outubro-dezembro 2017 // 3€ A REVISTA DO IEFP Dirigir & Formar N.

º 17

A PAIXÃO PELA PROFISSÃO

SEPARATA
Inovação de Práticas na Formação
ISSN2182-7532
 EDITORIAL
D&F
C
om a presente edição da revista Dirigir&Formar pro-
curámos promover o debate em torno de dois aspetos
que consideramos fundamentais e que mantêm toda
a atualidade ao nível da formação profissional: por um lado,
a inovação nas práticas pedagógicas em contextos de for-
mação e como estas influenciam todo o processo formativo
e os seus principais atores, formandos e formadores, e, por
outro lado, mostrar que a formação profissional pode ser
uma primeira opção e não uma solução de recurso a consi-
derar no prosseguimento de estudos.
O pretexto para esta reflexão foi dado pela realização da 44.ª
edição do WorldSkills que decorreu recentemente em Abu
Dhabi, de 15 a 18 de outubro, que juntou cerca de 1300 jo-
vens, de 59 países e regiões membros da WorldSkills, e que
durante cerca de uma semana demonstraram as suas com-
petências em 51 profissões a concurso.
Com efeito, os Campeonatos das Profissões, além de cons-
tituírem uma ferramenta muito eficaz para a promoção da
educação e da formação profissional, são também um forte
dinamizador de intercâmbio cientifico, tecnológico, social e
cultural entre os formandos, operadores de formação, em-
presas e demais entidades envolvidas aos diferentes níveis
na organização e realização dos campeonatos.
Como refere David Hoey, CEO da WorldSkills Internacional,
«... a visão dos jovens que competem no WorldSkills e se
destacam nas profissões que escolheram é um catalisador
para que outros apostem também nas suas carreiras».
Por outro lado, conforme sublinha Paulo Feliciano, vice-pre-
sidente do Conselho Diretivo do IEFP e delegado oficial do
WorldSkills Portugal, «... os campeonatos têm vindo a afirmar-
-se como um espaço de referência e de medida da qualidade
do impacto do Sistema de Formação Profissional e essa é
uma dinâmica que importa reforçar».
Na verdade, estas competições desempenham um papel im-
portante na mudança da perceção que pais e educadores,
mas também os governos, têm das vias profissionalizantes.
Aliás, a Declaração da Juventude, discutida e aprovada por
300 jovens oriundos de diferentes países e regiões do Mun-
do, numa iniciativa organizada paralelemente à competição
WorldSkills 2017 em Abu Dhabi, demonstra bem a perceção
dos jovens sobre o ensino e a formação profissional e a sua
visão do futuro em torno de seis áreas de reflexão: Inovação,
Felicidade e Tolerância, Economia Verde, Cidadania Global, In-
dústria 4.0 e Empreendedorismo.
Na Separata o leitor poderá ainda ficar a conhecer uma nova
abordagem baseada em resultados de aprendizagem. São
disso exemplo os projetos LEARN-IT e MAKE IT, desenvol-
vidos pelo CENFIM e pelo CFP Médio Tejo do IEFP, I.P., que
têm como pano de fundo a inovação pedagógica e didática
através da utilização de ferramentas e espaços de aprendi-
zagens inovadores, adequados aos ritmos individuais e às
competências a desenvolver.
Esperamos que este número da revista Dirigir&Formar pos-
sa ser mais um contributo para a valorização do ensino pro-
fissional e para o reconhecimento da importância da apren-
dizagem ao longo da vida!
António Valadas da Silva
Presidente do Conselho Diretivo do IEFP, I.P.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 1
 ÍNDICE
1 TEMA DE CAPA 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS
04 A iniciativa da OIT para o futuro do trabalho TEMAS DE FORMAÇÃO
| Heinz Koller 54 A aprendizagem é algo que tem de estar sempre
08 O futuro das profissões | David Hoey a acontecer | Rita Vieira
11 WorldSkills, uma montra do sistema de formação 58 Jovens NEET. Uma prioridade | Vitor Moura Pinheiro
profissional | Rita Vieira 62 Ferramentas on-line para jovens | Fernando Ferreira
16 O caminho certo para a vitória | António Caldeira
21 Campeonatos das profissões. Um modelo
de referência | Dário Pinto
29 A joia dourada | João Godinho Soares

2 DOSSIER 4 EUROPA EM NOTÍCIAS

O FUTURO DAS PROFISSÕES
31 Referenciais de competências digitais: uma análise
| António Dias de Figueiredo
34 A pedagogização de novas «profissões de sonho»
nos horizontes juvenis | Vitor Sérgio Ferreira
65 Estratégia da UE para a juventude – próximos
passos! | Ana Maria Nogueira
68 Euroflash | Nuno Gama Oliveira Pinto

SKILLS
37 SkillsPortugal – campeonato das profissões
| Carlos Fonseca
46 WorldSkills – ciclos que se cruzam com jovens
de excelência | Sandra Sousa Bernardo

04 A INICIATIVA DA OIT PARA

O TRABALHO DO FUTURO

WorldSkills, uma montra do sistema 11

de formação profissional

A pedagogização de novas 34
«profissões de sonho» nos
horizontes juvenis

A aprendizagem é algo que tem 54

de estar sempre a acontecer

2 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 FICHA
TÉCNICA
N.°17

5
PROPRIETÁRIO/EDITOR
DIVULGAÇÃO IEFP - Instituto do Emprego
e Formação Profissional, I.P.
Rua de Xabregas, 52 - 1949-003 Lisboa
BREVES
70 Tome nota | Nuno Gama Oliveira Pinto DIRETOR Paulo Feliciano
72 Sabia que | Nuno Gama Oliveira Pinto RESPONSÁVEL EDITORIAL
Maria Fernanda Gonçalves
COORDENADORA Lídia Spencer Branco
CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA
Adélia Costa, Ana Cláudia Valente, António
José de Almeida, Conceição Matos, Fernando
Moreira da Silva, João Palmeiro, Luís
Alcoforado, Nuno Gama de Oliveira Pinto,
Paulo Feliciano, Pedro Guilherme
REVISÃO Laurinda Brandão
REDAÇÃO Gabinete de Comunicação
e Relações Externas
A REVISTA DO IEFP Dirigir & Formar N.º 17
Revista DIRIGIR&FORMAR
outubro-dezembro 2017 // 3€

Tel.: 215 803 000 / Ext.: 90011 e 90014

CONDIÇÕES DE ASSINATURA
Enviar carta com nome completo, data de
nascimento, morada, profissão e/ou cargo,
empresa onde trabalha e respetiva área de
atividade para: Rua de Xabregas, 52 -
1949-003 Lisboa, ou e-mail com os mesmos
dados para: dirigir&formar@iefp.pt.
ESTATUTO EDITORIAL https://www.iefp.pt/
documents/10181/696230/Estatuto_
SEPARATA Editorial_DirigirFormar.pdf
INOVAÇÃO DE PRÁTICAS NA FORMAÇÃO NOTADA NO ICS
DATA DE PUBLICAÇÃO dezembro 2017
PERIODICIDADE 4 números/ano
DESIGN E PRODUÇÃO Opticreative®
Tel.: 218 289 662 / geral@opticreative.pt
FOTO DE CAPA Opticreative®
FOTOGRAFIA IEFP, I.P.; istockphoto; freepik;
shutterstock; DR
IMPRESSÃO LIDERGRAF Sustainable Printing
Rua do Galhano, EN 13
ISSN2182-7532

4480-089 Vila do Conde

TIRAGEM 20 000 exemplares
REGISTO Anotada na Entidade Reguladora
INOVAÇÃO DE PRÁTICAS para a Comunicação Social
DEPÓSITO LEGAL 348445/12
NA FORMAÇÃO ISSN 2182-7532

SEPARATA OUTUBRO-DEZEMBRO 2017 Todos os artigos assinados são de exclusiva responsabili-

dade dos autores, não coincidindo necessariamente com
as opiniões do Conselho Diretivo do IEFP. É permitida a re-
Nesta Separata abordam-se práticas inovadoras de formação produção dos artigos publicados, para fins não comerciais,
desde que indicada a fonte e informada a Revista.
baseadas em resultados de aprendizagem (RA). São apresentados
dois projetos inovadores, o LEARN-IT e o MAKE IT, exemplos da
operacionalização de programas formativos em RA, tendo como
pano de fundo a inovação pedagógica e didática, através do
desenvolvimento de ferramentas e espaços de aprendizagens
inovadores, adequados aos ritmos e estilos individuais e às
competências a desenvolver.

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 3
 1 TEMA DE CAPA
A INICIATIVA
DA OIT PARA
O FUTURO DO
TRABALHO
HEINZ KOLLER, DIRETOR REGIONAL DA OIT
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO)
PARA A EUROPA E ÁSIA CENTRAL
OPTICREATIVE
E
xiste em todo o mundo um elevado grau de conscien-
cialização das pessoas em relação às grandes mu-
danças que afetam a sua vida profissional diária. Hoje
em dia prevalece um sentimento geral de que os modelos
anteriores deixaram de funcionar e precisam de ser atuali-
zados ou adaptados. Isto ocorre num momento de cresci-
mento económico ainda lento e desigual em muitos países,
tensões persistentes a nível global e regional e mudanças
rápidas no mundo.
Provavelmente essas mudanças irão manter-se e poten-
cialmente intensificar-se. Todos questionam a eficácia
do direito do trabalho e das instituições do mercado de
trabalho, bem como o real alcance da proteção social e
do funcionamento dos sistemas de relações industriais.
Impulsionado por mudanças tecnológicas e demográficas
maciças e contínuas, o mundo do trabalho encontra-se
numa encruzilhada. A globalização nem sempre beneficiou
todos de modo semelhante e as desigualdades ainda são
muito significativas em todo o mundo. Uma parte consi-
4 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
derável da população continua a trabalhar em situação de
extrema pobreza, em particular em países com baixo rendi-
mento. Novos tipos de contratos e formas atípicas de tra-
balho estão a proliferar em todos os países, criando novos
tipos de discriminação e vulnerabilidade. Os sistemas de
proteção social muitas vezes não conseguem responder a
essas mudanças profundas e garantir níveis adequados de
proteção.
Os ambientes nos quais o trabalho se realiza também se
encontram em fase de rápidas mudanças. Por outro lado,
um equilíbrio desadequado entre a esfera privada e a pro-
fissional modifica o nosso modo de viver. Os desafios tam-
bém provêm de mudanças climáticas como ondas de calor,
emissões de Co2, inundações e secas e a contínua degra-
dação da água e da segurança alimentar.
Na resposta a estes desafios, os decisores políticos devem
abordar várias questões simultaneamente: a necessida-
de de assegurar caminhos com vista ao desenvolvimento
económico com base no emprego; a intensificação de uma
 1

Para alcançar um novo

equilíbrio e um modelo
estável e equitativo na
maioria dos países,
é necessário um quadro
institucional efetivo e
um compromisso entre
preocupações económicas
e sociais

pressão descendente sobre as condições de trabalho e a

definição de patamares de proteção social; a internaciona-
lização da produção através das cadeias de abastecimento
globais; o aumento do trabalho informal ou não declarado,
inclusive através de novas formas de contratos de traba-
lho. De facto, as cadeias de abastecimento globais desen-
cadearam mudanças significativas na qualidade dos em-
pregos e das relações de trabalho.
Enquanto alguns sublinham os impactos positivos da glo-
balização nos mercados de trabalho, outros argumentam
que a globalização se baseia principalmente no uso de tra-
balhadores pouco qualificados e na maximização da pou-
pança nos custos do trabalho.
Como resultado, a desigualdade e a insegurança tendem
a aumentar rapidamente e estão agora entre os principais
«problemas do mundo do trabalho» da nossa era. No en-
tanto, a história diz-nos que qualquer mudança implica
desafios e oportunidades, abrindo novos caminhos para o
crescimento, a criação de emprego e formas de vida.

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 5
 1 TEMA DE CAPA
O nosso futuro também será moldado pelas nossas ações
e decisões. A OIT está profundamente consciente da ne-
cessidade de analisar e compreender todas as implicações
de tais mudanças no mundo do trabalho para os governos,
empregadores e trabalhadores, e para as empresas e so-
ciedades. Por essa razão, e tendo em vista o seu centená-
rio em 2019, a organização decidiu, em 2013, lançar sete
iniciativas centenárias1, incluindo a Iniciativa do Futuro do
Trabalho. Tal longevidade torna a OIT única no sistema mul-
tilateral.
Hoje, após um século de convulsões políticas e mudanças
radicais, a OIT e a sua estrutura tripartida encontram-se
bem posicionadas para se envolverem nestas reflexões
com o objetivo de tornar a organização e os seus consti-
tuintes plenamente preparados para enfrentarem com su-
cesso os desafios do século xxi.
A primeira fase da Iniciativa do Futuro do Trabalho ocorreu
a nível nacional em 2016 e 2017. Tomou a forma de diá-
logos nacionais amplos sobre o futuro do trabalho, realiza-
dos com a participação de governos, organizações de tra-
balhadores e empregadores, universidades e, em alguns
casos, ONG e outros membros da sociedade. Foram 168
os Estados-membros (de um total de 187 Estados-mem-
bros da OIT) que apoiaram a iniciativa e, até agora, cerca de
115 países participaram num diálogo tripartido nacional ou
supranacional. Portugal é um excelente exemplo de forte
apoio à iniciativa e o Ministério do Trabalho, Solidariedade
e Segurança Social organizou, no âmbito do seu próprio
centenário, uma Conferência Internacional e tripartida na
qual participaram o diretor-geral da OIT, o primeiro-ministro
português e os parceiros sociais (19 de outubro de 2016).
O relatório nacional que lhe está associado foi publicado e
constitui um contributo importante para os próximos pas-
sos da iniciativa.
Os diálogos nacionais foram, em geral, estruturados em tor-
no dos quatro diálogos propostos pelo diretor-geral da OIT
no seu Relatório apresentado à Conferência Internacional
do Trabalho de 2015, i.e., trabalho e sociedade, empregos
dignos para todos, organização do trabalho e da produção e
governação do trabalho.
• O primeiro diálogo incide sobre o lugar do trabalho nas
nossas sociedades. As transformações no mundo do
trabalho têm perturbado a ligação convencional entre
o trabalho e a sociedade, com resultados incertos. Ten-
do este aspeto em consideração, este diálogo analisa o
modo como as sociedades irão gerir estas possibilida-
des contrastantes bem como o seu impacto num mundo
de indivíduos cujas diferenças de género, idade, educa-
ção, situação migratória, recursos financeiros e muitas
outras características representam enormes desafios.
6 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
• O segundo diálogo tem como tema a criação de empre-
gos dignos para todos. Os aspetos qualitativos e quanti-
tativos dos empregos são uma preocupação primordial
considerando que existem cerca de 40 milhões de jo-
vens que entram no mercado de trabalho. Este diálogo
analisa a interação de inovações tecnológicas, trans-
formações estruturais, desenvolvimento económico e
mudança social e como esses processos interligados
devem moldar o futuro do trabalho, particularmente em
relação ao compromisso político de longa data com vista
ao pleno emprego. Embora as abordagens tradicionais
ao nível da política económica e do emprego se mante-
nham relevantes, é também considerado o papel dos
governos, dos parceiros sociais e de outros grupos na
orientação e definição deste processo para a próxima
geração.
• A organização do trabalho e da produção constitui o
terceiro diálogo. Novas formas de produção, particular-
mente as que se baseiam em mudanças tecnológicas,
como a gig economy e as cadeias de abastecimento
globais, podem levar a uma maior eficiência empresarial
e flexibilidade para os trabalhadores. Contudo, podem
também gerar novas e diferentes formas de trabalho
precário tendo consequências notórias para as políti-
cas destinadas a promover a justiça social, bem como
para as instituições estabelecidas e os sistemas de
proteção social. Este diálogo examina as mudanças no
modo como as empresas trabalham, incluindo as impli-
cações para a nossa compreensão atual do que significa
ser empregador e empregado. Discute novas formas de
relação de emprego e em que medida essa relação con-
tinuará a ser o foco de muitas das proteções das quais
os trabalhadores beneficiam atualmente.
• Finalmente, o quarto diálogo sobre governação do mun-
do do trabalho examina o modo como as sociedades
podem responder à erosão do quadro regulamentar es-
tabelecido, em particular se precisamos de estruturas
de governação novas ou diferentes para regular efetiva-
mente o trabalho. Também examina iniciativas que revi-
talizem as normas e instituições existentes e/ou criem
novas formas de regulamentação que podem ajudar a
enfrentar os desafios de governação presentes e futu-
ros, ao mesmo tempo que analisa as iniciativas interna-
cionais e nacionais e destaca aquelas que fortalecem o
tripartismo.
1
A Iniciativa do Futuro do Trabalho, a Iniciativa do Fim da Pobreza, a
Iniciativa das Mulheres no Trabalho, a Iniciativa Verde, a Iniciativa das
Normas, a Iniciativa das Empresas e a Iniciativa de Governação.

Refletir sobre o Futuro do Trabalho não cabe
apenas à OIT mas a todos os trabalhadores
e cidadãos, bem como a todos stakeholders
a nível nacional e internacional
A segunda fase da iniciativa teve início recentemente com
o lançamento da Comissão Global de Alto Nível sobre o
Futuro do Trabalho, em Genebra a 21 de agosto de 2017.
A Comissão Global possui 28 membros, todos indivíduos
de reconhecido mérito e com um percurso pessoal e uma
visão extraordinários. Representam um equilíbrio de re-
giões geográficas e experiências, com igual participação de
mulheres e homens. A Comissão Global é copresidida por
Ameenah Gurib-Fakim, Presidente da Maurícia, e por Ste-
fan Löfven, primeiro-ministro da Suécia. A Comissão Global
funcionará durante um período de doze a dezoito meses e
deverá apresentar um relatório acerca do modo como a OIT
continuará a desempenhar o seu mandato de justiça so-
cial no século xxi. Entre outros aspetos, a Comissão Global
trabalhará com base nos resultados de todos os diálogos
nacionais e regionais sobre o Futuro do Trabalho que ocor-
reram em 2016 e 2017. A terceira e última fase da iniciativa
terá lugar em 2019 com as celebrações do centenário a ní-
vel nacional e internacional. Além disso, a Comissão Global
elaborará o seu relatório e recomendações sobre o Futuro
do Trabalho, que submeterá à Conferência Internacional do
Trabalho do Centenário da OIT.
Nesta fase, ainda há mais perguntas do que respostas. Em
todos os países de todo o mundo, as preocupações com
o mundo do trabalho do amanhã são semelhantes. Todos
nós colocamos as mesmas questões: qual será o lugar e
A iniciativa da OIT para o futuro do trabalho
1
o valor atribuídos ao trabalho? Quais são os empregos do
futuro e de onde virão? Qual será o papel e as responsa-
bilidades dos governos, empregadores e trabalhadores?
Finalmente, em que sociedade queremos viver?
Na verdade, os desafios para chegarmos a um modelo so-
cial estável aumentaram ainda mais em muitas partes do
mundo. A crescente desigualdade e insegurança de ren-
dimento são sintomas de desequilíbrios e fraturas que
desestabilizaram alguns dos valores fundamentais das so-
ciedades atuais. Tais desequilíbrios também influenciam
a legitimidade das instituições políticas e a estabilidade.
Para alcançar um novo equilíbrio e um modelo estável e
equitativo na maioria dos países, é necessário um quadro
institucional efetivo e um compromisso entre preocupa-
ções económicas e sociais.
Chegou, portanto, o tempo de toda esta reflexão, que não
cabe apenas à OIT mas a todos os trabalhadores e cida-
dãos, bem como a todos stakeholders a nível nacional e
internacional. Em última análise, o debate sobre o Futuro
do Trabalho centra-se acima de tudo na justiça social e no
ser humano – conforme estabelecido na Declaração de
Filadélfia da OIT (1944), segundo a qual «todos os seres
humanos têm o direito de prosseguir o bem-estar material
e o seu desenvolvimento espiritual em condições de liber-
dade e dignidade, de segurança económica e igualdade de
oportunidades». •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 7
 1 TEMA DE CAPA
O futuro das
profissões
DAVID HOEY, CEO DA WORLDSKILLS INTERNACIONAL.
TRADUÇÃO: SANDRA BERNARDO
WORLDSKILLS
E
m outubro de 2017, os melhores jovens profissionais
do mundo tomaram conta de um palco global para
concorrer na 44.ª edição do Campeonato do Mundo
das Profissões. WorldSkills Abu Dhabi 2017 foi um microcos-
mo do cenário de competências globais, onde as economias
estabelecidas se cruzaram com economias emergentes e as
profissões com séculos de história se tornaram a base das
profissões do futuro.
Enquadrado pela evolução do panorama económico do Mé-
dio Oriente, pela primeira vez a WorldSkills Abu Dhabi 2017
viu 1300 jovens de 59 países e regiões membros da World-
Skills mostrarem as suas competências em 51 profissões.
O evento reuniu mais de 100 mil jovens de todos os Emi-
rados Árabes Unidos para explorarem as oportunidades de
carreira que estão à sua disposição.
No centro do movimento WorldSkills encontramos a am-
bição incomparável da juventude. Ambição para seguir as
suas paixões e aperfeiçoar as suas competências. Ambição
para avançar nas suas carreiras e nas suas perspetivas de
futuro. Ambição para promover as comunidades e as nações
que representam.
A grande diferença entre os concorrentes que participaram
em milhares de competições locais, nacionais e regionais da
WorldSkills por todo o mundo nos dois anos que antecede-
ram a WorldSkills Abu Dhabi 2017 e os jovens que enfrentam
níveis elevados de desemprego, é a oportunidade que os pri-
meiros tiveram.
No ano passado, as taxas globais de desemprego jovem
aumentaram pela primeira vez em três anos, com a OIT –
Organização Internacional do Trabalho a estimar uma per-
centagem de 13,1%. Este valor corresponde a 71 milhões
de jovens sem trabalho. Em algumas regiões, como a Ásia,
incluindo o Médio Oriente e o Norte de África, a proporção de
jovens sem trabalho é ainda maior.
8 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
A WorldSkills, como uma plataforma global de excelência,
está empenhada em garantir que todos os jovens têm opor-
tunidades de desenvolver as suas competências indepen-
dentemente da raça, género ou nacionalidade. Os membros
da WorldSkills incluem os países maiores e mais ricos do
mundo (as vinte maiores economias e as cinco nações mais
populosas), representando estes membros dois terços da
população mundial.
Acreditamos que os Campeonatos das Profissões são uma
das ferramentas mais eficazes para promover a educação
e formação profissional. Esta matéria nunca foi mais rele-
vante ou mais complexa do que agora. Numa era de acesso
universal à informação, há oportunidades aparentemente
ilimitadas para a promoção dos sistemas de educação e for-
mação profissional junto de um público mais vasto do que
nunca, inclusive diretamente junto dos jovens.
No entanto, perante alguns dos enormes desafios que esta
área enfrenta, os campeonatos permanecem para muitos
como um complemento ou algo que se remete para discus-
são futura, em vez de se constituírem como uma preocupa-
ção central.
Contudo, este é um grave erro. Continua a ser uma necessi-
dade absoluta para todos nós falar em educação e formação
profissional e em competências, em tudo o que fazemos e
a tempo inteiro. A ideia «a universidade é que é uma boa
opção, a formação profissional nem por isso» é penetran-
te e corrosiva e, com exceção para um pequeno conjunto de
economias, ainda não há «paridade de estima» entre for-

A visão dos jovens que
competem na WorldSkills e
se destacam nas profissões
que escolheram é um
catalisador para que outros
também apostem nas suas
carreiras.
Em Abu Dhabi, o resultado
foi uma ambiciosa
Declaração da Juventude
que priorizou a mudança na
perceção das carreiras por
via da educação e formação
profissional, através de
apoios governamentais e
de reformas nos sistemas
de qualificação dos vários
países
1
mação profissional e formação académica. Ao mesmo tem-
po, os sistemas de educação e formação profissional não se
mantiveram atualizados face às alterações verificadas nas
necessidades das economias que servem. Esse desajusta-
mento corre o risco de se tornar ainda maior com a acelera-
ção da evolução tecnológica que já estamos a viver.
Acreditamos que a WorldSkills, através das competições que
organiza, tem um papel único na mudança da perceção que
pais e educadores, mas também os governos, têm das vias
profissionalizantes. A decisão dos Emirados Árabes Unidos,
que é composto por uma população nativa relativamente
abastada, em acolher a WorldSkills em Abu Dhabi em outubro
de 2017, teve por base o desejo de elevar o perfil de compe-
tências da educação e formação profissional entre os cida-
dãos deste país. Na Rússia, que vai acolher a WorldSkills em
2019, todo o sistema de educação e formação profissional
está a ser construído com base nas especificações técnicas
da WorldSkills. A par deste trabalho a Rússia está, ainda, a
apostar em campanhas de marketing «agressivas» a nível
nacional e regional como forma de promover a formação pro-
fissional.
A visão dos jovens que competem na WorldSkills e se desta-
cam nas profissões que escolheram é um catalisador para
que outros apostem também nas suas carreiras. Isso acon-
tece tanto nos locais da competição – em stands promovi-
dos por operadores de educação e formação, empregadores
ou agências de emprego – como fora do evento, através da
cobertura assegurada pelos meios de comunicação social
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 9
 1 TEMA DE CAPA

tradicionais, e, mais significativamente nos últimos tempos,

pelas redes sociais.
Paralelamente à competição, a WorldSkills reúne jovens pro- A ideia «a universidade
fissionais qualificados, ministros e formuladores de políticas é que é uma boa opção, a
globais para debaterem as principais questões enfrentadas
pela educação e formação profissional. Em Abu Dhabi, o re-
formação profissional nem
sultado foi uma ambiciosa Declaração da Juventude que por isso», é penetrante e
priorizou a mudança na perceção das carreiras por via da corrosiva e, com exceção
educação e formação profissional, através de apoios gover-
namentais e de reformas nos sistemas de qualificação dos
para um pequeno conjunto
vários países. Esta Declaração da Juventude foi concebida de economias, ainda não há
por mais de 300 jovens oriundos de vias profissionalizan- «paridade de estima» entre
tes, de 62 países diferentes, e apresentada na Conferência
WorldSkills 2017 a ministros de Educação e do Trabalho de
formação profissional e
vários países, a representantes da indústria e a empresários, formação académica
bem como a escolas, universidades e decisores políticos.
A Declaração da Juventude identificou a necessidade de
equilibrar a educação, do ponto de vista mais académico,
com a empregabilidade e a capacidade de adaptação, crian-
do oportunidades que promovam a experiência em contexto
real, a confiança e a autoconsciência nos jovens de modo a
desenvolver uma maior adaptabilidade, criatividade e flexibi-
lidade. Para ser verdadeiramente adaptável aos novos mer-
cados de trabalho, é essencial encontrar o equilíbrio entre
competências práticas e a educação académica. Os jovens
enfatizaram, ainda, o papel crítico que a indústria desempe-
nha no desenvolvimento da experiência em contexto real e
que acompanha as evoluções tecnológicas.
Os sistemas de educação e formação bem-sucedidos não só
garantem uma mão-de-obra qualificada como se tornam a
base para a diversidade e para a inclusão, fatores-chave na
construção de sociedades felizes e tolerantes. A Declaração
da Juventude enfatizou ainda a necessidade de promover a
igualdade de género e a inclusão através de oportunidades o diálogo sobre como as competências transformam vidas
iguais no acesso à educação e formação. e o que é necessário para tornar uma carreira baseada em
A Conferência WorldSkills 2017 pegou nesta declaração e competências numa primeira escolha, e não num plano de
continuou o debate sobre como as competências se devem retaguarda.
adaptar ao impacto dramático que a 4.ª Revolução Industrial Enquanto vemos os concorrentes nos campeonatos da
terá no modo como as pessoas vivem, aprendem e traba- WorldSkills ou ouvimos os jovens a debaterem os problemas
lham e como o cenário de qualificações globais pode cultivar que os interessam num fórum mundial da WorldSkills, tor-
as competências que os empregadores vão precisar para o na-se claro que, através do nosso trabalho, fomentamos a
futuro. Os princípios que estiveram na base do 1.º Campeo- curiosidade pela educação e formação profissional e damos
nato das Profissões em 1947, em Espanha, permanecem aos jovens as ferramentas de que eles precisam para que se-
atuais. Quando se proporciona uma alavanca que os impul- jam atores principais na mudança necessária a uma eficaz
siona, os jovens são motivados a destacarem-se nas suas adaptação às competências do futuro.
competências, nas suas carreiras e nas suas vidas. Os resul- Fica desde já o convite para que se juntem a nós na próxi-
tados traduzem-se numa maior valorização das suas com- ma Conferência da WorldSkills, que vai decorrer de 15 a 18
petências e na consciência do papel crítico que as mesmas de outubro de 2018, em Amesterdão, na Holanda, à qual se
desempenham na construção de sociedades prósperas. seguirá o próximo Campeonato do Mundo das Profissões –
O trabalho dos 78 membros da WorldSkills vai muito para WorldSkills Kazan 2019, de 29 de agosto a 3 de setembro de
além dos Campeonatos das Profissões. Juntos, enformam 2019, na Rússia. •

10 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

ENTREVISTA
Worldskills
Uma montra
do sistema
de formação
profissional
RITA VIEIRA, JORNALISTA
IEFP, I.P.
Q
uase sete décadas depois da primeira participação
portuguesa num Campeonato de Profissões, o ba-
lanço não podia ser mais positivo. Ao longo destes
anos estiveram em prova 718 jovens nacionais, tendo Por-
tugal conseguido obter 287 medalhas.
Quanto ao futuro, sublinha o vice-presidente do Instituto de
Emprego e Formação Profissional (IEFP, I.P.), esse passa
por dar a conhecer o papel da formação profissional na pre-
paração de quadros técnicos qualificados. Segundo Paulo
Feliciano, é essencial que os jovens a entendam como uma
primeira via para a sua qualificação e inserção no mercado
de trabalho.
Revista Dirigir&Formar: Este ano faz 67 anos que Portugal
participou pela primeira vez num Campeonato das Profis-
sões. Que balanço pode fazer destes campeonatos?
Paulo Feliciano: Os Campeonatos das Profissões remon-
tam a 1950, quando se disputaram os primeiros campeo-
natos entre Portugal e Espanha. Enquanto membro fun-
dador e permanente da WorldSkills, Portugal é, assim, o
país com mais experiência a nível mundial. Ao longo da sua
história contou com a participação de 718 jovens profissio-
nais e obteve 287 prémios: 45 medalhas de ouro, 76 me-
dalhas de prata, 67 medalhas de bronze e 99 medalhas de
1
excelência. Em termos globais, o percurso foi muito posi-
tivo. Podemos fazer uma retrospetiva em três dimensões:
a da participação, a da organização e a da dimensão insti-
tucional. No que diz respeito à participação, o número de
formandos tem vindo a aumentar, assim como o número e
a natureza das entidades formadoras envolvidas. Além dos
Centros de Formação de Gestão Direta do IEFP, I.P. e dos
Centros de Gestão Participada, tem aumentado o número
de Escolas Profissionais e de Escolas Secundárias, da rede
pública, que participam. Esta participação tem sido acom-
panhada de bons resultados do ponto de vista competitivo;
os nossos formandos têm ganho algumas medalhas nas
competições internacionais, o que também é importante.
Depois, há uma dimensão organizativa, que também evo-
luiu muito positivamente. A organização dos campeonatos
está muito profissionalizada. Cada campeonato nacio-
nal que se organiza tem uma dimensão muito grande do
ponto de vista logístico, e aí houve um progresso também
relevante. Por exemplo, Portugal organizou, em 2007, o
EuroSkills, um evento europeu com uma dimensão muito
significativa. Depois, há uma dimensão institucional que
tem a ver com o impacto dos campeonatos no Sistema de
Formação Profissional. Eu acho que, progressivamente,
os campeonatos se têm afirmado como um espaço de re-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 11
 1 TEMA DE CAPA
Equipa EuroSkills
Gotemburgo 2016
Equipa WorldSkills
Abu Dhabi 2017
ferência e de medida da qualidade do impacto do Sistema
de Formação Profissional, e essa é uma dinâmica que nós
queremos reforçar.
D&F: Na sua opinião, estas competições, desde as regio-
nais à mundial, são uma excelente oportunidade para va-
lorizar o Sistema de Formação Profissional mas também
para definir metas e objetivos que promovam o desenvol-
vimento das vias profissionalizantes no nosso país...
P.F.: As competições podem ser uma montra do que o Sis-
tema de Formação Profissional faz: dão a conhecer as com-
petências que são desenvolvidas no sistema, a exigência
de cada uma dessas profissões, que é muito maior do que
comummente se pode imaginar, e além disso são também
uma maneira de medirmos a capacidade de resposta ao ní-
vel da eficácia da formação e dos resultados formativos. No
fundo, são um barómetro do investimento e da qualidade
de resposta do sistema mas são também, no contexto das
competições a nível europeu, um barómetro daquilo que
são as metas que pretendemos atingir do ponto de vista
12 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
do reforço, do ajustamento das competências que desen-
volvemos, do investimento na qualificação dos espaços
formativos, dos equipamentos que utilizamos, dos referen-
ciais de formação que são utilizados. Portanto, têm esta
dupla função: servem para medir os resultados alcançados
e para definir as metas a atingir.
D&F: Considera que o facto de se trabalhar em parceria
com os melhores formadores do mundo e de termos os for-
mandos a competir com os melhores jovens profissionais
permite posicionarmo-nos face a determinados padrões
de qualidade, exigência e inovação que, de outro modo,
não seria possível...
P.F.: Em primeiro lugar, a principal parceria que devemos
destacar é a parceria com as empresas e o mercado de tra-
balho, ou seja, aquilo que é medido nos campeonatos, os
desempenhos que são postos à prova são desempenhos
muito regulados pelas necessidades sentidas pelas em-
presas e, de alguma forma, impostas pelo próprio mercado
de trabalho. Portanto, na organização dos Campeonatos
 WorldSkills, uma montra do sistema de formação profissional
está muito presente a identificação do que são as compe-
tências de ponta para cada uma das profissões e o que são
as tecnologias utilizadas para o seu exercício, e aqui há um
quadro de parceria que é fundamental com as empresas.
Esse é o primeiro espaço de aprendizagem que os próprios
campeonatos representam. No fundo, são mais um espaço
de diálogo com o tecido empresarial que se acrescenta aos
que já existem. Depois, para dar resposta a estas exigên-
cias, é preciso também que os formadores tenham a ca-
pacidade, ao nível da formação, de identificar e interpretar
esses padrões de exigência, desenvolver novos instrumen-
tos e recursos pedagógicos atualizados e inovadores e que
permitam aos formandos alcançarem bons desempenhos
profissionais. O terceiro é a aprendizagem entre pares, ou
seja, a aprendizagem que os próprios formandos desenvol-
vem para se prepararem para competir a nível regional, na-
cional, europeu e mundial. Têm de ter uma ambição maior
e a competição é um espaço privilegiado de aprendizagem.
E isto tem um efeito de disseminação, que é muito impor-
tante e que pretendemos valorizar porque, embora no cam-
peonato do mundo acabem por estar em competição cerca
de duas dezenas de formandos, em todo o percurso, desde
o primeiro momento em que cada um dos centros e escolas
decide participar no campeonato, há um efeito positivo nos
formandos.
D&F: Acha necessário definir uma nova estratégia para o
WorldSkills de modo a que a aposta nestes campeonatos
seja ainda maior, de forma a mobilizar mais recursos e en-
volver ainda mais as empresas?
P.F.: Acho que faz sentido a visão que existe, que tem es-
tado presente ao longo destas sete décadas, e a estraté-
gia que tem vindo a ser desenvolvida, e que pretende re-
forçar a aposta em algumas áreas fundamentais para que
o WorldSkills seja potenciado no contexto da formação
profissional. Não são aspetos necessariamente novos da
estratégia, mas há elementos de aposta que se justificam
reforçar. E, aqui, é importante distinguir a dimensão orga-
nizativa: os campeonatos são muito exigentes, são ciclos
de competição de dois anos, e o que procurámos fazer
foi reforçar a profissionalização, ao nível da organização,
criando um núcleo responsável por dinamizar os campeo-
natos. E depois é muito importante valorizar tudo o que são
os instrumentos que nos permitam potenciar o impacto
dos campeonatos no Sistema de Formação Profissional.
Eu diria que os campeonatos não podem ficar fechados
em si mesmos. É importante utilizá-los para divulgarmos,
junto das famílias, o papel que a formação profissional tem
na preparação de quadros técnicos qualificados, dando
eco da exigência destas qualificações do ponto de vista do
mercado de trabalho e da oportunidade que representam.
1
É importante que os jovens
entendam a formação
profissional como uma
oportunidade, como uma
primeira via para se
qualificarem, para obterem
uma inserção no mercado
de trabalho
É também importante que os jovens entendam a formação
profissional como uma oportunidade, como uma primeira
via para se qualificarem, para obterem uma inserção no
mercado de trabalho. Portanto, há aqui uma dimensão de
comunicação que os campeonatos podem ajudar a conse-
guir. Mas não só, os campeonatos têm um papel importan-
te na própria qualificação do sistema porque, para partici-
par nos campeonatos e ter um bom desempenho, eu tenho
que ter formadores que estejam qualificados e, portanto,
tenho de investir na sua formação. Para ter formadores
qualificados, preciso de instrumentos e recursos pedagó-
gicos atualizados e inovadores, o que implica também uma
maior qualificação dos nossos Centros de Formação. São
estas dimensões de impacto sobre o sistema que preten-
demos valorizar e que são um bocadinho interdependen-
tes, umas puxam pelas outras e, em conjunto, valorizam
o Sistema de Formação Profissional, e é neste aspeto que
achamos que tem de haver uma aposta reforçada.
D&F: Isso é exequível apesar das restrições orçamentais?
P.F.: Eu acho que é mais um desafio ao nível da nossa es-
tratégia de ação, de planeamento, de capacidade de exe-
cução, do que propriamente um desafio orçamental. Não
digo que não seja necessário algum investimento adicional
que o Instituto de Emprego está disponível a fazer, mas
o maior investimento é mesmo ao nível da estratégia, do
modo como pomos a rede a trabalhar em conjunto. É que
o impacto sobre o Sistema de Formação só acontece se os
campeonatos também tiverem o efeito de arrastar cada
vez mais entidades formadoras de todos os subsistemas
da formação profissional. Isto é fundamental para que não
existam várias velocidades.
D&F: Falava na necessidade de reforçar a área da comuni-
cação, sobretudo a externa...
P.F.: Sim, há uma aposta na comunicação externa porque
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 13
 1 TEMA DE CAPA
os campeonatos para o público em geral – e aí os órgãos
de comunicação social são importantes – ainda não são
suficientemente conhecidos. Mas eu diria que, a par des-
sa, há também uma aposta de comunicação mais interna,
no contexto do próprio sistema. É importante que os cam-
peonatos sejam entendidos como uma oportunidade para
o Sistema de Formação Profissional se apetrechar e se de-
senvolver e não apenas como uma competição que acon-
tece regularmente.
D&F: Os Campeonatos das Profissões devem mobilizar e
atrair cada vez mais jovens. Contudo, os WorldSkills ain-
da não estão suficientemente divulgados no nosso país.
O que é preciso fazer para alterar esta situação?
P.F.: Nós temos procurado apostar mais nessa área e
vamos agora lançar uma campanha sobre o Sistema de
Aprendizagem. Há algumas estratégias de comunicação
que estamos a procurar desenvolver, articuladamente com
a divulgação das modalidades de formação, em particular
do Sistema de Aprendizagem. Já estamos a trabalhar em
contínuo nessa área, reforçámos bastante a comunicação
dos campeonatos, mas é um trabalho que se vai fazendo
ao longo do tempo.
D&F: Os cursos de aprendizagem têm de começar a ser en-
carados como uma primeira opção pelos jovens?
P.F.: Os cursos de aprendizagem devem, cada vez mais, ser
vistos como um espaço de excelência, do ponto de vista da
qualificação dos jovens, para dar respostas às necessida-
des do mercado de trabalho. Diria que o nosso objetivo é
que o Sistema de Aprendizagem seja visto pelas empresas
como o seu sistema. Elas já participam no desenvolvimen-
to da formação. O que me parece que é importante conse-
guir é passar a mensagem da excelência da formação, da
capacidade de resposta, do ponto de vista tecnológico, da
preparação de quadros intermédios para o mercado de tra-
balho e também que as próprias empresas, cada vez mais,
sintam o sistema como um sistema que é seu, que lhes dá
a resposta de que precisam para terem quadros técnicos
qualificados.
Os campeonatos têm de ser, cada vez mais, um elemento
de auxílio nesta estratégia de afirmação da formação pro-
fissional.
D&F: Já existem muitas empresas a ajudar-vos nesse
sentido, a criarem novos perfis de competências mais
ajustados às suas necessidades?
P.F.: Temos muitas empresas que participam de forma
direta nos campeonatos, quer seja apoiando-nos na sua
organização, disponibilizando meios, disponibilizando
também espaços de preparação dos próprios formandos,
14 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
«Os cursos de
aprendizagem devem,
cada vez mais, ser
vistos como um espaço
de excelência, do
ponto de vista da
qualificação dos jovens,
para dar respostas às
necessidades do mercado
de trabalho»
disponibilizando, nalguns casos, trabalhadores que já es-
tão inseridos no mercado de trabalho e que ainda têm con-
dições para participar como formandos nos campeonatos.
No plano europeu, essa participação é ainda mais reforça-
da naquilo que tem a ver com a preparação dos próprios
standards da competição. As empresas estão muito envol-
vidas na conceção dos referenciais que servem de suporte
ao desenvolvimento das provas. A nível nacional, além des-
ta dimensão de intervenção nos campeonatos, as próprias
empresas participam no desenvolvimento dos referenciais
de Formação Profissional, nomeadamente ao nível do Catá-
logo Nacional de Qualificações. Mas considero que ainda há
espaço para um maior envolvimento das empresas nessa
área.
D&F: Em alguns países, os centros de formação profis-
sional são financiados a 100% pelas empresas. Acha que
em Portugal o Sistema de Formação Profissional devia ser
comparticipado pelas empresas?
P.F.: Os modelos de financiamento são muito diversos e, às
vezes, pode haver um financiamento mais direto, e nesses
casos temos uma melhor perceção da participação das
empresas do que quando o sistema é mais complexo. Na
verdade, em Portugal as empresas também participam no
financiamento do Sistema de Formação Profissional, por
exemplo, os Centros de Formação Profissional de Gestão
 WorldSkills, uma montra do sistema de formação profissional
Participada – centros que são geridos em modelo partilha-
do entre o Instituto de Emprego e o setor associativo, em-
presarial e sindical – são centros que também são muito
apoiados pelas empresas, por via das contribuições para
a Segurança Social. O próprio orçamento do Instituto tam-
bém o é.
Naturalmente que este compromisso é fundamental para
que o Sistema de Formação tenha recursos e meios. Ago-
ra, há uma dimensão de participação das empresas que
não se resume à questão financeira e eu acho que há um
espaço muito grande de reforço, que é precisamente na
gestão do próprio Sistema de Formação, no sentido de
definir as prioridades estratégicas, desenvolver instru-
mentos, participar na concessão destes instrumentos,
disponibilizar recursos para a formação, ou seja, há todo
um espaço de participação que, apesar de ter uma ex-
pressão financeira, não significa a realização de transfe-
rências diretas, e esta é uma dimensão que pode, e deve,
ser aprofundada.
D&F: Que expectativas tem relativamente aos campeona-
tos nacionais que vão decorrer no próximo ano em Beja?
P.F.: Temos grandes expectativas. Em primeiro lugar, te-
mos a expectativa de que exista uma participação cada
vez maior, que haja mais formandos, mais escolas, mais
Centros de Formação envolvidos. Por essa razão, temos in-
1
vestido na sua divulgação, tivemos uma sessão pública de
lançamento do novo ciclo de competição, que decorreu no
Porto, onde apresentámos a plataforma onde serão feitas
as inscrições no próximo ciclo de competições.
Depois, gostaríamos que, do ponto de vista logístico e or-
ganizativo, os Campeonatos de Beja também fossem uma
referência. Este ano procurámos começar mais atempa-
damente o planeamento destes campeonatos e as coisas
estão a correr bem.
Gostávamos que os campeonatos, decorrendo em Beja, re-
presentassem esta dimensão mais integrada do Sistema
de Formação Profissional, ou seja, os campeonatos vão ter
lugar em Beja mas nós queremos que tenham uma visibili-
dade regional e nacional, nomeadamente através ciclos de
conferências, seminários, workshops e ateliers de forma-
ção de formadores em todo o Alentejo, para conseguirmos
um efeito de maior mobilização dos atores do Sistema de
Formação Profissional. Isto é muito importante e é uma li-
nha de inovação deste novo ciclo.
Por fim, gostávamos que esta dimensão de planeamento
pudesse ter retorno do ponto de vista do sucesso competi-
tivo, e foi por essa razão que antecipámos um pouco a data
da realização dos campeonatos nacionais, para depois ter-
mos um intervalo maior de tempo, até à realização do cam-
peonato europeu, que permita uma melhor preparação dos
jovens concorrentes. •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 15
 1 TEMA DE CAPA

ANTÓNIO CALDEIRA, DIRETOR DO CENTRO DE FORMAÇÃO

PROFISSIONAL DA REPARAÇÃO AUTOMÓVEL. TESTEMUNHOS
DOS FORMANDOS SÃO DA AUTORIA DE RITA VIEIRA, JORNALISTA
IEFP, I.P.

O CAMINHO
CERTO PARA
A VITÓRIA

16 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

O
ensino e formação profissionais (EFP) desempe-
nham um papel relevante nos diferentes sistemas
educativos europeus uma vez que contribuem de-
cisivamente para a empregabilidade e para o crescimento
económico, ao mesmo tempo que podem responder a de-
safios sociais amplos e complexos, promovendo a coesão
social. Não é de estranhar que, em 2010, os ministros res-
ponsáveis pelo ensino e formação tenham chegado a acor-
do sobre a implementação de uma estratégia de coopera-
ção europeia para dez anos, visando melhorar a qualidade
e atratividade do EFP plasmada no designado Comunicado
de Bruges. No entanto, a abordagem política no EFP tem
sido afetada por ciclos de maior ou menor aposta, indepen-
dentemente dos partidos que estão no poder, o que não
tem permitido a sua afirmação de forma contínua, sendo
atualmente objeto de uma inquestionável valorização.
Mas existe alguma relação entre esta realidade e a prepa-
ração de campeões? A resposta é claramente positiva uma
vez que, além de alargar o campo de recrutamento, todos
os atores deste processo passam a sentir que fazem parte
de algo que envolve primeiras opções de vida e não são um
recurso a percursos escolares menos bem-sucedidos. Pro-
va disso são os testemunhos aqui deixados por alguns dos
concorrentes ao Campeonato Mundial das Profissões – Abu
Dhabi 2017. Mas quais os pontos-chave para encontrar e
preparar potenciais campeões?
AS DIFERENÇAS COM OUTRAS COMPETIÇÕES
O percurso de alguém que pretenda atingir um nível de de-
sempenho elevado começa numa fase inicial da vida, como
é o caso das diferentes modalidades desportivas. Ou seja,
Cristiano Ronaldo no futebol, Patrícia Mamona no triplo sal-
to ou Fernando Pimenta em canoagem, dificilmente teriam
atingido o sucesso se tivessem feito uma opção tardia.
Já no caso dos Campeonatos das Profissões, para se tor-
nar um campeão é necessário que se adquiram primeiro as
competências inerentes a determinada profissão, nomea-
damente através da frequência de percursos formativos, o
que raramente acontecerá antes dos 16 anos.
TUDO COMEÇA POR UM BOM INÍCIO
Em cada novo ciclo de participação nos Campeonatos das
Profissões, para além dos critérios formais de elegibilidade,
é essencial uma divulgação adequada do que é expectável,
uma vez que as exigências afetam a vida pessoal dos en-
volvidos.
A juntar à motivação responsável, às competências técni-
cas e ao domínio do inglês, há que identificar nos candi-
datos as características pessoais diferenciadoras, como a
autoconfiança, resistência à frustração e ao stress, capa-
cidade de manter compromissos e atingir metas que lhes
O caminho certo para a vitória 1
permitam ultrapassar as situações problema que surgem
em qualquer competição. É também nesta fase que é re-
levante prever qual a disponibilidade futura para se envol-
verem em preparações específicas, nomeadamente as que
irão decorrer numa fase posterior à conclusão do percurso
formativo.
NÃO DEIXAR PERDER O FOCO
Após a fase inicial de apuramento para o campeonato na-
cional, importa que os concorrentes não percam o foco.
Como comparação facilmente entendível basta pensar no
que se passa no futebol, em que o gozo de férias induz a
perca de forma, mesmo nos jogadores de topo. Para isso é
forçoso que exista uma disponibilidade adequada e um en-
volvimento que ultrapasse a rotina, sendo o envolvimento
dos familiares de enorme importância como forma de vali-
dação de uma abordagem que pode envolver situações de
primeira ausência de casa de forma autónoma ou a primei-
ra viagem de avião.
Nesta fase também é relevante o apoio de profissionais da
área da psicologia para identificarem o perfil dos concorren-
tes e fornecer-lhes um apoio personalizado, que lhes permita
diminuir ou ultrapassar aspetos menos adequados e poten-
ciar os mais positivos para a participação em competição.
AS COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS EM CONTEXTO
DE EFP NÃO SÃO SUFICIENTES?
As competências adquiridas têm de ser entendidas como
o início de um percurso profissional que carecerá sempre
de uma aprendizagem ao longo da vida, sob pena de rapi-
damente se tornarem desajustadas das necessidades do
mercado de trabalho. Além disso, as mesmas competên-
cias podem ser exercidas a diferentes níveis de desempe-
nho, o que exige treino específico e continuado.
SOU CAMPEÃO NACIONAL. E AGORA?
Como em qualquer atividade, níveis mais elevados impli-
cam maiores responsabilidades. Assim, para a participação
nas fases internacionais há que reforçar a abordagem an-
teriormente referida e definir um plano de preparação ade-
quado, sendo nuclear que a sua operacionalização ocorra
isenta de percalços e o mais profissionalmente possível.
Neste campo tem de existir um balanço entre o máximo de
investimento que é possível alocar e o que ocorre em ou-
tros países, em que não é anormal existirem períodos de
preparação superiores a um ano em regime de dedicação
exclusiva. No entanto, tratando-se de competições as vi-
tórias dependem da conjugação de múltiplos fatores, mas
uma coisa é certa: se se der o melhor, cada concorrente já
se tornou um campeão e o país vai contar com um profis-
sional de excelência. •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 17
 1 TEMA DE CAPA

SOMOS OS MELHORES DO PAÍS

Entrevistámos alguns dos concorrentes ao

Campeonato Mundial das Profissões – Abu Dhabi
2017 para perceber a importância que a participação
neste campeonato tem para as suas vidas, a nível
pessoal e profissional, como iniciaram este percurso
e se, face à experiência adquirida, consideram que os
cursos profissionais são uma primeira opção.

GUIÃO DA ENTREVISTA
As questões colocadas foram iguais para
todos:
• Como foi o seu percurso enquanto
formando?
• Que importância têm estes este desafio e fui frequentar o curso de formação profissio-
campeonatos para o seu nal de Manutenção Industrial.
desenvolvimento pessoal e profissional? Após a conclusão do curso foi-me proposta a participação
• As competências que obteve nestes num concurso no CENFIM Skills, em que concorri na área
campeonatos estão ajustadas à de Eletromecânica Industrial e fiquei em primeiro, o que me
realidade das empresas? permitiu participar no campeonato nacional, na mesma
• Que importância têm os WorldSkills para área, onde obtive a medalha de ouro. Fui depois ao cam-
a entrada no mercado de trabalho? peonato europeu, em 2016, que decorreu em Gotemburgo,
• Este curso foi a sua primeira escolha? fiquei em segundo lugar e obtive a medalha de melhor da
• Aconselharia estes cursos profissionais nação!
a outros jovens? Estes campeonatos têm muita importância para o nosso
desenvolvimento pessoal e profissional porque, além dos
conhecimentos e das competências novas que adquirimos,
ganhamos experiência de vida, conhecemos outras pessoas
com os mesmos objetivos que nós e começamos a saber
JOSÉ PEREIRA estar, a ter uma outra postura. Quando estamos em com-
O meu pai também trabalha nesta área e eu, durante as petições temos de aprender a controlar os nervos, temos
férias escolares, ia sempre ajudá-lo e comecei a ganhar de ter capacidade para nos concentrarmos, ultrapassar as
gosto por «mexer» nos fios e nas peças. Esse gosto dificuldades que podem surgir e conseguirmos dar o nosso
levou-me a procurar uma escola onde conseguisse melhor.
desenvolver as minhas Estamos num mundo cada vez mais desenvolvido e, a nível
capacidades teóricas e industrial, os métodos de trabalho
práticas naquela área, e e o tipo de máquinas estão em
foi assim que encontrei o constante evolução. Dantes as
CENFIM. Resolvi infor- máquinas tinham quadros enor-
IDADE 18 anos
mar-me sobre a escola. PROFISSÃO Contr mes, agora temos um quadro
olo Industrial
O CENFIM fica na Trofa ENTIDADE CENFIM pequenino e um autómato que
, Trofa
e eu moro a cerca de 27 NACIONAL Meda
lha de Ouro controla a máquina toda e eu
quilómetros de distância, EUROPEU Medalha tenho a parte da eletrificação e
de Prata e
em Vizela, mas com um Me lhor da Nação da automação, que é a progra-
pouco de sacrifício iniciei mação do autómato. Por isso, as
JOSÉ PEREIRA

18 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

competências profissionais que adquiri na minha formação
ajustam-se ao trabalho que realizo e às necessidades atuais
das empresas que atuam nesta área.
As pessoas pensam que os cursos de formação profissional
são para os jovens que não são bons alunos na escola, que
não gostam de estudar e não têm possibilidades de ter su-
cesso profissional, mas isso não é bem assim – uma pessoa
pode ir para um destes cursos porque gosta de aplicar os
conhecimentos teóricos que vai adquirindo com a parte
prática e quer ter um futuro brilhante. Esta opção não é
uma alternativa de segunda escolha, é uma opção... E quero
ainda destacar um aspeto muito importante: nestes cursos
surgem oportunidades de formação em empresas de ponta
da área. Eu tive formação na Siemens e na Schneider, o que
valoriza o meu curriculum.
O facto de termos oportunidades de formação em empresas
permite-nos contactar com outros profissionais da área
e mostrar as nossas capacidades. Eu já estou a trabalhar
numa empresa da Maia e acho que vou ficar. Eles gostam do
meu trabalho.
ADMÁRIO FERREIRA
Acabei o curso em março deste ano e, nestes últimos meses,
tenho estado a treinar para o campeonato mundial, que
irá decorrer em Abu Dhabi. Já participei no campeonato
europeu, na Suécia, em 2016, onde fiquei em segundo lugar.
Um dos estágios que fiz foi na oficina do meu pai e fiz outros
dois noutras oficinas para conhecer outros ambientes e for-
mas diferentes de trabalhar. Gostei da experiência. Aprendi
O caminho certo para a vitória 1
IDADE 22 anos
PROFISSÃO Meca
trónica
Automóvel
ENTIDADE CEPRA,
Pedrouços
da lha de Ouro
NACIONAL Me
PE U Me da lha de Prata
EURO
RA
ADMÁRIO FERREI
coisas novas. Em princípio, vou ficar a trabalhar com o meu
pai. Esta foi a minha primeira escolha profissional, quando
acabei o 12.º ano vim tirar o curso de formação profissional
de Mecatrónica Automóvel. É disto que gosto e o que quero
continuar a fazer.
Através da participação nestes campeonatos, além de
conviver com pessoas de outros países aprendermos coisas
novas e maneiras diferentes de gerir os processos, aperce-
bemo-nos dos nossos pontos fortes e fracos. Estas mais-
-valias são muito importantes porque me permitem ver onde
consigo chegar, além de valorizar o meu currículo e poten-
ciar a minha entrada no mercado de trabalho.
As grandes empresas estão a ver o que nós estamos a fazer,
têm em conta os nossos comportamentos nos campeona-
tos, e isso é muito bom.
Não tenho dúvidas em aconselhar este curso a outros
jovens, o percurso formativo e escolar é muito completo.
A formação não é entediante, permite-nos ter grandes
períodos de estágio, quase o mesmo tempo de estágio que
de formação em sala, e isso é estimulante.
JOANA QUEIRÓS
Estou a terminar o curso técnico de Desenho de Vestuário.
Esta reta final é mais complicada e exigente porque estou a
finalizar a coleção que tenho de apresentar ao júri e também
é a reta final de preparação para o campeonato mundial em
Abu Dhabi. Já tive um estágio intermédio e irei ter outro no
final do curso. O estágio intermédio foi numa empresa no
Norte do país, na Mike Davis, e foi muito bom porque passei
por todas as etapas dentro da mesma empresa, desde o ar-
mazém até ao desenho dos croquis e a realização das fichas
técnicas para as coleções. Foi gratificante.
A minha primeira escolha foi Design de Moda, na Universi-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 19
 1 TEMA DE CAPA
IDADE 22 anos
PROFISSÃO Tecn
ologias da Moda
ENTIDADE MODA
TEX
NACIONAL Meda
lha de Ouro
JOANA QUEIRÓ
S
dade da Beira Interior (Covilhã), mas quando
me fui inscrever e pagar as primeiras propinas percebi
que não era, de todo, aquilo que pretendia. Eu queria um
curso que me oferecesse desde a parte mais teórica à
parte de atelier, onde eu pudesse passar tudo aquilo que
tinha na mente para o papel e para os tecidos, e isso não
iria acontecer naquele curso. Depois de falar com várias
pessoas descobri a MODATEX, fiz a inscrição, fui fazer um
workshop de verão de Iniciação ao Desenho de Moda,
fiz o projeto, fui selecionada para ir à entrevista e fui
chamada para entrar no curso. E estou muito feliz.
Em comparação com os meus colegas que nunca parti-
ciparam num campeonato, tenho muito maior agilidade
do que eles ao nível da confeção e modelação.
As competências que adquiri são muito importantes,
permitiram-me colocar os meus objetivos num patamar
acima, fazem com que puxe ainda mais por mim para
testar os meus limites, para saber até onde consigo ir.
Já tenho algumas propostas de trabalho em vista.
À partida, como esta bagagem que já levo, com o cur-
rículo que fui desenvolvendo, não terei dificuldades em
entrar no mercado de trabalho.
Acho que os jovens se devem informar muito bem antes
de optarem entre ir para a universidade ou para um cur-
so de formação profissional. Essa foi a minha maior falha
quando terminei o 12.º ano. Sem dúvida de que os cursos
de formação profissional, hoje em dia, já não são o que
eram, são muito mais avançados. As pessoas já não vão
para um curso profissional porque não gostam de estu-
dar ou não querem ir para a universidade. Portugal está
a investir cada vez mais nos cursos profissionais. Ainda
está um bocadinho aquém de outros países mas está no
bom caminho, a começar pelos campeonatos.
20 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
BRUNO DIAS
Comecei o curso com 16 anos, no Centro de Formação da
Pedrulha, em Coimbra. Fiz um estágio de 2500 horas na
Climábitus e fiquei a trabalhar na empresa. Está a ser uma
experiência muito boa. Tenho conseguido trabalhar e tam-
bém treinar para os campeonatos. Agora, tenho estado só
a treinar porque a empresa facilitou.
Participei nos campeonatos, pela primeira vez, aqui no
Porto. Depois, participei em Coimbra, o objetivo era ganhar e
consegui. A seguir fui ao europeu, onde correu relativamen-
te bem, e agora vamos ver o que irá acontecer no mundial.
Esta foi a minha primeira opção. O meu pai já trabalha nesta
área há muitos anos e eu sempre o quis seguir. Quando aca-
bei o 9.º ano, decidi tirar o Curso de Formação Profissional
de Refrigeração e Climatização.
A participação nos campeonatos é uma mais-valia para o
desenvolvimento pessoal e profissional, porque nos ajudam
a lidar e saber trabalhar com muita pressão, muita respon-
sabilidade, e permitem-nos obter mais competências.
A participação nestes campeonatos facilita a entrada
no mercado de trabalho. Têm muita importância. Neste
momento, somos os maiores do país. Os meus patrões
orgulham-se muito daquilo que eu já consegui nos vários
campeonatos. Se uma pessoa souber que área quer seguir,
são uma boa escolha. •
IDADE 20 anos
PROFISSÃO Refrig
eração
e Climatização
ENTIDADE CEFP,
Coimbra
NACIO NA L Me da lha de Ouro
EUROPEU Concorr
ente
BRUNO DIAS

CAMPEONATOS
DAS PROFISSÕES
UM MODELO DE
REFERÊNCIA
DÁRIO PINTO, COORDENADOR DE FORMAÇÃO DO CENFIM, CENTRO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL DA INDÚSTRIA METALÚRGICA E METALOMECÂNICA. TESTEMUNHOS
DOS FORMADORES SÃO DA AUTORIA DE RITA VIEIRA, JORNALISTA
OPTICREATIVE E IEFP, I.P.
H
á mais de vinte anos tive o primeiro contacto com
o movimento relacionado com os Campeonatos das
Profissões, no tempo em que se denominavam Con-
cursos. Já nessa altura, ainda eu era formando no CENFIM –
Núcleo do Porto, percebi que esta era uma forma extrema-
mente interessante de comprovar o nível de conhecimento
que cada formando adquire na formação, assim como para
aferir da qualidade da mesma. Deste modo, os Campeona-
tos das Profissões afirmaram-se como uma excelente fer-
ramenta de benchmarking para as diferentes entidades de
ensino e formação profissional.
Anos mais tarde, já como formador, iniciei o trajeto como
preparador de formandos para este tipo de competição. Es-
tes campeonatos, por terem uma estrutura evolutiva, per-
mitem testar o conhecimento dos formandos por etapas à
medida que a complexidade das provas aumenta, desde o
campeonato regional, passando pelo campeonato nacio-
nal, EuroSkills e WorldSkills, sendo este último o campeo-
nato de referência.
Quando iniciámos esta atividade, antes de participar no
campeonato propriamente dito, no início do ciclo de cerca
de dois a três anos, sentimos uma segurança aparente de
que os nossos formandos são os melhores que existem.
Este conceito confirma-se ou desvanece-se logo no início
da primeira competição, onde podemos verificar o nível de
determinados concorrentes que se tornam uma referência
e patamar a atingir.
Graças aos Campeonatos das Profissões e à maturidade
que estes atingiram na sua organização, o privilégio de se
1
ser júri permite-nos perceber, entre os nossos pares, para
os que querem evoluir, que existem outras formas de le-
cionar, que existem diferentes tipos de formandos. Nem
sempre o melhor formando é o que tem as características
ideais para a competição. Pode até ser um excelente for-
mando, que será um dia um profissional de referência na
indústria, mas se não conseguir lidar com a pressão provo-
cada pela complexidade da prova, pelo limite de tempo ou
pelo ambiente em redor, de nada servirá a sua prestação,
ficando apenas um sentimento de frustração tanto para o
júri como para o concorrente. Nesta altura, para justificar
o desempenho, existe uma tendência para desvalorizar a
competição ou para desenvolver uma engenharia conspi-
rativa.
Para os que atingem patamares mais altos, a participação
nesta competição traduz o reconhecimento do trabalho
árduo de preparação durante meses ou até mesmo anos.
Estes concorrentes são extremamente assediados pelas
empresas e hoje já existe uma procura de empresas multi-
nacionais por profissionais que tenham no seu curriculum
este tipo de experiência.
Desde a primeira experiência, na perspetiva do expert, júri,
jurado ou avaliador, tudo nomes que identificam a pessoa
que acompanha o concorrente nesta competição e figura
de destaque no processo de avaliação e funcionamento
da competição, que percebemos que os campeonatos, na
generalidade, são uma ferramenta excecional para a aqui-
sição de conhecimento e para verificar o que de melhor se
faz a nível internacional. Com todo este envolvimento, reu-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 21
 1 TEMA DE CAPA

vel internacional. A língua portuguesa permite uma aproxi-

mação ao Brasil e acesso ao sistema implementado pelo
Graças aos Campeonatos SENAI, salientando que estes organizam a Olimpíada do Co-
das Profissões e à nhecimento, o seu campeonato nacional, que envolve qua-
maturidade que estes se tantos jovens concorrentes como a competição mundial
da WorldSkills.
atingiram na sua Na WorldSkills estão representadas faculdades do mundo
organização, o privilégio inteiro, empresas como a Hyundai e Kia, Samsung, Sie-
de se ser júri permite-nos mens ou Hitachi, que propõem como júris os seus melhores
profissionais na área da formação ou da indústria, oriundos
perceber, entre os nossos dos seus próprios centros de formação ou das próprias
pares, para os que querem empresas para acompanharem os seus jovens formandos
evoluir, que existem outras com idade até aos 22 anos. Aqui afigura-se uma oportuni-
dade de podermos recolher muita informação da origem
formas de lecionar, que pois existe uma partilha fantástica de experiências, conhe-
existem diferentes tipos cimento, métodos de ensino, sistemas de preparação e
de formandos treino que podemos transpor para o nosso próprio sistema.
Esta relação entre pares reveste-se de uma importância
inigualável no desenvolvimento pessoal e profissional de
todos os envolvidos na equipa júris.
nimos informação privilegiada acerca da realidade de paí- A WorldSkills é hoje uma entidade de referência em relação
ses como, por exemplo, a Coreia, que tem uma capacidade às melhores práticas desenvolvidas em todas as áreas re-
técnica e uma indústria incrivelmente forte. Trabalhamos lacionadas com a formação, mundialmente definidas. Nos
com a equipa da Alemanha, que é sobejamente conhecida últimos quatro anos a WorldSkills desenvolveu e imple-
pela potência que é a nível europeu e uma referência a ní- mentou um sistema denominado WSS – WorldSkills Stan-

22 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 Campeonatos das profissões. Um modelo de referência
dard Specifications, através da recolha mundial
de informação sobre o perfil do profissional de
cada uma das profissões a concurso e quais as
competências a validar durante a prova.
Existe uma grande preocupação sobre a constan-
te atualização dos descritivos técnicos, documento
que define todas as competências a serem testadas
durante a prova em que 80% dos júris têm que concordar
com as alterações, mas sempre em contacto direto com a
indústria e as suas melhores práticas. A cada competição
são identificadas várias empresas e técnicos especializa-
dos em cada área, do mundo inteiro, para que manifestem
a sua opinião acerca do conteúdo do descritivo técnico e
assim proponham sugestões de melhoria. Se temos este
feedback das empresas que traduz as suas necessidades
sobre o perfil e conhecimento técnico do profissional a
contratar, torna-se evidente que a adaptação destes perfis
internacionais aos nacionais é pertinente e necessária.
Muito graças aos campeonatos, as entidades que tutelam
a formação, os centros de formação e algumas empresas
tomaram consciência de que existe uma referência na-
cional, a WorldSkills Portugal, e uma outra internacional, a
WorldSkills, onde podem ir beber informação, transpor para
o nosso sistema o que de melhor se faz internacionalmen-
te. Informação testada e validada.
1
DÁRIO PINTO – RESUMO CURRICULAR RELACIONADO
COM OS CAMPEONATOS
• Coordenador de Formação do CENFIM, Centro de Formação
Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica (Núcleo
do Porto)
• EuroSkills – Chief Expert – Mechanical Engineering CAD
• WorldSkills – Skill Competition Manager – Mechanical Enginee-
ring CAD
Envolvido desde 2000 no movimento relacionado com campeo-
natos.
WORLDSKILLS PORTUGAL
Desde 2004 – Presidente do júri de todos os campeonatos nacio-
nais e regionais, na profissão de Desenho Industrial CAD
WORLDSKILLS
2017 – Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos – WORLDSKILLS Skill
Competition Manager in Mechanical Engineering CAD
2015 – São Paulo, Brasil – WORLDSKILLS Chief Expert in Mechani-
cal Engineering Design CAD
2013 – Leipzig, Alemanha – WORLDSKILLS Chief Expert in
Mechanical Engineering Design CAD
2011 – Londres, Reino Unido – WORLDSKILLS Chief
Expert in Mechanical Engineering Design CAD
2009 – Calgary, Canadá – WORLDSKILLS Chief
Expert in Mechanical Engineering Design CAD
2007 – Shizuoka, Japão – WORLDSKILLS Chief
Expert in Mechanical Engineering Design CAD
2005 – Helsínquia, Finlândia – WORLDSKILLS
Expert in Mechanical Engineering Design CAD
2003 – St. Gallen, Suíça – WORLDSKILLS Expert
in Mechanical Engineering Design CAD
EUROSKILLS
2016 – Gotemburgo, Suécia – EUROSKILLS Chief Expert in
Mechanical Engineering Design CAD
2014 – Lille, França – EUROSKILLS Chief Expert in Mechanical
Engineering Design CAD and CNC Milling
2012 – Spa Francorchamps, Bélgica – EUROSKILLS Chief Expert
in Mechanical Engineering Design CAD and CNC Milling
2010 – Lisboa, Portugal – EUROSKILLS Chief Expert in Mechanical
Engineering Design CAD
2012 – São Paulo – Brasil – AMERICASKILLS Chief Expert in Me-
chanical Engineering Design CAD
2010 – Rio de Janeiro – Brasil – AMERICASKILLS Chief Expert in
Mechanical Engineering Design CAD
Várias participações em competições nacionais de outros países,
como o Brasil e a Rússia, como Chief Expert ou como consultor.
Presidente do júri de todas as profissões a concurso nas quatro
edições do CENFIMSkills (competição interna do CENFIM).
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 23
 1 TEMA DE CAPA
A nossa formação
profissional está cada
vez mais ajustada à
realidade das empresas
e é, sem dúvida, um
reflexo do que a indústria
necessita. Isto porque
fazemos um levantamento
das necessidades de
formação, conhecemos
as empresas, fazemos
o acompanhamento dos
formandos na formação
Particularmente no caso da minha área, Mechanical Engi-
neering CAD, cerca de trinta países têm contribuído para
o nosso progresso e desenvolvimento, pois temos trans-
posto esta riqueza cultural e técnica para dentro do nosso
sistema, em particular para o Sistema de Aprendizagem.
Como colaboro no desenvolvimento e definição dos progra-
mas para o setor da metalurgia e da metalomecânica, este
meu contributo está impregnado de experiência relaciona-
da com a WorldSkills.
A nossa formação profissional está cada vez mais ajustada
à realidade das empresas e é, sem dúvida, um reflexo do
que a indústria necessita. Isto porque fazemos um levan-
tamento das necessidades de formação, conhecemos as
empresas, fazemos o acompanhamento dos formandos na
formação. Quando estamos a preparar os nossos concor-
rentes – porque um concorrente preparado para um mun-
dial tem um conhecimento enorme, trabalha várias verten-
tes técnicas, mas também já não trabalhamos sozinhos
– recorremos aos profissionais da indústria para o apoio na
formação em determinadas áreas mais específicas. Logo,
aqui existe uma simbiose, uma ligação muito forte e, de
facto, o que fazemos na formação é o reflexo do que é ne-
cessário no mundo industrial.
Uma das experiências que colhemos de outros países re-
laciona-se com o apoio psicológico aos nossos formandos
e concorrentes. Cada vez mais estamos preocupados com
esta vertente, as softskills, e sentimos a necessidade do
apoio de técnicos especializados nesta área. Um júri tam-
bém é preparador/treinador do concorrente, sendo que na
24 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
maioria dos casos também tem de se preocupar com a sua
preparação «mental». Este facto leva-nos a pensar que, se
na vertente técnica os nossos formadores são altamente
qualificados, mais do que isso, a sua competência é inter-
nacionalmente reconhecida, já na vertente «psicológica»
ainda temos alguns passos a dar. De referir que, nesta ver-
tente, tanto os concorrentes como os júris necessitam de
apoio e suporte. Toda a fase da preparação e da competição
é muito exigente, não existe espaço para falhas e temos de
ter sempre presente que antes de um competidor ou júri
temos uma pessoa com uma vida pessoal, expectativas,
características e um caráter muito próprio.
Existem já vários preparadores dos concorrentes que adap-
tam modelos de treino/preparação utilizados no despor-
to. Estamos a falar de atletas de alto rendimento que em
quatro dias têm de provar o que valem, normalmente num
ambiente hostil, horário, clima, alimentação e ambiente
diferentes. Alguns destes preparadores inclusive frequen-
taram ações de formação para treinadores certificadas no
sentido de desenvolverem o seu trabalho com uma base
científica e não, como no passado, de um modo totalmente
empírico.
Todo este trabalho e visão por parte dos portugueses tem-
-se refletido nas várias eleições para cargos de chefia no
EuroSkills e WorldSkills. São vários os exemplos de júris por-
tugueses eleitos entre os seus pares para as posições de
Chief Experte e Deputy Chief Expert. Mais recentemente, a
WorldSkills selecionou e convidou elementos portugueses
para funções de gestão no seio da organização, o que tra-
duz bem a qualidade dos portugueses. Aprendemos, mas
contribuímos.
Uma das evidências da influência dos campeonatos no
nosso sistema e na indústria é facto de que a maioria dos
concorrentes formados por nós e que passaram por um
campeonato internacional atualmente estão a trabalhar na
área, são profissionais altamente qualificados, com cargos
de relevo ou até mesmo de chefia.
Assistimos, inclusive, a uma mudança no paradigma da for-
mação. Hoje a formação profissional é uma primeira opção
para muitos dos jovens em idade escolar. Uma grande per-
centagem deles recorre aos nossos centros de formação
pois têm consciência das oportunidades que se abrem na
área do emprego, com taxas de empregabilidade a atingir
os 100%, o que evidencia que se existisse uma política fo-
cada na formação profissional muitos mais profissionais
seriam colocados na indústria. O sistema da aprendiza-
gem tem sido a base para o fornecimento de jovens para
os campeonatos e para a indústria, numa altura em que
muito se fala do sistema Dual – Portugal já aplica este sis-
tema desde a década de 1980, com excelentes resultados.
Uma das mudanças alavancadas pelos campeonatos é a
 Campeonatos das profissões. Um modelo de referência
observação da consciencialização por parte de grandes
marcas internacionais que alteraram a sua estratégia co-
mercial. Um exemplo é o caso da Autodesk, que há alguns
anos, no que à formação/ensino dizia respeito, focava-se
no ensino superior. Hoje tem como um dos seus focos a for-
mação profissional pré-universitária. Todo o seu software é
grátis para estudantes e professores, pois perceberam que
estes «levam consigo» o seu software para as universida-
des e para a indústria. Outras empresas também o têm fei-
to, como a Siemens, a Samsung, a L’Oréal e a Mitutoyo, que
contactam as entidades de formação e os organizadores
dos campeonatos para disponibilizarem os seus serviços
e produtos para o desenvolvimento destas competições,
tornando-se, deste modo, não só patrocinadores mas tam-
bém parceiros na formação.
A participação neste tipo de competições, com especial
destaque para o WorldSkills, tem sido um motor particular-
mente importante para o desenvolvimento da tecnologia
O CONTRIBUITO DO WORLDSKILLS PARA A
DINAMIZAÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
ENTREVISTA
VASCO VAZ, FORMADOR
Robótica Móvel, ATEC, Academia de Formação, em Palmela
Como foi o seu percurso enquanto formador?
O meu percurso é diferente de muitos dos meus colegas,
porque eu fui formando de um curso profissional. Fui o me-
lhor aluno da minha turma e, como na altura havia a neces-
sidade de incorporar um novo formador para a parte mais
técnica e prática, fizeram-me um convite e foi assim que co-
mecei como formador. Posteriormente, realizei toda a forma-
ção exigida para ser formador, função que exerço há cerca
de dez anos.
Que importância têm os WorldSkills para o seu desenvolvi-
mento pessoal e profissional?
São fundamentais para o meu desenvolvimento porque a
troca de experiências, a aprendizagem e aquilo que consigo
aprender quando acaba mais um campeonato são sempre
1
utilizada, dos conteúdos dos perfis e referenciais, assim
como dos métodos pedagógicos aplicados no nosso siste-
ma de formação. Este conhecimento privilegiado sobre os
demais sistemas utilizados pelos diferentes países tem-
-nos permitido adaptar e evoluir. Deste modo, os campeo-
natos influenciam inequivocamente a dinâmica da forma-
ção profissional e os próprios formadores, através dos con-
tactos que estabelecem e da perceção das experiências
formativas de outros países, que acabam por se tornar um
elemento dinamizador e disseminador dessas inovações,
quer sejam de índole pedagógica, tecnológica, organiza-
cional ou outras. Toda esta dinâmica leva a que já sejamos
procurados por jovens com o objetivo de um dia poderem
representar o seu país num campeonato e que sejamos
cada vez mais rigorosos na seleção de formadores para a
formação, do mesmo modo que o somos para a seleção dos
júris que participam nos campeonatos. Ser júri é um estatu-
to que se conquista pela competência. •
experiências novas. Fico a saber o que de melhor se faz lá
fora e tento trazer isso cá para dentro, para as salas de aula
onde dou formação.
Estes campeonatos são uma alavanca para dinamizar o
sistema de formação profissional?
Eu acho que eles são a alavanca. Se há um ponto-chave é
este (o dos campeonatos), porque aqui as pessoas respon-
sáveis por cada uma das provas trazem do estrangeiro aqui-
lo que de melhor se faz em cada uma das profissões. Isto
é o ex-líbris da formação e é o coroar, para muitos destes
formandos, de todo o percurso formativo que fizeram. Con-
seguirem chegar aqui e sagrarem-se campeões regionais,
nacionais, não é o que mais interessa... chegarem aqui já é
importante.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 25
 1 TEMA DE CAPA
Estes campeonatos são fundamentais também para se
(re)construírem e adaptarem novos referenciais de compe-
tências e novas metas. Isto porque há áreas formativas nas
quais o que fazemos em Portugal está muito bem, na crista
da onda, mas há outras onde necessitamos de evoluir.
Esta é também uma forma de a formação profissional se
adaptar cada vez mais à realidade das empresas?
Certo, é verdade que o tecido empresarial em Portugal não
está totalmente adaptado àquilo que se faz no estrangeiro.
Ainda temos algumas lacunas nessa área. No entanto, se
continuarmos a seguir este percurso vamos formar melho-
res formandos e, consequentemente, as empresas também
vão receber melhores técnicos. Trata-se de potenciar a for-
mação profissional e por essa via a competitividade das em-
presas.
Acha que estes cursos de formação profissional podem co-
meçar a ser uma primeira escolha para os jovens?
Eu acho que já são, pelo menos para mim foram. E daquilo
ENTREVISTA
JOSE LOURENÇO, FORMADOR
Polimecânica, Centro de Formação Profissional de Portalegre, IEFP, I.P.
Como foi o seu percurso enquanto formadora?
Eu entrei, em 1991, no Instituto de Emprego e Formação Pro-
fissional (IEFP, I.P) como formador de Serralharia Mecânica.
Uma das componentes da Polimecânica é a Serralharia Me-
cânica, além da automação e da parte elétrica. Participei nos
campeonatos pela primeira vez em 1992, pouco tempo de-
pois de ter entrado no Instituto. Comecei por participar nos
campeonatos regionais e nacionais e, em 1999, entrei nos
mundiais. Desde essa altura sou jurado dos campeonatos
mundiais. Já tenho um longo percurso nesta área.
Que importância têm os WorldSkills para o seu desenvolvi-
mento pessoal e profissional?
Em termos de desenvolvimento pessoal, é extremamente
enriquecedor porque nós trabalhamos com pessoas de ou-
tros países, de outros continentes, que nos trazem sempre
26 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
que tenho falado com os jovens a quem dou formação, para
muitos deles foi uma primeira escolha.
Como se formam campeões?
Muitas horas de trabalho, empenho e dedicação. Doutra for-
ma, é impossível.
Em alguns países, os centros de formação são financia-
dos pelas empresas. Acha que esse modelo faz sentido em
Portugal?
Faz, mas não numa fase inicial. Numa fase inicial deve man-
ter-se como está hoje, de alguma maneira financiada, mas
ainda sem ter o cunho da empresa porque há muitos jovens
que não continuam os seus estudos devido a dificuldades fi-
nanceiras. Nós costumamos dizer que o ensino básico é até
ao 9.º ano, mas não. Há uma parte técnica que, para quem
vem para estes cursos, também é básica, toda a gente a
deve ter. Depois é que começa aquela parte em que cada um
se especializa numa área específica e, aí sim, faz sentido a
parceria com as empresas.
mais-valias, quer na maneira de ser quer na maneira de
trabalhar. Cada participação num mundial é sempre motivo
para adquirir mais conhecimentos, novas tecnologias, novos
materiais e, principalmente, novos processos de execução
do trabalho.
Estes campeonatos são uma alavanca para a dinamização
do sistema de formação profissional?
Os campeonatos são o corolário da formação profissional.
Portanto, podem dar aos jovens uma maior motivação, um
maior empenho e uma maior dedicação. E pode ser bastante
aliciante fazer uma carreira na formação profissional e de-
pois participar num campeonato mundial. Tanto quanto sei,
os jovens que têm participado estão todos no mercado de
trabalho ou a trabalhar por conta própria. Conseguiram vin-
gar na vida.
 Campeonatos das profissões. Um modelo de referência
Este é também um modo de a formação profissional se
adaptar cada vez mais à realidade das empresas?
Sim, as empresas precisam cada vez mais de pessoas mul-
tifacetadas. Hoje em dia, já não há apenas o serralheiro de
bancada. Um jovem que entre num curso de formação pro-
fissional terá que desempenhar a sua função – falando da
Polimecânica – quer na bancada, quer na parte de automa-
ção, quer na parte elétrica.
1
Como se formam campeões?
Tem a ver com o jovem, não tanto com a pessoa que o pre-
para. Se o jovem estiver motivado e tiver uma boa formação
de base, facilmente conseguirá chegar a um lugar cimeiro
nas competições. É óbvio que, além desse empenho e dessa
dedicação, os jovens têm de ser apoiados e ter algumas con-
dições para poderem treinar.
Em alguns países os centros de formação são financiados
pelas empresas. Acha que esse modelo faz sentido em
Portugal?
Faz todo o sentido porque o objetivo da formação é preparar
jovens para a indústria. Logo, se as indústrias recebem jo-
vens com uma boa preparação e vão beneficiar diretamente
dos conhecimentos por eles adquiridos, seria interessante
participarem no financiamento dessa formação.
Acha que estes cursos de formação profissional podem co-
meçar a ser uma primeira escolha para os jovens?
Eu espero que sim. Infelizmente, ainda temos jovens que
consideram a formação profissional uma segunda opção
porque ou não conseguiram entrar na faculdade ou foram
para aí encaminhados por familiares ou por outra via, mas
não devia ser assim. Esta via de ensino devia ser uma pri-
meira opção para os jovens que a frequentam e não uma
alternativa. Devia ser uma escolha consciente.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 27
 1 TEMA DE CAPA

ENTREVISTA

LURDES ALVES, FORMADORA

Tecnologias da Moda, MODATEX, Lisboa

Como foi o seu percurso enquanto formadora?
Eu, tal como a Joana Queirós (entrevistada nesta edição da
revista no artigo «O caminho certo para a vitória»), também
fui formanda no curso de formação profissional do CITEX,
onde fiz o curso de Modelista de Vestuário. Mais tarde fui
para o CIVEC, em Lisboa, onde comecei como formadora na
área da modelagem. Sou formadora há trinta anos. Já parti-
cipei em vários campeonatos nacionais, europeus e quatro
campeonatos mundiais. E estou bastante satisfeita com os
resultados. Nos campeonatos europeus já conquistámos
uma medalha de ouro, uma medalha de prata e, também,
uma medalha de excelência num campeonato mundial.
Que importância têm os WorldSkills para o seu desenvolvi-
mento pessoal e profissional?
É um orgulho chegar até aqui porque não é fácil chegar a um
campeonato mundial, é um esforço muito grande, tanto para
os jurados como para os concorrentes. É lógico que é muito
gratificante conquistarmos uma medalha porque se trata de
vermos o nosso esforço reconhecido. São muitas horas de
trabalho, de preparação, e é uma mais-valia. Podemos até
nem ganhar qualquer medalha, mas só o facto de se chegar
a um campeonato mundial e se conseguir concretizar a pro-
va na íntegra já é muito bom. Conseguimos ver que a nossa
formação é boa e que, a nível mundial, não ficamos aquém
de países que achamos muito mais desenvolvidos do que
nós.
mas também porque estes contribuem, internamente, para
o desenvolvimento da formação profissional. É aí que os jo-
vens conseguem mostrar aquilo que valem. Os campeona-
tos de formação profissional deviam ser alvo de divulgação
idêntica à que é feita quando se trata de campeonatos de
desporto e que vão às centenas de pessoas para o aeroporto
esperar os atletas; também estes jovens formandos estão
a promover o nosso país e a contribuir com o seu esforço
formativo para o desenvolvimento e o reconhecimento de
Portugal.
Esta é também uma forma de a formação profissional se
adaptar cada vez mais à realidade das empresas?
Trabalha-se para isso. Há um grande esforço do IEFP, I.P. para
o desenvolvimento dos programas e conteúdos formativos e
estamos sempre a fazer reajustes na formação que é minis-
trada para que isso aconteça.
Em alguns países os centros de formação são financiados
pelas empresas. Acha que esse modelo faz sentido em
Portugal?
Se calhar faria todo o sentido e também era uma forma de
as empresas irem buscar as pessoas certas aos lugares
certos. Por vezes já acontece. Quando acabam a formação,
os jovens vão para os estágios e, muitas vezes, conseguem
ficar na empresa que os acolhe. Há uma empregabilidade
bastante acentuada.

Estes campeonatos são uma alavanca para dinamizar o

sistema de formação profissional?
Claro que sim. Este ano, com a Joana Queirós, tivemos,
como convidados, a oportunidade de participar no Campeo-
nato Nacional da Finlândia e gostei imenso da experiência.
É um país que valoriza muito a formação profissional, coisa
que infelizmente nem sempre acontece em Portugal. É pena
que em Portugal, sempre que se realizam campeonatos de
formação profissional, quer sejam nacionais, europeus ou
mundiais, não haja mais publicidade. É necessário que haja
uma maior divulgação dos campeonatos, não só para des-
pertar a atenção dos jovens para a formação profissional

28 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

A joia dourada
JOÃO GODINHO SOARES, ENGENHEIRO OPTICREATIVE
JAIME
Numa cidade do Norte de Portugal, Jaime caminhava pela
rua, já perto de casa, quando sentiu o telemóvel vibrar.
Meteu nervosamente a mão no bolso das calças de ganga,
praguejando com os bolsos apertados! Quando finalmente
conseguiu tirar o aparelho para fora, já este cantava a ple-
nos pulmões. Deslizou o dedo rapidamente sobre o vidro.
– Estou! André?
– Olá pai.
– Filho! Então? Só agora? Está tudo bem?
– Tá tudo. Só agora é que pude...
– Diz lá! Como foi?
– Foi duro... foi difícil... O tempo é pouco...
– Mas... foi assim tão mau? Como está a peça?
– Acho que está bem... mas não sei se consigo acabá-la.
– Calma! Ainda tens um dia... Vais ver que consegues, ca-
rago!
– Mesmo assim... não sei, vamos ver...
Separados por seis mil e tal quilómetros, Jaime esperara
toda a tarde ansiosamente por notícias do filho que, como
tinha feito questão de contar aos colegas do emprego,
«... estava a concorrer no uarlsquils, ou lá como é que aqui-
lo se chama agora! Num daqueles países do petróleo, lá
para as arábias, o..., o... abudabi!»
«No meu tempo chamavam-se Olimpíadas do Trabalho. Eu
cheguei a ir a Amesterdão, em 1991! Aquilo para mim já era
1
o fim do mundo! Estão a ver agora, o meu André... Nas ará-
bias, canudo!»
Era assim que Jaime contava aos colegas as aventuras em
que se tinha metido o filho, que escolheu seguir a profissão
do pai, ourives. Lá na empresa já estavam de olho nele. Em
breve seriam também colegas.
«Não é para me gabar... mas o meu André... tem muito jeito
para a profissão. Faz coisas lindas! E perfeitas! Por isso é
que o escolheram. E lá foi ele!»
Não se cansava de falar do filho. Os colegas davam-lhe pal-
madas nas costas, de parabéns, e estavam sempre a per-
guntar quando se sabia o resultado...
«Calma, a prova ainda vai a meio. O André disse que estava
a correr bem. Logo, já devo saber mais...»
O que Jaime não esperava, ao atender o telemóvel, era ou-
vir o filho tão hesitante. Era ele a fazer-se modesto..., pen-
sou. Tinha a certeza de que o filho ia «... levar aquilo com
uma perna às costas!» Ainda assim, só podia encorajá-lo.
– Ó André! Tu sabes! Tu és melhor do que eu! Vais ver que
corre tudo bem!
– Oxalá. Dizes à mãe?
– Sim, claro. De resto, está tudo bem?...
A conversa terminou segundos depois. Sim que «... isto
do ruming é fogo!», como ele dizia. Por isso também não
estranhou que o filho não ligasse à mãe. Voltou a meter o
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 29
 1 TEMA DE CAPA
telemóvel no bolso, a custo (mais uma praga...), e apressou
o passo para contar à mulher o telefonema do filho.
ANDRÉ
Apesar de estar entre mais de mil e trezentos jovens, pro-
venientes de seis dezenas de países e regiões do planeta,
André sentia-se só. No enorme pavilhão do Centro Nacional
de Exposições de Abu Dhabi, debruçado sobre a sua ban-
cada de trabalho, bem no meio do setor onde decorriam
as provas de Joalharia, parecia indiferente ao reboliço que
sentia a poucos metros dele. A sua cabeça fervilhava por
entre memórias e pensamentos, que teimavam em distraí-
-lo do trabalho. Não é que estivesse a correr mal. O pai tinha
razão. Ele era capaz. Mas o ambiente e o peso da respon-
sabilidade de estar a representar o país – coisa que o pai
repisara abundantemente enquanto lhe contava pela cen-
tésima vez a sua honrosa participação nas Olimpíadas do
Trabalho, em Amesterdão, já lá iam 26 anos – puxavam-no
para trás. Ou seria Ingrid?
Na bancada de trabalho situada mesmo à sua frente, Ingrid
era a concorrente da Suécia. Loura, linda. Sorrira para ele
duas vezes!
Não. Não podia ser assim. Zangado consigo mesmo, desviou
pela milésima vez o olhar da rapariga e fitou a peça que es-
tava a trabalhar. Estava quase acabada. Antes dos ajustes e
limpeza final só faltava soldar as duas partes que a forma-
vam. Uma operação difícil e que só os melhores conseguem
realizar de modo a que fique sem defeito. Ele era um deles.
Um pequeno ruído à sua direita fê-lo voltar a cabeça. Era
Yuri, o concorrente russo. Era bom, o tipo. Muito bom.
E estava mais adiantado do que ele, o sacana. Apesar de o
rapaz ter um ar jovial e amável, não simpatizava com ele. Já
o vira a meter conversa com Ingrid e não gostou dos ares de
intimidade do outro...
Voltou a tomar atenção ao que fazia. Olhou para o relógio.
O tempo fugia! «Carago! Não vou falhar tão perto do fim!»,
pensou. Nem queria imaginar o desgosto que iria dar aos
pais se não conseguisse um bom resultado.
Pela sua mente desfilou todo o caminho que o tinha leva-
do ali, desde o dia em que o formador do curso de Técni-
co de Ourivesaria, da Formação em Aprendizagem que ele
frequentava em Gondomar, lhe veio com a conversa de o
preparar para o campeonato regional. Ele nem sabia o que
isso era, mas depois de o formador lhe explicar percebeu
que os campeonatos são uma forma muito estimulante de
valorização pessoal e uma excelente janela de oportunida-
de para um futuro profissional compensador. Anuiu.
Foram muitas semanas de trabalho, sempre a praticar.
Desenhou e leu desenhos de peças, escolheu e cortou ma-
teriais, fez montagens, fundiu, moldou, soldou, etc., etc.
Ganhou. Daí a ir ao campeonato nacional, em Coimbra, foi
30 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
um pulo. Mais trabalho, mais treino, mais esforço, com o
total apoio dos pais e a dedicação do formador, que sem-
pre o acompanhou. E ganhou outra vez! Por isso estava ali,
do outro lado do mundo, a competir por uma medalha no
WorldSkills de Abu Dhabi.
O ambiente que encontrou, logo à chegada, fez aumentar
nele a exaltação de pertencer a uma seleção nacional. Sem
dúvida que a aventura em que se metera era muito estimu-
lante, como lhe tinha prometido o formador. Uma verdadei-
ra prova de resistência que o preparava para os desafios
profissionais que se avizinhavam... e não só!
André ia assim discorrendo, enquanto trabalhava a peça,
quando, sem aviso, o seu instinto o fez despertar abrupta-
mente. Mas, o que era aquilo?!
André olhou perplexo para a soldadura que tinha acabado
de fazer. Estava a ficar empenada! Depressa! Era preciso
corrigir! A partir daquele momento o mundo de André redu-
ziu-se ao tamanho da peça que tinha à sua frente. Tudo o
que o rodeava desapareceu, incluindo Ingrid.
ANDRÉ E OS PAIS
Na ampla sala do aeroporto, um casal na casa dos quarenta
e tais anos olhava, com um ar sério, para a porta por onde
iam saindo os passageiros que chegavam. A determinado
momento, sobressaltaram-se quase em simultâneo. «Lá
está ele!» Acenaram e caminharam em direção ao filho.
André dirigiu-se-lhes de imediato, com um esboço de sorri-
so nos lábios. Nem os amplos sorrisos de ambos e os abra-
ços e beijos que se seguiram lhe alteraram a expressão.
A mãe foi a primeira a notar.
– Então, filho, que cara é essa?
– Desculpem...
Foi a vez de o pai perguntar:
– O quê, filho?
– Não ganhei...
A mãe ia falar, mas olhou para o marido e esperou. Jaime
voltou a abraçar o filho e disse, enquanto soltava o abraço:
– Ganhaste, sim. Ganhaste o nosso orgulho. Estiveste mui-
to bem, André. Chegaste onde muito poucos chegam. Um
erro? Só os loucos não cometem erros...
De seguida, a mãe abraçou o filho e beijou-o como só as
mães sabem.
– O que importa é que estiveste lá. És um homem das ará-
bias!
No autocarro que os levaria de regresso a casa, André re-
cuperara totalmente o sorriso. Levou quase toda a viagem
a descrever, com todos os pormenores, os dias intensos
que viveu. Mais tarde, já em casa, surpreendeu-se quando
o pai lhe segredou ao ouvido, de modo a que a mulher não
o ouvisse:
– Então... e a sueca, carago? •
 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
REFERENCIAIS DE
COMPETÊNCIAS DIGITAIS:
UMA ANÁLISE
ANTÓNIO DIAS DE FIGUEIREDO,
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA FCTUC
OPTICREATIVE
F
ala-se hoje muito de competências por oposição a
conhecimentos. Por um lado, porque já não se recru-
ta tendo em conta o que os profissionais estudaram,
mas sim o que são capazes de fazer, o que é muito distin-
to. Por outro lado, porque muitas das competências hoje
mais procuradas não se relacionam com conhecimen-
tos, mas com atitudes e valores: curiosidade, iniciativa,
persistência, adaptabilidade, resistência à frustração,
liderança, empatia, sentido de grupo. Ao contrário dos co-
nhecimentos, que incidem sobre domínios de saber espe-
cíficos, as competências são hoje definidas como sendo:
transversais, cobrindo mais do que domínio; multidimen-
sionais, incorporando saberes, aptidões, atitudes e valo-
res; e indutoras de comportamentos de ordem superior
quando aplicadas à resolução de problemas complexos
ou com elevada incerteza. Dito isto, importa esclarecer
que a atual popularidade da formação para competên-
cias não reduz em nada a importância da formação para
conhecimentos. Ambas são necessárias, em situações
distintas, e importa não confundir umas com as outras.
O domínio do digital é particularmente sensível nesta ma-
téria porque algumas atividades, como a comunicação de
alto nível ou a produção de conteúdos culturais, exigem
sólidas competências transversais e multidimensionais,
mas outras atividades exigem fortes conhecimentos ver-
ticais em domínios específicos como, por exemplo, o da
programação em Python para a análise de dados. Infeliz-
mente, os atuais referenciais de competências digitais
não contribuem para a clarificação desta distinção. O pre-
sente texto apresenta o referencial europeu de compe-
tências digitais, analisando-o de seguida como o objetivo
de debater estas questões.
O REFERENCIAL EUROPEU
DE COMPETÊNCIAS DIGITAIS
A transformação da educação e da formação na União
Europeia face aos desafios da era digital tem vindo a ser
posta em prática no âmbito do Quadro de Competências
Nome do artigo 2
Digitais para os Cidadãos (DigComp), lançado pela Comis-
são Europeia em 2013. Este referencial, que se encontra
em 2017 na versão DigComp 2.1,1 desdobra-se em cinco
grandes áreas de competências: literacia da informação
e dos dados, comunicação e colaboração, criação de con-
teúdos, segurança, resolução de problemas. Para cada
uma destas áreas, o DigComp 2.1 distingue competên-
cias específicas, num total de 21, e discrimina oito pata-
mares de proficiência. Estes patamares, que se inspiram
na taxonomia de Bloom e no Quadro Europeu de Qualifica-
ções (EQF), exprimem o nível de desafio cognitivo, o grau
de complexidade e a autonomia associados às tarefas a
realizar.
A combinação das 21 competências com os oito patama-
res de proficiência dá origem a 8 x 21 = 168 descritores
de sucesso na satisfação dos objetivos da aprendizagem,
que as empresas e instituições de formação podem usar
no desenvolvimento dos seus materiais, na conceção de
instrumentos de avaliação, no apoio à orientação das car-
reiras e no reforço ao enquadramento dos trabalhadores
nas suas tarefas. O referencial inclui ainda exemplos de
aplicação para os diversos descritores.
OS DESAFIOS DA OPERACIONALIZAÇÃO
A principal limitação da generalidade dos referenciais
internacionais de competências é que tendem a ficar-se
pela apresentação de taxonomias, esquecendo que estas
de nada valem se não forem enquadradas por orgânicas
que facilitem a sua operacionalização e transformação
em práticas inovadoras e de mudança. A inovação em
educação e formação depende de três componentes-
-chave: pessoas, instituições e pedagogias. No entanto,
da panóplia de quadros internacionais de competências
para o século xxi construídos nas últimas décadas, ape-
nas o referencial norte-americano da Partnership for 21st
Century Learning inclui, mesmo assim de forma limitada,
mecanismos e materiais que têm em conta essa opera-
cionalização.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 31
 2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES

A inovação em educação
e formação depende de
três componentes-chave:
pessoas, instituições e
pedagogias

Procurando superar esta limitação, a equipa do referen-

cial DigComp produziu esboços de referenciais adicionais
para as pessoas (educadores e formadores) e para as
instituições, deixando apenas a descoberto a componen-
te das pedagogias. O referencial para os educadores, Dig-
CompEdu,2 distingue seis níveis de proficiência (recém-
-chegados, exploradores, integradores, peritos, líderes
e pioneiros) e distribui por seis grupos as competências
a desenvolver pelos educadores e formadores: envolvi-
mento profissional, recolha, criação e partilha de recur-
sos, ensino e aprendizagem, avaliação, autocapacitação
dos formandos, promoção da competência digital dos
formandos.
Por seu lado, o referencial para as instituições ou orga-
nizações, DigCompOrg,3 contempla oito dimensões: prá-
ticas de liderança e governança, práticas de ensino e
aprendizagem, desenvolvimento profissional dos agen-
tes da organização, práticas de avaliação, conteúdos e
curricula, colaboração e rede, infraestrutura, elementos mas no modo como o todo é cultivado, e não será insistin-
específicos do setor. do em separar as partes que conseguiremos fazer desa-
brochar o todo.
LIMITAÇÕES DESTES REFERENCIAIS O referencial DigComp cai em larga medida nesse erro.
Os referenciais de competências produzidos em contex- Por muito forte que seja a componente digital do mundo
tos tecnológicos tendem a assentar em visões simplifi- de hoje, não vivemos num mundo digital: vivemos num
cadas e mecanicistas da educação e da formação, que mundo analógico e digital, uno e indivisível. Pensemos,
esquecem o caráter complexo e eminentemente huma- por exemplo, no filme Parque Jurássico, que combinou
no destas realidades. Resvalam, assim, com frequência, pela primeira vez maciçamente cenas digitais com cenas
para visões ingénuas e reducionistas semelhantes às de reais. Fará sentido criar competências para a conceção
quem pensa que basta juntar ao acaso dois gases, como separada de cenas digitais? Não deverão os criadores
o oxigénio e o hidrogénio, para obter um líquido único, a destes materiais ser capazes de conciliar o digital com o
água. Como sabemos, as propriedades da água não exis- analógico, o real com o virtual, numa solução única, coe-
tem nos gases originais e só as interações entre essas rente e harmoniosa? Alguns desses criadores poderão
partes, em condições muito específicas, fazem emergir ser mais competentes no digital e outros no analógico,
um todo líquido com propriedades inteiramente novas. mas não podemos formá-los estreitamente para o digital,
O mesmo acontece com os cidadãos que pretendemos colocando-os em calhas de sentido único que os tornam
fazer crescer pela educação e a formação. Não será fa- especialistas numa só coisa e analfabetos e incapazes de
zendo-os cumprir listas de competências/partes que os comunicar no que respeita a todas as outras.
transformaremos em cidadãos/todos livres e responsá- Neste contexto, algumas das recomendações do Dig-
veis, capazes de construírem autonomamente futuros de Comp, quando analisadas atentamente, são discutíveis.
sucesso. As condições específicas não estão nas partes Por que razão se insiste, por exemplo, na formação em

32 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

«comunicação e colaboração digital»? Porque não, sim-
plesmente, em «comunicação e colaboração», sem a res-
trição do digital? Será que quem comunica digitalmente
deve dispensar as competências comunicacionais supe-
riores que tornam a comunicação humana tão poderosa?
Poderá esse comunicador, permanecendo acriticamente
no digital, ignorar as funções adaptativas e metacogniti-
vas da comunicação, a construção e clarificação dos sen-
tidos, a gestão de ambiguidades, a invenção exploratória
de heurísticas, os protocolos de intercâmbio, a reconstru-
ção imprevista de fluxos? Infelizmente, esta persistência
obsessiva sobre o digital domina o referencial DigComp:
«interagir através de tecnologias digitais», «partilhar
usando tecnologias digitais», «exercer cidadania atra-
vés de tecnologias digitais», «colaborar através de tec-
nologias digitais», «desenvolver conteúdos digitais»,
«integrar e reelaborar conteúdos digitais», «usar criati-
vamente as tecnologias digitais», «identificar falhas de
competência digitais». Justificar-se-á empobrecer essas
expressões com o qualificativo «digital», que as amputa
da sua riqueza e plenitude?
Outra limitação do referencial DigComp é que vê o digital
como essencialmente instrumental. Tal como os nossos
antepassados das cavernas se mantiveram primitivos
enquanto usaram as tecnologias como meros instrumen-
tos, sem as interiorizarem culturalmente (o que só acon-
teceu com a invenção cultural da agricultura), também
os profissionais dos nossos dias se manterão primitivos
enquanto não interiorizarem culturalmente o digital. O di-
gital é hoje um fenómeno eminentemente cultural, políti-
co e ético, muito para além da função simplesmente ins-
trumental que o DigComp lhe atribui. Nesse sentido, vale
a pena prestar atenção ao referencial de competências
digitais proposto por Frau-Meigs,4 que fala em três cultu-
ras da informação – info-media (competências editoriais
e críticas, informação e comunicação), info-doc (com-
petências organizacionais, documentação) e info-data
(competências operatórias, codificação, programação)
– e que explora as transliteracias que unem e reforçam
essas culturas fazendo-as convergir numa cultura total.
UMA AGENDA PARA O FUTURO
Tendo em conta as considerações acima alinhadas, é ago-
ra possível formular os pontos essenciais de uma agenda
para o futuro. Primeiro, é essencial reconhecer que existe
nos nossos dias uma clara distinção entre formação para
competências e formação para conteúdos. Ambas são
importantes e incontornáveis, cabendo às instituições de
formação configurarem os seus programas e atividades
para umas e outras, conforme as necessidades a satis-
fazer. Segundo, a operacionalização dos referenciais de
Referenciais de competências digitais:
Nome uma
doanálise
artigo 2
A atual popularidade
da formação para
competências não reduz
em nada a importância
da formação para
conhecimentos. Ambas são
necessárias, em situações
distintas, e importa não
confundir umas com
as outras
competências digitais deve ser feita com cautela, tendo
em conta o caráter redutor e meramente instrumental
com que tendem a apresentar-se. Importa, em particular,
enriquecê-la com visões e estratégias que tenham em
conta o caráter eminentemente cultural da formação para
o digital, reconhecendo que os desafios que se colocam
transcendem largamente as práticas e as tecnologias di-
gitais. Terceiro, a abordagem cultural da formação deve
ter em conta as pessoas (formadores, formandos, outros
atores), as instituições e as pedagogias. As pedagogias,
que tendem a ser ignoradas na generalidade dos refe-
renciais, são decisivas para o sucesso das abordagens
culturais da formação para o digital. Em boa verdade, de-
veriam ser objeto de referenciais próprios. Finalmente, é
importante reconhecer que a formação é cada vez menos
um processo de treino para saberes e práticas e cada vez
mais um processo de mudança cultural. •
1
JRC (2017). DigComp 2.1: The Digital Competence Framework for Citi-
zens, Luxembourg: Publications Office of the European Union, European
Union, 2017.
2
JRC (2016). Digital Competence Framework for Educators (DigCompE-
du) – EU Science Hub – European Commission. https://ec.europa.eu/jrc/
en/digcompedu
3
JCR (2015). European Framework for Digitally Competent Educational
Organisations – EU Science Hub – European Commission. https://ec.eu-
ropa.eu/jrc/en/digcomporg
4
Frau-Meigs, D. (2017). Les compétences numériques ne s’improvisent
pas. Out. 5, 2017, http://theconversation.com/les-competences-nume-
riques-ne-simprovisent-pas-85108
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 33
 2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
A PEDAGOGIZAÇÃO
DE NOVAS «PROFISSÕES
DE SONHO» NOS
HORIZONTES JUVENIS
VITOR SÉRGIO FERREIRA, SOCIÓLOGO, INVESTIGADOR NO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
C
ontava-me o Caetano que, depois de tentar fazer
duas licenciaturas (uma em Produção Animal, outra
em Veterinária) e desistindo de ambas, acabou por
se inscrever no Curso Profissional de Cozinha da Associa-
ção de Cozinheiros Profissionais de Portugal: «Parei para
pensar um bocadinho e disse assim: “Eu vou fazer aquilo de
que gosto. Já estou farto de andar a fazer aquilo de que não
gosto.” [...] Nem toda a gente tem de ter um curso superior,
nem toda a gente tem de ter um mestrado. Isso não inte-
ressa! As pessoas têm é de ser felizes naquilo que fazem.
E têm de se sentir bem com aquilo que fazem! E eu tenho
prazer em vir para aqui. Não me custa todos os dias acordar
às sete da manhã e vir para aqui!»
Com efeito, se anteriormente as tradicionais profissões de
sonho envolviam a mediação seletiva do ensino superior –
tais como as de médico, advogado, arquiteto ou engenhei-
ro, por exemplo –, hoje em dia existem novas profissões
de sonho que já não são exclusivamente associadas a car-
reiras certificadas por um diploma universitário. No atual
contexto de descrença de que um grau académico venha
a cumprir sonhos de segurança, estabilidade, emprego, es-
tatuto e mobilidade social, em articulação com o contexto
de insegurança e incerteza que se faz sentir no mercado
de trabalho, as promessas académicas competem com as
promessas mediadas por outros contextos sociais, como
as culturas juvenis, os media e as culturas de celebridade.
É o caso das promessas sociais que envolvem atualmen-
te algumas atividades que tenho investigado – como DJ,
jogador de futebol, cozinheiro, modelo ou tatuador,1 entre
muitas outras, como graffiter, surfista, cantor, músico,
youtuber, etc... Se estas atividades são conhecidas so-
bretudo por se desenvolverem na esfera dos lazeres e dos
34 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
OPTICREATIVE
consumos juvenis, também têm vindo a integrar as op-
ções e expectativas profissionais de um número cada vez
maior de jovens, facto que tem merecido a minha atenção
enquanto investigador. São, efetivamente, atividades hoje
desenvolvidas por muitos jovens devido ao seu potencial
de profissionalização, não apenas pelo valor que lhes atri-
buem como possíveis meios de subsistência mas tam-
bém, e sobretudo, pelo valor que lhes reconhecem como
meios de existência.
Quer isto dizer que são atividades movidas pela crença so-
cial de que através do seu exercício se pode vir a ser alguém,
proporcionando ao jovem um sentimento de protagonismo
e de existência singular enquanto indivíduo e trabalhador
muito difícil de obter através dos trabalhos atualmente
disponíveis para a força de trabalho juvenil. Trata-se de um
desejo de escapar ao vazio de uma subsistência anónima e
anódina, de fuga a uma condição de inexistência no mun-
do correspondente à condição atual do jovem enquanto
trabalhador, normalmente percebido como mais um entre
muitos, ainda não experientes, colocados nos bastidores
da cena social, zonas mais marginais, subterrâneas e in-
tersticiais do mercado de trabalho, e deixados à mercê de
caminhos e mecanismos de inserção laboral que os sub-
metem à invisibilidade do subemprego, do desemprego ou
do emprego desolador e não promissor.
Tal acontece na medida em que, embora não sejam no-
vas, essas ocupações têm sido objeto de importantes
processos de reconfiguração social e simbólica, conside-
rando quer as mudanças nos perfis sociais dos jovens que
atraem, mais elevados, quer a promoção do seu valor no
mercado das profissões e dos significados nestas investi-
dos. Em Portugal, até recentemente, jogar futebol ou cozi-
 A pedagogização de novas «profissões de sonho» nos horizontes juvenis
nhar eram apenas modestos métiers, pouco promissores,
tendencialmente desenvolvidos por quem não tinha gran-
de sucesso na sua trajetória escolar; e as atividades de DJ
ou de tatuador, por exemplo, eram revestidas de uma aura
de suspeição e marginalidade. Hoje, contudo, essas ocupa-
ções são envoltas numa retórica mediática de «sonho»,
socialmente amplificada em inúmeros reality shows diaria-
mente transmitidos em canais generalistas e temáticos de
televisão, filmes, revistas de teor variado e redes sociais, e
que alimenta as aspirações e as expectativas profissionais
de cada vez mais jovens. Esses dispositivos mediáticos
constroem idealizações que reforçam um imaginário de
glamour, sucesso e amplo reconhecimento social sobre os
seus protagonistas, em geral celebridades bem-sucedidas,
detentoras de um estilo de vida cosmopolita, cool, moder-
no, estruturado em torno de atividades onde o trabalho se
mescla com prazeres de vária ordem: não apenas o prazer
intrínseco de praticar, a tempo inteiro, a atividade de que
mais se gosta, mas também gratificações extrínsecas que
daí poderão decorrer, como fama, dinheiro, viagens, etc.
Neste contexto, conscientes de que existem menos pos-
sibilidades de ter uma carreira profissional com estádios
2
de progressão lineares e claramente demarcados, de que
os caminhos de inserção e desenvolvimento profissional
são cada vez mais aleatórios, caóticos e labirínticos, e de
que o futuro é cada vez mais incerto, arriscado e em aberto,
cada vez mais jovens manifestam-se dispostos a explorar
o potencial de empregabilidade das suas práticas de lazer
e prazer de todos os dias, paixões que integram habilidades
aprendidas informalmente, por brincadeira.
Com efeito, o envolvimento dos jovens nas atividades que
estudei começa frequentemente desde tenra idade, no
contexto de experiências lúdicas entre amigos e/ou entre
familiares, «brincadeiras» com o simples objetivo recrea-
tivo de ocupar o tempo livre ou de expressar identidades
através do consumo e/ou da prática: jogar à bola na rua, pôr
discos em festas de amigos e familiares, cozinhar uma re-
feição para amigos ou familiares, o prazer de tratar do seu
corpo e do seu visual. No decorrer destas brincadeiras vão-
-se aprendendo, exercitando e acumulando determinados
saberes práticos ou saberes-fazer: em sentido muito lato,
refiro-me ao conhecimento experiencial exigido para jogar
com uma bola, para posar para uma foto ou caminhar numa
passarela, para cozinhar uma refeição, fazer um desenho
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 35
 2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
no corpo, ou para escolher e alinhar, ou até mesmo criar,
um certo tipo de música para os outros fruírem.
No entanto, na tentativa de satisfazer e explorar mercan-
tilmente o entusiasmo juvenil por estas práticas, recen-
temente tem emergido em muitas cidades portuguesas,
em particular em Lisboa e no Porto, um conjunto cada vez
maior de ofertas e estruturas formativas nesses domínios
de atividade, institucionalizadas na forma de planos curri-
culares, e mercantilizadas sob vários formatos educacio-
nais: diferentes tipos de cursos e curricula, mais ou menos
longos, de natureza mais técnica ou académica, desde o
workshop de algumas horas, passando pelo curso de for-
mação ou valorização pessoal, até ao curso profissional ou
superior. Ofertas formativas que, grande parte das vezes,
são vendidas a preços elevados, sendo sobretudo insti-
tuições privadas a atuar. Com efeito, o sistema público de
oferta formativa e escolar ainda se encontra pouco aberto
a oferecer formação qualificada e qualificante em muitas
destas novas áreas hoje tão atrativas para os jovens.
Um dos objetivos das ofertas formativas nestas áreas
emergentes passa justamente por aprofundar as habilida-
des antes partilhadas por jovens em sociabilidades convi-
viais desenvolvidas nos seus tempos de lazer. Fazem-no,
contudo, transformando essas habilidades em conheci-
mento formal e sistematizado – competências – e repro-
duzindo-as de um modo inteligível e de rápida apreensão.
A formação mercantilizada nestes contextos configura,
assim, um modo de transmissão concentrado e institucio-
nal de um conjunto de saberes e saberes-fazer de natureza
técnica, histórica e teórica que se foram acumulando infor-
malmente em cada um dos domínios de atividade e que se
encontram em processo de sistematização.
O processo de transformação de habilidades informais em
competências formais implica vários passos:
1) identificar, reconhecer e definir as primeiras enquanto
conhecimentos disciplinares específicos, transforman-
do saberes-fazer em saberes;
2) pedagogizá-los na forma de plano curricular e sob for-
matos educacionais diferentes (diferentes disciplinas,
módulos correspondentes a diferentes níveis de dificul-
dade técnica, workshops especializados, etc.);
3) projetar instrumentos e momentos de avaliação dessas
competências;
4) certificá-las sob a forma de qualificações com diferen-
tes tipos e níveis de reconhecimento institucional, de
modo a serem mercantilizadas enquanto recursos for-
mativos.
Torna-se evidente, portanto, que muitas destas atividades
estão a passar por um processo de formalização pedagógi-
ca dos seus conhecimentos e dos seus modos de transmis-
36 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Se anteriormente as
tradicionais profissões
de sonho envolviam a
mediação seletiva do
ensino superior – tais como
as de médico, advogado,
arquiteto ou engenheiro,
por exemplo –, hoje em dia
existem novas profissões
de sonho que já não são
exclusivamente associadas
a carreiras certificadas por
um diploma universitário
são. É neste sentido que me refiro à sua pedagogização, ou
seja, ao facto de os saberes experienciais tradicionalmente
produzidos e reproduzidos informalmente no contexto de
culturas juvenis, entre pares e amigos, se encontrarem sob
a progressiva apropriação por e integração em formas de
cultura escolar, ainda que fora do trajeto escolar acredita-
do e público. A mercantilização destes recursos acontece
na medida em que são competências e qualificações sedu-
toras, atrativas e apelativas a determinados perfis juvenis
em crescimento, potenciais detentores de recursos de
tempo, económicos e simbólicos para nelas investir não
apenas como atividade de ocupação de tempos livres, mas
também como atividade com potencial profissionalizante.
Trata-se, portanto, de uma cultura formativa que está a
emergir e a ser mercantilizada em determinados setores
ocupacionais, a qual vem de encontro às aspirações e ex-
pectativas profissionais desses jovens, tentando investir
um valor de certificação e de empregabilidade à mercadoria
que vendem. Este valor de certificação é ainda um critério
de distinção no mercado deste género de oferta educativa,
bastante atrativo na procura e na escolha deste tipo de es-
colas por parte de jovens que nelas buscam a preparação
necessária para a realização de um projeto profissional a
partir das suas práticas de lazer e de prazer. •
1
Tornando Profissões de Sonho Realidade: transições para novos mun-
dos profissionais atrativos aos jovens, projeto financiado pela Fundação
para a Ciência e a Tecnologia, PTDC/CS-SOC/122727/2010. Para mais
pormenores sobre o projeto, consultar o site http://newdreamjobs.wixsite.
com/dreamjobs

SKILLSPORTUGAL
Campeonato das profissões
CARLOS FONSECA, COORDENADOR DO NÚCLEO WORLDSKILLS
PORTUGAL, DELEGADO TÉCNICO DE PORTUGAL NA WORLDSKILLS
INTERNACIONAL E WORLDSKILLS EUROPA
CEDIDAS PELO IEFP, I.P.
DAS EXIGÊNCIAS ORGANIZATIVAS
À COMPLEXIDADE LOGÍSTICA
O Campeonato das Profissões, desenvolvido no âmbito
da WorldSkills Portugal (WSP), carateriza-se por ser uma
competição onde 400 jovens põem à prova o seu talento
profissional, considerando para as 40 profissões a concur-
so critérios de desempenho profissional sistematizados
de acordo com prescrições técnicas internacionalmente
estabelecidas.
Atendendo que intervêm cerca de 1000 atores (concor-
rentes, jurados, chefes de oficina, voluntários e organiza-
ção), o Campeonato das Profissões afigura-se como um
evento de enorme complexidade organizativa e logística,
considerando as especificidades associadas aos perfis
de competências dos participantes, aos requisitos as-
sociados às infraestruturas de suporte, aos layouts das
competições, às diferentes especificidades associadas
a cada uma das 40 provas (equipamentos, ferramentas
e materiais), à elaboração das provas e de outros instru-
mentos técnicos de suporte, e à metodologia de avaliação
de competências associada ao desempenho profissional
observado.
Pretende-se, com este artigo, levar o leitor a uma visita
guiada aos aspetos mais importantes da organização e
desenvolvimento do Campeonato Nacional das Profis-
sões, designadamente nos aspetos relacionados com os
recursos humanos envolvidos, o edifício técnico e as in-
fraestruturas de suporte e eventos paralelos.
RECURSOS HUMANOS
O PRESIDENTE DO JÚRI
O presidente do júri é um técnico altamente qualificado de
reconhecida experiência na área profissional, com expe-
riência relevante de participação em vários campeonatos
nas suas fases locais, regionais, nacionais e internacio-
nais, sendo sujeito a um rigoroso plano de formação di-
ligenciado pela WorldSkills Portugal, considerando temá-
ticas de análise de funções, balanço de competências,
DOSSIER | SKILLS 2
conceção de perfis profissionais, avaliação de desempe-
nho, elaboração de provas, grelhas de avaliação e regras
gerais e específicas associadas à competição.
Cabe-lhe a responsabilidade de edificar, para cada com-
petição, as prescrições técnicas, as provas para as fases
de pré-seleção, regional e nacional, apoiando a World-
Skills Portugal na elaboração dos layouts e definição de
listas de infraestruturas (em articulação com o chefe de
oficina) de suporte à organização.
É ainda responsável pela coordenação de toda a equipa
de jurados no decurso das provas, garantindo a aplicação
das regras, e de nomear jurados com responsabilidades
especiais nas áreas de segurança, sustentabilidade;
controlo de documentação, conferência de ferramentas,
equipamento ou outras.
OS JURADOS
Nomeado pela entidade participante no campeonato, é
um técnico com experiência na profissão e conhecimento
dos procedimentos inerentes ao Campeonato das Pro-
fissões. É, normalmente, o formador responsável pela
preparação do concorrente, representando-o no decurso
do campeonato, garantindo que os procedimentos e as
provas são pormenorizadamente explicados aos concor-
rentes. Procede, em articulação com os outros jurados, à
avaliação das provas de forma imparcial e justa, de acor-
do com os critérios de avaliação preestabelecidos.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 37
 2 DOSSIER | SKILLS

OS CHEFES DE OFICINA
Elemento igualmente focal na organização das provas, é
um técnico qualificado na profissão em apreço, nomeado
pela organização local do campeonato, a quem cabe a res-
ponsabilidade da preparação, montagem (de acordo com
o layout aprovado) e desmontagem do espaço oficinal,
instalações, máquinas, ferramentas, ligações elétricas
e de todos os itens especiais listados nas «Prescrições
Técnicas da Profissão».
Garante que o local da competição fica conforme as
prescrições técnicas, as normas de saúde, segurança e
higiene, acessos, locais de trabalho e de passagem devi-
damente identificados, assim como os meios de proteção
adequados à profissão pela qual é responsável, garantin-
do que os meios de socorro e emergência se encontram
acessíveis. Promove, ainda, a adaptação ao posto traba-
lho por parte dos concorrentes, dando todas as explica-
ções necessárias e o treino de adaptação às máquinas
sempre que necessário.

OS VOLUNTÁRIOS
Os voluntários têm um papel fundamental no suporte
logístico do evento. Desenvolvem apoio ao secretariado
do evento, ao secretariado da competição, às equipas
de jurados e à organização logística, nomeadamente no
acolhimento e operacionalização das visitas guiadas dos
milhares de visitantes. Mas também ao nível dos eventos
paralelos desempenham um papel importante, quer na
cerimónia de abertura ou de encerramento, quer ainda
nos seminários e workshops técnicos que normalmente
têm lugar no decurso do Campeonato das Profissões.

OS TEAM LEADERS
Participar num evento de tal dimensão impõe desafios
aos jovens participantes. Cabe aos team leaders acompa-
nharem em permanência os concorrentes, assegurando o
cumprimento dos horários do programa, designadamente
refeições e deslocações para os locais de estadia.
Face aos níveis de stress a que muitos dos jovens ficam
sujeitos por força do ambiente competitivo, o team leader
tem ainda um papel fundamental de motivação junto dos
jovens.

A EQUIPA DE BACKOFFICE (ORGANIZAÇÃO)

A competição é a parte visível do icebergue, mas para a sua
execução uma vasta equipa de Backoffice trabalha com
dois anos de antecedência na organização do evento.
Desde os aspetos relacionados com o planeamento, in-
fraestruturas, aquisições, marketing e comunicação, ce-
rimónias e eventos paralelos, seminários, secretariados,
planos logísticos de estadia, transporte e alimentação,

38 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2

formação de intervenientes, espaços, equipamentos,

provas, apoios e patrocínios e seleção de concorrentes,
uma vasta equipa de técnicos intervém neste processo.

OS PATROCINADORES
As empresas patrocinadoras do WorldSkills Portugal apre-
sentam um papel fundamental para o sucesso do evento.
Estes apoios consubstanciam-se em apoio técnico, atra-
vés da cedência de know-how, máquinas, ferramentas,
fatos de trabalho, consumíveis ou mesmo formação para
jurados e concorrentes em equipamentos de vanguarda.

O EDIFÍCIO TÉCNICO
O edifício técnico dos Campeonatos das Profissões com-
preende, além do regulamento, o programa do evento, os
descritivos técnicos, as prescrições de segurança, as pro-
vas, as listas de infraestruturas e as grelhas de avaliação.

O PROGRAMA DO EVENTO
É a partir do programa que se definem todos os pormeno-
res de organização do evento, designadamente logística
de montagem do evento, receção de jurados e de concor-
rentes, cerimónia de abertura, competições e planos de
visita, planos de refeições e de transportes, períodos de
avaliação, cerimónia de encerramento e logística de des-
montagem do evento.

Atendendo que intervêm

cerca de 1000 atores
(concorrentes, jurados,
chefes de oficina,
voluntários e organização),
o Campeonato das
Profissões afigura-se
como um evento de enorme
complexidade organizativa
e logística

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 39
 2 DOSSIER | SKILLS

OS DESCRITIVOS TÉCNICOS
São o instrumento de harmonização das condições técni-
cas de desenvolvimento do Campeonato das Profissões
a nível local, regional e nacional, constituindo-se como
um guia para a organização e participação dos jovens e
formadores nos campeonatos e para a própria qualidade
do campeonato e da formação profissional desenvolvida
pelos diversos operadores de formação.
Enquadram para cada profissão em apreço: i) Referencial
de competências; ii) Referencial de avaliação de desem-
penho; iii) Estrutura da prova; iv) Requisitos de seguran-
ça; v) Gestão da competição; vi) Organização da competi-
ção (infraestruturas, materiais genéricos, equipamentos,
ferramentas e matérias-primas, layout-tipo do espaço da
competição e fatores de sustentabilidade e de promoção/
divulgação da profissão).
Os descritivos técnicos para o Campeonato Nacional
das Profissões, SkillsPortugal, Beja – Alentejo 2018, es-
tão disponíveis no site da WorldSkills Portugal: https://
worldskillsportugal.iefp.pt/o-que-fazemos/campeo-
nato-nacional/ciclo-20172019-de-beja-a-kazan/ciclo-
20172019-campeonato-nacional-beja-2018/descriti-
vos-tecnicos/

O REGULAMENTO DE SEGURANÇA
O Campeonato das Profissões é um desafio em termos
de saúde e segurança no trabalho devido à complexidade
da sua organização e à emoção que acompanha o referi-
do campeonato, ao ambiente de competição envolvendo
máquinas e ferramentas, assim como a exigência e o li-
mite de tempo para o desenvolvimento dos projetos e a
avaliação correspondente das performances individuais
e coletivas.
A WorldSkills Portugal tem como objetivo comum a criação
de uma ação preventiva e de uma cultura de segurança no
Campeonato das Profissões com a visão – zero acidentes,
pelo que o Regulamento de Segurança, de aplicação obri-
gatória, visa a adoção dos procedimentos de prevenção
de acidentes na fase de preparação, montagem, desen-
volvimento e desmontagem do evento. O Regulamento de
Segurança para o Campeonato Nacional das Profissões,
SkillsPortugal, Beja – Alentejo 2018, está disponível no
site da WorldSkills Portugal: https://worldskillsportugal.
iefp.pt/wp-content/uploads/2017/09/Regulamento-de-
seguran%C3%A7a.pdf

40 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2

ri, no sentido de garantir a sua exequibilidade no tempo

previsto.
São desenvolvidas considerando os critérios de avaliação
de desempenho profissional associados à resolução de
problemas concretos do mercado de trabalho, no con-
texto do desenvolvimento de um produto ou serviço, com
valor económico e/ou social.

AS FICHAS DE SEGURANÇA POR PROFISSÃO

Todas as profissões em competição no âmbito da World-
Skills Portugal são sujeitas a uma análise de risco, a qual
se consubstancia numa ficha/notificação de segurança
de aplicação obrigatória por parte de todos os participan-
tes, sem exceção.
Esta ficha de segurança contempla os procedimentos ge-
rais, a segurança de máquinas, segurança com substân-
cias perigosas, limpeza e arrumação do posto de trabalho,
os perigos e os riscos mais significativos e o equipamento
de proteção individual recomendado e de natureza obri-
gatória.
As fichas de segurança para a totalidade das profissões
a concurso no Campeonato Nacional das Profissões,
SkillsPortugal, Beja – Alentejo 2018, estão disponíveis no
site da WorldSkills Portugal: https://worldskillsportugal.
iefp.pt/wp-content/uploads/2017/09/Fichas-Seguran%-
C3%A7a-por-Profiss%C3%A3o.pdf

AS PROVAS
As provas desenvolvidas no âmbito da WorldSkills Portu-
gal desenvolvem-se a partir do descritivo técnico e são
acompanhadas por uma grelha de avaliação de natureza
objetiva. As provas são obrigatoriamente testadas a prio-

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 41
 2 DOSSIER | SKILLS

O LAYOUT DA COMPETIÇÃO
Trata-se do plano de engenharia e de arquitetura dos es-
paços que acomodarão as competições por uma das 40
áreas profissionais. Além da organização dos espaços,
outros aspetos associados à visibilidade e promoção,
bem como segurança e procedimentos de emergência,
são levados em consideração.

INFRAESTRUTURAS DE SUPORTE
A infraestrutura de suporte à organização de um evento
desta envergadura necessita de acondicionar cerca de
8000 m2 de espaços oficinais, nos quais se desenvol-
vem as provas de acordo com os requisitos internacio-
nalmente estabelecidos.
Como elementos críticos necessários ao estabeleci-
mento de uma infraestrutura que permita acomodar um
Campeonato das Profissões, salienta-se a necessidade
de definir os layouts da competição, as instalações es-
peciais, os equipamentos, ferramentas e materiais e a
sinalética.

AS INSTALAÇÕES ESPECIAIS
Cada uma das 40 profissões tem diferentes especificida-
des em matéria de potência elétrica, iluminação, redes
águas, esgotos, ar comprimido, renovação de ar, teleco-
municações, rede de dados, sendo necessário um projeto
de engenharia específico para atender a cada uma das
necessidades de cada profissão.

42 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2

EQUIPAMENTOS, FERRAMENTAS E MATERIAIS

É necessário assegurar, ainda, para cada um dos 400
postos de trabalho, as necessárias condições técnicas Neste artigo levamos
de suporte ao desenvolvimento das provas. Inserem-se
nestas condições a existência de mobiliário genérico, má-
o leitor a uma visita
quinas e equipamentos, ferramentas elétricas e manuais, guiada aos aspetos mais
matérias-primas, materiais de consumo e utensílios. Nes- importantes da organização
te âmbito, refira-se a importância das empresas, as quais
se têm vindo a envolver cada vez mais nestes campeona-
e desenvolvimento do
tos na qualidade de patrocinadores. Campeonato Nacional das
Tendo em vista a atenuação da pegada ecológica são con- Profissões, designadamente
siderados critérios de sustentabilidade através da utiliza-
ção preferencial de materiais e equipamentos com menor
nos aspetos relacionados
impacto ambiental. com os recursos humanos
envolvidos, o edifício
técnico e as infraestruturas
de suporte e eventos
paralelos

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 43
 2 DOSSIER | SKILLS
A SINALÉTICA
O projeto de sinalética visa enquadrar os visitantes com o
evento, sinalizando os espaços de competição, as profis-
sões e as saídas de emergência.
OS EVENTOS PARALELOS
Pretende-se com os Campeonatos das Profissões, de
entre outros aspetos, aferir a eficácia da formação pro-
fissional ministrada pelos diferentes operadores e, si-
multaneamente, induzir fatores de crescente qualidade,
inovação e criatividade nos processos de ensino-apren-
dizagem.
44 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
Os Campeonatos das Profissões constituem-se como um
momento único de convergência num mesmo espaço e
tempo dos sistemas de educação e formação, sendo um
evento de referência no que respeita à convergência de
formadores, decisores, empresas e outros atores de rele-
vância no sistema de educação e formação em Portugal,
pelo que no âmbito do evento se desenvolve um conjunto
de atividades paralelas associadas a cerimónias de aber-
tura e de encerramento, seminários e workshops, visan-
do os seguintes objetivos:
• Estimular os jovens para a obtenção de uma qualifica-
ção profissional e para a importância da manutenção
de padrões de excelência no desempenho profissional.
• Valorizar o estatuto social das profissões e da forma-
ção profissional, favorecendo o reconhecimento das
vias profissionalizantes como alternativas de sucesso
para a inserção na vida ativa.
• Promover novas profissões de base tecnológica, es-
tratégicas para o desenvolvimento da economia, de-
signadamente em áreas de bens e serviços transacio-
náveis.
• Contribuir para o desenvolvimento de um ambiente de
negócios competitivo, através do aperfeiçoamento de
métodos e técnicas de organização e de execução do
trabalho.
• Desenvolver os valores da qualidade, da criatividade,
da autonomia e do trabalho em equipa.
• Dinamizar o intercâmbio científico e tecnológico, mas
também social e cultural, entre os jovens técnicos de

formação, operadores de formação, empresas e res-
tantes entidades envolvidas.
• Avaliar a qualidade da formação e contribuir para o deba-
te e reflexão sobre a qualificação profissional e conse-
quente interação entre o ensino profissional, ensino tec-
nológico, formação profissional e mercado de trabalho.
• Estimular o ajustamento entre as qualificações e o
mercado de emprego, proporcionando às empresas a
oportunidade de participarem ativamente na formação
profissional, através da oferta de formação em contex-
SKILLSPORTUGAL – campeonato das profissões 2
to de trabalho, e de recrutarem jovens profissionais de
excelência.
• Divulgar a oferta formativa nacional junto de públicos
em fase de decisão vocacional.
• Sensibilizar os jovens, famílias, empresários e popu-
lação ativa em geral (empregados ou desempregados)
para a importância da formação como fator de aprendi-
zagem ao longo da vida, de desenvolvimento pessoal,
de promoção da inovação, de crescimento económico
e coesão social. •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 45
 2 DOSSIER | SKILLS

WORLDSKILLS
Ciclos que se cruzam
com jovens de excelência
SANDRA SOUSA BERNARDO, TÉCNICA SUPERIOR ASSESSORA
(MARKETING E COMUNICAÇÃO DA WORLDSKILLS PORTUGAL), IEFP, I.P.

CEDIDAS PELO IEFP, I.P.

46 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

O
movimento WorldSkills está em franco desenvol-
vimento, tendo sofrido recentemente um rápido
crescimento: novos membros, novos projetos,
novos parceiros. Nunca antes se verificou um interesse
tão profundo pelos valores que a WorldSkills promove e
defende, desde o setor da indústria passando pelos go-
vernos, economistas, meios de comunicação social e so-
ciedade em geral.
As competências estão no núcleo da ação da WorldSkills e
estas moldam as pessoas e as sociedades, constituindo-
-se como um pilar fundamental para a vida em todas as
suas dimensões. «Tudo, desde as casas em que vivemos
até às sociedades que criamos, é o resultado das com-
petências. Estas permitem que os indivíduos cresçam e
2
tragam propósito às pessoas. São a força motriz por de-
trás de carreiras e empresas bem-sucedidas, indústrias e
economias prósperas. As competências mantêm o mundo
a girar.» (WorldSkills Internacional.)
Mas para que a roda gire é preciso que todas as peças da
engrenagem estejam em sintonia e operem em conjunto.
É este trabalho de coordenação, na maior parte das vezes
não visível, que tem permitido o crescimento paulatino da
WorldSkills Portugal em diferentes eixos de ação, que ex-
travasam os Campeonatos das Profissões.
Tudo começa com a preparação do campeonato nacional.
Tendo como objetivo principal sensibilizar jovens, famí-
lias, entidades empregadoras e cidadãos em geral para
a importância da qualificação profissional de excelência
como altamente promotora da empregabilidade e como
força motora de produtividade e do crescimento econó-
mico, tem-se vindo a apostar na descentralização destes
eventos nas várias regiões do país. Com o mesmo foco na
importância que se confere à promoção de novas profis-
sões de base tecnológica, estratégicas para o desenvolvi-
mento da economia, designadamente em áreas de bens e
serviços transacionáveis, bem como no estímulo do ajus-
tamento entre as qualificações e o mercado de emprego,
proporcionando às empresas a oportunidade de partici-
parem ativamente na formação profissional, através da
oferta de formação em contexto de trabalho, e de recru-
tarem jovens profissionais de excelência, o processo de
identificação das profissões a concurso está sujeito a um
conjunto de considerações prévias.
Procura-se, assim, além das profissões que correspon-
dem às existentes nas competições internacionais
(WorldSkills e EuroSkills), numa lógica de continuidade
nas etapas subsequentes, integrar profissões que são
consideradas importantes do ponto de vista da promoção
das qualificações a nível nacional e/ou regional. É nesta
busca de convergência que os serviços regionais e locais
do Instituto do Emprego e Formação Profissional assu-
mem um papel de relevo procurando dar destaque a pro-
fissões emergentes e que se constituem como uma mais-
-valia para o crescimento económico da região. Chama-se,
assim, a atenção para aquelas profissões que, não sendo
ainda objeto de muita procura por parte dos jovens, são
identificadas pelos empregadores como estando em fran-
ca expansão e com necessidade de mão-de-obra qualifi-
cada. É também nesta dimensão de ajustamento entre a
procura e a oferta de emprego que a WorldSkills dá cartas.
Apesar do crescimento verificado nos últimos anos, tendo
o número de concorrentes duplicado de cerca de 200 em
2012, no Campeonato Nacional de Faro, para quase 400
no Campeonato Nacional de Coimbra em 2016, verifica-se
ainda a necessidade de apostar na promoção e divulga-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 47
 2 DOSSIER | SKILLS

ção destes eventos junto do público ao qual se destinam.

Estas ações de divulgação passam por centros de for-
mação profissional e outras entidades formadoras e têm Nunca antes se verificou
vindo a dar resultados positivos, traduzidos no aumen- um interesse tão profundo
to da procura de mais informação e nas inscrições que
se seguem a cada uma das sessões. Nestas sessões, a pelos valores que a
WorldSkills Portugal aposta na motivação por pares, ou WorldSkills promove e
seja, utiliza o exemplo de jovens, ex-concorrentes em fa- defende. Desde o setor da
ses internacionais dos campeonatos e naquilo que esta
experiência trouxe de significativo para as suas vidas a indústria, passando pelos
nível profissional e pessoal. Promove-se, deste modo, governos, economistas,
uma identificação quase imediata uma vez que se trata meios de comunicação
de jovens na mesma faixa etária, que optaram pelo mes-
mo tipo de percurso de qualificação. Os ex-concorrentes social e sociedade no geral
permitem que outros jovens se revejam neste percurso
de sucesso e acreditem que, também eles, poderão vir a
estar um dia entre os melhores da sua profissão e a repre-
sentar Portugal em eventos internacionais.
Uma das etapas prévias a um campeonato nacional é
a etapa de pré-seleção. Este modelo, introduzido pela

48 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
WORLDSKILLS – ciclos que se cruzam com jovens de excelência 2

«As competências
são a moeda global
do século xxi»
Angel Gurria, secretário-geral da OCDE

WorldSkills Portugal em 2014, veio permitir uma parti-

cipação alargada de todos os operadores de educação
e formação profissional envolvendo um número muito
significativo de participantes, rondando os 1500, confe-
rindo, assim, novo ímpeto à participação dos jovens, dos
formadores e das próprias entidades formadoras.
Por se realizarem em escolas com oferta de formação
profissional, escolas profissionais, centros de emprego e
formação profissional, centros de formação profissional
de gestão participada, entidades formadoras certificadas
e até em empresas, estas provas de pré-seleção são um
veículo privilegiado para disseminar os valores e a visão
da WorldSkills Portugal.
Mas não é só na dimensão do crescimento que esta etapa
é valorada. Permite ainda aos jovens testarem o seu nível
de competência e preparação para o exercício da profis-
são e garantir que os participantes na etapa seguinte, os
campeonatos regionais, possuem os requisitos neces-
sários e estão em condições de completar as provas nas
profissões a que concorrem.

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 49
 2 DOSSIER | SKILLS

«A WorldSkills
Internacional é a voz
coletiva para a excelência
das qualificações e para
o desenvolvimento de
carreiras profissionais,
tecnológicas e orientadas
para bens e serviços
transacionáveis em todo
o mundo. Aumentamos
a consciencialização,
entre os jovens, os
pais, os educadores
e os empregadores,
de que o nosso futuro
depende de um sistema
eficaz de competências
e qualificações. Hoje,
a WorldSkills, e os
seus países membros,
representa mais do que
essas competências e
qualificações, num trabalho
conjunto de preparação
do capital humano para as
profissões do futuro»
WorldSkills Internacional

Chegados à fase regional, o objetivo começa a focalizar-

-se na identificação dos melhores candidatos, por região
e por profissão. São estes, afinal, que vão disputar no
pódio a luta pelo ouro, prata e bronze. Começa aqui uma
competição saudável entre as sete regiões de Portugal –
Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Aço-
res e Madeira – que procuram, por um lado, conferir maior
visibilidade à formação profissional que promovem e, por
outro, aproveitar a oportunidade para aferir a qualidade e

50 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 WORLDSKILLS – ciclos que se cruzam com jovens
Nome
de excelência
do artigo 2

Estes são os 28 jovens campeões que construíram o ciclo

2015/2015, num percurso que começou em Coimbra e, para
a maior parte deles, terminou em Abu Dhabi.

Para eles, Skillianos para sempre, a merecida homenagem e

reconhecimento:

Nome Profissão Entidade Formadora EuroSkills, WorldSkills, Abu

Gotemburgo 2016 Dhabi 2017
Edgar Lucas Polimecânica CENFIM – Núcleo de Torres Vedras não participou concorrente
Fábio Oliveira Medalha de Excelência
Mecatrónica CENFIM – Torres Vedras
Pedro Sardinha Medalha de Excelência
Medalha de
Renato Carvalho Desenho Industrial – CAD CENFIM – Porto Medalha de Bronze Excelência
IEFP – Centro de Emprego e Formação
Flávio Pereira Fresagem CNC concorrente
Profissional de Águeda
Leonardo Domingos Soldadura Solisform, Formação e Serviços concorrente não participou
Filipe Vasconcelos Web Design ENTA – Escola de Novas Tecnologias dos Açores concorrente não participou
Rodrigo Farias Instalações Elétricas ENTA – Escola de Novas Tecnologias dos Açores concorrente

José Pedro Pereira Eletromecânica Industrial CENFIM – Trofa Medalha de Prata e Medalha de
Melhor da Nação Excelência
Bruno Baixinho concorrente não participou
Robótica Móvel ATEC – Academia de Formação
Daniel Salgueiro concorrente não participou
João Paiva não participou concorrente
Robótica Móvel ATEC – Academia de Formação
Miguel Magro não participou concorrente
Nuno Mateus Marcenaria CENCAL concorrente não participou
IEFP – Serviço de Formação Profissional de
Eduardo Neves Cabeleireiro concorrente não participou
Tomar
IEFP – Centro de Emprego e Formação
Suzana Dias Esteticismo concorrente não participou
Profissional da Guarda
Ticiana Valente concorrente não participou
Tecnologias da Moda MODATEX – Porto
Joana Queirós concorrente

Tecnologia Automóvel Medalha de

Admário Ferreira (Mecatrónica) CEPRA – Pedrouços Medalha de Prata Excelência e Melhor
da Nação
IEFP – Centro de Emprego e Formação
Luís Silva Cozinha concorrente não participou
Profissional de Aveiro
Bruna Silva Serviço de Mesa e Bar Escola de Hotelaria e Turismo do Douro – Lamego concorrente não participou
IEFP – Centro de Emprego e Formação
Sara Gomes Serviço de Mesa e Bar não participou concorrente
Profissional de Aveiro
Refrigeração e IEFP – Centro de Emprego e Formação
Bruno Dias concorrente
Climatização Profissional de Coimbra
Gestão de Redes
Luís Vieira ENTA – Escola de Novas Tecnologias dos Açores concorrente
Informáticas
IEFP – Serviço de Formação Profissional de
Vanessa Santos Receção Hoteleira Tomar concorrente não participou

Ana Sofia Pombo Joalharia CINDOR não participou concorrente

Lionel Dias Pintura Automóvel CEPRA – Pedrouços não participou concorrente
Emanuel Sousa Desenho Gráfico CINDOR não participou concorrente

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 51
 2 DOSSIER | O FUTURO DAS PROFISSÕES
eficácia da formação profissional ministrada com o obje-
tivo de, subsequentemente, induzir fatores de crescente
qualidade, inovação e criatividade nos processos de ensi-
no-aprendizagem.
Quando falamos dos campeonatos nacionais, e indepen-
dentemente da região em que estes decorrem, a World-
Skills Portugal procura que as repercussões sejam o mais
globais possível. O investimento que é feito por todos os
intervenientes assim o exige. Não obstante, importa ter
presente que um campeonato pode, e deve, constituir-se
como um forte impulso à (re)qualificação de recursos do
local onde o mesmo se realiza, pelo que, além da projeção
nacional que se confere às várias edições, haverá sempre
uma dimensão local/regional muito significativa na qual
se aposta, numa lógica de combate à centralização e de
promoção da discussão de estratégias de desenvolvi-
mento territorial.
É neste contexto que, além da competição, são promovi-
dos eventos, atividades e produtos que, direta ou indireta-
mente, visam, em simultaneidade ou complementaridade,
divulgar os campeonatos e subsequentemente o seu obje-
tivo principal – promover a excelência da qualificação pro-
52 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
fissional. São projetos que, na sua generalidade, e por força
da sua natureza, envolvem um conjunto de parceiros que,
de forma articulada, sustentam a amplitude, investimento
e abrangência de uma edição, ultrapassando deste modo,
no tempo, o calendário de um campeonato e concorrendo
para os objetivos estratégicos da WorldSkills Portugal.
Procura-se, em síntese, e paralelamente com os objetivos
já referidos, promover confiança, credibilidade e reconhe-
cimento social junto dos agentes económicos, patrocina-
dores, educadores, familiares dos jovens e junto do públi-
co mais difícil – os jovens.
No ciclo que se concluiu com o Campeonato do Mundo das
Profissões, WorldSkills Abu Dhabi 2018, no passado mês
de outubro de 2017, a WorldSkills Portugal contou, na fase
nacional, com 386 concorrentes em 43 profissões. Em
cada profissão, um júri especializado avaliou as compe-
tências técnicas dos concorrentes, a sua capacidade de
planeamento e organização das tarefas, o rigor profissio-
nal, a gestão do tempo e o autocontrolo competitivo e, no
final, atribuiu 139 medalhas aos melhores classificados.
Destes, 50 concorrentes obtiveram medalhas de ouro.
E foi aqui que se começou a criar uma nova equipa de cam-
 WORLDSKILLS – ciclos que se cruzam com jovens
«Inspirar as gerações
mais novas a atingir o seu
potencial máximo»
WorldSkills Internacional
peões. De jovens com sonhos e expetativas comuns. De
jovens que dão a cara pelas suas opções profissionais no
início de um percurso que, aos poucos, vai ganhando con-
sistência e orgulho por aquilo que significa e encerra. É aqui
que a equipa se constitui, entendendo-se por «equipa» um
conjunto de pessoas com um objetivo comum para o qual
todos trabalham em simultâneo e com espírito de entreaju-
da – concorrentes, jurados, representantes das respetivas
entidades formadoras, elementos da WorldSkills Portugal.
Todos em sintonia e com esse objetivo comum: o de mos-
trar que Portugal tem competência.
Para muitos dos jovens que conquistam um lugar na equi-
pa que vai representar Portugal num campeonato inter-
nacional, este é um momento de reconhecimento do seu
valor mas, paralelamente, de ansiedade e de inseguran-
ça. O facto de terem obtido a medalha de ouro em territó-
rio nacional não consegue, em alguns casos, minimizar a
pressão que sentem face a estas novas etapas. O próprio
facto de se ausentarem do seu ambiente familiar consti-
tui um fator de perturbação que importa ser trabalhado.
É por haver consciência desta situação, e das consequên-
cias negativas que a mesma pode ter na prestação dos
jovens, que a participação num campeonato internacio-
nal é antecedida de momentos de preparação técnica e
pessoal. Trabalham-se questões como a promoção do
autoconhecimento (resiliência e iniciativa); a promo-
ção do trabalho em equipa (entre jurado e concorrente
e entre concorrentes); tomadas de decisão em situação
de stress; o compromisso individual e de equipa na re-
presentação de Portugal; a promoção da motivação e da
autoconfiança individual; o desenvolvimento de compe-
tências de orientação para os resultados, planeamento,
comunicação, capacidade de decisão, criatividade, proa-
tividade e iniciativa, entre outros – aspetos que, numa
competição internacional, podem fazer a diferença na
atitude de um concorrente mas também dos jurados.
No ciclo de campeonatos que agora se encerra, e pela
primeira vez, adotou-se um modelo de treino em regime
de internato. O facto de se reunir toda a equipa no mes-
mo espaço, durante um conjunto de dias, permite gerir a
Nome
de excelência
do artigo 2
preparação de um modo mais eficaz e obter resultados a
todos os níveis. Não só ao nível do desempenho técnico,
mas também ao nível do reforço da confiança entre con-
correntes e jurados e do fortalecimento da autoestima e
do espírito de equipa.
A instalação dos postos de trabalho, correspondentes às
profissões em que Portugal participa nos campeonatos
internacionais, permite aos concorrentes executarem as
provas com base nos standards da WorldSkills Interna-
cional, com tempos cronometrados e com a supervisão e
avaliação permanente dos jurados. Este tipo de prepara-
ção marca uma evolução na estratégia da WorldSkills Por-
tugal, num momento em que esta estrutura ganha mais
destaque na orgânica do Instituto do Emprego e Forma-
ção Profissional, como uma via privilegiada de promoção
da qualidade da formação profissional desenvolvida em
Portugal.
Após a passagem por um campeonato internacional, e in-
dependentemente das classificações obtidas, todos os
concorrentes são entendidos como campeões. Chegarem
até aqui, principalmente quando se trata de um campeona-
to do mundo, implica passar por vários processos de sele-
ção rigorosos e exigentes, com esforço e sacrífico pessoal
e com milhares de horas de treino. É por este motivo que a
WorldSkills Portugal afirma que os Campeonatos das Pro-
fissões representam a formação profissional ao seu mais
alto nível, nos quais só participam os melhores. •
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 53
 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
ENTREVISTA
A aprendizagem é algo
que tem de estar sempre
a acontecer
RITA VIEIRA, JORNALISTA RITA VIEIRA
N um mundo cada vez mais competitivo, «temos de
ter a humildade de querer estar sempre a apren-
der». Quem o diz é a diretora de Recursos Humanos
do grupo Pestana.1 Segundo Isabel Heitor, isto é algo que
nem sempre acontece no nosso país e que é essencial que
comece a ser incutido. Além disso, sublinha ainda que os
cursos de formação profissional têm de passar a ser enca-
rados como uma primeira opção para os mais novos. Mas
para isso, acrescenta, tem de haver uma mudança de men-
talidades.
Revista Dirigir&Formar: Atualmente o mundo empresarial
é extremamente competitivo, global e rápido. As empresas
precisam de apostar no talento das pessoas para garanti-
rem um nível elevado de competitividade e inovação. Por
isso, cada vez mais é fundamental uma boa gestão de re-
cursos humanos (RH), entendida como a capacidade de
encontrar soluções que maximizam o retorno da organiza-
ção, através da gestão efetiva do capital humano. Concor-
da com esta afirmação?
Isabel Heitor: Sim, concordo. Em Portugal ainda mais, por-
que nós não estamos preparados apesar de já termos um
nível de exigência semelhante ao de outros países, nomea-
damente ao nível do turismo. Por exemplo, um turista eu-
ropeu quando vem a Portugal, espera um bom nível de ser-
viço porque está a pagar em muitos locais ao mesmo nível
de preço que no seu país. Sucede que em muitos locais não
estamos ainda preparados para prestar esse serviço. Ser
simpático é muito importante, ajuda muito, o espírito por-
54 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
tuguês de estar sempre disponível e sorridente também,
mas para um cliente exigente que paga muito e que repara
em todos os pormenores não chega. E não estamos prepa-
rados a vários níveis.
Temos de ter a humildade de querermos estar sempre
aprender. Comecei a trabalhar na área dos recursos huma-
nos há vinte e cinco anos e recordo-me que, quando come-
cei a fazer recrutamento de pessoas, na altura na área do
retalho, o nível de escolaridade obrigatório não era o que é
hoje, ter pessoas com o 12.º ano era sinónimo de ter pes-
soas com muitas habilitações literárias. Hoje em dia, a rea-
lidade mudou muito em Portugal e temos muitas pessoas
que não querem fazer certos trabalhos por considerarem
que com o 12.º ano não devem «servir à mesa». Eu traba-
lhei durante alguns anos em Paris e tive a oportunidade de
conviver com uma cultura completamente diferente e, por-
tanto, isto agora choca-me um bocadinho mais. Lá, natural-
mente, há muitos emigrantes a trabalharem na hotelaria,
mas os franceses já ultrapassaram estas questões da edu-
cação e da formação. Sou apaixonadíssima por Portugal,
mas é a nossa realidade. Infelizmente, nós ainda estamos
muito longe de atingirmos o nível de outros países, de con-
seguirmos acompanhar e de termos o tal nível elevado de
competitividade e inovação.
A aprendizagem é algo que tem de estar sempre a aconte-
cer, tem de estar no nosso ADN, tem de ser incutida, tem
de estar dentro de nós. A aprendizagem é, de facto, para
a vida. Não pode ser apenas um chavão. Acresce ainda o
facto de não podermos estar sempre à espera que sejam

apenas as empresas a dar formação, também temos de ser
nós próprios a ir à procura. As novas gerações já têm muito
mais este espírito, esta vontade de aprender, de ter expe-
riências porque já perceberam isso. Portanto, para sermos
mais competitivos temos de nos esforçar para sabermos
mais. Aquela máxima «saber não ocupa lugar» é mesmo
verdade.
D&F: A formação profissional pode desempenhar um papel
fundamental?
I.H.: Muito importante. A conjugação entre a educação e a
formação, entre as escolas e os centros de formação pro-
fissional, é muito importante. Eu sempre fui defensora des-
ta conjugação.
D&F: Alguém disse que um bom gestor de RH tem de
«gostar de pessoas». Um gestor de RH que não gosta de
pessoas é como um chefe que não gosta de comida. Quer
comentar? Qual é, na sua opinião, o papel do gestor de RH
numa organização?
I.H.:Temos de ser apaixonados pelo que fazemos na vida.
E se trabalhamos com pessoas, tal como o chefe trabalha
com comida, é bom que se goste. O papel do gestor é cada
vez mais o de ser alguém transformador, como um maes-
tro que consegue fazer com que os diversos instrumentos
estejam em harmonia no tempo perfeito. É esse o segredo.
Conseguir de um modo subtil, discreto (porque o palco é
dos músicos), ser capaz de transformar carreiras, permitir
diferentes experiências e, sobretudo nos dias de hoje, ter
3
“A aprendizagem é
algo que tem de estar
sempre a acontecer, tem
de estar no nosso ADN,
tem de ser incutida, tem de
estar dentro de nós.
A aprendizagem é, de facto,
para a vida. Não pode ser
apenas um chavão”
agilidade e flexibilidade para dar oportunidade de desenvol-
vimento às pessoas, de «tocarem» diferentes instrumen-
tos.
D&F: Que importância atribui à gestão de equipas numa or-
ganização? Qual o papel da formação profissional?
I.H.: Para mim, a inteligência coletiva é muito importante.
A liderança coletiva. A formação assume-se como um pilar
fundamental e estruturante para a progressão e o cresci-
mento dessas equipas.
D&F: Qual a importância de um plano de formação na ges-
tão de RH? Como se estrutura?
I.H.: Hoje em dia, as pessoas precisam imenso de experiên-
cias. A velocidade a que as coisas acontecem é tão grande
que precisam de sentir apoio e que, se algo acontecer, es-
tão preparadas. Mesmo os jovens que acham que nada lhes
vai acontecer, estão sempre à procura de imensas forma-
ções, imensas experiências.
O plano de formação é importante pois sem este não há
um foco nem uma direção. Estrutura-se em função de uma
visão, de uma ambição, de um desejo e de uma estratégia
bem definida, articulada com os recursos de que a empresa
possa dispor. Isto não quer dizer que depois esse plano de
formação global não se possa ajustar à medida das neces-
sidades pontuais que vão surgindo, porque há uma coisa
que é muito importante que é o acompanhamento, o men-
toring, o coaching, que se vai podendo fazer a cada pessoa.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 55
 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE GESTÃO
D&F: Da sua experiência, que balanço faz da qualificação
inicial para jovens existente no nosso país? O que falta ain-
da fazer?
I.H.: Da minha experiência, a qualificação inicial é crucial
não só para os jovens como para as empresas e para o
próprio país. Primeiro, é necessário que haja um esclareci-
mento acerca da importância da mesma, desmistificando a
ideia que existe à volta destas formações e do valor destes
jovens. Além disso, e não menos importante, há um longo
caminho a percorrer para a dignificação das profissões.
Em Portugal há imensas profissões de que todos falamos
porque precisamos, valorizamos porque pagamos um valor
elevado por serem escassas, mas em que medida reconhe-
cemos verdadeiramente esses profissionais? Lembro-me
que quando comecei a trabalhar havia os chamados cursos
técnico-profissionais, depois deixou de haver e achei uma
pena que tivessem terminado. Primeiro porque nem todas
as pessoas têm de tirar uma licenciatura, depois porque há
muitas que têm imenso talento para fazerem formações
mais técnicas e essas pessoas são precisas.
Hoje em dia, por exemplo, as Escolas de Turismo de Portu-
gal, que são ótimas, têm uma boa preparação inicial para
os jovens. Nós temos muitos alunos que vêm estagiar con-
nosco que têm essa qualificação inicial e alguns acabam
por ficar cá a trabalhar.
D&F: Sente que a preparação dos alunos é boa?
I.H.: Os que vêm de algumas escolas sim, de outras, nem
tanto. Mas o problema não é só das escolas. Nós, no gru-
po Pestana, temos vindo a trabalhar em conjunto com as
escolas para que haja uma aproximação maior entre a rea-
lidade empresarial e a educativa. Temos alguns colabora-
dores que dão aulas nas escolas e outros que são tutores
de alguns alunos, o que lhes permite fazerem a parte prá-
tica aqui nas Pousadas de Portugal, e recebemos também
cerca de mil alunos por ano para estagiarem connosco.
Neste momento, temos parcerias com muitas escolas de
Hotelaria e Turismo de Portugal com o objetivo de melhorar
esse trabalho, além de protocolos com o Ministério da Edu-
cação e com o Ministério da Economia. Portanto, tem vindo
a ser feito um trabalho muito intenso porque acreditamos
que algo tem e pode ser feito. Mas há escolas fantásticas
e muitas pessoas neste país empenhadas em colaborar e
fazer mais e melhor e que partilham dos nossos valores.
Por exemplo, nas Pousadas de Portugal recebemos alunos
da Escola de Hotelaria e Turismo de Portugal, dos cursos
de formação On-The-Job que foram especialmente conce-
bidos para qualificar jovens com conhecimentos concretos
da nossa realidade e das exigências funcionais e operacio-
nais da profissão que vão abraçar. Em França, esta forma-
ção em alternância é algo muito comum e estende-se ao
56 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
ensino superior, o que permite que a entrada no mercado
de trabalho seja facilitada. Os alunos praticam muito mais
e têm um contacto muito mais próximo com as empresas
e, sobretudo, com a realidade. São estas boas práticas que
vemos noutros países e que algumas escolas já estão a im-
plementar no nosso país.
D&F: Considera que a formação na área das competências
transversais deve ser a grande aposta? Acha que a quali-
ficação inicial de jovens pode ganhar com parcerias entre
as empresas e os centros de formação profissional e/ou as
escolas profissionais, nomeadamente na definição de per-
fis de competências, dos conteúdos programáticos e dos
estágios curriculares?
I.H.: As parcerias entre as empresas e as escolas profissio-
nais são imprescindíveis. As empresas evoluem e as profis-
sões também, pelo que há um ganho enorme nas parcerias
que se estabelecem. Sinto-me uma privilegiada por ter uma
excelente relação com boas escolas, nomeadamente com
as Escolas de Turismo de Portugal e com a Universidade
Europeia. O Turismo de Portugal tem sido um parceiro im-
portantíssimo para as Pousadas de Portugal.
Acho que a área das competências transversais é uma área
onde também podemos evoluir. Independentemente do
setor de atividade, hoje em dia o grau de exigência é tão
grande que é inconcebível estarmos numa organização e
não sabermos um bocadinho de cada coisa.
Seria inconcebível que eu, por exemplo, enquanto diretora
de Recursos Humanos, estivesse numa organização e não
percebesse nada da área financeira ou da área de negócio.
Algo que, se calhar, há vinte anos seria perfeitamente acei-
tável.
D&F: A formação profissional é ainda, muitas vezes, vista
pelos jovens como uma segunda opção. Acha que, a curto
prazo, poderá ser encarada como uma primeira via?
I.H.: Provavelmente, temos de desmistificar primeiro al-
guns mitos à volta destas ideias. Acho que sim, a formação
profissional tem de começar a ser encarada como uma pri-
meira via e há países onde isso já acontece, onde já há essa
cultura, e eu vejo-o de uma forma muito positiva. Considero
o saber-fazer necessário e muito dignificante. Hoje em dia,
passámos do oito para o oitenta; ainda há pouco tempo di-
ficilmente se acedia ao ensino superior, e neste momento
ainda há quem não perceba a importância da profissionali-
zação. Temos ainda muitos desafios pela frente! Ainda te-
mos um longo caminho a percorrer no sentido da mudança
de mentalidades.
D&F: Está, neste momento, a decorrer o Campeonato do
Mundo das Profissões, WorldSkills Abu Dhabi 2017.2 Portu-
 A aprendizagem é algo que tem de estar sempre a acontecer 3

gal, através do IEFP, I.P., é membro fundador da WorldSkills

International e da WorldSkills Europe, estando representa-
do nos Comités Estratégicos e Técnicos das referidas orga- “O papel do gestor é cada
nizações. Conhece os Campeonatos das Profissões? vez mais o de ser alguém
I.H.: Sim, nunca participei e sempre quis participar. Houve
um ano que o Campeonato das Profissões decorreu aqui em
transformador, como um
Portugal, na Feira Internacional de Lisboa, e eu pensei que maestro que consegue
iria conseguir participar. Quando trabalhava na ACCORHo- fazer com que os diversos
tels, fazíamos um concurso internacional de profissões to-
dos os anos que envolvia mais de oitenta países. Trata-se
instrumentos estejam
de uma forma de valorizar as profissões e os profissionais. em harmonia no tempo
Sempre gostei muito dessas iniciativas. Estes eventos são perfeito. É esse o segredo”
muito importantes para valorizar as pessoas, por um lado,
e para a partilha de conhecimentos, por outro. Infelizmen-
te, estes eventos não tem grande projeção, fala-se muito
pouco deles. No ano em que o WorldSkills teve lugar aqui
em Portugal, nunca ouvi falar em nada, muito menos na te-
levisão. Eu adorava participar num evento desses.

D&F: No âmbito da sua atividade enquanto de gestora de

RH tem, ou teve, alguma parceria com o IEFP, I.P.? Qual o
balanço que faz?
I.H.: Sim, nós temos uma parceria com o IEFP, I.P., através
da qual recebemos alguns alunos. Neste momento temos
vários a trabalhar connosco. O balanço desta parceria é po- 1
Isabel Heitor, diretora de Recursos Humanos para as Américas&Europa e
sitivo. No entanto, só não temos mais alunos vindos atra- Pousadas de Portugal, do Pestana Hotel Group.
vés do IEFP, I.P. porque os processos são muito morosos. • 2
https://worldskillsportugal.iefp.pt

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 57
 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
JOVENS NEET.
UMA PRIORIDADE
VITOR MOURA PINHEIRO, DIRETOR-EXECUTIVO GARANTIA JOVEM
OPTICREATIVE
A
pesar da evolução positiva dos últimos anos a
União Europeia defronta-se ainda com uma eleva-
da taxa de desemprego juvenil, situação que acar-
reta graves consequências sociais e económicas para os
jovens afetados, as suas famílias, os seus países e a Eu-
ropa no seu todo.
Portugal chegou a ter, no início de 2013, mais de 42% de
taxa de desemprego jovem, estando agora nos 24,2% (da-
dos do terceiro trimestre de 2017 – INE). No âmbito da
iniciativa Europa 2020, a criação de emprego foi assumi-
da como uma das prioridades da estratégia para um cres-
cimento inteligente, sustentável e inclusivo, consideran-
do-se que a nova agenda deverá contribuir para permitir
58 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
alcançar níveis elevados de emprego, de produtividade e
de coesão social.
A Comissão Europeia (CE) propôs, neste contexto, vários
objetivos a alcançar em 2020 por via daquela estratégia,
sendo oportuno destacar quatro deles:
• 75% da população com idade compreendida entre 20 e
64 anos deverá estar empregada.
• 3% do PIB da UE deverá ser investido em investigação e
desenvolvimento.
• A taxa de abandono escolar precoce deverá ser inferior
a 10%.
• Pelo menos 40% da geração mais jovem deverá dispor
de um diploma de ensino superior.

Os grandes objetivos a atingir à escala europeia e as ini-
ciativas propostas pela CE vinculam simultaneamente a
UE e os Estados-membros, requerendo-se, nos vários pa-
tamares de intervenção e decisão, ao nível europeu e no
seio de cada país, uma resposta coordenada e uma abor-
dagem colaborativa que garanta a participação de todos
– autoridades, parceiros sociais, empregadores e socie-
dade civil – na concretização deste novo grande desígnio
para a Europa e para cada um dos países que a integram.
Neste contexto, a União Europeia, dando expressão à sua
preocupação, decidiu, em abril de 2013, recomendar aos
Estados-membros, por via do Conselho Europeu, a ado-
ção de uma Garantia Jovem. A Garantia Jovem (GJ) tem
3
A Garantia Jovem (GJ) tem
como desígnio que todos
os jovens até aos 25 anos
possam receber uma oferta
de emprego, formação,
educação ou estágio
nos quatro meses após o
momento em que deixem a
educação formal ou fiquem
desempregados
como desígnio que todos os jovens até aos 25 anos pos-
sam receber uma oferta de emprego, formação, educação
ou estágio nos quatro meses após o momento em que dei-
xem a educação formal ou fiquem desempregados.
Portugal deu cumprimento à referida recomendação e
implementou a Garantia Jovem através da Resolução do
Conselho de Ministros n.º 104/2013, de 31-12-2013.
Considerando, à data, o facto de Portugal ter uma taxa de
desemprego entre os mais jovens acima da média da Eu-
ropa, decidiu-se alargar a faixa etária dos jovens abrangi-
dos até aos 30 anos.
A Garantia Jovem pretende ser mais do que um simples
conjunto de medidas ativas de apoio ao emprego, educa-
ção e formação. Pretende-se que seja uma metodologia
de intervenção assente em ideias-chave como a melhor
planificação do ciclo de estudos para o mercado de traba-
lho bem como o combate aos ciclos de inatividade. Nesta
lógica, considera-se fundamental ativar formas que, do
ponto de vista operacional, possam orientar os jovens a
fazerem uma melhor planificação do seu ciclo de estu-
dos para o mercado de trabalho. O papel dos processos
de orientação e informação profissional aos jovens é cru-
cial muito devido à velocidade de evolução do mercado de
trabalho.
Combater a inatividade, por outro lado, também se afigu-
ra fundamental uma vez que, quanto mais frequentes e
mais duráveis forem os ciclos de inatividade dos jovens,
mais difícil se torna a sua inserção ou reinserção profis-
sional. A este propósito, foi lançado recentemente pela
Comissão Europeia o projeto Corpo Europeu de Solida-
riedade, com o objetivo principal de reforçar a coesão e
fomentar a solidariedade na sociedade europeia. Tal per-
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 59
 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO
mitirá a um maior número de jovens participarem num
amplo leque de atividades de solidariedade, quer através
de voluntariado, quer de aquisição de experiência profis-
sional na ajuda da resolução de situações difíceis em toda
a Europa. O Corpo Europeu de Solidariedade apoiará as au-
toridades e os organismos nacionais e locais, as organi-
zações não governamentais e as empresas na procura de
soluções para vários tipos de problemas e de crises, bem
como os jovens participantes. O Corpo Europeu de Solida-
riedade fundar-se-á no valor da solidariedade e, de acordo
com o estabelecido na declaração de missão, reunirá os
jovens para construir uma sociedade mais inclusiva, que
apoie as pessoas mais vulneráveis e responda aos desa-
fios da sociedade. A experiência proporcionará inspiração
e maior poder de intervenção para os jovens que desejam
ajudar, aprender e progredir.
Uma palavra também para os destinatários da Garantia
Jovem: os jovens que nem estão no mercado de trabalho
nem estão na escola. Ora, pela primeira vez cria-se uma
iniciativa que pretende apoiar os que estão «no sistema»
(aqui entenda-se como os jovens que estão inscritos
no serviço público de emprego) mas também os jovens
que estão «mais afastados do sistema». E, para estes
últimos, só com relações de proximidade alicerçadas em
maior confiança é possível obter resultados, pois estes jo-
vens, por regra, estão desacreditados desse «sistema».
Desacreditados pois, não raras vezes, entendem que ter
mais ou menos qualificações é indiferente e que procu-
rar emprego não vale a pena porque não vão conseguir.
Ora, nestes casos, temos de restaurar a confiança nestes
jovens proporcionando-lhes respostas que possam ir de
encontro às suas pretensões. A Garantia Jovem tem uma
vasta rede de parceiros (1500) no terreno que tem como
missão a sinalização e identificação destes jovens procu-
rando «trazê-los de novo para o sistema», por exemplo
proporcionando respostas formativas que lhes permitam
concluir, pelo menos, a escolaridade obrigatória.
E, neste sentido, este é um problema que tem de ser
encarado por todos: famílias, empresas, sociedade ci-
vil e Estado. Todos têm um papel importante e até com-
plementar, desde incentivando a criação de emprego e
focando-se no aumento das qualificações dos jovens, a
procurar contribuir ativamente nos processos decisórios
estimulando não só a proatividade e atitudes empreende-
doras mas também procurando quebrar «mitos» muitas
vezes enraizados que não contribuem para a serenidade
das decisões individuais.
Na sequência do que foi referido acerca dos destinatários,
a Garantia Jovem é uma metodologia de intervenção que
procura apoiar os jovens desempregados que procuram
uma resposta (corresponde essencialmente aos jovens
60 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
A Garantia Jovem pretende
ser mais do que um simples
conjunto de medidas ativas
de apoio ao emprego,
educação e formação.
Pretende-se que seja uma
metodologia de intervenção
assente em ideias-chave
como a melhor planificação
do ciclo de estudos para o
mercado de trabalho bem
como o combate aos ciclos
de inatividade
registados como desempregados no IEFP) mas também
pretende apoiar os jovens que não trabalham, não estu-
dam nem frequentam formação profissional, e que não
procuram uma resposta dos sistemas públicos de educa-
ção e/ou emprego. Não raras vezes são jovens que, por
diversas razões, abandonaram o ensino obrigatório sem
o concluir.
No segundo trimestre de 2017, segundo o INE, havia
165 900 jovens dos 15 aos 29 anos que não trabalha-
vam, não estudavam nem frequentavam formação. Des-
tes, 106 400 pretendiam uma resposta e diligenciaram
nesse sentido inscrevendo-se, por exemplo, no Serviço
Público de Emprego (IEFP, I.P.). Os restantes, cerca de
59 500, são jovens «mais afastados do sistema» e que,
por regra, não o procuram.
Foi essencialmente com o foco neste segundo grupo que
foi desenvolvido um trabalho de vários meses com a OIT
– Organização Internacional do Trabalho e um grupo de
trabalho liderado pelo IEFP, I.P., composto também por
vários organismos parceiros da Garantia Jovem. A assis-
tência técnica disponibilizada pela OIT durante o proces-
so de desenvolvimento da estratégia recebeu apoio fi-
nanceiro do Programa para o Emprego e a Inovação Social
da União Europeia – «EASI» 2014-2020.
Dada a magnitude dos problemas que a referida estraté-
gia pretende abordar, a implementação da mesma será
desenvolvida em duas fases. A primeira fase da estra-

O projeto Corpo Europeu
de Solidariedade,
recentemente lançado
pela Comissão Europeia,
permitirá a um maior
número de jovens
participar num amplo
leque de atividades de
solidariedade quer através
de voluntariado, quer de
aquisição de experiência
profissional na ajuda da
resolução de situações
difíceis em toda a Europa
tégia (2017-2018) será direcionada para: melhorar o
programa de apoio dos serviços através das parcerias já
estabelecidas, expandir a gama de serviços e programas
disponíveis e acompanhar projetos-piloto de serviços e
programas para a implementação, ao nível local, de per-
cursos que respondam às necessidades dos grupos de
jovens mais desfavorecidos. A segunda fase da estra-
tégia (2019-2020) será baseada nas práticas e lições
retiradas da implementação das atividades da primeira
fase e servirá para: procurar criar condições para expan-
dir o apoio individualizado e personalizar os percursos e
reformar as disposições institucionais e os mecanismos
de coordenação para melhorar a disponibilização de ser-
viços integrados.
O documento em causa realiza uma análise da situação
destes jovens desencorajados e mais afastados do siste-
ma. Recorrendo a várias fontes, entre os quais microda-
dos do INE e Eurostat, peritos da OIT elaboraram um levan-
tamento quando à distribuição geográfica destes jovens,
os seus níveis de ensino, bem como a sua situação e as
razões que os levam ao afastamento do mercado de tra-
balho e do sistema de ensino. No fundo, procurou traçar-
-se um perfil destes jovens NEET em Portugal.
Os grupos identificados como mais particulares e a se-
rem avaliados com perspetivas diferentes são:
• Desempregados de curta duração.
• Desempregados de longa duração.
Jovens NEET. Uma prioridade 3
• Doença e incapacidade.
• Responsabilidades familiares.
• Jovens desencorajados.
• Outros inativos.
Foi ainda identificado um grupo de jovens (desemprega-
dos não registados) que procura ativamente emprego
mas não está registado no serviço público de emprego.
Este grupo faz também parte da estratégia elaborada.
É feita uma análise às políticas de apoio existentes e suge-
rem-se pistas para colmatar eventuais lacunas identifica-
das em função, também, dos grupos atrás identificados.
Um dos pontos fortes na operacionalização da estratégia
elaborada por Portugal com a OIT é a rede de 1500 parcei-
ros para sinalização e registo dos jovens e que têm como
papel identificar e envolver os jovens que mais «afasta-
dos do sistema».
Como já se referiu, o elemento proximidade destes par-
ceiros potencia a confiança destes jovens que é, muitas
vezes, o elemento que pode fazer a diferença para concre-
tizar o apoio que lhes é proposto.
A Rede de Sinalização e Registo: aberta a todos os que
possam ter um contributo a dar relativamente à mobili-
zação dos jovens a nível local, podendo integrar organi-
zações como IPSS, ONG, juntas de freguesia, associações
juvenis, etc. (entidades com disseminação a nível de todo
o território continental).
A Rede de Orientação e Atendimento: inclui os parceiros
com um papel relevante nestas funções como os serviços
de emprego e formação profissional do IEFP, I.P, os Cen-
tros Qualifica, as Lojas Ponto Já ou os Gabinetes de Inser-
ção Profissional.
A Rede de Parceiros Nucleares: integra todos os parceiros
que operacionalizam medidas e programas para onde os
jovens são encaminhados para obterem uma resposta de
emprego, estágio, educação ou formação.
Todos estes parceiros estão ligados por uma plataforma
informática comum para facilitar a articulação e até per-
ceber o que aconteceu aos jovens que foram encaminha-
dos para respostas concretas.
Coordenação Nacional GJ – função atribuída ao IEFP, I.P, a
quem compete dinamizar as redes e gerir a plataforma in-
formática e as necessidades de formação/informação dos
parceiros em função dos níveis de responsabilidade. •
Para mais informações
sobre a Garantia Jovem:
https://www.garantiajovem.pt/
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 61
 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

Ferramentas on-line
para jovens
FERNANDO FERREIRA, ENGENHEIRO INFORMÁTICO FERNANDO FERREIRA; OPTICREATIVE

INTRODUÇÃO Depois, terá finalmente acesso ao ambiente de trabalho do

O Canva é uma ferramenta gratuita de criação de conteú- Canva.
dos gráficos, de um modo simples e bastante intuitivo.
Para quem não domina ferramentas profissionais, como o
Photoshop, esta opção poderá tornar-se uma mais-valia na
produção de conteúdos atrativos. Entre esses conteúdos, o
Canva destaca-se na criação de currículos, cartões-de-visita
e portefólios, algo muito importante para os jovens na ges-
tão da sua carreira profissional.

O AMBIENTE GRÁFICO
Para iniciar o trabalho no Canva, aceda à Internet e ao web-
site www.canva.com.
O acesso pode ser feito de diversas formas, como usar a con-
ta de Facebook, o Google ou um e-mail. Se optar pela opção
«e-mail», preencha o ecrã de registo.
CRIAR UM DESIGN
A variedade de sugestões de design é imensa e está orga-
nizada por várias temáticas, como: posts de redes sociais,
documentos, blogues e eBooks, materiais de marketing
eventos e anúncios. Iremos aqui explorar o projeto «Capa
para Facebook», o qual permitirá demonstrar a maior parte
dos comandos do Canva.

CAPA PARA FACEBOOK

Para iniciar o design de uma capa para o Facebook faça cli-
que nessa opção do Canva, obtendo várias ferramentas de
trabalho.

Antes de ter acesso ao ambiente de trabalho do Canva, infor-

me o sistema qual o tipo de utilização: profissional, pessoal
ou educacional.

Podemos aqui identificar diversas zonas de trabalho:

• Lado esquerdo, diversos botões (ferramentas): pesqui-
sar (escreva o termo a procurar, por exemplo pincel),
layouts (que pode usar e personalizar), elementos (li-

62 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 Ferramentas on-line para todos 3

nhas, grelhas...), texto, fundos (para personalizar o fundo Botão Elementos

da imagem), uploads (carregar imagens e projetos). Opte por uma das formas disponíveis e arraste para o seu
• Zona central: são apresentados os vários elementos dis- projeto. Redimensione e aplique cor ao seu gosto.
poníveis para cada uma das opções selecionadas do lado
esquerdo.
• Lado direito: é a zona de trabalho, onde vai montando os
vários elementos do seu projeto.

Botão Layouts
Aqui pode optar por um dos layouts apresentados, algo que
deve fazer antes de inserir imagens ou escrever, pois ao acio-
nar um layout perde todos os objetos inseridos na página.
Botão Texto
Botão Pesquisar Insira texto na forma acabada de criar no passo anterior.
Aqui escreva o seu termo para pesquisa e defina o local onde Para isso, basta selecionar e arrastar para o local desejado.
procurar: todos, fotos ou ilustrações. Aí pode escrever o texto e definir algumas opções:

Opte por uma das imagens apresentadas e arraste-a para a
zona de trabalho:
• Usando o rato, pode redimensionar e rodar a imagem.
• No canto superior esquerdo do ecrã possui um ícone que
lhe permite mudar as cores:
Botão Fundo
Explore os fundos vendo o efeito, para confirmar se está de
acordo com os seus gostos. Existem fundos com cores, pa-
drões e imagens.

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DIRIGIR&FORMAR N.º 17 63
 3 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS | TEMAS DE FORMAÇÃO

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lhe é explicado aquando do
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No Canva o utilizador pode
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Para gravar o trabalho tem de recorrer ao comando «Fichei- as vezes que desejar. Sempre
ro/Guardar». Para gerar um ficheiro, tem várias opções: par- que criar um novo design este
tilhar, download. irá aparecer na secção «Os
meus designs» da sua página
inicial do Canva.
CONCLUSÃO
As ferramentas de design do
Canva são muito fáceis de
usar. Só precisa, na maior
parte dos casos, de arrastar e
largar. A nossa biblioteca tem
milhares de layouts profissio-
nais e mais de um milhão de
imagens, gráficos e ilustra-
ções à sua escolha.
Contamos, num futuro artigo,
voltar ao Canva para explorar
mais algumas das suas po-
tencialidades.
Bom trabalho!

64 DIRIGIR&FORMAR N.º 17

ESTRATÉGIA DA UE
PARA A JUVENTUDE
– PRÓXIMOS PASSOS!
ANA MARIA NOGUEIRA, ANA.NOGUEIRA@EP.EUROPA.EU
A Estratégia da Juventude da UE resulta da Resolu-
ção do Conselho da União Europeia (UE) de 27 de
novembro de 2009 sobre um quadro renovado para
a cooperação europeia no domínio da juventude (2010-
-2018).1 Foi concebida para melhorar a situação dos jo-
vens na Europa, criando mais e melhores oportunidades
nas áreas da educação e mercado de trabalho e promo-
vendo a cidadania ativa, inclusão social e solidariedade.
Com estes objetivos procura desenvolver uma aborda-
gem transversal aos problemas da juventude.
Com base no primeiro quadro do método aberto de coor-
denação (OMC)2 no domínio da juventude, sustentado no
Livro Branco da UE sobre a Juventude,3 a Estratégia da
Juventude da UE vai além das iniciativas específicas da
juventude, acrescentando uma dimensão mainstreaming
com vista a vincular a política juvenil da UE para as estra-
tégias da UE nas áreas de educação, emprego e inclusão.
São dois os objetivos gerais desta estratégia:
i) Criar mais oportunidades para todos os jovens em pé
de igualdade, tanto na educação como no mercado de
trabalho.
ii) Promover a cidadania ativa, a inclusão social e a solida-
riedade de todos os jovens.
Embora respeite a responsabilidade global dos Estados-
-membros (EM) em matéria de política de juventude, eis
as principais áreas sobre as quais se pedem ações con-
cretas:
• Educação e formação.
• Emprego e empreendedorismo.
• Saúde e bem-estar.
EUROPA EM NOTÍCIAS 4
OPTICREATIVE
•
•
•
•
•
Participação.
Atividades de voluntariado.
Inclusão social.
A juventude e o mundo.
Criatividade e cultura.
Os EM foram convidados a cooperar, estabelecendo obje-
tivos comuns e possíveis iniciativas naqueles oito cam-
pos de ação, abrangendo os dois principais campos da
política de juventude (participação, atividades de volun-
tariado, cultura e criatividade, a juventude e o mundo),
bem como em áreas que abordam as questões socioeco-
nómicas (educação e formação, emprego e empreende-
dorismo, saúde e bem-estar, inclusão social).
Uma vez que o voluntariado é uma das áreas abrangidas
pela estratégia, a implementação da Recomendação do
Conselho sobre a Mobilidade dos Jovens Voluntários em
toda a UE, adotada em 20084 como a primeira recomen-
dação do Conselho no domínio da juventude, foi incluída
na Estratégia da Juventude da UE como uma das princi-
pais iniciativas a desenvolver para alcançar o progresso
nesta área.
Em 2016 foram publicados os resultados da primeira ava-
liação (avaliação intercalar) da estratégia. Até esta ava-
liação externa, o acompanhamento dos progressos na
implementação da Estratégia da Juventude da UE foi rea-
lizado internamente, através de relatórios dos Estados-
-membros e das principais partes interessadas (stakehol-
ders), resultando nos Relatórios Conjuntos da Juventude
da UE em 2012 e 2015.5
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 65
 4 EUROPA EM NOTÍCIAS

Embora as conclusões desta primeira avaliação interca-

lar sejam encorajadoras, mostrando que a estratégia tem
A Estratégia da Juventude sido relevante para as necessidades e os problemas dos
da (...) foi concebida jovens e que desencadeou mudanças concretas a nível
para melhorar a situação nacional e organizacional, alguns aspetos ainda exigem
melhorias, em particular no que diz respeito às suas prio-
dos jovens na Europa, ridades, métodos e acompanhamento, bem como à ne-
criando mais e melhores cessidade de melhor envolvimento dos responsáveis da
oportunidades nas áreas juventude a nível local e regional, melhorando igualmen-
te a coordenação da agenda da juventude a nível da UE.
da educação e mercado de Pode ainda ter mais impacto se melhor divulgada, conhe-
trabalho e promovendo a cida e compreendida pelos atores-chave.
cidadania ativa, inclusão O diálogo estrutural6 e a mobilização de fundos da UE re-
velaram-se os instrumentos mais influentes. É necessá-
social e solidariedade rio alinhar o uso de instrumentos de cooperação com os
objetivos da estratégia de um modo mais claro e eficien-

66 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 Estratégia da UE para a juventude – próximos passos! 4

te. Os principais obstáculos à eficiência da cooperação na

área da juventude na UE estão relacionados com a limita-
ção de recursos a nível nacional e ineficiência de certos
instrumentos ou atividades (grupos de peritos, relatórios
de progresso, etc.).
Recomenda-se implementar um quadro de acompanha-
mento para melhor apreender as conquistas de Estraté-
gia da Juventude da UE. Entre os EM, existe o firme in-
teresse na continuidade da cooperação em questões da
juventude a nível da União. nível nacional e ineficiência
Com base nesta avaliação e no diálogo estrutural, até à
primavera de 2018 a Comissão Europeia deverá propor as
suas recomendações ao Conselho da União Europeia so-
bre uma nova Estratégia da Juventude da UE. O Conselho
aprovará as suas recomendações em novembro de 2018,
que fixarão as políticas da UE para a juventude na próxima
década.
Tendo em conta que a futura Estratégia da Juventude da UE
está intrinsecamente ligada ao debate sobre o futuro da UE
e ao papel que os jovens têm a desempenhar, a Comissão
para a Cultura e Educação (CULT) do Parlamento Europeu
decidiu igualmente elaborar um relatório de implementa-
ção sobre a atual Estratégia da Juventude da UE.
Com a proximidade das eleições da UE (2019), assim
como o Brexit e as negociações do quadro financeiro
plurianual, é crucial que a UE assegure melhores oportu-
nidades para os jovens cidadãos da UE, uma vez que são a
faixa etária mais «amiga» da UE mas que, nas palavras de
Luis Alvarado, presidente do Fórum Europeu da Juventu-
de,7 são igualmente «a geração ansiosa, irritada e cínica
sobre o futuro que (lhes) nos é oferecido».8
O fim da atual Estratégia da Juventude da UE está próximo
e é hora de pensar como torná-la mais eficaz e ambiciosa
para o futuro – quais as áreas prioritárias, quais os me-
canismos a usar e o que melhorar para obter melhores
resultados, resumindo, numa Estratégia da Juventude
que faça verdadeiramente a diferença. A Comissão CULT
planeia adotar o relatório no início da primavera de 2018,
a fim de alimentar a Comunicação da Comissão sobre a
futura Estratégia da Juventude da UE, formulando reco-
mendações para melhor atender aos desafios existentes
e futuros. •
Os principais obstáculos à
eficiência da cooperação
na área da juventude na
UE estão relacionados com
a limitação de recursos a
de certos instrumentos
ou atividades (grupos
de peritos, relatórios de
progresso, etc.)
1
http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:-
32009G1219(01)&from=EN
2
http://eur-lex.europa.eu/summary/glossary/open_method_coordi-
nation.html?locale=pt - O êxito do método aberto de coordenação no
domínio da juventude depende do empenho político dos Estados-mem-
bros e da eficácia dos métodos de trabalho a nível nacional e da UE.
3
http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/HTML/?uri=LEGIS-
SUM:c11055&from=PT
4
http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELE-
X:32008H1213(01)&from=PT
5
http://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9630-2017-INIT/
pt/pdf
6
O diálogo estrutural (na área da juventude) é um processo consultivo,
implementado pela Comissão Europeia, que visa aumentar a cooperação
com a sociedade civil e obter contribuições dos jovens. É constituído por
um evento principal, a Conferência da Juventude da UE organizada pelo
EM que atualmente ocupa a Presidência da UE.
7
http://www.youthforum.org/european-youth-forum/
8
https://www.euractiv.com/section/future-eu/opinion/an-eu-youth-s-
trategy-that-actually-makes-a-difference/
Fontes
• European Commission, Evaluation of the EU Youth Strategy and the
Council Recommendation on the mobility of young volunteers across
the EU. Final Report, https://ec.europa.eu/youth/policy/youth-strate-
gy_en
• http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=LEGIS-
SUM:ef0022
• http://events.fb.mi.addemar.com/c118/e65067/hc4fbd/t0/s0/index.
html
• http://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=1079&langId=pt
• w, Resolution EU youth strategy, adopted by the general assembly/.
Varna, Bulgaria, 17-19 November 2016. http://www.youthforum.org/
assets/2016/11/023316_Resolution_EU_Youth_Strategy_FINAL.pdf

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 67
 4 EUROPA EM NOTÍCIAS
EUROFLASH
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)
POPULAÇÃO ATIVA
COM BAIXAS
QUALIFICAÇÕES
Mais de metade da po-
pulação ativa portuguesa
(53%) não possui o ensino
secundário, revela a Organi-
zação para a Cooperação e
Desenvolvimento Econó-
mico (OCDE). Os dados,
relativos a 2016, indicam
igualmente que em Portugal
apenas cerca de 60% dos
alunos que frequentam esse
nível de ensino conseguem
concluir os estudos sem
atrasos significativos.
68 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
SEMANA EUROPEIA
DA FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
Na segunda Semana
Europeia da Formação
Profissional, que decorre
em Bruxelas de 20 a 24 de
novembro, vão ser apre-
sentadas diversas iniciati-
vas no domínio do ensino
e da formação profissional,
especialmente dirigidas a
um mercado de trabalho
em rápida evolução. Na
primeira edição, realizada o
ano passado, e no quadro
da Nova Agenda de Com-
petências para a Europa,
a Comissão Europeia pro-
curou sensibilizar todos os
participantes para o facto
de um percurso no ensino
e formação profissional
poder ser tão interessan-
te, enquanto opção de
carreira, como a via de
aprendizagem tradicional
do ensino secundário até à
universidade.
OPTICREATIVE
MOBILIDADE
SOCIAL ABAIXO DA
MÉDIA EUROPEIA
O estudo «Mobilidade Social
em Portugal», realizado pelo
Fundação Francisco Manuel
dos Santos, revela, de um
modo claro, que a mobilida-
de social entre pais e filhos é
significativamente menor em
Portugal do que na União
Europeia (UE).
Enquanto na UE a per-
centagem de variação
no rendimento dos filhos
atribuível à escolaridade dos
pais não ultrapassa 1,9%, em
Portugal esse valor atinge
os 5,4%. Do mesmo modo, a
percentagem de variação no
rendimento dos filhos que é
explicada pela profissão dos
pais regista em Portugal um
valor muito superior ao que
se verifica no conjunto da
União Europeia, 9,4% contra
2,1%, respetivamente.
RELATÓRIO DA
OCDE ANALISA
ABANDONO
ESCOLAR
Mais de um terço dos
estudantes portugueses
abandona o ensino secun-
dário antes de o concluir.
O número é avançado
pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvi-
mento Económico (OCDE)
no relatório Education at
a Glance 2017. Segundo a
análise realizada pela OCDE,
que teve por base infor-
mação relativa a 2015, em
nenhum outro país membro
da organização se verifica
um número tão elevado de
desistências neste nível de
ensino.

2,7 MIL MILHÕES
DE EUROS PARA
O PROGRAMA
ERASMUS+ EM
2018
A Comissão Europeia tem
aberto um convite à apre-
sentação de candidaturas
para o programa Erasmus+.
Com um orçamento anual
reforçado, que deverá
aumentar, em 2018, 200
milhões de euros, o progra-
ma Erasmus+ irá continuar
a apoiar a mobilidade e a
cooperação no domínio da
educação, da formação, da
juventude e do desporto,
nomeadamente os objeti-
vos definidos nas recentes
iniciativas apresentadas
pela Comissão: «Uma nova
agenda da União Europeia
em prol do ensino superior»
e «Desenvolvimento das
escolas e um ensino da
excelência para um melhor
começo de vida».
4
CONTRATAÇÃO SISTEMA EUROPEU PROGRAMA
PÚBLICA COM DE CERTIFICAÇÃO LISBOA
NOVAS REGRAS EMPREENDE
A Comissão Europeia DISTINGUIDO COM
Com o objetivo de aumen- pretende criar uma Agência PRÉMIO EUROPEU
tar o impacto do investi- para a Cibersegurança para
mento público, a Comissão melhorar a resposta e a pre- O programa Lisboa Em-
Europeia acaba de lançar venção contra as ameaças preende, criado em 2013
uma iniciativa que preten- através das tecnologias di- pela Câmara Municipal
de tornar a contratação gitais. O objetivo passa pela de Lisboa para apoiar a
pública mais eficiente e criação de um novo sistema constituição de pequenos
sustentável, recorrendo às europeu de certificação que negócios, em parceria com
tecnologias digitais para garanta que os produtos outras entidades públicas
simplificar e acelerar os e serviços adquiridos no e privadas, foi distinguido
procedimentos nesta área. mercado digital são seguros com o prémio Best Public
A profissionalização dos e confiáveis. Administration for Startups.
adquirentes públicos e a Esta é uma das categorias
adoção de um mecanismo que estiveram a concurso
voluntário de avaliação no âmbito dos Startup Euro-
prévia de grandes projetos pe Awards, promovidos pela
no domínio das infraes- Comissão Europeia, visando
truturas são algumas das distinguir as iniciativas de
medidas propostas. promoção do empreende-
dorismo e as políticas de
boas práticas empresariais à
escala europeia.
DIRIGIR&FORMAR N.º 17 69
 5 DIVULGAÇÃO | BREVES

TOME NOTA
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR OPTICREATIVE
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)

NOVO QUADRO EUROPEU PARA Para avaliar a qualidade e a eficácia de um programa de apren-
A QUALIDADE E A EFICÁCIA DA dizagem, o quadro propõe sete critérios relativos à aprendiza-
APRENDIZAGEM gem e às condições de trabalho:

O novo Quadro Europeu para a Qualidade e a Eficácia da 1. Contrato escrito.

Aprendizagem, recentemente adotado pela Comissão Europeia, 2. Resultados de aprendizagem.
faz parte da Nova Agenda de Competências para a Europa. 3. Apoio pedagógico.
A iniciativa está igualmente associada ao Pilar Europeu dos Di- 4. Componente em contexto laboral.
reitos Sociais que consagra o direito a uma educação inclusiva 5. Salário e/ou compensação.
e de qualidade, à formação e à aprendizagem ao longo da vida. 6. Proteção social.
Com esse objetivo foram propostos 14 critérios, divididos em 7. Condições de trabalho, saúde e segurança.
dois grupos.

70 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
 5

Na proposta, são igualmente definidos outros sete critérios ESTÁGIOS DE APRENDIZAGEM

relativos a condições de ordem geral: PROFISSIONAL NO ESTRANGEIRO

1. Quadro regulamentar. A Comissão Europeia está a pré-financiar sete projetos-piloto

2. Participação dos parceiros sociais. que oferecem estágios de aprendizagem profissional de longo
3. Apoio por parte das empresas. prazo no estrangeiro. Os projetos estão a ser desenvolvidos na
4. Percursos flexíveis e mobilidade. Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Itália e Espanha, estando
5. Orientação profissional e sensibilização. igualmente envolvidos como parceiros mais 21 Estados-mem-
6. Transparência. bros da União Europeia.
7. Garantia de qualidade e acompanhamento dos percursos Recorde-se que a Comissão Europeia propôs, em dezembro
dos licenciados. de 2016, no âmbito do programa Erasmus+, o ErasmusPro,
especialmente destinado a apoiar este tipo de colocações no
Na apresentação do novo Quadro Europeu para a Qualidade estrangeiro.
e a Eficácia da Aprendizagem, o vice-presidente da Comissão O ErasmusPro ficará operacional em 2018 e irá permitir que mais
Europeia, responsável pelo Emprego, Crescimento, Investimento 50 mil jovens permaneçam entre três e doze meses noutro país
e Competitividade, referiu que «ao estabelecerem uma ligação da União Europeia. •
direta entre a teoria e a prática, entre o ensino e o mercado de
trabalho, as aprendizagens, quando eficazes e de qualidade,
ajudam os jovens a entrarem no mundo profissional e a afirma-
rem-se pessoalmente, ao mesmo tempo que reforçam o capital
humano da Europa. Este aspeto é fundamental para fomentar
a competitividade das nossas sociedades e economias», subli-
nhou Jyrki Katainen.
A proposta de um Quadro Europeu para a Qualidade e a Eficácia
da Aprendizagem está em linha com as prioridades definidas
pela União Europeia em matéria de emprego, crescimento e
investimento, e respeita a diversidade dos sistemas nacionais.
A proposta irá ser discutida pelos Estados-membros com vista à
adoção pelo Conselho, estando a Comissão Europeia a desen-
volver um novo conjunto de serviços de apoio para ajudar os
Estados-membros e as partes interessadas a aplicarem o novo
quadro mediante a partilha de conhecimentos, a criação de
redes e atividades de aprendizagem entre pares.
A iniciativa da Comissão Europeia irá também ser promovida
através da Aliança Europeia para a Aprendizagem e de campa-
nhas de sensibilização, como a Semana Europeia da Formação
Profissional que decorre entre 20 e 24 de novembro de 2017,
em Bruxelas. •

DIRIGIR&FORMAR N.º 17 71
 5 DIVULGAÇÃO | BREVES
SABIA QUE
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO (UAB), INVESTIGADOR, CONSULTOR
SÉNIOR (CEI/ISCTE-IUL; EUROPE DIRECT)
PLANO JUNCKER APOIA CRIAÇÃO
DE EMPREGO E PROGRAMA DE FORMAÇÃO
EM ÉVORA
Através de um financiamento ao abrigo do Fundo Europeu para
Investimentos Estratégicos, o Banco Europeu de Investimento
concedeu ao grupo Mecachrome um empréstimo de 40 milhões
de euros. Este montante irá apoiar a modernização e a expan-
são das capacidades de produção de componentes avançados
para motores de aeronaves e aeroestruturas em Évora.
A empresa comprometeu-se a criar um programa de formação
de trabalhadores de modo a disseminar o conhecimento desta
nova tecnologia de ponta.
O investimento na inovação, na investigação e no desenvolvi-
mento constitui um pilar fundamental do Plano de Investimento
para a Europa, ou Plano Juncker como muitas vezes é conheci-
do. «Com este empréstimo de 40 milhões de euros, o Plano de
Investimento para a Europa está mais uma vez a apoiar um pro-
jeto inovador em Portugal. Utilizando tecnologia de vanguarda,
a nova fábrica ecológica de Évora criará 300 postos de trabalho
permanentes em Portugal e será um dos principais fabricantes
de peças em titânio para motores de aeronaves na Europa»,
referiu Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação,
Ciência e Inovação.
As novas instalações da Mecachrome Aeronáutica represen-
tam uma aposta na economia verde. As tecnologias utilizadas
permitem reduzir o consumo de papel e a produção de resíduos,
facilitam os processos de reciclagem e reduzem as necessida-
des de transporte.
A empresa irá construir aerogeradores mais eficientes,
contribuindo para reduzir o peso dos aviões e o consumo de
combustível. •
72 DIRIGIR&FORMAR N.º 17
OPTICREATIVE
ÍNDICE DE CAPITAL HUMANO 2017
O Fórum Económico Mundial elaborou recentemente um novo
Índice de Capital Humano, onde analisou 130 países em quatro
áreas consideradas críticas:
• a capacidade (os investimentos na educação formal);
• a aplicação e acumulação de habilitações no trabalho;
• o desenvolvimento (a educação das novas gerações, e a
formação e a reciclagem da atual);
• o conhecimento (os conhecimentos especializados que se
utilizam no trabalho).
De acordo com os resultados obtidos na edição de 2017, a
média de aproveitamento do capital humano e os esforços
para fomentar o potencial económico das pessoas está longe
do desejável, considera a instituição com sede em Genebra, na
Suíça. Apenas 25 países analisados desenvolveram 70% ou mais
do seu capital humano.
Segundo a diretora de Educação, Género e Trabalho do Fórum
Económico Mundial, Saadia Zahidi, as estratégias dos países
podem variar em função da sua estrutura demográfica, mas
«todos correm o risco de criar gerações perdidas». Recomenda,
por este motivo, «uma focagem mais integradora e proativa na
altura de fomentar o talento para gerir a passagem da edu-
cação para o emprego, a formação contínua e a aquisição de
novas capacidades».
No estudo realizado pelo Fórum Económico Mundial, a Europa
Ocidental é, entre todas as regiões analisadas, a segunda me-
lhor posicionada no desenvolvimento do capital humano, atrás
dos Estados Unidos e do Canadá.
Na classificação por países a Noruega ocupa o primeiro lugar,
quer a nível regional como mundial, seguida da Finlândia, da
Suíça e dos Estados Unidos. Na Europa Ocidental, três países
mediterrânicos ficaram nas últimas posições. Portugal em 43.º
lugar, Espanha em 44.º, e a Grécia em 48.º lugar no índice ela-
borado pelo Fórum Económico Mundial. •
A certificação como Parceiro de Excelência para a Aprendizagem é um reconhecimento
atribuído às entidades que, no âmbito dos Cursos de Aprendizagem, desenvolvem uma
formação prática em contexto de trabalho de elevada qualidade. Assim, o IEFP dá relevo a
quem mais e melhor contribui para a formação e empregabilidade dos jovens portugueses.
Venha fazer parte da Rede e tornar-se também num Parceiro de Excelência.

Mais informações em www.iefp.pt/rede-parceiros-aprendizagem.