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2014
ISSN 2316-8102
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materiais em si. Tal ambiguidade se junta ao paradoxo livre do nosso prazer com
“tema tradicional” em que somos capazes de ver campos “abstratos” de
atividade de pintura antes de descobrirmos a imagem do rei Felipe IV montado
em seu cavalo (Velázquez), ou uma sequência de concavidades escuras de
arcada, por meio das quais descobrimos, com suas vestes esvoaçantes, que se
trata de um santo em ascensão (El Greco).
A vida fundamental de qualquer material que eu uso se concretiza no
gesto daquele material: gesticulação, gestação – fonte de compreensão (medida
de tensão e expansão), resistência – desenvolvendo força de ação visual.
Manifesto no espaço, qualquer gesto específico age sobre o olho como uma
unidade de tempo. Artistas performáticos ou vidro, tecido, madeira etc., todos
são tão potentes quanto unidades variáveis de gestos: cor, luz e som vão
contrastar ou reforçar a qualidade da área de ação de um gesto específico e sua
textura emocional.
Ambientes, acontecimentos – concretizações – são extensões das
minhas pinturas-construções que com frequência possuem seções móveis
(motorizadas). A diferença essencial entre concretizações e pinturas-
construções envolve os materiais usados e sua função como “escala”, tanto
física quanto psicológica. A força de uma performance é necessariamente mais
agressiva e imediata em seu efeito – ela é uma projeção. A exploração contínua
e a observação contínua que o olho é obrigado a fazer com as minhas pinturas-
construções se inverte na situação de performance em que o espectador é
acometido por reconhecimentos em mutação, carregado emocionalmente por
um fluxo de ações evocativas e levado ou preso pela sequência de tempo
especificada que marca a duração de uma performance.
Dessa maneira, o público fica, de fato, visualmente mais passivo do que
quando confronta uma obra que exige visão de projeção, quer dizer, a adaptação
internalizada a um processo de tempo variável por meio do qual uma obra
“estática” é percebida – a leitura da superfície para a profundidade, do formato
à forma, da ação estática à gestual e da unidade de gesto a estruturas
dominantes maiores de ritmos e massas. Com pinturas, construções e
esculturas, os espectadores são capazes de dar prosseguimento a exames
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