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HANEGRAAFF,

Wouter Jacobus. New Age Movement. In: JONES, Lindsay (Org.).


Encyclopedia Of Religion. 10 v. 2ª ed. Farmington Hills: Thomson Gale, 2005, p. 6495-
6500.

Tradução Fábio L. Stern e Carlos Q. Bein.

Movimento da Nova Era


Originalmente “Nova Era” foi um termo chavão que obteve grande


popularidade na Europa e nos Estados Unidos durante a década de 1980. Referia-se a
uma grande variedade de práticas espirituais e crenças percebidas como “alternativas”
do ponto de vista da sociedade ocidental dominante. Para muitos observadores, o
aumento da visibilidade na mídia e na cultura popular de “coisas da Nova Era”
transmitia a impressão de algo radicalmente novo: o nascimento de um movimento
popular de inovação social e espiritual, profetizando uma transformação profunda na
sociedade ocidental que alguns afirmaram que culminaria em uma cultura muito
superior – a “Era de Aquário”.

O fenômeno que veio a ser conhecido como o movimento da Nova Era


durante as duas últimas décadas do século XX na verdade teve suas raízes imediatas na
contracultura dos anos 1960 e alguns de seus predecessores imediatos, enquanto suas
ideias fundamentais tiveram origens muito mais antigas. A religião da Nova Era não é
algo completamente novo, nem apenas uma renovação – ou sobrevivência – de algo
antigo. Embora suas ideias fundamentais tenham origens que possam ser consideradas
bem antigas na história, essas noções são interpretadas e colocadas em uso de um
modo que faz da Nova Era uma manifestação da sociedade de consumo pós-moderna
por excelência. Para se conseguir um panorama balanceado do movimento da Nova
Era, precisa-se, portanto, considerar ambas as dimensões: tanto suas bases históricas
quanto sua modernidade específica.

O movimento da Nova Era stricto sensu (décadas de 1950 a 1970)


As raízes imediatas do movimento da Nova Era podem parecer


surpreendentes a princípio. Logo após a Segunda Guerra Mundial, a curiosidade
popular foi atraída por fenômenos inexplicáveis no céu, referidos como objetos
voadores não identificados (OVNIs). Em vários lugares da Europa Ocidental e dos
Estados Unidos, grupos de estudo foram formados por pessoas que queriam investigar
esses fenômenos, e rapidamente alguns desses grupos começaram a assumir
características de culto. Tipicamente, tais grupos acreditavam que os OVNIs eram, na
verdade, espaçonaves habitadas por seres inteligentes de outros planetas ou de outras
dimensões do espaço sideral. Representando um nível superior de evolução cultural,
tecnológica e espiritual, eles agora faziam sua aparição para anunciar o advento de
uma Nova Era. A Terra estaria entrando em um novo ciclo evolutivo que seria
acompanhado por um tipo novo e superior de consciência espiritual. Entretanto, visto
que as culturas atuais da humanidade foram completamente corrompidas pelo
materialismo, elas resistiriam a essa mudança. Como resultado, a transição para um
novo ciclo de evolução requereria a destruição da antiga civilização por causas
violentas – tais como terremotos, enchentes, doenças etc. –, resultando no colapso
global econômico, político e social. Os indivíduos cuja consciência já estivesse em
sintonia com as qualidades da nova cultura estariam protegidos de várias maneiras e
sobreviveriam ao período de cataclismos. No momento certo, tornar-se-iam a
vanguarda da Nova Era, da Era de Aquário: uma era de abundância, felicidade e
iluminação espiritual, quando a humanidade poderia mais uma vez viver de acordo
com as leis cósmicas universais.

Essas crenças foram inspiradas por ensinamentos ocultistas de várias


procedências, mas sobretudo pelos escritos da teósofa cristã Alice Bailey (1880-1949)
e, em alguns aspectos, pela metafísica antroposófica do visionário alemão Rudolf
Steiner (1861-1925). Em 1937, Alice Bailey “canalizou” uma oração espiritual
conhecida como “A Grande Invocação”, que é ainda usada por alguns adeptos da Nova
Era para invocar a Nova Era e que reflete os elementos cristãos acentuados que já
orientavam o milenarismo ocultista do movimento da Nova Era inicial. Esses
elementos permaneceriam proeminentes durante o segundo estágio, contracultural,
de seu desenvolvimento. Durante a década de 1960, o sistema básico de crenças e as
expectativas milenaristas dos grupos de OVNIs foram adotados por várias
comunidades alternativas, das quais a mais famosa é a comunidade de Findhorn, na
Escócia. Os membros dessas comunidades tentavam viver de um jeito novo, em
sintonia com as leis da natureza e do universo. Buscavam, no espírito da “Grande
Invocação”, ser “Centros de Luz”, ou pontos focais em uma rede da qual a iluminação
espiritual eventualmente se espalharia e abrangeria o globo.

Na atitude desses primeiros adeptos da Nova Era, representados por porta-


vozes populares como David Spangler (1945-) ou Geroge Trevelyan (1906-1996), pode-
se ver uma importante mudança em relação à perspectiva dos grupos de OVNIs da
década de 1950. Considerando que a “visão apocalíptica” acentuado desses implicava
numa atitude essencialmente passiva de “espera pelos grandes eventos” que
destruiriam a civilização antiga e inaugurariam uma Nova Era, as comunidades
alternativas da década de 1960, como Findhorn, enfatizaram cada vez mais a
importância de uma postura ativista, construtiva. Spangler (1984, pp. 34-35) cita em
The Rebirth of the Sacred: “ao invés de espalhar alertas sobre o apocalipse, deixe
Findhorn proclamar que a nova era já está aqui, em espírito se não em forma, e que
qualquer um pode agora cocriar com esse espírito para que a forma se manifeste”.
Essa se tornou a perspectiva típica do movimento da Nova Era nos anos 1960 e de seus
simpatizantes nas décadas seguintes.

O ambiente cultual

Esse movimento da Nova Era inicial, nascido no contexto dos cultos a


OVNIs pós-guerra e florescido na utopia espiritual das décadas de 1960 e 1970, foi
apenas uma manifestação da febre contracultural da época. De modo geral, essa febre
encontrou expressão em um “ambiente cultual” amplamente difundido (CAMPBELL,
1972) na sociedade ocidental: um fenômeno difuso consistindo de indivíduos que se
sentiam insatisfeitos com a cultura e a religião ocidentais dominantes e que estavam
buscando por alternativas. Esse ambiente de culto provou ser um terreno fértil a uma
pletora de novos movimentos religiosos de várias procedências. Alguns desses
movimentos tomaram a forma de entidades sociais relativamente estáveis, incluindo
uma hierarquia interna de poder e autoridade, doutrinas e regras de conduta
definidas, distinções nítidas entre membros e não-membros, reivindicações de
verdade exclusiva, e assim por diante. Outros movimentos foram mais efêmeros e
fluidos, com demandas relativamente pequenas sobre os membros e uma atitude
inclusiva e tolerante. Esse último tipo de grupos de culto pode surgir de forma rápida e
desaparecer mais rápido ainda, e sua adesão às vezes pode ser muito pequena. Os
membros podem participar de vários desses grupos ao mesmo tempo – exibindo uma
atividade conhecida como “shopping espiritual” – sem se sentirem comprometidos a
fazer uma escolha em favor a um e em detrimento a outro. Esse tipo de atividade
espiritual é mais característica do desenvolvimento do “ambiente de culto” que deu
origem e suporte ao movimento da Nova Era na década de 1980.

É adequado distinguir esse último grupo do movimento da Nova Era


original descrito anteriormente. As perspectivas espirituais associadas aos cultos a
OVNIs da década de 1950 e às comunidades utópicas dos anos 1960 e 1970 podem ser
referidas coletivamente como o movimento da Nova Era stricto sensu (HANEGRAAFF,
1996/1998, pp. 94-103). Esse movimento é caracterizado por uma metafísica
amplamente ocultista (com predominância especial das formas de Teosofia fundadas
por Alice Bailey e, em alguma extensão, Rudolf Steiner), uma ênfase relativamente
forte nos valores comunitários e em uma moralidade tradicional enfatizando o amor
altruísta e o serviço à humanidade, e uma ênfase milenarista muito forte focada na
expectativa pela Nova Era. Esse movimento da Nova Era “em sentido estrito” ainda
existe, mas sua adesão é fortemente dominada pela geração baby-boomer e tende a
ser percebida como algo ultrapassado pela nova geração de novaeristas. Pelo fim da
década de 1970, esse movimento da Nova Era stricto sensu passou a ser compreendido
como apenas um aspecto dentro do fenômeno muito mais complexo e abrangente que
pode ser referido, a título de comparação, como o movimento da Nova Era lato sensu.

O movimento da Nova Era lato sensu (1980-1990)


Esse movimento da Nova Era lato sensu pode ser definido como o
ambiente cultual que se tornara consciente de si mesmo, pelo fim da década de 1970,
constituindo um movimento mais ou menos unificado – embora não um Novo
Movimento Religioso no sentido normal da palavra (HANEGRAAFF, 1996/1998, p. 17).
Em outras palavras, pessoas que participavam de várias atividades “alternativas”
começaram a se considerar parte de uma comunidade internacional invisível de
indivíduos com pensamentos semelhantes, cujos esforços coletivos estavam
destinados a transformar o mundo em um lugar melhor e mais espiritual. A socióloga
estadunidense Marilyn Ferguson se referiu a esse fenômeno como a Conspiração
Aquariana: uma “rede sem líderes, porém poderosa”, trabalhando para provocar uma
mudança radical (FERGUSON, 1980, p. 23). O físico Fritjof Capra a viu como a “cultura
emergente” destinada a substituir a cultura declinante do Ocidente moderno (CAPRA,
1982, p. 419). Mas, com o tempo, o que eles estavam se referindo veio a ser conhecido
como o movimento da Nova Era: no final da década de 1970 e início dos anos 1980, o
termo Nova Era foi adotado a partir do movimento ocultista-milenar específico
conhecido sob esse nome e passou a ser aplicado como um termo genérico ao
ambiente de culto muito mais extenso e complexo da década de 1980 em diante. Foi
assim que o movimento da Nova Era stricto sensu foi absorvido em um movimento da
Nova Era lato sensu.

Esse desenvolvimento fora um motivo de preocupação para alguns


representantes do movimento original, que perceberam nele uma vulgarização da
ideia de uma Nova Era. Enquanto o movimento da Nova Era original fora levado por
um idealismo altivo e uma ética de serviço à humanidade, o movimento da década de
1980 se desenvolveu rapidamente em um “mercado espiritual” cada vez mais
comercial para saciar os gostos e caprichos de uma clientela individualista. Enquanto o
movimento original defendera uma metafísica teosófica razoavelmente coerente e
uma filosofia da história, o movimento dos anos 1980 pareceu apresentar uma
miscelânea de ideias e especulações sem um foco e direção claros. Ao passo que a
excitante expectativa por uma Nova Era radical dominou o movimento inicial, essa
expectativa deixou de ser central ao movimento da década de 1980, que, apesar de
seu nome, tende a se concentrar no desenvolvimento espiritual do indivíduo ao invés
de o da sociedade. Esse desenvolvimento pode ser também descrito em termos da
geografia cultural: enquanto o movimento original era baseado na Inglaterra e se
pautava em tradições ocultistas que lá foram influentes desde muito tempo, o novo
movimento era dominado pelas então chamadas metafísica e tradições do Novo
Pensamento, típico da cultura alternativa estadunidense. A mudança de valores
voltados para a comunidade em valores centrados no indivíduo é um reflexo desse
desenvolvimento.

De fato, o movimento da Nova Era lato sensu fora dominado pelas ideias e
valores culturais e espirituais dos Estados Unidos, e os porta-vozes mais importantes
têm sido estadunidenses. Ainda que muitos nomes pudessem ser mencionados, dois
se destacam como símbolos das décadas de 1980 e 1990, respectivamente. Durante os
anos 1980, a representante mais visível das ideias da Nova Era pode ter sido a atriz de
cinema Shirley MacLaine. Suas autobiografias, publicadas entre 1983 e 1989, nas quais
ela descreve sua busca espiritual, e a minissérie de televisão Out on a Limb baseada no
primeiro desses livros, encapsulam a perspectiva essencial do movimento da Nova Era
da década de 1980. Nos anos 1990, o mesmo pode ser dito dos best-sellers de James
Redfield: The Celestine Prophecy, com seu acompanhante Celestine Workbook, e uma
sucessão de volumes subsequentes capitalizando o sucesso do primeiro. Enquanto as
biografias de MacLaine eram certamente fáceis de ler, os livros de Redfield levaram a
perspectiva da Nova Era a um novo nível de simplicidade, ampliando, assim, o mercado
potencial da Nova Era para além do público já atingido por autores anteriores.

Esses desenvolvimentos contribuíram ao fato de que pelo início da década


de 1990 mais e mais pessoas atraídas pela espiritualidade alternativa começaram a se
distanciar do rótulo Nova Era, o qual percebiam como carregado com associações
indesejadas. Durante a década de 1980 ainda era possível investigar o movimento da
Nova Era (em sentido geral) simplesmente questionando as pessoas que identificavam
a si mesmas como envolvidas na Nova Era; durante a década de 1990, os participantes
se recusaram casa vez mais a se identificarem como tal, preferindo termos vagos e
evasivos como “espiritualidade”. É um erro concluir disso, tal qual foi feito algumas
vezes, que o movimento da Nova Era está declinando ou desaparecendo. Ao contrário,
o movimento se afastara de seu status tradicional como uma “contracultura” que
proclama a Nova Era em um gesto de rejeitar os valores de uma “cultura velha”.
Tentativas de se substituir o termo Nova Era por termos como espiritualidade se
encaixam dentro de uma nova estratégia de adaptação e assimilação em vez de
rejeição e confronto, como resultado de que o movimento da Nova Era está agora
garantindo seu lugar como uma vertente espiritual cada vez mais profissionalizada
dentro da cultura dominante.

Esoterismo secularizado

Da perspectiva da história intelectual, as ideias básicas da religião da Nova


Era têm suas origens nas tradições referidas como esoterismo ocidental moderno, que
tomou forma desde o início do Renascimento. As visões de mundo fundamentais da
religiosidade esotérica ocidental foram completamente transformadas, entretanto,
sob o impacto de vários processos de modernização desde o século XVIII, resultando
em um fenômeno novo que pode ser chamado de esoterismo secularizado e que
compreende “todas as tentativas dos esotéricos de entrar em acordo com um mundo
desencantado ou, alternativamente, com as pessoas em geral para dar sentido ao
esoterismo a partir da perspectiva de um mundo secular desencantado”
(HANEGRAAFF, 1996/1998, p. 422). Embora haja um risco de confusão terminológica, o
termo ocultismo será usado abaixo como um sinônimo para esoterismo secularizado.

Os primeiros sinais de uma secularização do esoterismo ocidental puderam


ser percebidos nas perspectivas do visionário sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772)
e do médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815), ambos quem exerceram uma
influência incalculável sobre a história do esoterismo durante os séculos XIX e XX.
Práticas teúrgicas, manifestações espirituais e fenômenos psíquicos, de um tipo já
presente tanto em algumas sociedades esotéricas do final do século XVIII quanto na
prática popular de cura magnética, atingiram popularidade de massa na segunda
metade do século XIX no movimento conhecido como Espiritualismo. O Espiritualismo
forneceu um contexto no qual uma pletora de movimentos ocultistas mais ou menos
sofisticados veio à existência. Dentre essas manifestações de religiosidade alternativa,
a Sociedade Teosófica fundada em 1875 por Helena P. Blavatsky (1832-1907) é
certamente a mais importante em termos de sua influência, e o sistema metafísico
básico da teosofia moderna pode ser considerado a manifestação arquetípica da
espiritualidade ocultista até a década de 1970 pelo menos. Além disso, práticas
populares de cura magnética, também chamadas de mesmerismo, alcançaram os
Estados Unidos já em 1836 e se espalharam amplamente nas décadas seguintes,
fornecendo eventualmente uma base popular para o surgimento do chamado
movimento do Novo Pensamento no final do século XIX. Cada uma dessas várias
correntes – Espiritualismo, teosofia moderna e o movimento estadunidense do Novo
Pensamento – assumiram uma multiplicidade de formas, e seus representantes se
associaram e trocaram ideias e práticas em várias formas. O resultado de toda essa
atividade religiosa alternativa foi a emergência, durante o século XIX, de um “ambiente
cultual” internacional com suas próprias conexões sociais e literatura; contando com
um quadro de ideias e crenças essencialmente do século XIX, esse ambiente de culto
continuou e ainda se desenvolveu durante o século XX para fornecer, eventualmente,
a base pós-Segunda Guerra Mundial ao surgimento do movimento da Nova Era.

O ambiente ocultista ou esotérico secularizado dos séculos XIX e XX difere


do esoterismo ocidental tradicional em pelo menos quatro aspectos, que são cruciais
ao entendimento da religião da Nova Era. Primeiramente, o esoterismo estava
originalmente pautado em uma visão de mundo na qual todas as partes do universo
estavam interligadas por uma rede invisível de correspondências não casuais e se
considerava que um poder vital divino permeava toda a natureza. Embora os
esotéricos continuem a defender tais visões holísticas de mundo como permeado por
forças invisíveis, suas declarações atuais demonstram que eles chegaram a concordar
de várias maneiras com os modelos mecânicos e modelos de mundo desencantado
que conquistou a dominância cultural sob o impacto do materialismo científico e do
positivismo do século XIX. Consequentemente, o esoterismo secularizado é
caracterizado por misturas híbridas das visões de mundo do esoterismo tradicional e
do cientificismo materialista moderno: enquanto a crença religiosa em um universo
gerado por um Deus pessoal era originalmente axiomática ao esoterismo,
eventualmente essa crença sucumbiu parcialmente ou completamente às visões
científicas populares de um universo respondente às leis impessoais da causalidade.
Ainda que as leis em questão possam ser referidas como espirituais, elas tendem, no
entanto, a ser descritas de acordo com modelos tirados da ciência ao invés da religião.

Em segundo lugar, as pressuposições cristãs tradicionais do esoterismo


ocidental moderno foram cada vez mais questionadas e relativizadas por causa de
novas traduções de textos religiosos asiáticos e da emergência de um “estudo
comparativo das religiões do mundo”. As religiões asiáticas começaram a desenvolver
atividades missionárias nos países ocidentais, e seus representantes geralmente
procuraram convencer seu público usando termos e conceitos ocidentais para
apresentar a espiritualidade de religiões como o Hinduísmo e o Budismo. Por outro
lado, visto que os esotéricos sempre acreditaram que as verdades essenciais da
espiritualidade esotérica eram, em natureza, universais e poderiam ser descobertas no
coração de todas as grandes tradições religiosas do Oriente e do Ocidente, foi-lhes
natural durante o século XIX incorporar conceitos e terminologias asiáticos ao quadro
esotérico ocidental já existente. Um exemplo excelente é o conceito de kárman que
Blavatsky adotou do Hinduísmo como uma alternativa bem-vinda aos conceitos
cristãos de divina providência, ainda que a compreensão essencial de Blavastky sobre
reencarnação dependeu de fontes ocidentais esotéricas ao invés de fontes asiáticas1.

Em terceiro, o debate bem conhecido entre o criacionismo cristão e as


novas teorias da evolução se tornaram também muito relevantes aos esotéricos, e
nessa batalha eles geralmente ficam do lado da ciência. Mas embora o evolucionismo
popular se tornou um aspecto crucial do esoterismo conforme se desenvolveu do
século XIX ao século XX, e ainda que esse evolucionismo geralmente fosse usado como
parte de uma estratégia para apresentar o ocultismo como cientificamente legítimo, os
tipos de evolucionismo encontrados hoje nesse contexto dependem menos da teoria
darwiniana do que dos modelos filosóficos originados no Idealismo Alemão e no

1
Veja a discussão em Hanegraaff, 1996/1998, pp. 479-482.
Romantismo. A ideia de um processo universal de evolução e progresso espiritual,
envolvendo tanto as almas humanas quanto o universo em sua totalidade, não é
encontrado no esoterismo ocidental tradicional, mas se tornou fundamental a quase
todas as formas de esoterismo dos séculos XIX e XX.

Finalmente, a emergência da psicologia moderna (ela própria dependente


parcialmente do mesmerismo e do fascínio romântico com o “lado noturno da
natureza”) tivera um impacto enorme no desenvolvimento do esoterismo a partir da
segunda metade do século XIX em diante. Enquanto a psicologia podia ser usada como
um argumento contra o Cristianismo e contra as religiões no geral por contestar que
Deus ou os deuses eram meras projeções da psique humana, ela também tornou
possível apresentar visões de mundo esotéricas ocidentais em termos de uma nova
terminologia psicológica. O mais influente nesse sentido foi o psiquiatra suíço Carl
Gustav Jung (1875-1961), cuja perspectiva espiritual esteve profundamente enraizada
nas correntes esotéricas e ocultistas da Naturphilosophie romântica alemã, mas cujas
teorias poderiam ser utilizadas para apresentar essa espiritualidade como uma
psicologia científica. Além de Jung, a psicologia popular do movimento estadunidense
do Pensamento Novo fora uma das maiores influentes nos mistos de ocultismo e
psicologia típicos da espiritualidade da Nova Era (HANEGRAAFF, 1996/1998, pp. 482-
513).

Espiritualidade pós-moderna: a religião do self.


Aos quatro principais aspectos da secularização do esoterismo ocidental,


talvez um quinto possa ser adicionado que se tornou dominante somente depois da
Segunda Guerra Mundial e é completamente característico do movimento da Nova Era
das décadas de 1980 e 1990: o impacto da economia de mercado capitalista sobre o
domínio da espiritualidade. Cada vez mais o movimento da Nova Era assumiu o
formato de um supermercado espiritual onde os consumidores religiosos escolhem as
mercadorias espirituais que lhes apetecem e as usam para criar suas próprias sínteses
espirituais, afinadas às suas necessidades estritamente pessoais. O fenômeno de um
supermercado espiritual não está limitado apenas ao movimento da Nova Era, mas é
uma característica principal da religião nas democracias do Ocidente (pós-)moderno.
Várias formas de espiritualidade de Nova Era estão competindo com formas mais
tradicionais de religião (incluindo as igrejas cristãs tanto quanto as grandes tradições
religiosas como o Islamismo ou o Budismo) e com um grande número dos então
chamados novos movimentos religiosos. Porém, nessa batalha universal pela atenção
do consumidor, o movimento da Nova Era goza de certa vantagem sobre a maioria de
seus competidores, o que parece torná-lo o representante por excelência da
espiritualidade contemporânea no mercado. Enquanto a maioria das outras correntes
espirituais que competem pela atenção do consumidor na sociedade moderna assume
a forma de organizações (pelo menos rudimentares), permitindo que seus membros se
vejam como parte de uma comunidade religiosa, a espiritualidade da Nova Era está
focada estritamente no indivíduo e no seu desenvolvimento pessoal. De fato, esse
individualismo funciona como um mecanismo de defesa embutido contra a
organização social e a institucionalização: mal qualquer grupo de pessoas envolvidas
com as ideias da Nova Era comece a assumir características “de culto”, esse fato por si
já o afasta do individualismo básico da espiritualidade da Nova Era. Quanto mais
fortemente ele comece a funcionar como um culto, ou até mesmo como uma seita,
mais outros adeptos da Nova Era suspeitarão que ele esteja se tornando uma igreja
(ou seja, que está recaindo sobre o que são considerados padrões ultrapassados de
dogmatismo, intolerância e exclusivismo), e menos ele será aceito no ambiente de
culto geral da espiritualidade da Nova Era. Dentro do contexto social de um mercado
democrático livre de ideias e práticas, a ênfase rigorosa da Nova Era no self e na
experiência individual como as únicas fontes confiáveis da verdade espiritual, a
autoridade que nunca pode ser anulada por qualquer dogma religioso ou consideração
de solidariedade pelos valores comunais, funciona como um mecanismo eficaz contra
a institucionalização da religião da Nova Era em uma religião. Esse individualismo
essencial faz do adepto da Nova Era o consumidor espiritual ideal. Exceto por seu foco
específico no self e em sua evolução espiritual, não há restrições a priori sobre os
interesses espirituais potenciais do adepto da Nova Era; o fato de cada adepto da Nova
Era criar e recriar continuamente seu sistema particular de significados simbólicos e
valores significa que os fornecedores espirituais no mercado da Nova Era desfrutam de
oportunidades máximas a lhe apresentar cada vez mais produtos novos.

Conforme indicado anteriormente, que a Nova Era como um mercado


espiritual atenda a uma clientela individualista interessada principalmente no
crescimento e desenvolvimento pessoal não é apenas um fato de observação social,
mas também reflete as crenças que são básicas ao movimento. No centro simbólico
das visões de mundo da Nova Era geralmente não se encontra um conceito de Deus,
mas sim o conceito de self (superior), pelo qual a espiritualidade da Nova Era, de fato,
foi apelidada às vezes de Religião do Self (HEELAS, 1996). O simbolismo do self está
ligado a uma mitologia básica que narra o crescimento e desenvolvimento da alma
individual por várias encarnações e existências em direção ao conhecimento cada vez
maior e ao insight espiritual. O foco estrito no desenvolvimento espiritual pessoal ao
invés de nos valores comunitários não é, portanto, considerado um reflexo egoísta,
mas sim uma prática espiritual legítima baseada em ouvir seu próprio guia interior:
somente ao seguir a voz interior se pode encontrar o caminho através do caos de
vozes que clamam por atenção no mercado espiritual, e encontrar o próprio caminho
para a iluminação.

Uma observação final é a respeito da questão da globalização da religião da


Nova Era para além dos limites das democracias ocidentais. Pelo que fora dito, fica
claro que a religião da Nova Era é um produto de desenvolvimentos históricos
específicos na cultura ocidental e que suas manifestações atuais são impossíveis de
serem separadas da dinâmica interna das sociedades de consumo (pós-)modernas.
Além disso, como um movimento que deve sua identidade a um padrão consistente de
críticas direcionadas a certos aspectos da cultura ocidental dominante, fica difícil até
imaginar a religião da Nova Era existindo em sociedades não-ocidentais.
Frequentemente fora afirmado que a Nova Era está se espalhando para outros
continentes além da América do Norte e da Europa (como a África, a América do Sul ou
a Ásia); mas um exame mais minucioso revela que os estudiosos que descrevem esses
processos de alegada aculturação tendem a usar o termo Nova Era em um sentido
muito vago e intuitivo, e que estão geralmente falando da propagação não da religião
da Nova Era, mas de vários novos movimentos religiosos ocidentais às sociedades não
ocidentais (HANEGRAAFF, 2001). Na medida em que as culturas e sociedades não-
ocidentais resistem às pressões socioeconômicas que tendem em direção a uma
americanização global, não há nenhuma razão especial para se referir às novas formas
de sincretismos espirituais que possam surgir em seu solo como religião da Nova Era.
Isso é verdadeiro independentemente desses sincretismos deverem ou não algo à
influência de ideias da Nova Era ocidental. Em vez disso, essas novas espiritualidades
locais devem ser consideradas como produtos da cultura e sociedade específica em
questão, e não se deve pré-julgar a questão de se – e caso seja, em que media – elas
podem ser comparadas ao fenômeno ocidental da religião da Nova Era.

Aonde vai a Nova Era?


Há algum tempo já que tem sido afirmado por estudiosos e críticos que os
dias do movimento da Nova Era estão contados, que a Nova Era acabou, ou que o
movimento já se rendeu a um fenômeno conseguinte por vezes referido como a
Próxima Era. Se isso é verdade, depende muito da definição que se usa. Há, de fato,
sinais claros de que a religião da Nova Era está perdendo seu status como um
movimento contracultural e está cada vez mais assimilada agora pela principal
corrente da sociedade. Tal desenvolvimento não é surpreendente: ao contrário, pode
ser visto como um resultado previsível do sucesso comercial. Por um lado, o fato de
que a Nova Era está se desenvolvendo de uma contracultura distinta a apenas uma
dimensão da cultura dominante pode, de fato, ser interpretado como o fim do
movimento da Nova Era como o conhecemos; mas por outro, pode ser visto como um
reflexo do senso comum de que a Nova Era está se desenvolvendo e mudando, assim
como qualquer outro movimento religioso conhecido na história. A noção de um
declínio da Nova Era é amplamente o resultado de uma ilusão de ótica. Há algumas
indicações de que o fenômeno de livrarias especializadas em Nova Era estão
declinando, mas ao mesmo tempo se percebe um aumento de literatura espiritual nas
prateleiras das livrarias. Do mesmo modo, centros especializados em Nova Era para a
cura e o crescimento pessoal previsivelmente se tornam menos necessários à medida
que pelo menos uma parte de seus serviços terapêuticos estão se tornando mais
aceitáveis em contextos médicos e psicológicos convencionais. Pode-se interpretar
esse acontecimento como um reflexo não do declínio do movimento da Nova Era, mas
precisamente de seu desenvolvimento a partir de um movimento contracultural
separado do dominante a uma dimensão significativa da paisagem espiritual da
sociedade ocidental contemporânea em geral.

Quiçá o termo Nova Era sobreviva ou não com o passar do tempo, não há
evidência alguma de que as perspectivas espirituais, as crenças e as práticas básicas
características ao movimento nos anos 1980 e 1990 estejam perdendo credibilidade
popular. Pelo contrário: todas as evidências indicam que elas estão se tornando mais
aceitáveis por um número maior de pessoas nas sociedades ocidentais
contemporâneas, independentemente de elas se identificarem ou não como
“novaeristas”. Novamente, esse fenômeno não é surpreendente, visto que a
abordagem altamente individualizada da espiritualidade tradicionalmente chamada de
Nova Era simplesmente combina muito bem com as demandas da cultura de consumo
contemporânea em uma sociedade democrática onde os cidadãos insistem em sua
autonomia pessoal em matéria de religião.

Que a dinâmica social da sociedade de consumo pós-moderna favorece um


determinado tipo de religião (referido anteriormente como esoterismo secularizado) é
um fato da história recente, mas, mais uma vez, não é algo surpreendente. Que formas
tradicionais de religião – as igrejas cristãs e suas teologias – estão em declínio pelo
menos no contexto da Europa Ocidental contemporânea é um fato geralmente
conhecido. A voga do relativismo pós-moderno indica que as grandes narrativas do
progresso pela ciência e pela racionalidade estão também abaladas. Se mais e mais
pessoas sentem que o Cristianismo tradicional, a racionalidade e a ciência não
conseguem mais dar sentido e significado à existência humana, é de se esperar que a
perspectiva espiritual baseada em revelações pessoais, no sentido de gnose ou em
experiências religiosas pessoais, vão lucrar das circunstâncias (VAN DEN BROEK;
HANEGRAAF, 1996/1998, pp. vii-x). Enquanto as grandes narrativas do passado não
conseguirem recuperar seu poder sobre a população e nenhuma nova esteja surgindo,
e enquanto as sociedades democráticas ocidentais continuem a enfatizar a virtude
suprema da liberdade individual, a “religião do self” tradicionalmente conhecida como
Nova Era permanecerá uma força a ser reconhecida.

Bibliografia

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