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INCIDÊNCIA DE FGTS
A Constituição Federal no seu artigo 37, inciso IX, dispõe sobre a possibilidade de
contratação em caráter temporário de servidor com o fim de suprir “a necessidade temporária
de excepcional interesse público”, excepcionando a regra geral da exigência de concurso público
para o ingresso no serviço público (inciso II do mesmo artigo).
Com certa frequência tem aflorado no Judiciário Capixaba demandas propostas por
contratados a título precário, onde se pleiteai o pagamento por parte do Estado de FGTS.
Como fundamento, as ações invocam que a contratação foi realizada fora da hipótese descrita
no inciso IX do art. 37 da CF, o que acarretaria a nulidade dos vínculos firmados com a
administração, pois a atividade seria inerente a cargo efetivo a ser preenchido por concurso
público, na forma dos incisos II e III do art. 37 da CF. Ainda segundo aqueles que demandam
contra o Estado, a consequência da nulidade do vínculo seria o direito do contratado receber
FGTS, com espeque no art. 19-A da Lei nº 8.036/90.
Inicialmente, as ações eram movidas na Justiça Trabalhista, onde, com amparo no enunciado
363 do TST, os juízes estavam a conferir aos autores destas ações o direito ao depósito do
FGTS. Todavia, o STF passou a se manifestar pela incompetência da Justiça trabalhista
apreciar estas causas, determinando o envio dos autos à justiça comum estadual.
1
APELAÇÃO CÍVEL Nº 2934-33.2009.8.08.0028 RELATORA : DESª. SUBSTITUTA MARIANNE
JÚDICE DE MATTOS RECORRENTE : ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ADVOGADO : ALEXANDRE
DALLA BERNARDINA RECORRIDO : ROSANIA MARIA MELO SILVA MAGISTRADO : ELIANA
FERRARI SIVIERO ACÓRDÃO EMENTA. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO
TEMPORÁRIO. NULIDADE. FGTS. DIREITO AO RECEBIMENTO. 1. A declaração de nulidade do contrato
de trabalho temporário firmado pelo Estado sem concurso público, após o advento da Constituição Federal de
1988, fora das hipóteses legais excepcionais da referida contratação, gera ao trabalhador o direito à percepção
dos valores relativos aos depósitos de FGTS pelo período trabalhado. Precedentes do STJ e do STF (julgamento
de repercussão geral). Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Desembargadores da QUARTA CÂMARA do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, à unanimidade, negar
provimento ao recurso e julgar prejudicada a remessa necessária. Vitória (ES), Desembargador Presidente
ponto de dissenso e cerne da questão levantada nestes julgados é se ao contrato temporário,
que representa vínculo jurídico de natureza administrativa, deve ou não ser aplicado o
disposto no art. 19-A da Lei nº 8.036/90, em razão do disposto no art. 15, §2º da mesma lei e
também pelo que determina a CF.
Até aonde foi possível pesquisar, o STF ainda não se pronunciou sobre a questão em si. Na
verdade, constatou-se que as decisões da justiça capixaba têm se valido, equivocadamente, de
precedentes do Pretório Excelso, que, embora tangenciem assunto correlato, não tratam
propriamente da matéria. Vê-se o desvirtuamento do que restou decidido no Recurso
Extraordinário nº 596.478 (adiante melhor comentado), onde foi reconhecida a
constitucionalidade do art. 19-A da Lei nº 8.036/90.
No seio do STJ já foram proferidas decisões tanto conferindo como negando o direito ao
FGTS em demandas promovidas por servidor temporário. Um destes precedentes, inclusive, é
proveniente de recurso especial movido contra acórdão do TJES. (AgRg no AgRg no REsp
1291647/ES), no qual o STJ reformou decisão da corte estadual que negara o pagamento do
FGTS. Mas, dita decisão não representa entendimento uniforme da Corte Federal, que possui
julgados em sentido contrário.
A solução desta controvérsia deve ser tratada em dois campos (1) na interpretação dos
dispositivos da Lei nº 8.036/90 e (2) na (in)compatibilidade constitucional de o servidor
temporário receber FTGS. Frisa-se que este artigo não tem a finalidade de avaliar a
constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8036, mas apenas sua aplicabilidade aos servidores
temporários.
Pelo regime jurídico do FGTS, ao empregador cabia pagar percentual mensal que compunha o
fundo do empregado a ser utilizado, como regra, na hipótese de demissão, ao qual se acrescia
multa por conta também do empregador. 3 Nas palavras de Sérgio Pinto Martins,
A Carta de 1988 regulou o FGTS no artigo 7º, inciso III, dentre o rol de direitos do
trabalhador urbano e rural. Foi o fim do regime alternativo, ressalvando-se a estabilidade
apenas aos trabalhadores que já a tinham adquirido até 05.10.1988. Hoje o FGTS é regido
pela Lei nº 8.036.
A indenização para despedida arbitrária ou sem justa causa, até que seja editada a lei
complementar referida no inciso I do art. 7º da CF, por determinação do art. 10, I do ADCT,
fica limitada a quatro vezes o percentual fixado no art. 6º, caput e §1º da Lei nº 5.107.
Para os servidores públicos regidos por regime jurídico de direito administrativo não foi
previsto FGTS (art. 39, §2º do CF), ficando assegurada a estabilidade aos nomeados a cargo
de provimento efetivo, na forma do art. 41 da CF.
3
“A finalidade da instituição do FTGS foi proporcionar reserva de numerário ao empregado para quando fosse
dispensado da empresa, podendo inclusive sacar o FGTS em outras hipóteses na lei. Ao mesmo tampo,
pretendia-se, com os recursos arrecadados, financiar a aquisição de imóveis pelo Sistema Financeiro da
Habitação e até mesmo incrementar a indústria da construção civil.” (MARTINS, 2006, p. 11)
Dado característico do FGTS é que ele é relativo a relações jurídicas de natureza trabalhista,
tanto por sua roupagem constitucional, que o prevê como direito do empregado, como por seu
regramento infraconstitucional. Seu fato gerador é uma relação de emprego.
O artigo 15, caput, da Lei nº 8.036 define que o contribuinte do FGTS é o empregador, a
quem compete efetuar os depósitos mensais correspondentes a 8% da remuneração paga ou
devida ao trabalhador. Portanto, a nota de destaque do FGTS é sua vinculação à relação de
trabalho formada de um lado pelo empregador e do outro pelo trabalhador.
Logo, empregador é aquele que, nos moldes do §1º em questão, admite trabalhador a seu
serviço ou a quem, por lei especial, encontrar-se nessa condição, etc. Por seu turno, o §2º do
mesmo artigo diz que trabalhador é “[...] toda pessoa física que prestar serviços a empregador,
a locador ou tomador de mão-de-obra, excluídos os eventuais, os autônomos e os servidores
públicos civis e militares sujeitos a regime jurídico próprio.” Portanto, a própria lei 8036
excetua do conceito de trabalhador, para os fins nela definidos (vide caput), os eventuais,
autônomos e servidores públicos civis e militares sujeitos a regime jurídico próprio. Vale a
reprodução do caput e dos dois primeiros parágrafos:
Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam obrigados a
depositar, até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância
correspondente a 8 (oito) por cento da remuneração paga ou devida, no mês anterior,
a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os arts.
457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de
julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965.
§ 1º Entende-se por empregador a pessoa física ou a pessoa jurídica de direito
privado ou de direito público, da administração pública direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes, da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, que admitir trabalhadores a seu serviço, bem assim aquele que,
regido por legislação especial, encontrar-se nessa condição ou figurar como
fornecedor ou tomador de mão-de-obra, independente da responsabilidade solidária
e/ou subsidiária a que eventualmente venha obrigar-se.
§ 2º Considera-se trabalhador toda pessoa física que prestar serviços a empregador, a
locador ou tomador de mão-de-obra, excluídos os eventuais, os autônomos e os
servidores públicos civis e militares sujeitos a regime jurídico próprio.
Logo, nos termos do art. 15, § 2º da Lei nº 8.036/90, não é considerado trabalhador a pessoa
física que possui vínculo jurídico estatutário com a administração pública.
Por seu turno, à luz do art. 19-A da Lei 8036/90, o FGTS somente é devido em caso de
nulidade de contrato de trabalho (regime celetista) firmado em desrespeito aos ditames
constitucionais do concurso público. O dispositivo não se aplica ao servidor contratado sob o
regime próprio de natureza administrativa. Basta ver que o dispositivo se refere à conta
vinculada do “trabalhador”, cujo significado é definido no §2º do art. 15, e também à
“contrato de trabalho”.
Cabe a cada ente da federação regular, por lei, as regras disciplinadoras da contratação de
servidores temporários (CARVALHO FILHO, 2005, p. 469) (MELLO, 2004, p. 260).
A existência de vício na constituição da relação jurídico administrativa, seja ele qual for, não
a converte em vínculo trabalhista. Assim, a eventual burla à exigência de concurso público
não transmuda a natureza da relação de direito administrativo.
Nota-se que a contratação temporária segue regime jurídico próprio distinto daquele afeto aos
servidores efetivos. Nada impedindo, por óbvio, a adoção de algumas regras e benefícios
deste último regime- quando compatíveis-, desde que de forma expressa na lei que regular o
regime de contratação temporária. O que, mesmo assim, não os tornam regimes equivalentes.
Acrescente-se que, com o julgamento pelo STF da cautelar na ADI 2135, voltou a vigorar o
regime jurídico único dos servidores públicos da Administração direta, autárquica e
fundacional, não havendo espaço para a contratação pelo regime celestista.
Pela redação do art. 19-A, o direito aos depósitos do FGTS não é consequência da nulidade do
contrato firmado com a Administração. Na verdade, o que o dispositivo faz é garantir ao
servidor o recebimento dos depósitos do FGTS efetuados apesar da nulidade da contratação
sem concurso público.
Pressupõe a norma em tela que, fosse válido o contrato, o FGTS seria devido como efeito
normal da contratação. E, por isso, na hipótese de invalidade do vínculo contratual, por falta
de concurso público, a norma visa preservar os efeitos provenientes da relação jurídica,
mesmo que nula 4. Resguardou-se o direito ao FGTS contra a declaração de nulidade do
contrato.
4
Comentando os efeitos da nulidade do contrato de trabalho por falta de concurso público, Estêvão Mallet
destaca que ao servidor devem ser assegurados os direitos conferidos por lei aos que são contratados
regularmente, ressalvados aqueles diretamente ligados à extinção do vínculo e à sua não continuidade. (SOARES
coord, 2005 p. 88) Logo, a premissa firmada por Mallet é a de preservar os efeitos naturais do contrato e não
inovar estes efeitos, mediante a distinção do plano da validade e do plano da eficácia.
Coisa diversa é quando, desde sua origem, a relação jurídica formada não enseja o pagamento
do FGTS. Neste caso, a lei não quis – e se quisesse não poderia – criar um direito outrora
inexistente, cujo fato gerador seria a declaração de nulidade da contratação.
Ao se interpretar o art. 19-A da Lei 8036 deve-se ter em mente qual o momento histórico em
que o dispositivo foi acrescido à Lei. No caso, à época havia o entendimento jurisprudencial
fixado no STF e no TST no sentido de que a falta de concurso público, por força do §2º do
art. 37 da CF, acarretava a nulidade do vínculo firmado entre o servidor e a Administração, e,
por isso, o ato não produzia efeitos, ressalvado apenas o recebimento da remuneração devida
pelo serviço prestado, para evitar enriquecimento ilícito do Poder Público.
Assim, como, há época, muitas contratações eram realizadas pela Administração Pública, sem
a realização de concurso público, algumas até mesmo anteriores à CF de 1988, em havendo o
reconhecimento da nulidade do vínculo, os depósitos de FGTS realizados – realizados porque
as contratações eram feitas pelo regime celetista- eram devolvidos ao empregador, no caso, o
Poder Público.
Visando compensar estes servidores, foi publicada medida provisória incluindo a redação do
art. 19-A à lei 8036, para, além da remuneração, assegurar o recebimento por parte do
empregado do FGTS depositado ao longo do contrato.
Logo, fica claro não ter sido o intuito da lei ampliar as hipóteses de recebimento de FGTS
para além das relações de natureza trabalhista. Até mesmo porque, acaso este fosse o objetivo,
a norma seria forçosamente inconstitucional, pois, como dito, o regime de FGTS não se
coaduna com o regime jurídico próprio dos servidores públicos. E, diga-se mais, norma
federal não pode intervir em matéria de competência exclusiva de cada ente federativo, a
quem compete regular seu regime funcional específico.
Diga-se ainda que o vínculo dos servidores temporários com a administração é, regra geral,
desfeito pelo decurso do tempo e não por declaração de nulidade da contratação. Na maioria
esmagadora das ações propostas por este motivo, os autores, cujo período do contrato já
findou, buscam incidentalmente o reconhecimento judicial de que não deveria ter havido a
contratação, para daí extrair o fundamento do pedido de FGTS. Logo, nestes casos, o fim da
relação funcional deu-se pelo decurso do tempo e não em razão da nulidade do vínculo. Fica,
mais ainda, caracterizada a incompatibilidade entre a redação do art. 19-A da Lei 8036 e a
situação dos servidores temporários.
Apesar da literalidade da lei 8036 e, ainda, da necessidade de sua compatibilização com a CF,
persiste controvérsia tanto no seio do Tribunal Capixaba como no próprio STJ a respeito do
pagamento de FGTS a servidor temporário.
De modo geral, as decisões que conferem ao servidor temporário o direito ao FGTS se fiam
no julgamento proferido pelo STF que reconheceu a constitucionalidade do art. 19-A da Lei
8036 (RE 596478) e no precedente oriundo do RESP 1335115 proferido pelo STJ, do qual se
originou a súmula 466 do STJ. Todavia, há um claro equívoco na aplicação destes
precedentes, pois, nenhum dos dois casos se referia a servidores temporários, havendo
elementos de distinção que os tornam insuficientes para embasar a concessão do direito ao
FGTS no caso ora em análise.
O TST aplicou o entendimento encampado no seu enunciado nº 363, amparado no art. 19-A
da Lei 8036, segundo o qual:
Foi interposto recurso extraordinário ao STF, onde se alegou, naquilo que é importante, a
inconstitucionalidade do art. 19-A da Lei 8036, ao argumento de que, sendo nula a
contratação por força do art. 37, §2º da CF, ela não poderia produzir efeitos, no que incluía o
direito ao FGTS, cabendo ao servidor apenas receber a remuneração pelo serviço prestado.
Portanto, a lei não poderia estabelecer direitos decorrentes de relação jurídica
constitucionalmente nula, sob pena de violar o dispositivo constitucional em comento. 5 O
STF negou provimento ao recurso extraordinário, para reconhecer a constitucionalidade do
art. 19-A da Lei em questão. Segue ementa do acórdão:
A discussão no Pretório Excelso foi travada em duas frentes. A tese vencida, que reconhecia a
inconstitucionalidade do art. 19-A da Lei 8036, valeu-se como principal fundamento da
jurisprudência anterior do próprio STF que não admitia a produção de efeitos do vínculo
declarado nulo, dado o art. 37, §2º da CF, apenas ressalvando o pagamento da remuneração,
para evitar enriquecimento ilícito. Em sentido contrário, a orientação prevalente encabeçada
pelo voto condutor da divergência da lavra do Ministro Dias Toffoli, considerou que, apesar
da nulidade, é admissível a produção de efeitos secundários do vínculo jurídico firmado com a
5
A dimensão da controvérsia levada ao crivo do STF na ocasião é traçada no relatório do acórdão que julgou o
recurso extraordinário, cujo trecho é transcrito na íntegra: “A questão diz respeito à discussão da
constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90, acrescido pela MP RE 596.478/RR 2.164-41, que assegura
direito ao FGTS à pessoa que tenha sido contratada sem concurso público. O recorrente aponta, primeiramente,
violação aos arts. 5º , XXXV, LIV e LV, e 93, IX, da Constituição, por entender que houve negativa de
jurisdição. Também aponta ofensa ao art. 37, II, e § 2°, da Constituição. Entende que, uma vez reconhecida a
nulidade do contrato de trabalho realizado sem concurso público, nenhum efeito jurídico dele poderia ser
extraído, somente sendo devida indenização pelo trabalho prestado em montante limitado ao do salário em
sentido estrito. Frisa que não se pode "adquirir direitos em ofensa a norma constitucional cogente", razão pela
qual se imporia o reconhecimento da inconstitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90, acrescido pela MP
2.164-41. Ainda discorre sobre a ausência de relevância e urgência para a edição da MP 2.164-41, incompatível
com a determinação de liberação de recursos apenas um ano após a sua edição. Diz também da irretroatividade
determinada em confronto com o art. 5º , XXXVI, da Constituição, considerando-se o contrato de trabalho como
ato jurídico perfeito. Ademais, o ato nulo não produz efeitos e, nula a obrigação principal, também nulas são as
acessórias, vedando-se apenas o enriquecimento sem causa. Também defende a natureza tributária do FGTS,
invocando a ADI 2.556 e apontando ofensa aos arts. 146, 149 e 150 da Constituição. Pede o provimento para que
seja reconhecida violação ao art. 5º , XXXV, LIV e LV, e 93, IX, da CF e anulado o acórdão proferido ou,
sucessivamente, que seja dado provimento ao recurso com fundamento no art. 37, caput, inciso II e § 2º , da
Constituição, determinando-se a liberação de eventuais valores de FGTS ao próprio Estado de Roraima.”
Administração, podendo o legislador conferir, neste caso, o direito ao recebimento dos
depósitos do FGTS.
Segue reprodução de trecho do voto da Ministra Ellen Gracie, que relatou o recurso e
inaugurou o debate, onde fica destacado que a nulidade da investidura impede o surgimento
dos direitos trabalhistas 6:
6
Com fundamentos muito semelhantes, a Ministra Carmen Lúcia acompanhou a Relatora Ministra Ellen Gracie.
Vale a reprodução de parte de sua manifestação: “Em primeiro lugar, porque a Constituição, no § 2º, diz que os
atos são nulos.Entendo perfeitamente a preocupação quantos aos efeitos, mas este é um efeito criado por uma
norma, no caso por uma medida provisória. Acho que o parecer do Ministério Público foi extremamente feliz ao
dizer que quando se pode criar um, pode-se criar outros. Esse é o raciocínio. Não estou discutindo outras
fórmulas, nem outras parcelas, mas apenas essa. Também não me impressiona, nem um pouco, afirmar que
poderia tirar efeito de atos nulos. Podem sim, os que sejam compatíveis com a Constituição. [...] Em segundo
lugar, se o fundo de garantia veio para dar uma estabilidade, ou para compensar por uma estabilidade, o
raciocínio, a meu ver, some, com a devida vênia, Ministro Carlos, por uma razão simplérrima: jamais haverá
estabilidade de servidor que não é concursado, porque conta-se, para estabilização do servidor, não para
contratos de trabalho na iniciativa privada, aquele que não tiver feito o concurso. São três anos após o concurso e
depois de ter passado por um processo, que todos nós sabemos que contratado nenhum a título precário passa,
que é exatamente o de saber se ele pode se estabilizar. Em terceiro lugar, porque o próprio Supremo Tribunal
retomou a norma originária que se continha antes da Emenda Constitucional nº 19, e, portanto, afastou a
possibilidade até mesmo de se ter regime celetista no serviço público enquanto não julgarmos o mérito daquela
ADI. Então, pelas razões expostas brilhantemente pela Ministra Relatora, que estão coerentes com a
jurisprudência até agora harmonizada no Tribunal, acho que não apenas garante o princípio da dignidade da
pessoa humana, porque aquele que trabalhou não pode ser equiparado a um trabalhador escravo, e não será,
porque a força de trabalho que ele empregou fica sem dano. Daí o pagamento pelo trabalho feito. Nem há o
enriquecimento ilícito nem há descumprimento dos direitos fundamentais, tanto do ser humano quanto do ser
humano na sua condição social de trabalhador.”
que não tenha sido levantado até essa data, será liberado ao trabalhador a partir do
mês de agosto de 2002."
Ao atribuir efeitos a uma relação trabalhista considerada nula de pleno direito por
força do art. 37, inciso II e § 2o da Constituição, acabou por afastar, ao menos em
parte, tal nulidade. 8. Note-se que o conhecimento e o cumprimento da Constituição
é dever de todos, tanto das autoridades como dos particulares. Na investidura em
emprego público sem concurso, ambos incorrem em violação à Constituição,
devendo suportar os ônus de tal conduta, dentre as quais a nulidade do ato.
Também o legislador deve ater-se à Constituição, abstendo-se de reconhecer direito
que a prescrição constitucional de nulidade da investidura em emprego público sem
prévio concurso afasta.
9. Ante todo o exposto, dou provimento ao recurso do Estado de Roraima,
reconhecendo a inconstitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90, acrescido pelo
9º da Medida Provisória 2.164-41/91, por violação ao art. 37, II e § 2o, da
Constituição, com o que resta improcedente a reclamatória trabalhista.
O Ministro Gilmar Mendes abriu a divergência para dizer que não reconhecer o direito ao
FGTS seria onerar em demasia a parte mais fraca. Também afirmou que se admite a
preservação de efeitos fáticos do contrato de trabalho, mesmo quando nulo. O ministro Dias
Toffoli, durante o debate oral, e já iniciado seu voto disse que a nulidade não apaga todas as
consequências da relação estabelecida. Uma coisa seria proibir a contratação outra coisa seria
proibir os efeitos residuais da contratação.
Essa nulidade não acarreta invalidez total de todos os atos, pois os atos praticados
por esse trabalhador são aproveitados, isto é, a nulidade não apaga todas as
consequências da relação estabelecida. A própria administração reconhece a validez
dos atos praticados, ou seja, essa nulidade, com o devido respeito, não tem caráter
absoluto a ponto de desconhecer qualquer vantagem ou qualquer direito que,
eventualmente, possa ser reconhecido com bases noutros princípios constitucionais,
como, por exemplo, a dignidade do trabalho, etc. [...] Exatamente. A pergunta que
eu faço: uma coisa é proibir a contratação sem concurso público; outra coisa é
proibir os efeitos residuais de um fato existente, e é existente juridicamente, embora
inválido. É existente!
7
O Ministro Cezar Peluso apresentou fundamento semelhante, conforme seguinte passagem: ”A nulidade
afirmada na norma constitucional está resguardada. Daí, a meu ver, com o devido respeito, em princípio, não há
violação à norma constitucional que prevê a nulidade. Aqui se trata de decidir outra questão: se um ato nulo pode
gerar algum efeito. Isto, sim. Afirmar se um ato nulo pode gerar ou não algum efeito não diz respeito a essa
norma constitucional, mas à teoria geral do direito, para saber se todo ato nulo não produz nenhum efeito, ou há
atos nulos que produzem efeito. Isso não faz parte da norma constitucional ora impugnada, faz parte de uma
questão teórica que pertence à teoria geral do direito.” Também proferiu voto semelhante o ministro Ayres
Britto, que aderiu aos argumentos do Ministro Dias Toffoli para destacar que o FGTS possui caráter
indenizatório, já que veio para compensar a perda de um direito do trabalhador, que era o direito à estabilidade.
Assim, o fundamento para o pagamento para os dias trabalhados seria o mesmo que justificaria o pagamento do
FGTS ao trabalhador. Segue trecho do seu voto:”Isso é fato, sob a alegação de que pagar os dias trabalhos era
justo a título não de salário, mas de indenização. Ora, uma parte da doutrina diz que o FGTS tem caráter
indenizatório, por quê? Porque ele veio para compensar a perda de um direito do trabalhador, que era o direito à
estabilidade, que dava direito à indenização. O trabalhador estável, demitido sem justa causa, ganhava
indenização. Veio o FGTS com esse caráter compensatório, substitutivo da estabilidade. Então, parece-me que a
razão que nos leva a decidir pelo pagamento dos dias trabalhados é a mesma razão que nos leva a decidir pelo
Senhor Presidente, concluindo, eu só gostaria de dar ênfase que nós estamos aqui
tratando de efeitos residuais de um fato jurídico que existiu.
Nulo? Inválido? Sim, mas todo fato nulo pode manter efeitos residuais.Podemos
citar vários. O Ministro Gilmar Mendes trouxe teoria a respeito. Casamento
putativo. Na época em que havia no passado discriminação entre filhos, o casamento
era declarado nulo e os filhos continuavam sendo considerados legítimos. Inclusive
na Teoria do Direito Civil é reconhecido, para muitos casos nulos, os efeitos
residuais, por quê? Porque aquilo se inseriu no plano da existência. Eu aprendi com
o falecido e saudoso Professor Antônio Junqueira de Azevedo, da Faculdade de
Direito do Largo de São Francisco, já no primeiro ano de faculdade, a distinção
entre os planos da existência, da validade e da eficácia. Reconhecer efeitos jurídicos
residuais a ato nulo é algo que diz respeito aos efeitos residuais do nulo no plano da
existência jurídica. E é possível fazê-lo. Pode o intérprete, o estado-juiz fazê-lo ao
interpretar o caso concreto? Pode. A pergunta posta nessa ação, nesse recurso
extraordinário, é se o pode fazer o legislador. O legislador pode dizer de um fato
residual, de um ato declarado nulo? Eu não vejo nesse caso concreto - e não estou a
julgar outro, pedindo vênia àqueles que possam entender de maneira contrária -, a
eventual repercussão desse caso em outras situações concretas... eu estou a julgar o
caso em que o legislador fez uma avaliação - dentro, penso, do seu poder normativo
- a respeito de casos que, não tenham dúvidas, são casos a priori, consequências do
que a Constituição de 1988 trouxe, em boa hora, que é a necessidade do concurso
público para o provimento dos cargos nos órgãos públicos e no Estado.
Nesse sentido, Senhor Presidente, penso que não estamos aqui a julgar a necessidade
ou desnecessidade de concurso público, porque esse tema é pacificado na Corte. Na
Constituição e na Corte é pacificada a sua aplicação. Estamos a julgar se o artigo 19-
A é compatível ou não com a Constituição. Eu não vejo, de maneira nenhuma, que
ele afronte o § 2º do art. 37 da Constituição Federal.
Entendo que este Tribunal tem levado em consideração essa necessidade de se
garantir a fatos nulos, mas existentes juridicamente, os seus efeitos. Tanto é que, na
ação direta que eu já mencionei, do Estado de Minas Gerais, foram dados efeitos
prospectivos - como em alguns outros casos -; enquanto não se faz o concurso
público, mantêm-se - até para a prestação dos serviços públicos, muitos essenciais -
aqueles servidores contratados de maneira irregular, nula.
Por outro lado, foi destacado ao longo da discussão, conforme se extrai de manifestação da
lavra do Ministro Gilmar Mendes que a regra contida no art. 19-A da Lei 8036 vinha para
solucionar uma situação à época dos fatos existente, mas que, em razão da instituição do
regime jurídico único dos servidores públicos e do regime de contratação temporária, a norma
passaria a ser de pouca valia e aplicação para situações futuras.
Por outro lado, em termos institucionais hoje, ou temos o regime estatutário, em que
a seleção terá quer ser por concurso público, ou teremos um sistema de seleção dos
chamados empregos, aí, por prazo determinado. Então me parece que essas
hipóteses serão cada vez mais raras, mas elas ocorreram. Por isso, o legislador se
preocupou em dar pelo menos essa garantia básica, garantia mínima a esse
trabalhador que teve essa relação fática. Parece-me que é essa a questão. Na
verdade, eu vou acompanhar o voto do Ministro Dias Toffoli.
pagamento do FGTS, até porque o Estado já desembolsou, já depositou esse dinheiro do FGTS. Ele constituiu
um fundo em favor do trabalhador, o dinheiro já foi desembolsado.”
Além de se tratar de um placar apertado, vê-se que o acórdão que julgou o recurso
extraordinário se limitou a discutir a compatibilidade do art. 19-A com a CF, em especial,
com o §2 do art. 37, que diz ser nulo o vínculo funcional firmado com ofensa à regra do
concurso público. Concluiu-se, por maioria, que, mesmo nulo, o contrato pode produzir
efeitos residuais, e que assegurar os depósitos de FGTS ao servidor cujo contrato foi
declarado nulo seria privilegiar o lado mais fraco da relação. Foi sustentado pelo voto
condutor do Ministro Dias Toffoli que a norma visava assegurar uma situação transitória
decorrente da compatibiilização das contratações com as exigências da CF de 1988.
No acórdão, não se decidiu se o servidor temporário, que possui regime jurídico específico,
faz jus a receber o FGTS 8, quando seu contrato é declarado nulo, nem tão-pouco é possível
extrair tal conclusão da ratio decidendi do julgado. Não é demais lembrar que o recurso
extraordinário foi interposto contra decisão do TST, onde se discutia a nulidade de vínculo
firmado com a Administração regido pelo regime da CLT, onde inclusive houvera efetivos
depósitos de FGTS ao longo do tempo pelo Estado contratante. Portanto, sequer foi cogitada a
aplicação do dispositivo legal para os casos de nulidade de relação jurídica de natureza
administrativa firmada entre o particular e o Poder Público. Também não foi dito se servidor
público com regime próprio poderia receber FGTS. Muito ao contrário, em todo o momento,
o acórdão alude à manutenção dos efeitos residuais próprios de contrato de trabalho. Ora, é
possível extrair do julgado que somente os efeitos regulares que o vínculo produziria
poderiam ser mantidos, de maneira a não se admitir que a declaração de nulidade produza
novos efeitos, não previstos originalmente na relação jurídica. Além disso, o próprio Ministro
Dias Toffoli, responsável pelo voto condutor, afirma que a norma veio para sanar situação
passageira, pois, conforme também dito pelo Ministro Gilmar Mendes, com o
restabelecimento do regime jurídico único e as contratações precárias sob regime jurídico
próprio, a norma viria a perder sua serventia.
8
Embora suscitado no voto do Ministro Joaquim Barbosa sobre a impossibilidade de servidor ocupante de cargo
receber FGTS a questão não foi objeto de discussão propriamente dita e não envolveu a análise de seus pares
sobre a constitucionalidade do art. 19-A, podendo ser tratada apenas como obter dicta.
constitucionalidade da norma em comento, mas apenas sua compatibilidade com o regime
jurídico administrativo que regula os contratos temporários firmados pelo servidor público.
9
Neste sentido:
EMENTA Agravo regimental na medida cautelar na reclamação – Administrativo e Processual Civil – Ação
civil pública – Vínculo entre servidor e o poder público – Contratação temporária - ADI nº 3.395/DF-MC –
Cabimento da reclamação – Incompetência da Justiça do Trabalho. 1. A reclamação é meio hábil para conservar
a autoridade do Supremo Tribunal Federal e a eficácia de suas decisões e súmulas vinculantes. Não se reveste de
caráter primário ou se transforma em sucedâneo recursal quando é utilizada para confrontar decisões de juízos e
tribunais que afrontam o conteúdo do acórdão do STF na ADI nº 3.395/DF-MC. 2. Compete à Justiça comum
pronunciar-se sobre a existência, a validade e a eficácia das relações entre servidores e o poder público fundadas
em vínculo jurídico-administrativo. É irrelevante a argumentação de que o contrato é temporário ou precário,
ainda que haja sido extrapolado seu prazo inicial, bem assim se o liame decorre de ocupação de cargo
comissionado ou função gratificada. 3. Não descaracteriza a competência da Justiça comum, em tais dissídios, o
fato de se requerer verbas rescisórias, FGTS e outros encargos de natureza símile, dada a prevalência da questão
de fundo, que diz respeito à própria natureza da relação jurídico-administrativa, posto que desvirtuada ou
submetida a vícios de origem, como fraude, simulação ou ausência de concurso público. Nesse último caso,
ultrapassa o limite da competência do STF a investigação sobre o conteúdo dessa causa de pedir específica. 4.
Agravo regimental provido e, por efeito da instrumentalidade de formas e da economia processual, reclamação
julgada procedente, declarando-se a competência da Justiça comum.
(Rcl 4069 MC-AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI,
Tribunal Pleno, julgado em 10/11/2010, DJe-107 DIVULG 03-06-2011 PUBLIC 06-06-2011 EMENT VOL-
02537-01 PP-00019)
E, ainda:
EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO - ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL -
DISSÍDIO ENTRE SERVIDORES E O PODER PÚBLICO - ADI nº 3.395/DF-MC - CABIMENTO DA
RECLAMAÇÃO - INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. A reclamação é meio hábil para
conservar a autoridade do Supremo Tribunal Federal e a eficácia de suas decisões. Não se reveste de caráter
primário ou se transforma em sucedâneo recursal quando é utilizada para confrontar decisões de juízos e
tribunais que afrontam o conteúdo do acórdão do STF na ADI nº 3.395/DF-MC. 2. Compete à Justiça comum
pronunciar-se sobre a existência, a validade e a eficácia das relações entre servidores e o poder público fundadas
em vínculo jurídico-administrativo. É irrelevante a argumentação de que o contrato é temporário ou precário,
ainda que haja sido extrapolado seu prazo inicial, bem assim se o liame decorre de ocupação de cargo
comissionado ou função gratificada. 3. Não descaracteriza a competência da Justiça comum, em tais dissídios, o
fato de se requerer verbas rescisórias, FGTS e outros encargos de natureza símile, dada a prevalência da questão
de fundo, que diz respeito à própria natureza da relação jurídico-administrativa, posto que desvirtuada ou
submetida a vícios de origem, como fraude, simulação ou ausência de concurso público. Nesse último caso,
ultrapassa o limite da competência do STF a investigação sobre o conteúdo dessa causa de pedir específica. 4. A
circunstância de se tratar de relação jurídica nascida de lei local, anterior ou posterior à Constituição de 1988,
não tem efeito sobre a cognição da causa pela Justiça comum. 5. Agravo regimental não provido. (Rcl 7633
AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 23/06/2010, DJe-173 DIVULG 16-09-2010
PUBLIC 17-09-2010 EMENT VOL-02415-02 PP-00268)
Também:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. RECLAMAÇÃO. MEDIDA LIMINAR NA ADI 3.357. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. SERVIDORES PÚBLICOS. REGIME TEMPORÁRIO. JUSTIÇA DO TRABALHO.
INCOMPETÊNCIA. 1. No julgamento da ADI 3.395-MC, este Supremo Tribunal suspendeu toda e qualquer
interpretação do inciso I do artigo 114 da CF (na redação da EC 45/2004) que inserisse, na competência da
Justiça do Trabalho, a apreciação de causas instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados
mérito das ações, declarando competir ao juízo competente, pela via própria, avaliar se há ou
não direito ao recebimento de FGTS. As razões adotadas pelos precedentes do STF para
por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. 2. Contratações temporárias que se
deram com fundamento na Lei amazonense nº 2.607/00, que minudenciou o regime jurídico aplicável às partes
figurantes do contrato. Caracterização de vínculo jurídico-administrativo entre contratante e contratados. 3.
Procedência do pedido. 4. Agravo regimental prejudicado.
(Rcl 5381, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-147 DIVULG 07-
08-2008 PUBLIC 08-08-2008 EMENT VOL-02327-01 PP-00136 RTJ VOL-00209-03 PP-01084)
Também:
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. DEFINIÇÃO DO ALCANCE MATERIAL DA
DECISÃO LIMINAR PROFERIDA NA ADI-MC N° 3.395/DF. 2. O disposto no art. 114, I, da Constituição da
República, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação
jurídico-estatutária, entendida esta como a relação de cunho jurídico-administrativo originada de investidura em
cargo efetivo ou em cargo em comissão. Tais premissas são suficientes para que este Supremo Tribunal Federal,
em sede de reclamação, verifique se determinado ato judicial confirmador da competência da Justiça do
Trabalho afronta sua decisão cautelar proferida na ADI 3.395/DF. 3. A investidura do servidor em cargo em
comissão define esse caráter jurídico-administrativo da relação de trabalho. 4. Não compete ao Supremo
Tribunal Federal, no âmbito estreito de cognição próprio da reclamação constitucional, analisar a regularidade
constitucional e legal das investiduras em cargos efetivos ou comissionados ou das contratações temporárias
realizadas pelo Poder Público. 5. Agravo regimental desprovido, à unanimidade, nos termos do voto do Relator.
(Rcl 4785 MC-AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2007, DJe-047
DIVULG 13-03-2008 PUBLIC 14-03-2008 EMENT VOL-02311-01 PP-00090 RTJ VOL-00203-03 PP-01005)
Também:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA
REGIDA POR LEGISLAÇÃO LOCAL ANTERIOR À CF/88. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DA
CAUSA. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. QUESTÃO RELEVANTE DO PONTO DE VISTA
SOCIAL E JURÍDICO QUE ULTRAPASSA O INTERESSE SUBJETIVO DA CAUSA.
(RE 573202 RG, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 20/03/2008, DJe-065 DIVULG
10-04-2008 PUBLIC 11-04-2008 EMENT VOL-02314-08 PP-01678 RDECTRAB v. 17, n. 186, 2010, p. 194-
197 ) EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. REGIME
ESPECIAL. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA REGIDA POR LEGISLAÇÃO LOCAL ANTERIOR À
CONSTITUIÇÃO DE 1988, EDITADA COM BASE NO ART. 106 DA CONSTITUIÇÃO DE 1967.
ACÓRDÃO QUE RECONHECEU A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. I - Ao reconhecer a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar a
reclamação trabalhista, o acórdão recorrido divergiu de pacífica orientação jurisprudencial deste Supremo
Tribunal Federal. II - Compete à Justiça Comum processar e julgar causas instauradas entre o Poder Público e
seus servidores submetidos a regime especial disciplinado por lei local editada antes da Constituição
Republicana de 1988, com fundamento no art. 106 da Constituição de 1967, na redação que lhe deu a Emenda
Constitucional no 1/69, ou no art. 37, IX, da Constituição de 1988. III - Recurso Extraordinário conhecido e
provido.(RE 573202, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 21/08/2008,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-232 DIVULG 04-12-2008 PUBLIC 05-12-2008 EMENT VOL-
02344-05 PP-00968 LEXSTF v. 30, n. 360, 2008, p. 209-245)
De relevante aponta-se trecho do voto do Ministro relator Ricardo Lewandowski: “Os servidores temporários
não estão vinculados a um cargo ou emprego público, como explica Maria Sylvia Zanella di Pietro, mas exercem
determinada função, por prazo certo, para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. O
seu vínculo com o Estado reveste-se, pois de nítido cunho administrativo, [...] contrariamente ao que endente a
recorrente e ao que decidiu o Tribunal a quo, a mera prorrogação do prazo de contratação da servidora
temporária em comento não tem o condão de transmudar o vínculo administrativo que esta mantinha com o
Estado do Amazonas em relação de natureza trabalhista. A prorrogação do contrato nessas circunstâncias, seja
ela expressa ou tácita, em que se opera a mudança do prazo de vigência deste, de temporário para indeterminado,
pode até ensejar nulidade ou caracterizar ato de improbidade, com todas as consequência que isso acarreta, por
ofensa aos princípios e regras que disciplinam a contratação desse tipo de servidores, mas não altera, peço vênia
para insistir, a natureza jurídica do vínculo de cunho administrativo que se estabeleceu originalmente.”
declarar a incompetência da justiça trabalhista estão bem enumeradas no voto proferido pelo
Ministro Dias Toffoli, ao julgar a Reclamação 7857, conforme abaixo reproduzido 10:
10
EMENTA Agravo regimental na reclamação. Administrativo e Processual Civil. Dissídio entre servidor e o
poder público. ADI nº 3.395/DF-MC. Cabimento da reclamação. Incompetência da Justiça do Trabalho. 1. Por
atribuição constitucional, presta-se a reclamação para preservar a competência do STF e garantir a autoridade
das decisões deste Tribunal (art. 102, inciso I, alínea l, CF/88), bem como para resguardar a correta aplicação das
súmulas vinculantes (art. 103-A, § 3º, CF/88). Não se reveste de caráter primário ou se transforma em sucedâneo
recursal quando é utilizada para confrontar decisões de juízos e tribunais que afrontam o conteúdo do acórdão do
STF na ADI nº 3.395/DF-MC. 2. Compete à Justiça comum pronunciar-se sobre a existência, a validade e a
eficácia das relações entre servidores e o poder público fundadas em vínculo jurídico-administrativo. O problema
relativo à publicação da lei local que institui o regime jurídico único dos servidores públicos ultrapassa os limites
objetivos da espécie sob exame. 3. Não descaracteriza a competência da Justiça comum, em tais dissídios, o fato
de se requererem verbas rescisórias, FGTS e outros encargos de natureza símile, dada a prevalência da questão
de fundo, que diz respeito à própria natureza da relação jurídico-administrativa, ainda que desvirtuada ou
submetida a vícios de origem. 4. Agravo regimental não provido.(Rcl 7857 AgR, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 06/02/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-040 DIVULG 28-02-2013
PUBLIC 01-03-2013)
redatora do acórdão a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 16/9/09,
DJe-223 divulgado em 26/11/09, publicado em 27/11/09).
4. O desvirtuamento da relação jurídico-administrativa não atrai a competência da
Justiça do Trabalho. “1. Incompetência da Justiça Trabalhista para o processamento
e o julgamento das causas que envolvam o Poder Público e servidores que sejam
vinculados ele por relação jurídico-administrativa. 2. O eventual desvirtuamento da
designação temporária para o exercício de função pública, ou seja, da relação
jurídico-administrativa estabelecida entre as partes, não pode ser apreciado pela
Justiça do Trabalho. 3. Reclamação julgada procedente” (Rcl nº 4.464/GO, Relator
o Ministro Ayres Britto, redatora do acórdão a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal
Pleno, julgado em 20/5/09, DJe-157
divulgado em 20/8/09, publicado em 21/8/09). 5. Pedido de pagamento de verba do
FGTS não atrai a competência da Justiça do Trabalho. “A existência de pedido de
condenação do ente local ao pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
– FGTS não torna a Justiça do Trabalho competente para o exame da ação” (Rcl nº
7.039/MG-AgR, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em
2/4/09, DJe-84 divulgado em 7/5/09, publicado em 8/5/09).
6. Compete à Justiça comum julgar ações envolvendo servidores submetidos a
regime instituído por lei local em vigência antes ou após a Constituição de 1988.
“Compete à Justiça Estadual processar e julgar causas instauradas entre o Poder
Público e seus servidores submetidos a regime especial disciplinado por lei local
editada antes ou após a Constituição Republicana de 1988” (CC nº 7.201/AM,
Relator o Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão o Ministro Ricardo
Lewandowski,Tribunal Pleno, julgado em 29/10/08, DJe-236 divulgado em
11/12/08, publicado em 12/12/08). No mesmo sentido: “Compete à Justiça comum
processar e julgar causas instauradas entre o Poder Público e seus servidores
submetidos a regime especial disciplinado por lei local editada antes da Constituição
Republicana de 1988, com fundamento no art. 106 da Constituição de 1967, na
redação que lhe deu a Emenda Constitucional nº 1/69, ou no art. 37, IX, da
Constituição de 1988” (RE nº 573.202/AM, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 21/8/08, Repercussão Geral – Mérito,
DJe-232 divulgado em 4/12/08, publicado em 5/12/08)
7. Dissídios envolvendo cargos em comissão devem ser julgados pela Justiça
comum. “1. Interessado nomeado para ocupar cargo público de provimento
comissionado que integra a estrutura administrativa do Poder Judiciário sergipano.
2. Incompetência da Justiça Trabalhista para o processamento e o julgamento das
causas que envolvam o Poder Público e servidores que sejam vinculados a ele por
relação jurídico administrativa. Precedentes. 3. Reclamação julgada procedente”
(Rcl nº 4.752/SE, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em
21/8/08, DJe-197 divulgado em 16/10/08, publicado em 17/10/08).
8. Não cabe ao STF, em reclamação, examinar argumentos relativos à nulidade do
vínculo entre o servidor e o poder público. “Não compete ao Supremo Tribunal
Federal, no âmbito estreito de cognição próprio da reclamação constitucional,
analisar a regularidade constitucional e legal das investiduras em cargos efetivos ou
comissionados ou das contratações temporárias realizadas pelo Poder Público” (Rcl
nº 4.785/SEMC-AgR, Relator o Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado
em 17/12/07, DJe-47 divulgado em 13/3/08, publicado em 14/3/08).
Já no sentido da inaplicabilidade da regra contida no art. 19-A da Lei 8036, eis o seguinte
precedente do STJ:
Abaixo é transcrito trecho do voto condutor proferido pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima,
no qual são apontadas as razões da inaplicabilidade do art. 19-A da Lei 8036 aos servidores
temporários:
11
Em igual sentido:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. VÍNCULO JURÍDICO-
ADMINISTRATIVO INAFASTÁVEL. EMENDA CONSTITUCIONAL 19/98. PLURALIDADE DE
REGIMES JURÍDICOS. SUSPENSÃO DOS EFEITOS PELO STF. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
CELETISTA. FGTS. PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A contratação
temporária de trabalho, nos termos do art. 37, IX, da CF, tem natureza nitidamente administrativa, excluindo-se a
competência da Justiça do Trabalho para a apreciação dos feitos relativos a esse vínculo. 2. A Emenda
Constitucional 19/98, que permitia a pluralidade de regimes jurídicos pela Administração, foi suspensa, nesse
ponto, pelo Supremo Tribunal Federal, impossibilitando a contratação de servidor público pelo regime
trabalhista (ADI 2.135-MC/DF). 3. O Supremo Tribunal Federal adotou o entendimento de que a mera
prorrogação do prazo de contratação de servidor temporário não é capaz de transmudar o vínculo administrativo
que este mantinha com o Estado em relação de natureza trabalhista (RE 573.202/AM, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWISKI). 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1356972/MG, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/05/2013, DJe 10/05/2013)
E também:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. NATUREZA
ADMINISTRATIVA. SUJEIÇÃO ÀS REGRAS DE DIREITO PÚBLICO. INAPLICABILIDADE DA CLT.
INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL DO ALEGADO DIREITO AO FGTS. AGRAVO REGIMENTAL
No que diz respeito ao precedente do STJ que confere ao servidor temporário o direito aos
depósitos de FGTS (AgRg no AgRg no REsp 1291647/ES), calha mencionar que embora
suscitado pelo recorrente e reconhecido no tribunal local o óbice relativo ao regime jurídico
administrativo, a questão não foi apreciada pelo STJ, que simplesmente aplicou acriticamente
precedentes anteriores da corte referentes aos efeitos da nulidade da contratação firmada com
a Administração Pública, suscitando, em especial, a decisão do Recurso Especial nº 1110848.
DESPROVIDO. 1. O conceito de Trabalhador extraído do regime celetista não é aplicável a quem mantêm com
a Administração Pública uma relação de caráter jurídico-administrativo, razão pela qual a regra do art. 19-A da
Lei 8.036/90, quanto ao pagamento do FGTS, não se ajusta a estes últimos. Precedente: AgRg no AREsp
96.557/MG, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe 27.6.2012. 2. Agravo Regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 233.671/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 16/10/2012, DJe 19/10/2012).
alegar a necessidade de chamamento ao processo do Município de Mossoró,
incidindo, mutatis mutandis, a Súmula 284 do STF, bem assim as Súmulas 282 e
356, haja vista a simultânea ausência de prequestionamento da questão. 7. A
eventual ação de regresso, quando muito, imporia a denunciação da lide do
Município, que é facultativa, como o é o litisconsórcio que o recorrente pretende
entrevê-lo como "necessário". 8. Não há litisconsórcio passivo entre o ex-
empregador (o Município) e a Caixa Econômica Federal - CEF, uma vez que,
realizados os depósitos, o empregador não mais detém a titularidade sobre os valores
depositados, que passam a integrar o patrimônio dos fundistas. Na qualidade de
operadora do Fundo, somente a CEF tem legitimidade para integrar o pólo passivo
da relação processual, pois ser a única responsável pela administração das contas
vinculadas do FGTS, a teor da Súmula 82, do Egrégio STJ (Precedente: REsp
819.822/RN, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em
19.06.2007, DJ 29.06.2007 p. 496). 9. A Corte, em hipóteses semelhantes, ressalva o
direito da CEF ao regresso, sem prejudicar o direito do empregado (Precedente:
REsp 897043/RN, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em
03.05.2007, DJ 11.05.2007 p. 392). Recurso especial parcialmente conhecido e,
nesta parte, desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da
Resolução STJ 08/2008. (REsp 1110848/RN, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 24/06/2009, DJe 03/08/2009)
Este julgado tratava de contrato de trabalho declarado nulo. A servidora autora fora contratada
pelo vínculo trabalhista e, declarada a nulidade do vínculo, pleiteava receber o FGTS
depositado na Caixa Econômica Federal, que fora devolvido ao município contratante. O
município sequer foi réu na ação, cujo polo passivo foi integrado pela Caixa Econômica.
Portanto, a precedente tratou de recebimento do FGTS por servidor contratado pelo regime da
CLT cujo contrato fora declarado nulo por falta de concurso público. Neste aspecto, a decisão
nada mais fez do que aplicar literalmente o art. 19-A da Lei 8036.
A súmula 466 do STJ, resultante do julgamento do Resp 1110848, deixa claro que a
orientação firmada pela corte foi relativa ao levantamento do FGTS depositado pelo servidor
cujo contrato de trabalho fora declarado nulo por falta de aprovação em concurso. Vide
redação do enunciado sumular: “O titular da conta vinculada ao FGTS tem o direito de sacar o
saldo respectivo quando declarado nulo seu contrato de trabalho por ausência de prévia
aprovação em concurso público.”
12
Os demais precedentes que ensejaram a súmula 466 do STJ também discutem o levantamento do FGTS
depositado pelo servidor cujo contrato fora declarado nulo.
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. FGTS. LEVANTAMENTO. ANULAÇÃO DE CONTRATO DE
TRABALHO. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. FALTA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO
VIOLADO. SÚMULA 284/STF. ALEGADA OFENSA A ARTIGO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
COMPETÊNCIA DO STF. HIPÓTESE EM QUE É POSSÍVEL A MOVIMENTAÇÃO DA CONTA
VINCULADA. 1. Nas hipóteses em que o recurso esteja fulcrado na alínea "a" do permissivo constitucional,
cabe ao recorrente mencionar, com clareza, as normas que tenham sido contrariadas ou cuja vigência tenha sido
negada, o que não ocorreu na hipótese dos autos. 2. A deficiência na fundamentação do recurso especial atrai,
por analogia, o óbice da Súmula 284/STF: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia." 3. O exame da violação de dispositivos
constitucionais é de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, conforme dispõe o art. 102, III, da
Constituição Federal. 4. "A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem-se manifestado reiteradamente
no sentido de admitir a liberação do saldo do FGTS em favor do titular que teve seu contrato de trabalho
declarado nulo por inobservância do art. 37, II, da CF/1988. Precedentes." (REsp 831.074/RN, 1ª Turma, Relator
Ministro José Delgado, DJ de 25/5/2006). 5. Recurso Especial a que se nega provimento. (REsp 892719/RN,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/03/2007, DJe 02/06/2008) FGTS.
LEVANTAMENTO DE SALDO DE CONTA VINCULADA. CONTRATO DE TRABALHO NULO.
INOBSERVÂNCIA DO ART. 37, INCISO II, DA CF. POSSIBILIDADE. DEVOLUÇÃO DE VALORES AO
MUNICÍPIO EMPREGADOR. ILEGALIDADE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.164-40, PUBLICADA EM 28.7.2001.
JUROS DE MORA. ART. 406 DO NOVO CÓDIGO CIVIL. TAXA SELIC. APLICABILIDADE. 1. O STJ já
se manifestou no sentido de ser possível o saque do saldo de contas vinculadas do FGTS nas situações em que
contratos de trabalho tenham sido declarados nulos em virtude da inobservância do disposto no art. 37, II, da CF.
2. A Caixa Econômica Federal não tem poderes para dispor de valores pertencentes a terceiros, no caso, titulares
de contas vinculadas do FGTS. O ato de devolução de valores ao Município empregador em virtude de anulação
de contrato de trabalho configura-se ilegal. 3. Segundo entendimento consagrado pela Primeira Seção do STJ no
julgamento, em 14.2.2005, dos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 583.125/RS, a Medida
Provisória n. 2.164-40/2001, por disciplinar normas de espécie instrumental material que criam deveres
patrimoniais para as partes, não pode ser aplicada às relações processuais já instauradas. No caso vertente, a ação
foi proposta após 28.7.2001, data em que foi publicada a MP n. 2.164-40/2001. 4. Os juros de mora devem
incidir na correção do saldo das contas vinculadas do FGTS no percentual de 0,5% ao mês até a data de entrada
em vigor do Novo Código Civil. A partir de então, deverá incidir a Selic (Lei n. 9.250/95), taxa que está em
vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406 do Código Civil de 2002). 5.
Recurso especial provido parcialmente. (REsp 892451/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 10/04/2007, DJ 25/04/2007, p. 309)
Também:
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – FGTS – CONTRATO DE TRABALHO DECLARADO NULO POR
AUSÊNCIA DE APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO – SALDO LIBERADO PELA CAIXA
ECONOMIA FEDERAL – LEGITIMIDADE DA AUTARQUIA FEDERAL – FALTA DE CITAÇÃO DO
MUNICÍPIO DE MOSSORÓ – LIBERAÇÃO DE SALDO DE FGTS – VIOLAÇÃO DO ARTIGO 29-C, DA
LEI N. 8.036/90 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – AGENTE
OPERADOR DO FGTS – APLICAÇÃO DA MP N. 2.164-41/2001 ÀS AÇÕES AJUIZADAS
POSTERIORMENTE À SUA PUBLICAÇÃO – PRECEDENTES. 1. A tese relacionada à não-citação do
município de Mossoró para integrar a lide não comporta conhecimento, pois a recorrente não indicou os
dispositivos tidos como violados. 2. É o entendimento sedimentado neste Tribunal de que, em se tratando, tão-
somente, de saque do saldo do FGTS, a competência é da Justiça Estadual, e se há resistência da CEF em
proceder ao levantamento deve ser ela demandada perante a Justiça Federal. 3. O artigo 19-A, inserido pela
Medida Provisória 2.164/2001, apenas positivou o entendimento pacificado da Primeira Seção, com relação à
movimentação da conta de FGTS pelo trabalhador, que, nos casos de nulidade de contrato de trabalho, equipara-
se à demissão decorrente de culpa recíproca; de onde se conclui que as contas vinculadas ao Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço permanecem na esfera patrimonial do empregado, o que impede ingerência de terceiros. 4.
Deve ser afastada a fixação da verba honorária na espécie, pois a ação foi ajuizada posteriormente à publicação
da MP n. 2.164-40, que se deu em 28.7.2001, e que teve seu texto convalidado e repetido na Medida Provisória
n. 2.164-41, de 24.8.2001. Recurso especial parcialmente conhecido e parcialmente provido, para afastar a
condenação da Caixa Econômica Federal ao pagamento dos honorários advocatícios. (REsp 877882/RN, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/02/2007, DJ 28/02/2007, p. 217)
Também:
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO – FGTS – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL –
CONTRATO DE TRABALHO DECLARADO NULO – LEVANTAMENTO – ART. 29-C DA LEI 8.036/90 –
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – DESCABIMENTO. 1. Compete à Justiça Federal
processar e julgar demandas relativas ao FGTS em que a CEF se nega a promover o levantamento dos saldos das
contas vinculadas. 2. Pedido de levantamento dos depósitos da conta vinculada do FGTS por titular cujo contrato
de trabalho, firmado com o Município de Mossoró - RN, foi declarado nulo posteriormente. 3. O TST tem
entendimento consolidado no sentido de que, nos casos de contrato declarado nulo por falta de concurso público,
fica ressalvado o direito a salário pelo serviço prestado, sob pena de enriquecimento ilícito por parte do
empregador. Se é devido o pagamento de salário, conseqüentemente nasce para o ente público a obrigação de
proceder ao depósito na conta vinculada do empregado (art. 15 da Lei 8.036/90). 4. O STJ, equiparando a
hipótese de nulidade do contrato de trabalho à demissão do trabalhador decorrente de culpa recíproca, tem
considerado devida a liberação do saldo da conta vinculada do FGTS.
Situação que foi positivada posteriormente com o advento da MP 2.164-41/2001, que inseriu os arts. 19-A e 20,
II, na Lei 8.036/90. 5. Ressalva do direito da CEF de reaver, em ação própria os valores indevidamente
devolvidos ao Município de Mossoró (REsp 724.289/RN). 6. A MP 2.164-40/2001, publicada em 27/07/2001,
acrescentou o art. 29-C à Lei 8.036/90, afastando a condenação em honorários advocatícios nas ações entre o
FGTS e os titulares das contas vinculadas ou naquelas em que figurem os respectivos representantes ou
substitutos processuais. A lei especial atinge as ações ajuizadas posteriormente à alteração legislativa não se
dirigindo o comando apenas às demandas trabalhistas (Pacificação de entendimento a partir de decisão proferida
pela Primeira Seção no EREsp 583.125/RS). 7. Recurso parcialmente provido. (REsp 861445/RN, Rel. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/09/2006, DJ 19/10/2006, p. 285)
Também:
PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. FGTS. LEVANTAMENTO.
POSSIBILIDADE. CONTRATO DE TRABALHO DECLARADO NULO POR AUSÊNCIA DE
APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II, CF/88). CULPA RECÍPROCA. JUROS
MORATÓRIOS. ART. 406 DO NOVO CC. INCIDÊNCIA DA TAXA SELIC. INCOMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL, AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ E EXCLUSÃO DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. TESES NÃO-PREQUESTIONADAS. SÚMULAS 282 E 356/STF. 1. Ação
em que se pleiteia a liberação dos saldos do FGTS de ex-empregado do Município de Mossoró/RN em face da
Assim, tanto por sua redação como pelos precedentes que ensejaram seu nascimento, a
súmula 466 do STJ se revela inadequada para regular a situação dos servidores temporários,
cujo regime jurídico é de natureza administrativa.
declaração de nulidade do contrato de trabalho por não-atendimento ao concurso público (art. 37, II, CF/88).
Acórdão do Tribunal a quo que, reformando a sentença, admitiu a procedência do pedido exordial. Recurso
especial da CEF que alega: 1) incompetência da justiça federal; 2) nulidade pelo não-acolhimento do
chamamento do município ao processo; 3) ausência de vedação legal quanto à devolução dos valores do FGTS
ao Município; 4) incidência de juros de mora pela taxa de 0,5% ao mês e 5) violação dos arts. 29-C da Lei nº
8.036/90 e 21 do CPC. 2. No que se refere às teses de incompetência absoluta da Justiça Federal, ausência de
citação do Município de Mossoró e exclusão da condenação em honorários advocatícios, verifica-se, sem
maiores dificuldades, que o aresto guerreado, em momento algum, se pronunciou a respeito desses temas.
Ausente o requisito do prequestionamento, inviável a apreciação desses inconformismos, diante do que
preceituam as Súmulas 282 e 356/STF. 3. Relativamente à determinação de pagamento dos valores fundiários,
irretorquível é o acórdão recorrido. As contas vinculadas do FGTS compõem a esfera patrimonial dos
empregados, estando em seus nomes os respectivos créditos porventura existentes. Uma vez depositados os
valores em favor do titular da conta em razão de sua prestação laboral, incorporam-se ao seu patrimônio,
devendo estar protegidos contra ingerências de terceiros. 4. Condutas inadequadas do Município de Mossoró ao
requerer o estorno dos valores depositados em favor do autor e da CEF ao proceder à referida entrega dessas
importâncias, intervindo no patrimônio do titular da conta sem a sua anuência, previsão legal ou autorização do
Poder Judiciário. 5. Nas lides relativas ao FGTS, a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de considerar
devidos juros moratórios no percentual de 0,5% ao mês, a partir da citação (Súmula 163/STF), até o advento do
novo Código Civil, quando então serão calculados nos termos do art. 406 desse Diploma legal. 6. Quanto à
interposição do recurso pela alínea “c” do permissivo constitucional, a parte não cumpriu com os requisitos
recursais, de modo a comprovar, demonstrando analiticamente, o dissídio jurisprudencial, nos termos da Lei e do
RISTJ. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não-provido. (REsp 827287/RN, Rel. Ministro
JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/06/2006, DJ 26/06/2006, p. 128)
Também:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. FGTS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO COM O MUNICÍPIO
DE MOSSORÓ. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DOS
DISPOSITIVOS TIDOS POR VIOLADOS. SÚMULA 284/STF. LEVANTAMENTO DE DEPÓSITOS
FUNDIÁRIOS PELO MUNICÍPIO EMPREGADOR, EM VIRTUDE DE NULIDADE DO CONTRATO DE
TRABALHO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. O recorrente deixou de indicar os dispositivos de lei
federal que teriam sido violados pelo acórdão recorrido, quanto à necessidade de citação do município para que
integrasse o pólo passivo da demanda, bem assim quanto à matéria referente à incompetência absoluta da Justiça
Federal para o processamento do feito. Óbice da Súmula 284/STF. 2. Não foram prequestionadas as matérias
constantes dos arts. 406 do Código Civil, 21 do CPC e 22 e 29-C da Lei nº 8.036/90. Incidência das Súmulas 282
e 356/STF. 3. À Caixa Econômica Federal incumbe gerir a movimentação dos depósitos do FGTS, não lhe sendo
permitido liberá-los senão nos casos previstos em lei, o que não é a hipótese dos autos. 4. Esta Corte sempre
admitiu a movimentação pelo empregado dos valores depositados em sua conta vinculada do FGTS em casos de
nulidade do contrato de trabalho por inobservância do art. 37, II, da CF/88, porquanto equipara essa situação à
demissão do trabalhador decorrente de culpa recíproca. Precedentes. 5. Recurso especial improvido. (REsp
781365/RN, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/10/2005, DJ 07/11/2005, p.
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Conclusão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 13ª edição. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2005.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 29ª edição. São Paulo:
Malheiros, 2004.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 17ª edição. São Paulo:
Malheiros, 2004.
MELO, Frederico Jorge Gouveia de. Admissão de Pessoal no Serviço Público. 2ª edição. Belo
Horizonte: Fórum, 2009.
SOARES, José Ronald Cavalcante (coord). O Servidor Público e a Justiça do Trabalho. São
Paulo: Editora LTR, 2005.