É muito comum ouvirmos a reprodução do discurso de que o
fracasso escolar está associado à relação e estrutura familiar dos sujeitos, em geral jovens. É exatamente em contraponto a esse pensamento que o texto de Heckert e Barros vai ser formulado. A crítica clara a essa generalização do fator família enquanto causa do fracasso é o principal foco do texto e isto se faz muito importante na medida em que busca romper com a visão padrão apresentando outras perspectivas de possíveis princípios que podem ser responsáveis pelo insucesso.
Tal concepção simplista é nos melhores dos casos apenas uma
ingenuidade de quem a reproduz através dos discursos. Nos piores, acredito que pode acabar sendo uma forma intencionada de perpetuar a dominação da hegemonia sobre certos segmentos sociais.
É sabida a construção de normativas e padrões que classificam
hierarquicamente características sociais com base em um referencial legitimado. O intento, daqueles que dominam, em manter tal relação de poder e dominação, portanto, culmina a função da (re)produção de verdades por meio dos discursos e neste, como em muitos casos, a verdade serve para justificar e sigilar uma opressão.
Toda a predicação que afirma com veemência a igualdade de
oportunidades para todos está pautada na dualidade de inocência e intenção. Se por um lado temos aqueles que reproduzem tal falatório por insuficiência de visão crítica, temos por outro aqueles que buscam mantê-lo para sua própria regalia. Afirmar a igualdade de oportunidades, justificando o fracasso condenando a estrutura familiar é ignorar toda a construção invisível e hierárquica que existe em desfavor de identidades minoritárias. Apontar sujeitos diferentes como iguais, é apagar todas as vivências, subjetividades e impasses econômicos, sociais e culturais que circundam a vida dos jovens.
Acredito que pensar as diferentes realidades possíveis pode ser o
inicio para um rearranjo da culpabilização da vítima, que é comumente apontada como o principio, meio e fim de sua própria desgraça. Entender a existência da diversidade e procurar encontrar padrões que incessantemente buscam negá-la é o ponto para, de fato, enxergar as cordas que controlam o fracasso escolar dos jovens.
REFERÊNCIA:
HECKERT, Ana Lucia Coelho e BARROS, Maria Elizabeth Barros
de. Fracasso escolar: do que se trata? Psicologia e educação, debates “possíveis”. Aletheia [online]. 2007, n.25, pp. 109-122. ISSN 1413-0394.