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Por: Dr. Gabriele Sapio – Doutorando em Direito pela Universidad Del Museo Social
Argentino.
RESUMO
O presente trabalho sintetiza a relevância bem como o papel cruciais representados pela
CF de 1988 e pela Lei n. 9394/96 junto á legislação educacional brasileira, em razão de
suas notáveis abrangência e objetividade no que se refere á necessidade da garantia do
direito público subjetivo á educação bem como ao aperfeiçoamento e melhoria da
qualidade do ensino, das condições e pressupostos sociais mínimos para efeitos de se
proporcionar um ensino adequado aos estudantes brasileiros. Além disso, ambos os
documentos legais obtiveram significativos avanços também relativamente aos meios de
garantia constitucionais que visam proteger juridicamente o direito á educação e
possibilitaram uma ampliação das diversas modalidades de educação existentes no Brasil.
Tudo isso faz da CF de 1988 e da Lei n. 9394/96 instrumentos legais de tal forma
fundamentais a se tornarem nos esteios principais da atual legislação educacional
nacional, e é justamente isso que visamos demonstrar nesse trabalho.
1 – INTRODUÇÃO
Com base em tudo isso, nosso objetivo, no decorrer do referido trabalho, será o de
demonstrar que tanto a CF de 1988 como a Lei n. 9394/96, a nova LDB, em razão de sua
importância jurídica e tecno-legal para efeitos de se garantir o direito subjetivo á educação
ás mais diversas camadas da sociedade brasileira bem como pela definição de um sistema
educacional centrado no progressismo social se constituem nos pilares básicos da atual
legislação nacional em matéria educacional. E, além do que, visaremos também
conscientizar os meios acadêmico e profissionais do Direito brasileiros no sentido de
relegarem maior importância aos estudos e pesquisas efetuadas sobre matéria educacional
na legislação que trata dessa matéria específica, tendo-se em vista a sua relevância
crescente no âmbito das modernas ciências jurídicas.
2.1 – A CF DE 1988
A constituição de 1988, tal como é do conhecimento geral nos meios acadêmico e jurídico
especializados, isto é dos maiores representantes da academia e do constitucionalismo
brasileiros, é que a mesma se constitui em uma das cartas constitucionais mais adiantadas
e progressistas do mundo em matéria de proteção dos direitos sociais fundamentais
coletivos e individuais. Sendo que a constituição de 1988, mais do que todas as outras
cartas constitucionais anteriores á mesma se destacou pela consagração dos direitos
sociais de forma tal a inovar mediante a consolidação do garantismo constitucional,
representado por sua vez pela criação de novos meios de proteção constitucional dessa
categoria de direitos em especial bem como reforçou oportunamente outros.
Com base nesse conjunto de análises efetuadas podemos claramente depreender que a
constituição de 1988 oferece aos cidadãos brasileiros um sólido e eficaz aparato de
garantias constitucionais que conferem aos mesmas amplas faculdades procedimentais no
sentido específico que possibilitam a plena exigibilidade da prestação estatal desse
fundamental direito social por parte dos mais diversos segmentos da sociedade brasileira.
Essa realidade se constitui por si só em um grande estímulo á elaboração,
desenvolvimento e evolução de legislação em matéria educacional no Brasil, conforme
será demonstrado a seguir no decorrer do presente trabalho.
Á esse quadro estritamente jurídico positivo tão favorável deve-se acrescentar o evidente
fato de que se somam as necessidades sociais e econômicas do país que vem por sua vez
a influenciar decisivamente na elaboração de normas que tenham por objeto regulamentar
matéria educacional, o que tem acarretado cada vez mais na necessidade de se legislar
sobre a educação. De fato, a conjuntura nacional na dimensão sócio-econômica tem tido
uma influência crescente num ritmo cada vez mais acelerado no sentido específico de
atender ás necessidades e anseios de da maioria dos estratos da sociedade brasileira, a
qual como forma de resolver tais graves questões e problemáticas de ordem social e
econômica bem como para atender ás exigências de um mercado de trabalho cada vez
mais complexo e competitivo tem demandado por um maior incremento na qualificação
profissional dos agentes e atores produtivos no âmbito nacional, o que por sua vez se
constitui em mais uma razão para se criarem leis em matéria educacional.
É evidente, portanto, que a constituição de 1988 dotou o direito social público subjetivo
á educação de um significativo e até então inédito na história constitucional brasileira
arcabouço normativo em termos de garantismo positivo vindo a fazer do referido direito
um dos sustentáculos principais de seu avanço jurídico e tecno-legal em matéria de
proteção aos direitos sociais. Efetivamente, esse pioneirismo está em grande parte
creditado ao fato de que a constituição brasileira de 1988 dedicou toda uma seção ao
direito social á educação, sendo a mesma integrada por nada menos do que dez artigos
que tratam exclusivamente sobre matéria educacional, ou seja do Art. 205 ao Art. 214 do
seu texto constitucional.
É inegável, portanto, que a constituição de 1988 mais do que qualquer outra constituição
que a tenha precedido veio a contemplar a educação e seu respectivo direito público
subjetivo de uma forma completa e inovadora, ao inserir em seu bojo textual dez artigos
e um capítulo exclusivamente dedicado á educação. Dentro desses dez artigos estão
determinadas as mais diversas disposições acerca da questão educacional, sendo que faz-
se necessário destacar para efeitos de se proporcionar uma adequada compreensão de sua
analisar algumas delas de forma destacada e objetiva.
ao estabelecer que a educação seja direito de todos, a Constituição está dizendo que
ninguém pode ser excluído dela, ninguém pode ficar fora da escola e ao desabrigo das
demais instituições e instrumentos que devem promover a educação do povo
(HERKENHOFF, 2001, p. 219).
Por conseguinte o Art. 205 se constitui em um dos artigos básicos para que se possa
compreender bem como determinar o teor, a natureza e o alcance da efetividade do direito
á educação na dimensão jurídica constitucional positiva brasileira. De fato, o referido
dispositivo constitucional se constitui em uma ulterior comprovação do elevado grau de
importância que goza o direito social á educação na constituição de 1988, o qual não tem
precedentes em nenhuma outra carta constitucional anterior, numa demonstração do alto
grau de consciência cívica e social dos constituintes á época de sua elaboração, vindo a
mesma a ser um grande avanço em matéria de proteção constitucional o que somente
reafirma o alto grau de progressismo social da carta constitucional de 1988.
De fato, o Art. 205 da atual carta constitucional ao dispor que a educação é dever do
Estado estabelece claramente que o governo foi imbuído da obrigação de manter as
escolas públicas. Esse dispositivo constitucional, por conseguinte, possibilita a plena
prestação do serviço educacional aos cidadãos pelo poder estatal de forma tal a implicar
logicamente na existência da obrigação de o Estado zelar pela escola pública para que ela
possa cumprir essa valiosa disposição constitucional. Além disso, não menos importante
o Art. 205 também determina que a educação se constitui também em dever da família, o
que mais uma vez nos possibilita reforçar o caráter progressista da constituição de 1988,
ao fazer da mesma um valor positivado dentro da sociedade brasileiro até o último degrau
em matéria de positivação constitucional efetiva.
Outro dispositivo constitucional que pela sua notável relevância para efeitos de
proporcionarmos uma adequada compreensão no que diz respeito ao caráter progressista
da carta constitucional de 1988 relativamente á proteção constitucional do direito social
público subjetivo á educação está consubstanciado no Art. 206 da referida carta
constitucional, no qual pudemos claramente o seu fundamental papel no que tange á
garantia da plena e irrestrita garantia do direito á educação no Brasil hodierno. De fato, o
referido dispositivo constitucional se destaca pelo fato de avançar no plano da efetivação
da igualdade de todos os componentes da sociedade brasileira perante a lei, cuja
importância poderá ser constatada quando de sua efetiva aplicação na prática já que uma
das formas mais conhecidas de exclusão já não se verifica no caminho até a escola mas
sim na própria ação da escola, que conduz como sistema ao abandono precoce da escola
(OLIVEIRA, 2001, pp. 24 e 25).
Devemos da mesma forma frisar que em seu inciso II o referido dispositivo constitucional
retoma um aspecto relevante da carta constitucional de 1934, no momento em que o
mesmo aponta a perspectiva da progressiva extensão da gratuidade bem como da
obrigatoriedade do ensino médio, sendo que este dispositivo em especial redimensiona o
debate acerca desse grau de ensino em especial para além da polaridade ensino
propedêutico versus ensino profissional, sendo que a idéia central desse dispositivo
específico é a de incorporar o ensino médio ao período de gratuidade e obrigatoriedade,
isto é, a de converter este nível de ensino em parte da educação obrigatória (OLIVEIRA,
2001, p. 27). Portanto, tal como podemos observar a importância desse inciso do referido
dispositivo constitucional é de fundamental relevância para efeitos de se proporcionar
pelos meios legais a tão necessária e cada vez mais requerida democratização das
oportunidades educacionais no país, o que é perfeitamente compreensível a partir de uma
análise atenta e detida do mesmo.
Ainda relativamente ao Art. 208 merecem destacada atenção pela sua relevância
relativamente a seu peso e significado dentro do âmbito da atual legislação educacional
além da influência positiva que tiveram sobre essa última, também os seus incisos III, IV,
V, VI e VII considerando-se a sua evidente importância para a educação nacional. Ao
principiarmos essa importante análise, começaremos por focalizar o inciso III, o qual
muito oportuna e inteligentemente dispõe acerca da necessidade de atendimento
especializado aos portadores de deficiência, com preferência na rede regular de ensino,
vindo o mesmo a formalizar a obrigação do Estado bem como especifica uma orientação
mais genérica em que prioriza o seu respectivo atendimento na rede regular de ensino.
Já relativamente ao inciso IV do Art. 208 devemos destacar que o mesmo dispôs que se
proporcione atendimento em creche e pré-escola ás crianças de zero a seis anos de idade,
além de estender o direito á educação a essa faixa etária, abrindo dessa forma a
possibilidade considerá-la parte do conceito de educação básica, sendo que com isso
obteve-se a vantagem de incluir este nível de ensino em especial fato esse que exigirá a
efetuação de uma regulamentação bem como de uma normalização no plano da legislação
educacional complementar. Trata-se, portanto, de um dispositivo de significativa
relevância social, uma vez que possibilita a criação de uma rede de assistência social
eficaz sobretudo aos pais carentes sem condições de proporcionarem um auxílio
adequado ás crianças nessa faixa etária em especial, vindo a se constituir em um válido
meio de inclusão social além de obviamente ampliar significativamente as oportunidades
educacionais da infância brasileira ao contemplar esse grau de ensino no sistema
educacional oficial, cuja respectiva regulamentação dependerá da criação de leis
educacionais complementares, o que também de certa forma influiu positivamente na
evolução da legislação educacional nacional.
Devemos, ainda no que concerne ao Art. 208, destacar o inciso V, cujas disposições são
de fundamental relevância não somente para a democratização das oportunidades
educacionais mas também para o incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico
nacional uma vez que objetivamente dispõe e confere o acesso aos níveis mais elevados
do ensino, da pesquisa e da criação artística, consoante a capacidade individual dos
beneficiários. Faz-se necessário frisar, no entanto, que este dispositivo legal é
predominantemente um reflexo de uma declaração de intenções, cujo objetivo seria o de
especificar a idéia liberal de igualdade de oportunidades, não sendo portanto um
dispositivo propriamente dito com implicações objetivas. Ainda assim, o referido
dispositivo constitucional tem o mérito de contribuir ao mesmo tempo para ampliar o
acesso dos mais diversos componentes da sociedade brasileira aos diferentes graus de
ensino que integram o sistema de ensino nacional bem como de estimular ainda que de
forma indireta o desenvolvimento da ciência em âmbito nacional.
Já com relação ao inciso VI do Art. 208, devemos oportunamente ressaltar que o mesmo
tem sua parcela de contribuição na ampliação das oportunidades educacionais sobretudo
no que diz respeito á categoria dos trabalhadores brasileiros os quais adquiriram a
possibilidade de poderem conciliar as suas atividades laborais com cursos que
envolvessem os mais diversos graus de ensino, além da possibilidade de poderem
freqüentar cursos técnicos e profissionalizantes, que ao serem ofertados no horário
noturno não obstam as suas atividades laborais diárias. De fato, o inciso VI do referido
dispositivo constitucional ao expressamente dispor que a oferta de ensino noturno regular,
adequado ás condições de cada um, favorece a viabilização do acesso efetivo de muitos
trabalhadores que por razoes óbvias não podem freqüentar os cursos nos turnos diurno e
noturno contribuindo dessa forma para uma mais ampla democratização das
oportunidades educacionais no Brasil hodierno.
E, enfim, no que tange ao inciso VII do Art. 208, devemos necessariamente destacar que
se trata de um dispositivo de grande relevância social e até mesmo pedagógica para um
país emergente com as dimensões e as características do Brasil, tendo-se em vista as mais
diversas necessidades e problemáticas de ordem econômica e social com as quais o país
se depara na atualidade. Nesse sentido, o inciso VII do Art. 208 da carta constitucional
de 1988 possui um notável potencial resolutivo no que tange aos problemas de natureza
econômica e social que se constituem na razão principal de um significativo número de
problemáticas e questões educacionais que muito obstam o desenvolvimento nacional,
pelo simples fato de que o mesmo ao objetivamente dispor acerca do atendimento ao
educando, no ensino fundamental, mediante programas suplementares de material
didático escolar, transporte, alimentação e assistência á saúde. Por conseguinte, constitui-
se o referido dispositivo legal em um crucial meio de inclusão social, uma vez que inclui
serviços fundamentais tais como alimentação e assistência á saúde no bojo intrínseco das
obrigações estatais relativas á garantia efetiva do direito á educação na prática, tendo-se
em vista o reconhecido fato de que para largos estratos da população estudantil brasileira
essas modalidades de serviços se constituem em requisitos essenciais para assegurar a
freqüência dos mesmos á escola, vindo com isso a ressaltar mais uma vez a sua relevância
tanto no âmbito educacional como social.
Outro dispositivo constitucional da carta de 1988 que relativamente á matéria educacional
se reveste de crucial importância para a compreensão do grau de comprometimento do
poder público estatal a esse respeito atualmente vem a ser o seu Art. 211, o qual se acha
inserido no Título – Da Ordem Social – da referida carta constitucional, no qual foram
determinadas as competências nacionais das diversas entidades federadas que compõem
a federação brasileira no âmbito estrito da educação. Sendo que em conformidade com o
disposto no referido dispositivo constitucional essa competência acha-se distribuída entre
três sistemas educacionais distintos, isto é: o federal, o estadual e o municipal, sendo que
cabe á União, não somente a organização do sistema federal de ensino (mais ensino
superior e técnico), como também uma ação subjetiva bem como de cooperação técnica
e financeira com os outros sistemas. Já relativamente aos municípios, devemos destacar
que compete aos mesmos efetuar uma atuação prioritária nos níveis de ensino
fundamental e infantil, enquanto os estados responsabilizar-se-ão predominantemente dos
graus de ensino médio e fundamental.
Por outro lado, devemos também frisar o relevante fato de que na carta constitucional de
1988 a educação se constitui em um bem jurídico, sobretudo em razão do fato de que
somente mediante a educação se constrói uma sociedade efetivamente livre, justa,
próspera e solidária e somente por meio dela que se assegura de fato desenvolvimento
econômico e social nacional. Esse contexto jurídico positivo dessa forma configurado faz
com que portanto se encontre em perfeita consonância com o que determina o Art. 3,
dispositivo constitucional em que se acham os objetivos fundamentais consagrados e
almejados pelo forma de governo escolhida pelo Brasil. Por conseguinte, a educação em
sua qualidade de direito público subjetivo pode ser garantida bem como protegida em
razão do fato de a mesma se constituir em um bem jurídico, individual e coletivo detentora
da força de direito de ação, o que é de crucial relevância para efeitos de se assegurar a
plena e irrestrita garantia constitucional ao direito social á educação para os mais diversos
segmentos da sociedade brasileira.
Além disso, devemos também destacar, como não poderia deixar de ser, a importância
das garantias constitucionais previstas e disponibilizadas aos cidadãos brasileiros de
forma tal a poderem tornar efetivo plenamente o gozo do seu direito á educação, sendo
que nesse aspecto em especial a carta constitucional de 1988 tem avançado notavelmente
em relação ás outras constituições que a precederam historicamente. Essa realidade pode
ser demonstrada ao atentarmos dentre esses meios de garantia constitucional consagrados
pela constituição de 1988 encontra-se o mandado de segurança, o qual se constitui em um
poderoso instrumento de destaque no âmbito do moderno direito educacional, uma vez
que o mesmo pode ser utilizado de forma ampla e abrangente até mesmo na forma de
mandado de segurança coletivo, vindo dessa forma a ser empregado em prol da escola,
da atividade educativa e da vida acadêmica, protegendo assim direito líquido e certo,
demonstrado imediatamente e não uma simples expectativa de direito.
De fato, esse contexto legal introduzido a partir da nova LDB se acha notavelmente
relacionado aos seus avanços e conquistas em matéria social em decorrência de sua
concepção essencialmente humanista da questão educacional nacional o que pode ser
confirmado pelo evidente fato de que seria injusto afirmar que a lei afinal em vigor não
apresenta, neste aspecto, um caráter humanista social. A versão do Substitutivo da
Câmara, porém, apresentava-o de forma muito mais consistente e vigorosa e, por
conseqüência, mais positivamente comprometedora de todas as partes envolvidas na
educação nacional. Ganhou-se em concisão e perdeu-se em espírito (AGUIAR, 2003, p.
33).
Paralelamente á isso, devemos em nossa análise da LDB necessariamente frisar pela sua
importância e significação intrínsecas notáveis para a caracterização objetiva do referido
diploma legal, o fato de que a mesma consagrou e destacou o caráter eminentemente
social da educação, ao estabelecer com isso um marco de referência para o enunciado de
suas finalidades, o que por si só se constitui em um aspecto pioneiro e inovador frente á
LDB anterior. Não há, portanto, como negar o fato de que a nova LDB representou um
autêntico divisor de águas na história da educação brasileira, pelo simples fato de que o
referido diploma legal veio a contemplar a mesma na essência de sua natureza intrínseca,
que é o seu teor social em uma constante no decorrer de todo o seu texto legal como
parâmetro indicador dos objetivos e metas a serem alcançados nesse âmbito em especial,
fazendo inexoravelmente com que a educação fosse considerada e normatizada sempre
em função das finalidades sociais ás quais se destinava a atingir, o que se configura
claramente em um significativo passo a frente na história jurídica nacional em matéria
educacional.
Além disso, devemos frisar o relevante fato de que a nova LDB se caracteriza por
apresentar uma versão extremamente sintética dos princípios e das finalidades da
educação nacional, o que efetivamente se constata em seu Art. 2, em que a mesma
essencialmente repete o que já fora disposto no bojo textual da carta constitucional de
1988, cujo dispositivo tratava acerca do desenvolvimento das potencialidades do
educando na qualidade de elemento de auto-realização bem como da qualificação e da
habilitação para o trabalho e do preparo para o exercício da cidadania plena (AGUIAR,
2003, p. 31). Sendo que nesse aspecto específico de nossa análise legal, a nova LDB
inovou se comparada á Lei n. 4.024 ao inserir em seu bojo textual uma expressão
relacionada aos ideais de solidariedade e de liberdade humana.
Essa realidade, pode ser clara e facilmente demonstrada pelo relevante fato de que os
grandes eixos estruturantes a Lei n. 9394/96 estão objetivamente determinados e
identificados por definições de suma importância, tais como o conceito abrangente de
educação, e, muito importante, a vinculação da educação com o universo do trabalho e
com as diversas práticas sociais, além da pluralidade de formas de acesso aos diversos
graus de ensino, como forma de ensejar o cumprimento da obrigatoriedade de ensino bem
como a avaliação da qualidade de ensino pelo Poder Público. Devemos da mesma forma
destacar, que a nova LDB também se assenta na definição das responsabilidades da
União, dos Estados, dos Municípios, das escolas e dos docentes bem como no resgate da
natureza e da finalidade da educação profissional, na consolidação das fontes e dos canais
de financiamento da educação, incluído a determinação dos prazos de repasses de
recursos para Estados e Municípios. E, enfim, a Lei n. 9394/96 também se assenta na
definição extremamente relevante para a educação tecnológica básica nacional
representada pela reformulação bem como pela reconfiguração de toda a base curricular
tanto da educação básica em seu conjunto como do ensino médio em especial.
Ainda relativamente ao Art. 1 da Lei n. 9394/96, devemos destacar dada a sua importância
para efeitos de análise jurídica da mesma o seu parágrafo 1, com base no qual podemos
depreender que o mesmo consagrou e definiu uma modalidade específica de educação,
que vem a ser a educação escolar, a qual se caracteriza pelo fato de ser promovida
predominantemente em instituições específicas designadas como sendo instituições
educativas, tais como escolas colégios, universidades, faculdades além de outras. Ao
passo que no seu parágrafo 2, da mesma forma relevante para que se possa proporcionar
uma adequada compreensão das quatro definições conceptuais estruturantes do guia de
referência da escola, em sua qualidade de motor principal do processo educativo, ou seja
a prática social, o mundo do trabalho, os movimentos sociais e as manifestações sociais,
as quais por sua vez podem nos transmitir uma idéia aproximada acerca do alto grau de
abrangência intrínseco do conceito de educação contemplado pela LDB atualmente em
vigor.
Outro dispositivo relevante da Lei n. 9394/96, para efeitos de análise jurídica e tecno-
legal junto ao bojo intrínseco da mesma, está consubstanciado em seu Art. 3, no qual
determinou-se que o ensino fundamenta-se em determinados princípios, os quais se
constituem na orientação genérica e básica a ser seguida pelo sistema educacional
brasileiro como um todo, em conformidade com o disposto no mesmo. No entanto, tendo-
se em vista que de acordo com o Art. 205 da carta constitucional de 1988 a educação se
constitui no direito de todos bem como no dever do Estado, é que faz-se inevitavelmente
necessário que, em razão do fato de a mesma ser oferecida sob a forma de ensino
sistematizado, esteja orientada por princípios que estejam por sua vez imbuídos dos
valores bem como dos significados essenciais da organização escolar moderna. Devemos
igualmente asseverar, nesse aspecto em especial, que em razão do fato de todos serem
iguais perante a lei, não há como o ensino oferecido ser diferenciado na intenção
específica de cada disciplina.
Logo em seguida, devemos frisar que no que tange ao inciso II do referido dispositivo
legal da LDB atualmente em vigor, ou seja o relativo á liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar bem como de divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber se constitui não
somente numa norma constitucional inviolável mas também num princípio fecundador
do processo de aprendizagem com a necessária autonomia, o que de suma relevância uma
vez que uma escola efetivamente democrática deve formar o seu corpo discente para a
autonomia. Já no que tange ao princípio contemplado no inciso III, isto é o relativo ao
fundamental pressuposto do pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, se
constitui num valor extremamente relevante para o aperfeiçoamento da educação nacional
pelo simples fato de que o mesmo implica em afirmarmos que o espaço escolar bem como
o ensino devem ser dinamizados e flexibilizados a partir da concepção da heterogeneidade
cultural.
O inciso VII do referido dispositivo legal da nova LDB também se reveste de notável
relevância para efeitos de se conferir ao sistema educacional brasileiro um adequado grau
de eficácia bem como padrão de qualidade do ensino, em razão do fato de o mesmo
consagrar o princípio da valorização do profissional da educação escolar. Esse princípio
se constitui em um aspecto muito debatido e freqüente nas discussões efetuadas em
matéria educacional, ainda que seja de limitado alcance no tocante á questão específica
de sua operacionalização. Trata-se, portanto, de um princípio de um valor notavelmente
qualitativo no que tange á questão da real eficácia de um moderno sistema educacional
propriamente dito, uma vez que a valorização do profissional da educação se constitui no
esteio do mesmo tendo-se em vista que entram em seu bojo intrínseco também aspectos
fundamentais relacionados á qualificação e formação adequadas do profissional da
educação, o que é facilmente compreensível pelo simples fato de que um educador
contemplado em todos as suas necessidades poderá mais facil e flexivelmente aprimorar
o seu grau de qualificação e habilitação profissionais. Essa realidade faz do mesmo um
crucial dispositivo legal para efeitos de se garantir a efetiva eficácia do sistema
educacional nacional, vindo a se constituir em mais um significativo avanço da nova LDB
no campo da melhoria do quadro orgânico e profissional do sistema educacional
brasileiro.
O inciso IX do Art. 3 da nova LDB, por outro lado, ao refletir uma preocupação
essencialmente de ordem qualitativa por parte dos formuladores especializados em
matéria legal educacional, consagrou o crucial pressuposto axiológico consubstanciado
na garantia do padrão de qualidade, o qual está por sua vez assentado no princípio da
equidade bem como da diversidade que não pode ser entendido como sendo um critério
abstrato de oferta de ensino. Sendo que a esse respeito em especial faz-se urgentemente
necessário desocultar os parâmetros objetivos de um ensino de qualidade propriamente
dito, além do fato de o princípio inicial desse processo em especial está consubstanciado
pela visualização dos fundamentos éticos do ensino em particular. Devemos igualmente
assinalar que tais fundamentos não se restringem tão somente á eficácia bem como á
eficiência administrativas, mas sim abrange também a recolocação em discussão da
problemática das demandas sociais frente ao conhecimento escolar formal atualmente
abrangido pelo conteúdo didático oficial. Além disso, dentro desse aspecto legal de
análise em foco, devemos igualmente frisar que professores bem qualificados, preparados
e bem remunerados, escolas e unidades escolares oportunamente equipadas, salas de aula
organizadas se constituem em pressupostos e requisitos essenciais para a garantia de um
padrão de qualidade institucional aceitável, contudo é no currículo bem como na eleição
das disciplinas, na integração dos conteúdos, na formulação dos objetivos e metas de cada
programa e na forma da edificação do processo de aprendizagem no dia a dia da sala de
aula que repercute e influi de fato o designado padrão de qualidade (CARNEIRO, 1998,
p. 39). Efetivamente o referido dispositivo legal é de crucial relevância para efeitos de
proporcionar ao corpo discente nacional uma educação de conteúdo e de qualidade, o que
faz com que novamente reafirmemos a notável relevância do inciso IX da Lei n. 9394/96
para o plano qualitativo da educação brasileira contemporânea.
E, enfim, relativamente ao inciso XI do referido dispositivo legal da nova LDB, devemos
frisar que se trata de uma disposição de suma importância no que tange ao plano das
relações laborais junto á hodierna sociedade brasileira, uma vez que o mesmo consagrou
objetiva e efetivamente o relevante princípio da vinculação entre a educação escolar, o
trabalho e as práticas sociais, as quais por sua vez possuem no currículo escolar, seu meio
natural de concretização efetiva. Sendo que esta relação reflete a própria concepção da
formação básica orientada no sentido específico da pedagogia moderna do processo do
aprender a aprender, sem o qual não se pode pensar positivamente relativamente á
existência da qualidade educativa nem do ensino de qualidade, os quais são de crucial
relevância para o bom desempenho de todo e qualquer sistema educacional moderno. No
entanto, nesta perspectiva deve-se primar por uma urgente transformação significativa da
pedagogia, de tal forma a inseri-la dentro do contexto mais amplo e moderno da dimensão
produtiva, realidade essa que este diploma legal consagra ao objetivamente preconizar
um ensino ativo enriquecido intrínseco do universo do trabalho e das atividades
produtivas e moldado pelos influxos transformadores das práticas sociais, sendo que para
efeitos de se atingir este objetivo faz-se inevitavelmente necessário que se substitua a
idéia de grade curricular pela de currículo ativo (CARNEIRO, 1998, p. 40).
Sua relevância é facilmente identificável, pelo simples fato em seu respectivo caput bem
como em sete de seus nove incisos, o Art. 4 da LDB traduz fielmente o disposto no Art.
208 da CF de 1988, o que confere ao mesmo um notável grau de importância jurídica.
Essa realidade, pode ser facilmente demonstrada ao assinalarmos o fato de que o inciso I
do Art. 4 da LDB tal como o inciso I do Art. 208 da CF de 1988 determina expressamente
que o poder público estatal deve garantir ensino fundamental, obrigatório e gratuito,
inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. No que tange a esse
crucial dispositivo legal, devemos assinalar que dois aspectos devem, pela sua
importância, ser necessariamente analisados, sendo que o primeiro deles determina que
se constitui num dever do Estado oferecer ensino fundamental gratuito para todos, ai
incluídos os que não tiveram a ele acesso na idade adequada, isto é o poder público estatal
tem a obrigação de oferecer, de forma gratuita, tanto o ensino fundamental para crianças
e jovens como o ensino supletivo destinado a beneficiar jovens, adultos e idosos que,
eventualmente, a ele não tiveram acesso na idade adequada (BRANDÃO, 2005, p. 28).
Outro dispositivo legal do referido artigo da LDB que merece destaque em nossa análise
vem a ser o seu inciso VI, o qual por sua vez se constitui numa tradução fiel do inciso VI
do Art. 208 da CF de 1988, o qual dispõe expressamente que se constitui em dever do
Estado a oferta de ensino noturno regular adequado ás condições do educando. Esse
dispositivo legal se constitui num princípio correto, contudo o condicional – adequado ás
condições do educando -, além do fato de o mesmo ser extremamente subjetivo pode
significar uma distinção deteriorada entre a qualidade oferecida pelo ensino diurno e a
qualidade do ensino noturno. Esse inciso em particular se reveste de especial relevância
para os jovens e adultos que em razão de determinadas condições econômicas e sociais
adversas devem conciliar o curso com a atividade laboral diurna, vindo portanto o mesmo
a viabilizar uma extensão significativa das oportunidades educacionais á essa faixa social
da sociedade brasileira em especial.
E, enfim, relativamente ao seu inciso VIII, o qual traduz fielmente o inciso VII do Art.
208 da CF de 1988, podemos constatar que o mesmo se constitui num dispositivo legal
de fundamental relevância no âmbito do sistema educacional brasileiro, pelo simples fato
de que define claramente como sendo uma das obrigações do poder público estatal o
atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas
suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência á saúde.
O referido dispositivo legal se reveste de uma crucial importância no que tange á eficácia
bem como estabilidade orgânicas e operacionais do atual sistema educacional nacional,
uma vez que representa as condições e pressupostos objetivos que contribuem
decisivamente para efeitos de garantir a permanência dos alunos na escola bem como para
a redução da evasão escolar, de forma especial quando advinda de condições sócio-
econômicas precárias (BRANDÃO, 2005, p. 32).
Já no que tange aos parágrafos 2°, 3°, 4° e 5° do referido dispositivo legal da LDB
atualmente em vigor, devemos necessariamente frisar que os mesmos alcançam a
dimensão de responsabilidade pública do poder estatal, fundamentada no princípio da
igualdade e da justiça social. Por conseguinte, no que tange á esse aspecto de análise em
particular, revelou-se como sendo necessária a criação de mecanismos de concretização
deste princípio, o que implica logicamente na necessidade de se definirem iniciativas e
meios coercitivos, sendo que a idéia contida no bojo intrínseco do seu parágrafo 2°, ou
seja a de ser competência do poder público o ato de priorizar o acesso ao ensino
obrigatório e, somente logo em seguida, aos outros níveis e graus de ensino sucessivos,
se constitui como sendo fundamental na perspectiva do adequado entendimento da
educação básica e da educação pública (CARNEIRO, 1998, p. 52).
Já relativamente ao seu parágrafo 3°, devemos ressaltar que o mesmo estabelece que se
efetue o recurso judicial contra o crime de responsabilidade da autoridade que for omissa
no cumprimento da oferta do ensino obrigatório, sendo que essa ação dispensa pagamento
e a autoridade judicial deve responder de imediato. Ao passo que o parágrafo 4° do
referido dispositivo legal consolida a idéia de crime de responsabilidade a ser atribuído
àquela autoridade pública que não tiver oferecido o ensino fundamental ao aluno, o que
é muito importante em termos de garantir juridicamente o acesso ao grau de ensino
obrigatório por parte do poder público estatal. E, finalmente, o legislador, ao
oportunamente prever as dificuldades de todos os alunos serem de fato absorvidos pela
rede regular de ensino, sinaliza claramente para a criação de formas alternativas de acesso
á escola, abertura essa última que se constitui numa suavização que afeta, ainda que
superficialmente, a cláusula pétrea da carta constitucional brasileira, consoante a qual
todos são iguais perante a lei.
3 – CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Ubiratan. LDB: memória e comentários. 2. ed. Fortaleza: Livro Técnico, 2003.
HERKENHOFF, João Baptista. Como funciona a cidadania. 2. ed. Manaus: Valer, 2001.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 9. ed. São Paulo:
Malheiros, 1992