seus


51

centros psíquicos. E, antes de tomar café, banha­se e bebe um copo

de água fresca.

ADORMECENDO

Ao deitar­se, após efetuar os experimentos psíquicos para a

noite – como ir ao Sanctum Celestial, dá graças a Deus pelo dia e

seus frutos; roga às Hostes Cósmicas que aceitem seus serviços

psíquicos enquanto esteja adormecido; que usem sua consciência

como desejem e, se for da vontade de Deus e dos Mestres, que o

façam viver mais um dia na Terra; e encerra: “Assim Seja!” Após

isso, com pensamentos de amor por todos os seres vivos, e um

sentimento de paz e harmonia para todo o universo, fecha os olhos e

adormece, visualizando o seu Eu interior na consciência de Deus.

ESTUDANDO

Toda quinta­feira, preferencialmente á noite, quando as

inspirações cósmicas são mais bem­vindas, depois de lavar as mãos

(purificação externa) e beber um copo de água (purificação interna),

vai até o Sanctum do lar. Acende um incenso, senta­se e medita por


52

alguns instantes. “Alfazema, almíscar, âmbar, flor de lótus, jasmim,

sândalo... – com vários aromas nobres, o incenso presenteia o ambiente

perfumando­o numa entrega silenciosa. Só no silêncio pode ser encontrada

a paz. Aquele que aprende a silenciar a mente encontra suas respostas nos

intervalos do pensamento. O incenso proporciona meios para elevar os

pensamentos”, explica a Soror Vilma.

Em seguida, devidamente concentrado, levanta­se, executa

com as mãos um sinal secreto, acende duas velas e torna a sentar­se,

desta vez para dar continuidade aos estudos rosacruzes, lendo

monografias e fazendo os exercícios nelas contidos.

BAHIA

Aproveitando que o Frater Niltro Rios é um dos membros

mais antigos da Loja Salvador, resolvi perguntar agora sobre o

surgimento do rosacrucianismo na Bahia, que ocorreu há 31 anos

atrás. Calmamente, ele acende um cigarro e começa a contar a

história, a qual, para minha surpresa, havia também aguçado a

curiosidade dos demais, que chegaram mais perto para ouvir, atenta

e pacientemente, uma longa história. Afinal, os membros da


53

AMORC adoram fazer grandes discursos. Eis a característica mais

marcante que apresentam.

“Olha, na Bahia, a AMORC teve sua primeira filial aqui mesmo em

Salvador, inaugurada no dia 19 de maio de 1969, no bairro da Ribeira,

mudando­se, poucos anos depois, permanentemente, para a Boca do Rio.

Hoje, a Ordem já conta com dez filiais espalhadas pelo estado. Antes de

1969, alguns rosacruzes, sob a direção do Frater Joel Amorim, que foi

encarregado pela AMORC para fundar uma filial na Bahia, puseram­se a

trabalhar no sentido de congregar um número suficiente de membros para a

concretização desse empreendimento. No início, aqui na Bahia, não foi nada

fácil para nós ­ eu estava junto – nos reunirmos e fazermos nossos rituais,

porque não havia lugar. Contamos, a princípio, com a ajuda dos irmãos

Maçons, que nos cederam gratuitamente uma das salas da sede da

Maçonaria, localizada na Carlos Gomes. Depois, resolvemos alugar uma

casa na Barroquinha. Havia dois pavimentos e nós ficávamos na parte de

baixo, porque os donos do imóvel moravam em cima. Não chegamos a ficar

nem um ano neste local, logo nos mudamos para a Ribeira, ficando em

outra casa alugada. Nesta fundamos a primeira filial da AMORC na Bahia,

com a denominação de Capítulo Rosacruz Salvador, contendo 40 membros.

O primeiro Mestre do Capítulo, escolhido por unanimidade, foi o próprio


54

Joel Amorim. Aí, foi em 26 de setembro de 1976, que o prefeito da época,

Clériston Andrade, através de um projeto que não me lembro o nome, doou

a nós rosacruzes um terreno na Boca do Rio. Nos mudamos para lá e

construímos o Templo. O Capítulo foi elevado à categoria de Loja, pois já

tínhamos 50 associados na Ordem. Mas, houve alguns entraves. Além de

poucos recursos financeiros, tivemos muitas dificuldades com a vizinhança.

O bairro, na época, era bastante carente e o terreno que recebemos era

espaço de lazer dos moradores, por isso, muitas vezes, quando acabávamos

de levantar um muro, no outro dia estava derrubado. Ainda lembro que o

terreno tinha sido doado com a condição de que os membros da Ordem

construíssem algo que beneficiasse a comunidade local. Então, como não

tínhamos dinheiro, a solução escolhida foi a de doar uma parte da terra para

uma escola pública do estado, que está lá até hoje, é a Escola Estadual

Georgina Ramos. A partir daí, a convivência com os moradores melhorou.

Não de todo. Permanecemos alguns anos à sombra de preconceitos,

principalmente vindo dos católicos, que por vezes diziam que os rituais

rosacruzes faziam parte de alguma seita demoníaca. Só realmente com o

tempo a harmonia se deu entre ambas as partes, através do progresso do

bairro e também por meio das campanhas de agasalho, de remédios, de cesta

básica, de cesta junina,..., feitas pelos membros de nossa Loja. Atividade que

se estende até os dias atuais”


55

CIGARRO

Enquanto falava, o Frater Niltro deve ter fumado uns três

cigarros. E, quando parou sua explicações, já estava se preparando

para fumar o quarto. Neste instante, uma de suas filhas, a Soror Ana

Lúcia, declarou­se completamente anti­tabagista e, mesmo sob o

olhar desconfiado do pai, começou a contar sobre o método rosacruz

para parar de fumar:

“Em primeiro lugar, o fumante tem de ter tomado a decisão de não

fumar mais, levando em conta todos os inconvenientes ligados ao uso do

cigarro. Ele deve, então, segundo a alquimia espiritual, transmutar seu

desejo de fumar em um desejo de maior bem­estar e de melhor saúde. Em

segundo lugar, deve prosseguir, nos primeiros dias, um regime de onde são

excluídos os excitantes e durante o qual ele deve beber grandes quantidades

de água entre as refeições. Quando sentir o desejo de fumar, ele pode efetuar

o seguinte exercício: inspirar três vezes, profundamente, depois prender a

respiração por alguns segundos, o tempo suficiente para dizer mentalmente

‘Absorvo a Força Vital. A vida se expande em todas as minhas células e

regenera o meu corpo. Assim seja!’. Em seguida, ele deve beber um copo de
56

água e voltar às suas ocupações. Se o fumante fizer esse exercício, sentirá

uma nova energia, um maior vigor e um melhor contato com a natureza.

Eu, quando parei de fumar, através desse exercício, comecei a sentir muito

melhor os cheiros e o gosto da comida. Tenho mais prazer ao fazer qualquer

coisa. É preciso lembrar, inclusive, da importância e da necessidade de

preservarmos e respeitarmos nosso templo físico, a fim de que ele responda

do modo mais perfeito possível às instruções do Mestre Interior. Para tanto,

papai e companhia tabagista limitada, respirar um ar de boa qualidade

constitui um triunfo precioso.”

Depois dessa lição de moral de filha para pai, o Frater

Niltro só fez balançar a cabeça e dizer: “Um dia eu chego lá”.

Todos riram.

CAPÍTULO IV

Cristo pela Rosacruz

Ñ
57

Gostaria de saber agora sobre a visão dos rosacruzes sobre a

figura de Jesus Cristo. Sabia, por alto, que a Ordem Rosacruz

defende idéias pertinentes sobre a vida de Jesus Cristo,

especialmente sobre o período entre o seu nascimento até os doze

anos, o que não consta na Bíblia. A Soror Vilma Rios, logo depois da

explanação de seu pai, começou a contar alguns pontos cruciais

defendidos pela AMORC sobre o assunto acima referido:

“Em primeiro lugar, Maria, José e Jesus não eram judeus na

acepção religiosa do termo, mas membros da Fraternidade (mística) dos

Essênios, que moravam no país de Israel. No ano 103 a.C., um decreto os

obrigou a se sujeitarem à lei mosaica – fazer circuncisão e educar os filhos

no respeito à Torah. Isso não os impediu de continuarem fiéis às suas

convicções e ritos, embora nunca se opusessem às autoridades judaicas,

devido ao seu extremo pacifismo. Talvez seja por isso que os judeus, até

hoje, ainda esperam a vinda de um messias entre eles, pois nunca

reconheceram Jesus Cristo como tal. Pode ser que, em nenhum momento, o

tenham tido como um autêntico judeu, assim como insistem em dizer os

rosacruzes. Outro ponto: Jesus e seus pais habitavam na Galiléia e não em

Nazaré, pois essa aldeia não existia naquela época. A atual cidade que existe
58

com esse nome data do terceiro século depois da era cristã e está situada

num local que era conhecido como “En­Nasira”. Portanto, seria posterior

ao nascimento de Jesus. É fato que a Bíblia se refere aos nazarenos, mas esse

termo teria sido usado pelo judeus para designar todos que não aderissem

totalmente ao judaísmo ou que professavam uma fé diferente da deles. Mais

tarde essa palavra teria sido usada para identificar os primeiros cristãos.

Mais um detalhe: quando viajaram para Belém, Os pais de Jesus não

ficaram sozinhos quando ele nasceu. Muitos membros da Fraternidade

Essênia estavam presentes naquela ocasião, de modo que todas as condições

foram reunidas para que aquele que se tornaria o Cristo viesse cercado de

todos os cuidados. Quarto item: segundo a Igreja Cristã, Jesus teria

nascido na noite de 24 para 25 de dezembro, à meia­noite. Não obstante, a

Ordem Rosacruz situa seu nascimento em 19 de abril, ao anoitecer. Os dias

compreendidos entre 21 e 28 de dezembro corresponderiam ao período em

que se dá a maior harmonia entre os ciclos humanos, naturais e universais.

Assim, pela escolha do dia 25/12 como a data de nascimento de Jesus, as

autoridades cristãs o deificaram desde sua vinda ao mundo e fizeram dele o

Filho de Deus. Outro detalhe: Jesus não foi o único Avatar cujo

nascimento acontecera por meio de uma virgem e fora marcado pelo

surgimento de uma nova estrela. O mesmo teria acontecido quando

Krishna, Buda, Confúcio, Sócrates e alguns outros grandes iniciados


59

nasceram. Tem mais: todos os místicos do Egito, de Israel e do Oriente

sabiam que um novo Avatar, iria se reencarnar para dar um impulso

espiritual sem precedentes à humanidade. Em vista disso, tudo havia sido

previsto para que Jesus pudesse ser criado, educado e instruído em função

de sua futura missão. Nesse sentido, dos seis aos treze anos de idade, Jesus

foi confiado aos mestres essênios do Monte Carmelo, onde aprendeu muitas

línguas, especialmente o hebreu e o grego, sendo sua língua natal o

aramaico. Ele também recebeu um ensino profundo sobre todos os assuntos

que tinham ligação com sua missão. Depois foi para a Índia para ser

iniciado não só aos ensinamentos budistas mais esotéricos, como também às

diversas corrente da filosofia oriental. Em seguida, ele partiu para a Pérsia,

a Assíria e a Grécia. Por causa de sua condição e personalidade

excepcionais, foi admitido aos santuários mais secretos e encontrou os

maiores eruditos daqueles países. Mas, foi no Egito, na pirâmide de

Quéops, que Jesus recebeu sua última iniciação, em que deixou de ser tão­

somente um Grande Mestre, para tornar­se verdadeiramente o Cristo, O

Avatar da Era de Peixes, o instrumento da vontade divina”.

A Soror Vilma levantou, sem dúvida, questões polêmicas.

Parou de repente de falar, como se o prolongamento daquele

assunto fosse inoportuno para ser declarado abertamente aos não


60

rosacruzes. E finalizou o tema Jesus dizendo ainda que ele não havia

se limitado a iniciar apenas seus doze discípulos à ciência dos

mistérios. O círculo de seus alunos compreendia 120 membros e

incluía mulheres. Quando encerrou seu ministério público, esse

círculo foi dividido em doze grupos de dez, cada um deles sob a

autoridade de um dos doze discípulos mais aplicados. “Isso poderia

explicar por que o Novo Testamento conseguiu se espalhar tão rapidamente

por todo o mundo”, conclui a Soror.

Bom, depois de jantarmos, olhei para o relógio e já passavam

da sete da noite. Hora de ir embora. Avisaram­me, antes, que a Loja

Rosacruz Salvador iria entrar em recesso devido ao período de

carnaval, mas que na terça­feira, dia 01/02, haveria atividade à

noite. Nesse dia, então resolvi passar por lá, para colher novas

declarações, desta vez sobre resultados das práticas de experimentos

místicos.
61

CAPÍTULO V

Experiência Mística

É dito por todos os membros que as práticas de cura e

harmonização rosacruzes são extremamente eficazes tanto para

resolver problemas individuais como de outras pessoas. Poucos são

os rosacruzes que comentam sem evasivas sobre o resultado de tais

práticas. A maioria se recusa até a contar, porque fica preocupada

em não ferir a máxima propagada pela AMORC, que condena tão­

somente o alarde indiscriminado dessas experiências.


62

Membros não tão temerosos citam alguns exemplos. O

Químico Jackson Santos, 54 anos, 23 na Ordem, conta que “há dois

anos, um Frater (não quis dizer o nome) havia sido roubado no Rio de

Janeiro, perdendo inclusive sua carteira com documentos, cartão de crédito

e talão de cheques, quando, de volta a Salvador, fez o experimento da

criação mental, a técnica é sigilosa, e, depois de cinco dias recuperou tudo.”

Os efeitos dos exercícios místicos da AMORC não atuam

apenas na resolução de problemas, mas também no

desenvolvimento de faculdades ainda latentes no ser humano, como

intuição e telepatia. A Soror Cristina Miranda, conhecida do nosso

primeiro encontro, comenta uma experiência ocorrida com ela no

dia 07/12/99:

“Nesse dia, quando eu estava conversando com um Frater, de

repente, pressenti por meio de sensações física – calafrios – que algo de

muito grave estava acontecendo. Ao chegar em casa, encontrei uma vizinha

aos prantos na frente do condomínio. Desci do carro para saber do ocorrido

e descobri que o filho da vizinha, meu ex­namorado, havia sido seqüestrado

em assalto. Levei os parentes da vítima para a delegacia e dei todo o apoio

possível, inclusive ao meu ex­namorado que, após ser encontrado,

permaneceu em estado de choque. As sensações, físicas ou não, devem ser


63

intuídas para sabermos o que se passa, mas isso só com muito

desenvolvimento, através dos exercícios diários da Ordem, principalmente o

referente à meditação”.

Mas, o que é realmente uma experiência mística para os

rosacruzes? Quem reponde é a Mestre da Loja, também nossa

conhecida, Soror Maria Carneiro:

“A experiência mística é apenas a consciência de uma área que está

além da extensão normal de nossos sentidos físicos. É uma área na qual os

sentidos físicos assumem um lugar secundário e o conhecimento atinge a

consciência através do Eu Interior, pois a força da vida dentro de nós se

manifesta e surge à nossa consciência. Em suma, é o resultado da

comunhão da mente humana com a mente universal. Freqüentemente,

pessoas que estudam o misticismo comentam que jamais tiveram a chance

de viver uma experiência mística. Para essas pessoas, torna­se uma

indagação o por que certos indivíduos vivem tais experiências e outros não

as atingem. Do meu ponto de vista, esta é uma conclusão errônea. Posso

afirmar que todo ser humano já teve ou terá uma experiência mística, em

algum momento da vida, e seria capaz de dizer que normalmente até passa

por várias destas experiências. É possível que um materialista ortodoxo, por

sua resistência ao conceito de misticismo, não venha a vivenciar tal


64

experiência, embora eu duvide disso. Ainda não analisamos algumas das

experiências místicas mais simples. Interpreta­se, errônea e

generalizadamente, que cada experiência mística deve ser um fenômeno

todo­poderoso, condição que destrói totalmente o indivíduo. Embora tais

experiências existam, devemos considerar que elas constituem uma exceção.

Assim também, quando um indivíduo não passou por uma experiência

avassaladora, sente­se incapaz de relatar o que lhe ocorreu. Uma

experiência mística não tem necessariamente que ser acompanhada de raios

luminosos e som de sinos. Pode até ser bastante simples, como uma

interpretação intuitiva, uma premonição, uma idéia que ajuda a outras

pessoas em suas vidas ou em seus trabalhos ou no que quer que estejam

planejando fazer, ou seja um ‘insight’. São experiências que estão contidas

na palavra mística, em seu sentido estrito, porque estabelecem, mesmo que

por minutos ou segundos, uma verdadeira unidade entre a inteligência

humana e a inteligência cósmica. Por exemplo, recentemente, ao sintonizar

um programa de rádio, de repente, ouvi uma linha melódica que me

chamava. Identificar a melodia foi fato sem a menor importância; o

significativo é que ela me chamou e me obrigou a parar para escutá­la. Ela

disparou o que eu interpretaria de uma experiência mística, pois enquanto a

escutava, senti, subitamente, uma sensação de completo relaxamento, de

paz, de contentamento geral e estas sensações se aprofundavam, à medida


65

em que a música prosseguia. Embora sem perder a consciência, me pareceu

que minha atenção e meus sentidos estavam totalmente voltados para a

música que me dominava a consciência naquele instante.

Consequentemente, senti­me plenamente desenvolvida, inspirada e com

uma sensação de bem­estar geral por ter vivido uma experiência na qual

gozei de um estado de UNIDADE.”


66

CAPÍTULO VI

As dificuldades

Estudar e praticar absolutamente todos ensinamentos da

AMORC não é lá muito fácil. Há determinados rosacruzes que não

conseguem seguir seus estudos e rituais regularmente. Foi então

que, depois do período de recesso em que a Loja entrou, devido aos

festejos do carnaval, dia 12/02/2000, fui à Loja Salvador conversar

com alguns membros a esse respeito dessas dificuldades.

A auxiliar de enfermagem Sueli Costa da Silva, 29 anos, Soror

desde maio de 1996, diz que os ensinamentos da AMORC são a

forma mais sábia de autoconhecimento, mas, apesar disso, declarou:

“Quando entrei na Ordem, acho que não estava preparada. Ainda

hoje tenho dúvidas. É sempre muito estudo e muitos rituais, o que exige

tempo disponível, porque algumas coisas são de difícil compreensão e os

rituais têm que ter uma seqüência diária. Sem falar nas faculdades que

estão sendo despertadas em mim, por conta dos experimentos. Tenho um

pouco de medo com relação a isso. Por um período, cheguei até deixar de
67

lado as monografias da Ordem. Mas, depois de certo tempo, em cima de

meditação e reflexão, descobri que ainda queria continuar ‘a busca’. Era

necessário romper as barreiras. Na minha concepção, a consciência humana

precisa ser lapidada, pois está impregnada de bloqueios. Precisamos nos

conscientizar cada vez mais da amplitude do universo e que, além da

matéria, tem algo muito especial precisando se manifestar. Tenho

continuado com os estudos, rituais e experimentos da maneira que eu posso.

Sei que a Ordem não nos obriga a nada, mas para alcançar o estado de

rosacruz, a disciplina e a persistência são fundamentais. E, com certeza, eu

ainda não sou uma rosacruz” , conclui a Soror.

A falta de estímulo para os estudos da AMORC também

acercou a assistente social Arlene Pereira, 40 anos, e o representante

comercial Humberto Gomes, 45 anos. O casal tornou­se rosacruz em

1991. No início, somente ela se encantou com os rituais e

experimentos da Ordem, sentindo apenas dificuldade na leitura

semanal das monografias, por estar muito atarefada

profissionalmente:
68

“Ah, eu comecei a me cansar logo na parte que fala dos filósofos e

seus pensamentos. Eu nunca vi tanto filósofo e tanta quantidade de

pensamentos! E o pior é que ainda tinham os discípulos que viravam

filósofos e que, algumas vezes, até contradiziam os seus mestres. Aí, as

coisas começaram a embaralhar na minha cabeça. Eu não podia nem contar

com o marido, já que ele não demonstrava interesse efetivo por nada da

rosacruz. Ele sempre foi meio devagar (risos). Com o tempo, o desestímulo

foi­se aliando aos problemas financeiros, e acabamos por suspender

temporariamente as lições e as mensalidades da Ordem, nos tornando,

assim, membros inativos. Somente em 1999, em comum acordo, partindo de

Humberto a iniciativa – olha que bacana! ­ conseguimos solicitar a

reintegração à afiliação ativa. Acreditamos que chegou o momento”,

declarou confiante a Soror.

Já o Frater Paulo de Souza Soares, Engenheiro Químico, 43

anos, apenas três na AMORC, conta que sua vida é um corre­corre,

por isso não freqüenta muito as convocações ritualísticas da Loja

Rosacruz Salvador e, às vezes, nem lê todas as monografias.


69

“Eu sou professor de Química no CEFET­BA, estudante de Física

na UFBA e Mestrando de Química também pela Universidade Federal da

Bahia. Entrei na Rosacruz por indicação de uma amiga muito querida, mas

confesso que não estou dando conta de tudo. Mas, não se trata somente de

falta de tempo para os estudos da AMORC. Eu sempre fui extremamente

materialista, racional ao extremo e sinto grande dificuldade em assimilar

conhecimentos de cunho místico. Não consigo estar totalmente aberto ao

espiritualismo e nem entender direito os seus paradigmas. Me dizem que

isto acontece com todos os que valorizam demais o intelecto, esquecendo­se

de que existem outras faculdades que precisam também ser desenvolvidas e,

então, a partir daí é que se poderia não apenas entender, mas sentir,

experienciar com mais intensidade a verdade das coisas. Bom, isso tudo é

muito bonito e até interessante. Mas, está difícil eu chegar até lá. É bem

mais fácil trilharem esse caminho os membros que já tiveram uma vivência

espiritualista anterior a da rosacruz. É o caso da grande maioria dos

rosacruzes”. Termina sua fala o Frater Paulo Soares, que não sabe

ainda se continuará na AMORC.

A Ordem está a par de todas essas situações. Sabe que o

estudo e a prática de seus ensinamentos acontecem com certas

variantes. Nesse sentido, além de deixar disponível um Mestre de

Classe para responder a todas as dúvidas, manda sempre para os


70

membros uma série de recados de incentivo nas monografias, revistas

e livros rosacruzes: “A persistência nos estudos é fundamental para

o seu desenvolvimento continuado”; “Tudo o que decidires fazer,

realiza­o imediatamente. Não deixes para a tarde o que puderes

realizar pela manhã.”

Por outro lado, as dificuldades em rosacruciar não estão

apenas na parte dos estudos, mas parecem surgir também no

momento de seguir o modo de vida rosacruz. Há uma grande

variedade de normas de conduta rosacruz, que foram extraídas de

antigos e modernos manuscritos, nos quais estão estabelecidos

certos regulamentos para orientação dos que devotam à

concretização do ideal e princípios da Ordem. Chama­se o Código

de Vida Rosacruz.

“Realmente, talvez só em alguns dos velhos mosteiros da Índia ou

do Tibete poderia alguém viver estritamente conforme todos esses antigos

regulamentos. Os rosacruzes do Oriente estão bem mais aptos nesse sentido

do que a gente. A realidade ocidental está mais voltada ao materialismo.

Mas, para resolver esse problema, a AMORC já tomou as providências

necessárias. Resolveram facilitar as coisas para nós ocidentais. Alguns dos


71

antigos regulamentos foram escolhidos só para servir aos membros do

Ocidente, por não interferirem nas obrigações essenciais da vida

contemporânea. O Código de Vida Rosacruz para os ocidentais contém 28

capítulos, que, à primeira vista, é notória a semelhança com os Dez

Mandamentos misturados ao livro do Provérbios da Bíblia e aos

ensinamentos de Jesus, principalmente o Sermão da Montanha. Então,

acredito que boa parte dos estudantes deste lado do mundo vêm seguindo o

Código de Vida Rosacruz com fidelidade.” É o que nos conta a Soror

Lucila Lion, Psicóloga, 52 anos, 23 de rosacruz.

CAPÍTULO VII

Em busca do despertar

No dia 19/02/2000, realizamos o nosso terceiro encontro, na

Antecâmara do Templo. Depois de ficar sabendo, pelas declarações

anteriores, que não é tão fácil rosacruciar, estava na hora de


72

perguntar aos membros da AMORC para que se sujeitavam a tantas

coisas e o que exatamente queriam dentro da senda rosacruz.

Muitos já perguntaram qual é a vantagem pessoal ou para a

humanidade em geral, que se obtém da dedicação ao estudo do

misticismo e da tentativa de compreender os mistérios da vida.

Certamente, tais pessoas devem ter em mente resultados concretos

como os que resultam do estudo das leis, da arte, da música, da

engenharia, ou de outros assuntos práticos.

Ao olhar para o assunto de maneira superficial, é provável

que imaginem se o tempo e o esforço investidos no estudo árduo do

misticismo e seus assuntos correlatos, trarão resultados para o

indivíduo e/ou para o avanço da civilização.

“Essa comparação não é justa. Em um dos casos, o estudante está

buscando o seu desenvolvimento espiritual e cultural e o de outras pessoas;

no outro, está buscando aplicar suas habilidades de maneira prática para

ampliar o desenvolvimento de sua existência terrena. Quer dizer, no

primeiro caso, o estudante descobre relaxamento, inspiração pessoal e

prazer nos estudos; enquanto no outro caso, freqüentemente sacrifica

prazeres e interesses pessoais ao preparar um caminho para uma posição

bem mais sucedida na vida. O fato é que muitos estudantes do primeiro


73

caso também são estudantes do segundo, provando, assim que uma

comparação é impossível, se a gente considerar que os estudantes de

misticismo são diferentes e fazem parte de uma classe distinta: a daqueles

que buscam o conhecimento. Quanto mais propensão a pessoa tiver para o

estudo de qualquer assunto, tanto mais propensão ela vai ter para sondar os

mistérios da vida e compreender a si mesmo e a sua relação com o

universo”, analisa a professora da Faculdade de Educação da UFBA,

Soror Cemíbelis Lisboa, 40 anos, 16 de rosacruz.

Segundo os membros da AMORC, quem, por exemplo, estuda

química ou física seria facilmente intrigado pelos mistérios do ser ou

pelos seus talentos e suas habilidades escondidas. Ou ainda, aquele

que tem como passatempo o estudo da astronomia, estaria pronto

para o estudo da cosmogonia e talvez da ontologia e da biologia.

Estes estudos levariam naturalmente à psicologia; e a combinação

traria o estudante tão próximo dos ensinamentos rosacruzes que

responderia imediatamente ao contato.

Seria mais difícil, então, gerar interesse pela busca de novos

conhecimentos naquele que não é estudante e nem é inclinado para

o estudo. A mente inativa, que não exercita, não encontraria


74

inspiração nem qualquer prazer pessoal no estudo do misticismo e

na análise dos poderes físicos e espirituais.

“Infelizmente para o mundo, existem inúmeras pessoas que adotam

uma atitude de que a vida é um mistério que não pode ser desvendado. Que

existem fatos a respeito do homem e de suas capacidades, que Deus não

desejava que compreendesse. Muitas dessas pessoas estão satisfeitas em sua

posição na vida; no entanto, essa não é a verdadeira razão para a sua

indiferença. Essas pessoas estão ansiosas por adquirir qualquer coisa na

vida que possa ser obtido sem esforço; mas não têm entusiasmo para aquilo

que não oferece benefícios materiais imediatos para sua existência

mundana”, desabafa a auditora fiscal aposentada, Soror Maria de

Lourdes Costa, 67 anos, 13 na Ordem.

DESPERTAR PLENO

Entretanto, a pessoa voltada para o estudo do misticismo não

seria necessariamente um fanático ou um avatar. De modo geral,

haveria de ser um indivíduo, com defeitos e virtudes, inclinado ao

despertar de suas faculdades mentais, consciente de que só


75

conseguirá aproveitar o máximo de sua vida se conhecer o máximo

sobre ela. Não precisaria de grande esforço para ser convencido de

que é o capitão do seu navio e o criador do seu próprio destino.

O indivíduo ainda poderia ter uma certa insegurança a

respeito desses fatos, mas estaria certo de que um conhecimento

mais abrangente e uma compreensão mais íntima de suas

habilidades pessoais podem afetar o curso de sua existência. Mesmo

que estude exclusivamente para obter um relaxamento, um

estudante assim acreditaria que existe uma recompensa mais valiosa

do que qualquer tipo de lazer.

O nosso já conhecido Frater Niltro Orlando Rios ­ que cedeu

gentilmente a atenção de sua família, em sua casa, para nos contar

um pouco sobre o dia a dia dos rosacruzes ­, lembra quando

Woodrow Wilson, 28o presidente dos EUA, admitiu rindo, numa

certa ocasião, que sistematicamente lia contos policiais e desafiou

homens de negócios e políticos conhecidos que negassem que

ocasionalmente se permitiam esse tipo de lazer. O presidente teria

acrescentado ainda que, através de um prazer tão simples, percebia

suas faculdades mentais desafiadas e vivificadas.


76

“Obter esse mesmo grau de fascinação pelo estudo do misticismo é

possível. Aproximar­se de qualquer manifestação da Lei Cósmica sem sentir

o desafio do mistério, de uma pergunta não respondida, de uma pedacinho

de sabedoria inspiradora, é impossível”, defende o Frater Niltro

Orlando, que nos convida, em seguida, para um instante de

reflexão: “imaginemo­nos, cada um, estando num ‘deck’ superior de um

navio transatlântico, numa noite escura e límpida, olhando para o céu.

Inconscientes do limite entre o céu e o oceano, divaguemos no espaço

estrelado, azul escuro, tentando vislumbrar qual o mistério por trás dos

agrupamentos de estrelas e qual o seu propósito no esquema das coisas.

Ninguém com uma mente pensante consegue olhar para o espaço e deixar

de ficar perplexo, envolto em especulações. Então, vem o desejo de saber e de

buscar respostas. Essa é a atitude com que milhares se aproximam do

misticismo e do estudo dos ensinamentos rosacruzes. Qual é o resultado

para o indivíduo? Será a obtenção de uma habilidade especial, de um grau

de espiritualidade que o fará ser mais devotado? Absolutamente não! Será

que esse indivíduo se torna um mestre no campo da religião, um homem

santo e sábio liderando e guiando multidões? Não necessariamente! No

entanto, algo resulta de seu interesse e de sua devoção que apoia o seu

serviço altruístico e a sua disposição de se sacrificar pela sabedoria e por

uma melhor compreensão.”


77

Então, o homem preocupado com um problema insuperável

encontraria alívio, paz e capacidade para prosseguir no momento

que compreendesse o seu problema. Não seria o problema que

causaria o tormento, mas a falta de entendimento dos elementos que

o compõem. Seria, nesse sentido, que os chamados mistérios da vida

estariam escravizando homens e mulheres.

Por compreender as leis do universo, o místico, portanto,

entenderia a verdadeira natureza dos problemas que enfrenta e

percebe sua vida, tornando­se um felizardo perante os outros.

Não seria simplesmente porque aprendera formas de lidar

com os problemas, mas porque tornara­se tão intimamente

familiarizado com a natureza dos mesmos, que suas características

desconhecidas não lhe preocupariam mais. Amaria o conhecimento

e acreditaria que estaria perdido sem ele. As verdades ocultas

seriam atrações magnéticas que ativariam sua mente e disparariam

o seu espírito.

Desse modo, o místico encontraria felicidade através do

conhecimento e do auxílio que poderia prestar a outras pessoas.

Obteria força no fato de que poderia atrair para si aquilo que


78

contribuísse para o seu bem­estar físico, mental e espiritual.

Aprenderia a valorizar tudo o que o rodeia com critérios mais

elevados. No fato de estar consciente e no privilégio de estar vivo,

certamente, acharia uma bênção mais valiosa do que qualquer coisa

que jamais tenha encontrado – em cada bocado de alimento, na luz

do sol e na chuva, uma recompensa que ninguém a não ser ele

poderia perceber. Não os bens materiais, mas a administração das

dádivas de Deus lhe pertenceria e aprenderia a usá­las para o seu

proveito bem como para o do seu próximo.

Para os rosacruzes, tudo isso é o que poderia fazer o místico

feliz e disposto a continuar a investir seu tempo e pensamento nos

estudos que têm a finalidade de aproximar o céu da terra e Deus do

homem.
79

CAPÍTULO VIII

O Artesão

No dia 26/02/2000, houve o quarto encontro com os

rosacruzes na Antecâmara do Templo, desta vez, com os estudantes

mais antigos na Ordem, os chamados Artesãos. São os membros de

mais difícil aproximação, mas contando sempre com a ajuda da

Mestre, foi possível falar com alguns deles.

Segundo o dicionário, artesão é o artista que exerce uma

atividade produtiva de caráter individual. Nesse sentido, é possível

vislumbrar o significado desse título dado aos rosacruzes que

atingem as primeiras monografias do Décimo Segundo Grau, pois

não existe nenhum material da AMORC acessível ao público, que

faça referência ao porquê deste título.


80

Conversando com os Artesãos, todos são unânimes: Artesão é

aquele que trabalha. E, com relação ao que se vai trabalhar, cada um

apresenta uma resposta pessoal, porém sempre seguindo uma linha

filantrópica, desde auxiliar os outros rosacruzes até fazer caridade e

orar por toda a humanidade. Enfim, ajudar ao próximo é o principal

objetivo do Artesão, seja dentro ou fora da Rosacruz. É fácil de

perceber que, nesse estágio, os membros adquirem algo mais que

ensinamentos: “A Luz cada vez mais está se projetando no mundo. A

AMORC é apenas um caminho. Os rosacruzes podem não atingir a

perfeição, mas estão sendo encaminhados”, declara a dona de casa

Nildes de Almeida Ferrari, Artesã, 26 anos de rosacruz.

Nas filiais da Ordem existem reuniões e rituais específicos

para a classe dos Artesãos, que, segundo o aposentado Mário

Ferrari, Artesão, 22 anos de rosacruz, “é o estandarte da Ordem, da

turma que vem atrás. Formado por pessoas que persistiram nos estudos

rosacruzaes, este grupo sustenta a Ordem em conhecimento”. E

complementa dizendo que essa missão é concedida porque, quando

se passa do Décimo Segundo Grau, “entra­se num outro plano que não

é o físico”.
81

O químico Jackson dos Santos, Artesão, 23 anos de rosacruz,

fala que os membros rosacruzes começam a ser dirigidos para o

plano extrafísico desde o Nono Grau, onde seriam dados os

primeiros passos para se tornar um Artesão, ou melhor, um

verdadeiro rosacruz, que para ele é:

“Um estado de espírito; o despertar do indivíduo para fazer boas

obras, perder suas negatividades, trabalhar suas qualidades, chegar ao nível

do Cristo. É como escreveu o nosso atual Imperator, Christian Bernard, em

seu livro Assim Seja: ‘Ser Rosacruz é estar na senda. Ser Rosacruz é ter

chegado a meta da mesma. Nosso Eu Interior conhece e compreende essa

finalidade. Conhecer e compreender é já ter chegado. SEJA ROSACRUZ,

então, quer dizer o seguinte – comportemo­nos como já tivéssemos chegado.

Isto é uma grande responsabilidade e um desafio, pois se como rosacruzes

podemos tropeçar e até cair, cometer erros fundamentais, e assim continuar,

como detentores do estado de Rosacruz, não temos essa possibilidade. Ser

alguém no estado de Rosacruz é ser um exemplo. Também é ser uma luz tão

grande que faça esquecer sombra. Aquele que tem o estado de Rosacruz é

antes um rosacruz, mas suas qualidades têm raro grau de intensidade. O

detentor do estado de Rosacruz deve ser obediente, confiante, paciente,

humilde, simples tolerante, forte e amoroso. A estas qualidades outras


82

podem ser acrescentadas, pois seu número é infinito em vista do que deve

ser a perfeição humana.’ E tudo isso só depende da pessoa, pois a Ordem só

orienta”, completa o Frater.

Para esse polimento individual, os Artesão aconselham aos

demais rosacruzes: a disciplina; a meditação; a persistência e a

fidelidade aos estudos e aos rituais; a divulgação da AMORC; o

serviço aos corpos afiliados e às sua comunidades vizinhas. A partir

daí, então, dar­se­ia a manifestação do perdão, do amor ao próximo,

do reto viver. À medida em que cada um trabalhasse pelo ditames

da Ordem, trabalharia também a sua própria evolução interna.

Como membros mais antigos da AMORC, os Artesãos

estariam aí, portanto, para caracterizarem fielmente esse tipo de

trabalho, ainda que confessem não estarem isentos de dificuldades.

“A responsabilidade é muito grande. Chegamos a um patamar em

que não podemos recuar, porque sabemos demais, ou melhor, aprendemos

muito do que o ser humano precisa descobrir sobre si mesmo e o universo.

Em meio a isso, fizemos vários juramentos de usar os nossos conhecimentos

apenas para o bem da humanidade. Caso contrário, as conseqüências serão

desastrosas para o planeta e seus habitantes. Sem falar que aquele que o
83

fizer será chamado a juízo, de alguma forma, prestar contas ao poder

superior. Procuramos, então, sempre o reto viver. Ainda não somos

perfeitos. Podemos errar e sofrer. Mas, qualquer pedra no caminho é bem

menor do que a luz no final do túnel, cujos raios sempre nos fortalecem,

sem nos deixar esmorecer.” É o que nos explica o nosso já conhecido

Frater Artesão Niltro Rios.


84

CAPÍTULO IX

Culto ao sigilo

“Diante do Sinal da Cruz, prometo, por minha honra, não revelar a

qualquer pessoa, exceto um Frater ou uma Soror desta Ordem, que conheça

como tal, os sinais, os segredos, ou as palavras que aprenda antes, durante

ou após a Iniciação ao Primeiro Grau”, este juramento, feito pelo

iniciando ao primeiro grau rosacruz, é válido para todos os graus

subseqüentes. Não obstante, cada grau tem seu próprio juramento,

no que tange sinais, palavras e símbolos.

As normas de sigilo da AMORC não dizem respeito à sua

identidade ou sua localização. Elas estão associadas, sim, a tudo o

que transpira em torno das cerimônias de Iniciação: as

características, os toques, as palavras­de­passe, as saudações, os

sinais de reconhecimento e os ensinamentos aprendidos nas

monografias.

“Todas as Ordens Iniciáticas contêm o sigilo, que também serve

para preservar o neófito. Ele pode sofrer um grande impacto. Está na

escuridão, na ignorância das leis cósmicas. E, para estar preparado, precisa


85

começar paulatinamente, em graus de conhecimento, até atingir a maestria.

Não se pode abordar os ensinamentos da Ordem sem preparação (iniciação),

fazendo­se abstração da técnica iniciática ou negando sua dimensão extra­

intelectual. O fato mesmo de haver uma progressão gradual implica em

apoiar­se em bases sólidas. Se é imprescindível que alguém seja admitido ao

último ano de medicina sem ter estudado as matérias precedentes, do

mesmo modo, o acesso a um maior conhecimento rosacruz implica uma

prévia aprendizagem. Acima de tudo, nosso dever é assimilar o

conhecimento ‘confidencial’ da Ordem, torná­lo nosso e depois revertê­lo

em ação, a serviço e para o bem de todos”, pondera o Frater Afonso

Costa, conhecido nosso no primeiro encontro.

O principal objetivo do segredo na AMORC é evitar que

aqueles que não pertencem à Ordem Rosacruz (que não foram

submetidos a provas, iniciados e instruídos) participem das

Convocações, e desfrutem os privilégios a que os membros fazem

jus em virtude de compromissos e serviço. Sem falar que, foi através

desse culto ao sigilo que os rosacruzes puderam perpetuar os

ensinamentos da Ordem até os dias atuais, levando em conta,


86

especialmente, as manobras para escapar das artimanhas do período

da Inquisição.

Entretanto, os membros da Ordem não têm a obrigação de

manter em segredo todos os princípios que lhe são ensinados. Há

casos em que podem achar conveniente, se não absolutamente

necessário, explicar à um estranho o funcionamento das leis

naturais, caso tal compreensão possa contribuir decisivamente para

aliviar um mal­estar ou fazer com que um coração perturbado ou

um organismo doentio ganhe saúde, felicidade e paz de espírito.

Mas, o Frater Antônio de Aragão, professor estadual

aposentado, 63 anos, 22 na Ordem, avisa:

“Certamente, nenhum membro deverá ver nessa prerrogativa

motivo para aplicar os ensinamentos da AMORC, ou mesmo parte deles,

como base de um outro sistema, ou escola, e vender essa instrução, publicá­

la ou ensiná­la. A Ordem exige discrição. Do contrário, o estudante viola

compromissos sagrados, tornando­se passível de nunca mais entrar em

contato com as doutrinas místicas e esotéricas provenientes da sabedoria de

muitas mentes iluminadas ao longo dos séculos. É nesse sentido que os

verdadeiros ensinamentos nunca foram publicados em livros, ou qualquer

meio de comunicação de fácil acesso”.


87

CAPÍTULO X

No Quarto Milênio?
Ñ

21 de março de 2000. O sol entrou no signo de Áries. A

AMORC esteve em festa. Foi celebrada com grande honra a entrada

do ano 3353 ­ Ano Novo Rosacruz. Enquanto aguardamos ansiosos


88

a chegada do Terceiro Milênio, eles já comemoram o Quarto, há

mais de trezentos anos? Veremos isso mais tarde. Vamos saber um

pouco sobre este calendário.

No calendário rosacruz, os anos são contados a partir de 1353

a.C., marco inicial da concepção de Deus Único na história da

humanidade. Surgiu o monoteísmo, pelas mãos do Faraó Amenófis

IV ou Akhenaton, Grande Mestre tradicional da Antiga

Fraternidade que deu origem ao rosacrucianismo.

Por esse motivo, todos os anos, no mês de fevereiro, os

rosacruzes esperam o pronunciamento do Imperator, que é

incumbido de proclamar a todas as filiais, por meio de carta, a data

exata de se celebrar a festa. Feito isso, a comemoração deve ser

realizada nos Templos de todas as Lojas e assistida pelo Grande

Conselheiro Regional, pelos Oficiais e membros das respectivas

Lojas, e por pessoas não rosacruzes especialmente convidadas ou

membros visitantes de outras Lojas.

Fiquei sabendo por uns e outros membros presentes na festa

que, dentro do Templo, onde somente os rosacruzes podem entrar,

há, então, uma ceia simbólica, que deve consistir principalmente de


89

milho, ou seus derivados; sal, ou algum alimento que seja salgado; e

vinho, simbolizado por suco de uva.

Todos os Oficiais deverão usar suas vestes ritualísticas –

longas e folgadas túnicas de manga comprida, feitas com tecido de

algodão, com cores e pequenos emblemas diferenciados para cada

Oficial. Os demais membros colocam somente o Avental

Ritualístico. Deve haver somente música erudita, discursos alusivos

ao significado da festa e sincero regozijo pelo Ano Novo.

Vamos, agora, à festa do lado de fora do Templo. Ano Novo.

Novos Oficiais. Neste dia comemorativo, é comum o Mestre fazer

novas designações, preencher vagas e transferir o seu cargo para o

novo Mestre. Nesse sentido, a Mestre, até então, Maria Carneiro, fez

sua despedida com um discurso emocionado. Em seguida, tomou

posse a nova Mestre, Ana Rios, que ocupava anteriormente o cargo

de Mestre Auxiliar.

Após os protocolos oficiais da festa, chegou o momento da

descontração. Houve uma animada troca de presentes de amigo

secreto, bolo, doces, salgados, cesta de mantimentos para distribuir

na comunidade local, som de CD e de voz e violão, karaokê, peça

teatral e até coral improvisado, entoando músicas do axé ao pop


90

rock. Os místicos também se divertem e muito! Mesmo sem ingerir

nenhum tipo de bebida alcóolica, pelo menos naquela festa. No dia a

dia, os rosacruzes têm total liberdade para ingerir o que quiserem.

Bom, na verdade, o calendário rosacruz é orgulhosamente

festejado por uma questão de respeito à tradição. Os membros desta

entidade seguem mesmo é o calendário com a contagem de anos

cristã, a cultuada em nosso país. Nesse particular, os rosacruzes se

encontram tão ansiosos quanto nós em relação à vinda do Terceiro

Milênio.

Mas qual a visão da AMORC para o próximo milênio, o

terceiro, nos aspectos relativos aos rosacruzes? Não foi fácil

encontrar alguém para ser entrevistado nessa festa! Depois de muita

insistência, felizmente, quem nos respondeu foi o Grande

Conselheiro, Frater Antônio Ripardo Teixeira, membro que

representa a Ordem na região Nordeste do Brasil e, na festa, foi um

participante prá lá de alegre:

“A AMORC não costuma especular ou fazer prognósticos para o

futuro. Devemos sim, trabalhar e viver o agora, visualizando um futuro em

que os ideais rosacruzes sejam mais conhecidos, auxiliando os seres

humanos a serem melhores e mais harmoniosos com as leis naturais e do


91

universo. Desde os primórdios, a Ordem tem participado na preparação do

homem para torná­lo mais apto a enfrentar crenças e idéias errôneas ou

falsos tabus. Temos o dever de transmitir mais conhecimentos aos

rosacruzes, pois nossa máxima é de que o saber é uma força muito poderosa

– ‘Conhecer é poder’. Assim, precisamos saber mais sobre tudo, atuar

sempre com todas as faculdades da nossas mentes e sermos mais sensitivos

ao mundo vibratório à nossa volta. Somos generalistas pelo anseio do saber

e seres emocionais pelo amor sentido ao próximo. O rosacruz é participante

de um mundo idealístico, mas com bases firmes e é cooperativo com seus

irmãos em suas lutas e aspirações. Como Fraternidade, estamos

construindo, passo a passo, condições para uma vida mais bela e

harmoniosa. Aglutinados por esses ideais, reduzimos o escuro, levamos

mais luz, criamos vida mais intensa, insuflados pela essência do Amor

Universal para níveis superiores da consciência. Nossa percepção

individual cresce e o homem torna­se melhor, superior sob quaisquer

aspectos que o analisemos.”

Assim, podemos dizer que a visão da AMORC para o

Terceiro Milênio é a que conviveremos com seres mais

esplendorosos de vida intensamente harmonizada. “Que sejamos

venturosos neste mister e abençoados pelas hostes cósmicas, pela glória de


92

Deus e benefício de todos nós!”, conclui o Grande Conselheiro, que me

dispensou educadamente e voltou para a festa. Antes, me

apresentou a um membro especial, um senhor alto e de cabelos

grisalhos, que estava visitando Salvador: o Frater Zaneli Ramos

Barcellos, Chefe da Divisão de Ensino e Cultura da sede da AMORC

no Brasil.

Quando ouvi aquele nome, fiquei surpresa. Já tinha lido um

de seus livros – O Espírito do Espaço ­ que são unicamente editados

e publicados pela Ordem. Era uma bela chance de entrevistá­lo, pois

no outro dia ele voltaria para Curitiba. Foi, então, que lhe falei da

reportagem que estava fazendo e, aproveitando o clima de Ano

Novo Rosacruz, lhe propus que desse algumas declarações sobre a

tão badalada Nova Era.

Folgo em lembrar­me que não precisei insistir muito, pois

aquele senhor aparentemente muito sério e calado, apresentou­se

muito prestativo. Fomos conversar coincidentemente no mesmo

local onde foram realizados meus encontros anteriores com os

membros daquela Loja: a Antecâmara do Templo.


93

CAPÍTULO XI

Nova Era

É psicologicamente natural e forçoso que um momento de

mal­estar suscite o desejo de um momento futuro que traga bem­

estar. Isto é particularmente verdadeiro quanto ao forte anseio que a

maioria dos seres humanos sente por uma nova era no mundo, sem
94

guerras, assaltos, seqüestros, crises econômicas, corrupção, maldade

de qualquer espécie.

Mas de que dependeria essa nova era? Pelo senso comum,

numa abordagem imediata, de medidas que venham corrigir

distorções ou aberrações sociais, como a pobreza e a competição

comercial gananciosa; também do desenvolvimento de um sistema

de produção agrícola e industrial cada vez mais avançado e bem

regulado e da aplicação rigorosa de uma justiça bem elaborada e

eficaz.

Entretanto, do ponto de vista rosacruz, esse tipo de solução

atuaria basicamente no comportamento do homem, sendo, portanto,

superficial. Seria trabalhada a “fase objetiva” de sua estrutura

psíquica com reflexos infrutíferos ou negativos nas fases mais

profundas dessa estrutura, dependendo também de mecanismos de

disciplinação externa . “Isto conferiria a esse tipo de medida um caráter

precário, aflitivo e muito custoso no dispêndio de energia e recursos. Sua

aplicação parece mesmo, em muitos casos, realimentar as causas imediatas

dos problemas, deixando intocada sua causa fundamental”, opina o Frater

Zaneli Ramos Barcellos, ao tempo em que aponta qual seria a

solução ideal para que se instaure verdadeiramente uma nova era:


95

“A solução ideal – independente de qualquer consideração de tempo

ou prazo – é necessariamente função de uma Filosofia Mística como base de

uma Psicologia Mística, através da qual seja catalisada a evolução natural

do ser humano nas fases mais profundas de sua estrutura psíquica. Só

assim, poderemos deixar de ser forçados a atuar sobre o comportamento do

ser humano – gerador ele próprio da maior parte dos problemas que o

afligem – um verdadeiro e persistente círculo vicioso. Alcançando aquela

evolução um nível suficientemente elevado, as motivações do ser humano

serão intrinsecamente boas – construtivas, positivas, justas e até amorosas

– e produzirão impulsos de comportamento correspondentemente bons. Só

assim será possível quebrar aquele círculo vicioso (problemas­medidas­

problemas) porque, deixando de existirem os problemas causados pelo

comportamento egoísta, tornar­se­ão desnecessárias as medidas corretivas e

coercitivas”.

A nova era que a maioria de nós almeja, então, não viria por

si mesma, por ação unilateral de algum poder cósmico, nem pela

genialidade de algum homem que consiga conceber e implementar

um plano perfeito de comportamento humano dirigido e controlado

fora dos indivíduos. Mas haveria de vir de uma humanidade


96

composta de pessoas “psicologicamente despertas” para a consciência

mística de que são do e no Ser Cósmico que seria fonte, sede e

essência de TUDO. Tais indivíduos da nova era seriam, em

consonância com o misticismo rosacruz, guiados pela luz do

Cósmico, que os faria motivados pelo amor do Cósmico, para uma

vida que refletiria no Cósmico a glória de Deus.

E isso não deverá acontecer de maneira fantástica e para fins

fantásticos, mas de forma pura e simples, para fins puros e simples,

no maior valor do misticismo: a relação amorosa entre os seres

humanos.

“E aqueles que considerem isto um devaneio romântico e utópico

estarão condenando a humanidade a correr eternamente numa esteira

rolante sem fim, sem sair do lugar”, brada Zaneli Barcellos, como se

aquela frase fosse a provocação necessária para dar um ponto final

de legitimação ao seu discurso.

Logo em seguida, envidou um alerta para os místicos e

simpatizantes: “O misticismo cujo objetivo seja apenas o de desenvolver

as pessoas no uso de faculdades psíquicas superiores, para fins de projeção,

premonição, recordação de vidas passadas, poder em suas relações com

outras pessoas, com forças e coisas, etc., é nisso muito pobre, por mais
97

egocentricamente deleitoso, fascinante e apaixonante que seja, não pode ser

a base daquela idéia de vida melhor da sociedade humana. Essa idéia

transformadora pode ser intelectualmente compreendida, mas não tem

força. Psicologicamente, é preciso que ela resulte de contemplação, reflexão

e meditação místicas, para que tenha a força necessária a levar

automaticamente à atitude e ao comportamento correspondentes”.

Dentro do misticismo, para os seres atingirem sua plenitude,

o comportamento de cada indivíduo seria moldado de forma sutil,

através da prática regular de simples exercícios em que o corpo, a

mente e o espírito seriam trabalhados em conjunto até que o

homem­comum de hoje torne­se o homem­perfeito de amanhã. “Se

cada um de nós fizéssemos quinze minutos de meditação em apenas um dia

, este planeta poderia adiantar sua evolução em pelo menos um século”,

profetiza Barcellos virando o rosto para a janela, com os olhos fixos

para o tempo, como que imaginando que o que dissera poderia dar

certo, mas seria tão difícil sua realização ...


98

CAPÍTULO XII

Um Templo, Uma Encarnação

No dia 01/04/00, fui à Loja Rosacruz Salvador no intuito de

ficar muito mais observando a movimentação dos membros do que

realizar entrevistas. Senti que era necessário captar melhor o sentido

da palavra rosacruciar através de uma atenção redobrada sobre o

comportamento e as ações dos estudantes dentro de uma filial da

Ordem, especialmente em sua entrada no Templo.

Sábado, terça ou quarta­feira, os rosacruzes procuram estar

presentes fisicamente em algum corpo afiliado à Ordem, para

participarem, servindo ou não, das atividades oferecidas.

“Boa tarde, Frater”, “Boa tarde, Soror”, “Paz Profunda!”, são

tratamentos respeitosos entre um membro e outro.

A maioria chega de carro. Todos bem arrumados. Uns mais

refinados, outros mais simples. Só não há ninguém de short,


99

bermuda, ou chinelo. Os rosacruzes brasileiros são indivíduos, na

maioria, de 18 a 31 anos, universitários, do sexo masculino, casados

e pertencentes à classe média alta.

Enquanto as atividades ritualísticas não começam, alguns

preferem ficar lendo na biblioteca; os que trabalham no Ritual de

Templo correm apressados para os últimos ensaios, para tudo sair

perfeito; e a grande parte dos membros fica mesmo conversando

uns com os outros principalmente no jardim e na cantina, onde se

pode fazer lanches leves com doces, salgados, refrigerantes,

cafezinho e chá. Nada de bebidas alcóolicas. Entre uma conversa e

outra, pode haver cigarros e alguns palavrões inocentes. Afinal,

estar na Ordem Rosacruz não significa ter virado santo.

O RITUAL

Às 17h e 30min, começa o ritual no Templo. Todos em fila.

Ao receberem o Avental Ritualístico, entregue pela Oficial

Medalhista, os membros o amarram na cintura e seguem em frente.

No portal do Templo está o Oficial Guardião Externo, que autoriza a

entrada dos membros organizadamente. Para simbolizar a retidão


100

de pensamentos e atos, todos devem andar no templo em linha reta

e serenamente. Após um gestual secreto em frente ao Shekinah –

vocábulo egípcio usado para designar um altar triangular que

representa a presença do poder concentrado da sagrada assembléia

do Cósmico, podem sentar­se. Ao norte, estão os Oficiais Guardião

Interno (zelador da harmonia) e Cantora (entoadora de sons

vocálicos). Ao sul, encontram­se os Oficiais Capelão (representante

espiritual de Deus) e Cantor (entoador de sons vocálicos). Ao oeste,

localiza­se a Oficial Matre (mãe espiritual dos membros). E,

finalmente, ao leste, estão os Oficiais Columba (vestal ritualística,

representa a “Luz, Vida e Amor” e a consciência de cada membro) e

Mestre (transmissor­mor das radiações de luz e conhecimento aos

Fratres e Sorores presentes). Uma música suave de fundo ..., e tudo

está pronto. Começam os experimentos secretos.

Quem forneceu as informações descritas no parágrafo acima

foi a atual Mestre da Loja Rosacruz Salvador, Ana Lúcia Rios, que,

logo depois da Convocação Ritualística, ainda forneceu a esta

reportagem uma bela explanação sobre o significado do Templo

para os Rosacruzes:
101

“Nosso Templo, com suas estações e demais elementos que contém,

simboliza o universo. O homem, enquanto microcosmo ou pequeno mundo,

também é um símbolo deste mesmo universo. Por isso, pode­se dizer que o

Templo é também um símbolo do homem. Nossa Convocação é um drama

ritualístico que representa a seqüência de acontecimentos que ocorrem

desde o princípio até o fim de uma encarnação. O Capelão é o narrador

desse drama; porém até mesmo antes que o Capelão fale, o soar do gongo,

indicando o início da Convocação, simboliza as primeiras combinações da

essência da energia Espírito nos elétrons. Mais adiante, esses se combinarão

para formar a matéria, que é o primeiro ponto necessário para que o Ser

possa tomar forma.

Quando o som do gongo silencia, está­se simbolizando a mudança

ou a transformação da matéria em outras formas, a qual começa no instante

mesmo em que se forma. Esta é a base da técnica que serve para estabelecer

a idade dos materiais, baseada na radioatividade do carbono. Toda matéria

está continuamente se transformando em outras formas de matéria ou

energia.

Em nosso conceito do Templo como representante do corpo do

homem, a existência de todas as coisas vivas está simbolizada pela reunião

dos Membros, do mesmo modo como as células individuais se combinam

umas com as outras para formar o corpo do homem. A entrada dos Oficiais
102

Ritualísticos representa os grupos especializados de células, tais como as

dos órgão e dos sentidos. A Columba representa a consciência que, ativada

pela Alma, acaba por se desenvolver na magnificência da compreensão do

Ser. O aroma do incenso que impregna totalmente a área do Templo

representa a Mente Cósmica que está presente em cada uma das células de

nosso Ser.

A entrada do Mestre indica a entrada da Alma como o primeiro

alento, uma vez que tudo o mais tenha sido preparado. Ao formarmos Loja

(um gestual secreto), estamos rendendo homenagem ao mistério da

encarnação. A mão esquerda representa a Alma ou Personalidade­Alma que

está dentro de um corpo, representado pela mão direita. A Rosa sobre a

Cruz no Leste representa o contato entre a matéria e o Cósmico. No livro ‘A

Vós Confio’, publicado pela Ordem, pode­se ler: ‘Conhece­te a ti mesmo... é

o elo que une o divino à matéria’

Prosseguindo com a Convocação, o Mestre instala­se no local da

glândula principal, a pituitária. O atril no Leste está representando a boca e

o aparato oral de que se necessita falar. A Urna Vestal é a tireóide. A área

da Sanctum representa os pulmões e é aqui que se encontra o mistério dos

mistérios. Aqui a Alma entra em contato com o primeiro alento. Aqui é

onde a Força Vital vivifica o sangue. Os pulmões proporcionam também o

poder de ativar as cordas vocais e a faculdade da fala. A razão de não


103

violarmos o Sanctum (passar por esse local) em nossos Templos é por

compreendermos a dualidade desse mistério dos pulmões. Entretanto, a

verdadeira violação do Sanctum encontra­se na faculdade da fala. Como

disse um Grande Mestre, ‘o que profana não é o que entra na boca do

homem, mas o que dela sai’.

Todos os nossos rituais de Convocação contêm uma dualidade. O

Cantor e a Cantora demonstram a natureza positiva e negativa de todas as

vibrações, à medida em que os sons vocálicos vão penetrando em todos os

cantos do Templo. Até o período de meditação é dual: na primeira parte,

devemos transmitir ou irradiar (positivo) e, na Segunda, permanecemos

passivos ou receptivos (negativo). O que nos lembra determinado princípio

cósmico muito profundo: ‘Assim como dermos, receberemos’.

A mensagem do Mestre representa o conhecimento, a evolução que

alcançou nosso ser interno, através das experiências e vicissitudes desta

encarnação. A saída do Mestre simboliza a separação da alma ao finalizar a

utilidade deste ciclo. O apagamento das velas e a saída da Columba

significam o cessar do funcionamento de nossos sentidos receptores. A saída

dos membros descreve a desintegração do corpo, que regressa novamente às

vibrações originais de onde veio.

Em suma, nossos antigos rituais foram planejados para que

utilizemos as meditações e contemplações a fim de que cada semana, cada


104

mês, cada ano, surjam em nossa consciência novos conceitos maiores e

belos. Este é um dos significados do símbolo da Rosa abrindo­se na Cruz. Se

ao assistirmos uma Convocação fôssemos capazes de assimilar por completo

todo o significado do drama que ali se representa, já não precisaríamos

encarnar novamente.”

CAPÍTULO XIII

Uma senda faraônica – I

Como já foi dito no primeiro capítulo dessa reportagem, a

Loja Salvador tem suas paredes pintadas com uma série de motivos

egípcios. Esta é uma característica comum a qualquer filial da

Ordem Rosacruz. Através disso, os rosacruzes querem dizer que a


105

Ordem é um ramo autêntico das Escolas de Mistério do Egito

Antigo.

“A palavra mistério, na antigüidade, como no Egito, na Grécia e em

Roma, não designava algo misterioso, fantástico ou estranho. Antes,

referia­se a uma gnose especial, uma sabedoria secreta. No Egito, foram

formados grupos seletos, organizados como escolas, para investigar os

mistérios da vida. Por isto, o termo mistério lhes foi aplicado e esses grupos

foram denominados Escolas de Mistério. Aquelas Escolas de Mistério, ao

longo dos séculos, foram evoluindo para grandes centros de cultura e

sabedoria. Foi Tutmés III, ou Thoumosis III (que reinou como Faraó de

1500 a 1447 a.C.), quem organizou a primeira e verdadeira Fraternidade

Secreta de Iniciados com normas específicas, semelhantes às que a Ordem

Rosacruz perpetua na atualidade. Quase setenta anos depois, o Faraó

Amenófis IV, ou Amenhotep IV, nasceu no palácio real de Tebas e, ainda

criança, foi iniciado na Fraternidade Secreta. Seu destino foi o de proclamar

pela primeira vez na História que havia um só Deus, numa época em que o

politeísmo prevalecia no mundo. Séculos mais tarde, filósofos gregos, como

Tales e Pitágoras, viajaram para o Egito e foram iniciados nas Escolas de

Mistério. Trouxeram depois sua avançada cultura e sabedoria para o

mundo ocidental. Estes eventos são os primeiros registros do que


106

posteriormente floresceu na Ordem Rosacruz. O nome da Ordem, pelo qual

ela é hoje conhecida, viria bem mais tarde” , relatou o Frater Antônio

Justino, contador, 56 anos, 23 como rosacruz; por ocasião do nosso

quinto encontro na Antecâmara do Templo, ocorrido em

08/04/2000, para conversarmos sobre a história da Ordem e os

assuntos estudados pelos membros.

A história da AMORC pode ser dividida em duas

classificações gerais. A história tradicional, que tem raízes nas

referidas escolas de mistério do Egito Antigo, chegando ao presente

pela tradição oral, apoiada em referências mais ou menos definidas,

feitas em escritos antigos ou passagens simbólicas dos rituais ou dos

ensinamentos. E a história documental, que se baseia em registros

impressos encontrados nos vários ramos da Organização, em todo o

mundo.

Pelo histórico tradicional da AMORC, os rosacruzes dizem

que, desde aproximadamente 1500 a.C., os egípcios haviam

alcançado um elevado grau de civilização e conhecimento avançado,

no começo da XVIII Dinastia dos Faraós, apenas comparável ao

Renascimento Europeu.
107

Muitos teriam sido os meios adotados para preservar o

conhecimento alcançado, a fim de que ele fosse corretamente

transmitido às gerações futuras. As inscrições hieroglíficas nas

pirâmides, nos obeliscos e nas paredes dos templos, forneceriam

uma prova do desejo primordial dos egípcios de perpetuar o

conhecimento e a sabedoria.

Entretanto, os mais profundos segredos da natureza, da

ciência e da arte não teriam sido confiados à todas as pessoas, nem

puderam ser suscetíveis de preservação por meio de registro em

papiros. Assim, os mais sábios organizaram classes, onde

compareciam indivíduos selecionados para o aprendizado das

doutrinas e princípios científicos. Essas classes, ou escolas, algumas

vezes reuniam­se nas grutas mais isoladas, e outras, em alguns dos

templos erigidos aos diversos deuses egípcios.

“Falamos das Escolas de Mistérios como se houvesse muitas. O fato

é, no entanto, que existia apenas uma, com inúmeros ramos ou lugares de

instrução em diferentes partes do território egípcio. Mas os ensinamentos e

atividades dessa organização representavam uma universidade com um

corpo discente, operando de forma hierárquica com classes e graus


108

sucessivos; por isso o nome escola. Os registros indicam que a sede, o

principal centro das escolas de mistério do Egito, foi localizada primeiro na

antiga cidade de Filadélfia, depois em Mêmfis, com um ramo num lugar

chamado Mizraim, e depois em Tebas e Luxor. Finalmente a última sede

das escolas foi localizada na cidade de Akhenaton, nas margens do Nilo, na

área da antiga cidade de Tel­El­Amarna Esse local foi freqüentemente

referido como a Cidade do Sol. Mais tarde, legados e emissários do Egito

foram autorizados a estabelecer ramos das escolas de mistério na Grécia, em

Roma, na Índia e em outros países. Com o passar dos anos, uma fusão de

diversos ramos começou a ocorrer, da qual se originaram os ensinamentos

atuais dos rosacruzes e escolas místicas similares do passado”, foi o que

falou o Frater Luiz Alberto de Oliveira, advogado, novo Mestre­

Auxiliar da Loja Salvador, 45 anos, 13 de rosacruz; dando­nos

praticamente uma aula de História.

E que diretrizes, padrões e procedimentos pelos quais

podemos reconhecer um ramo autêntico das escolas de mistério do

Egito? Quem nos respondeu foi novamente o Frater Luiz de

Oliveira:

“Primeiramente, nenhuma glorificação à personalidade – é

quase certo que os líderes das antigas escolas rejeitavam aqueles que
109

estavam cheios de auto­engrandecimento e tinham o ego inflamado.

Também não toleravam estudante que tentavam deificar os líderes e anciãos

da organização. Segundo, a humildade – as pessoas eram admitidas como

estudantes sem considerar preferências pessoais, raça, religião,

nacionalidade, renda, posição social ou poder político. Elas eram

selecionadas de acordo com o seu nível de sinceridade e desejo de

conhecimento. Exemplos eminentes de pessoas que insistiram na humildade

foram Pitágoras, na sua escola em Crótona, e Jesus, o Cristo, entre os

Essênios na Palestina (lembremo­nos que muitos dos seus apóstolos eram

pescadores). Terceiro item: homens e mulheres eram membros – a

personalidade­alma é capaz de se desenvolver e com o tempo atingir a

iluminação independente de gênero e em qualquer encarnação. Os líderes

das escolas eram tão inflexíveis a esse respeito que qualquer ramo que se

recusasse a aderir a esse princípio (alguns não queriam permitir a entrada

de mulheres) perdia sua autorização de representar a Fraternidade. Foi o

que aconteceu no caso do Rei Salomão, que estudou no Egito e, voltando à

sua terra, estabeleceu uma Ordem Mística (hoje reconhecida como

Maçonaria) acrescentando dois princípios violadores: restringir o acesso

somente a homens e usar o Sol como ponto focal exclusivo da sua Ordem,

nomeando­o como o próprio corpo de Deus, e não apenas um símbolo.

Quarto item: iniciática por natureza – a essência dos ensinamentos não


110

era um mero conhecimento intelectual, mas uma sabedoria espiritual

sentida profundamente nos rituais de iniciação, uma gnose emocional que

jamais seria esquecida. Não importa se as iniciações eram da Escola Osírica,

Egípcia, de Elêusis, da Órfica, da Mitraica, ou Brahmânica; não importa se

continham elementos de unção, batismo, canto ou prece, as iniciações

estavam baseadas em verdades eternas e tinham como base a crença num

Ser Supremo. Quinto item: instrução progressiva – todos começavam o

sistema de instrução do zero. Os estágios sucessivos eram rigidamente

seguidos e o estudante, independente de seus conhecimentos anteriores,

progredia conforme sua iniciativa e habilidade inatas, e, ainda, não passava

para nenhum nível se não tivesse completado os passos precedentes. Sexto e

último item: círculos interiores e exteriores – é notório o fato de haver

ensinamentos privativos nas antigas escolas. Menos conhecido é o fato de

que nas autênticas organizações místicas existiam dois níveis de instrução:

um nível era o corpo exterior de ensinamentos passados ao público em geral

e o outro representava o interior, o coração e a alma das doutrinas,

reservado somente aos iniciados. Vale ressaltar que a AMORC segue à

risca todos os seis princípios”.

Bom, vamos agora para a história documental do

rosacrucianismo. Esta pode ser remontada à Europa do século


111

dezessete, com a publicação de três manifestos estabelecendo os

objetivos e a metodologia da Ordem, em vários idiomas. Foi um

período turbulento de preconceito e perseguição. Era a época das

Cruzadas.

Em 1693, os rosacruzes foram para a América do Norte,

estabelecendo­se na vizinhança do local onde hoje existe a cidade da

Filadélfia. Segundo os membros atuais, aqueles rosacruzes tiveram

participação ativa na fundação dos Estados Unidos. Após isso,

seguiu­se um período de relativa inatividade da Ordem na América.

Havia um regulamento antigo da Ordem que determinava uma

periodicidade de ciclos ativos (filiais em plena atividade) e inativos

(filiais fechadas e conhecimentos dos membros passados apenas

hereditariamente). Cada ciclo com a duração de 108 anos.

Em 1909, o Doutor Haward Spencer Lewis, após legítma

iniciação na tradicional Ordem Rosacruz da França, teve autorização

para reativar a Ordem na América. Com isto, formou ele o Primeiro

Conselho Supremo da Ordem em Nova York, em 1915, quando foi

nomeado Imperator. A partir daí, a Ordem foi restabelecida na sua

forma atual.
112

CAPÍTULO XIV
113

Uma senda faraônica – II

Podemos dizer, ainda, que os ensinamentos da Ordem

Rosacruz se traduzem numa senda faraônica porque podem se

estender por toda a vida do indivíduo, ou, até, além dela. Vamos

partilhar um pouco desta jornada.

Após afiliar­se à Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis

(AMORC), durante seis semanas, o novo membro recebe

comunicações destinadas a que se qualifique aos estudos rosacruzes.

Estas são feitas em forma de monografias e discursos denominados

Mandamentos Privados, remetidos ao estudante pelo correio.

Tendo estudado essas primeiras lições e tentado certos

experimentos (práticas), o membro já terá despertado algumas

faculdades e funções psíquicas. Deverá ser admitido, então, ao

Primeiro Atrium (grau) da Seção de Neófito. A partir daí, ficará

doze semanas em contato com ensinamentos e testes experimentais,

envolvendo assuntos como: Consciência Objetiva e Consciência

Cósmica; Cérebro e Mente; Simbolismo Místico; A Lei do Triângulo.


114

O Significado dos Números; A Energia da Matéria e a Energia Vital;

Alma; Bem e Mal; dentre outros.

Depois disso, o Neófito passará para o Segundo Atrium. Aí,

seguem­se dezessete lições semanais, contendo temas como: O Ego;

A Eliminação do Ego; A Elevação do Eu Psíquico; Desenvolvimento

Psíquico Pessoal; A Sagrada Assembléia; Auxílio de Mestres

Visíveis e Invisíveis; Desenvolvimento da Aura Psíquica; Métodos

Práticos de Harmonização Cósmica; etc.

Passando para o Terceiro Atrium, último grau da Seção de

Neófito, o membro agora estudará: Alquimia e Química;

Experimentos com o Controle Mental da Matéria; Magnetismo

Místico do Corpo Humano; Controle do Sangue no Organismo

Humano; Demonstrações com o Plexo Solar; Os Centros Psíquicos

do Corpo Humano; Como Influenciar os Sistemas Nervosos e os

Órgãos do Corpo e outros.

GRAUS DE TEMPLO
115

Quando os estudantes terminam os três graus preliminares

da Seção de Neófito, completados em aproximadamente um ano,

encaminham­se, então, para os Graus do Templo da Ordem.

Excepcionalmente, a Iniciação ao Primeiro Grau de Templo

só pode ser feita numa Loja Rosacruz. Trata­se da misteriosa

cerimônia de “Cruzar o Umbral”, fenômeno que é a meta de todos

os buscadores da Iluminação Rosacruz. Para o iniciando, o Umbral é

o ponto mais amado da Loja, porque representa a passagem das

trevas para a luz, e é protegido pelo Guardião do Templo.

“Todas as fraternidades iniciáticas dão especial importância ao

processo iniciático pelo qual o estudante ou adepto deve passar. Na

AMORC, o estudante faz o estudo das monografias em casa, bem como

suas experiências práticas de meditação, visualização e concentração. É a

fase que rotulamos como a do desenvolvimento intelectual, quando se

aprende a utilizar as leis da vida e do universo. Mais, ainda, ele deve passar

pelo processo iniciático, através dos rituais que se desenvolvem nas Lojas

Rosacruzes. Nessas ocasiões, passa por cerimônias místicas, onde um

conhecimento intuitivo é despertado. Conceitos mais sublimes são

revelados, num estado emocional e psíquico que ficam fortemente impressos


116

em sua mente e ele é INICIADO nos mistérios mais sublimes do ser”,

assim nos deu seu ponto de vista o Frater Rui Brasil, aposentado da

Petrobrás, 71 anos, 25 na Rosacruz. Estávamos no nosso sexto

encontro na Antecâmara do Templo, que ocorreu no dia

15/04/2000.

Independentemente de fazer a Iniciação ao Primeiro Grau, os

membros continuam a receber as monografias deste Grau e dos

subseqüentes, dos quais salientam­se os assuntos respectivos:

Primeiro Grau de Templo ­ A Ética da Filosofia Rosacruz; O

Significado de Iniciação; o Mistério do Misticismo; Números e

Símbolos; A Matéria; A lei do Triângulo; As Leis do Universo;

Composição do Mundo Material; Composição Física do Homem e

dos Animais; Distinção entre Espírito e Alma; etc. Segundo Grau de

Templo ­ A Mente Humana, suas Faculdades e Funções; As Fases

Objetivas e Subconsciente da Mente Humana; Relação da Mente

com a Consciência Cósmica e Terrena; Funções Voluntárias e

Involuntárias do Homem; A Consciência Dual do Homem; Tipos de

Raciocínio; A vontade; relação da Vontade com a Saúde e a Doença;

A Memória; Função da Memória quanto à Alma; etc. Terceiro Grau

de Templo ­ Leis do Movimento e Mudanças no Universo; A


117

Evolução da Consciência na Vida; Natureza da Consciência e seus

Atributos; Finalidade dos Organismos Vivos, Sensações de

Consciência; Consciência Individual e Coletiva; Inteligência,

Intelecto, Imaginação, Formação de Imagens e Criação Mental;

Sensações Psíquicas; Demonstrações de Realidade e Atualidade;

Efeito do Ambiente; etc. Quarto Grau de Templo ­ Origem e

Natureza da Força Vital no Homem; Forma de Manifestação da

Força da Vital; O Conhecimento Secreto dos Rosacruzes sobre a

Força Vital; Como controlar a Força Vital no Corpo Humano;

Método Rosacruz para Aumentar a Força Vital; Como dirigir a Força

Vital para qualquer Ser Vivo; etc. Quinto Grau de Templo ­

Filosofia, Religião e Ética. Sexto Grau de Templo ­ é um completo

curso de cura metafísica. Sétimo Grau de Templo ­ é o mais místico

do programa Rosacruz, pois trabalha essencialmente com a natureza

metafísica do ser humano (o poder do corpo psíquico e sua

consciência psíquica, a separação entre os corpos físico e o psíquico,

projeção do corpo psíquico no espaço, o desenvolvimento da

aura,...). Oitavo Grau de Templo ­ contém instruções para que o

indivíduo tenha habilidade psíquica para fazer: projeções do corpo

psíquico para qualquer pessoa ou lugar, tal como era em sua


118

encarnação anterior ou atual; coisas materiais se moverem;

tratamentos em outras pessoas durante as projeções psíquicas;

atividades humanitárias sem se revelar ou comparecer a sessões em

Templos da Ordem em lugares distantes. Nono Grau de Templo –

desenvolve os mais altos poderes metafísicos do ser humano,

tornando­o apto a fazerem desaparecerem coisas materiais e

eliminar coisas mentais que possam ser obstáculos em sua vida; e

também dirigir ou mudar o curso de eventos naturais, a fim de

provocar certos resultados em seus assuntos pessoais e em assuntos

alheios. Este é o último Grau em que o estudante recebe Iniciação no

plano material. Décimo, Décimo Primeiro e Décimo Segundo Graus

– as Iniciações a estes Graus são conferidas psiquicamente. Muitas

lições são recebidas pelos estudantes de um modo tão místico que

não pode ser explicado, e, de tempos em tempos, eles se reúnem a

outros estudantes do mesmo Grau para troca de conhecimentos e

experiências, enquanto estão desenvolvendo suas atividades

místicas em todas as partes do mundo, sem interferência em seus

negócios ou rotina social. Até aqui, os estudantes da Ordem já

devem ter percorrido cerca de 15 a 16 anos na senda. “Hoje em dia

está ótimo. Até há poucos anos atrás, você só chegava no Décimo Segundo
119

Grau depois de vinte anos de estudo. As monografias vêm sendo revisadas

pelo nosso Imperator, tendo sido eliminados expressões prolixas e pontos

obsoletos ou que estavam em desacordo com o conhecimento científico

atualizado”, defende o Frater Antônio Sérgio dos Santos, autônomo

aposentado, 68 anos, 24 de rosacruz.

Salienta­se que os membros, ao completarem o Nono Grau,

podem ingressar na seção ILLUMINATI, que é o organismo

superior da Ordem, em que membros dignos continuam a

desenvolver trabalhos e estudos especializados, sob a direção do

Imperator e dos Mestres Cósmicos – seres que, depois de várias

encarnações como rosacruzes, atingiram a perfeição e, agora,

auxiliam os demais membros da Ordem, atuando no plano

extrafísico. Os membros não podem solicitar admissão à seção

ILLUMINATI; devem aguardar que sejam considerados preparados

e convidados a participar nesse trabalho superior.

Pois é, aquele que escolhe verdadeiramente o

rosacrucianismo como o seu caminho de evolução tem o dever de

colaborar para a Grande Obra da AMORC no mundo, não só através

de suas encarnações, mas também quando estiver no plano

espiritual. É como nos explica a Soror Conceição Rocha, funcionária


120

pública federal, 27 anos, 8 na AMORC: “O rosacruz estudioso deve

considerar o ensinamento da monografia como alimento para sua alma.

Deve receber os estudos com satisfação e alegria, sem pressa ou ansiedade

para terminar, pois os trilhos deste caminho apontam indubitavelmente

para a direção da eternidade”.

CAPÍTULO XV
121

Vale a pena rosacruciar ?

De posse do boletim que continha o cronograma de

atividades da Loja Rosacruz Salvador, fiquei sabendo que, no dia

06/05/2000, estava programado uma espécie de bate­papo entre os

membros, às quatro da tarde, na sala do Pronaos, sobre assuntos

diversos ligados à AMORC. Eu precisava ir.

Chegando lá, eis que, não me contendo de curiosidade e em

nome do bom jornalismo investigativo, entrei sorrateiramente no

recinto e me acomodei. Percebi logo alguns olhares de

estranhamento à minha presença. Tive momentos de tensão até que

olhei para a Mestre, Ana Rios, que, para o meu alento, soltou um

largo sorriso ao me ver. Ela, felizmente, achou graça da minha

atitude e surpreendeu a todos, dando­me boas­vindas em alto e bom

som. De repente, o mal­estar era vidro e quebrou­se com o sorriso

dela. Suspirei aliviada.

Pude apreciar toda aquela atividade. Bendita seja a dona

daquele sorriso, pois, justamente na metade das discussões, surgiu

mais um presente para a reportagem: um neófito rosacruz – um

estudante praticamente novo na Ordem ­ provocou um animado


122

debate entre o grupo presente, ao questionar a utilidade dos

ensinamentos rosacruzes, especialmente quanto à necessidade de

pagar contribuições à Ordem, ao porquê de “tanta ciência” estar

incluída nas monografias rosacruzes e ao que ele estaria realmente

ganhando com o estudo rosacruz.

Os estudantes rosacruzes são encorajados a serem “pontos de

interrogação ambulantes”, de modo que o sincero desafio desse

neófito desencadeou um delicioso debate.

Esse debate pareceu­me tão útil para os próprios rosacruzes,

que achei que interessaria aos leitores. Os estudantes que

participaram especificamente dessa discussão permitiram que seus

comentários fossem publicados nessa reportagem.

Tudo começou quando o então neófito, Frater André Lima,

propôs o seguinte desafio:

“Desde os dezessete anos, tenho sido um estudante sério de filosofia

oculta. Agora, aos vinte e cinco, já explorei muitos sistemas e visitei alguns

lugares ao longo da senda com os quais não me senti muito feliz. Passei um

bom tempo praticando magia e estudei as obras de Israel Regardie da

Goldem Dawn. Tornei­me entendido em Cabala e nos trabalhos das ‘artes

especiais’. Li tantos livros sobre magia e misticismo que não posso contá­
123

los. Eu me consideraria um adepto, mas, na Ordem Rosacruz, ainda sou

um neófito.

À medida que prossigo com os estudos de neófito, estou tendo

alguma dificuldade para compreender por que é incluída tanta ciência nos

ensinamentos. Tornei­me um estudante da filosofia rosacruz para crescer

como pessoa – para me tornar mais do que sou ­ e para aprender a respeito

da verdade e do caminho da luz. Mas parece que os únicos assuntos que

estou estudando são assuntos que já conheço. Estou certo de que isto dá a

impressão de que estou me gabando e entendo que as lições se desenvolvem

lentamente para nos ajudar a estarmos prontos quando algo do arcano nos

for apresentado. Mas, como um universitário que vive de uma receita

limitada, parece realmente que não vale a pena pagar a contribuição à

AMORC. Sabem, eu não posso me dar ao luxo de pagar por coisas que já

sei. Esse conhecimento poderá valer a pena no futuro, mas até agora não vi

nada que me levasse a acreditar nisso.

Eu me pergunto se algum dos outros já teve essa insatisfação. Será

que depois a Ordem vale a pena? Nunca estive num templo ou num

Pronaos. Sei que a Ordem tem despesas a pagar, mas é difícil para mim

entender por que as monografias devam me custar cem reais por ano.

Portanto, se algum de vocês tem algum conselho ou algumas idéias

para me oferecer, gostaria de recebê­los”


124

O Frater Claudemiro dos S antos, engenheiro civil, 47 anos,

17 na AMORC, tentou responder algumas perguntas feitas pelo

neófito:

“Considerando as coisas que o Frater estudou nos últimos anos,

percebo que os ensinamentos rosacruzes oferecem algo que aqueles outros

caminhos não oferecem: integração. Na filosofia rosacruz, o que o Frater

chama de ‘artes especiais’ tem pouco valor espiritual até que é posto em

prática na vida. E isto não significa demonstrações externas de princípios

ocultos. Significa a transmutação de sua própria consciência: como você

pensa, como você interpreta, como você reage e como você vive.

A senda rosacruz parece integrar a personalidade individual – o

ego, se você prefere – com a consciência da personalidade­alma. E isto não

pode ser feito somente por leituras.

Para conseguir essa integração, o místico rosacruz tem de estar

envolvido e ativo no mundo do dia a dia . As maneiras de fazer isso são

diversas, mas há um fio comum: seja como for que eles se envolvam, os

rosacruzes estão sempre procurando perceber como princípios cósmicos

atuam na vida humana e estão sempre buscando maneiras de aplicar

princípios cósmicos a serviço de Deus e da humanidade.


125

O sistema rosacruz não é apenas um jogo intelectual; há também

elementos experimentais e emocionais. Você não pode esperar que as

monografias façam tudo; elas orientam e você aplica. Então você aprende. E,

todo o tempo, você medita, lançando a base de uma poderosa transformação

de consciência. Não há respostas fáceis, fórmulas simples, nem carma

instantâneo – só trabalho, persistente harmonização e paciência.

BUSCANDO REVELAÇÕES NA VIDA

Em lugar de buscar revelações nas monografias, tente usá­las para

encontrar revelações na vida – por exemplo, nos assuntos que você está

estudando na escola. Isto pode ser feito por estudo e meditação. Muitos

assuntos estudados nas faculdades estão baseados num paradigma

totalmente materialístico e racionalístico. Se você conseguir aprender a

encarar esses mesmos assuntos como um místico, vai achar mais fácil

romper com os velhos paradigmas e perceber coisas que seus colegas e

professores provavelmente perderam. Isto lhe dará um ponto de vista mais

completo – mais holístico – sobre todos os tipos de assuntos.

O Frater pergunta por que há tanta ciência nas monografias. É

porque a ciência está envolvida com as leis da natureza tais como se

manifestam no mundo material.


126

Não estou seguro de que respondi suas perguntas ou de que tratei

realmente daquilo que o preocupa, mas com certeza espero que isso tenha

lhe dado algumas idéias para reflexão”.

Neste ponto, o Frater Adrião S ilva Araújo, representante de

vendas, 40 anos, 15 de rosacruz, entrou na discussão assim:

“Frater André Lima, também para mim as lições de neófito

pareciam estar apresentando idéias bem básicas, bem comuns mesmo. Mas

sei que os ensinamentos mais avançados podem ser encontrados nos

primeiros Graus, de um modo um tanto velado. Além de eles cobrirem

tópicos semelhantes aos Graus de Templo, apresentam sugestões e idéias

que, se entendidas e seguidas, podem levar o neófito a muitas conclusões

interessantes.

O Frater disse que as lições nos preparam para a apresentação do

arcano. Bem, se você está em busca de segredos arcanos, acho que os está

procurando no lugar errado. A Ordem apresenta o misticismo como um

caminho natural e compreensível. O conhecimento tradicional é

apresentado pouco a pouco ao longo dos Graus, o que deixa o estudante

amadurecer à medida que segue esse caminho. Esse amadurecimento é sutil


127

e pode não ser prontamente evidente para o estudante, mas virá o dia em

que ele poderá olhar para trás e perceber o quanto progrediu.

O que posso lhe dizer é que, agora que estou na Ordem há alguns

anos, sinto que tenho muito melhor compreensão do Cósmico e do

misticismo do que tinha quando comecei. Isto não resultou de eu ter

aprendido algum segredo especial, mas de ser um estudante rosacruz

tentando aprender essas coisas semana após semana”

O Frater Luter Martins Vaz, analista de sistemas, toma,

então, a palavra:

“Eu também tenho vinte e cinco anos e já andei por vários outros

caminhos e pratiquei magia. Sou membro da AMORC desde 1994 e,

recentemente, estive me fazendo as mesmas perguntas: por que o progresso

lento e por que tanta ciência?

Obviamente, ambos estivemos – e ainda estamos – buscando algo.

Eu estudava e praticava magia pelo PODER. Mas, desde que entrei na

AMORC, descobri algo: a senda rosacruz nada tem a ver com o controle de

forças e com mudar o seu destino de modo que agrade ao seu ego; tem a ver

com dominar a sua vida.


128

CONTROLE x DOMÍNIO

Meu parecer é o seguinte: acho que magia e muito do fascínio pelo

ocultismo são uma questão de controle; controle de outras pessoas, controle

da vida, etc., ao passo que o rosacrucianismo é uma questão de DOMÍNIO

DO EGO. Na Ordem aprendemos como funcionam as forças e as leis

cósmicas.

Para encerrar, recomendo que você medite sobre o ego e suas

ciladas. Por que? Minha experiência indica que o ego pode bloquear nossa

evolução na senda”.

A S oror Iara de Melo Ferraz, 53 anos, 22 na Ordem, também

contribui com suas opiniões:

“Frater André Lima, você este debate ao levantar algumas questões

importantes e expressar algumas preocupações válidas como novo membro

da Ordem.

Você disse que começou a estudar a filosofia rosacruz para crescer –

‘para me tornar mais do que sou’. Pois bem, persista e você vai conseguir

isso!
129

Disse que quer ‘aprender a respeito da verdade e do caminho da

luz’. Mais uma vez, persista que vai chegar lá!

Quanto à sua preocupação por haver tanta ciência nos

ensinamentos, creio que as monografias enfatizam que os rosacruzes

conseguem resultados usando leis naturais – e não algum tipo de

sobrenaturalismo.

Entre os rosacruzes que conheci, só consigo pensar em um que não

entrou para a Ordem após ter explorado muitos outros caminhos. A

experiência de achar as primeiras monografias ‘muito elementares’ é

comum. É também comum que o rosacruz adiantado revise as primeiras

monografias e fique espantado com o que não percebeu quando as leu.

IMPORTÂNCIA DOS EXERCÍCIOS

Independentemente disso, muitos de nossos Fratres e Sorores têm

salientado a necessidade de desenvolvimento lento e contínuo. Estar

‘pronto’ não é só uma questão de ter todo o conhecimento de base e estar

familiarizado com todas as definições. O que é criticamente importante é

fazer persistente e regularmente os vários exercícios para desenvolver certos

centros dos corpos físico e psíquico. Isto não pode ser feito do dia para a

noite ou, como disse alguém, durante um seminário de fim de semana.


130

As lições rosacruzes são um método ordenado, sistemático, para

desenvolvimento de maestria. Ninguém pode se tornar mestre de repente”.

Após mais alguns comentários de outros rosacruzes, nosso

jovem neófito, Frater André Lima, encerrou a discussão dizendo:

“Quero dar um grande abraço em todos vocês que participaram

deste debate. O que foi dito aqui realmente me ajudou a esclarecer algumas

coisas. Agora percebo que a Ordem Rosacruz ajudou a muitos de vocês e

que vocês encontraram satisfação na Ordem. Muito Obrigado e que o amor

e a luz do universo se infundam em cada um de vocês, enchendo seu ser de

modo que possam prosseguir com a Grande Obra”.

Considerações Finais
131

Tendo por lema “A maior tolerância na mais estrita

independência”, a Ordem Rosacruz não se opõe às convicções e

práticas religiosas dos seus estudantes e recomenda que eles

reflitam sobre os ensinamentos, tirando suas próprias conclusões e,

na mais absoluta liberdade, rejeitem o que possa ferir suas

convicções pessoais. Assim, o rosacruz não é um livre­pensador,

mas um pensador livre.

Nessa bela viagem ao mundo dos rosacruzes, foi possível,

ainda que de forma modesta, entender alguns meandros que

envolvem o verbo rosacruciar. Rosacruciar é, antes de mais nada,

buscar a perfeição, em todos os sentidos, com sinceridade e sem o

menor vestígio de fanatismo.

No dia a dia, aplicando regularmente os conhecimentos de

desenvolvimento e harmonização material e espiritual – sons

vocálicos, mentalizações, meditação, uso místico da respiração, ... ­

adquiridos nas monografias, os membros da AMORC, cada um à

sua maneira, acreditam conseguir bons resultados.

Os rosacruzes, através do seu discurso, provam que fazem

parte do grupo de pessoas que decidiram fazer alguma coisa para


132

realizarem seus desejos e aspirações. Sentem que possivelmente,

através do estudo e da prática, e aprendendo a utilizar todas as

forças ao seu alcance, serão capazes de fazer com que algumas de

suas esperanças cheguem realmente a se concretizar. Certamente,

isso não significa que quem se afilia à Ordem Rosacruz possa de

repente e dramaticamente mudar sua vida e suas circunstâncias,

tornando­se um ser iluminado, perfeito. Não se trata de magia. Os

membros aprendem a dirigir seus esforços e sua consciência a um

anseio muito acalentado, que lentamente chega a se converter na

certeza de alcançar certo grau de paz interior que, junto com a

felicidade, é provavelmente o mais grandioso bem possível ao ser

humano.

Sobre a utilização das técnicas da linguagem dialógica

interativa para escrever essa reportagem, foi confirmado que há

meios de se fazer jornalismo sem descaracterizar o seu objeto, o seu

objetivo: o ser humano. É possível ser jornalista e estar imbuído de

emoção e paixão, sem prejuízo do relato dos fatos. É viável trazer

para o texto o indivíduo que constrói a história.

Nesse sentido, não é preciso explicar a Ordem Rosacruz. A

serenidade, as certezas e crenças de seus membros já são, por si só, a


133

representação de todos os sentidos. O seu modo de falar, agir,

pensar, expressam a profundidade dos seus conhecimentos, a

riqueza dos seus valores. Não existem signos que revelem com

maior clareza a identidade da AMORC do que o discurso de quem

faz parte desta. A completude da Ordem não poderia ser maculada

pela adequação a uma lógica que não atende às esferas da crença, da

fé e de toda a subjetividade humana.

Espera­se que, através dessa tentativa de revelar a

necessidade de humanização do discurso jornalístico, possa vir

alguma contribuição às reflexões acerca da possibilidade de

aproveitamento dessas janelas que se nos abrem (aos estudantes de

Jornalismo), para que, em atendimento às exigências acadêmicas

para a conclusão do curso, possam ser realizados Projetos

Experimentais que atendam a outros ramos de atuação do

profissional dessa área. Dessa forma, seria interessante, ainda,

concorrer com a solidificação de um discurso jornalístico que se

coadune com a interatividade inerente ao relacionamento humano,

característica, ao meu ver, emergente e inevitável a uma nova ordem

comunicacional.
134 

BIBLIOGRAFIA 

LEWIS, H. Spencer 
Ordem Rosacruz em perguntas e respostas. Curitiba: Ordem Rosacruz, 
AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 1998. 
Manual Rosacruz. Curitiba: Ordem Rosacruz, AMORC – Grande Loja da 
Jurisdição de Língua Portuguesa, 1998. 
A Vida Mística de Jesus. Curitiba: Ordem  Rosacruz, AMORC –  Grande 
Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 1998. 
As Doutrinas Secretas de Jesus. Curitiba: Ordem Rosacruz, AMORC – 
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 1998. 

LIMA, Edvaldo Pereira 
Páginas  Ampliadas  –  O  Livro­reportagem  como  extensão  do 
jornalismo e da literatura. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993. 

MEDINA, Cremilda 
Entrevista – o diálogo possível. São Paulo, Ática, 1986.
135 

Sob o signo do diálogo. Série São Paulo de Perfil, CJE/ECA/USP, São 
Paulo, 1994. 
Guia  das  Almas.  Série  São  Paulo  de  Perfil,  CJE/ECA/USP,  São  Paulo, 
1993. 

PARUCKER, Charles Vega 
O  Rosacruz.  Curitiba:  Ordem  Rosacruz,  AMORC  –  Grande  Loja  da 
Jurisdição de Língua portuguesa, 1999. 
AMORC­GLP.  Curitiba:  Ordem  Rosacruz,  AMORC  –  Grande  Loja  da 
Jurisdição de Língua portuguesa, 1999. 
O  Domínio  da  Vida.  Curitiba:  Ordem  Rosacruz,  AMORC  –  Grande  Loja 
da Jurisdição de Língua portuguesa, 1999. 
AMORC­Cultural.  Curitiba:  Ordem  Rosacruz,  AMORC  –  Grande  Loja  da 
Jurisdição de Língua portuguesa, 1999. 

ANEXO I

Endereços da AMORC 

­ SEDE NACIONAL ­ 

GRANDE LOJA DA JURISDIÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA 
­ Caixa Postal: 307, CEP: 80001­970, Curitiba­PR 

­ FILIAIS DA BAHIA ­ 

LOJA ROSACRUZ DE FEIRA DE SANTANA ­ B A 
­ Rua São Francisco, 10 ­ Santa Mônica
136 

LOJA ROSACRUZ DE ITABUNA ­ BA 
­ Rua Dinamarca, 75 ­ São Judas Tadeu 
LOJAS ROSACRUZES DE SALVADOR ­ BA 
­ Rua Boa Ventura Andrade, 12 – Boca do Rio (Loja Salvador, AMORC) 
­ Rua Ana M. Bitencourt, 20 ­ São Caetano (Loja Mares, AMORC) 
CAPÍTULO ROSACRUZ DE ALAGOINHAS ­ BA 
­ Av. Ayrton Senna, s/n. Caixa Postal 28. CEP 48100­000 
CAPÍTULO ROSACRUZ VITÓRIA DA CONQUISTA ­ BA 
­ Av. Rosacruz, 753. Caixa Postal 130. CEP 45100­000 
PRONAOS ROSACRUZ ILHÉUS ­ B A 
­ Rua Carneiro da Rocha, 174. Caixa Postal 198. CEP 45660­000 
PRONAOS ROSACRUZ NAZARÉ ­ BA 
­ Rua Conselheiro Saraiva, 10. Caixa Postal 04. CEP 44400­000 
PRONAOS ROSACRUZ SANTO ANTÔNIO DE JESUS ­ B A 
­ Rua Castro Alves, 322. Caixa Postal 21. CEP 44570­000 

ANEXO II

Perfil dos Rosacruzes Brasileiros 

Os  dados  seguintes  foram  obtidos  mediante  pesquisa  recente  realizada  pela  AMORC  nas 
principais regiões do Brasil, relativos ao seu quadro de membros. 

FAIXAS ETÁRIAS 

De 18 a 31 anos de idade ............................................................................ 45% 

De 32 a 46 anos de idade ............................................................................ 43% 

Maiores de 47 anos ..................................................................................... 12% 

ESCOLARIDADE
137 

Universitária ................................................................................................. 55% 

Ensino Médio ............................................................................................... 31% 

Ensino Fundamental .................................................................................... 14% 

SEXO 

Masculino ..................................................................................................... 62% 

Feminino ...................................................................................................... 38% 

ESTADO CIVIL 

Casados ....................................................................................................... 46% 

Solteiros ....................................................................................................... 41% 

Outros .......................................................................................................... 13% 

ANEXO III

Fotos

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