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0 COMPORTAMENTO CRIMINOSO: ASPECTOS

JURÍDICOS, SOCIAIS E PSICOLÓGICOS


DO CRIME DE HOMICÍDIO’
Tânia Batista Rosa1
, Aforra Cristina Neiva de Carvalho3
Sumário: 1. Aspectos juridcos e sociais da criminalidade. 1A causalidade do compor¬
tamento criminoso. 1A psicologia no contexto criminal. 4. Objetivo. $. Meto¬
dologia. 6. Resultados e discussão. 7. Conclusões. B. Referências.

A criminalidade tem se tomado, ao longo dos anos uma preocu¬


pação para a sociedade, e principalmente para os estudiosos da sociolo¬
gia, antropologia, psiquiatria, direito e psicologia, que se vêem motivados
a novas reflexões sobre o ato criminoso. O comportamento criminoso se
apresenta quando bá uma violação da ética, da lei, da moral e dos bons
costumes de determinada sociedade.
Sábe-se qúè a população carcerária cresce de maneira bastante sig¬
nificativa no Brasil c descobrir os fatores que tanto influenciam na prática
de crimes e, conseqQentemente, na superlotação das penitenciárias e ca¬
deias públicas, é um questionamento que a sociedade de modo geral, assim •
como os especialistas que estudam o comportamento criminoso fazem.
Atualmente as pessoas que cumprem pena são chamadas de re- •
educandos pelos operadores do direito, e não raais, de presos, internos,
• apenados, encarcerados ou.presidiários, já que o processo de ressocializa-
ção é o mais aceitò no contexto jurídico, pois o objetivo é realmente “ree-
ducá-los” para o retomo à sociedade.
»
Questiona-se muito o comportamento desviante dos reeducan-
dos, principalmente quando se trata de homicidas, por se tratar de um
crime que choca.e que não passa, despercebido. A sociedade- traz questio-

i
Síntese da rronognfia apresentada no Curso de Especialização em Psicologia Jurídica
- PUCPR.
2
-
PsfcóJoga, Especialista cm Psicologia Jurídica PUCPR,
3
-
Psicóíoga, Mestra fcm Psicologia da Infância e Adolescência UFPR; Professora do
-
curro de Psicologia PUCPR; Coordenadora, Professora e Orientadora de monogra¬
fias do curso de Especialização em Psicologia Jurídica - PUCPR.
namentos sobre a saúde mental de tais sujeitos, inquietando assim os pro¬
fissionais dessa área.
O comportamento dos reeducandos é resultante de experiências
vividas, antes do crime praticado, e dos efeitos do aprisionamento, que
também podem influenciar as condutas do indivíduo. Muitas são as teorias
que tentam explicar esses fatores determinantes para o crime. Há o modelo.
behaviorbía, que sugere que o comportamento criminoso é determinado
pela situação, resultante das experiências anteriores e também de outras
semelhantes. Sob esse prisma considera-se apenas os aspectos ambientais e
subestima-se as influências biológicas, ou seja, os fatores hereditários. Já
na concepção de Lombroso, o criminoso é considerado nato, onde a influ¬
ência do físico atua no psiquismo, ou seja, o indivíduo canega consigo um
património genético denominador da criminalidade, apresentando assim os
estigmas biológicos. Porém, é importante enfatizar que tanto os determi¬
nantes biológicos quanto os ambientais conjugam-se para produzir as dife¬
renças individuais.no comportamento criminoso (FELDMAN, 1977, p.
296). A psicologia acrescenta, sob o enfoque da psicanálise, discussão so¬
bre o comportamento criminoso, demonstrando através de sua teoria a es¬
trutura e formação da personalidade do indivíduo delituoso.
Nada é descartável quando se fala das inúmeras possibilidades
de um comportamento delituoso. Várias são as causas discutidas como
fator desencadeante, e é nesse contexto que se pretende abordar este tão
complexo assunto.
Normalmentc se observa, que o número de homicídios de uma
região está infimamente ligado ao nível de violência existente nesta co¬
munidade e com os problemas sociais da população. Também a forma
como essa sociedade lida com esses problemas, com os fatores relaciona¬
dos ao desemprego, a desorganização social e a desestrutura familiar,
entre tantos, toma-se importante na compreensão dos homicídios.' Verifi-
ca-se que o crime não está restrito a determinada sociedade, mas sim, a
uma questão universal, que atinge a humanidade de maneira indistinta, e
que precisa ser discutida e avaliada.
Essa relação entre a causalidade do ato criminoso e o indivíduo
criminoso, ou seja, como e o que leva alguém a cometer um ato tão atroz e
tão reprovável social, moral e religiosamente, que muda sua vida de maneira
trágica, e que o resultado do ato praticado acaba sendo de carater iireversí*
vefe irremediável, são questionamemos que inquietam e geram discussões.
Também são apresentadas neste trabalho as questões jundicas
que envolvem o processo-crime, sendo as mesmas conceituadas e discuti¬
das no que se refere aos crimes hediondos, mais especiflcamente o homi-
•m
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 161

cídio. A aplicabilidade da pena recebida é descrita como forma de frear a


criminalidade, sendo mostradas, inclusive, as variáveis da pena, desde os
primórdios da era jurídica, com o sentido de punição, na tentativa de dis¬
suadir a prática do crime. Finalmente são relatados os resultados da pes¬
quisa de campo sobre as concepções dos reeducandos a respeito dos esta¬
belecimentos penais e os efeitos do aprisionamento, assim como as suas
expectarivas sobre a saída da prisão ao se depararem com uma sociedade
que nem sempre os acolherá, já que po<iem ficar estigmatizados e rotula¬
dos como uex-presidiários". Com a finalidade de colher relatos pessoais
dos indivíáios que cometeram homicídio, foi realizada uma pesquisa conr -
reeducandcs da Cadeia Pública da Comarca de Ivinhema, Estado do Mato
Grosso dó Sul. A população alvo foram homicidas já julgados e condena¬
dos, perfazendo um total de cinco pesquisados.

1 ASPECTOS JURÍDICOS E SOCIAIS DA CRIMINALIDADE


1.1 Homicídio nd contexto jurídico
O homicídio é um cos crimes mais antigos dã humanidade. Está
incurso no artigo 121 da Parte Especial do Código Penal Brasileiro que é:
“Matar alguém”. A Lei 8.072 de 25.07.1990,- què dispõe sobre os crimes
hediondos, após a nova redação introduzida pela Lei 8.930/94, incluiu o
homicídio como crime hediondo. O cumprimento da pena, para os crimes
considerados hediondos, deve ser feito cm regime integralmente fechado,
impedindo assim a progressão para fases mais leves de execução (regime
semi-abexto e aberto). A pena para o homicídio simples pode ser de 06 a 20
anos de reclusão; já para o homicídio qualificado a pena pode variar entre
12 a 3G anos, instituída pelu Código Penal Brasileiro.
Os noticiários mostram a todo instante o quanto a violência tem
aumentado nos últimos tempos, e isso inclui os homicídios que são noti¬
ciados, mesmo porque há muitos que não aparecem nas telas das tvs e
nem nas páginas dos jornais, A população que sofre com esse avanço da
criminalidade pede atitudes mais enérgicas aos legisladores. Em 1994, o
crime de homicídio foi incluso no rol dos crimes hediondos, na tentativa
de conter a criminalidade, impondo uma resposta punitiva mais severa
para os homicidas, o que nem de longe tem diminuído o índice de crimes
em nosso país. A propósito, L,eal (1996, p. 50) apresenta um discurso que
representa essa idéia: ’
enjim. com o homifldto agora rotulado de hediondo, o quadro do
DireUo Penal da intolerância e da severidade está pronto para exer-

V
162 Tânia Batista Rosa e Maria Cristina Netva de uarvaino

cer sua sinistrafunção de aplicar mals t maiores doses de castigo pri¬


sional, na vã t equivocada crença de reduzir os alarmantes indices da
criminalidade violenta e de gerar maior segurança social

Não há como analisar o crime e a pena se não levarmos em con¬


sideração o criminoso, em seu aspecto sociopsicológico. O crime- sofreu
ao longo dos séculos modificações temporais e sociais, assim como o
homem, que está em constante transformação, cabendo então uma análise
eclética desse contexto crime-criminoso. A propósito, ensinam D’Angelo
e D’Angelo (2005, p. 199):

Acreditamos que nâo se pode analisar o crime contra a vida sob o


enfoque exclusivamente tècnico-juridico. sob pena de transformarmos
as ciências humanas, na qual se insert a ciência jurídica, em ciências
exatas, vale dizer, devemos estudar os causas primeiras, sem as quais
nâo poderemos chegar à cor.chisâo sobre as consequências últimas.
Entendemos que os crimes contra a vida exigem um estudo não só Ju¬
rídico, mes também sociológico, flosòfco e antropológico.

Há quem diga que o crime é inerente à sociedade é conseqOcn-


temente ao ser humano, desde a antiguidade. Mas também deve-se consi¬
derar as constantes influências sofridas pelo homem criminoso e seu am¬
biente, sendo reciprocas essas influências. O delito é resultado de uma
complexa fenomenologia, que está associada ao comportamento humano
e às causas externas que atuam sobre ele.

1.2 A aplicabilidade das penas


•Vi
O Direito é uma ciência que tem várias ramificações, entre elas
o Direito Penal (HUNGRIA, 1958, p. 58, v. V), que visa disciplinar o
comportamento .do homem, proibindo certas ações ética e moralmente
reprováveis, e, era caso de descumprimento, cabe a sanção ao criminoso,
que é a pena. Atualmente, tal sanção possui uma finalidade mista, a
11

pena, por sua natureza, è retribuitiva, tem seu aspecto moral, mas sua
finalidade não é simplesmente prevenção, mas um misto de educação e
correção” (GONZAGA, SANTOS e BACARIN, 2CÒ2, p. 62).
A pena vem com a finalidade dc inibir a prática delituosa, não
devendo a idéia de punição estar totalmente descartada, mesmo porque,
esta deve ser suficiente para impedir a transgressão. Ainda hoje, a pena é
Ksiaaogia Jurídica: Temas de Aplicação
163

sinónimo de castigo. Mas com a evolução do Direito Penal, várias teorias


2 **maÿdadc da
GomÿlÇÇr? Pena» como bem expõem Molina e

1 - Teorias absolutistas: buscam exclusivamente o castigo do


criminoso, através da aplicação da pena.
-
2 Teorias relativas: buscam a ressocialização do criminoso,
enquanto que o seu encarceramento visa somente proteger a
sociedade.
-
3 Teorias mistas: buscam a prevenção, a educação e a corre¬
ção do criminoso.
Toda ação que não representa danos e destruição à sociedade e
às pessoas que fazem parte desta, ou ainda, atos contrários aos que a lei
prevê como proibição, não podem ser considerados crimes, portanto, não
são passíveis de punições. A prevenção ainda é a melhor saida para o
crime, do' que a punição, pois não se pune um criminoso para apagar a
falha cometida, mas para transformar esse sujeito com a ressocialização,
devendo a execução da pena corresponder à idéia de humanização. Ade¬
mais, acredita-se que o trabalho é um fator fundamental na.recuperação
do reeducando. Hodiemamente, a idéia de integração social do condenado
c a mais aceitável dentro do contexto jurídico, até mesmo para se evitar a
reincidência nos crimes.

1.3 A ressocialização do reeducando e suas expectativas ao retomar


à sociedade

A intenção de devolver os “reeducandos reeducados” ao conví¬


vio social é um dos objetivos dos estabelecimentos prisionais. O interno
recebe o nome de reeducando, pois a principio c essa a intenção, “reedu¬
cá-lo”, .para que volte ao convívio da sociedade, melhor do que entrou,
mas nem sempre é isso que acontece, pois a reincidência ainda é bastante
alta, o que pode ser comprovado pela superlotação dos presídios brasilei-
ros. Muito se tem discutido a respeito disso, porém pouco se avançou. A
ociosidade dentro do presídio pode ser apontada como uma dessas causas;
outra, é o preconceito no momento da saída, principalmente relacionado
a
questões laborativas. Como bem cita Guimarães (2002, p. 296):

. ,ôl nos grandes presidios,


O quest ium tempo multo longo de
observa,
I ociosidade (...) o que se percebeique existe nrnto p
relação ao ex e este, não tendo oportunidades para mu-
dar, continua a ser segregado pela sociedade que
não lhe dá oportu-
nidade de emprego, voltando àvlda de delitos.

Também, não menos importante, é a participação da família du¬


rante o processo de encarceramento, dando-lhes apoio, fazendo visitação
e dando-lhes respaldo para uma saída menos traumática
possível. A famí¬
lia, que é o alicerce de todo indivíduo, ali, dentro do presídio, representa
mais que isso, representa uma ligação com o inundo externo, um vínculo
que tem que ser preservado, pois, geralmente, os reeducandos se encon-
tram em momentos de fragilidade emocional. A visitaçao representa a
permanência desse vínculo familiar e lhes proporciona a expcctativa de
que alguém os espera na saída, atenuando os efeitos do aprisionamento,
pois os Mpresos que não têm apoio de familiares possuem mais dificulda¬
des na sua reinserção” (GUIMARÃES, 2002, p. 297).
Atualmente, as penas privativas de liberdade têm a finalidade de
rcssocializar o indivíduo devolvendo-o à sociedade de forma que este possa
contribuir de maneira produtiva através do trabalho. Isto vem sendo bastante
criticado, pois as penas de prisão não vêm aplacar os anseios da sociedade
que espera que esse sujeito que foi segregado retome melhor do que entrou.
para que só então possa novamêjÿ.reinleÿaÿló-àMca sOClai'O' trabalha que
profissionais da psicologia podem fazer c buscar ações que fortaleçam os
reeducandos para que retomem ao convívio social de forma mais saudáveL
A Lei de Execução Penal, em seu art. 126, prevê como estímulo
para o trabalho do reeducando, a remição, que consiste no direito de o.
condenado reduzir parte de sua pena, pelo trabalho realizado, ou seja, a
remição de um dia a cada três dias trabalhados. Essa medida serve de
estímulo para que o condenado possa abreviar sua pena antecipando as¬
sim a progressão de regime. A idéia do trabalho como forma de recupera-
ç30 e rcssocialização do reeducando tem conquistado simpatizantes
em
considera¬
todas as categorias profissionais ligadas a essa área. Tem sido condenado
do
da como uma alternativa efetiva e viável para a remserçâo
à sociedade, assim como uma etapa no processo
de ressocialização do
reeducando, além da sua importância vital.

A CAUSALIDADE DO COMPORTAMENTO
CRIMINOSO
2

I3<
. junuiui. i etnas ae Aplicação 165

na, penal humanista, antropológica, entre outras) faz referência a este fato
(VIEIRA, 1997, p. 21-33), demonstrando que os motivos são endógenos e
exógenos, e que constituem um complexo de sentimentos e sensações de
um indivíduo, que se manifesta em toda a sua personalidade. Portanto,
cada indivíduo age de acordo com seu próprio modo de ser, sob a influ¬
ência do ambiente físico e social.
Vergara (1980, p. 62), cm sua obra: Dos Motivos Determinan¬
tes no Direito Penal, assegura que a grande maioria dos criminalistas
mantém a mesma opinião, que, para uma avaliação dos determinantes do
crime é necessária a apreciação do delito a posteriori, ou seja, só resulta
demonstrado após a ação. Como já dito, a produção de um ato criminoso se
dá mediante forças e estímulos resultantes de meie interno ou do ambiente
externo, portanto o agente criminoso responde a estas solicitações inter¬
nas ou externas, que por sua vez vão tentar vencer as forças resistentes,
levando o sujeito ao ato delituoso.
Divçrsas teorias sociológicas, psicológicas e biológicas se unem
'
na tentativa de explicar os “crimes de sangue”, pois sozinhas se viram
impossibilitadas de acharem o causador da criminalidade, assim se inte¬
gram em uma visão holistica do sujeito homicida (SICA, 2003, p. 25).
Surgiram aj as &reJ(asjCrirninológicas como- modelos-teóricos explicati¬
vos do comportamento criminoso.
Há os que defendem os aspectos biológicos como causais do
comportamento criminoso, o que incute a idéia de que os criminosos já
nascem assim, “prontos para o crime”, dotados de caraçterísticas físicas
que os diferenciam das pessoas comuns. Estas correntes tentam explicar o
comportamento criminoso através de patologias, disfunções cerebrais ou
algum transtorno orgânico, dando ênfase a todos os fatores biológicos.
Lombroso foi um dos precursores dessa linha de pensamento, quando
criou a Antropologia Criminal, e até os dias atuais há os què defendem
essa idéia, de que os indivíduos herdam uma predisposição para o crime,
revelada pela sua fisionomia, ou seja: através destas caractèrfsfícas físicas
seria possível reconhecer o indivíduo capaz de delinqíiir. São sujeitos que
apresentam defeitos na formação moral, sendo considerados criminosos
natos (VIEIRA, 1997, p. 24).
As idéias que enfocam o aspecto psicológico como determi¬
nante para a ação criminosa, englobam fatores como os aspectos cogniti--
vos,- afetivos, traços de caráter, temperamento e controle dos impulsos.
Buscam com isso entender o comportamento criminoso, através dos pro¬
cessos psíquicos anormais, e também na estrutura do inconsciente. A
166 Tânia Batista Rosa a Maria Cristina Neivá de Carvalho

personalidade é entendida como global, ou seja, uma série de fatores que


influenciam diretamente o comportamento do sujeito que comete um
crime.
As orientações sociológicas englobam todos os; fenômenos so¬
ciais como fatores fundamentais para um comportamento criminoso. No
que se refere aos fatores sociais como causadores do crime, estão as con¬
dições precárias em que muitas famílias vivem, o desemprego e o subem¬
prego, o crescimento demográfico descontrolado, e conseqOentemente o
número cada vez maior de favelas, na qual imperam condições miserá¬
veis. Percebe-se que muitas famílias encontram-se desestruturadas, tem
sérios problemas de relacionamento, incluindo o alto índice de alcoolis¬
mo. A família representa o alicerce na formação do sujeito, e se mostran¬
do fragilizada diante das condições sociais apresentadas, fica impossibi¬
litada de oferecer a esse sujeito, melhores referências, e acaba por de¬
monstrar afetos embotados, violência, abuso e privações, que são sentidas
ao longo da convivência entre sujeito/família (SERAFIM, 2003, p. 56).
Fatores estes vão repercutir nas reiações sociais e na estruturação famili¬
ar, provocando assim inadequação nas relações saudáveis e na formação
moral, ética e na personalidade desse sujeito, que mantém um comporta¬
mento social desviante.
Importante salientar que o indivíduo é um ser biopsicossocial, e
assim tem de ser considerado, para que se possa fazer essa junção com o
objetivo de entender a complexidade do comportamento criminoso.

3 A PSICOLOGIA NO CONTEXTO CRIMINAL


Muitos são os fatores que influenciam um comportamento cri¬
minoso. A impulsividade tem um alto índice de influência, no sentido de
levar alguém a cometer um ato criminoso, como' é o caso do homicídio.
Sendo assim, o comportamento impulsivo e o crime estão diretamente
ligados. Em alguns indivíduos, o alto índice de violência diante de uma
habitual e sem importância provocação, produz comportamentos agressi-
vos c hostis contra outrem. Molina e Gomes (1997, p. 212) estudaram
esse tipo de resposta violenta e afinnam:

Há dois tipos amplos dapessoas fisicamente agressivas. Oprimeiro, o


estereótipo comum, sofre cronicamente de escasso autocontrole. O
segundo, grupo bem menos óbvio, é cronicamente controlado em ex-
cesso, com rigidas inibições relativas ao comportamento agressivo
--— Psfcotogia Jurídica: Temas de
Aplicado 167

zí2xPÿr,rndo ° nM deir° dapmad° é

-. As cmoçõcS humanas aparecem nos mais variados graus, desde


umíTsimpIes excitação até um comportamento violento, e dentro da cri¬
minologia mu:to se discute sobre os crimes cometidos sob a influência da
violenta emoção, que, do ponto de vista jurídico, é uma situação atenu¬
ante de alguns dehtos e caracterizada por um estado emocional, de
ânimo
e do sentimento muito excitado, sendo algo mais do que um simples esta¬
do de nervosismo. Para a psicologia, a violenta emoção surge quando se
atinge um limiar de tolerância à ofensa, a partir do qual a pessoa não mais
seria capaz de controlar suas atitudes, partindo para uma agressão.
A personalidade tem grande influência na formação da Apologia
do sujeito criminoso e do crime cometido. As pessoas, com toda sua sin¬
gularidade, podem até parecer iguais diante de uma mesma situação, mas
ainda assim, podèrn reagir de maneira completamente diferente, isso por¬
que possuem experiências diferenciadas, sejam elas atuais ou antigas, e
que ao longo do período de formação da estrutura da personalidade vão se
unindo, juntamente com os estímulos externos, que também vão se im¬
pregnando a essa estrutura. Neste sentido, “é inegável a afirmativa de qué
existe uma permanente interação entre os fatores biológicos e os ambi-
entaisn (ZIMERMAN e COLTRO, 2002, p. 90). Deve-se também levar
cm consideração as reações que esse sujeito apresenta quando lida com
cada uma das situações oferecidas ao longo.de sua vida, ou seja, com as •
necessidades, as frustrações e os ideais, para somente depois expressar
respostas diversificadas, resultando em um comportamento distinto.
Vale lembrar que a estruturação do caráter do indivíduo é inclu¬
sive composta pelas introjeções de valores, através do superego, em que
essa formação de críticas pode ser capaz de conter os impulsos ou as res¬
postas socialmente reprováveis diante das -solicitações variadas advindas
do meio. Então, até podemos afirmar que temos duas forças contrárias •
agindo ao mesmo tempo; uma, decorrente das condições solicitadoras,
desencadeantesj e a outra, da própria personalidade do sujeito, seja resis¬
tindo, seja predispondo à situação. Com um superego frágil, esses sujeitos
fogem, dos padrões estabelecidos pela sociedade quando cometem crimes,
sendo essa estrutura superegóica que detém o censor moral, introjetada
na
infância pelos pais, ou pelos seus substitutos.
SJo incontáveis os fatores que influenciam no processo
evoluti¬
até os momentos
vo da esirutura da personalidade, desde o nascimento
\
I

158 Tânia Batista Rosa e Maria Cristina Neiva de Carvalho

atuais. As influências são mútuas, seja dos fatores biológicos, psicológi¬


cos, ou sociais, sendo uma soma de solicitações e
contenções, como bem
cita Maranhão (2003, p. 30): “(•••) os
fatores individuais e sociais associ¬
am-se para passar por uma integração psíquica, que levará ou não à
prática do ato; a personalidade global num dado momento será levada- a
executar certa ação, oufreará os impulsos".
A prisão violenta o estado emocional do sujeito que se vê con¬
finado com diversas pessoas que apresentam diferenças psicológicas
consideráveis, cabendo a cada um se adaptar ao regime imposto, pois
“pode-se afirmar que todos os que entram na prisão - em maior ou me¬
nor grau - encontram-se propensos a algum tipo de reação carcerária”
(BITENCOURT, 2004, p. 199).
A Psicologia tem um papel importante no trato dos reeducan-
dos, pois procura, com sua intervenção, sensibilizar esse indivíduo sobre
seu contexto social, familiar, cultural e psicológico, na busca de fortale¬
cimento e melhoria dessas relações. Pois, através deste processo o sujeito
poderá embasar seus projetos de vida e realizar suas escolhas, conside¬
rando a situação em que se encontra e o que encontrará fora da institui¬
ção.

4 OBJETIVO .

O estudo teve como objetivo investigar que aspectos- psicológi¬


cos, sociais e jurídicos que indivíduos homicidas correlacionam ao seu
comportamento criminoso, assim como sua percepção quanto à aplicabi¬
lidade da pena e sobre o fator de ressocializaçãol

5 METODOLOGIA

1. Clientela: A pesquisa foi realizada com cinco indivíduos do


sexo masculino que cumprem pena por homicídio c se encontram presos
na Cadeia Pública de Ivinhcma, Estado de Mato Grosso do Sul
2. Procedimentos: Após consentimento formal do Diretor da
Cadeia Pública, o Delegado de Polícia Titular, da Comarca de Ivinhema,
Estado de Mato Grosso do Sul, foi solicitado a agentes da polícia civil

que apresentassem o mapa carcerário, ou seja, toda a relação dos reedu¬
cando? daquele estabelecimento prisional, para assim selecionar haviam,
os que •.
foram incursos no art. 121 do Código Penal Brasileiro, e que já
__ Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação _ 169

sido julgados c condenados. Sendo assim, foram selecionados, para a


pesquisa, somente os criminosos homicidas, julgados e condenados, da¬
quele estabelecimento penal, ou seja, cinco reeducandos. .*
Na seqíiência, após a seleção dos reeducandos, as entrevistas e a
aplicação dos questionários foram feitas somente pela' pesquisadora, que
se dingiu até a cadeia local para a coleta dos dados. Durante as entrevis¬
tas, realizadas na área administrativa da Cadeia Pública, havia, do lado de
fora da sala, um agente da polícia civil que se encarregava da segurança
da pesquisadora. Foi apresentado, de maneira individual, aos participan¬
tes, o “Termo dc Consentimento Livre e Esclarecido”, termo este que
continha todo o procedimento da pesquisa, bem como, sua finalidade.
Além do mais, foram esclarecidos a origem e o sigilo da pesquisa, assim
como, a não-vinculação desta com o processo penal pelós quais haviam
sido condenados. Após lido, o ‘Termo de Consentimento Livre e Esclare¬
cido” foi devidamente assinado pelos participantes que concordaram com
todos os itens do referido documento.
#
Apesar de a pesquisadora fazer parte do Quadro dos Serviços
Auxiliares do Ministério Público dc Estado de Mato Grpsso do- Sul, na
• função de psicóloga, essa condição foi rçpasseda.aos.participantes-, escla-
'
recendo, màís umia vez, que a pesquisa que estava sendo feita, não tinha
vínculo com o trabalho prestado pela pesquisadora à Instituição supraci¬
tada.
As perguntas relacionadas ao questionário foram feitas de ma¬
neira direta; já as questões da entrevista semidirigida, eram repassadas de
forma aberta, para que pudessem ser respondidas de maneira abrangente.
O registro das respostas era anotado no momento da entrevista, e na pre¬
sença dos participantes.
Os encontros foram realizados no período de dois dias, perfa¬
zendo, cQm cada participante, um total de aproximadamente três horas de
entrevista e aplicação de questionário.

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de resultados e sua respectiva discussão dividem-se
cm três partes, sendo que a primeira, se refere à caracterização da po¬
pulação pesquisada, a segunda, à atribuição de causalidade para o com-
portamento criminoso, e a terceira, aos aspectos relacionados ao ato
criminoso.
170 Tânia Batista Rosa e Maria
Cristina Neiva de Carvalho
6.1 Caracterização da população pesquisada
A média de idade dos reeducandos
a escolaridade se apresentou como Ensino era de 42.5 anos de idade, e
reeducandos em sua maioria estão com suasFundamental
famílias
incompleto; os
de casamento civil ou união constituídas através
estável; nesta amostra quatro dos participan¬
tes foram condenados por
homicídio qualificado
cídio simples; a pena imposta nos pesquisandos e apenas um, por homi¬
anos de reclusão; quanto á reincidência, ficou ficou na média dos 11
haviam sido processados por outros crimes. constatado que três deles já

6.2 Causalidade para o comportamento criminoso


As respostas dadas pelos participantes foram distribuídas em
quatro categorias: 1. impulsividade; 2. legítima defesa; 3. fatalidade; 4.
negação. Os discursos dos pesquisados foram transcritos literalmente,
segundo a percepção dos mesmos, sobre a causalidade de seu comporta¬
mento criminoso.
-Na primeira categoria:- '-‘impulsividade” incluem-se-aqueles que-
atribuem a provocação da vítima como fator desencadeante da raiva, da
ira, do ódic, sentimentos estes que o levaram a cometer o homicídio. Dois
dos participantes atribuíram a causalidade do comportamento criminoso a
essa categoria, o que pode ser observado no discurso-síntese:

“Qualquer um faria o que eu fiz. Ela me desafiou. Fiqueifora do


sério". (Indivíduo 1). UA pessoa humilhou muito a gente. A culpa
vive de humilhação, se ela não ti¬
foi mais dela. porque ninguém tinha
vesse humilhado tanto, isso não acontecido”. (Indivíduo 2).

Discurso-síntese: Impulsividade
Os discursos, nesse contexto, mostraram, segundo os relatos dos
a provocação
próprios participantes, que só praticaram o crime mediante
internos, agiram de
exagerada, da vítima, e, não contendo seus impulsos
relação doentia e
maneira agressiva e definitiva, vindo a pôr fim em uma realizada, os crimi¬
já desgastada. Foi verificado que durante a entrevista retraído, denotando
nosos dessa categoria mantinham um comportamento palavras. Molina
dificuldades em expressar seus sentimentos através das
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 171

e Gomes (1997, p. 216) argumentam que criminosos que mantêm um


comportamento violento, não sabendo lidar com seus impulsos, apresen¬
tam dificuldades na comunicação verbal, descarregando seus impulsos
agressivos na ação.
Em um contexto criminoso, .situações extremas de excitação 'psí¬
quica podem produzir atitudes impulsivas que são descarregadas na ação
criminosa. O psiquiatra forense Guido Palomba (2003, p. 188) refere-se a
esse ato Como um curto-circuito, uma reação primitiva, um ato que iprati¬
cado sem pensar, quase sempre com ferocidade, que lembra uma explosão.
A segunda categoria refere-se à “legitima defesa”. Aqui a cau¬
salidade é atribuída à ira, à raiva, mas não do homicida e sim, da vitima,
que age com ameaças, e o outro reage, segundo informações do partici¬
pante, somente para se defender das agressões. Issp pode ser observado
na resposta dada pelo particinante:

—.
“Desespero de ver a vida na ponta de uma 'peixeira Se existir
legitima defesa, foi o que acontSceu”. (Indivíduo 3)- ••
:.. .
Discurso-síntese: Legítima Defesa
Essa necessidade imperiosa e instintiva de conservaçãoMa vida,
pode ser melhor explicada com a definição.que Teixeira (1996, p. 59) dá
à legítima defesa: “A legítima defesa é a viva manifestação do instinto de
conservação, é um ato reflexo, instintivo, um fato puramente biológico,
transformado em fenômeno sociológico. Manifestação impulsiva do ins¬
tinto que se demonstra, aliás, na natureza, no reino animal (...)"
A legítima defesa não cabe quando não mais persiste o perigo
ou quando o temor de perigo não corresponde com a realidade (HUN¬
GRIA, 1958, v. I, p. 292). O homem em sua reação defensiva, parte para
um ato agressivo na tentativa de repelir uma reação que originou essa
ação agressiva.
A terceira categoria se. refere à atribuição do crime à fatalidade
sendo que um dos pesquisados atribuiu ao destino o homicídio cometido.
Isso pode ser ilustrado no discurso-síntese desta categoria: •
l

“Foi umafatalidade, foi o destino. Não. tinha a intenção de matar".


(Indivíduo 4)
172 Tânia Batista Rosa e Maria Cristina Neiva ria raruaihn

Discurso-síntese: Fatalidade
Por znais que haja fatores externos ligados a circunstâncias que
levam à fatalidade da ocorrência de. um hnmiríHiVÿ razoável a in¬
fluência de fatores internos e inconscientes, que podem estar direcamente
vinculados aos mecanismos de defesa do ego, ainda na tentativa de racio¬
nalizar ou negar o fato ocorrido, como foima de justificar, cora uma ex¬
plicação aceitável pela consciência.
Na doutrina do direito, diz-se culpa consciente, quando o agente
prevê o evento como possível, mas não procura evitá-lo, esperando, sincera,
mas levianamente, que este não ocorresse (HUNGRIA, 1958, v. V, p. 47).
Na quarta, e última, categoria, ficou disposto àquele que negou
qualquer participação no crime pelo qual foi acusado e condenada Segue
o discurso literal:

“Não fui eu. Eu morava no Paraná quando aconteceu esse crime?', j


(Indivíduo 5)

Discurso-sintese: Negação
. Situações dolorosas ou traumáticas podem ser rejeitadas pelo
consciente e transferidas para o inconsciente. O aparelho psíquico, agindo
como aparelho defensivo, se utiliza dos mecanismos de defesa do ego para
retomar ao estágio de homeostase anterior, diante de uma situação que possa
resultar um perigo ameaçador ao equilíbrio do aparelho psíquica A opera¬
ção defensiva é automática e inconsciente (KUSNETZOFF, 1982, p. 187).
A negação constitui um mecanismo de defesa de que o indivíduo faz uso
“na tentativa de não aceitar na realidade ura fato que perturba o ego” (FA-
DIMAN e FRAGER, 1979, p. 20). Segundo Fenichel (2000, p. 134), lia
tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio senti¬
mento de doP\

6.3 Aspectos relacionados ao ato criminoso

A partir da análise das respostas obtidas com a entrevista semidi-


rioida, foi possível classificar alguns aspectos que estão dirctamente relacio¬
e discuti¬
nados ao ato criminoso e suas conseqOências. Foram identificadas
das seis categorias, tais como: emoção, álcool, arrependimento,
-onvivencia
Psicolbgia Jurídica: Temas de Aplicação 173

com a vitima, efeitos do aprisionamento e a rcssocialização, e as expectati-


vas de futuro.

a) Emoção
Foi observado o predomínio da emoção em - três dos entrevista¬
dos, quando descreveram respostas ligadas a forte emoção, antes e du¬
rante o ato criminoso, mostrando nervosismo, agitação e sentimentos de
ódio e ira em relação à vítima.
As emoções são acompanhadas de várias reações, que podem ser
somáticas ou psíquicas,'podendo causar perturbação e confusão no indiví¬
duo que comete um delito, pois nè a errtòção-choqúe, que origina o chama¬
do crime de ímpeto** (GÒMES, 1993, p. 92). Não há atos que sejam exe¬
cutados sem nenhuma carga afetiva; o que pode variar é a intensidade da
emotividade do sujeito, pois as emoções podem ir de uma leve excitação

. ..
psíquica até uma violenta emoção. Segundo Hungria (1958, v. V, p. 145)
• . . •

V"
/.
*

u
;
V.. :•
Existe no fenômeno da emoção um estado subjetivo especial que, se
no auge da impulsividade quase automática, permite, entretanto-, na
sua fásè incoativo, a interferência dos motivos da consciência ou dos
freios inibitórios, 0 exercício dopoder lógico no sentido de resistência
à emàtbfidqde,- o predomínio da inteligência. experiente, a ' atuação
normalizadora dafaculdade de critica e seleção dos motivos.

•m
Para a justiça interessa saber se aemoção seria um fato capaz dè
determinar que o agente não fosse mais o condutor e controlador de seu
comportamento deixando-se levar pela emotividade que o domina, alte¬
rando assim sua capacidade de decisão e vontade, levando-o ao crime.

b) Álcool
*
Entre ós entrevistados, apenas um deles havia ingerido bebida
.
alcoólica, ainda que ém pequenas doses, antes do crime, no auge da dis¬
cussão. Diante das circunstâncias apresentadas não se pode considerar o
álcool, nesse caso, como fator determinante para o crime, mas; como um
aspecto relacionado ao ato criminoso. *’
O crime cometido sob forte efeito de álcool, ainda gera bas¬
tante polêmica, pois “aceita-se, em geral, que o mau uso do álcool etili-.
u .«.ana oiouiia itpvd ue uaiVdlUU __
CO está relacionado ao crime". (BALTIERI e FREITAS. 2003. p. 158).
Sabe-se que o abuso de álcool náo exime o criminoso de sua responsa-
bilidade diante da justiça. Mas também há que se considerar que sub¬
stâncias etílicas podem exagerar o comportamento agressivo
(FELDMAN, 1977, p. 141), podendo desencadear reações que levam a
um comportamento criminoso.

c) Arrependimento
Três dos entrevistados se mostraram arrependidos pelo crime
cometido. Se pudessem voltar no tempo, resolveriam a situação de outra
maneira, que nâo, tirando a vida da vítima. Esse sentimento de arrepen¬
dimento vem logo em seguida ao crime, quando não é mais possível re¬
verter a situação, que, no caso do homicídio, nâo tem volta, pois a vida
não é mais devolvida.
O sentimento de arrependimento não retira a responsabilidade
penal, pois, mesmo "se o agente não conseguir impedir o resultado, por
mais que se tenha arrependido, responderá pelo crime consumado” (BI-
TENCOURT,- 1997, p. 245). Apesar disso, autores dos crimes podem
apresentar o discurso de arrependimento como uma tentativa de demons¬
trar a reparação de seu ato.
O sentimento de arrependimento pode estar ligado ao senti¬
mento de culpa que a psicanálise vem explicar como um conflito total¬
mente inconsciente, que tem a participação 'do superego na sua formação
(KUSNETZOFF, 1982, p. 185).

d) Convivência com a vítima


Dentre os entrevistados, quatro mantinham alguma relação com
a vítima, dois tinham uma relação conjugai, e um deles o relacionamento
era de genro e sogro. A relação vítima/vitimário se dá em um contexto
bastante complexo, apesar de, muitas vezes, se apresentar diante de situa¬
ções aparentemente.isoladas. Nos discursos apresentados por aqueles que
,
assassinaram suas companheiras, estes relataram que com a relação con¬
jugal já deteriorada, surgiram mágoas, palavras e até atitudes agressivas-'
no auge das discussões, onde os insultos e as provocações foram considc- ;

rados como o “estopim” de uma situação conflituosa, além de manifesta-
ções em que envolviam a questão da honra maculada por essas mulheres';
em relação ao companheiro. Para Vieira (1997, p. 133),
S
4
í
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 175

(...) a sexjõincia de hostilidades, de provocações e desafios, nesta hi¬


pótese diretos, abertos e ostensivos, igualmente delineia os condicio¬
namentos da açõo do sujeito, repercutindo em suas predisposições, de
maneira mais ou menos profunda, talvez maisprofunda quanto mais
repetidos e diretos tenham sido aqueles. (...) E muito comum desem¬
penhar a vitima, nos homicídios, um papel importante, de transcen¬
dência maior ou menor, e muitas.vezes de natureza decisiva.

e) Efeitos do aprisionamento
%

Os participantes da amostra afirmam que a prisão é algo ruim, que


eles têm que ser flexíveis e ter paciência para poderem enfrentar as adversi-
. dades que são impostas na prisão, além de acreditarem que o envolvimento
com outros presos considerados perigosos influencia de maneira significati¬
va e negativa aqueles que manifestam desejo de voltar à vida criminal. Daí a
importância da individualização da pena, onde há a separação de indivíduos
consideradosperigosos e perversos daqueles criminosos ocasionais.
No sistema prisional os indivíduos são submetidos a regras in¬
ternas, evidentemente diferentes das regras externas, cuja aceitação faci¬
lita a adaptação à vida institucionalizada. Além disso, a falta de privaci¬
dade também é um aspecto que repercute dé maneira negativa no proces-
sode aprisionamento, como bem cita Thompson (1991, apud GUIMA¬
RÃES, 2002, p. 290): “O aspecto privacidade é da maior importância
para o ser humano. O sofrimento resultante da falta de privacidade traz
um desgaste emocional muito grande, apresentando um quadro de inten¬
sa angústia e depressãaT.
, O sentimento cauSâdopela falta de privacidade, segundo os entre¬
vistados, origina um desgaste emocional muito intenso, revelando sensações
dc angústia, depressão entre outros sinais psíquicos. A família pode redíuzir
n ansiedade e p. tristeza, que, segundo ôs participantes, são peculiares ao
;»dcntrar; a prisão. As ligações familiares também podem reduzir os efeitos
do aprisionamento, através da manutenção desses vínculos afetivos.

f) A ressocialízação e as expectativas de futuro


Três dos entrevistados acreditam que a cadeia não recupera o
criminoso, muito pelo contrário, apenas serve para marginalizá-io ainda
mais diante da sociedade que os espera. Mas apesar dessa resposta, todos
t responderam que, ao saírem da prisão, pretendem voltar a trabalhar, con¬
tinuar suas yidas de maneira diferente. Os participantes acreditam que é
com o trabalho que irão encontrar o caminho para a volta cm sociedade.
J76 Tânia Batista Rosa e Maria Cristina Meiva de Carvalho .___
Quanto à ressocializaçao dos reeducandos, presente em uma
gama variada de discursos, inclusive o jurídico, ser meta e principal obje¬
tivo de toda a prisão, os dados empíricos relevantes levara a crer que esta
premissa, quase que utópica da capacidade das prisões em ressocializar,
não seja possível, mesmo porque se veem diante de uma realidade difícil
e conflituosa, onde muitas são as variáveis que influenciam todo esse
contexto. Quando se fala de reintegração à sociedade, não se pode deixar
de considerar todas as condições que envolvem o sujeito, ou seja, os as¬
pectos sociais, laborativos e afetivos.
A lei de Execução Penal (LEP) traz em suas premissas, que os
presídios deveriam reproduzir uma sociedade intramuros, solidária, justa
e assistida, ou seja, um modelo para futura reinserção do reeducando à
vida social, mas o que se vê não é isso. Ainda há muita dificuldade de
reintegração, talvez devido a preconceitos da própria sociedade, talvez
devido às dificuldades múltiplas encontradas no próprio sujeito, dificul¬
dades estas psicológicas, sociais, familiares.
A.sociedade deveria ser capaz de propiciar condições para que o
reeducando retomasse ao convívio social eoi condições de se manter com
seu próprio trabalho e com isso conseguisse viver dignamente; aí, a psi¬
cologia pode ajudar, no sentido, de oferecer alternativas de uma vida mais
saudável, oportunizando mudanças comportamcntais.

7 CONCLUSÕES
O comportamento criminoso tem sido, àò longo dos tempos, tema
de diversas pesquisas nas mais variadas áreas de estudo e atuação, seja da
Psicologia, seja do Direito, da Sociologia ou da Antropologia, em que se
buscam respostas a essas inquietações da alma humana. Todos esses campos
da ciência, muito embora, pareçam que não se relacionam, se mostram mais
unidos do que nunca, quando se fala da psique humana e do comportamento
desviante, pois só com a junção de cada uma das ciências e da forma como
cada uma Uda com o delito e o infrator, é que poderemos nos aproximar de
uma conclusão sobre o comportamento criminoso. Dentre as inúmeras cor¬
rentes de pensamento sobre o assunto, há um consenso de que o criminoso
apresenta em seu comportamento influências de fatores endógenos e exóge¬
nos, ou seja, fatores intrínsecos e extrínsecos à sua personalidade. .
O ato criminoso e suas implicações subseqiientes levam a sen¬
timentos de culpa e arrependimento, não. somente pelo fato de ter tirado a
vida de alguém, mas também pelas consequências dessa atitude que re-
Psaottfria. Jurídica: Temas de Aplicação 177

suliaram no aprisionamento. A idéia da prisão, como instituição ressocia-


lizadora, é vista de maneira negativa pelos participantes deste estudo, e os
efeitos que essa provoca, são tidos como prejudiciais à saúde mentaL
O trabalho desenvolvido pelos reeducandos na sociedade como
forma de remir a pena é considerado como fundamental para sua reinte¬
gração, pois é sabido que a ociosidade faz multiplicar os vícios, princi¬
palmente dessa população que é privada de liberdade, e que, nos casos
dos crimes hediondos, como é o homicídio qualificado, a possibilidade de
cumprir a pena em um regime mais brando, se dá após o cumprimento de_
2/3 em regime fechado, ou seja, a maior parte da pena é cumprida em
regime rigoroso. O trabalho é essencial na vida humana, e é ele que pos¬
sibilita a reinserção do reeducando na sociedade. Revela-se então, como
indicativo importante, inclusive para a saúde mental do indivíduo que se
vê marginalizado pela sociedade.

. •• A intenção de reduzir os índices de criminalidade, através das
medidas paramente repressivas e severas da aplicabilidade da pena para
os crimes hediondos, não surtiu o efeito desejado, já que a violência tem
aumentado de maneira significativa, resultando assim em presídios su¬
perlotados e um alto indicador de reincidência (LEAL, 1996, p. 52).
Homicidas, principalmente aqueles mais violentos, merecem
uma atenção especial por parte da psicologia, tendo em vista as impdoa¬
ções do poeto de vista criminológico, sociológico, médico e penal. A
Psicologia poderá atuar neste contexto criminal entendendo o sujeito cri¬
minoso em seu aspecto biopsicossocial, e a partir desse conhecimento
oferecer possibilidades mnltifatoriais de transformações.
Vale ressaltar, quanto à pesquisa apresentada, a possível interfe¬
rência na Gdedignidade das respostas dos reeducandos devido ao fato de a
pesquisadora fazer parte do Quadro dos Serviços Auxiliares do Ministério
Público do Estado de Mato Grosso do Sul, na função da PsicólogãrPois
sabe-se que há uma evidente ligação desta com os operadores do Direito,
c sendo assim, presume-se que os pesquisados possam ter emitido infor¬
mações, que, segundo eles, poderiam prejudicá-los diante da justiça,
mesmo tende sido esclarecido, anteriormente, o objetivo real da pesquisa.
Este estudq não teve a pretensão de apresentar respostas defini¬
tivas quanto ao comportamento criminoso, mas, motivar uma reflexão
sobre os vários aspectos relacionados ao tema, deixando assim como
ponto de partida a possibilidade de novos estudos e novas descobertas
acerca dos honucidas.

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