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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA

Cálculo Diferencial e Integral III

Professor: Sinvaldo Gama

Maceió-AL
Outubro/2007
Sumário

CAPÍTULO 1 – FUNÇÕES VETORIAIS DE UMA VARIÁVEL REAL ( :    n ) ... 3


Seção 1.1: Curvas Parametrizadas .......................................................................................... 3
Seção 1.2: Limite e Continuidade........................................................................................... 9
Seção 1.3: Derivada .............................................................................................................. 10
Seção 1.4: Interpretação Geométrica da Derivada ............................................................... 13
Seção 1.5: Interpretação Física da Derivada ........................................................................ 15
Seção 1.6: Curvas em R³ ...................................................................................................... 18
Seção 1.7: Comprimento de uma Curva ............................................................................... 22
Seção 1.8: Parametrização pelo Comprimento de Arco ....................................................... 25
Seção 1.9: Curvatura de uma Curva ..................................................................................... 28
Seção 1.10: Torção de uma Curva ........................................................................................ 32

CAPÍTULO 2 – FUNÇÕES REAIS DE VÁRIAS VARIÁVEIS REAIS ( f :   ) . 40


n

Seção 2.1: Funções e Gráficos .............................................................................................. 40


Seção 2.2: Limite e Continuidade......................................................................................... 42
Seção 2.3: Derivadas Parciais ............................................................................................... 48
Seção 2.4: Regra da Cadeia (1ª Versão) ............................................................................... 55
Seção 2.5: Derivada Direcional ............................................................................................ 55
Seção 2.6: Funções Diferenciáveis ....................................................................................... 58
Seção 2.7: Regra da Cadeia (2ª Versão) ............................................................................... 66
Seção 2.8: Gradiente e Derivada Direcional ........................................................................ 71
Seção 2.9: Funções Implícitas .............................................................................................. 74
Seção 2.10: Máximos e Mínimos de Funções Reais ............................................................ 84

CAPÍTULO 3 – FUNÇÕES VETORIAIS ( f : n  m ) ................................................... 103


Seção 3.1: Funções Vetoriais.............................................................................................. 103
Seção 3.2: Limite e Continuidade....................................................................................... 109
Seção 3.4: A Regra da Cadeia ............................................................................................ 114
Seção 3.5: O Teorema da Função Inversa .......................................................................... 119
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

CAPÍTULO 1
FUNÇÕES VETORIAIS DE UMA VARIÁVEL REAL ( :    n )

SEÇÃO 1.1: CURVAS PARAMETRIZADAS

Quando olhamos curvas, no plano, como gráficos de funções reais, encontramos


certos inconvenientes. Um deles é que curvas como círculos, elipses etc., não são gráficos de
funções (note que estas curvas não obedecem à restrição de uma função às retas verticais).

y y

x x
1 1 a

x2 y 2
x2  y 2  1  1
a 2 b2

Para estudarmos estas curvas, teremos que utilizar gráficos de mais de uma função.
Por exemplo, para estudarmos o círculo unitário x 2  y 2  1 , teremos que considerar as
funções f1 ( x)  1  x 2 , 0  x  1 e f 2 ( x)   1  x 2 , 0  x  1 .

1 1 1 1

f1 ( x)  1  x 2 f 2 ( x)   1  x 2

Só que estas funções têm a desvantagem de não serem diferenciáveis em x  1 e,


por conseguinte, não podemos utilizá-las para estudar as tangentes verticais ao círculo nestes
pontos. Estes e outros inconvenientes podem ser evitados se mudarmos nosso ponto de vista
com respeito às curvas. Em lugar de pensarmos numa curva como o gráfico de uma função,
uma curva agora será vista como imagem de uma função – uma função vetorial. Com este
propósito, a trajetória de uma partícula no plano ou no espaço é um modelo muito útil para tê-
lo em mente quando se estudam curvas. Em 3 , por exemplo, para cada tempo a partícula

Cálculo III 3
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

está localizada no ponto (1 (t ), 2 (t ),3 (t )) . Em verdade, a trajetória da partícula é descrita
por uma função definida por  (t )  (1(t ), 2 (t ),3 (t )) .

z
 (ti )  (1 (ti ), 2 (ti ),3 (ti ))

  (ti1 )
 (ti1)

 (t2 )   (t n1 )
 (t1 ) 
 (t0 )  (1 (t0 ), 2 (t0 ),3 (t0 )) 
   (tn )  (1 (tn ), 2 (tn ),3 (tn ))

y
x

Descreveremos, de modo geral, este fato a seguir, salientando que o termo “curva”
será usado tanto para quando nos referirmos a uma figura, como para quando nos referirmos a
uma função.

Definição 1.1.1: Seja I um intervalo da reta. Uma função

 : I  n
t   (t)  (1 (t), 2 (t),..., n (t ))

é dita uma função vetorial de uma variável real ou uma curva parametrizada.

As n funções, i : I   , são chamadas funções coordenadas de  . A palavra


parâmetro se refere à variável independente t da função  .

Para cada t  I , o vetor  (t )  1 (t ), 2 (t ),...,  n (t ) chama-se raio vetor ou vetor


posição da curva no instante t . Representaremos este vetor como o segmento orientado que
vai da origem do sistema coordenado ao ponto de coordenadas (1(t ),2 (t ),...,n (t )) .

  (t 2 )
D 

 (t1 )
t1 t2 

y
x

Cálculo III 4
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

De um modo geral, se uma curva é gráfico da função f : a, b   ,

f (t )

(t , f (t ))

t
a b

observe que a mesma é imagem da curva

 : a, b  2
t   (t )  (t , f (t )) .

Definição 1.1.2: O traço ou a imagem de  é o conjunto

 (I )  { (t )  n ; t  I } .

Em palavras, a imagem de  corresponde ao conjunto de todos os pontos no espaço


 gerados pela variação possível de cada t  I . Nesta situação, diz-se que a função 
n

parametriza seu traço ou que é uma parametrização do mesmo.

Exemplo 1.1.1: Seja  : 0,2   2


t   (t )  (cost , sint)  ( x, y) .

Observe que  (t ) é um ponto do círculo unitário, já que x 2  y 2  cos2 t  sin2 t  1 . E


vice-versa; todo ponto do círculo unitário é da forma (cost , sint ) para algum t. Portanto, o
traço de  é o círculo x 2  y 2  1 .

y
 ( 2)  (0,1)
 

 (t)  (cost , sint)

t
 ( )  (1,0)
  x
0 t 2  (0)  (1,0)

 (3 2)  (0,1)

Note que o círculo x 2  y 2  1 representa a trajetória de um ponto móvel no plano. À


medida que t cresce no intervalo 0,2  a trajetória vai se formando no sentido anti-horário.

Cálculo III 5
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 1.1.2: Seja  :   2


t   (t )  P  tu  ( x, y) ,

onde P  ( x0 , y0 ) e u  (a, b) são pontos de 2 .

O traço de  é a reta que passa por P e é paralela ao vetor u .

Para cada valor de t ,  (t )  P  tu representa um ponto sobre tal reta, e vice-versa;


dado um ponto Q  ( x, y) desta reta, existe algum t   tal que P  tu  Q .

 
P
x0 
u  (a, b)
0 t

y0 x

Observe que P   (0) e como  (t )  P  tu  ( x0 , y0 )  t  (a, b)  ( x0  ta, y0  tb) , as


funções coordenadas de  são

1(t)  x0  ta e 2 (t)  y0  tb .

Exemplo 1.1.3: O traço da curva parametrizada  : 0,2   2 definida por


x2 y 2
 (t )  (a cos t , b sin t ) é a elipse   1 . De fato, se x  a cost e y  b sin t , então
a 2 b2

x y
 cos t e  sin t ,
a b

x2 y 2
e assim,   cos2 t  sin2 t  1 .
a 2 b2

y

b
 (t )  (a cost , b sint )
t
a x
0 t 2 a

b

Cálculo III 6
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 1.1.4: Qual o traço da curva parametrizada  :   3 definida por


 (t )  (a cos t , a sin t , bt)  ( x, y, z) ; a  0 , b  0 ?

Solução: Inicialmente note que a projeção ortogonal de cada ponto P  ( x, y, z) da curva, no


plano xy, é o ponto P  ( x, y,0) pertencente à circunferência x 2  y 2  a 2 , z  0 . Isto
significa que a curva  está contida no cilindro x 2  y 2  a 2 .

z
cilindro x 2  y 2  a 2

circunfereˆ ncia
x2  y2  a2 , z  0
 P  ( x, y, z)  curva

y

P  ( x, y,0)
x

Vale destacar ainda que as coordenadas x e y dos pontos  (t ) e  (t  2 ) são iguais


para cada t . De fato,

cos(t  2 )  cos(t )
 .
 sin(t  2 )  sin(t )

Portanto,  (t ) e  (t  2 ) estão sobre uma mesma reta vertical. Finalmente


observemos que é constante e igual a 2b , a distância entre  (t ) e  (t  2 ) . De fato,

d  (t  2 ), (t )   0 2  0 2  (b(t  2 )  bt) 2  (b2 ) 2  2b .

A constante 2b é denominada passo da curva. O traço é, pois, a hélice circular


abaixo. (A figura ilustrada é apenas um esboço da forma geométrica da hélice.)

Cálculo III 7
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

z
 (t0  2 )


a y
t0 t0  2 a

 (t0 ) 

Não devemos confundir o traço de uma curva (a imagem da função vetorial) como seu
gráfico. Este último é o conjunto

{(t , (t ))  2 ; t  I } .

Observe que só teremos uma imagem geométrica do gráfico de uma função vetorial 
quando seu contradomínio estiver contido em 3 . Em nosso estudo, entretanto, raras vezes
teremos necessidade de considerar o gráfico de tal função.

Exemplo 1.1.5: (Cicloide). A cicloide é uma curva descrita por um ponto de uma
circunferência quando esta gira ao longo de uma reta sem escorregar. Consideremos um
círculo de raio a e centro (0, a) e P  (0,0) um ponto da mesma nesta posição. Da Geometria
Euclidiana, sabemos que um arco que mede t radianos, num círculo de raio a tem
comprimento at . A figura abaixo, à direita, mostra o ponto P numa posição correspondente a
um arco AP cuja medida é  radianos. O ângulo central correspondente também mede 
radianos. Observe que o segmento OA e o arco AP têm o mesmo comprimento a .

y y

rotacionan
 do

 (0, a) a C
P 
A . Q

 x x  x
P O A

Vemos também que

PQ  a sin e CQ  a cos .

Cálculo III 8
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Se P  ( x, y) , então

x  OA  PQ  a  a sin  a(  sin ) e y  QA  CQ  a  a cos  a(1  cos ) .

Portanto, a curva

 ( )  (a(  sin ), a(1  cos )) ;  

parametriza a cicloide.

x
 2a 0 2a 4a

Exemplo 1.1.6: Obtenha uma equação parametrizada da curva obtida pela interseção do
cilindro x 2  y 2  1 com o plano y  z  2 .

Solução: A projeção da curva interseção  no plano xy é a circunferência

x 2  y 2  1, z  0 .

Desta forma,

 x  cos t
 para 0  t  2 .
 y  sin t

Por outro lado, como  está sobre o plano y  z  2 , então todos os seus pontos satisfazem a
equação deste plano, isto é, teremos: z  2  y  2  sin t , do que resulta,

 (t)  (cost , sint ,2  sint) ; t  0,2  .

SEÇÃO 1.2: LIMITE E CONTINUIDADE

Definição 1.2.1: Seja  uma curva parametrizada e t0   . Definimos o

lim  (t )   lim 1 (t ), lim  2 (t ),..., lim  n (t ) 


t t0  t t0 t t0 t t0 

quando existem os limites lim  i (t ) , i  1,..., n .


t t 0

Cálculo III 9
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Teorema 1.2.1: Sejam  e  curvas parametrizadas que possuem limite em t  t0 . Então,

i. lim ( (t )   (t ))  lim  (t )  lim  (t ) ;


t t 0 t t 0 t t 0

ii. lim (a   (t ))  a  lim  (t ) , a   ;


t t 0 t t 0

iii. lim( (t )   (t ))  lim  (t )  lim  (t ) ;


t t 0 t t 0 t t 0

lim ((t )  (t ))  lim (t )  lim (t ) , onde  e  têm seus traços contidos em  ;
3
iv.
t t 0 t t 0 t t 0

v. lim  (t )  lim  (t ) .
t t 0 t t 0

Definição 1.2.2: Dizemos que a curva  : (a, b)  n é contínua em t0  (a, b) se

lim  (t )   (t0 ) .
t t 0

SEÇÃO 1.3: DERIVADA

Definiremos a seguir a derivada de uma função  : (a, b)  n e mostraremos como


ela nos leva à definição de reta tangente ao traço de  .

Definição 1.3.1: Uma curva parametrizada  : (a, b)  n é dita diferenciável em t0  (a, b) ,


se existe o

 (t0  h)   (t0 )
lim
h0 h

que denotaremos por  (t0 ) .

Se o limite acima existe para cada t  (a, b) , dizemos que  é diferenciável no


intervalo (a, b) . Neste caso, a função

  : (a, b)  n
t   (t )

é também uma função vetorial, denominada derivada de 1ª ordem de  .

Se   também é diferenciável em (a, b) , então sua derivada ( )    , é chamada


derivada de 2ª ordem de  . Uma função vetorial  é dita de classe C n , no intervalo (a, b) , se
a n-ésima derivada de  existe e é contínua em cada ponto do intervalo (a, b) . Dizemos que
 é de classe C  se a mesma for de classe C n para todo n.

Cálculo III 10
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 1.3.1: Seja  (t )  (t , t 2 ) . Então

 (t0  h)   (t0 ) (t0  h, (t0  h)2 )  (t0 , (t0 )2 )  t  h  t0 (t0  h)2  t02 
 (t0 )  lim  lim  lim 0 ,  
h 0 h h 0 h h 0
 h h 

 2t h  h 2 
 lim1, 0   lim(1,2t0  h)  (1,2t0 ) , isto é,  (t0 )  (1,2t0 ) .
h 0
 h  h 0

Observe que 1(t )  t ,  2 (t )  t 2 e que 1(t0 )  1 e  2 (t0 )  2t0 .

O exemplo acima sugere que uma função  : (a, b)  n tem derivada num ponto t  (a, b)
se, e somente se, cada função coordenada de  tem derivada neste ponto. Isto é verdade, e de
fato, temos o seguinte teorema.

Teorema 1.3.1: Se a curva parametrizada

 : (a, b)  n
t   (t)  (1 (t), 2 (t),..., n (t))

é diferenciável em t0  (a, b) , então existem as derivadas 1(t0 ),..., n (t0 ) . Além disso,

 (t0 )  (1(t0 ), 2 (t0 ),..., n (t0 )) .

Reciprocamente, se existem as derivadas 1(t0 ),..., n (t0 ) , então  é diferenciável em


t0 e

 (t0 )  (1(t0 ), 2 (t0 ),..., n (t0 )) .

Prova: Parte 1. Suponhamos que  é diferenciável em t0 . Então,

 (t0  h)   (t0 )
 (t0 )  lim 
h 0 h
  (t  h)  1 (t0 )  n (t0  h)   n (t0 ) 
 lim 1 0 ,..., 
h 0
 h h 
  (t  h)  1 (t0 )  (t  h)   n (t0 ) 
  lim 1 0 ,..., lim n 0 
 h 0 h h  0 h 
 (1(t0 ),...,  n (t0 ))

Parte 2. Suponhamos agora que existem 1(t0 ),..., n (t0 ) . Então,

Cálculo III 11
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

  (t  h)  1 (t0 )  (t  h)   n (t0 ) 
(1(t0 ),...,  n (t0 ))   lim 1 0 ,..., lim n 0 
 h 0 h h  0 h 
  (t  h)   (t )  (t  h)   n 0 
(t )
 lim 1 0 1 0
,..., n 0 
h 0
 h h 
 (t0  h)   (t0 )
 lim 
h 0 h
  (t0 )

Teorema 1.3.2: (Regras básicas de derivação). Sejam  ,  : (a, b)  n e f : (a, b)  


funções diferenciáveis em (a, b) . Então,    , f   , e    também o são e tem-se:

i. (   )       ;
ii. ( f   )  f     f    ;
iii. (   )           ;
iv. (Regra da cadeia). Se g : (c, d )   é uma função real, diferenciável, então
(  g)(t)   ( g(t ))  g (t ) ;
v. Se  ,  : (a, b)  3 , então
(   )           .

Teorema 1.3.3: Seja  : (a, b)  n uma curva parametrizada, diferenciável em (a, b) e k


uma constante real. Se  (t )  k , t  (a, b) , então  (t )   (t )  0 , t  (a, b) , isto é, o
vetor posição  (t ) é perpendicular ao vetor  (t ) , para todo t  (a, b) . Reciprocamente, se
 (t)   (t)  0 , t  (a, b) , então existe uma constante real k tal que  (t )  k , t  (a, b) .

Prova: Parte 1. Suponhamos que  (t )  k , t  (a, b) . Então,

 (t )  k 2
2
e assim  (t )   (t )  k 2 .

Derivando ambos os membros, obtemos:

 (t)   (t)   (t)   (t)  0  2 (t)   (t)  0 e daí,  (t)   (t) .

Parte 2. Exercício.

Exemplo 1.3.2: Seja  (t )  (a cos t , a sin t ) , a  0 . Temos que

 (t )  a 2 cos2 (t )  a 2 sin2 (t )  a , para todo t .

Então, pelo Teorema 1.3.3 acima,  (t )   (t ) .

Cálculo III 12
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Poderíamos constatar diretamente este fato, pois  (t )  (a sint , a cos t ) e assim

 (t )   (t )  a2 sin t cos t  a2 sin t cos t  0 .

y
 (t )

 (t )

x
0 t 2

Pergunta: Toda curva parametrizada cujo vetor posição  (t ) tem norma constante para todo
t , está contida numa circunferência?

SEÇÃO 1.4: INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DA DERIVADA

Veremos nesta seção como a derivada   de uma curva parametrizada  está


relacionada com o conceito de reta tangente, como no caso de uma função real. Para isso,
consideremos o quociente,

 (t0  h)   (t0 )
h

e analisemos o seu comportamento quando h  0 .

z
 (t0  h)   (t0 )
h
 (t0 )
Q
P 

 (t0 )
 (t0  h)

O
y

Cálculo III 13
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Note que o vetor  (t0  h)   (t0 ) é paralelo ao vetor 1


h ( (t 0  h)   (t 0 )) . Estes terão o
mesmo sentido se h  0 (como na figura acima) e sentidos contrários se h  0 .

O vetor 1
h ( (t 0  h)   (t 0 )) , por sua vez, tem uma direção que deverá tender para o
que denominaremos direção da reta tangente à curva  no ponto  (t0 ) , quando h  0 .

O vetor  (t0 ) , se existe e é não nulo, é denominado vetor tangente à curva em  (t0 ) .
Seu sentido é guiado pelo movimento da extremidade do vetor  (t0 ) ao crescer t. É claro que
qualquer múltiplo não-nulo de  (t0 ) é também denominado vetor tangente, e a reta que passa
por  (t0 ) e com direção de  (t0 ) é chamada reta tangente à curva em  (t0 ) e terá equação
paramétrica:

X (t )   (t0 )  t   (t0 ) .

O vetor tangente  (t0 ) é usualmente desenhado com sua origem em  (t0 ) , como
indica a figura acima.

Exemplo 1.4.1: Considere a reta  (t )  P  tu , u  (0,0) e t   . Temos que

 (t )  u , para todo t   .

 (t )
P

u
x
O

Desta forma, a tangente à reta em cada um de seus pontos coincide com a própria reta  (t ) ,
propriedade esta que, evidentemente, era de se esperar.

Exemplo 1.4.2: Se  (t ) descreve uma circunferência de centro O e raio r , então

 (t )  r , para todo t   .

Cálculo III 14
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

 (t )
 (t )
r x
O

Uma vez que o vetor  (t ) tem norma constante, sua derivada  (t ) lhe é perpendicular
(Teorema 1.3.3) e, portanto,  (t ) é perpendicular à reta tangente correspondente. Conclui-se
então que, para cada circunferência, a definição dada de reta tangente coincide com a dada na
geometria euclidiana.

Exemplo 1.4.3: Consideremos a hélice  (t )  (cost , sint , t ) . Então

 (t)  ( sint , cost ,1) e assim  (0)  (0,1,1) .

A reta tangente à hélice em  (0)  (0,1,1) tem, pois, equação vetorial

X (t)  (1,0,0)  t  (0,1,1) .

Do exposto acima, vemos que se para cada t ,  (t )  0 então existe uma reta tangente a curva
que contém o ponto  (t ) e tem por direção o vetor  (t ) . Para o estudo das curvas, é essencial
que exista uma reta tangente a em cada um de seus pontos.

Definição 1.4.1: Um ponto t0 para o qual  (t0 )  0 é dito um ponto singular de  .

Definição 1.4.2: Uma curva  : (a, b)  n é dita regular se

i.  é diferenciável em (a, b) ;
ii.  (t )  0, t , t  (a, b) .

SEÇÃO 1.5: INTERPRETAÇÃO FÍSICA DA DERIVADA

Se  (t ) descreve a posição de uma partícula que se move no espaço como função do


tempo, então conceitos físicos como vetor velocidade, velocidade escalar e vetor aceleração
podem ser definidos em termos das derivadas de  .

Cálculo III 15
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

s
A   (t )   B   (t  h)
BA

O
y

Definição 1.5.1: Seja  (t ) uma curva parametrizada cujo traço descreve a trajetória de uma
partícula em função do tempo t. Definimos a velocidade escalar v(t ) dessa partícula como
sendo

s
v(t )  lim
t  0 t

onde s é o comprimento do arco AB, e t  (t  h)  t  h .

Como s   (t  h)   (t ) para h pequeno, então

s  (t  h)   (t )  (t  h)   (t )
  .
t h h

Assim,

s  (t  h)   (t )  (t  h)   (t )
v(t )  lim  lim  lim   (t ) .
t  0 t t 0 h t  0 h

O vetor  (t ) é denominado vetor velocidade e o vetor  (t ) é denominado vetor


aceleração. Esta terminologia é razoável, pois  (t ) mede a razão da mudança do vetor
posição com respeito ao tempo, que é precisamente o que entendemos por velocidade. Da
mesma forma,  (t ) mede a razão da mudança do vetor velocidade com respeito ao tempo.

A velocidade escalar fornece a taxa de variação do comprimento do arco (medido


sobre a curva) com relação ao tempo. Ou seja, a grandeza do vetor velocidade nos informa
sobre a rapidez com que a partícula está a mover-se em cada instante e a sua direção e sentido
diz-nos para onde a mesma se move nesses mesmos instantes. O vetor velocidade variará se

Cálculo III 16
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

modificarmos a sua direção ou a sua grandeza (velocidade escalar) ou ambas. O vetor


aceleração, por sua vez, dá a medida desta variação.

Exemplo 1.5.1: Consideremos o movimento retilíneo descrito pela função  (t )  P  t 5u ;


t   , onde P e u são vetores constantes e u  0 . Temos então, vetor velocidade:
 (t )  5ut 4 e vetor aceleração:  (t )  20ut 3 . Vemos que  (t ) e  (t ) são não nulos, e que
os vetores velocidade e aceleração são paralelos.

Exemplo 1.5.2: Consideremos o movimento circular uniforme, em que a trajetória é um


círculo e o módulo da velocidade angular é constante, de modo que a partícula descreve arcos
de círculo iguais em tempos iguais. Este movimento pode ser descrito pela função vetorial

 ( )  (a cos , a sin ) , onde   t , a  0 ,   0 , 0  t  2 .

 ( )

 x
a

Observe que quando t  0 , a partícula se encontra no ponto (a,0) e move-se no sentido anti-
horário ao longo da circunferência de raio a, com velocidade angular d
dt   , constante.
Temos assim:

Vetor velocidade:  (t )  (a  sin , a  cos ) , e


Vetor aceleração:  (t )  (a 2  cos ,a 2  sin )   2 (a cos , a sin )   2   (t ) .

Neste caso, o vetor aceleração é paralelo ao vetor posição, mas de sentido contrário, e
como  (t ) é perpendicular a  (t ) , pois  (t ) é constante, segue-se que o vetor aceleração é
perpendicular ao vetor velocidade:

Cálculo III 17
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

 ( )
.  ( )

 ( )
a a x

Se representarmos o vetor aceleração  (t) com sua origem coincidindo com o ponto
que se move sobre a curva em  (t ) , vê-se que ele fica dirigido deste para o centro da
circunferência que a partícula descreve. Neste caso,  (t) é denominada aceleração
centrípeta. A reação de mesma intensidade e sentido oposto (devido a 3ª Lei de Newton), isto
é, a força   (t ) é dita aceleração centrífuga. Como exemplo de aceleração centrípeta,
podemos considerar a atração da gravidade no caso de um satélite em volta da Terra ou a
força exercida pelo mecanismo de uma pedra girando numa funda. De modo geral, esta força
é exercida pelo mecanismo que obriga a partícula a uma trajetória circular.

SEÇÃO 1.6: CURVAS EM R³

Na seção anterior vimos que no movimento retilíneo o vetor aceleração é paralelo ao


vetor velocidade e que no movimento circular, com velocidade angular constante, o vetor
aceleração é perpendicular ao vetor velocidade. Nesta seção, veremos que num movimento
qualquer, o vetor aceleração é a soma de dois vetores perpendiculares entre si, um paralelo ao
vetor velocidade e o outro perpendicular a esse mesmo vetor. Se o movimento não é retilíneo,
esses dois vetores definem um plano que passa pelo ponto correspondente da curva e que se
chama plano osculador da curva.

Definição 1.6.1: Se  (t )  0 , o vetor

 (t )
T(t ) 
 (t )

chama-se vetor tangente unitário.

Cálculo III 18
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

 (t )

T(t )
 (t )

O
y

Observe que sendo T(t )  1 , então T(t )  T(t) .

Definição 1.6.2: Se T(t )  0 , o vetor

T(t )
N(t ) 
T(t )

chama-se vetor normal principal.

 (t )
.
T(t )
N(t )  (t )

T(t )
O
y

Observe que T(t )  N(t ) .

Definição 1.6.3: O plano determinado pelos vetores T (t ) e N (t ) é denominado plano


osculador da curva.

Cálculo III 19
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Plano osculador

 (t )
.
T(t )
N(t )  (t )

 
T(t )
O
y

De modo geral, o plano osculador varia em cada ponto da curva. Mas se a curva é
plana (isto é, todos os seus pontos pertencem a um mesmo plano), o plano osculador em cada
ponto coincide com o plano da curva. De fato, se

( X  P)  n  0

é a equação cartesiana do plano que contém a curva  (onde P é um ponto da curva e n é um


vetor normal a π), então os pontos  (t ) desta curva deverão satisfazer esta equação, isto é,

( (t )  P)  n  0 , t .

Derivando ambos os membros desta identidade, obteremos:

 (t)  n  0 , t .

Portanto, T(t )  n  0, t e T(t )  n  0, t .

Isto mostra que T(t ) é paralelo a π, bem como a N(t ) . Assim, T(t ) e N(t ) definem
um plano paralelo ao plano π. Quando esses vetores são desenhados no ponto  (t ) , tal plano
coincidirá, portanto, com π, o que prova o que afirmamos.

Definição 1.6.4: O vetor B(t ) definido por

B(t )  T(t )  N(t )

é denominado vetor binormal.

Cálculo III 20
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

z
B(t )

 (t )
. .
 .
T(t )
N(t )  (t )

T(t ) O
y

Note que B(t ) é também unitário. Com efeito,

 
B(t )  T(t )  N(t )  T(t )  N(t )  sin   1  1  1  1 .
2

Os três vetores unitários T , N e B formam, nesta ordem, um triedro positivamente


orientado cujos vetores são dois a dois ortogonais e é denominado triedro de Frenet-Serret.
Este triedro constitui, naturalmente, uma base para o espaço vetorial 3 . Portanto, qualquer
vetor de 3 pode ser escrito como combinação linear do terno {T(t ), N(t ), B(t )}, o qual varia
em cada ponto da curva. Por serem vetores unitários e ortogonais entre si, o conjunto ternário
T , N e B é considerado uma base ortonormal do 3 .

O teorema seguinte nos informa que em qualquer movimento o vetor aceleração fica
situado no plano osculador da curva.

Teorema 1.6.1: Se a função vetorial  (t ) descreve o movimento de uma partícula com


velocidade escalar v(t )   (t ) , então o vetor aceleração  (t ) é uma combinação linear de
T(t ) e T(t ) da forma

 (t)  v(t)  T(t)  v(t)  T(t) .

Se T(t )  0 , então

 (t )  v(t )  T(t )  v(t )  T(t )  N(t ) .

Da igualdade acima, conclui-se que o vetor aceleração está contido no plano


osculador da curva.

Cálculo III 21
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

z
Componente tangencial
Componente normal

 (t )
 T(t )
N(t )
k1  T(t )

k2  T(t )  (t)  (t )

T(t ) O
y

Como podemos observar o vetor aceleração  (t ) pode ser expresso como uma
combinação linear dos vetores T(t ) e N(t ) . Na figura, k1  v(t ) e k 2  v(t )  T(t ) . Os
vetores v(t )  T(t ) e v(t )  T(t )  N(t ) são denominados, respectivamente, componente
tangencial e normal do vetor aceleração, conforme expresso.

SEÇÃO 1.7: COMPRIMENTO DE UMA CURVA

Seja  : (a, b)  3 uma curva diferenciável. Sejam a  t0  t1  ...  tn  b uma


partição de a, b , ti 1, ti  os subintervalos de a, b , ti  ti  ti 1 o comprimento do
subintervalo ti 1 , ti  e  (ti ) os pontos correspondentes no traço de  . Liguemos estes pontos
através de uma linha poligonal como indicado na figura abaixo.

z
(a, b)  

 tn b  (ti1)
 
 
 (ti )
 (ti1 )
ti 1 
  (b)
ti  (t1 )
ti 1 

 
 (a)
t1 y
 t0  a

Tomando-se os vetores posição dos pontos  (ti ) , tem-se que o comprimento do i-


ésimo segmento da poligonal é  (ti )   (ti1 ) e o comprimento total da poligonal é

Cálculo III 22
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

n
Sn    (t )   (t
i 1
i i 1 ).

Como x  x(t ) , y  y(t ) e z  z(t ) são funções reais de classe C 1 , pelo teorema do
valor médio aplicado às funções x, y e z em cada intervalo ti 1 , ti  , existem t1 , t 2 e t 3 tais
que:

 x(ti )  x(ti 1 )  x(t1 )  ti



 y(ti )  y(ti 1 )  y(t2 )  ti .
 z(t )  z(t )  z(t )  t
 i i 1 3 i

n
Logo, Sn  
i 1
( x(t1 ))2  ( y(t2 ))2  ( z(t3 ))2 ti .

A rigor, a expressão acima não é uma soma de Riemann, pois os t1 , t 2 e t 3 não são
necessariamente iguais. Utilizando-se um teorema sobre integração que não será discutido
aqui e sendo f : a, b   uma função contínua e t  ti 1 , ti  , então

b n

 f (t )dt  lim
n
 f (t )t
i 1
i
a

onde existe a possibilidade de haver diferentes t .

Aplicando o referido teorema à f (t )  ( x(t1 ))2  ( y(t2 ))2  ( z(t3 ))2 é possível mostrar
que o comprimento de arco de  entre t0  a e tn  b , denotado por l, é dado por:

l  c( )    (t) dt
a

se  (t ) é contínua.

Exemplo 1.7.1: (Comprimento da circunferência) Seja  (t )  (r cost , r sint ) , r  0 . Temos


 (t)  (r sint , r cost) e assim,  (t )  r . Daí,

2 2

 
2
l  c(l )   (t ) dt  rdt  rt 0  2r .
0 0

Cálculo III 23
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama


 (t )

 x
0 t 2 r
 (0)   (2 )

Exemplo 1.7.2: (Comprimento de uma espira da hélice) Seja  (t)  (a cost , a sint , bt) , a  0 ,
t0  t  t0  2 . Temos  (t )  (a sint , a cost , b) e assim,  (t )  a 2  b 2 .

2 2

l  c(l )    (t) dt  
0 0
a 2  b 2 dt  2 a 2  b 2 .

z
 (2 )


y
0 2 a

 (0) 

Exemplo 1.7.3: Seja f : a, b   uma função real diferenciável. O gráfico de f é uma curva
contida em 2 , a qual é traço da função vetorial,  ( x)  ( x, f ( x)) , a  x  b .

( x, f ( x))

f (x) 

x
a x b

Se f  é contínua, então  ( x)  1  ( f ( x)) 2 também o é, e

l  c( f )  
a
1  ( f ( x))2 dx

Cálculo III 24
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

que é a fórmula, já conhecida por nós, do estudo das funções reais de uma variável real.

SEÇÃO 1.8: PARAMETRIZAÇÃO PELO COMPRIMENTO DE ARCO

Uma curva pode ter muitas representações paramétricas, mas existe uma que é, num
certo sentido, particularmente simples e útil. Nesta representação, o parâmetro é o
comprimento da curva medido a partir de algum ponto da mesma. Vejamos como podemos
obter esta representação.

Seja  : a, b  3 uma curva parametrizada regular. A função definida por

s   (t )    (u) du ,
a
at b

mede o comprimento da parte de  correspondente ao intervalo a  u  t .

a, b  
s(t )  (t )

b s  (a) 

  (b)
t

a O
y

Observe que  (a)  0 e  (b)  l , se l representa o comprimento total de  .


Portanto, a função vetorial  possui como domínio o intervalo fechado a, b e
contradomínio, o intervalo 0, l  . Em notação funcional,

 : a, b  0, l 
t

t   (t )    (u) du .
a

Como  (t )   (t )  0, t [pois  (t )  0 e a norma de qualquer vetor é sempre um


valor maior ou igual a zero], a função  é estritamente crescente. Portanto,  é uma função
injetiva no intervalo a, b sendo assim, inversível neste intervalo. Denotando-se por r sua
inversa, teremos imediatamente que

Cálculo III 25
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

r   1 : 0, l   a, b
r(s)  t .

A função composta h(s)    r(s)   (r(s)) descreve a mesma curva que  descreve,
porém, com uma nova parametrização, na qual a variável s , 0  s  t , representa o
comprimento de arco de h(0)   (r(0))   (a) a h(l )   (r(l ))   (b) .

z
r  1

s
  (t )  h(s)
l b
 (a)  h(0) 
s   (t ) t  r (s)
  (b)  h(l )

0 a
O
 y

x
h  r

Dizemos então que a curva está parametrizada pelo comprimento de arco.

Proposição 1.8.1: A reparametrização h(s) possui as seguintes propriedades:

i. h(s)  1 , para todo s  0, l  ;


ii. O comprimento do arco da curva corresponde ao intervalo 0, s  é s.

Prova: Pela Regra da Cadeia,


h(s)   (r(s))  r(s) .
Por outro lado, o teorema da função inversa nos informa que
1 1 1
r (s)    , onde s   (t) .
 (t )  (t )  (r (s))
Logo,
1
h(s)   (r (s)) 
 (r (s))
e daí,
h(s)  1 .
Quanto à segunda parte do teorema, note que, de fato,
s s


0

h(u) du  du  s .
0

Cálculo III 26
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Pelo que acabamos de ver, quando uma curva está parametrizada pelo comprimento de
arco, o tempo gasto para percorrer um arco da mesma coincide exatamente com o número que
exprime o comprimento deste arco, isto é, a distância percorrida. Isto equivale a dizer que a
parametrização h(s) transforma um segmento de reta (domínio de h ) numa curva de
comprimento igual a ele mesmo.

Exemplo 1.8.1: Reparametrize o círculo  (t )  (a cos t , a sin t ) , 0  t  2 pelo comprimento de


arco.

Solução: Temos que  (t )  (a sin t , a cos t ) e  (t )  a . Assim:

t t

s   (t )  
a

 (u) du  adt  at .
a

s
Daí, t  r (s)  . Temos então,
a

s  s  s 
h(s)    r (s)   (r (s))       a cos , a sin   .
a  a  a 

Observe que h(s)  1 e que o intervalo 0,2a – domínio da função h – tem o mesmo
comprimento que o traço de h (círculo de raio a ).

Exemplo 1.8.2: Reparametrize a curva abaixo usando o comprimento de arco s como


parâmetro.

 3 1
 (t )   t , t ,  , t  0.
 2 2

Solução: Temos que  (t )  1, ,0  e  (t ) 


3 13
. Logo:
 2  2

t t
13 13
s   (t )    (u) du  
0 0
2
du 
2
t.

s e h(s)    r (s)   
2 2   2 3 1
Assim, t  r (s)  s   s, s ,  .
13  13   13 13 2

Mais uma vez note que h(s)  1 .

Cálculo III 27
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Observação: Como vimos se h é a parametrização pelo comprimento de arco de uma curva


regular  , então  (t )  h(s) , onde s   (t )   ta  (u) du para a  t  b e 0  s  l , onde é o
comprimento de  .

Derivando a primeira igualdade em relação a t, obtemos:

ds
 (t )  h(s)   h(s)  v(t ) , onde v(t )   (u) .
dt

 (t )
Assim,  h(s) , ou seja, T(t)  h(s)  T(s) .
v(t )

Derivando novamente esta última igualdade em relação a t, vem:

ds
T(t )  T(s)   T(s)  v(t ) .
dt

T(t ) T(s)  v(t )


Daí, T(t )  T(s)  v(t ) e  , ou seja, N(t )  N(s) .
T(t ) T(s)  v(t )

Como T(t )  T(s) e N(t )  N(s) , segue-se que B(t )  B(s) .

Em geral, T(t) e T(s) são funções diferentes, definidas em intervalos diferentes.


Porém, elas dão exatamente a mesma descrição de mudança de direção do traço comum de  e
h, visto que em qualquer ponto da curva, os vetores T(t) e T(s) são os mesmos, como vimos
acima. Considerações análogas valem para os demais vetores do triedro de Frenet.

SEÇÃO 1.9: CURVATURA DE UMA CURVA

Nesta seção, estamos interessados em obter uma maneira de avaliar o quanto uma
curva se dobra (ou se curva) em cada um de seus pontos. Tentaremos dar uma medida numérica
desta mudança de direção num ponto da mesma; este número será chamado curvatura da curva
naquele ponto. É de se esperar que os resultados obtidos desta medida venham coincidir com as
nossas experiências anteriormente adquiridas. Por exemplo, que uma reta, que não se curva em
ponto algum, tenha curvatura zero em cada ponto.

Que um círculo tenha curvatura constante, já que o mesmo se dobra do mesmo modo em cada
ponto.

Cálculo III 28
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

E ainda mais, que a curvatura do círculo seja inversamente proporcional ao seu raio, já que
quanto menor for seu raio, mais ele se curva.

Esta medida deve também nos informar que a curva  abaixo, se curva mais no
ponto A do que no ponto B. De modo geral, quanto mais a curva se dobra, maior será sua
curvatura aí.

A



B

Para fazer valer tais observações, lançaremos mão dos vetores tangentes à curva.
Melhor dizendo, levaremos em consideração a taxa de variação do vetor tangente.

Inicialmente observamos que no caso da reta, os vetores tangentes em cada ponto


têm a mesma direção: a da reta. Portanto, a taxa de variação dos mesmos é nula, isto é,
T(s)  0 .

T(s1 ) T(s2 ) T(s3 ) T(s4 ) T(s5 )


    

Para uma curva mais suave, como  abaixo, os vetores tangentes variam de direção
em cada ponto, mas não tão bruscamente como na curva  próximo ao ponto A, isto é, a taxa
de variação de T(s) em  , no ponto B, é bem menor que em  , no ponto A. Portanto, a
rapidez com que o vetor T(s) muda de direção, nos informa como a curva está se curvando
num determinado ponto. Daremos então a seguinte definição.


  

A

   
  B 

 

Cálculo III 29
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Definição 1.9.1: Seja  : a, b   n uma curva parametrizada pelo comprimento de arco.
Definimos a curvatura k (s) no ponto  (s) como sendo

k (s)  T(s) .

O vetor T(s) é denominado vetor curvatura. Observe que este vetor é sempre
ortogonal ao vetor tangente e, portanto, normal a  . Se  não está parametrizada pelo
comprimento de arco, então a curvatura k (t ) é dada por

T( s)
k (t )  .
v(t )

Com efeito, como T(t )  T(s) , se derivarmos a expressão em relação a s, teremos

dT dT dt 1
T (s)    T(t )  .
ds dt ds v(t )

T(t ) T(t )
Portanto, T(s)  , isto é, k (t )  .
v(t ) v(t )

Exemplo 1.9.1: (Curvatura da reta) Seja  (t )  P  tu , u  0 . Temos

 (t )  u  (t ) u
e T(t )   .
 (t ) u

Portanto, T(t )  0 . Logo, k (t )  0 para todo t.

Exemplo 1.9.2: (Curvatura do círculo) Seja  (t )  (a cos t , a sin t ) , a  0 . Temos

 (t)  (a sin, a cos t) e v(t )   (t )  a .

Daí, T(t )  ( sin t , cos t ) e T(t )  ( cos t , sin t ) . Assim, T(t )  1 e k (t )  1 a .

Portanto, é constante a curvatura do círculo. Além disso, vê-se que a curvatura é


inversamente proporcional ao raio.

Exemplo 1.9.3: (Curvatura da hélice) Seja  (t)  (a cost , a sint , bt) , a  0 , b  0 . Temos

 (t )  (a sint , a cost , b) e v(t )   (t )  a 2  b 2 .

 (t )  a a a 
Logo, T(t )     sin t , 2 cos t , 2  e
 (t )  a b
2 2
a b 2
a  b2 

Cálculo III 30
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

 a a 
T(t )    cos t ,  sin t ,0  .
 a 2  b2 a 2  b2 

T(t ) 1  a  a
Daí, k (t )      2 .
v(t ) a  b  a  b2
2 2 2
 a  b 2

Portanto, a hélice também possui curvatura constante, ou seja, ela se “dobra” do


mesmo modo em cada um de seus pontos.

1
Definição 1.9.2: Quando k (t )  0 ,   é denominado o raio de curvatura da curva.
k (t )

Uma curva com pequena curvatura num ponto tem, nesse ponto, um grande raio de
curvatura e numa certa vizinhança do mesmo, a curvatura difere pouco de uma reta. Isto
permite interpretar a curvatura como uma medida da tendência para uma curva se desviar da
forma retilínea.

k0

k1

k2

k3

k4

k5
r

Das curvas acima, nos pontos que pertencem ao eixo r, teremos, genericamente, as
seguintes curvaturas: 0  k0  k1  k2  k3  k4  k5 .

O teorema a seguir relaciona a curvatura, a velocidade e a aceleração.

Teorema 1.9.1: Se  descreve um movimento com velocidade escalar v(t )   (t ) e


curvatura k (t ) , então

 (t )  v(t )  T(t )  k (t )  v2 (t )  N(t ) .

Prova: Do Teorema 1.6.1, sabemos que

 (t )  v(t )  T(t )  v(t )  T (t )  N(t ) .

Como k (t )  T(t ) v(t ) , então, T(t )  k (t )  v(t ) .

Cálculo III 31
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Portanto,  (t)  v(t)  T(t)  v(t)  (k (t)  v(t))  N(t) 


 v(t )  T(t )  k (t )  v 2 (t )  N(t ) .

O teorema a seguir apresenta outra maneira de se obter a curvatura de uma curva em


termos dos vetores  (t ) e  (t ) .

Teorema 1.9.2: Se  é uma curva regular, então

 (t )   (t )
k (t )  .
v 3 (t )

Prova: Temos que

 (t )   (t )  v(t )  T(t ) v(t )  T(t )  k (t )  v 2 (t )  N(t ) 


 v(t )  v(t )  T(t )  T(t )  k (t )  v3 (t )  T(t )  N(t ) 
 k (t )  v3 (t )  B(t )

já que T(t )  T(t )  0 . Como B(t )  1 , teremos, portanto,

 (t )   (t )
k (t )  .
v 3 (t )

SEÇÃO 1.10: TORÇÃO DE UMA CURVA

Observemos que uma reta ao se curvar descreve um movimento em 2 . Contudo,


para que a mesma venha a descrever um movimento em 3 , faz necessário torcer tal curva.
Na seção anterior, abordamos o problema da curvatura de uma curva. Nesta seção,
cuidaremos do problema de se avaliar quanto uma curva se torce em cada ponto. Como no
caso da curvatura, atribuiremos um valor numérico a esta grandeza; este número será
chamado torção da curva. Resta saber agora, qual o elemento responsável por esta medida.

Cálculo III 32
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

A ilustração acima nos mostra uma curva regular  , plana no intervalo a, b e seus
respectivos vetores tangente, normal e binormal num ponto  (t ) pertencente à curva neste
mesmo intervalo. Observe que a partir do ponto b   (tn ) a curva sai do plano (que coincide
com plano osculador da curva no intervalo a, b ).

Observemos inicialmente que se  é uma curva plana, então o vetor binormal B(s)
não sofre variação de direção, uma vez que B(s) é perpendicular ao plano osculador, o qual
coincide, em cada ponto, com o plano da curva. Neste caso B(s)  0 . Por outro lado, se a
curva sai do plano, então o vetor binormal sofre mudança de direção, pois ele será ortogonal
ao novo plano osculador no novo ponto da curva. Neste caso B(s)  0 . Portanto, pela figura,
deve-se deduzir que no intervalo a-b o vetor binormal não sofre variação de direção, mas
somente a partir do ponto b. Com isto, pode-se concluir que B(s) indica quão rapidamente a
curva se afasta do plano osculador em s, isto é, quão rapidamente a curva se torce.

Analisemos melhor este vetor B(s) .

i. Como B(s)  1 , s , então B(s) é perpendicular a B(s) [Teorema 1.3.3].


Portanto, B(s) pertence ao plano osculador gerado por T(s) e N(s) .
ii. Como B(s)  T(s)  N(s) , segue-se que B(s)  T(s)  N(s)  T(s)  N(s) , o que
indica que B(s) é perpendicular a T(s) já que T(s)  N(s)  0 .

De (i) e (ii) concluímos que B(s) é paralelo a N(s) , isto é,

B(s)   (s)  N(s) , para  (s)   . (iii)

Multiplicando-se escalarmente ambos os membros de (iii) por N(s) , obtemos

 (s)  B(s)  N(s) .

Cálculo III 33
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Definição 1.10.1: O número  (s) é denominado torção da curva em s.

Analogamente, se  é uma curva regular, então o vetor B(t ) é também paralelo ao


vetor N(t ) e assim

B(t)  (t)  N(t) , para (t )   .

Portanto, (t )  B(t )  N(t ) .

Por outro lado, como B(s)  B(t ) , segue-se que

dt 1 1  (t )
B(s)  B(t )   B(t )    (t )  N(t )    N(t )
ds v(t ) v(t ) v(t )

 (t )
isto é,  ( s )  N( s )   N(t ) .
v(t )

Como N(s)  N(t ) , concluímos que

 (t )
 ( s) 
v(t )

mede a torção de  em t.

Exemplo 1.10.1: (Torção da hélice) Seja  (t)  (a cost , a sint , bt) , a  0 , b  0 . Temos que

 (t )  (a sint , a cost , b) e v(t )   (t )  a 2  b 2 .

 a a a 
Agora, T(t )    sin t , cos t ,  ,
 a b
2 2
a b 2 2
a b 
2 2

 a a 
T(t )    cos t , 2 sin t ,0  e
 a b
2 2
a b 2

a
T(t )  .
a  b22

Portanto, N(t )  ( cost , sint ,0) .

 b b a 
Por outro lado, B(t )  T(t )  N(t )   2 sin t , cos t ,  .
 a b a b a  b2 
2 2 2 2

Cálculo III 34
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

 b b  b
Daí, B(t )   cos t , sin t ,0    N(t )
 a b a b  a  b2
2 2 2 2 2

b
e assim,  (t )   .
a  b2
2

Portanto, a torção da hélice é constante em cada ponto e vale

 (t ) 1  b  b
 (t )        2 .
v(t ) a 2  b2  a 2  b2  a  b2

Expressaremos a seguir as derivadas T , N e B em termos dos vetores T , N e B .

Teorema 1.10.1: (Fórmulas de Frenet) Se  : (a, b)  3 é uma curva parametrizada pelo


comprimento de arco com curvatura k (s)  0 e torção  (s) , então, para cada s,

i. T(s)  k (s)  N(s) ;


ii. N(s)  k (s)  T(s)   (s)  B(s) ;
iii. B(s)   (s)  N(s) .

T(s) T(s)
Prova: (i) Como N(s)   , então T(s)  k (s)  N(s) .
T(s) k ( s)

(ii) Sendo {T, N, B} uma base de 3 , então existem escalares a, b e c tais que:

N  a  T  b  N  c  B .

 N  T  a  T  T  b  N  T  c  B  T  a

Assim, N  N  a  T  N  b  N  N  c  B  N  b .
 N  B  a  T  B  b  N  B  c  B  B  c

Encontraremos agora estes coeficientes. Diferenciando a identidade N  T  0 , obtemos:

N  T  N  T  0  N  T  N  T  N  (k  N)  k .

Portanto, a  k . Por outro lado, visto que N(s)  1 , então N(s)  N(s)  0 e assim b  0 .

Finalmente, como N  B  0 para todo s, então

N  B  N  B  0  N  B  N  B  N  (  N)   .

Portanto, c   e N  k  T    B .

Cálculo III 35
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

(iii) Esta relação já foi estabelecida anteriormente quando definimos torção de uma curva.

Resultados parecidos com as fórmulas acima podem ser obtidos para as curvas
 : (a, b)  3 não necessariamente parametrizadas pelo comprimento de arco. É o que
mostra o teorema seguinte.

Teorema 1.10.2: Se  : (a, b)  3 é uma curva regular com curvatura k (t )  0 , torção  (t )


e velocidade escalar v(t )   (t ) , então

i. T(t )  k (t )  v(t )  N(t ) ;


ii. N(t)  k (t )  v(t)  T(t)   (t )  v(t )  B(t ) ;
iii. B(t )   (t )  v(t )  N(t ) .

Prova: (i) Seja h a reparametrização do traço de  pelo comprimento de arco. Sabemos que
T(s)  T(t) , onde t  r(s) . Daí,

dT dt 1 1
 T(t )  T(t )  T(t )  N(t )   k (t )  N(t ) .
ds ds v(t ) v(t )

Portanto, T(t)  k (t)  v(t)  N(t) .

(iii) Como B(s)  B(t) , t  r (s) , então

dt 1 1
B(s)  B(t )  B(t )   (t )   N(t )   (t )  N(t ) .
ds v(t ) v(t )

Por conseguinte, B(t )   (t )  v(t )  N(t) .

(ii) Façamos N  a  T  b  N  c  B . Segue-se que

N  T  a , N  N  b e N  B  c .

Como N  T  0 , para todo t, então N  T  N  T  0 e assim,

a  N  T  N  T  N  (k  v  N)  k  v .

Por outro lado, N(t )  1 para todo t, então N  N  0 e assim b  0 .

Finalmente, sendo N  B  0 para todo t, segue-se que N  B  N  B  0 e, portanto,

c  N  B  N  B  N  (  v  N)    v .

Cálculo III 36
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Daí, N  k  v  T    v  B .

O próximo teorema mostra outra maneira de se avaliar a torção de uma curva em


termos os vetores  ,   e   .

Teorema 1.10.3: Se  : (a, b)  3 é uma curva regular, então

 (t ) 
 (t )   (t )  (t ) .
 (t )   (t )
2

Como observamos no início desta seção, se  é uma curva plana, então sua torção
  0 ; se   0 , a curva torce, saindo de seu plano osculador. Portanto, é de se esperar que
quando  for identicamente nula, a curva permaneça sempre no mesmo plano.

Formalizaremos a seguir este fato que caracteriza as curvas planas.

Teorema 1.10.4: Seja  : (a, b)  3 é uma curva parametrizada pelo comprimento de arco
com curvatura k (s)  0 , para todo s. Então  é uma curva plana se, e somente se, sua torção
 (s)  0 , para todo s.

Prova: Suponhamos inicialmente que  é uma curva plana. Já observamos anteriormente


que, neste caso, em cada ponto o plano osculador coincide com o plano da curva. Como o
vetor B(s)  T(s)  N(s) é ortogonal ao plano osculador e, portanto ao plano da curva, segue-
se que B(s) é constante e como tal, B(s)  0 . Por conseguinte,  (s)  0 , s .

Reciprocamente, suponhamos que  (s)  0 , s . Isto significa que B(s)  0 e desta


forma, B(s) é um vetor constante. Afirmamos que  está contida no plano que passa por
 (c) , a  c  b , e é ortogonal a B(s) . Precisamos, pois, provar que

( (s)   (c))  B(s)  0 , s .

Consideremos a função real f definida por

f (s)  ( (s)   (c))  B(s) .

Temos que, f (s)   (s)  B(s)  ( (s)   (c))  B(s)   (s)  B(s)  0 , pois  (s)  T(s) e  está
parametrizada pelo comprimento de arco.

Como f (c)  0 , então, f (s)  0 , para todo s, o que demonstra nossa afirmação.

O teorema seguinte constitui uma caracterização do círculo.

Cálculo III 37
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

Teorema 1.10.5: Seja  : (a, b)  3 é uma curva plana parametrizada pelo comprimento de
1
arco com curvatura constante k  0 . Então  é um arco de círculo de raio .
k

1
Prova: Devemos provar que existe um ponto c tal que a distância de  (s) a c é , para todo
k
, isto é,
1
 (s)  c  .
k
Isto nos motiva escrever

1 1
 ( s)  c  u   u ,
k k

onde u é um vetor unitário, o que sugere que se

1 1
 ( s)  c   u então c   ( s)  u .
k k

Tomemos u  N(s) e consideremos a função

1
 (s)   (s)  N(s) .
k

1 1
Temos então  (s)   (s)  N(s)  T(s)  N(s) .
k k

Como N(s)  k (s)  T(s)   (s)  B(s)  k (s)  T(s) , pois  é plana, então

1
 (s)  T(s)  (k (s)  T(s)) , s .
k

Portanto, a curva  é constante, isto é,

1
 (s)  T(s)  N(s)  c , s .
k

Por outro lado, a distância de  (s) ao ponto c é

1 1
d( ( s ), c )   (s)  c  N( s )  .
k k

O teorema acima também vale se  não está parametrizada pelo comprimento de


arco (verifique!).

Cálculo III 38
Cap. 01: Funções vetoriais de uma variável real Prof. Sinvaldo Gama

 s s  s 
Exemplo 1.10.1: Mostre que a curva  (s)   4 sin ,1  5 cos ,3 sin   é um círculo.
 5 5  5 
Ache o centro e o raio do mesmo.

Solução: Inicialmente, observemos que  é uma curva plana. De fato, sendo x  4 sin(5s ) e
z  3 sin( 5s ) , segue-se que z   34 x é o plano que a contém. Calculemos a curvatura de  .
Temos que

4 s s 3  s 
 (s)   cos , sin , cos   .
5 5 5 5  5 

16 s s 9 s s s


 (s)  cos2    sin2    cos2    cos2    sin2    1 .
2
Daí,
25 5  5  25 5 5 5

Assim, T(s)   (s) . Então,

 4 s 1 s 3  s 
T(s)    sin , cos , sin   .
 25  5  5  5  25  5  

16 s 1 s 9 s


Portanto, k ( s)  T( s )  sin 2    cos2    sin 2  
625  5  25  5  625 5
25 s 1 s 1
 sin2    cos2     0 , s .
625  5  25 5 5

Logo  é um círculo de raio 5 e centro no ponto

1
c   (s)  N(s) 
k

 s s  s   4  s   s  3  s 
  4 sin ,1  5 cos ,3 sin    5  sin , cos , sin    (0,1,0) .
 5 5  5   5  5   5  5  5 

Cálculo III 39
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

CAPÍTULO 2
FUNÇÕES REAIS DE VÁRIAS VARIÁVEIS REAIS ( f : n  )

SEÇÃO 2.1: FUNÇÕES E GRÁFICOS

Neste capítulo estudaremos as funções reais definidas sobre subconjuntos de  , ou


n

seja, as funções reais de várias variáveis reais. Muitos fenômenos que ocorrem na natureza
são traduzidos por funções que, geralmente, não dependem de uma só, mas de duas, três ou
mais variáveis independentes. Por exemplo, o volume de um gás depende de dois valores, a
saber, a pressão e a temperatura; é, portanto, uma função de duas variáveis, conforme indica a
equação de estado dos gases ideais: PV  nRT , onde P é a pressão, V é o volume, T é a
temperatura e n e R são constantes. O volume de um cilindro, V  r h é uma função que
2

depende de duas variáveis: o raio r da base e a altura h do cilindro. Com frequência, funções
de várias variáveis surgem também na biologia, física, matemática e engenharia. Estes fatos
justificam, pois, um estudo detalhado de tais funções. Estudaremos neste capítulo, conceitos
como limite, continuidade e derivabilidade dessas funções. Mais adiante, serão estudados
conceitos como máximos, mínimos e integração, dentre outros.

Definição 2.1.1: Seja D um subconjunto de  , X um ponto de D e y um número real. Uma


n

função

f : D 
X  y  f (X )

é denominada uma função real de n variáveis reais.

Visto que X  ( x1 , x2 ,..., xn ) , escrevemos f (X ) ou f ( x1 , x2 ,..., xn ) . Se X   , escrevemos


2

f ( x, y) em vez de f ( x1 , x2 ) e f ( x, y, z) em vez de f ( x1 , x2 , x3 ) . O conjunto D é o domínio de


f e será denotado por D f e o conjunto

Im( f )  { f ( X )  ; X  D f }

é a imagem de f.

Definição 2.1.2: Se f é uma função real de uma variável, o gráfico de f é o subconjunto de


2 definido por

Gr( f )  {( x, y)  2 ; y  f ( x)}

Cálculo III 40
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Semelhantemente, se f é uma função real de duas variáveis, o gráfico de f é o


subconjunto do  , definido por
3

Gr( f )  {( x, y, z)  3 ; z  f ( x, y)}

Como meio de aumentar a compreensão pela visualização, um gráfico é útil apenas


para as funções f : D     ou g : E  2   . No Cálculo I, representamos,
geometricamente, as funções reais de uma variável por curvas; para as funções reais de duas
variáveis, em geral, elas são representadas geometricamente por meio de superfícies. Em
nosso estudo, examinaremos apenas funções cujos gráficos têm tal representação.

Uma maneira de melhor esboçá-los é através dos chamados conjuntos de nível de f ,


que são subconjuntos do domínio de f sobre os quais f é constante.

Definição 2.1.3: Seja f : D  n   uma função e seja k um elemento da imagem de f . O


conjunto

Sk  { X  D; f ( X )  k}

é denominado um conjunto de nível de f associado a k.

D f 
Sk

k  f (S k )

i. Se f : D  2   , Sk  {( x, y)  D; f ( x, y)  k} é denominado uma curva de nível de


f associada a k.
ii. Se f : D  3   , Sk  {( x, y, z)  D; f ( x, y, z)  k} é chamado uma superfície de
nível de f associada a k.

Observe que se f : D  2   , os conjuntos de nível de f são as interseções do


gráfico de f com os planos z  k .

Cálculo III 41
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

SEÇÃO 2.2: LIMITE E CONTINUIDADE

Definição 2.2.1: Seja X 0  n e r um número real positivo. Denominamos bola aberta de


centro X 0 e raio r, o conjunto

B( X 0 ; r )  { X 0  n ; X  X 0  r}

i. Se n  1 , B( X 0 ; r) é o intervalo aberto ( X 0  r , X 0  r) ;
ii. Se n  2 , B( X 0 ; r) é o círculo de centro X 0 e raio r, excetuando-se sua circunferência;
iii. Se n  3 , B( X 0 ; r) é a esfera centrada em X 0 e raio r, excetuando-se sua superfície;

 2 3

 
r X0 r X0 r r

Analogamente, denominamos bola fechada de centro X 0 e raio r o conjunto

BX 0 ; r   { X 0  n ; X  X 0  r}

i. Se n  1 , BX 0 ; r  é o intervalo fechado X 0  r , X 0  r  ;


ii. Se n  2 , BX 0 ; r  é o círculo de centro X 0 e raio r;
iii. Se n  3 , BX 0 ; r  é a esfera centrada em X 0 e raio r;
 2 3

 
r X0 r X0 r r

Definição 2.2.2: Um subconjunto D do  é aberto quando em cada ponto X 0  D existe


2

uma bola aberta B( X 0 ; r) contida em D.

Cálculo III 42
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Definição 2.2.3: Um subconjunto D do  é dito limitado se existe uma bola aberta de raio
n

r  0 centrada na origem que o contenha. Caso contrário, D é dito ilimitado.

Definição 2.2.4: Dizemos que um ponto X 0 é interior a um subconjunto D do  se X 0  D


n

e se existe alguma bola aberta B( X 0 ; r) centrada em X 0 e contida em D.

D
r

X0

Definição 2.2.5: Dizemos que um ponto X 0 é exterior a um subconjunto D do  se


n

X 0  D e se existe alguma bola aberta B( X 0 ; r) centrada em X 0 e tal que B( X 0 ; r)  D   .

D
r

X0

Definição 2.2.6: Dizemos que X 0 é um ponto fronteira de um subconjunto D do  se X 0


n

não é nem interior e nem exterior a D.

Cálculo III 43
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Ex.: y y
A B

 X 0  (0, y), y  0

x x
0 0
A  {( x, y)  2 ; x  0, y  0}
B  {( x, y)  2 ; x  0}

Nota: O conjunto de todos os pontos fronteira de um conjunto é chamado fronteira do


conjunto. Quando todos os pontos fronteira de um conjunto pertencem a ele, o mesmo é
chamado um conjunto fechado (na figura, X 0 é ponto fronteira e B é um conjunto fechado).

Definição 2.2.7: Seja D um subconjunto aberto do  e f uma função definida em D exceto


n

possivelmente em X 0  D . Dizemos que f tem limite L   em torno do ponto X 0 e


escrevemos

lim f ( X )  L
X X0

se dado um número real   0 qualquer, existe um número real   0 tal que quando

0  X  X 0   , X  D , então f ( X )  L   .

Com outras palavras, dado   0 , existe uma bola aberta B( X 0 ; r)  D , centrada em


X 0 e de raio  tal que

Se X  B( X 0 ; r ); X  X 0 , então f ( X )  B(L;  )  (L   , L   ) .

D
f
r 
  
X0 L  L 
L

Pergunta: O que significa dizer que a função f não tem limite L em torno de X 0 ?
Resposta: Significa que existe um número real   0 tal que para todo   0 , existem pontos
X  B( X 0 ; r) para os quais f ( X )  L   .

Cálculo III 44
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

D
r 

X0  
L  L L 

Nem sempre é tarefa fácil provar a existência do limite de uma função usando-se a
definição de limite. Uma dificuldade que se apresenta é que tal definição não nos indica como
obter o limite que ele existe. Observe que a definição, para ser usada, requer o conhecimento
prévio do limite (!). Faremos a seguir uma lista de certas propriedades dos limites que nos
indicará uma técnica para o cálculo do limite de uma função a partir do conhecimento do
limite de outras funções. Mais precisamente, temos o seguinte teorema:

Teorema 2.2.1: Sejam f , g e h funções definidas no subconjunto aberto D de  , exceto


n

possivelmente em X 0  D . Se lim f ( X )  L e lim g ( X )  M , então


X X0 X X0

i. lim ( f ( X )  g ( X ))  lim f ( X )  lim g ( X )  L  M ;


X X0 X X0 X X0

ii. lim ( f ( X )  g ( X ))  lim f ( X )  lim g ( X )  L  M ;


X X0 X X0 X X0

 f ( X )  Xlim
X0
f (X ) L
lim    , se M  0 ;
X  X 0  g( X ) 
iii.
  Xlim
X0
g( X ) M

iv. Se lim f ( X )  0 e g é limitada, isto é, g ( X )  M  0 para todo X em alguma bola


X X0

aberta centrada em X 0 , então lim ( f ( X )  g ( X ))  0 ;


X X0

v. Se f ( X )  g ( X ) , para todo X  D { X 0} , então lim f ( X )  lim g ( X ) ;


X X0 X X0

vi. Se f ( X )  h( X )  g ( X ) , para todo X  D { X 0} e lim f ( X )  lim g ( X )  L , então


X X0 X X0

h possui limite em X 0 e lim h( X )  L .


X X0

CONTINUIDADE

Grosso modo, uma função contínua é aquela cujos valores não sofrem variações
bruscas, isto é, se X está próximo de X 0 então f (X ) deve estar próximo de f ( X 0 ) . Como se
observa essa ideia está relacionada ao conceito de limite. Entretanto, isso não significa dizer
que se uma função tem limite em torno de um ponto, que neste ponto ela seja contínua, uma
vez que na definição de limite não se exige que a função esteja definida no ponto no qual
estamos considerando o limite. Mais precisamente, temos a seguinte definição:

Cálculo III 45
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Definição 2.2.8: Seja D um subconjunto do  , X 0  D e f : D   uma função. Dizemos


n

que f é contínua em X 0 se

lim f ( X )  f ( X 0 )
X X0

isto é, dado   0 qualquer, existe   0 tal que

se X  X 0   , X  D , então f ( X )  f ( X 0 )   .

Diz-se que f é contínua em D quando f é contínua em cada ponto de D.

Teorema 2.2.2: Seja D um subconjunto aberto do  . Se f , g : D   são funções


n

contínuas em X 0  D , então são também contínuas em X 0 as funções f  g , f  g e f / g


desde que g(X 0 )  0 .

Teorema 2.2.3: (Continuidade da função composta). Seja D um subconjunto aberto do  .


n

Se f : D   é uma função contínua em X 0  D e se  : I     é contínua em


f ( X 0 )  y0  I , onde f (D)  I , então   f : D   é contínua em X 0 .

Prova:  
D f 
'  y0    z0  

X0  y0  f ( X 0 )  z0    f ( X 0 )  ( f ( X 0 ))
y0   z0  
 

Como  é contínua em y0  f ( X 0 ) , dado   0 existe   0 tal que,

se y  y0   , y  ( y0   , y0   ) , então  ( y)   ( y0 )   .

Portanto, se

f ( X )  f ( X 0 )   , y  ( y0   , y0   ) , então  ( f ( X ))   ( f ( X 0 ))   .

Como f é contínua em X 0 , dado   0 , podemos encontrar um  '  0 tal que,

se X  X 0   ' , X  D , então f ( X )  f ( X 0 )   e assim  ( f ( X ))   ( f ( X 0 ))   .

Cálculo III 46
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Mostraremos no próximo teorema que todo funcional linear de  em  é contínuo


n

em todo ponto de  .
n

Teorema 2.2.4: Se T :    é um funcional linear, então


n

T ( X )  k  X para algum inteiro k   ;


n
i.

T é contínuo em todo ponto do  .


n
ii.

Prova: (i) Seja {e1 , e2 ,..., en} a base canônica de  . Se X  ( x1 , x2 ,..., xn ) , então
n

X  x1  e1  x2  e2    xn  en e T ( X )  x1  T (e1)  x2  T (e2 )    xn  T (en )

pois T é linear. Daí,

T ( X )  x1  T (e1 )  x2  T (e2 )    xn  T (en ) .

Como xi  X , i  1,..., n , então T ( X )  X  T (e1 )  T (e2 )    T (en )  .

Fazendo k  T (e1 )  T (e2 )    T (en ) , obtemos T ( X )  k  X .

(ii) T ( X )  T ( X 0 )  T ( X  X 0 )  k  X  X 0 , pelo item anterior. Portanto, dado   0 , tome


  k .

A continuidade de várias funções pode ser deduzida facilmente com a aplicação


repetida dos dois seguintes corolários.

Corolário 2.2.1: As funções

P1 : 2  
X  P1( X )  x ,
e
P2 : 2  
X  P2 ( X )  y

são contínuas em  , onde X  ( x, y) .


2

Prova: Observe que P1 e P2 são funcionais lineares e, portanto, pelo teorema anterior, são
contínuas em  . Mais geralmente, as funções
2

Pi : n  

Cálculo III 47
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

X  Pi ( X )  xi , onde X  ( x1 ,..., xi ,..., xn ) .

são contínuas em  , pois são funcionais lineares.


n

Corolário 2.2.2: As funções

S : 2  
X  S( X )  x  y ,
e P : 2  
X  P( X )  xy

são contínuas em  , pois são funcionais lineares.


2

Prova: Como S é um funcional linear, pelo teorema 2.4, S é contínuo (S  P1  P2 ) . Quanto à


função P, observe que P  P1  P2 .

SEÇÃO 2.3: DERIVADAS PARCIAIS

Para estendermos as técnicas do Cálculo às funções definidas em  precisamos do


n

conceito de derivada parcial. Comecemos com uma função real f , definida em  , isto é,
2

f : D  2  
( x, y)  z  f ( x, y)

Se fixarmos uma das variáveis, digamos y  y0 , obteremos uma função


( x)  f ( x, y0 ) que depende de uma única variável x .

Definição 2.3.1: A derivada da função (x) no ponto x0 , isto é,

 ( x0  h)   ( x0 ) f ( x0  h, y0 )  f ( x0 , y0 )
 ' ( x0 )  lim  lim
h0 h h0 h

quando existe, é chamada a derivada parcial de f em relação a x no ponto X 0  ( x0 , y0 ) .


f
Notações:  ' ( x0 )  ( x0 , y0 )  f x ( x0 , y0 )  Dx f ( x0 , y0 )  D1 f ( x0 , y0 ) .
x

Pergunta: Qual é o efeito, no domínio de f , ao restringirmos a variável y  y0 ? Resposta:

O domínio de f fica reduzido a um segmento de reta (segmento AB na figura abaixo).

Cálculo III 48
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

X0
A  B
y  y0

x
x0

Pergunta: Qual o efeito, no gráfico de f , ao restringirmos a variável y  y0 ? Resposta: O


gráfico de f fica reduzido à curva  ( x)  ( x, y0 , f ( x, y0 )) a qual é justamente a interseção do
gráfico de f (que é uma superfície) com o plano y  y0 . Note também que a curva  é o
gráfico da função  .

 ( x)  ( x, y0 , f ( x, y0 ))

y  y0
y

Nota: Observe que ( x0  h, y0 )  ( x0 , y0 )  h  (1,0)  X 0  he1 , onde e1 = (1,0). Como sabemos a


expressão X 0  he1 , h   representa a equação de uma reta que passa pelo ponto X 0 e é
paralela ao vetor e1 . No caso em questão, devemos restringir os valores de h de modo que
X 0  he1 fique contida no domínio D da função f .

Cálculo III 49
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

y
g( X )  X 0  he1

X0
y0  

x
0 e1 x0

Podemos então escrever:

f f ( X 0  he1 )  f ( X 0 )
( X 0 )  lim
x h 0 h
f
e deste modo ao calcularmos a derivada x ( X 0 ) , estamos restringindo o domínio de f a um
segmento de reta que passa por X0 e tem direção do vetor e1 e calculando aí a sua taxa de
variação.

Definição 2.3.2: A derivada da função  (x) no ponto x0 , isto é,

 ( y0  h)   ( y0 ) f ( x0 , y0  h)  f ( x0 , y0 )
 ' ( x0 )  lim  lim
h 0 h h 0 h

quando existe, é chamada a derivada parcial de f em relação a y no ponto X 0  ( x0 , y0 ) .


f
Notações:  ' ( x0 )  ( x0 , y0 )  f y ( x0 , y0 )  Dy f ( x0 , y0 )  D2 f ( x0 , y0 ) .
y

Pergunta: Qual é o efeito, no domínio de f , ao restringirmos a variável x  x0 ? Resposta: O


domínio de f fica reduzido a um segmento de reta (segmento MN na figura abaixo).

y
M
D

y0  X
0

x  x0

N
x

Cálculo III 50
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Pergunta: Qual o efeito, no gráfico de f , ao restringirmos a variável x  x0 ? Resposta: O


gráfico de f fica reduzido à curva  ( x)  ( x0 , y, f ( x0 , y)) a qual é justamente a interseção do
gráfico de f (que é uma superfície) com o plano x  x0 . Note também que a curva  é o
gráfico da função  . Note também que a curva  é o gráfico da função  .

 ( x)  ( x0 , y, f ( x0 , y))

x  x0

Nota: Observe também que ( x0 , y0  h)  ( x0 , y0 )  h  (0,1)  X 0  he2 , onde e1 = (0,1). A


expressão X 0  he2 , h   representa a equação de uma reta que passa pelo ponto X 0 e é
paralela ao vetor e2 . No caso em questão, devemos restringir os valores de h de modo que
X 0  he2 fique contida no domínio D da função f .

h( X )  X 0  he2

y0   X0

e2
x
0 x0

Podemos então escrever:

f f ( X 0  he2 )  f ( X 0 )
( X 0 )  lim ,
y h  0 h

Cálculo III 51
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f
isto é, calcular y ( X 0 ) significa obter a taxa de variação de f ao longo do segmento de reta
que passa por X 0 e tem direção do vetor e2 .

INTERPRETAÇÃO GRÁFICA DAS DERIVADAS PARCIAIS

Assim como o valor da derivada ordinária num ponto é o declive da reta tangente ao
f
gráfico naquele ponto, a derivada parcial x ( x0 , y0 ) é o declive, no ponto ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) , da
reta tangente à curva  ( x)  ( x, y0 , f ( x, y0 )) descrita no início desta seção. Analogamente,
f
podemos observar que y ( x0 , y0 ) é o declive, no ponto ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) , da reta tangente à
curva  ( y)  ( x0 , y, f ( x0 , y)) . (veja os gráficos correspondentes nas páginas 52 e 53.)

PLANO TANGENTE

Definição 2.3.3: Definimos o plano tangente ao gráfico de f no ponto ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 )) ,


como sendo o plano definido pelos vetores tangentes,  ( x0 ) e  ( y0 ) , respectivamente, às
curvas  e  neste ponto.




y0
y
x0
x
X 0  ( x0 , y0 )

EQUAÇÃO DO PLANO TANGENTE

Sejam  ( x)  ( x, y0 , f ( x, y0 )) e  ( y)  ( x0 , y, f ( x0 , y)) . Os vetores tangentes a  e 


são, respectivamente:

 ( x0 )  (1 ,0, f x ( x0 , y0 )) e  ( y0 )  (0, 1, f y ( x0 , y0 ))

Cálculo III 52
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Agora, seja

N   ( x0 )   ( y0 )   f x ( x0 , y0 )  i  f y ( x0 , y0 )  j  k

o vetor normal ao plano tangente. Então a equação do mesmo será:

((x, y, z)  ( x0 , y0 , f ( x0 , y0 ))  ( f x ( x0 , y0 ), f y ( x0 , y0 ),1)  0 , ou seja,


( x  x0 )  f x ( X 0 )  ( y  y0 )  f y ( X 0 )  ( z  f ( X 0 ))  0 , para X 0  ( x0 , y0 ) .

DERIVADAS PARCIAIS E CONTINUIDADE

Sabemos que se uma função real de uma variável é derivável num ponto, então ela é
contínua nesse ponto. O exemplo seguinte mostra-nos que a existência das derivadas parciais
num ponto, não implica necessariamente a continuidade da função nesse ponto.

 xy
 ; ( x, y)  (0,0)
A função f ( x, y)   x 2  y 2
 0 ; ( x, y)  (0,0)

possui derivadas parciais em (0,0) mas f não é contínua neste ponto. Com efeito,

f (0  h,0)  f (0,0) 00


f x (0,0)  lim
h0
 lim
h0
0
h h
f (0,0  k )  f (0,0) 00
f y (0,0)  lim
k 0
 lim
k 0
0
k k

Por outro lado, f (x,0)  0 e f ( x, x)  12 . Portanto, não existe lim f ( x, y) e f não


( x , y )( 0 , 0 )

é contínua em (0,0) .

Do exposto, resulta que o conceito de derivada parcial, embora seja uma ideia bastante
útil, não é uma boa generalização do conceito de diferenciabilidade para funções de várias
variáveis reais. Acreditamos que uma boa generalização deverá implicar na continuidade da
função, porque isso é o que acontece no caso das funções reais de uma variável.

DERIVADAS PARICIAIS DE ORDEM SUPERIOR

Podemos repetir indefinidamente a operação que consiste em calcular derivadas de


uma função, contanto que as derivadas existam. Usaremos as seguintes notações:

f
i.  fx ;
x
  f   2 f
ii.    f xx ;
x  x  x 2

Cálculo III 53
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

  f   2 f
iii.    f yy ;
y  y  y 2
  f   2 f
iv.    f xy ;
y  x  xy
  f   2 f
v.    f yx ;
x  y  xy
  2 f  3 f
    f yyx .
x  y 2
vi.
 xy
2

Exemplo 2.3.1: Seja f ( x, y, )  4 x5 y3  5xy 7  x . Calcule as derivadas parciais de segunda


ordem de f .

Solução: f x  20 x4 y3  5 y 7  1 ; f y  12 x5 y 2  35 xy 6 ;
f xx  80 x3 y3 ; f yy  24 x5 y  210 xy 5 ;
f xy  60 x 4 y 2  35 y 6 ; f yx  60 x 4 y 2  35 y 6 .

Note que f xy  f yx , para todo ( x, y)  2 .

1 2 1 2 f 2 f
Exemplo 2.3.1: Seja f ( x, y, )   ( x 2
 y ) . Determine e .
x2  y 2 xy yx

f 2 f 8 xy
Solução:  ( x 2  y 2 ) 2  2 x e  2 x(2)(x 2  y 2 )3  2 y  2 .
x yx ( x  y 2 )3
f 2 f 8 xy
 ( x 2  y 2 ) 2  2 y e  2 y(2)(x 2  y 2 )3  2 x  2 .
y yx ( x  y 2 )3

Note mais uma vez a igualdade entre as derivadas parciais mistas, isto é, f xy  f yx .

Em geral, não é certo que f xy  f yx (basta, para isso, que a função considerada seja

descontínua em algum ponto de  ). Contudo, sob hipóteses de continuidade, estas duas


2

derivadas parciais mistas são iguais. No teorema seguinte se estabelecerá este resultado.

Teorema 2.3.1: Seja D um subconjunto aberto de 2 e f : D   uma função tal que f xy e


f yx são contínuas em D. Então

  f    f 
f xy     f yx    .
x  y  y  x 

Cálculo III 54
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

SEÇÃO 2.4: REGRA DA CADEIA (1ª VERSÃO)

Teorema 2.4.1: Seja f : D  n   uma função cujas derivadas parciais existem no ponto
X 0  D . Seja  : I     uma função real diferenciável em y0  f ( X 0)  I , onde
f (D)  I . Então   f : D   tem derivadas parciais em X 0 e

(  f ) f
( X 0 )   ( f ( X 0 ))  (X 0 ) .
xi xi

Prova: Por comodidade, consideraremos f : D  2   .

y  
D  2 f 
 

 y0  f ( X 0 )  z0   ( y0 )
y0 X0

 

x
0 x0
h   f

Fazendo y  y0 , tem-se

h( x, y0 )  ( f ( x, y0 ))  ( ( x))

onde  ( x)  f ( x, y0 ) . Assim,

h f f
( X 0 )   ( ( x))  ( x)   ( f ( x0 , y0 ))  ( x0 , y0 )   ( f ( X 0 ))  ( X 0 )
x x x

onde X 0  ( x0 , y0 ) . Analogamente,

h f
( X 0 )   ( f ( X 0 ))  ( X 0 ) .
x x

SEÇÃO 2.5: DERIVADA DIRECIONAL

Como vimos na Seção 3, a derivada parcial de uma função real mede a taxa de
variação da função numa certa direção coordenada. Por exemplo, se z  f ( x, y) , então f x
mede a taxa de variação de f em relação a x, na direção do vetor e1  (1,0) e f y mede a taxa de

Cálculo III 55
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

variação de f em relação a y, na direção do vetor e2  (0,1) . Geometricamente, elas descrevem


o comportamento de f (crescimento e decrescimento) quando, a partir do ponto caminhamos
na direção do eixo dos x ou na direção do eixo dos y. Quando desejamos medir a taxa de
variação da função f numa direção arbitrária, usamos a derivada direcional.

Definição 2.5.1: Seja f : D  n   , D aberto, e seja u um vetor unitário do  n . A


f
derivada direcional de f no ponto X 0 na direção u, denotada por u ( X 0 ) , é o limite

f f ( X 0  tu)  f ( X 0 )
( X 0 )  lim .
u t 0 t

D X0
y0 
X (t )  X 0  tu
u
x
x0

Como D é aberto, X 0  tu  D para valores de t suficientemente pequenos. O domínio


f
de u é o subconjunto do domínio de f para o qual o limite acima existe.

Observação: Consideremos a reta  (t )  X 0  tu , a  t  b , onde a e b são escolhidos de tal


maneira que a imagem de  esteja contida em D.

y
I 

D  (t )
b X0
 y0  f
t k
u
a x
x0

Seja g(t )  f  (t )  f ((t))  f ( X 0  tu) , com X 0  tu  D . Temos, g (0)  f ( X 0 ) e

g (t )  g (0) f ( X 0  tu)  f ( X 0 ) f
g (0)  lim  lim , isto é, g (0)  ( X 0 ) .
t 0 t 0 t 0 t u

DERIVADA DIRECIONAL E CONTINUIDADE

Cálculo III 56
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Tivemos oportunidade de observar na Seção 3, que uma função pode ter derivadas em
um ponto e a mesma não ser contínua neste ponto. O fato surpreendente é que mesmo sendo a
derivada direcional uma generalização do conceito de derivada parcial, uma função pode ter
num ponto derivadas direcionais em todas as direções e deixar de ser contínua neste ponto.

Por exemplo, considere a função

 xy 2
 ; ( x, y)  (0,0)
f ( x, y)   x 2  y 4
 0 ; ( x, y)  (0,0)

Seja X 0  (0,0) e u  (a, b)  2 um vetor unitário qualquer. Então temos:

f ( X 0  tu)  f ( X 0 ) f (tu)  f (0,0) f (ta, tb)  f (0,0)


  
t t t
1  t at 2b 2  t ab2 ab2
  2 2 4 4    .
t  t a  t b  t (a 2  t 2b 4 ) a 2  t 2b 4

Fazendo t  0 , encontramos

f f ab2 b 2
(X0)  (0,0)  2  , se a  0 .
u u a a

Se a  0 , entretanto,

f f (0, tb) 1 0 
(0,0)  lim  lim    0.
u t 0 t t 0 t  0  t 4b 4 

f
Por conseguinte, u
(0,0) existe para todas as direções u. Por outro lado, f assume o
valor ½ em cada ponto da parábola x  y (exceto na origem), de forma que, claramente, f
2

não é contínua em (0,0) uma vez que f (0,0)  0 .

Este exemplo nos mostra que derivadas direcionais bem como derivadas parciais não
são generalizações completamente satisfatórias, em n , da noção de derivada em  .

INTERPRETAÇÃO GRÁFICA DA DERIVADA DIRECIONAL

Lembramos que a derivada parcial de f em relação a x é a inclinação da tangente à


curva a qual a superfície é interceptada por um plano perpendicular ao plano xy, e paralelo ao
vetor e1 = (1,0). Da mesma forma, a derivada direcional da função f numa direção u, num
ponto X0 = (x0, y0), dá a inclinação da reta tangente à curva segundo a qual a superfície é
interceptada por um plano perpendicular ao plano xy e paralelo ao vetor u.

Cálculo III 57
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama


X0
X (t)  X 0  ut 

y
u

Sendo θ o ângulo dessa tangente com o plano xy, isso significa que

f
( X 0 )  tan
u

Esta derivada é positiva se f (X ) cresce à medida que X se desloca, a partir de X 0 , na


direção do vetor u, e negativa se f (X ) decresce.

SEÇÃO 2.6: FUNÇÕES DIFERENCIÁVEIS

O propósito desta seção é fornecer uma generalização adequada do conceito de


derivada de uma função real de uma variável. Quando estudamos a diferenciação de funções
de várias variáveis, considerando-as como uma função de uma única variável (mantendo todas
as outras fixas), isto nos levou ao conceito de derivada parcial.

Na generalização de um conceito, esperamos manter as propriedades consideradas


importantes; no caso em questão, por exemplo, que a existência da derivada de f implique na
continuidade. Como observamos anteriormente, nem as derivadas parciais nem tampouco a
derivada direcional preenchem este propósito. Passaremos, a seguir, a motivar uma definição
de diferenciabilidade em  que preencha os requisitos necessários para uma boa
n

generalização do conceito de derivada em  .

DIREFENCIABILIDADE EM 

Lembramos que uma função f :    é diferenciável em x0 se existe um


número a tal que

Cálculo III 58
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f ( x0  h)  f ( x0 )
lim  a.
h 0 h

Esta equação certamente deixa de ter sentido no caso de uma função definida em
 , pois estaríamos a dividir por um vetor. Nossa tarefa a seguir, é a de obter uma forma
n

equivalente de diferenciabilidade em  que seja passível de generalização. Para isso,


consideremos a função r(h) definida por

f ( x0  h)  f ( x0 )
r (h)  a, onde a  f ( x0 ) .
h

Segue-se que, lim r (h)  0 e


h 0

f ( x0  h)  f ( x0 )  ah  hr(h)

ou f ( x0  h)  f ( x0 )  ah  hr(h)

R(h)
Fazendo hr(h)  R(h) , obtemos r (h)  . Assim,
h

R(h)
f ( x0  h)  f ( x0 )  ah  R(h) , onde lim 0
h 0 h

R(h)
ou equivalentemente, lim 0.
h 0 h

Por outro lado, sabemos que é  um espaço vetorial e que as aplicações lineares
de  em  são da forma

T ( x)  T (1 x)  x  T (1)  b  x

onde b  T (1) é uma constante real e determina T, sendo única para cada aplicação linear de
 em  . Desta forma, o termo ah que aparece na fórmula acima pode ser interpretado como
sendo o valor de h da aplicação linear

T :
x  T ( x)  ax , onde a  f ( x0 ) .

Por conseguinte, podemos também considerar a derivada de f em x0 não como um


número, mas como uma aplicação linear que transforma x em ax . Sob este ponto de vista
daremos a seguir outra definição de diferenciabilidade de uma função.

Cálculo III 59
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Definição 2.6.1: Dizemos que f é diferenciável em x0   se existe um número real a e


uma aplicação linear T :    , dada por T ( x)  ax , tal que

R(h)
f ( x0  h)  f ( x0 )  T (h)  R(h) , onde lim 0.
h 0 h

T é a chamada diferencial ou derivada de f em que também denotamos por f ( x0 ) .

Observe que fizemos uma mudança na nomenclatura: para nós agora, é a aplicação
linear T ( x)  ax que será chamada de derivada de f no ponto x0 e não o número a  f ( x0 ) ,
como temos até agora usado. É evidente que a existência da aplicação linear exigida na
definição acima, está condicionada à existência do número a  f ( x0 ) e vice-versa, como
facilmente se verifica. Esta troca de nomenclatura se prende à facilidade de expressão que
teremos quando passarmos a considerar questões de diferenciabilidade de funções definidas
em n .

DIREFENCIABILIDADE EM 
n

Estamos agora em condições de definir diferenciabilidade para funções de duas ou mis


variáveis.

Definição 2.6.2: Seja f : D  n   , D aberto e X 0  D . Dizemos que f é diferenciável


em X 0 , se existir um funcional linear T : n   tal que

R( H )
f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (H )  R(H ) , onde lim 0.
H 0 H

R( H ) f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T ( H )
Note que  .
H H

  (H ) , donde
R( H )
Às vezes é conveniente escrever o resto sob a forma H

R( H )   ( H )  H e lim  ( H )  0 .
h0

O funcional linear T é denominado a diferencial ou a derivada de f em X 0 , que


denotamos também por f ( X 0 ) , isto é,

T  f ( X 0 ) : n  
X  y  f ( X 0 )( X ) .

Mostraremos mais adiante que o funcional linear T, quando existe, é único.

Cálculo III 60
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Observe que se X  ( x1 , x2 ,..., xn ) e e1 , e2 ,..., en são os vetores da base canônica de n ,


então

T ( X )  x1  T (e1)  x2  T (e2 )    xn  T (en ) .

Teorema 2.6.1: Se f é diferenciável em X 0 , então f é contínua em X 0 .

Prova: Sendo f diferenciável em X 0 , existe um funcional linear T tal que

f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (H )  R(H ) , onde lim f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (0)  0 .


H 0

Assim, lim f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (0)  0 , pois sendo T linear, é contínua em 0 e como tal,


H 0

lim T ( H )  T (0)  0 . Por outro lado,


H 0

R( H )
lim R( H )  lim X  00  0.
H 0 H 0 X

Portanto, lim f ( X 0  H )  f ( X 0 ) .
H 0

Mostraremos a seguir que se f for diferenciável em X 0 , então f admitirá derivadas


parciais em X 0 e T  f ' ( X 0 ) será o único funcional linear que goza da propriedade

R( H ) f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (H )
lim  lim 0.
H 0 H H  0 H

Mais precisamente temos o seguinte teorema.

Teorema 2.6.2: Se f é diferenciável em X 0  D , então

f ( X 0  tX )  f ( X 0 )
f ( X 0 )( X )  T ( X )  lim .
t 0 t

Em particular, T é único.

Prova: Sendo f diferenciável em X 0 , existe um funcional linear T tal que

R( H )
f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (H )  R(H ) e lim  0.
H 0 H

Pondo H  tX , vem:

Cálculo III 61
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f ( X 0  tX )  f ( X 0 )  T (tX )  R(tX )
 t  T ( X )  R(tX )
 t  T ( X )   (tX )  tX
 t  T ( X )  t   (tX )  X
f ( X 0  tX )  f ( X 0 )
Assim,  T ( X )   (tX )  X
t

f ( X 0  tX )  f ( X 0 )
e lim  T(X )  0  T(X )
t 0 t

já que lim  (tX )  0 .


t 0

A unicidade de T decorre da unicidade do limite.

A igualdade do teorema acima é bastante útil, pois ela nos mostra que forma deve ter o
funcional linear T, quando ele existe. Porém, vale ressaltar que a recíproca do Teorema 6.2 é
falsa, isto é, a existência do limite não implica a existência de T; isto está relacionado com o
fato de que apesar do limite da expressão existir ele pode não depender linearmente de X
como deveria ser, caso a função fosse diferenciável.

A utilidade da expressão no teorema acima é a de nos indicar um candidato a


funcional linear T, procedendo-se da seguinte maneira:

1. Calcula-se o limite;
2. Verifica-se se ele depende linearmente de X;
3. Verifica-se se o limite encontrado satisfaz a definição de diferenciabilidade;
4. Usando a unicidade de T, conclui-se que o limite encontrado é o funcional linear
procurado.

f
Corolário 6.2.1: Se f é diferenciável em X 0 , então todas as derivadas parciais, xi (X0) ,
existem e f ' ( X 0 ) é da forma

f f f
f ( X 0 )( X )  T ( X )  x1  ( X 0 )  x2  ( X 0 )    xn  ( X 0 ); X  ( x1 ,..., xn ) .
x1 x2 xn

Prova: De fato, se no teorema acima, tivermos X  ei , i  1,..., n , então

f ( X 0  tei )  f ( X 0 ) f
T (ei )  lim  (X0) ,
t 0 t xi

e como já observamos antes, T é da forma

T ( X )  x1  T (e1 )  x2  T (e2 )   xn  T (en ) 

Cálculo III 62
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f f f
 x1  ( X 0 )  x2  ( X 0 )    xn  (X0) .
x1 x2 xn

A matriz da aplicação linear T com relação à base canônica de n é, portanto,

 f f f 
 (X0) (X0)  ( X 0 ) ,
 x1 x2 xn 1n

denominada matriz jacobiana de f em X 0 .

Conclui-se, portanto, do Corolário acima, que para provar que uma função f é
diferenciável em X 0 é suficiente provar que f admite derivadas parciais em X 0 e que

f ( X 0  H )  f ( X 0 )  T (H )
lim  0.
H 0 H

f
Corolário 6.2.2: Se f é diferenciável em X 0 , então existe a derivada direcional u ( X 0 ) em
qualquer direção u e

f
( X 0 )  f ( X 0 )(u) .
u

f
Ademais, u ( X 0 ) é uma combinação linear das componentes de u. Mais precisamente,
se u  (u1 ,..., un ) , então

f f  f f 
f ( X 0 )(u)  u1  ( X 0 )    un  ( X 0 )   (X 0)  ( X 0 )   u .
x1 xn  x1 xn 

Prova: Pelo Teorema 2.6.2, temos

f ( X 0  tu)  f ( X 0 ) f
f ( X 0 )(u)  lim  (X 0 ) .
t 0 t u

A segunda parte do Corolário decorre imediatamente do corolário anterior.

CRITÉRIO DE DIFERENCIABILIDADE

Assim como a derivada de uma função de uma variável pode não existir, também em
geral, uma função de várias variáveis não é necessariamente diferenciável em todo ponto,
como tivemos oportunidade de ver em exemplos anteriores. Por outro lado, se f é
diferenciável em X 0 , existem todas as derivadas parciais xf ( X 0 ),..., xf ( X 0 ) . Não obstante,
1 n

Cálculo III 63
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

como sabemos a existência de todas essas derivadas não implica necessariamente que f seja
diferenciável em X 0 .

O teorema a seguir fornece um critério de diferenciabilidade conveniente. Este


resultado é bastante importante, pois em muitas ocasiões é mais fácil verificar a continuidade
das derivadas parciais do que a diferenciabilidade diretamente pela definição.

Teorema 2.6.3: Seja f : D  n   , D aberto e X 0  D . Se existem as derivadas parciais


f
x1 ( X 0 ),..., xfn ( X 0 ) e são contínuas em X 0 , então f é diferenciável em X 0 .

Definição 2.6.3: Seja f : D     , D aberto. Dizemos que f é de classe C em D ou


n 1

f
continuamente diferenciável se as derivadas parciais x1 ( X 0 ),..., xfn ( X 0 ) existem e são
contínuas em D.

f é de classe C k em D, se as derivadas parciais de ordem k existem e são contínuas



em D. Se este fato ocorre para todo inteiro positivo k, então f é dita de classe C .

1
Além disso, o teorema anterior assegura que se f é de classe C em D, então f é
diferenciável em D.

Fazemos agora uma pequena aplicação do conceito de diferenciabilidade.

APROXIMAÇÕES

Sabemos que se f é diferenciável em X 0  ( x0 , y0 ) , então

f ( X 0  H )  f ( X 0 )  f ( X 0 )(H )  R(H ) , com lim R(H )  0 .


H 0 H

Evidentemente, lim R( H )  0 , pois R( H ) 


R( H )
H
H de modo que para H pequeno,
H 0

f ( X 0  H )  f ( X 0 )  f ( X 0 )(H ) .

Portanto, f ( X 0 )  f ( X 0 )(H ) é a função afim que aproxima f numa vizinhança de X 0


.

A figura abaixo ilustra este fato para o caso de funções de uma variável.

Cálculo III 64
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f ( x0  h) 

f ( x0 ) 

x
x0 x0  h

f ( x0  h)  f ( x0 ) f ( x0  h)  f ( x0 )
Note que   f (h)   .
( x0  h)  x0 h

f ( x0  h)  f ( x0 )
No caso limite, lim f (h)  lim  f ( x0 )
h 0 h 0 h

e desta forma, se h é suficientemente pequeno, podemos afirmar que

f ( x0  h)  f ( x0 )  h  f ( x0 ) .

A(h)  f ( x0 )  h  f ( x0 ) é a função afim que aproxima f numa vizinhança de x0 .

Exemplo 2.6.1: Obter um valor aproximando para 1,012 .

1
Solução: Seja f ( x)  x . Temos f ( x)  . Assim:
2 x

1,012  f (1,012)  f (1  0,012)  f (1)  f (1)  0,012  1  12  0,012  212


200 .

Exemplo 2.6.2: Obter um valor aproximando para ln(1,0012) .

1
Solução: Seja f ( x)  ln x . Temos assim f ( x)  e deste modo:
x

ln(1,0012)  f (1,0012)  f (1  0,0012)  f (1)  f (1)  0,0012  0  1 0,0012  0,0012 .

Exemplo 2.6.3: Obter uma aproximação para (4,035)2  (3,935)2 .

Solução: Consideremos a função f ( x, y)  x 2  y 2 . f é diferenciável em ( x, y)  (0,0) já que

Cálculo III 65
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f x f y
( x, y)  e ( x, y)  são contínuas.
x x y
2 2 y x  y2
2

Assim,

(4,035) 2  (3,935) 2  f (4,035;3,935)  f (4  0,035;3  0,935)  f (4,3)  f (4,3)(0,035;0,935) .

Aqui, X 0  ( x0 , y0 )  (4,3) e H  (0,035;0,935) . Temos então:

x0 y0
f ( X 0 )( x, y)  x y
x0 2  y0 2 x0 2  y0 2

4 3 2945
e f (4,3)(0,035;0,935)   0,035   0,935  .
5 5 5000

2945 2945
Daí, (4,035)2  (3,935)2  42  32  5  5,589 .
5000 5000

O VETOR GRADIENTE

O vetor que iremos introduzir agora é sugerido de modo natural pela expressão da
segunda parte do Corolário 6.2.2.

Definição 2.6.4: Seja f :    uma função que admite derivadas parciais em X 0 . O vetor
n

 f f f 
f ( X 0 )   ( X 0 ), ( X 0 ),..., ( X 0 )  .
 x1 x2 xn 

é denominado gradiente de f em X 0 .

Do exposto nesta seção, podemos concluir que a derivada de f em X 0 é dada por

T ( X )  f ( X 0 )( X )  f ( X 0 )  X .

Mais adiante, destacaremos as principais propriedades do vetor gradiente.

SEÇÃO 2.7: REGRA DA CADEIA (2ª VERSÃO)

Uma das fórmulas mais úteis no Cálculo das funções de uma variável é a regra da
cadeia, utilizada para calcular a derivada da composta de duas funções, a saber,
( g  f )'( x)  g ' ( f ( x))  f ' ( x) . A generalização para funções de várias variáveis é igualmente
valiosa e, devidamente formulada, é bastante fácil de enunciar. Na Seção 4, analisamos a

Cálculo III 66
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

função composta   f (X ) onde f : n   e  :    . Nesta seção provaremos a regra


de derivação da composta f ( (t )) , de uma função f : D  n   com uma curva
parametrizada  : I    n . Como veremos, o teorema seguinte fornece esta regra em
termos do gradiente de f.

Teorema 2.7.1: (Regra da Cadeia) Sejam f : D  n   , D aberto e  : I    n tais


que  (t )  D , para todo t  I . Suponhamos que  é diferenciável em t0  I e que f é
diferenciável em X 0   (t0 ) . Então a composta F  f   : I   é diferenciável em t0 e tem-
se

F(t0 )  f ( (t0 ))   (t0 ) .

D  n 
I 

 f

 t0   y0  f ( X 0 )  f ( (t0 ))
X 0   (t0 )

Prova: Por definição,

F (t0  h)  F (t0 ) f ( (t0  h))  f ( (t0 ))


F (t0 )  lim  lim .
h 0 h h 0 h

Visto que D é aberto, existe uma bola aberta B( X 0 ; r) contida em D. Por outro lado, sendo 
diferenciável em t0 , ela é contínua nesse ponto. Então podemos escolher   0 de modo que
quando h   , tem-se  (t0  h)  B( X 0 ; r) . Se X   (t0  h)   (t0 ) , então X  X 0   (t0  h) .
Observe que X  0 quando h  0 , pois  é contínua em t0 . Temos agora,

F (t0  h)  F (t0 ) f ( X  X 0 )  f ( X 0 )
 .
h h

Como f é diferenciável em X 0   (t0 ) , então

R( X )
f ( X  X 0 )  f ( X 0 )  f ( X 0 )( X )  R( X ) , com lim  0.
X 0 X

ou f ( X  X 0 )  f ( X 0 )  f ( X 0 )  X  R( X ) . Daí,

Cálculo III 67
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

F (t0  h)  F (t0 ) f ( X  X 0 )  f ( X 0 ) X R( X )
  f ( X 0 )  
h h h h
 (t  h)   (t0 ) R( X )
 f ( X 0 ) 0  .
h h

R( X ) 1 R( X )  (t0  h)   (t0 ) R( X )
Mas  X  
h h X h X

 (t0  h)   (t0 ) R( X )
 .
h X

Portanto, quando h  0 , F (t0 )  f ( X 0 )   (t0 ) . Isto é,

( f   )(t0 )  f ( (t0 ))   (t0 ) .

Observação: Fazendo X  ( x1 ,..., xn ) e  (t)  (1(t),..., n (t )) , então

 f f  d1 d
f ( (t ))   ( (t )),..., ( (t ))  e  (t )   
(t ),..., n (t )  .
 x1 xn   dt dt 

Resulta, então, a regra da cadeia em termos das componentes

dF d( f ) f d f d
(t )  (t )  ( (t )) 1 (t )    ( (t )) n (t ) ,
dt dt x1 dt xn dt

que escreveremos mais sucintamente:

dF f d1 f d n
  .
dt x1 dt xn dt

Melhor ainda; note que se F (t )  f ( x1 ,..., xn ) com x1  1(t ),..., xn   n (t ) , então

dF f dx1 f dxn
  ,
dt x1 dt xn dt

f
é calculada em  (t ) quando
dF
ficando subentendido que xi dt for calculada em t.

Exemplo 2.7.1: Seja F (r , )  f ( x, y) , onde x  r cos e y  r sin , sendo f uma função


diferenciável em 2 . Verifique que:

f 1 dF dF
( x, y)  cos (r ,  )  sin (r ,  ) .
y r d dr

Cálculo III 68
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Solução: Considerando  constante, obtemos:

dF dx dy
 fx   fy   f x  cos  f y  sin .
dr dr dr

Considerando agora r constante, obtemos:

dF dx dy
 fx   fy   f x  (r sin )  f y  (r cos ) .
d d d

Resolvendo o sistema formado nas variáveis f x e f y obtemos:

1 dF dF
f y  cos  sin .
r d dr

Exemplo 2.7.2: Suponha z  f ( x, y) de classe C 2 , f (1,2)  2 , f x (1,2)  3 e f y (1,2)  4 .


Admita que a imagem da curva  (t )  (t 2 ,3t  1, z(t )) , t   , esteja contida no gráfico de f.
(a) Calcule z(t ) . (b) Ache a equação da reta tangente a  no ponto  (1) .

Solução: O gráfico de f é o conjunto Gr( f )  {( x, y , f ( x, y)  3 ; ( x, y)  D f } . Se  (t )  Gr( f )


então (t 2 ,3t  1, f (t 2 ,3t  1))  Gr( f ) . Daí, z(t )  f (t 2 ,3t  1) .

(b)  (t )  (2t ,3, z(t )) , mas z(t )  f x  2t  f y  3 . Portanto,

z(1)  f x (1,2)  2 1  f y (1,2)  3  3  2  4  3  18 .

Como  (1)  (2,3,18) , a equação da reta tangente a  no ponto  (1) é:

X (t)   (1)  t   (1)  (1,2,2)  t  (2,3,18) .

Exemplo 2.7.3: Sendo z : 2   uma função definida por z( x, y)  3 x 2  y 2 , onde


x  u  tan1 (v) e y  u , determine z
(1,1) .
v
u

Solução: Temos x(1,1)  1 tan1(1)   4 e y(1,1)  11  1 . Portanto,

z z    x z    y
(1,1)   ,1  (1,1)   ,1  (1,1) .
u x  4  u y  4  u

Temos assim:

Cálculo III 69
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

z 1 2x z    1 2  ( 2) 1 8
( x, y)  e  ,1   .
x 3 ( x  y 2 )3 2
2
x  4  3   2 
2 / 3
3 3 ( 2  16)2
  1
 16 

Da mesma forma,

z 1 2y z    1 2 1 1 32
( x, y)  e  ,1   .
y 3 ( x  y 2 )3 2
2
y  4  3   2 
2 / 3
3 3 ( 2  16)2
  1
 16 

x y
Além disso,  tan1 (v) e  vu v 1 .
u u

x  y
Desta maneira, (1,1)  e (1,1)  1 .
u 4 u

z 1 8   1 32 1 2 2  32
Logo, (1,1)      (1)  .
u 3 3 ( 2  16)2  4  3 3 ( 2  16)2 3 3 ( 2  16)2

dh 
Exemplo 2.7.4: Considerando a função h(t )  (cos(t ))t , calcule ( ).
2

dt 4

Solução: Tomemos x  cos(t ) e y  t 2 , onde f ( x, y)  x y representa a função h sob os


novos parâmetros x e y, isto é, h(t)  f ( x, y) . Usando a regra da cadeia, obtemos:

dh f dx f dy
(t )  ( x, y)  (t )  ( x, y)  (t ) .
dt x dt y dt

Em t  4 ,

dh    f dx    f dy       
  ( x0 , y0 )     ( x0 , y0 )    , para x0  x  e y0  y  .
dt  4  x dt  4  y dt  4  4 4

 
Como x0  x   cos  
2
, então
4 4 2

dx      2
    sin    .
dt  4  4 2

    
2 2

Sendo y0  y      , então
 4   4  16

Cálculo III 70
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

dy       
   2   .
dt  4   4  2

f f
Além disso, como ( x, y)  yx y 1 e ( x, y)  x y ln( x) , então
x y

2 2
1
f  2     2  16
2 2
f  2    2  16  2 
2
 ,    e  ,   ln 
x  2 16  16  2  y  2 16   2   2 .
 

Substituindo-se os valores obtidos na equação inicial do problema, obtém-se

2 2
1
dh      2  16  2   2 2  2  16
    ln   
 2   32  2  .
dt  4  2  2     

SEÇÃO 2.8: GRADIENTE E DERIVADA DIRECIONAL

O gradiente, por ser um vetor, apresenta aspectos geométricos muito convenientes


para dar informações a respeito do comportamento da função, como veremos a seguir. O
gradiente é também particularmente útil na análise dos conjuntos de nível de uma função.
Inicialmente recordemos que um conjunto de nível S de uma função f é um conjunto de
pontos X satisfazendo f ( X )  k , para alguma constante k  Im( f ) .

Como vimos no início deste capítulo, se f : D     , o conjunto S se chama


2

curva de nível e se f : D     , S se chama superfície de nível.


3

Antes de enunciarmos as propriedades do gradiente, veremos as seguintes definições.

Definição 2.8.1: Um vetor v é dito perpendicular a uma curva  num ponto X 0  , se v é


perpendicular ao vetor velocidade de  em X 0 .

Definição 2.8.2: Dizemos que um vetor v é perpendicular a uma superfície S, num ponto
X 0  S , se v é perpendicular ao vetor velocidade, em X 0 , de qualquer curva diferenciável
contida na superfície e que contém X 0 .

Cálculo III 71
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

. .
 (t0 ) 
X0  (t0 )


Teorema 2.8.1: Seja f : D     uma função diferenciável num conjunto aberto D. Seja
n

X 0  D se f (X 0 )  0 . Então

i. A derivada direcional f
u ( X 0 ) , é a componente escalar de f ( X 0 ) na direção do
vetor unitário u;
f
ii. O valor máximo de u
( X 0 ) é f ( X 0 ) e ocorre quando u  f ( X 0 ) f ( X 0 ) ;
iii. O vetor gradiente de f em X 0 é perpendicular à superfície (ou curva) de nível de f
que contém X 0 .

Prova: (i) Pelo Corolário 6.2.2,

f
( X 0 )  f ( X 0 )(u)  f ( X 0 )  u  f ( X 0 )  u cos  f ( X 0 ) cos .
u
f ( X 0 )

f
X 0 P  f ( X 0 ) cos  (X0)
u
 .
X0 u P

(ii)
f
u ( X 0 )  f ( X 0 ) cos . Desta forma, f
u ( X 0 ) terá o valor máximo quando   0 , isto é,
quando a direção do vetor u coincidir com a direção de f ( X 0 ) . Neste caso,
f
u  f ( X 0 ) f ( X 0 ) . O valor máximo de u
( X 0 ) é, pois, f ( X 0 ) . Como a derivada
direcional mede a taxa de variação de f numa certa direção, o teorema acima nos diz que a
direção do gradiente é a de crescimento mais rápido da função.

(iii)

Cálculo III 72
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

z
f ( X 0 ) f

I  
 .

b X0  (t0 )  v

 t0   k  f (X 0 )

y
a

S
x

Seja S um conjunto de nível de f . Seja X 0  S , isto é, f ( X 0 )  k , k  Im( f ) .


Consideremos uma curva arbitrária  contida em S, definida parametricamente por
 : (a, b)  n e tal que  (t0 )  X 0 e  (t0 )  v  0 , t0  (a, b) . Temos então que f ( (t0 ))  k
para todo t0  (a, b) . Portanto,

df ( (t ))
0  f ( (t0 ))   (t0 )  f ( X 0 )  v .
dt t t0

Isto nos diz que f ( X 0 ) , se não é nulo, é perpendicular ao vetor tangente  (t0 )  v .
Desta forma, f ( X 0 ) é normal em X 0 aos vetores tangentes de toda curva diferenciável
passando por esse ponto e contida em S. Da definição anterior, f ( X 0 ) é, por conseguinte,
normal a S em X 0 .

Estes vetores tangentes determinam um plano, e o vetor gradiente, f ( X 0 ) , é normal


ao mesmo. Tal plano é denominado plano tangente à superfície S em X 0 .

f
Exemplo 2.8.1: Seja f ( x, y)  x 2 y . Determine u de modo que u (1,1) seja máximo e encontre
esse valor.

Solução: Como visto anteriormente, f


u (1,1) é máximo quando u  f (1,1) f (1,1) . O
f ( x, y)  (2 xy, x 2 ) e f (1,1)  (2,1) . Assim,

f (1,1)  4  1  5 e u 1
5
(2,1) .

f
Além disso, (1,1)  5 .
u

Cálculo III 73
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 2.8.2: Determinar a equação do plano tangente à superfície de nível da função


f ( x, y, z)  x 2  y 2  z 2 que passa pelo ponto (1,1, 2 ) .

Solução: Como f (1,1, 2 )  12  12  ( 2 )2  0 , a superfície de nível x 2  y 2  z 2  0 passa


pelo ponto (1,1, 2 ) . O vetor gradiente f ( x, y, z)  (2x,2 y,2 z) e f (1,1, 2 )  (2,2,2 2 ) .
Desta forma, a equação do plano tangente à superfície de nível em (1,1, 2 ) é, pois:

(( x, y , z)  (1,1, 2 ))  (2,2,2 2 )  0 ,

ou seja, 2( x  1)  2( y  1)  2 2 ( z  2 )  0 .

SEÇÃO 2.9: FUNÇÕES IMPLÍCITAS

Já estamos bastante familiarizados com a ideia de uma curva dada como gráfico de
uma função explícita, y  f (x) . Entretanto, a equação de uma curva no plano geralmente é
dada na forma F ( x, y)  0 . Por exemplo, as equações

2x  3 y  1  0 , x2  y 2  9  0 , 3x 2  2 y 2  12  0 ,

representam uma reta, uma circunferência e uma hipérbole, respectivamente. Elas são
relativamente simples, podendo ser resolvidas em relação a y, o que resulta na definição de
uma ou mais funções, em cada caso:

2x  1 3x 2  12
y , y   9  x2 , y ,
3 2

respectivamente.

Às vezes, embora seja impossível explicitar y, pode-se, no entanto, resolver a equação


em relação a x, e obter a função x  g (y) como ocorre no seguinte exemplo:

4 y 3  x( y 2  1)e y cos y  sin y  0

de onde se obtém

x  sin y  4 y3 ( y 2  1)e y cos y .

No caso mais geral, não se pode resolver a equação nem em relação a y, nem em
relação a x e o exemplo seguinte ilustra esta situação:

F ( x, y)  ln( x  y)  x 2  y 2  1  1  0 .

Cálculo III 74
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Não obstante, muitas vezes ainda é possível interpretar y como função de x ou x como
função de y em equações como essa.

Convém observar, entretanto, que nem toda função F ( x, y)  0 define y como função
de x ou x como função de y. Por exemplo, a equação x  y  0 é verificada apenas para
2 2

x0 e y  0 , ao passo que x 2  y 2  1  0 não é satisfeita para nenhum par de valores reais.
É, portanto, necessário estudarmos este assunto mais detalhadamente, a fim de sabermos
quando uma equação do tipo F ( x, y)  0 define a função y  f (x) ou a função x  g (y) , e,
também, para conhecermos as propriedades particulares destas funções.

O objetivo desta seção é proporcionar condições suficientes sobre F que garantam que
a equação F ( x, y)  0 define uma função y  f (x) ou x  g (y) derivável, e obter uma
fórmula para f (x) e g (y) em termos de F. Analisaremos também o caso numa situação
geral, onde o número de variáveis é qualquer. Este é o teorema das funções implícitas.

Definição 2.9.1: A função

f : I 
x  y  f (x)

está definida implicitamente pela equação F ( x, y)  0 se F ( x, f ( x))  0 para todo x  I .

Da mesma forma, x  g (y) está definida implicitamente pela equação F ( x, y)  0 se


F ( g( y), y)  0 para todo y no domínio de g.

Note que F é uma função real definida em  . O zero que aparece no segundo
2

membro da equação acima pode ser substituído por qualquer constante c. Mas como
F ( x, y)  c é equivalente a G( x, y)  F ( x, y)  c  0 , é costume absorver a referida constante
na função F.

Em certos casos (como aqueles mostrados no início desta seção), é fácil definir
funções f1 , f 2 ,..., f n tais que F ( x, fi ( x))  0 . Contudo, se, por exemplo,

F ( x, y)  x  sin(xy)  e x y  1  0 ,

não é de nenhuma maneira óbvio que existe uma função y  f (x) tal que

x  sin(x  f ( x))  e x f ( x)  1  0 .

Analisaremos a seguir o problema em pauta. Inicialmente estudaremos o caso em que


F : 2   .

Cálculo III 75
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Se considerarmos que z  F ( x, y) define uma superfície em  , então a equação


3

F ( x, y)  0 representa uma curva de nível de F. Seja (a, b) um ponto desta curva.

F ( x, y)  0

J b . (a, b)

b . (a, b)

x
a a
I

Na figura acima, é evidente que para x próximo ao ponto a existe uma função
y  f (x) que satisfaz F ( x, f ( x))  0 . Isto se deve ao fato de que próximo do ponto (a, b) , cada
reta vertical intercepta a curva uma só vez. Esta é precisamente a condição necessária e
suficiente para garantir que se pode escrever y  f (x) e ter F ( x, f ( x))  0 , para x próximo de
a. Analogamente, se y está próximo de b, então existe aparentemente uma função x  g (y)
que satisfaz F ( g( y), y)  0 , visto que próximo de (a, b) , cada reta horizontal intercepta o
gráfico de F ( x, y)  0 uma única vez.

A situação em torno do ponto (a, b) é algo diferente. Na vizinhança deste ponto, retas
verticais interceptam o gráfico de F ( x, y)  0 duas vezes (para x  a ) ou nenhuma vez (para
x  a ). Assim, não existe uma função y  f (x) definida na vizinhança do ponto a que
satisfaça F ( x, f ( x))  0 . Contudo, existe uma função x  g (y) definida numa vizinhança de
b que satisfaz F ( g( y), y)  0 .

A figura parece indicar que, se a reta tangente não é vertical, pode se encontrar a
função desejada na forma y  f (x) . Da mesma forma, se a reta tangente não é horizontal
então se pode encontrar uma função da forma x  g (y) que satisfaz F ( g( y), y)  0 . O teorema
seguinte formaliza o exposto acima.

Teorema 2.9.1: Seja F : D  2   , D aberto, uma função continuamente diferenciável.


Seja (a, b)  D tal que F ( x, y)  0 e Fy (a, b)  0 . Então existe um intervalo aberto I, centrado
em a e uma única função f : I   tal que

i. f (a)  b ;
ii. F ( x, f ( x))  0 , para todo xI ;

Cálculo III 76
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

iii. f é continuamente diferenciável e

F
( x, f ( x))
f ( x)   Fx .
y ( x , f ( x))

Prova: Será feita no capítulo seguinte.

Este resultado é simétrico em x e em y, isto é, se F


x (a, b)  0 , então existe um
intervalo aberto J, centrado em b e uma única função g : J   tal que

i. g (b)  a ;
ii. F ( g( y), y)  0 , para todo y  J ;
iii. g é continuamente diferenciável e

F
y ( g ( y), y)
g ( y)   F .
x ( g ( y), y)

Observação: Se F
x (a, b)  0 ou F
y (a, b)  0 , o teorema nada pode afirmar. Com efeito, se

F ( x, y)  y 3 , então F é de classe C1 , F (1,0)  0 , F


x (1,0)  0 e F
y (1,0)  0 . Entretanto a
função identicamente nula, f (x)  0 , está definida implicitamente por F ( x, f ( x))  0 .

Exemplo 2.9.1: Suponha que z  F ( x, y) e y  f (x) são funções diferenciáveis e que


F ( x, f ( x))  0 , para todo x no domínio de f, isto é, f é definida implicitamente pela equação
F ( x, y)  0 . Use a regra da cadeia para calcular df
dx
.

Solução: Considere  ( x)  ( x, f ( x)) . A regra da cadeia aplicada à identidade


F ( ( x))  F ( x, f ( x)) produz

F dx F dy F F
  0 , isto é, 1   f (x)  0 e assim,
x dx y dx x y

F
( x, f ( x))
f ( x)   Fx .
y ( x , f ( x))

Analogamente, se temos F ( g( y), y)  0 , então

F
F dx F dy dx ( g ( y), y)
 0 e, portanto  g ( y)   Fy .
x dy y dy dy x ( g ( y ), y )

Cálculo III 77
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 2.9.2: Seja F ( x, y)  x2  y 2  2 e seja (a, b)  (1,1) . Sendo F (1,1)  0 e


F
y
( x, y)  2 y e F
y
(1,1)  2  0 , então pelo teorema da função implícita, existe uma função
y  f (x) definida numa vizinhança de a  1 , onde:

i. f (1)  1;
ii. F ( x, f ( x))  0 , isto é, x 2  ( f ( x))2  2  0 , e daí f ( x)  2  x 2 . (Como f (1)  1 ,
a raiz negativa não satisfaz);
iii. f é continuamente diferenciável e

F
( x, f ( x)) 2x x x
f ( x)   Fx    .
y ( x, f ( x)) 2y f ( x) 2  x2

(Observe que a expressão acima pode ser obtida diretamente da função f.)

Analogamente, como F
x (1,1)  2  0 , e, existe também uma função x  g (y) definida
numa vizinhança de b  1 , tal que: (i) g(1)  1 ; (ii) F ( g( y), y)  0 , isto é, ( g ( y))2  y 2  2  0
ou seja, g ( y)  2  y 2 ; e daí

F
( g ( y), y) 2y y y
(iii) g ( y)   Fy    .
x ( g ( y), y) 2x g ( y) 2  y2

Exemplo 2.9.3: Seja F ( x, y)  x 2 y  3 y 3 x 4  4 . Mostre que a equação F ( x, y)  0 define


implicitamente uma função y  f (x) numa vizinhança do ponto (1,1) e obtenha f (1) .

Solução: (1) F (1,1)  1  3  4  0 ; (2) F


y ( x, y)  x 2  9 y 2 x 4 e F
y (1,1)  10  0 . Portanto,
existe uma função y  f (x) definida implicitamente pela equação F ( x, y)  0 e

F
( x, f ( x)) 2 xy  12 y 3 x 3
f ( x)   x
 2 .
F
y ( x, f ( x)) x  9 y2 x4

2  12 14 7
Daí, f (1)     .
1 9 10 5

Exemplo 2.9.4: Calcular o declive da curva de nível do parabolóide elíptico z  4 x 2  y 2 que


passa pelo ponto (1,2,8) .

Solução: Convém observar inicialmente que (1,2,8) pertence de fato ao parabolóide já que
para x  1 e y  2 tem-se z  8 . A curva de nível dada é, pois, da forma 4 x 2  y 2  8 .

Cálculo III 78
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

4 x2  y 2  8
8

(1,2,8)

2 y
1

Basta então mostrar que a equação F ( x, y)  4 x 2  y 2  8 define implicitamente uma


função y  f (x) numa vizinhança do ponto (1,2) . Para isso, veja que F (1,2)  4  4  8  0 ,
F
y ( x, y)  2 y e F
y (1,2)  4  0 . Portanto, existe uma função y  f (x) tal que f (1)  2 ,
F ( x, f ( x))  0 e f ( x)   28 xy . De modo que f (1)   84  2 .

Exemplo 2.9.5: Em quais pontos a equação G( x, y)  x3  y3  3xy  3 define implicitamente


y  f (x) ? Obtenha f (x) nesses pontos.

( x, y)  3 y 2  3x  3( y 2  x) . Portanto, nos pontos ( x, y)  2 onde x  y


G 2
Solução: Temos y

e G( x, y)  3 , a equação dada define implicitamente uma função do tipo y  f (x) .

Considerando F ( x, y)  G( x, y)  3  0 , sua derivada nestas condições é:

F
( x, f ( x)) 3x 2  3 y y  x 2
f ( x)   x
 2  .
F
y ( x, f ( x)) 3 y  3x y 2  x

Generalizamos agora o teorema da função implícita para o caso das funções de duas
variáveis.

Teorema 2.9.2: (Teorema da função implícita) Seja F : D  3   uma função


continuamente diferenciável definida no subconjunto aberto D de 3 . Seja (a, b, c)  D e
suponha que F (a, b, c)  0 , mas F
z (a, b, c)  0 . Então existe uma bola aberta B contida em
2 centrada em (a, b) e uma única função f : B   tal que

i. f (a, b)  c ;

Cálculo III 79
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

ii. F ( x, y, f ( x, y))  0 , para todo ( x, y)  B ;


iii. f é continuamente diferenciável e

f F
( x, y , f ( x, y)) f F
y ( x, y , f ( x, y))
( x, y)   x
e ( x, y)   .
x F
y ( x, y , f ( x, y)) y F
x ( x, y , f ( x, y))

Exemplo 2.9.6: Mostre que a equação xy  yz  xz  11 define implicitamente uma superfície


no ponto (1,2,3) . Ache a equação do plano tangente à mesma neste ponto.

Solução: Seja que F ( x, y, z)  xy  yz  xz  11 . Temos então, F (1,2,3)  2  6  3  11  0 ;


F
z ( x, y , z )  y  x e F
z (1,2,3)  3  0 . Portanto, existe um aberto V  2 contendo o ponto
(1,2) e uma única função f : V   tal que f (1,2)  3 e F ( x, y, f ( x, y))  0, ( x, y) V . Isto
significa dizer que a equação F ( x, y, z)  xy  yz  xz  11 define implicitamente a função
z  f ( x, y) , ( x, y) V . Seu gráfico é, portanto, uma superfície.

Observe que (1,2,3) é um ponto da superfície já que f (1,2)  3 . O gráfico de


z  f ( x, y) está contido na superfície de nível F ( x, y, z)  xy  yz  xz  11 , precisamente
aquela em que F ( x, y, z)  0 . Como o F (1,2,3) é perpendicular a esta superfície em (1,2,3) e
sendo F ( x, y, z)  ( y  z, x  z, y  x) e F (1,2,3)  (5,4,3) , então a equação do plano
tangente em (1,2,3) será

((x, y, z)  (1,2,3))  (5,4,3)  0 ,

isto é, 5x  4 y  3z  22  0 .

Exemplo 2.9.7: Seja F ( x, y, z)  x y  e z . Verifique se existe uma superfície que passa pelo
ponto A  (1,2,0) e que seja definida implicitamente mediante a equação F ( x, y, z)  1 . Em
caso afirmativo, determine a equação do plano tangente à superfície em A.

Solução: Como F (1,2,0)  1 , consideremos a função G( x, y, z)  F ( x, y, z) 1 , isto é,


G( x, y, z)  x y  e z  1 . Temos: G(1,2,0)  1 2  e 0  1  11  1  0 ;

G xe z G 1
( x, y , z )   e (1,2,3)    0 .
z 2 y  ez z 2

Isso mostra que G( x, y, z)  0 define implicitamente uma superfície (gráfico da função


z  f ( x, y) ) que passa por A  (1,2,0) e seu plano tangente tem equação

( X  A)  G( A)  0 , com X  ( x, y, z) , ou 2 x  y  z  4  0 .

Cálculo III 80
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 2.9.8: Seja F ( x, y, z)  y 2  xz  z 2  e z  c  0 .

(a) Mostre que a equação acima define z como função de x e y, isto é, z  f ( x, y) no


ponto (0, e,2) .
(b) Achar o valor de c para que f (0, e)  2 .
f f
(c) Calcular x (0, e) e y (0, e) .

Solução: F
z ( x, y , z )  x  2 z  e z e F
z (0, e,2)  4  e 2  0 , o que prova o item (a).

(b) Para x  0 , y  e e z  2 , tem-se e 2  0  2  2 2  e 2  c  0 e assim c  4 . Daí,


F (0, e,2)  0 .

F
f ( x, y, f ( x, y)) z f 2
(c) x ( x, y)   Fx  e x (0, e)  ;
z ( x, y , f ( x, y)) x  2z  e z e 4
2

F
f y ( x, y , f ( x, y)) 2y f 2e
y ( x, y)    e y (0, e)  .
F
z ( x, y , f ( x, y)) x  2z  e z e 4
2

CURVAS DEFINIDAS IMPLICITAMENTE COMO INTERSEÇÕES DE SUPERFÍCIES

Consideremos duas superfícies com representações implícitas dadas por

F ( x, y, z)  0

G( x, y, z)  0

 F ( x, y , z )  0
(I)  e
G( x, y , z)  0

Pergunta-se, então, sob quais condições impostas a F e G, é possível obter funções


y  y(x) e z  z(x) , tais que

 F ( x, y( x), z( x))  0

G( x, y( x), z( x))  0

para todo x num certo intervalo aberto I ? Com outras palavras, é possível resolver o sistema
(I) acima com respeito à variável x , isto é, é possível expressar as variáveis y e z em
função de x , obtendo-se assim a curva-interseção das superfícies de nível dadas em (I)? Em

Cálculo III 81
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

caso afirmativo, a curva solução do sistema será dada localmente por  ( x)  ( x, y( x), z( x)) .
Usando a regra da cadeia, podemos escrever as derivadas y( x)  dy
dx e z( x)  dz
dx sem um
conhecimento explícito de y(x) e z(x) . Com efeito,

 Fx  dx
dx  y  dx  z  dx  0
F dy F dz

 G dx G dy G dz ,
 x  dx  y  dx  z  dx  0

 Fy  y( x)  Fz  z( x)   Fx


isto é,  G  .
 y  y ( x)  z  z( x)   x
G G

Nos pontos onde o determinante principal desse sistema não é nulo, o mesmo admite
uma só solução (segundo a regra de Cramer) a qual pode expressar-se por

F F F F
x z y x
G G G G
y x
y( x)   x
F
z
F
e z( x)   F F
.
y x y z
G G G G
y x y z

O exposto acima pode se resumido no seguinte teorema.

Teorema 2.9.3: Sejam F , G : D  n   funções continuamente diferenciáveis no


conjunto aberto D. Seja ( x0 , y0 , z0 )  D , onde F ( x0 , y0 , z0 )  G( x0 , y0 , z0 )  0 . Se o
determinante,

F F
( F , G ) y z
 G G
0 em ( x0 , y0 , z0 ) ,
( y , z ) y z

então existem um intervalo aberto I com x0  I e um único par de funções y  y(x) e


z  z(x) definidas e continuamente diferenciáveis em I tais que:

i. y( x0 )  y0 e z( x0 )  z0 ;
ii. F ( x, y( x), z( x))  G( x, y( x), z( x))  0 , para x  I , isto é, as equações F ( x, y, z)  0 e
G( x, y, z)  0 definem implicitamente y e z como funções de x e

 ( F ,G )  ( F ,G )
( x,z) ( y ,x)
y( x)    ( F ,G ) e z( x)    ( F ,G ) ,
( y,z) ( y ,z)

onde os determinantes são calculados no ponto ( x, y( x), z( x)) .

Exemplo 2.9.9: Dadas as equações

Cálculo III 82
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

F ( x, y , z )  x 2  y 2  z 2  6  0
G( x, y , z )  xyz  2  0

(a) Mostre que numa vizinhança do ponto (1,1,2) cada uma delas define implicitamente
superfícies em 3 .
(b) Mostre que numa vizinhança do ponto (1,1,2) elas definem as funções y  y(x) e
z  z(x) .
(c) Calcule y(x) e z(x) .
(d) Calcule a equação da reta tangente à curva de interseção das superfícies definidas em
(a), no ponto (1,1,2) .

Solução: (a) Temos que: F (1,1,2)  G(1,1,2)  0 ,

F G
(1,1,2)  4  0 e (1,1,2)  1  0 .
z z

Isto prova (a).

(b) F (1,1,2)  G(1,1,2)  0 ,

( F , G) 2 y 2z ( F , G)
  3xy 2  2 xz 2 e (1,1,2)  6  0 ,
( y , z ) xz xy ( y , z )

o que prova (b).

2x 2z 2 y 2z

(c) y( x)  
yz xy y( x 2  z 2 ) xz yz z( y 2  x 2 ) .
 e z( x)   
2 y 2z x( y 2  z 2 ) 2 y 2x x( y 2  z 2 )
xz xy xz xy

Estes resultados podem também ser encontrados derivando-se implicitamente as


equações dadas, com relação a x, resolvendo-se o sistema obtido.

(d) Sendo  ( x)  ( x, y( x), z( x)) ,  ( x)  (1, y( x), z( x)) , y(1)  1 e z(1)  0 , a equação da
reta tangente é X (t )  (1,1,2)  t  (1,1,0) .

Exemplo 2.9.10: O sistema

 xyz  sin xyz  0



x  y  z  0

define implicitamente x e y como funções de z em uma vizinhança do ponto (0,1,1) ?

Cálculo III 83
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Solução: Designando por F ( x, y, z)  0 e G( x, y, z)  0 a primeira e a segunda equações


respectivamente, temos: F (0,1,1)  0  G(0,1,1) e

F F
 ( F , G)
 0 em (0,1,1) .
x y
 G G
( x , y ) x y

Portanto, o sistema acima define x  f (z) e y  g (z) . Além disso,

 ( F ,G )  ( F ,G )
dx ( z , y) dy ( x, z)
   ( F ,G ) e    ( F ,G ) .
dz ( x, y)
dz ( x, y)

SEÇÃO 2.10: MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES REAIS

1. EXTREMOS LOCAIS E ABSOLUTOS

As definições abaixo nos mostram que as definições de máximo e mínimo para funções
de várias variáveis são as mesmas que no caso de funções de uma variável, isto é:

Definição 2.10.1.1: Dizemos que uma função real f : D  n   tem um valor máximo
absoluto em X 0  D , se para todo X  D , f ( X 0 )  f ( X ) . X 0 é dito ponto de máximo de f e
f ( X 0 ) é o valor máximo absoluto de f. Analogamente, dizemos que f tem um valor mínimo
absoluto em X 0 , se f ( X 0 )  f ( X ) para todo X  D . X 0 é dito ponto de mínimo de f e
f ( X 0 ) é o valor mínimo absoluto de f.

Definição 2.10.1.2: Diz-se que f ( X 0 ) é um valor máximo local ou um valor mínimo local de
f, se existe uma vizinhança V ( n ) de X 0 tal que f ( X 0 )  f ( X ) ou f ( X 0 )  f ( X ) ,
respectivamente, para todo X V .

Um valor máximo ou mínimo de f chama-se valor extremo de f . Um ponto X 0


onde f assume um valor extremo chama-se ponto extremo de f .

Estabeleceremos, a seguir, as condições que devem ser satisfeitas por uma função f, no
ponto X 0 , para que a mesma tenha valor extremo em tal ponto.

2. CARACTERIZAÇÃO DE EXTREMOS LOCAIS

Teorema 2.10.2.1: Se uma função f : D  n   definida no conjunto aberto D, tem um


valor extremo local num ponto X 0  D e se as derivadas parciais de primeira ordem existem
em X 0 , então

Cálculo III 84
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f f
( X 0 )  ...  (X0)  0 .
x1 xn

Prova: Suponhamos que f tem um valor máximo local em X 0 . Como D é aberto, X 0  hei ,
i  1,..., n , pertence a D, para valores pequenos de h, e

f ( X 0 )  f ( X 0  hei )  f ( X 0  hei )  f ( X 0 )  0 .

f ( X 0  hei )  f ( X 0 ) f ( X 0  hei )  f ( X 0 )
Se h  0 ,  0  lim  0;
h h 0 h

f ( X 0  hei )  f ( X 0 ) f ( X 0  hei )  f ( X 0 )
Se h  0 ,  0  lim 0.
h h 0 h

Os limites laterais acima existem e são iguais uma vez que as derivadas parciais de f existem
em X 0 . Desta forma,

f f ( X 0  hei )  f ( X 0 )
( X 0 )  lim 0.
xi h 0 h

O argumento no caso de mínimo local é análogo.

f f
Definição 2.10.2.1: Um ponto X 0 no qual x1 ( X 0 )  ...  x n ( X 0 )  0 chama-se um ponto
crítico de f.

Geometricamente, se X 0  ( x0 , y0 ) é ponto crítico de f , então o gráfico de f possui um


plano tangente horizontal nesse ponto.

A recíproca do teorema anterior é falsa. Ou seja, a anulação de todas as derivadas


parciais em X 0 não implica necessariamente que haja um valor extremo de f em X 0 . Isto
acontece nos chamados pontos de sela.

Definição 2.10.2.2: Um ponto crítico X 0 chama-se um ponto de sela, se toda bola aberta
centrada em X 0 contém pontos X 1 e X 2 para os quais

f ( X1 )  f ( X 0 ) e f ( X 2 )  f ( X 0 ) .

Ou seja, um ponto crítico X 0 é um ponto de sela de uma função f se toda bola


centrada em X 0 contiver dois pontos X 1 e X 2 tais que f ( X1 )  f ( X 0 )  f ( X 2 ) . Note que
pelo teorema acima, para localizar extremos locais de uma função com derivadas parciais no
interior do seu domínio basta restringirmos nossa atenção aos pontos críticos de f . Esta

Cálculo III 85
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

definição é análoga àquela de ponto de inflexão para o caso de funções reais de uma variável
real como já vimos.

3. MÁXIMO E MÍNIMOS DE FUNÇÕES CONTÍNUAS

Definição 2.10.3.1: Um ponto X 0  n é dito um ponto fronteira do conjunto D   , se


n

toda bola aberta centrada em X 0 contém pontos de D e pontos que não pertencem a D.

A fronteira de D, denotada por D , é o conjunto cujos elementos são os pontos


fronteira de D.

Definição 2.10.3.2: Um subconjunto D do  é dito fechado, quando o mesmo contém todos


n

os pontos de sua fronteira.

Um conjunto é dito limitado quando o mesmo está contido em alguma bola aberta
centrada na origem. Caso contrário, ele é dito ilimitado.

Teorema 2.10.3.1: Seja f : D  n   uma função contínua, onde D é um subconjunto


fechado e limitado. Então f assume um valor máximo e um valor mínimo em D, isto é,
existem pontos X 1 , X 2  D tais que

f ( X1 )  f ( X )  f ( X 2 ) , para todo X  D .

O TESTE HESSIANO

O teorema a seguir fornece uma condição suficiente, sob determinadas condições, para
decidir se um ponto crítico é ponto de máximo local, mínimo local ou ponto de sela.
Apresentaremos o teste para funções de duas variáveis. O caso de função de mais de duas
variáveis será visto posteriormente (Teorema 2.10.3.3). Antes, porém, faremos a seguinte
definição:

Definição 2.10.3.3: Seja f : D  n   uma função de classe C 2 . A matriz hessiana de f


num ponto X 0  ( x0 , y0 )  D é definida como

  2f ( X 0 ) 2 f
( X 0 )
2
 x1xn
 x1 
Hess( X 0 )      .
 2 f 2 f

 xn x1 ( X 0 )  xn2
(X0) 

O determinante da matriz acima será denotado por H ( X 0 ) e denominado de o hessiano


de f em X 0 .

Cálculo III 86
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Note que Hess( X 0 ) é uma matriz simétrica. No caso n  2 , o hessiano é dado por

  2f ( X 0 ) 2 f
( X 0 )  2 f
2
2
xy 2 f  2 f 
H ( X 0 )  det  x2 f 2 f
  2 ( X 0 )  2 ( X 0 )   ( X 0 )  .
 yx ( X 0 ) ( X 0 )  x y  xy 
y 2 

Teorema 2.10.3.2: Seja f : D   2   , D aberto, uma função cujas derivadas parciais de


segunda ordem são contínuas em D (como no caso acima). Se X 0 é ponto crítico de f então

2 f
i. Se H (X 0 )  0 e x 2
(X 0 )  0 , então X 0 é ponto de mínimo local;
2 f
ii. Se H (X 0 )  0 e x 2
(X 0 )  0 , então X 0 é ponto de máximo local;
iii. Se H (X 0 )  0 , então X 0 é ponto de sela;
iv. Se H (X 0 )  0 , não podemos afirmar nada sobre a natureza do ponto crítico X 0 .

Na hipótese iv, X 0 pode ser um ponto de máximo local ou de mínimo local ou pode
ser um ponto de sela. Com efeito,

a) Se f ( x, y)  x 4  y 4 , então X 0  (0,0) é ponto crítico e f xx ( X 0 )  f yy ( X 0 )  f xy2 ( X 0 )  0 .


É fácil ver que X 0 é ponto de mínimo.
b) Se f ( x, y)   x 4  y 4 , X 0  (0,0) é ponto crítico e f xx ( X 0 )  f yy ( X 0 )  f xy2 ( X 0 )  0 , mas
X 0 é ponto de máximo.
c) Se f ( x, y)  x3 y 3 , X 0  (0,0) é ponto crítico e f xx ( X 0 )  f yy ( X 0 )  f xy2 ( X 0 )  0 , mas X 0
é ponto de sela já que toda vizinhança de contém pontos (os do 1º quadrante) para os
quais f ( x, y)  0 e outros (os do 2º quadrante) para os quais f ( x, y)  0 .

Antes de enunciarmos o caso geral, relembremos o seguinte fato da Álgebra Linear:

Proposição 2.10.3.1: Seja A  (aij )nn uma matriz com coeficientes reais simétrica. Então A
possui n autovalores reais (contados conforme sua multiplicidade). Além do mais, podemos
escolher os n autovalores de modo que formem uma base ortonormal de n . Em suma,
existem números reais 1 ,..., n e vetores v1 ,..., vn tais que A  v j   j v j e

1 se i  j
vi  v j   1 j  n
0 se i  j

onde A  v j deve ser entendido como o produto da matriz A pelo vetor coluna vTj .

Cálculo III 87
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Teorema 2.10.3.3: (Caso geral) Seja f : D  n   uma função de classe C 2 . Suponha


que X 0  D é um ponto crítico de f. Sejam 1 ,..., n os autovalores da matriz hessiana de f
em X 0 e H ( X 0 ) o hessiano de f em X 0 . Temos:

i. Se  j  0 para todo 1  j  n , então X 0 é ponto de mínimo local;


ii. Se  j  0 para todo 1  j  n , então X 0 é ponto de máximo local;
iii. Se existirem dois autovalores i e  j com sinais opostos, então X 0 é ponto de
sela de f;
iv. Nos demais casos, isto é,
(a)  j  0 , para todo 1  j  n e existe um autovalor i  0 ou
(b)  j  0 , para todo 1  j  n e existe um autovalor i  0
não podemos afirmar nada sobre a natureza do ponto crítico X 0 .

Exemplo 2.10.1: Classifique os pontos críticos de

f ( x, y , z )  x 3  3 x  y 2  z 2  2 z .

Solução: Temos que f ( x, y, z)  (3x2  3,2 y,2 z  2)  (0,0,0) se e somente se

( x, y, z)  (1,0,1)  X1 ou ( x, y, z)  (1,0,1)  X 2 .

A matriz hessiana de f é

6 x 0 0
Hess( x, y , z)   0 2 0 .
 0 0 2

Assim temos:

6 0 0   6 0 0
Hess(X 1 )  0 2 0 e Hess(X 2 )   0 2 0 .
0 0 2  0 0 2

Da primeira matriz concluímos que todos os autovalores são positivos. Portanto, X 1 é ponto
de mínimo local. Da segunda, vemos que X 2 é ponto de sela, pois a matriz hessiana possui
um autovalor positivo e um negativo.

Exemplo 2.10.2: Classifique os pontos críticos de

Cálculo III 88
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f ( x, y, z, w)  2 xy  2 yz  y 2  z 2  2w2 .

Solução: Temos que f ( x, y, z, w)  (2 y,2x  2z  2 y,2 y  2z,4w)  (0,0,0,0) se e somente se

( x, y, z, w)  (0,0,0,0)  X 0 .

 0 2 0 0
 2 2 2 0
Temos Hess(X 0 )   .
 0 2 2 0
 
 0 0 0  4

O polinômio característico desta matriz é:

  2 0 0 
 2 2 2 0 
p( )  det    (4   )(3  42  4  8) .
 0 2 2 0 
 
 0 0 0  4  

Note que 1  4  0 é um autovalor da matriz acima. Como p(1)  5  0 e p(2)  48  0 ,


vemos que existe 2  (1,2) tal que p(2 )  0 , ou seja, eiste também um autovalor positivo.
Portanto, X 0 é um ponto de sela.

O teorema a seguir, que é um resultado da Álgebra Linear, fornece uma condição


necessária e suficiente para decidir se uma matriz simétrica apresenta todos os autovalores
positivos ou todos negativos.

Definição 2.10.3.4: Seja A  (aij ) uma matriz de ordem n. O menor principal de ordem
1  k  n da matriz é definido como o determinante da submatriz A  (aij )1 i  k e é denotado
1 j  k

por mk (A) .

Teorema 2.10.3.4: Seja A  (aij ) uma matriz simétrica de ordem n.

i. A fim de que todos os autovalores de A sejam positivos é necessário e suficiente


que mk (A)  0 para todo 1  k  n ;
ii. A fim de que todos os autovalores de A sejam negativos é necessário e suficiente
que mk (A)  0 para todo k ímpar, 1  k  n e mk (A)  0 para todo k par, 1  k  n
.

Observação: A parte (ii) segue de (i) notando que mk ( A)  (1)k mk ( A) .

Cálculo III 89
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 2.10.3: Deseja-se construir uma caixa sem tampa com a forma da um
paralelepípedo regular com certo volume V. Determine as dimensões da caixa para que se
gaste o mínimo de material possível.

Solução: Denotemos por x e z as dimensões da base da caixa e por y a sua altura. Desta forma
V  xyz e a área total da caixa é A  2 xy  2 yz  xz . Logo, como V é dado, teremos

V V
A( x, y)  2 xy  2  .
x y

O nosso problema se resume em achar o ponto de mínimo de A. Note que a região que
estamos trabalhando é x  0 e y  0 .

Vamos procurar os pontos críticos de A:

 x ( x, y)  2 y  2 x 2  0
 A

 yx  V
V 2

 A , ou seja,  .
 ( x, y)  2 x  yV2  0 
2 xy  V
2
 y

V
Logo x  2 y e voltando às equações, obtemos x  3 2V , y  3 e z  3 2V .
4

 xA2 2 A   4xV3 2  8V 2
2

xy
Agora, H ( x, y)  det   2 A 2 A   det  2V   3
4.
 yx y 2  ( x , y )  2 y 
3
 ( xy )

 V 2 A  3 V 
Assim, H  3 2V , 3   12  0 e  2V , 3   2  0 .
2 
 4 x  4 

Logo, pelo critério do hessiano vemos que (3 2V , 3 V 4 ) é um ponto de mínimo local de A.


Na verdade, trata-se de um mínimo global. A verificação pode ser vista da seguinte maneira.
Para cada y  0 fixo a função

V V
Ay ( x)  A( x, y)  2 xy  2 
x y

Possui um mínimo global, pois lim Ay ( x)   e lim Ay ( x)   e ele ocorre em


x 0  x  

x  V y (note que esta é a única solução de A


x
( x, y)  Ay ( x)  0 ). O valor mínimo é

 V  V  V
m( y)  Ay    A
 ,
 y y   4 Vy  .
 y   y

Cálculo III 90
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Logo, A( x, y)  Ay ( x)  m( y) .

Por outro lado, a função m(y) , que representa o mínimo de Ay para cada y  0 fixado,
também possui um mínimo global, pois lim m( y)   e lim m( y )   e este mínimo
y 0  y  

ocorre para y tal que m(y)  0 , isto é, quando 2 V y  V y 2  0 , ou seja, quando


y  3 V 4 . Isto nos dá

V V
x   3 2V .
y 3 V 4

Assim, para todo x  0 e y  0 , temos

 V  V
A( x, y)  Ay ( x)  m( y)  m 3   A 3 2V , 3  .
 4  4

Portanto, (3 2V , 3 V 4 ) é um ponto de mínimo global. Finalmente, as dimensões da caixa são:

x  3 2V , y3 V 4 e z  3 2V .

4. EXTREMOS CONDICIONADOS

Em muitas aplicações o problema de achar os extremos de uma função apresenta-se


sujeito a certas condições nas variáveis independentes. O fato interessante nisso é que apesar
de algumas funções não possuírem, por natureza, valores extremos (como ocorre em planos,
retas, circunferências e elipses horizontais), se restringirmos o domínio destas funções a um
conjunto especial de valores, ou seja, se as condicionarmos a certos conjuntos de funções, a
situação pode ser revertida e estas podem passar a tê-los.

Exemplo 2.10.1: Determinar os extremos da função f ( x, y)  x 2  y 2 definida no conjunto


D  {( x, y)  2 ; x 2  2 y 2  1}.

f f
Solução: Temos que x  2x e y  2 y . Portanto o único valor extremo de f no interior da
elipse x 2  2 y 2  1 ocorre quando ( x, y)  (0,0) . Claramente este valor é um mínimo, visto
que f ( x, y)  x 2  y 2  0  f (0,0), ( x, y)  2 . Analisemos agora os extremos de f na
fronteira de D, isto é, na elipse x 2  2 y 2  1 , cuja parametrização é dada por

 1 
 (t )   cos t , sin t  ; 0  t  2 .
 2 

Cálculo III 91
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

 1  1
Temos então: f ( (t ))  f  cos t , sin t   cos2 t  sin2 t  F (t ) e
 2  2
1
F (t )  2 cos t sint  sint cos t   sin 2t .
2

Deste modo, F (t )  0 quando t   2 , t   ou t  3 2 . Portanto, F pode ter valores


extremos em 0 ,  2 ,  , 3 2 e 2 . Como

f ( (0))  f (1,0)  1,
 1  1
f ( ( 2))  f  0,  ,
 2 2
f ( ( ))  f (1,0)  1 ,
 1  1
f ( (3 2))  f  0,  ,
 2 2
f ( (2 ))  f (1,0)  1 ,
f (0,0)  0 ,

concluímos que f tem um valor mínimo absoluto igual a 0 em (0,0) e um valor máximo
absoluto igual a 1 nos pontos (1,0) e (1,0) . Observe que os dois extremos de F
correspondentes a t   2 e t  3 2 são apenas extremos locais de f em D. Apresentaremos
a seguir outra solução do exemplo anterior. Temos que x 2  1  2 y 2 e assim:

f ( x, y)  x 2  y 2  (1  2 y 2 )  y 2  1  y 2  F ( y) .

Portanto, f quando restrita à elipse x 2  2 y 2  1 reduz-se a uma função F de uma variável.


Analisemos os extremos de F.

F ( y)  2 y

e y  0 é seu ponto crítico. Como F (y)  2  0 , segue-se que y  0 é ponto de máximo de


F. Fazendo-se y  0 em x 2  1  2 y 2 obtemos x  1 . Temos, portanto, f (1,0)  f (1,0)  1.
Visto que f (0,0)  0 , concluímos que o valor mínimo absoluto de f é 0 no ponto (0,0) e o
valor máximo absoluto é 1 e ocorre nos pontos (1,0) e (1,0) .

2
Exemplo 2.10.2: Uma caixa retangular sem tampa deverá ter 32m de área de sua superfície.
Determine as dimensões que lhe assegurarão um volume máximo.

Solução: Sejam x, y e h o comprimento, a largura e a altura da caixa, respectivamente.

Cálculo III 92
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

y
x

Como a mesma não possui tampa, sua área total será dada por AT  xy  2 xh  2 yh  32 e
32  xy  32  xy  32 xy  x 2 y 2
assim, h  . Desta forma, V  xyz  xy    .
2x  2 y  2x  2 y  2x  2 y

Temos então:

V 64 y 2  2 x 2 y 2  4 xy 3 V 64 x 2  2 x 2 y 2  4 x 3 y
 e  .
x (2 x  2 y ) 2 y (2 x  2 y ) 2

O sistema


32 y  x y  2 xy  0
2 2 2 3

 y (32  x  2 xy)  0
2 2

 , isto é,  2

32 x  x y  2 x y  0
2 2 2 3

 x (32  y  2 xy)  0
2

fornece (0,0) como ponto crítico de V, o qual não satisfaz ao problema proposto. Por outro
lado, se ( x, y)  (0,0) , temos


 y  2 xy  32
2

 2 .

 x  2 xy  32

Daí, x 2  2 xy  y 2  2 xy , ou seja, x  y , pois x  0 e y  0 .

8 32  1 32 4
Disto decorre que y 2  2 y 2  32 e assim y  x  . Portanto, h  8 3 8  . Como
6 2( 6  6 ) 6
 8 8 4 
só há um ponto crítico, então  , ,  é ponto de máximo de V, cujas coordenadas são
 6 6 6
as dimensões procuradas da caixa.

Cálculo III 93
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

5. O MÉTODO DOS MULTIPLICADORES DE LAGRANGE

O PROBLEMA DE UM VÍNCULO

Suponha que f e g sejam funções de duas variáveis com derivadas parciais contínuas
em um aberto de D   . O problema que passaremos a estudar é encontrar os extremos da
2

função f quando esta está sujeita à condição que g ( x, y)  0 . Isto é, queremos encontrar os
pontos ( x, y) dentro do domínio de f e restritos ao vínculo (ou condição lateral) g ( x, y)  0
que maximizem ou minimizem os valores de f .

Note que o vínculo g ( x, y)  0 representa uma curva de nível da função g , que


assumiremos ser tal que g  0 . Para cada t   a equação f ( x, y)  t também representa
uma curva de nível da função f e variando t obteremos uma família de curvas de nível de f
. Se tal curva de nível de f , digamos de nível t0 , intercepta a curva g ( x, y)  0
transversalmente, isto é, de modo que uma não seja tangente à outra, ou ainda, os vetores f
e g são linearmente independentes no ponto de intersção, então para valores de t próximos
a t0 a curva de nível f ( x, y)  t também interceptará g ( x, y)  0 . Isto significa que t0 não
pode ser valor de mínimo nem de máximo de f sobre o vínculo. Desta maneira, f só pode
atingir um valor extremo (máximo ou mínimo) sobre a curva num determinado ponto
P0  ( x0 , y0 ) se a curva de nível f ( x, y)  f (P0 ) for tangente a g ( x, y)  0 em P0 , ou seja, se
f (P0 )    g(P0 ) para algum  . Observe as situações ilustradas na figura abaixo.

Reta tangente comum


P0
   f (Pi )
  k0
g ( Pi )
 

ki
  

g ( x, y)  0
x

Note que as observações acima podem ser verificadas da seguinte forma: Suponha que
a curva g ( x, y)  0 seja representada na forma paramétrica por  (t )  ( x(t ), y(t )) , tal que
 (t )  0 . Sobre esta curva, a função f é dada por  (t)  f ( (t))  f (x(t), y(t)) . Desta forma,
para anilisar os extremos de f sobre g ( x, y)  0 basta encontrar os extremos de  que é uma

Cálculo III 94
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

função de uma variável. Supondo que t  (a, b) então um extremo d  , caso exista, deve
ocorrer em algum t0 tal que  (t0 )  0 . Mas

 (t )  f
x ( x(t ), y(t ))  x(t )  fy ( x(t ), y(t ))  y(t )  f ( x(t ), y(t ))   (t ) .

Assim, substituindo t  t0 e colocando P0  ( x(t0 ), y(t0 )) , vemos que f (P0 )  (t0 )  0


, ou seja,  (t0 ) deve ser ortogonal a f (P0 ) . Como f é ortogonal às curvas de nível de f ,
segue-se que em P0 as curvas de nível g ( x, y)  0 e f ( x, y)  f ( x0 , y0 ) devem ser tangentes e,
portanto, f (P0 )    g (P0 ) para algum  .

Observe que as condições f ( x0 , y0 )  0  g( x0 , y0 ) para algum 0 e g ( x, y)  0 são


equivalentes a que ( x0 , y0 , 0 ) seja um ponto crítico da função de três variáveis dada por

F ( x, y, )  f ( x, y)    g( x, y) .

De fato, ( x0 , y0 , 0 ) é um ponto crítico de F se e somente se

 Fx ( x0 , y0 , 0 )  fx ( x0 , y0 )  0  gx ( x0 , y0 )  0


 F f g
 y ( x0 , y0 , 0 )  y ( x0 , y0 )  0  y ( x0 , y0 )  0 .
 F ( x , y ,  )  g ( x , y )  0
  0 0 0 0 0

Mas as duas primeiras equações acima são equivalentes a f ( x0 , y0 )  0  g ( x0 , y0 ) e


a terceira a g ( x0 , y0 )  0 .

Conclusão Alternativa: Sabemos que f ( P0 )  ( fx ( Po ), fy ( Po )) e g ( P0 )  ( gx ( Po ), gy ( Po )) .


Além disso, como f (P0 )    g (P0 ) para algum  , então:

 fx ( Po )    gx ( Po )
 f g
 y ( Po )    y ( Po )

ou, equivalentemente,

f g
( P0 ) (P )
 x
f   gx 0   (declive da tangente comum)
y ( P0 ) y ( P0 )

Do resultado acima podemos concluir que a constante  (aquela que transforma f e g


em vetores de igual comprimento, direção e sentido) corresponde também à inclinação da reta
tangente comum às curvas g e f , no ponto P0 .

Cálculo III 95
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

g (P0 )
f ( P0 )

Reta tangente comum

P0 g ( x, y)  0

Coeficiente angular f ( x, y)  ki
da reta tangente
comum

Da equação anterior, segue-se que

 f g
 x ( P0 )    x ( P0 )  0
 f g .

 y ( P0 )    y ( P0 )  0

Jutando-se ao sistema a condição g ( x0 , y0 )  0 , teremos equivalentemente,

 fx ( x0 , y0 )  0  gx ( x0 , y0 )  0
 f
 y ( x0 , y0 )  0  y ( x0 , y0 )  0 ,
g

 g ( x0 , y 0 )  0

que representa o ponto crítico da função F ( x, y, )  f ( x, y)    g( x, y) .

O raciocínio acima pode ser aproveitado para o caso de mais variáveis. Vejamos
quando f e g são funções de três variáveis satisfazendo as mesmas hipóteses anteriores, isto
é, são funções de classe C e g  0 . Esta última condição garante que g ( x, y, z)  0 define
1

uma superfície de nível S tal que para cada P0  S existem duas curvas  ,  : ( ,  )  S ,
tais que  (0)   (0)  P0 e  (0) e  (0) são linearmente independentes.

Cálculo III 96
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

f (P0 )
 (t )
Vetores tangentes
linearmente independentes.

..

 (t ) P0

 
Superfície de nível
g ( x, y , z )  0

Se P0  ( x0 , y0 , z0 ) é um extremo de f restrita à condição g ( x, y, z)  0 então as


funções 1(t )  f ( (t )) e 2 (t )  f ( (t )) também alcançarão um extremo quando t  0 ,
correspondente a 1 (0)  2 (0)  P0 . Derivando, obtemos as relações:

1(t)  f (P0 )   (t)  0 e 2 (t)  f (P0 )   (t)  0 .

Como  (t ) e  (t ) são linearmente independentes, vemos que f (P0 ) deve ser
ortogonal ao plano gerado por estes dois vetores em P0 . Como g (P0 )  0 é ortogonal a esse
plano, segue-se que f (P0 )  0  g (P0 ) para algum 0   . Este resultado se estende para n
variáveis e o argumento a ser usado é análogo, bastando tomar n  1 curvas contidas em
g (P)  0 passando por um mesmo ponto e cujos n  1 vetores tangentes formam um conjunto
linearmente independente. Com estes resultados, afirmamos o seguinte teorema.

Teorema 2.10.5.1: (Multiplicador de Lagrange) Se P0  ( x0 , y0 ) é um ponto extremo de uma


função diferenciável f : D  n   sujeita à condição g ( x, y)  0 , onde g é continuamente
diferenciável e g ( x0 , y0 )  0 , então P0 é ponto crítico da função

F ( x, y, )  f ( x, y)    g( x, y) , para algum    , isto é,

 Fx ( x0 , y0 , 0 )  f x ( x0 , y0 )  0  g x ( x0 , y0 )  0

 Fy ( x0 , y0 , 0 )  f y ( x0 , y0 )  0  g y ( x0 , y0 )  0 .
F ( x , y ,  )  g ( x , y )  0
  0 0 0 0 0

Este sistema serve para determinar x0 , y0 e  . Teremos assim, um candidato a ponto


extremo, a saber, P0  ( x0 , y0 ) . Isso porque, em geral, não se sabe se existe ou não tal ponto.

Exemplo 2.10.1: Encontre o ponto sobre o plano ax  by  cz  d  0 mais próximo ao ponto


P0  ( x0 , y0 , z0 ) e encontre também esta distância.

Cálculo III 97
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

Solução: Devemos minimizar a função d ( x, y , z )  ( x  x0 )2  ( y  y0 )2  ( z  z0 )2 sujeita à


condição g( x, y, z)  ax  by  cz  d  0 . Convém observar, entretanto, que se ( x, y, z)
satisfaz o vínculo e minimiza a função F, então este mesmo ponto minimiza a função f  F 2 .
Esta observação facilita nos cálculos das derivadas parciais, pois basta trabalharmos com
f ( x, y, z)  ( x  x0 )2  ( y  y0 )2  ( z  z0 )2 , que não envolve radicais. Desta forma, o problema
se resume a encontrar o mínimo de f ( x, y, z)  ( x  x0 )2  ( y  y0 )2  ( z  z0 )2 sujeita à
condição g( x, y, z)  ax  by  cz  d  0 , isto é, encontrar o ponto crítico da função

F ( x, y, z,  )  ( x  x0 ) 2  ( y  y0 ) 2  ( z  z0 ) 2    (ax  by  cz  d ) .

De acordo com o teorema 2.10.5.1, um ponto que satisfaz estas duas condições deve
satisfazer, para algum  , as equações

 Fx ( x, y , z ,  )  2( x  x0 )  a  0 2( x  x0 )  a  x   2a  x0


 F ( x, y , z ,  )  2( y  y )  b  0 2( y  y )  b  y   b  y
 y  
 
0 0 2 0
 F .
 y ( x, y , z ,  )  2( z  z 0 )  c  0 2( z  z 0 )  c  z   2  z0
 c

 F ( x, y , z ,  )  ax  by  cz  d  0 ax  by  cz  d  0 ax  by  cz  d  0


Temos assim,

 2 (a 2  b 2  c 2 )  ax0  by0  cz0  d  0

 ax0  by0  cz0  d


ou ainda,  .
2 a 2  b2  c 2

Com este resultado encontramos:

 a 2 x0  aby0  acz0  ad  b(bx0  ay0 )  c(cx0  az0 )  ad


 x  x  x
0
a b c
2 2 2  a2  b2  c2
 
 abx0  b y0  bcz0  bd
2
 a(ay0  bx0 )  c(cy 0  bz0 )  bd
 y  y0   y  .
 a b c
2 2 2
 a2  b2  c2
 z  z  acx0  bcy0  c z 0  cd  z  a(az0  cx0 )  b(bz0  cy 0 )  cd
2

 0
a b c
2 2 2  a2  b2  c2

Logo, o ponto ( x, y, z) encontrado é o ponto situado sobre o plano ax  by  cz  d  0 cuja


distância até o ponto P0  ( x0 , y0 , z0 ) é mínima, a qual é dada por:

d ( x, y , z )  f ( x, y , z )  ( x  x0 )2  ( y  y0 )2  ( z  z0 )2 ,

de onde obtemos finalmente:

Cálculo III 98
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama


d ( x, y , z )  a 2  b2  c 2
2

ax0  by0  cz0  d


ou seja, d ( x, y , z )  .
a 2  b2  c2

x2 y2
Exemplo 2.10.2: Determine os pontos da elipse 2  2  1 para os quais a reta tangente
a b
forma com os eixos coordenados um triângulo de menor área. Em seguida, calcule essa área.

Solução: Devemos aqui minimizar a área do triângulo formado pela interseção da reta
tangente com os eixos coordenados (a região em destaque na figura abaixo) sujeita à condição
g ( x, y)  x2
a2
 y2
b2
 1  0 . Pela figura, esta área é dada por f ( x, y)  12 xy .

b
y 
P  (a cos , b sin )

 x
a
x

xy  x2 y2 
Devemos, pois, encontrar os pontos críticos de F ( x, y ,  )      2  2  1 . Temos:
2 a b 

 F y 2 x  2
 x ( x, y ,  )  2  a 2  0  ya  4 x
 
 F x 2 y  2
 y ( x, y ,  )   2  0   xb  4 y .
 2 b  2
2 2 2
 F ( x, y ,  )  x  y  1  0  x  y  1
  a 2 b2  a 2 b 2

Dividindo-se a primeira equação pela segunda, obtemos:

ya 2 x x2 y2
   .
xb 2 y a2 b2

x2 y 2 x2  x2  2x2
    1
a 2 b 2 a 2  a 2  a 2
Assim,

Cálculo III 99
Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

x2 y2  y2  y2 2 y2
    2 1,
a 2 b 2  b 2  b 2
ou
b

a b
do que resulta, em ambos os casos: x   e y .
2 2

a b   a b   a b   a b 
Logo, os pontos  , ,  ,  ,  ,  e  ,  são os pontos da
 2 2  2 2  2 2  2 2
x2 y2
elipse   1 que tornam o triângulo com a menor área possível. Além disso, em
a2 b2
qualquer um desses pontos, a área A correspondente será A  14 ab .

O PROBLEMA DE DOIS VÍNCULOS

Vamos considerar o problema de achar os extremos de uma função de três variáveis


f ( x, y, z) sujeita às condições g( x, y, z)  0 e h( x, y, z)  0 .

Teorema 2.10.5.2: Suponha que as funções f , g , h : D  3   , D aberto, sejam funções


continuamente diferenciáveis. Seja E  {( x, y, z)  D| g( x, y, z)  h( x, y, z)  0} e suponha
que os vetores g ( x, y, z) e h( x, y, z) sejam linearmente independentes em E . Então, se
( x0 , y0 , z0 ) é um extremo de f restrita a E , existem constantes  e  tais que

f ( x0 , y0 , z0 )    g( x0 , y0 , z0 )    h( x0 , y0 , z0 ) .

Prova: Seja P0  ( x0 , y0 , z0 ) um extremo de f sobre E . Vamos assumir que P0 é um ponto de


máximo de f sobre E . A condição que os gradientes de g e h são linearmente
independentes em E garante que os pontos de E próximos a P0 podem ser descritos por uma
curva suave  (t )  ( x(t ), y(t ), z(t )) , com    t   satisfazendo  (0)  P0 ,  (0)  0 e
g(t)  f ( (t))  f ( (0))  f (P0 ) . Assim, a função g que é escalar e de uma variável atinge
um máximo em t  0 e, portanto, devemos ter g(0)  0 . Mas, pela regra da cadeia,
g(t)  f ( (t))   (t) e assim, g(0)  f (P0 )   (0)  0 . Como  (t)  E, t  ( ,  ) , temos
que g( (t ))  0  h( (t )) . Derivando estas duas últimas igualdades (use a regra da cadeia) e
colocando t  0 , obtemos que g (P0 )   (0)  0 e h(P0 )   (0)  0 . Desta forma, vemos que
o vetor não-nulo  (0) é ortogonal aos vetores g (P0 ) e h(P0 ) e como estes dois últimos
são linearmente independentes, o conjunto { (0), g(P0 ), h(P0 )} forma uma base para o 3 .
Logo, existem constantes  ,  e  tais que

f (P0 )    g(P0 )    h(P0 )    (0)

Cálculo III 100


Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

o que implica em

0  f ( P0 )   (0)    g ( P0 )   (0)    h( P0 )   (0)     (0)   (0)     (0) ,


2

onde  (0) denota o comprimento do vetor  (0) que é não-nulo. Portanto,   0 e obtemos
o que queríamos provar:

f (P0 )    g(P0 )    h(P0 ) .

Exemplo 2.10.3: Determine os semi-eixos da elipse dada pela interseção do cilindro


x 2  y 2  1 com o plano x  y  z  0 .

Solução: Como o plano passa pela origem e o eixo do cilindro é dado por x  y  0 , vemos
que o centro da elipse é a origem. Assim, precisamos encontrar os pontos sobre a elipse que
estão mais próximos e mais afastados da origem. Tendo em vista observações anteriores,
basta encontrarmos os extremos de f ( x, y, z)  x 2  y 2  z 2 (o quadrado da distância) sujeita
aos vínculos g ( x, y, z)  x2  y 2  1  0 e h( x, y, z)  x  y  z  0 .

Note que h( x, y, z)  i  j  k e g( x, y, z)  2 x  i  2 y  j são claramente linearmente


independentes: basta observar a componente de k dos dois vetores.

Pelo teorema 2.10.5.2, os extremos de f sujeita aos vínculos devem satisfazer, para algum 
e algum  , as equações

2 x    2 x   2(1   ) x  
 
f ( x, y , z)    g ( x, y , z)    h( x, y , z) 2 y    2 y   2(1   ) y  
  
 g ( x, y , z)  0  2 z    2 z   .
h( x, y , z)  0  2  2
 x  y  1 x  y  1
2 2

 x  y  z  0  x  y  z  0

Assim, 2(1  ) x  2(1  ) y que para   1 nos fornece x  y . Pelas restrições (vínculos),
obtemos z  2 x e 2 x 2  1 que resultam nos pontos

 2 2   2 2 
P1   , , 2  e P2    , , 2  .
 2 2   2 2 

Agora, se   1 então   0 e, portanto, z  0 . Desta forma, os vínculos se reduzem a

 x 2  y 2  1 2 x 2  1  2 2  2 2
   ( x, y)   ,  ou ( x, y)    , ,
x  y  0 x   y  2 2   2 2 

Cálculo III 101


Cap. 02: Funções reais de várias variáveis reais Prof. Sinvaldo Gama

 2 2   2 2 
dando os pontos P3   , ,0  e P4    , ,0  . Temos f (P1)  f (P2 )  3 e
 2 2   2 2 
f (P3 )  f (P4 )  1. Assim, o semi-eixo maior é dado pelo segmento OP1 ou OP2 e tem
comprimento igual a 3 e o menor é dado pelo segmento OP3 ou OP4 e tem comprimento
igual a 1 . Os vértices da elipse são os pontos P1 e P4 .

Cálculo III 102


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

CAPÍTULO 3
FUNÇÕES VETORIAIS ( f :    )
n m

SEÇÃO 3.1: FUNÇÕES VETORIAIS

Neste capítulo estudaremos as funções definidas sobre subconjuntos de n com


valores em  m ; são as chamadas funções vetoriais. As mais simples destas funções são as
transformações lineares as quais, como sabemos, podem ser representadas por matrizes e cuja
estrutura é estudada na Álgebra Linear. Estudaremos agora as funções vetoriais que não são
necessariamente lineares.

Definição 3.1.1: Seja D um subconjunto do n . Uma função vetorial é uma função

f : D  m
X  Y  f (X )

onde X  ( x1 , x2 ,..., xn ) e f (X ) é um vetor com m coordenadas, isto é,

f ( X )  Y  ( y1 , y2 ,..., ym )  ( f1( X ), f2 ( X ),..., fm ( X )) ,

onde f1 , f2 ,..., fm são as funções coordenadas de f e

fi : D  
X  yi  fi (X ) , i  1,...m .

Quando não informamos explicitamente o domínio de uma função f, convencionamos


que o mesmo será o conjunto de valores X  n para os quais f (X ) é um vetor bem definido
em  m , ou seja, as coordenadas de f (X ) são números reais.

Definição 3.1.2: Se f : D  n  m , a imagem de f , denotada por Im( f ) ou f (D) , é o


conjunto

Im( f )  f (D)  { f ( X ); X  D} .

Se A  D , indicaremos por f (A) o conjunto

f ( A)  { f ( X ); X  A},

Cálculo III 103


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

e diremos que f transforma o conjunto A no conjunto f (A) .

Exemplo 3.1: (Coordenadas polares). Seja X  2 . Consideremos como coordenadas de X


os números r e  como indicados na figura abaixo, isto é, X  f (r , ) os quais denominamos
as coordenadas polares de X.

X

r

 x

Se x e y são as coordenadas cartesianas de X, então

 x  r cos

 y  r sin

Consideremos agora a seguinte função T : 2  2 definida por

T (r , )  (r cos , r sin )  ( x, y) .

(a) Qual a imagem por T do retângulo 0  r  2 , 0     2 contido no plano r ?


(b) Qual a imagem por T do retângulo 1  r  2 ,  6     3 contido no plano r ?
(c) Que figura geométrica é transformada por T, no círculo x 2  y 2  4 , em xy ?
(d) Prove que T é injetiva se r  0 e 0    2 .

Solução: (a) Observe que T deve ser aplicada a todos os pontos da região ilustrada abaixo.


(2,  2)
(0,  2)  

 ( x, y)

  r
(0,0) (2,0)

Além disso,

Cálculo III 104


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

i. Quando o ponto está sobre o segmento AD,   0 e assim a transformação T será da


forma, T (r ,0)  (r cos 0, r sin 0)  (r ,0) (segmento IG);
ii. Quando o ponto está sobre o segmento AB, r  2 e a transformação será da forma,
T (2, )  (2 cos ,2 sin ) o que corresponde a uma parametrização de uma circunferência
de raio 2, centrada na origem. Como 0    2 , a circunferência fica limitada ao
primeiro quadrante (arco GH);
iii. Quando o ponto está sobre o segmento CD,    2 e a transformação será da forma,
T (r ,  2)  (r cos( 2), r sin( 2))  (0, r) (semi- eixo HI);
iv. Considerando-se, por exemplo, o segmento ( x, y)  (1, ) , 0     2 (veja figura
abaixo), teremos que para quaisquer pontos deste conjunto, a aplicação T será da
forma T (1, )  (cos , sin ) , o que corresponde a uma parametrização de uma
circunferência de raio 1, centrada na origem. Como 0    2 , a circunferência fica
limitada ao primeiro quadrante (semi-arco HI). Com isso, é fácil de observar que se
tomarmos todas as retas verticais contidas neste conjunto e realizarmos o mesmo
procedimento com cada uma delas, obteremos a região interna do círculo.

y

H
C  2 F B T

K
(1, )  T (1, )

2  2
r I 2
D 0 E A x
0 J G

(b) Fazendo observações semelhantes, chegamos ao resultado abaixo.

 y

(1 12 , )
T
 3 B T (1 12 , )

 6 
A
 3
 6
r x
0 1 2 0 1 2

Neste caso, tomamos a semi-reta de coordenadas (1 12 ,  ) ,  6     3 para mostrar


de que forma a função T a transforma (na figura acima, no semi-arco AB) e gera o espaço
interno da região indicada.

(c) Para este caso, o procedimento é inverso: devemos encontrar novos intervalos para r e 
de modo a satisfazer a condição x 2  y 2  4 . Para isso, fazemos 0    2 e 0  r  2 .

Cálculo III 105


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

 y

2
T T (1, )
(1, )

 x
2 0 2

r
0 2

Exemplo 3.2: (Coordenadas cilíndricas). Seja X  3 . Consideremos como coordenadas de


X os números r,  e z, como indicados na figura abaixo, os quais denominamos as
coordenadas cilíndricas de X.

z X

 y
y
x
x

Se x, y e z são as coordenadas cartesianas de X, então

 x  r cos

 y  r sin
z  z

Consideremos a seguinte transformação T : 3  3 definida por

T (r , , z)  (r cos , r sin , z)  ( x, y, z) .

(a) Qual a imagem por T do paralelepípedo 0  r  1 , 0     2 e 0  z  4 ?


(b) Qual a imagem por T do paralelepípedo 1  r  2 ,  6     3 e 1  z  3 ?
(c) Que figura geométrica é transformada por T, no círculo x 2  y 2  4 , z  0 ?
(d) Prove que T é injetiva se r  0 e 0    2 .

Solução: (a)

Cálculo III 106


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

z z
4 4
T

 2 0 1
0  y
1

r x

(b) Com procedimento análogo chegamos ao resultado abaixo.

z z

3 3 3
T

1 1
 3
 y
1 1
2  6 2
r
x

(c) Com procedimento análogo chegamos ao resultado abaixo.

 z

2 T

(1, )
 y
2 0 2

r x
0 2

Exemplo 3.3: (Coordenadas esféricas). Seja X  3 . Consideremos como coordenadas de


X os números ρ,  e φ como indicados na figura abaixo, os quais denominamos as
coordenadas esféricas de X.

Cálculo III 107


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

z X

O  y
y
x 
A
x

Se x, y e z são as coordenadas cartesianas de X, então

 x  OA  cos   sin cos



 y  OA  sin   sin sin
 z   cos

Consideremos agora a seguinte transformação T : 3  3 definida por

T ( , ,)  ( sin cos ,  sin sin ,  cos)  ( x, y, z) .

(a) Qual a imagem por T do paralelepípedo 0    3 , 0     2 e 0     2 ?


(b) Qual a imagem por T do paralelepípedo 1    3 ,  6     2 e  3     2 ?
(c) Que figura geométrica é transformada por T, no círculo x 2  y 2  4 , z  0 ?
(d) Prove que T é injetiva se   0 , 0    2 e 0     .

Solução:

z
z
 2

T  .

 2 . 3 y
0  
3

x
(a) r

(b) A função T transforma o paralelepípedo 1    3 ,  6     2 ,  3     2 na região


do espaço localizada no primeiro octante, como indica a figura abaixo.

Cálculo III 108


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

z
z
 2 3
T

 3

y
 3  2
0 
1

3 x

SEÇÃO 3.2: LIMITE E CONTINUIDADE

O estudo das funções não-lineares está ligado às técnicas do Cálculo tais como
limite, continuidade, diferenciabilidade, integrabilidade, etc. Nesta seção abordaremos o
conceito de limite e continuidade para estas funções.

Definição 3.2.1: Seja f uma função vetorial definida num subconjunto D do n , exceto
possivelmente em X 0  D . Escrevemos

lim f ( X )  L  m ,
X X0

se dado   0 qualquer, existe um   0 tal que se X  B( X 0 ; )  D , então f ( X )  B(L;  ) ,


isto é, se 0  X  X 0   , então f ( X )  L   .

O teorema seguinte mostra que o problema da existência e o cálculo do limite para


funções vetoriais reduzem-se ao mesmo problema para as funções coordenadas da função,
onde se sabe que estas são reais.

Teorema 3.2.1: Seja f uma função vetorial definida num subconjunto D do n , exceto
possivelmente em X 0  D . Se f1 , f2 ,..., fm são as funções coordenadas de f , então

lim f ( X )  L  (l1 , l2 ,..., lm )  m


X X 0

se e somente se,

lim f i ( X )  li , i  1,..., m .
X X0

Prova:

Cálculo III 109


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

1ª parte. Suponhamos inicialmente que lim f ( X )  L  (l1 , l2 ,..., lm )  m . Então dado   0


X X 0

qualquer, existe um número   0 tal que

se 0  X  X 0   , então f ( X )  L   .

Mas, f ( X )  L  ( f1 ( X )  l1 ,..., f m ( X )  lm ) e como f i ( X )  li  f ( X )  L , então se


0  X  X 0   , tem-se f i ( X )  li   .

Portanto, fi (X ) tem limite li quando X tende para X 0 , isto é, lim f i ( X )  li .


X X0

2ª parte. Suponhamos agora que existe o lim f i ( X )  li . Assim, devemos provar que
X X0

lim f ( X )  (l1 , l2 ,..., lm ) . Por hipótese, dado 


m  0 qualquer, existe  i  0 tal que
X X0

se 0  X  X 0   i , então f ( X )  L  
m .

Por outro lado, f ( X )  L  ( f1 ( X )  l1 ) 2    ( f m ( X )  lm ) 2 

 ( f1 ( X )  li ) 2    f m ( X )  lm ) 2 
 f1 ( X )  l1    f m ( X )  lm  m    m   .

Seja   min{1 ,...,  m}. Logo,

se 0  X  X 0   , então f ( X )  L   .

Isto informa que lim f ( X )  L .


X X0

Definição 3.2.2: Se f é definida em X 0 e lim f ( X )  f ( X 0 ) , f é dita contínua em X 0 .


X X0

Portanto, f é contínua em se dado   0 , existe   0 tal que

se 0  X  X 0   , então f ( X )  f ( X 0 )   .

Diz-se que f é contínua em D quando f é contínua em cada ponto de D.

O teorema seguinte é uma consequência do teorema anterior.

Teorema 3.2.2: Seja f : D  n  m , D aberto, uma função vetorial. Então f é contínua em


X 0  D se, e somente se, cada uma das suas funções coordenadas f1 ,..., f m é contínua em X 0 .

Cálculo III 110


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

Prova: Exercício.

Teorema 3.2.3: Se T : n  m é uma transformação linear, então

iii. T ( X )  k  X , X  n e para algum número real k;


iv. T é contínua em todo ponto do n .

Prova: Veja a prova do Teorema 2.2.4, na seção anterior.

Teorema 3.2.4: Se f : D  n  m é contínua em X 0  D e g : E  m   p é contínua


em f ( X 0 )  E , com Im( f )  E , então g  f : D  n   p é contínua em X 0 .

SEÇÃO 3.3: DERIVADAS PARCIAIS VETORIAIS

f
( X 0 ) , X 0  ( x1 ,..., xn ) , é definida por
0 0
Definição 3.3.1: A derivada parcial vetorial, xi

f f ( x10 ,..., xi0  h,..., xn0 )  f ( x10 ,..., xn0 ) f ( X 0  hei )  f ( X 0 )


( X 0 )  lim  lim .
x1 h 0 h h 0 h

Observe que o quociente e, portanto, o limite, são vetores. Como limites de funções
vetoriais são calculados tomando-se os limites de cada função coordenada, segue-se
imediatamente que

f f ( X 0  hei )  f ( X 0 )
( X 0 )  lim 
x1 h0 h
 f ( X  hei )  f ( X 0 ) f ( X  hei )  f ( X 0 ) 
 lim 1 0 ,..., m 0 
h0 h h 
 f ( X  hei )  f ( X 0 ) f ( X  hei )  f ( X 0 ) 
  lim 1 0 ,..., lim m 0 
 h 0 h h 0 h 
 f f 
  1 ( X 0 ),..., m ( X 0 ) 
 xi xi 

 f  f f 
 ( X 0 )   1 ( X 0 ),..., m ( X 0 ) 
 x1  x1 x1 

Portanto,  

 f  f f 
 ( X 0 )   1 ( X 0 ),..., m ( X 0 ) 
 xn  xn xn 

Exemplo 3.3.1: Seja f :  2   2 definida por f ( x, y)  ( x 2  y 2  xy, ln( x 2  y 2 )) . Então

Cálculo III 111


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

f  2x  f  2y 
( x, y)   2 x  y , 2  e ( x, y)   2 y  x, 2 .
x  x  y 2  y  x  y 2 

Exemplo 3.3.2: Seja f : 3   2 definida por f ( x, y, z)  ( x  e x y  z ,2 x  y) então

f f f
( x, y, z)  (1  e x y  z ,2) , ( x, y, z)  (e x y  z ,1) e ( x, y, z)  (e x y  z ,0) .
x y z

Exemplo 3.3.2: Seja f : 3  3 definida por f ( x, y, z)  ( ye x , sin xy, z) então

f f f
( x, y, z)  ( ye x , y cos xy ,0) , ( x, y, z)  (e x , x cos xy ,0) e ( x, y, z)  (0,0,1) .
x y z

MATRIZ DA APLICAÇÃO LINEAR T  f ( X 0 )

Seja e1 ,..., en a base canônica do  . Sabemos que a i-ésima coluna da matriz de


n

f ( X 0 ) é f ( X 0 )(ei ) . Por outro lado, pelo Corolário 6.2.1,

 f ( X 0  te1 )  f ( X 0 ) f  f f 
 f ( X 0 )(e1 )  lim  ( X 0 )   1 ( X 0 ),..., m ( X 0 ) 

t 0 t x1  x1 x1 

 

 f ( X 0  ten )  f ( X 0 ) f  f f 
 f ( X 0 )(en )  lim  ( X 0 )   1 ( X 0 ),..., m ( X 0 ) 
 t 0 t xn  xn xn 

e a matriz de f ( X 0 ) tem a seguinte forma:

 f1 f1 f1 


 (X0) (X0)  ( X 0 )
 x1 x 2 xn 
      .
 
 f f m f m 
 m (X0) (X0)  ( X 0 )
 x1 x2 xn  mn

Esta matriz m  n é denominada matriz jacobiana de f em X 0 , a qual denotaremos


por Jf ( X 0 ) ou  f ( X 0 ). Note que

f ( X 0 )( X )  Jf ( X 0 )  X .

Cálculo III 112


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

f i
Chamamos novamente a atenção que a existência das derivadas parciais xi ( X 0 ) e,
portanto, a existência da matriz jacobiana Jf ( X 0 ) , não é suficiente para garantir a
diferenciabilidade de f no ponto X 0 .

Exemplo 3.3.3: Obter a matriz jacobiana da função f ( x, y, z)  ( x2  y3 , x  sin z) .

Solução: Como f1( x, y, z)  x2  y3 e f 2 ( x, y, z)  x  sin z são as funções coordenadas de f,


tem-se que num ponto arbitrário X  ( x, y, z) :

 fx1 f1
y
f1
z
  2x 3y 2 0 
Jf ( X )   f 2 f 2 f 2  .
 x y z   1 0 cos z 

Exemplo 3.3.4: Obter a matriz jacobiana da função f ( x, y)  ( x2  2 xy, y 2  xy, x  y 2 ) .

Solução: De modo semelhante, num ponto arbitrário X  ( x, y, z) :

 fx1 f1
y
 2 x  2 y 2x 
 f  
2 y  x  .
f 2
Jf ( X )   x2 y  y
 f 3 f 3   1 2 y 
 x y  

CRITÉRIO DE DIFERENCIABILIDADE

Teorema 3.3.1: Seja f : D   n   m , D aberto e X 0  D . Se existem as derivadas parciais


f
x1 ,..., xfn e são contínuas em X 0 , então f é diferenciável em X 0 .

No capítulo anterior chamamos atenção para o fato de que uma função pode ser
diferenciável em um ponto, e neste ponto as derivadas parciais não serem contínuas. Daí, a
seguinte definição.

Definição 3.3.2: Seja f : D  n  m , D aberto, uma função vetorial. Dizemos que f é de


f
classe C1 (ou continuamente diferenciável) em D, se as derivadas parciais vetoriais x1 ,..., xfn
forem contínuas em D, ou seja, se os elementos da matriz jacobiana de f são contínuos em
D.

Do Teorema 3.3.1 segue-se, pois, que se f é de classe C1 em D, então f é


diferenciável em D.

Cálculo III 113


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

SEÇÃO 3.4: A REGRA DA CADEIA

Teorema 3.4.1: (Derivada da função composta). Sejam f : D  n  m e


g : E  m   p duas funções definidas nos subconjuntos abertos D e E tais que
Im( f )  f (D)  E . Se f é diferenciável em X 0  D e se g é diferenciável em f ( X 0 )  Y0  E
então g  f é diferenciável em X 0 e

( g  f )( X 0 )  g( f ( X 0 ))  f ( X 0 )  g(Y0 )  f ( X 0 ) .

Observe que J ( g  f )( X 0 )  Jg (Y0 )  Jf ( X 0 ) .

D  n f E  m g p


X0

 Y0  f ( X 0 )  
z0  g (Y0 )  g ( f ( X 0 ))

g f

Exemplo 3.3.5: Sejam f ( x, y)  ( x2  y 2 , x2  y 2 )  (u, v) e g(u, v)  (uv, u  v)  (r , s) . Obter:

a) ( g  f )(2,1) .
b) ( g  f )( x, y) .

Solução: (a) Observe que g(u, v)  g( f ( x, y))  g  f ( x, y) , isto é, a composta g  f aplica


valores do domínio de f no contradomínio de g e neste caso, g  f : 2  2 .

f g
2 2 2

( x, y)

 f ( x, y)  (u, v)  
g(u, v)  (r , s)

g f

No ponto ( x, y)  (2,1) temos que f (2,1)  (22  12 ,22  12 )  (5,3) e assim,

g  f (2,1)  g( f (2,1))  g(5,3) .

Cálculo III 114


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

Para obtermos ( g  f )(2,1) , usamos o fato de que J ( g  f )(2,1)  Jg ( f (2,1))  Jf (2,1) , isto é,

J ( g  f )(2,1)  Jg(5,3)  Jf (2,1) .

u  f1 ( x, y)  x 2  y 2
Como f é definida por  2 , temos que
v  f 2 ( x, y)  x  y
2

 ux ( x, y) u
y ( x , y )  2 x 2y  4 2
Jf ( x, y)   v  ( , ) 
( x, y)  2 x 4  2
e assim, Jf 2 1 .
 x ( x, y)
v
y  2 y  

r  g1 (u , v)  uv
Como g é definida por  , temos
 s  g 2 (u , v)  u  v

 ur (u , v) r
v (u , v)   v u 
Jg (u , v)   s 
(u , v)  1 1 
s
.
 u (u , v) v

Como u  x 2  y 2 e v  x 2  y 2 , então

x2  y 2 x2  y2 
Jg ( f ( x, y))   
 1 1 

e desta forma:

2 2  12 2 2  12  5 3
Jg ( f (2,1))  Jg (5,3)    .
 1 1  1 1

Portanto, a derivada da composta g  f no ponto (2,1) será

5 3  4 2  32 4
J ( g  f )(2,1)  Jg (5,3)  Jf (2,1)     .
1 1  4  2  8 0 

(b) Do fato de g(u, v)  g( f ( x, y))  g  f ( x, y) , segue-se que ( g  f )( x, y) será dado por

J ( g  f )(x, y)  Jg ( f ( x, y))  Jf ( x, y)  Jg (u, v)  Jf ( x, y) ,

isto é, ( g  f )( x, y) será

v u   2 x 2 y   2 x(v  u) 2 y(v  u)


J ( g  f )(x, y)  Jg (u , v)  Jf ( x, y)    
 2 y   4 x 0 
,
1 1   2 x

Cálculo III 115


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

onde u  x 2  y 2 e v  x 2  y 2 .

Exemplo 3.3.6: Sejam f ( x, y)  ( f1 ( x, y), f 2 ( x, y))  (u, v) e g(u, v)  ( g1(u, v), g2 (u, v))  (r , s) .
r r s s
Obter: , , ,e .
x y x y

Solução: Note que g(u, v)  g( f ( x, y))  g  f ( x, y) , isto é, g  f ( x, y)  (r , s) .

f g
2 2 2



( x, y)  f ( x, y)  (u, v)  
g(u, v)  (r , s)

g f

A regra da cadeia nos assegura que

J ( g  f )(x, y)  Jg ( f ( x, y))  Jf ( x, y)  Jg (u, v)  Jf ( x, y) .

 r  g1 (u , v)  gu1 g1
  ur r
v 
i. Como g (u , v)   , temos que Jg (u , v)   g 2 v
   s ;
s  g 2 (u , v)
g 2 s
 u v   u v 
u  f1 ( x, y)  f1 f1
  ux u
y 
ii. Como f ( x, y)   , temos que Jf ( x, y)   fx2 y
f 2    v .
v  f 2 ( x, y)
v
 x y   x y 

Desta forma,

 r r
  ux u
y   ur ux  us uy r
u
u
y  vr yv 
J ( g  f )(x, y)  Jg (u , v)  Jf ( x, y)   us v
  v    s u  s v  vs yv 
s v s u
.
 u v   x y   u x v x u y

 ur r
y 
Mas J ( g  f )(x, y)   s s .
 x y 

Com isso, tem-se que

 xr  r
u
u
x  vr vx  xs  s
u
u
x  vs vx
 r e  s .
 y   vr yv  y   vs yv
r u s u
u y u y

Cálculo III 116


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

Exemplo 3.3.7: Suponhamos que as funções g e f são dadas por w  g( x, y, z) onde


w w
x  f1 (u, v) , y  f 2 (u, v) e z  f 3 (u, v) são as funções coordenadas de f . Obter: e .
u v

Solução: Seja f : 2  3 uma função dada por f (u, v)  ( f1(u, v), f 2 (u, v), f3 (u, v))  ( x, y, z) .
Observe que g( x, y, z)  g( f (u, v))  g  f (u, v) , isto é, g  f (u, v)  w . Com palavras, a
composta g  f aplica valores do domínio de f (contido em 2 ) no contradomínio de g
(contido nos reais) e assim, g  f : 2   .

f g
2 3 



(u, v)  f (u, v)  ( x, y, z)  
w  g( x, y, z)

g f

Além disso, a regra da cadeia nos assegura que

J ( g  f )(u, v)  Jg ( f (u, v))  Jf (u, v)  Jg ( x, y, z)  Jf (u, v) .

 f1 (u , v)  x  fu1 f 1
v
  ux x
v

  f f 2   y y 
i. Como f (u , v)   f 2 (u , v)  y , temos que Jf (u , v)   u2 v    u v ;
 f (u , v)  z  fu2 f 2   uz z 
 3  v   v 
 fu1 f 1
v
  ux x
v

 f f 2   y y 
ii. Como w  g( x, y, z) , temos que Jg ( x, y , z)   u2 v    u v .
 fu2 f 2   uz z 
 v   v 

Desta forma,

   ux x
v
  
J ( g  f )(u , v)  Jg ( x, y , z)  Jf (u , v)     y y   
  u v  .
   uz z
v
 
 

 ur r
y 
Mas J ( g  f )(x, y)   s s  . Com isso, tem-se que
 x y 

Cálculo III 117


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

 xr  r
u
u
x  vr vx  xs  s
u
u
x  vs vx
 r e  s .
 y   vr yv  y   vs yv
r u s u
u y u y

 x  uv
 
Exemplo 3.3.8: Seja w  ln( x  y  z) , onde  y  ln(u  v) . Demonstre que
 z  sin uv

w w
( ,1)  ( ,1) .
u v

Solução: Seja f : 2  3 uma função dada por f (u, v)  ( f1(u, v), f 2 (u, v), f3 (u, v))  ( x, y, z) .
Observe que g( x, y, z)  g( f (u, v))  g  f (u, v) , isto é, g  f (u, v)  w . Em palavras: a
composta g  f aplica valores do domínio de f (contido em 2 ) no contradomínio de g
(contido nos reais) e assim, g  f : 2   . Pelo exemplo anterior, podemos concluir que

w w x w y w z
   .
u x u y u z u

Deste modo, teremos:

w    1  
(u , v)  (v)    (v cos uv) 
u x yz x y z u v x y z
3  1 
 v   v cos uv  
x y z uv 
3  1 
  v(1  cos uv)  
uv  ln(u  v)  sin uv  uv

No ponto ( ,1) teremos, pois:

w 3  1  3  1 .
( ,1)  1  cos    
u   ln(1   )  sin  1      ln(1   )  1   

Pelo exemplo anterior, podemos concluir que

w    1  
(u , v)  (u)    (u cos uv) 
v x yz x y  zu v x y  z
3  1 
 u   u cos uv  
x yz uv 
3  1 
  u(1  cos uv)  
uv  ln(u  v)  sin uv  uv

No ponto ( ,1) , portanto:

Cálculo III 118


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

w 3  1  3  1 .
( ,1)      cos    
u   ln(1   )  sin  1     ln(1   )  1   

w w
Com isso, ( ,1)  ( ,1) .
u v

SEÇÃO 3.5: O TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA

Teorema 3.5.1: (Teorema da função inversa). Seja D um subconjunto aberto do n e


f : D  n uma função continuamente diferenciável e X 0  D . Suponhamos que a derivada
f ( X 0 ) : n  n seja uma aplicação linear inversível. Então existe uma vizinhança aberta V
de n , contendo X 0 , tal que

i. f (V )  U é aberto;
ii. f , quando restrita a V, tem uma inversa, f 1 : U  V , continuamente diferenciável;
iii. ( f 1 )(Y0 )   f ( X 0 )1 , onde Y0  f ( X 0 ) .

Exemplo 3.5.1: Seja f : 2  3 definida por f ( x, y)  ( x 2  y 2 ,2 x  3xy) . Mostre que f é


inversível numa vizinhança do ponto X 0  (1,2) .

Solução: Como as funções coordenadas de f são polinômios, f é continuamente diferenciável


em 2 . Por outro lado, como

 2x 2y   2  4
Jf ( x, y)    então Jf (1,2)    , e assim det Jf (1,2)  6  32  0 .
2  3 y  3 x  8  3 

Portanto, f é inversível em alguma vizinhança de X 0  (1,2) .

Nota: Seja f : n  n
X  Y  f (X )

Escrevendo os vetores da equação Y  f (X ) em termos de suas coordenadas,


chegamos à seguinte interpretação da conclusão do teorema da função inversa:

Y  ( y1 ,..., yn )  f ( X )  ( f1( X ),..., fn ( X )) , onde X  ( x1 ,..., xn ) .

Cálculo III 119


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

 f1 ( x1 ,..., xn )  y1
 f ( x ,..., x )  y
 2 1 n 2
Daí,  (I)
 
 f m ( x1 ,..., xn )  ym

Se f é inversível e se g  f 1 , então

( x1 ,..., xn )  X  g(Y )  ( g1(Y ),..., gn (Y )) .

 g1 ( y1 ,..., yn )  x1
 g ( y ,..., y )  x
 2 1 n 2
Portanto, 
 
 g m ( y1 ,..., yn )  xm

Isso mostra que o sistema (I) acima, de n equações e n incógnitas x1 ,..., xn , pode ser
resolvido em termos de y1 ,..., yn se restringirmos X  g (Y ) e Y  f (X ) a vizinhanças
suficientemente pequenas de X 0 e Y0 . Pelo teorema da função inversa, as soluções são
univocamente determinadas e continuamente diferenciáveis.

x4 y  x  u
Exemplo 3.5.2: Mostre que o sistema f ( x, y)   pode ser resolvido para x e y em
 x  y 3
 v
termos de u e v (isto é, x  F (u, v) e y  G(u, v) ) numa vizinhança do ponto (1,1) . Determine
x x y y
ainda u , v , u
,e v
no ponto (2,2) .

Solução: O sistema de equações dado define uma função f : 2  2 dada por


f ( x, y)  ( x 4 y  x, x  y3 )  (u, v) . Temos então, f (1,1)  (2,2) ,

4 yx 3  1 x 4  5 1
Jf ( x, y)    e Jf (1,1)   .
 1 3y2  1 3

Como det Jf (1,1)  15  1  14  0 , então f é inversível numa vizinhança de (1,1) . A inversa


f 1(u, v)  ( x, y) é dada por equações da forma

 x  F (u , v)

 y  G (u , v)

e está definida numa vizinhança do ponto (2,2) . Pelo teorema da função inversa, a derivada
( f 1)(2,2) é dada por

Cálculo III 120


Cap. 03: Funções vetoriais Prof. Sinvaldo Gama

1
5 1  143  141   ux x
v 
1 3   1 5 
  y y .
   14 14   u v 

Portanto, no ponto (2,2) temos:

x 3 x 1
 ;  ;
u 14 v 14
y 1 y 5
 ;  .
u 14 v 14

Exemplo 3.5.3: Considere a função f ( x, y)  ( x cos y, x sin y) para a qual

cos y  x sin y 
Jf ( x, y)    e det Jf ( x, y)  x cos2 y  x sin2 y  x  0 .
 sin y x cos y 

Para que f seja inversível, x deve ser diferente de zero. Note que f não é inversível
pois f ( x,0)  f ( x,2 )  ( x,0) . Assim, precisamos restringir o domínio de f para que f seja
inversível.

Cálculo III 121

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