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Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Direito

Disciplina: História de Direito

Professor: Tiago Freitas

Alunos: Juliana Gil e Nathan Rios

DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1824:


FORMALIDADE X REALIDADE

A Constituição outorgada de 1824: liberal e autoritária

Com a independência do Brasil, D. Pedro I buscará aplacar as tensões


sociais entre as classes que disputavam o poder político. Nesse contexto, duas
frentes representavam grande conflito para a nação: com uma população
majoritariamente escravizada, os escravocratas, que temiam uma revolta
daquele imenso grupo; e também os “imigrantes” ainda leais ao Partido
Português e à submissão do Brasil a Coroa Portuguesa.

Estas dissensões sociais e ideológicas já eram percebidas na


Assembleia Constituinte de 1823, que se dividiu em “conservadores” (Partido
Português) e “liberais” (Partido Brasileiro). Entretanto, cumpre notar que as
diferenças referiam-se, basicamente, à intervenção ou grau de centralização de
poder, ambas as camadas lutando pela manutenção da mesma estrutura
escravocrata de produção e a manutenção dos privilégios sociais das elites.1

O primeiro ensaio da Constituição, como resultado daquele embate, será


no sentido de limitar o poder imperial.2 No entanto, D. Pedro I, pouco satisfeito
com o caráter restritivo deste rascunho, fechará a Assembleia Constituinte e

1
Alguns historiadores apontam para uma terceira posição, representada por José Bonifácio. Buscava-se
a criação de uma monarquia forte e constitucional, assim como a abolição do tráfico de escravos e da
escravidão.
2
Destaque para um artigo que proibirá a punição dos deputados pelo Imperador.
convocará um Conselho de Estado composto por dez membros – portugueses
– que redigirão uma carta baseada em princípios absolutistas e,
simultaneamente, liberais. Tal duplicidade resultará da pouca vontade do
Imperador de diminuir seu poder político e da necessidade de aplacar os
ânimos das classes que fundamentavam seu governo. Desta forma, em moldes
autoritários e absolutistas, a Constituição outorgada de 1824 realizará
concessões liberais à população. Neste sentido, aponta Herkenhoff: “Foi uma
constituição liberal, no reconhecimento de direitos, não obstante autoritária, se
examinarmos a soma de poderes que se concentram nas mãos do Imperador.
É verdade que instituiu a supremacia do homem-proprietário. Só este era
fullmember (isto é, membro completo) do corpo social. Mas nisto fez coro a
Locke e à ideologia liberal. Esta marcou sua profunda influência no processo
da independência e formação política do Brasil, como bem sustentou Vicente
Barreto” (HERKENHOFF, 2001, p. 67).

Entre as características da Constituição de 1824, se destaca: o


estabelecimento da monarquia hereditária; a criação, além dos outros três
poderes, do Poder Moderador, que concedia um poder de intervenção absoluto
do Imperador em relação àqueles; e o voto censitário: apenas homens acima
de 25 anos e com uma renda superior a 100 mil réis 3 poderiam votar nas
eleições primárias.

Os direitos civis e políticos

Os direitos políticos concedidos na Constituição de 1824, como


apontado acima, eram rigorosamente limitados de acordo com o critério
econômico. Para tanto, além de ser necessário ter mais de cem mil réis para
eleger um representante, para se tornar um o critério era ainda mais incisivo:
200 mil réis para se candidatar ao cargo de deputado e 400 mil réis ao cargo
de senador. Portanto, tais direitos eram privilégio dos proprietários de terras e
engenhos, não obstante a sua extensão aos guarda-livros e primeiros-caixeiros
das casas comerciais, criados da Casa real (de hierarquia superior) e
administradores de fazendas e fábricas. De qualquer modo, o exercício do

3
O autor Laurentino Gomes, em seu livro 1808, realiza a conversão aproximada dessa quantia para o
Real e estabelece que 100 mil-réis equivaliam a cerca de R$ 12.300.
voto, direito político, assentava-se sobre bases econômicas (FERREIRA, 1954,
p. 130). Tal restrição caracterizará um abismo entre a cidadania formal
(passiva) garantida largamente à população pelo art. 6º, e aquela cidadania de
fato (ativa), ou seja, que assegura a intervenção cidadã no jogo político.
Consequentemente, o fator econômico apresenta-se como um fator de
restrição dos direitos políticos no grupo de cidadãos. O status de cidadão ativo
não é vinculado, portanto, exclusivamente à figura de homem, mas ao homem
como nacional-cidadão e proprietário, e, consequentemente, à nação e à
propriedade, esta última tão cara ao jusnaturalismo e ao capitalismo do século
XVIII e XIX (MARSHALL, 1967, p. 70; CORRÊA, 2006, p. 211).

Ademais, além desta distinção já altamente excludente, cumpre notar


que, mesmo aqueles que gozavam de direitos políticos integrais, pouco poder
real tinham diante das arbitrariedades locais. Neste sentido, aponta Carvalho
(2001) que, vide o fato de que 90% da população era analfabeta e incapacitada
para exercer seus direitos cívicos, a grande maioria daqueles que tinham
direito de voto viviam presos às antigas “amarras” coloniais e ao arbítrio dos
grandes chefes locais que, se aproveitando da miserabilidade da população e
da falta de consciência da “conquista” daqueles direitos, utilizavam-nos como
simples engrenagem política.

Portanto, as concessões liberais e a construção de instituições


inspiradas em países desenvolvidos, pela Constituição de 1824, não resistiram
diante do contraste entre estes modelos e a prática sociopolítica do Brasil
Colonial. Tal incongruência é observada precisamente por Laurentino Gomes:
inspirado no modelo europeu, o sistema judicial brasileiro era igualmente
exemplar. Pela Constituição, todo cidadão – categoria na qual não estavam
incluídos os escravos – tinha direito de recorrer à Justiça para assegurar os
seus direitos. O ritual previa amplo direito de defesa dos réus, só passíveis de
condenação depois de esgotados todos os recursos. Ninguém podia ser preso
sem culpa comprovada. O direito de liberdade de expressão era tão amplo no
Brasil quanto nos países mais desenvolvidos. Na prática, a execução da lei
dependia mesmo dos chefes locais, que mandavam prender adversários ou
soltar aliados de acordo com suas conveniências. ‘O braço da justiça não é
nem bastante longo nem bastante forte para abrir as porteiras das fazendas’,
escreveu Joaquim Nabuco, ao fazer um retrospecto das instituições imperiais
em 1886 (GOMES, 2013, p. 105).

Além dos direitos políticos, é claro, também os direitos civis concedidos


no art. 179 sofreram grandes incongruências. Dando-se destaque para o § 5º,
a liberdade religiosa, por exemplo, era estritamente condicionada: Ninguém
pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado,
e não ofenda a Moral Pública. Tais critérios davam margem para a opressão
dos grupos religiosos não oficiais (não católicos), uma vez que a exteriorização
dos cultos estava limitada apenas aos locais anteriormente escolhidos para tal
fim, provavelmente de conhecimento prévio do próprio Estado, forma de manter
vigilância sobre os fatos (SANTOS, 2010, p. 3).

Em suma, o artigo 179, assim como diversos outros presentes no texto da


constituição de 1824, apresenta contradições inerentes ao seu período de
implementação. Desse modo, buscava-se ancorar num movimento político e
filosófico inspirado por ideias libertárias que reivindicou um modelo de
organização lastreada pelo respeito dos direitos dos governados e na limitação
do poder do governante. A observância e a rigidez, se espraiavam, então,
até os limites do homem branco cis

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