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1. INTRODUÇÃO
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Neste artigo pretende-se explorar o estudo do fenômeno em si compreendido
pelas duas tradições de pesquisa já citadas. Pretende-se também explorar o ponto de
convergência de ambas as perspectivas proposto, talvez não intencionalmente, por
Feldman e Pentland (2003) no intuito de tornar o conceito de rotinas um conceito
compreensível apenas mediante a noção de dualidade estrutura-agência desenvolvida
por Giddens (1989) e amplamente discutido no Brasil culminando em Machado-da-
Silva, Fonseca e Crubellatte (2005) e nos estudos dos demais seguidores do neo-
institucionalismo.
2. ROTINAS ORGANIZACIONAIS
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Os autores ressalvam que eles não estão se referindo a meta-rotinas, ou rotinas
que modificam rotinas, que por definição seriam algo similar a capacidades dinâmicas
(Teece, Pisano, & Shuen, 1997). Eles se referem à possibilidade intrínseca da rotina de
gerar uma nova configuração estrutural e/ou um novo elemento performativo ambos
derivados da execução em curso.
Este entendimento de rotinas tenta destacar da compreensão tradicional por não
admitir que ela seja tão caracterizada pela inércia, inflexibilidade e que os estudos
anteriores consideravam (Hannan & Freeman, 1984). Feldman e Pentland (2003, p. 96)
afirmam que as rotinas são ao mesmo tempo portadoras e fontes de estabilidade e
mudança e para tanto definem rotinas organizacionais como “um padrão repetitivo e
identificável de ações interdependentes envolvendo múltiplos atores”. De forma
complementar Orlikowski (2007) insere a tecnologia como elemento fundamental da
compreensão das rotinas visto que por meio de recursos tecnológicos elas são
executadas e muitas vezes decorrente da inserção de novos recursos tecnológicos as
rotinas acabam sendo criadas ou modificadas em grande medida.
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Outra questão importante no estudo das rotinas é: porque algumas rotinas
prevalecem sobre as outras. Feldman e Pentland (2003) resgatam as diferentes
metáforas que se empenharam em explicar essa mesma questão ressalvando que todas
elas enfatizam o aspecto fixo ou estrutural da rotina. Rotinas enquanto um hábito
individual (Nelson & Winter, 1982), enquanto programas ou scripts (March & Simon,
1993) e rotinas enquanto genes (Baum & Singh, 1994). Esta última analogia seja talvez
a mais popular forma de explicação da pergunta supracitada. Para Campbell (1994 apud
Baum e Sigh, 1994), a variação na execução das rotinas ocorre da mesma forma que na
biologia há variação entre um duas gerações de mesmos seres. Essas variações são
postas a prova ante um processo de seleção que retém, por fim, apenas as melhores
variações, tanto para a eficácia da rotina em si como para os genes.
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Argumenta-se aqui a importância da noção de intersubjetividade em função de
Feldman e Pentland (2003) terem apontado a necessidade de se compreender rotina
como um conceito ao mesmo tempo estático e dinâmico, pois dependente da agência e
da relevante participação dos atores em sua execução. Além disso, visualiza-se
coerência na teoria neo-institucional como uma alternativa para explicar o que as
analogias anteriormente citadas não necessariamente conseguiram.
A teoria institucional possui um repertório de explicações para a mudança nas
rotinas em uso que amplia a compreensão das mudanças que ocorrem nas rotinas em
uso na organização. Oliver (1997) enfatiza que o comportamento humano vai além da
otimização econômica para próximo da necessidade de o ator buscar justificativa ou
obrigação social. Esta asserção reforça que a organização opera num contexto social de
normas, valores e pressupostos tidos como certo (taken-for-granted) no qual os
indivíduos mesmo refazendo aquilo que está institucionalizado participam do processo
de reconstrução da rotina por fazer dela a opção “consentida [...] desejável e viável”
(Machado-da-Silva et al., 2005, p. 29).
Assim sendo, a agência, ou “capacidade de interferir em eventos, não
necessariamente de modo intencional” (Machado-da-Silva et al., 2005, p. 24) auxilia a
explicar que em determinadas situações o indivíduo pode, por pressão social, modificar
o aspecto performativo de uma rotina com vistas a buscar legitimidade dentro de um
grupo, que fazendo da forma atual ele não visualiza. Da mesma forma que este
indivíduo em seu grupo pode alimentar a rotina existente sem perceber mérito em seu
questionamento. E ainda, o indivíduo pode resolver por, novamente, pressão social do
grupo em que está inserido (não necessariamente por uma questão de fundo
econômico), descartar a rotina em uso e tentar criar uma nova. Segundo Machado-da-
Silva, Fonseca e Crubellatte (2005, p. 26)
“qualquer ator social, em qualquer situação diária de resolução de problemas,
por exemplo, necessita de referências para agir. Tais referências se
apresentam em termos de orientações do passado, ou hábitos, orientações
para o presente, ou julgamentos, e orientações para o futuro, ou projeções
[...] e são delineadas e consolidadas por instituições como o Estado, a
indústria, associações profissionais, entre outras, conforme DiMaggio e
Powell (1983). Logo acessar tais referências é interpretar estímulos
contemporâneos que sobrevêm no fluxo cotidiano das práticas instauradas
por estruturas sociais.”
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profissionalização funcional no intuito de legitimar-se de maneira autônoma, quanto a
condições e métodos de trabalho.
6. REFERÊNCIAS
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