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O ambiente cultual
Esse movimento da Nova Era lato sensu pode ser definido como o
ambiente cultual que se tornara consciente de si mesmo, pelo fim da década de 1970,
constituindo um movimento mais ou menos unificado – embora não um Novo
Movimento Religioso no sentido normal da palavra (HANEGRAAFF, 1996/1998, p. 17).
Em outras palavras, pessoas que participavam de várias atividades “alternativas”
começaram a se considerar parte de uma comunidade internacional invisível de
indivíduos com pensamentos semelhantes, cujos esforços coletivos estavam
destinados a transformar o mundo em um lugar melhor e mais espiritual. A socióloga
estadunidense Marilyn Ferguson se referiu a esse fenômeno como a Conspiração
Aquariana: uma “rede sem líderes, porém poderosa”, trabalhando para provocar uma
mudança radical (FERGUSON, 1980, p. 23). O físico Fritjof Capra a viu como a “cultura
emergente” destinada a substituir a cultura declinante do Ocidente moderno (CAPRA,
1982, p. 419). Mas, com o tempo, o que eles estavam se referindo veio a ser conhecido
como o movimento da Nova Era: no final da década de 1970 e início dos anos 1980, o
termo Nova Era foi adotado a partir do movimento ocultista-milenar específico
conhecido sob esse nome e passou a ser aplicado como um termo genérico ao
ambiente de culto muito mais extenso e complexo da década de 1980 em diante. Foi
assim que o movimento da Nova Era stricto sensu foi absorvido em um movimento da
Nova Era lato sensu.
De fato, o movimento da Nova Era lato sensu fora dominado pelas ideias e
valores culturais e espirituais dos Estados Unidos, e os porta-vozes mais importantes
têm sido estadunidenses. Ainda que muitos nomes pudessem ser mencionados, dois
se destacam como símbolos das décadas de 1980 e 1990, respectivamente. Durante os
anos 1980, a representante mais visível das ideias da Nova Era pode ter sido a atriz de
cinema Shirley MacLaine. Suas autobiografias, publicadas entre 1983 e 1989, nas quais
ela descreve sua busca espiritual, e a minissérie de televisão Out on a Limb baseada no
primeiro desses livros, encapsulam a perspectiva essencial do movimento da Nova Era
da década de 1980. Nos anos 1990, o mesmo pode ser dito dos best-sellers de James
Redfield: The Celestine Prophecy, com seu acompanhante Celestine Workbook, e uma
sucessão de volumes subsequentes capitalizando o sucesso do primeiro. Enquanto as
biografias de MacLaine eram certamente fáceis de ler, os livros de Redfield levaram a
perspectiva da Nova Era a um novo nível de simplicidade, ampliando, assim, o mercado
potencial da Nova Era para além do público já atingido por autores anteriores.
Esoterismo secularizado
Há algum tempo já que tem sido afirmado por estudiosos e críticos que os
dias do movimento da Nova Era estão contados, que a Nova Era acabou, ou que o
movimento já se rendeu a um fenômeno conseguinte por vezes referido como a
Próxima Era. Se isso é verdade, depende muito da definição que se usa. Há, de fato,
sinais claros de que a religião da Nova Era está perdendo seu status como um
movimento contracultural e está cada vez mais assimilada agora pela principal
corrente da sociedade. Tal desenvolvimento não é surpreendente: ao contrário, pode
ser visto como um resultado previsível do sucesso comercial. Por um lado, o fato de
que a Nova Era está se desenvolvendo de uma contracultura distinta a apenas uma
dimensão da cultura dominante pode, de fato, ser interpretado como o fim do
movimento da Nova Era como o conhecemos; mas por outro, pode ser visto como um
reflexo do senso comum de que a Nova Era está se desenvolvendo e mudando, assim
como qualquer outro movimento religioso conhecido na história. A noção de um
declínio da Nova Era é amplamente o resultado de uma ilusão de ótica. Há algumas
indicações de que o fenômeno de livrarias especializadas em Nova Era estão
declinando, mas ao mesmo tempo se percebe um aumento de literatura espiritual nas
prateleiras das livrarias. Do mesmo modo, centros especializados em Nova Era para a
cura e o crescimento pessoal previsivelmente se tornam menos necessários à medida
que pelo menos uma parte de seus serviços terapêuticos estão se tornando mais
aceitáveis em contextos médicos e psicológicos convencionais. Pode-se interpretar
esse acontecimento como um reflexo não do declínio do movimento da Nova Era, mas
precisamente de seu desenvolvimento a partir de um movimento contracultural
separado do dominante a uma dimensão significativa da paisagem espiritual da
sociedade ocidental contemporânea em geral.
Quiçá o termo Nova Era sobreviva ou não com o passar do tempo, não há
evidência alguma de que as perspectivas espirituais, as crenças e as práticas básicas
características ao movimento nos anos 1980 e 1990 estejam perdendo credibilidade
popular. Pelo contrário: todas as evidências indicam que elas estão se tornando mais
aceitáveis por um número maior de pessoas nas sociedades ocidentais
contemporâneas, independentemente de elas se identificarem ou não como
“novaeristas”. Novamente, esse fenômeno não é surpreendente, visto que a
abordagem altamente individualizada da espiritualidade tradicionalmente chamada de
Nova Era simplesmente combina muito bem com as demandas da cultura de consumo
contemporânea em uma sociedade democrática onde os cidadãos insistem em sua
autonomia pessoal em matéria de religião.
Bibliografia