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Perla de Castro

Conselho Editorial

Alberto Neto
 Pedro Cotrim
     Perla de Castro

Projeto Gráfico
    Perla de Castro

Colunistas

Alberto Neto 
Daniele Ferreira
Diego Guerra
Elves Boteri
Jhefferson Passos
Luana Melo
Raquel Rasinhas
Vagner Abreu
Revisão
Raquel Rasinhas

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Editorial
Quem olha para fora,sonha.
''

Quem olha para dentro,desperta. Carl Jung


'' -

Não foi fácil chegar até aqui. Foram dias corridos,
noites em claro, dúvidas, mas também certezas.
Muitos erros, mas também acertos. A base da Litere­
se era feita de sonhos. Mas faltava despertar e no
momento certo, isso aconteceu. Além de sonhos foi
nutrida de gente que acreditou, de força, de vontade
e mais que tudo, de coragem.

Litere­se nasceu de um mergulho de cabeça no
acreditar que mesmo vivendo em um país onde não
se é dado o devido valor a quem escreve, que é  sim
possível escrever. É possível sim colocar nas linhas
de um papel, letras para uma história tecer e fazer ela
voar ou florescer.
Seremos uma vitrine para escritores que carecem de
espaço para mostrar suas palavras,espaço esse que
nós que fazemos a Litere­se, também sentimos falta.
Seremos o incentivo e a mão que ajuda a seguir no
caminho certo para que você escritor/leitor não pare
nunca de escrever.

Convidamos vocês a mergulharem conosco nesta
primeira edição, onde falaremos das várias vertentes
do medo. Alguns escritores dividiram conosco suas
histórias de medos, angústias e pesadelos. E você?
Está pronto para enfrentar seus maiores medos?
Sejam bem­vindos e Litere­se! 

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Autores nesta edição

Airton Cesar
Ana Maria Araújo Ramos
Daniel de Santana Pelotti
Danieli Mützenberg
Elisangela Domingos da Silva
Elicio Santos Nascimento
Jana Nascimento
Jonnata Henrique
Lisi de Castro
Maluz Medeiros
Mohanna Pfitcher
Rivaldo Silva
Rodrigo Marques
Walter Cavalcanti

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Índice

07 Perseguido pelo medo que perseguimos

09 Escuridão profunda e vazia ­ Uma página sombria

10 Resenha ­ O cemitério

14
A
A noite das bruxas ­ Doces ou Travessuras?
A A
15 Aposta Final

17 Fonte Macabra da Juventude

18 No porão
19 Minudência
20 Entrevista com a autora Soraya Abuchaim

23 Contos, onde eu os encontro?
A A
24 Vida de Escritor

30 Loop
32 Réquiem para um sonho
33 Mula sem cabeça
34 Faça­me sangrar
A A

4
Índice

38 Ralo

39 A História da Estória

A
42 Inscrições para a próxima edição 
A A
43 O Velho Caolho
46 Pensamentos Atravessados

47 Pesadelo

49 Uma tese acerca da dor e do pesadelo

50 Silêncio
51 Psicopata A A
52 Perfil
56 O lado agridoce da Poesia
57 Chá das quatro
58 Prosa Poética
59 Esquizo
A A

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Perseguido pelo medo que


perseguimos
O medo é um sentimento que está em Daí, nasceram as armas e depois a guerra
nossa raiz, sempre esteve e assim será e no século XX, as bombas nucleares.
para sempre. Existem motivos biológicos, Sempre o medo de perder poder, perder
psicológicos, mas o motivo real, é que hegemonia, medo que causou manchas
gostamos de senti­lo permanentes na nossa história, tirou
muitas vidas e, gerou muito mais medo. O
O medo é uma sensação que sempre ser humano, por conta do seu medo, é um
esteve presente em nossas vidas. É um gerador de medo. Suas escolhas
aliado, já que nos protege das situações inconsequentes, as escolhas desastrosas
de risco. Ele pertence a todas as o egoísmo latente e primitivo, tudo para
espécies e é um excelente mecanismo mais dinheiro, tudo por mais poder, tudo
de defesa. É o que não nos permite para gerar mais medo. Somos uma
simplesmente pular de uma grande altura sociedade do medo.
ou, enfrentar um predador muito maior e
mais forte que a gente (olhando para o O medo gera o caos e esse caos pode e é
Mundo Animal de um modo geral). revertido em prazer. É uma fonte de
Partindo para o ser humano, o satisfação, é viciante. Só assim para
surgimento e desenvolvimento da nossa explicar os motivos do ser humano gostar
sociedade está atrelada ao sentimento tanto de tê­lo presente, de gostar tanto de
de medo. Muitas das importantes se colocar em situações de risco
descobertas da humanidade, veio desse controlado. O medo nos move, nos
medo ou, da necessidade de evitá­lo. estimula, nos excita.Está nos livros de
Fora assim nos primórdios, com a busca história, plateia do Coliseu romano,
de abrigos, a descoberta do fogo e sempre lotada, para ver escravos ‘lutar’
seucontrole, tirando nossos ancestrais contra leões, ver pessoas se enfrentando
dos perigos da escuridão, a transição de até a morte, na Idade das Trevas (Idade
uma sociedade nômade, para sedentária, Média), a espetacularização das
impulsionada também, pelo medo da execuções públicas, em que o carrasco
escassez de alimentos, fazendo com que era o herói, independente da inocência ou
o homem primitivo passasse a cultivar não, do réu, o importante era vê­lo morrer
alimentos e domesticar animais. Indo e isso vem com o nosso desenvolvimento,
para a criação de outros mecanismos de nos trazendo até os octógonos.
defesa, agora físicos,  a fim de proteger
os territórios conquistados.
.
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 Somos uma sociedade que ainda vive Porém, a alta concentração de dopamina,
sobre a sombra da intolerância, do que deixa o corpo em alerta por um
preconceito, com medo de aceitar as momento, ao começar a diminuir, nos causa
diferenças e gerando medo por conta disso. uma sensação de prazer e tranquilidade.
 Somos uma sociedade sádica, somos uma Essa também é a explicação para que as
sociedade da estagnação. obras de medo, não tenham situações de
medo o tempo todo, pois o prazer depende
Mas, como para tudo tem uma explicação, a desse aumento e diminuição de dopamina
ciência sabe o motivo de querermos sentir em nosso organismo.
medo. Os motivos que nos levam a lotar
salas de cinemas e adorarmos filmes como Assim como a biologia, a psicologia faz
Exorcista, O Iluminado, O Bebê de diversos estudos sobre a relação do ser
Rosemery ou, se delicie com uma história humano com o medo. Essa relação de amor
de Allan Poe, um poema de Augusto dos e ódio. Para o criador da psicanálise,
Anjos ou, aquelas histórias tenebrosas à Sigmund Freud, por exemplo, o homem
beira da fogueira. Ainda, por querermos precisa dessas situações de medo, “para
praticar esportes radicais, buscar extrapolar construir o seu psiquismo” (Revista Galileu –
os limites dos nossos corpos. Rita Loiola).“Essas narrativas tiram o medo
que está dentro do ser humano, projetando
A biologia explica que, em situações de para fora os objetos de pavor”, explicou o
risco, nosso corpo nos coloca em alerta e psicanalista Ernesto Duvidovich (Centro de
prontos para uma batalha, se for Estudos Psicanalíticos de São Paulo), para
necessário. Ele ativa o nosso ‘circuito do Rita Loiola, em matéria da Revista Galileu.
medo’, formado por núcleos cerebrais –
amígdala e hipocampo – e passa a produzir Precisamos do medo, ele nos move, nos
e liberar mais neuro­hormônios e motiva e, mais que isso, faz parte de nós, da
neurotransmissores. Nosso corpo de enche nossa formação e evolução. Ele está e
de dopamina, endorfina e adrenalina, sempre esteve presente na nossa
estamos prontos para nos proteger, mas, ao organização social e assim será sempre.
percebermos que o perigo é de ‘mentirinha’, Somos uma sociedade perversamente
o organismo suspende todos os processos. medrosa. Nós gostamos disso!   
  

Pedro Cotrim

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Escuridão profunda e vazia - Uma página sombria

Por, Jhefferson Passos

Inferno existe?
Todos os seus amigos A mãe assistia TV quando
compareceram ao churrasco, a filha entrou na sala e
menos sua namorada. perguntou se o
Quiseram saber dela. Ele deu de inferno existia mesmo.
ombros encarando a Intrigada, a mãe quis
churrasqueira. saber por quê.
Sobre a brasa, sangue e gordura ­ É que minha boneca está
pingavam das carnes...
dizendo há dias que tinha
escapado de lá
e que precisa de um corpo
urgente.
Disseram que ela tinha gordura localizada.
Ao chegar em casa, pegou a faca e começou a cortar
tudo.

– Estava deliciosa a sopa, mamãe!


A mãe sorri agradecida para o filho.
– Mamãe? Vai ter mais amanhã?
A mãe baixa os olhos para o único braço
com tristeza e diz:
Só estava de calcinha quando desceu ao
– E como vou cozinhar sem braço,
porão.
querido?
“O que acha? Essa cor combina comigo,
– Posso ajudá­la! – responde animado o
não acha?”, disse ele à menina
menino.
amarrada e amordaçada na cadeira. Por
O sorriso volta ao rosto da mãe.
algum tempo, no silêncio sujo daquele
– Então, amanhã, vai ter sopa, querido!
úmido porão e das lágrimas de pavor
Vai ter!
dela, ele a encarou duramente.
– Eu te amo, mamãe!
“Estou com fome.” , disse, baixando a
– Eu também, querido. – a mãe dá um
calcinha...
beijo na bochecha do filho. – Que tal a
mamãe usar aquele resto do seu pai
antes que estrague na geladeira?

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Resenha

"O Cemitério”
STEPHEN KING

Título: "O Cemitério"
 Título Original: "Pet Sematary"
 Autor: Stephen King
 Ano de Publicação: 1983
 Editora que publicou no Brasil: Objetiva
 Número de Páginas: 285

Provavelmente é um erro acreditar que exista um limite para o horror
que a mente humana pode suportar. Parece, ao contrário, que certos
mecanismos exponenciais começam a prevalecer à medida que o
infortúnio se torna mais profundo. Por menos que se goste de admitir,
a experiência humana tende, sob muitos aspectos a corroborar a
ideia de que quando o pesadelo se torna terrível o bastante, o horror
produz mais horror, um mal que acontece por acaso engendra outro,
frequentemente menos ocasional, até que finalmente a desgraça
parece tomar conta de tudo. E a mais aterradora de todas as
questões talvez seja simplesmente querer saber quanto horror a
mente humana consegue suportar conservando uma atenta, viva,
implacável sanidade".

Stephen King, Pet Sematary
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Sobre o livro

"O Cemitério" (Pet Sematary no original) é conhecido por ser o livro que Stephen King
supostamente "achava tão assustador que não devia ser publicado", imagem vocês que
loucura e que felicidade para nós fãs que ele resolveu compartilhar essa obra prima do
terror conosco não é?!

A ideia do livro rolou depois que o gato da filha de King foi atropelado e então ele imaginou
como seria se o animal voltasse a viver.

Fez pesquisas sobre a existência de cemitérios de animais, pesquisou costumes funerais e
a imaginação das crianças referente a como lidam com a vida e a perda de seus animais de
estimação. Tudo isso para a composição do livro.

"O Cemitério" vendeu de 657,000 exemplares no primeiro ano. Até hoje, é considerado um
livro de difícil leitura pela sua morbidez e conteúdo macabro. É considerado uma leitura
pesada e para os que gostam do estilo, é considerado um dos melhores livros da
bibliografia de King.

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O cemitério

O livro se inicia quando Louis Creed, um Louis para a floresta para lhe “fazer um

jovem médico e sua família ­ a esposa favor”. As crianças das redondezas

Rachel, a filha Ellie, e o bebê Gage, se construíram um cemitério para animais que

mudam para uma pacata cidade do Maine, morrem na autoestrada, o "Cemitério de

para uma casa em Ludlow, onde Louis vai Bichos" (escrito errado na placa em sua

trabalhar como chefe de Enfermaria na entrada), o lugar fica bem atrás da casa dos

universidade. A tensa Rota 15 passa bem Creed, numa área selvagem de Ludlow.

em frente a casa do casal, e isso os deixa Mas, o que eles não sabiam era que mais

apavorados por ter que atravessar a atrás existia um cemitério indigena

rodovia e topar com um caminhão em alta construido pela tribo Micmac há séculos.

velocidade. Do outro lado da estrada vive
um casal de idosos, Jud Crandall e sua Por ser desconhecido e mais afastado,

esposa, Norma. Os Creed rapidamente se Louis resolve enterrar Churchill nesse lugar

sentem em casa e ficam bem amigos de sinistro, e para o espanto de todos, o gato

Jud e vão levando uma vida normal sem volta a vida. Então, começa uma série de

grandes tumultos e acontecimentos até que acontecimentos sinistros que dá a pegada

o gato de Ellie, Churchill, é atropelado por inicial para o livro.

um automóvel na Rota 15. Logo após o
acidente com o gato da filha, Jud leva
Louis para a floresta para lhe “fazer um
favor”. 

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O gato morto volta para casa...algo parece
"estranho", mas Ellie parece feliz com seu É possível sentir perfeitamente como a
gato e não nota mudanças na aparência e sanidade mental de Louis vai se
nem no comportamento do animal a deteriorando cada vez mais rápido a
principio. Pouco tempo depois, a idílica vida medida que a dor o consome. Chega um
dos Creed é esfacelada por uma tragédia momento em que ele parece não se
brutal. Gage corre para a estrada e é importar mais com nada, apenas com a
atropelado fatalmente por um caminhão. A obsessiva busca por um fim de sua dor.
família é brutalmente dilacerada e mesmo
passando meses da morte de Gage não Em 1991, "O Cemitério" foi adaptado para o
conseguem voltar a viver uma vida normal. cinema com roteiro escrito pelo próprio
Em meio a tristeza e desespero, Louis Stephen King.
manda Rachel e Ellie para a casa dos
sogros em Chicago e se lembra do gato que
depois de enterrado no cemitério secreto e
mistico dos indigenas voltou a vida. Pensou
em fazer o mesmo com o filho já que não
aceitava a morte do garoto. Vai até o
cemitério onde o menino está enterrado e
secretamente exuma o corpo de seu Daniele Ferreira
túmulo, o enterrando novamente no
cemitério Micmac. Gage volta a vida como
um ser monstruoso com uma sombra
demoníaca dele mesmo, capaz de falar
como um adulto.

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A noite das Bruxas – Doce ou travessura?
Ela abre os olhos de repente. Assustada, Quando chegou no ponto, tinha dois
olhando ao redor. Está presa em uma caras vestidos de palhaços. Um
caixa. O desespero bate. Começa a segurava uma garrafa de vodca,
arranhar e esmurrar a lateral da caixa e enquanto o outro, mexia no celular. Ela
pedindo socorro, mas ninguém lhe ouviu. ficou onde estava. Pois eles pareciam
O ar começou a faltar, suas unhas estar bêbados. Passou alguns minutos,
começam a sangrar por causa do e seu celular toca. Ela retira ele do bolso
esforço que faz, tentando sair. Aos para atender, mas é surpreendida por
poucos vai perdendo a consciência, até uma pancada na cabeça e desmaia.
sufocar...
Ela abre os olhos, meio desnorteada.
Natasha estava achando aquela festa Sua cabeça lateja. Olha ao redor, e se
um tédio. Só aceitou mesmo ir, por vê em um galpão abandonado. Tenta se
causa da sua amiga Ilanna, que ficou o levantar, mas não consegue, suas
mês inteiro lhe enchendo o saco; “Você pernas e mãos estão amarradas. Grita
tem que ir. Você precisa ir. Essa é a por socorro, mas ninguém aparece. Ela
melhor festa de Halloween da cidade!”. começa a chorar. Nisso, a porta se abre,
Natasha não estava vendo nada de e os dois palhaços aparecem.
extraordinário ali. Ela sabia qual era a
verdadeira intenção de sua amiga. ­ Doce ou travessura? – um deles diz,
Ilanna queria mesmo era ir para dar em dando gargalhada.
cima do Capitão do time de basquete, e ­ Por que vocês estão fazendo isso
quando conseguiu a atenção dele, comigo? – ela pergunta, chorando.
deixou ela ali, sozinha às  moscas. ­ Oras, hoje é Halloween, gostamos de
Natasha já não estava aguentando mais doces, mas travessura é mais divertido.
aquela música chata. Levantou­se de – responde o outro.
onde estava, olhou ao redor para ver se ­ Vocês são loucos! O que vocês vão
encontrava a amiga, para avisar que fazer comigo?
estava indo embora. Mas nenhum sinal ­ Só uma travessura. Vamos te colocar
dela. “Quer saber? Ela me deixou aqui, em um caixão. – responde o primeiro
também vou deixá­la” – pensou, palhaço, apontando para o canto do
passando entre as pessoas e indo em galpão.
direção a porta para ir embora. Ela tenta gritar, mas o outro palhaço com
um lenço embebido em clorofórmio,
Á noite estava agradável. Não tinha tampa seu nariz, fazendo­a desmaiar
nenhuma estrela no céu, apenas a lua novamente.
cheia se destacava. Na rua, havia ainda
algumas pessoas fantasiadas e crianças
Lisa Hallowey
pedindo doces nas casas. Natasha pôs o
fone no ouvido e começou a caminhar
até o ponto de ônibus. 
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Aposta Final
Tem gente que se apega em amuletos, — Ora, deseja que te dê tudo que tenho
signos e na pura sorte do destino para aqui comigo? – indignou­se o homem
viver. Outros se valem da sua apostador. Após o meneio positivo da
competência, inteligência e até da falta cabeça, cada centavo lhe foi entregue a
disso nos demais. Entretanto para essas contragosto. Porém ele
últimas pessoas, há os que também não permitiria que isso acabasse assim.
possuem a soberba junto às boas Aliás, ambos não queriam que isso
qualidades. É o caso de um homem que acabasse, pois antes mesmo do
ria do infortúnio dos outros. Era tão fácil apostador pedir uma revanche, o sujeito
para ele vencer em qualquer que fosse o estranho repetiu o desafio: apostemos
jogo, que a aposta se tornou a sua tudo o que
profissão. Assim, todo dia ele saia de temos. O homem, ao menos, já sabia de
casa na mesma hora, fazia seu intervalo algo que poderia receber dele agora.
de almoço em horário acertado e voltava Seu dinheiro perdido. Logo trataram de
para o que chamava de serviço, até o ajeitarem o tabuleiro novamente. Agora,
horário de voltar para sua família. Os felizmente, o apostador sabia o esquema
lugares eram sempre os mesmos. de  jogo  do  estranho  desafiador  e
Mesas de bares, praças, festas de  poderia  vencê­lo  com  facilidade.
amigos… Não importava onde, o jogo e  Porém  a  segunda  partida encerrou
contra quem fosse. Ele sentava e com outra vitória do sujeito.
apostava sem medo. — Bem, não tenho mais nada aqui
Bem, agora muitos estão pensando: Rá! comigo – sorriu o homem. — Dei cada
Um dia esse sujeito perderá mais do que centavo que havia em meus bolsos. Só
pode pagar e aí já era! se levar minhas roupas do corpo.
A verdade é que não é bem assim. Ele — Conta bancária, senhor. E apostemos
realmente encontrou um sujeito que o tudo o que temos.
desafiou e que a princípio pareceu fácil Tais palavras soaram como um choque
de ganhar. Mas que não foi tão simples elétrico que o petrificou, fazendo
assim. O jogo era Damas, algo que ele somente os pelos do corpo se moverem.
mais gosta e conhece. O prêmio? Bem. — Tudo o que, cara. Cê acredita me
O tal sujeito disse ser tudo o que tinham. levar mais o que? Minha casa, meu
Todavia, pela sua aparência, não carro… minha
parecia ser muito. Mesmo assim o família? RA­RA­RA! E o que cê tem pra
homem apostador não recusou a oferta. me oferecer, afinal?
Sentaram­se frente à mesa e montaram
suas peças no tabuleiro. Ao fim da
primeira partida, o sujeito estranho sorriu
por baixo do chapéu maltrapilho e
apontou para os bolsos do rapaz.

15
Porém, quando na quinta rodada, o Logo a partida se encerrou:
apostador via agora que esse “tudo” que — E aí, quer que eu lhe assine um termo
o sujeito tinha era muita coisa. Pois as de compromisso, comprovando que tudo é
posses que o estranho passou a ter ao seu? – O homem abre um sorriso fraco e
longo das partidas era realmente sua desanimado, com a respiração variando
própria  casa,  seu  carro  e  sua  fortuna entre o raivoso e o cansado.
 (tanto  bancária  quanto  dos  bolsos).  O Entretanto o estranho apenas sorriu de
 que  lhe  deixava totalmente fora de si, volta e pediu por mais outra jogada.
porque agora era sua família quem Poderia até ser outro jogo da escolha do
estava em jogo. apostador, mas a aposta seria a mesma.
O suor escorria a cada peça movida. Ele Porém o que mais ele poderia querer, já
esfregava o queixo sem cavanhaque e que havia lhe levado tudo? Tudo mesmo!
inspirava nervoso. Pensava na loucura Ainda assim o sujeito, mais uma vez,
disso tudo. Não fazia a menor ideia quem repetiu:
fosse ele, de onde viera e nem existia — Apostemos tudo o que temos nesta
uma documentação de transferência de nossa aposta final. 
posses. Apenas o público como
testemunha. “Mas isso já valia?” –
pensava o homem. Mais uma vez ele
esfregou a mão no queixo e fez sua
jogada. Essas seriam as últimas. Os
olhos passeando de rosto em rosto, os
ouvidos captando cada cochicho a sua
volta e a pele coçando em vários pontos.
Não importava a estratégia que fizesse, o
sujeito sabia muito bem como se
defender e contornar a situação. Já ele…
nada podia fazer para virar o jogo a seu Daniel de Santana Pelotti
favor.

16
Fonte macabra da juventude
Num instante Bia se perdeu do grupo. A O isqueiro foi ao chão tal era o tremor da
trilha cheia de bifurcações era traiçoeira, mão de Bia. Viu a face enrugada de uma
se apresentava como um labirinto. Um bruxa. Correu apavorada rumo a saída. Ao
uivo longo a arrepiou. Sentiu medo e alcançar a parte externa se deparou com um
gritou em vão por socorro. Desesperada, lobo enorme de olhos acinzentados. Estava
passou a correr sem rumo. Acabou possuído. A bruxa o controlava. O lobo
tropeçando e caiu em uma ribanceira. avançou contra Bia, fazendo­a retornar a
Rolou até bater a cabeça num galho e gruta. Sem enxergar, bateu com o joelho
desmaiar. num túmulo e caiu ferida.
Com uma dor aguda na cabeça, Bia abriu As velas foram acesas uma a uma
os olhos lentamente. Enquanto estivera iluminando o ambiente. Bia pode ver o lobo
desacordada, a noite caíra. Escutou um baforando a seu lado e a velha bruxa lhe
uivo bem próximo. Levantou­se revelando:
apressada, sem destino. — Fiz você se perder e a atrai para cá.
Seguiu para uma gruta, em busca de Preciso do vigor do seu corpo.
abrigo. Travou na entrada, ante a E o lobo saltou na jugular da moça. A
escuridão do local. Tentou pegar o mordida coletou a juventude de Bia e a
isqueiro que levava na mochila quando transferiu para a bruxa. Em troca, a besta
passos nas folhas secas anunciaram a fera recebeu um banquete de ossos que
aproximação de alguém. foram triturados e engolidos com satisfação.
Nervosa, desistiu do isqueiro. Arriscou Revigorada, a bruxa foi desfrutar de mais
entrar sem conhecer a gruta. No interior, alguns anos de sua vida milenar.
escuridão total. Tateou a mochila
novamente e enfim encontrou o isqueiro.
A chama revelou uma catacumba com
vários túmulos abertos servindo de
morada para ratos. Bia estremeceu ao
pensar onde estariam os corpos.
Foi dando um giro de 180 graus até ver Rodrigo Marques
restos mortais minuciosamente
empilhados. Ao redor, grandes velas
negras a serem acesas. E sentada numa
cadeira de balanço, uma velha senhora
lendo um livro de magia negra. A velha
ergueu a cabeça dizendo:
— Finalmente chegou.

17
No porão... Magg acorda e não reconhece onde está,
Era uma noite fria e intensa de outono, seu corpo está repleto de sangue e seu
nada poderia ser mais perfeito com esse corpo implora por alguns cuidados para
clima do que uma xícara de café e um que a dor suma. Quando ela olha ao seu
bom livro, ou quem saiba, um filme. Magg redor, encontra o corpo das crianças
estava trabalhando como babá em uma mortas, torturas violentamente. Tudo ao
casa onde as crianças já estavam a seu redor está vermelho.Vermelho na cor
dormir. Ela foi até a cozinha, pegou uma de sangue fresco.
lata de refrigerante e quando retornou na Ela se levanta e checa o corpo das
sala , no sofá estava sentada uma das meninas que já estão frias. Ela sobe as
crianças. Andy. escadas e então percebe que está no
Magg a principio se assustou, a menina porão. Seu corpo estremesse, ao tentar
estava encolhida, com os olhos abrir a porta que está chaveada. Ela
vermelhos e os lábios azuis. A criança escuta passos na mesma escada no qual
olhava fixamente a televisão que estava subiu e quando olha para o lado de baixo
em volume baixo. Magg a tocou, mas vê a temível criatura.
Andy permaneceu sem se mover, como Esquelética, cheia de sangue, com garras
se estivesse em um profundo transe.–Ele e dentes afiados, ele começa a se
não me deixa dormir –Andy falou aproximar e Magg tenta escapar, fugir
baixinho em um tom monótomo que para algum lugar, mas não há
soava de uma maneira espantosa. escapatória. Ela se encolhe contra a porta
–Quem não te deixa dormir, baby? e então sente sangue pingando em suas
Os olhos da menina se encheram de pernas nuas.
lágrimas e uma escapa molhando sua Queria eu dizer que ela conseguiu
bochecha pálida. Ela aponta em direção escapar, mas não. Quando os pais das
do lado escuro da sala. Quando Magg crianças chegaram se depararam com a
olha para onde a menina aponta, vê uma pior cena que poderiam encontrar. Suas
sombra mais escura que a olha duas filhas e a babá nuas, com a pele
ameaçadoramente. azul e com os rostos deformados com
Magg se levanta, pega Andy em seus marcas das imensas garras.
braços e lentamente vai em direção às A criatura ainda se escondeu na casa,
escadas para ver como está a outra mas nenhum morador quis compra­lá,
criança. Quando ela está quase no último então hoje, ela vaga por aí, procurando e
degrau, sente Andy sendo puxada pela esperando atenciosamente sua vitima
sombra negra e quando olha para perto olhar para o canto escuro do cômodo,
da porta, a outra criança está lá com um onde ela lhe observa esperando o
sorriso estampado no rosto. momento certo de lhe atacar e assim
Um grito ensurdecedor ecoa pela casa. O fazer de você seu brinquedo vivo, no qual
grito de Magg, enquanto ela é empurrada no final, é quebrado.
da escada batendo seu corpo contra os
degraus até chegar no chão pleno. Com
Mohanna Pfitcher
o corpo doendo, Magg desmaia, mas
antes, vê as crianças voltando para o
quarto. 18
Minudência
O tudo virou nada. No nada ela mergulhou. O amor virou
nada;
A vida virou nada. Esperança, nada.
Aquela noite seria a última ou um recomeço?
O que via era um consolo em forma de garrafa. Bebeu
como se fosse a última vez, cada gole uma lágrima.
Engolia sua mágoa, sua dor, o desamor, suas faltas, suas
preguiças e suas falhas.
Com olhos cheios de nada, viu uma pequena luz que
brilhava. Uma luz que dá coragem a quem não pensa em
mais nada. Aquela lâmina afiada findaria o que agora era
nada.
Sua mão trêmula não a segurava, a lâmina pesava mais
que a mágoa. Ela lutava. Não conseguiu ser forte.
Num rompante avistou a porta...
­ Não vou mais me esconder.
Pela porta saiu em disparada, quando o vento bateu em
seu rosto e os olhos fitaram aquela noite estrelada... Uma
vida surgiu do nada. Sentiu­se aliviada. Sentiu­se amada,
mas um clarão do nada acabou com aquela mente
atormentada. O seu desejo fora realizado, a morte levou
aquela criança que não sabia de nada.

Lisi de Castro

19
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Entrevista com a autora


Soraya Abuchaim
Quando decidiu que era hora de
escrever um livro?

Na verdade a resposta é até um
pouco engraçada: eu descobri
quando um dos meus contos ficou
longo demais (risos).
Eu tinha o sonho de ser escritora,
mas não fazia ideia por onde
começar. Estava escrevendo um
conto que eu pretendia mandar para
uma antologia, e quando percebi, a
história foi crescendo e eu me
empolguei. Fui criando minha própria
técnica (com ajuda de escritores já
conceituados), e a o livro foi
A Revista Litere­se traz para você ganhando forma.  
uma entrevista mega divertida com
a autora de Até eu te possuir.

Quando a escrita entrou em sua De onde tira inspiração para
vida? escrever?

A escrita entrou na minha vida Eu não faço ideia (risos). A inspiração
quando eu descobri que poderia
colocar no papel tudo o que vinha simplesmente vem, um pensamento,
na minha cabeça. Isso antes de eu um sonho, uma conversa. Hoje em
me achar capaz de escrever um dia, tudo vira história. Tenho assunto
livro. Eu era adolescente ainda, e a
para uns cinquenta livros, pelo
vontade de escrever começou a
tomar conta. A princípio, eram mais menos. Como escrevo suspense, me
desabafos, mas comecei depois a sinto muito inspirada por filmes e
criar personagens e histórias, e séries desse gênero. Também assisto
passei a escrever contos e
crônicas. Era uma sensação bastante Discovery ID. É um
maravilhosa! Ainda é, na verdade. laboratório do crime (risos).
Quando sento para escrever é
como se eu vivesse outro mundo,
como se tudo mudasse de lugar.

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Quais suas influências literárias?

Em primeiro lugar, Stephen King. Ele reina
quase absoluto nas minhas influências, é
meu mestre e meu muso, mas também
gosto de Elizabeth Haynes, Liza
Klaussmann, Mary Higgins Clark, Gillian
Flynn, Jane Austen, entre muitos outros. 

De onde surgiu a ideia para seu livro,
Até eu te possuir?

Como falei, era para ser um conto, mas a
ideia foi crescendo muito. Eu comecei a
criar a história e submeti minha irmã e
uma das minhas amigas a um
brainstorming, e as ideias floriram. Mas
não foi nada específico, geralmente
minhas ideias começam com um detalhe,
e crescem muito mais do que eu
imaginaria. Tanto que eu não tinha final
até quase chegar às últimas páginas
desse livro.

Como funcionou seu processo de
escrita do livro? Em quanto tempo
conseguiu concluí­lo?

Eu simplesmente fui escrevendo. Talvez
eu tivesse sofrido menos se houvesse
feito algum roteiro, mas foi de cabeça,
mesmo com as alternâncias entre passado
e presente. Eu o concluí em oito meses (a
primeira parte). Depois mais alguns meses
para reler e aparar as arestas. Na
realidade, a parte mais fácil de publicar um
livro é escrevê­lo (risos).

21
Nos conte um pouco sobre como foi com nossas ideias, percebemos que há
sua experiência na Bienal do Livro de público para todos os gostos. Hoje em
São Paulo. dia temos a vantagem de poder publicar
de várias formas, então basta criar
A minha experiência na Bienal foi coragem e ir em frente. O resultado é
mágica. Estar ali como autora foi um mágico.
sonho que eu nunca pensei que fosse
realizar. Conheci outros escritores que Novos projetos? Podemos esperar
admiro, falei com leitores e mostrei meu outra maravilha de livro vindo por aí?
trabalho em uma das feiras que mais
amo. Eu estava tão nervosa que nem Sim!!! Estou terminando o segundo
dormi no dia anterior, mas fui me livro, um suspense que se passa em
acalmando quando percebi que não era uma vila do final do século XIX (tem até
nenhum bicho de sete cabeças. Lá, o booktrailer dele no meu canal do
pude conhecer um pouco mais sobre Youtube) e já comecei um terceiro, mas
meu público, e isso também está sendo esse ainda é segredo (pelo menos até
essencial para o meu direcionamento de eu terminar A vila dos pecados).
marketing. Acho que foi uma excelente
porta de entrada no mundo literário. Deixe uma mensagem para nossos
queridos leitores.
Qual conselho daria para os
escritores que ainda não tiraram seus Um escritor não existe sem leitores,
originais das gavetas? então, cada um de vocês tem um
espaço no meu coração. Obrigada pelo
Meu conselho é para que eles abram a apoio, pelo carinho, e por terem lido a
gaveta e mostrem ao mundo seu talento. entrevista até aqui. Se você chegou até
Nosso trabalho não é tão ruim quanto a a pergunta final, já ganhei meu dia <3
gente pensa. Temos a mania (pelo
menos eu tenho) de não confiar no que Perla de Castro
escrevemos, mas quando as pessoas
entram em contato com nosso mundo,  22
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Contos, onde eu os encontro?


Nas travessas das estantes, nas malas dos viajantes, nas máscaras
dos comediantes e atores praticantes. Em todos esses lugares eu
poderia achar tais impasses
ou apenas observar a minha cidade, essa pequena lasca da sociedade
e ver, e sentir aquilo que me faz refletir.

Prólogo de um Apocalipse

Havia um zumbi vagando sozinho lá na Eu que estava gripado,
praça da Matriz, com todas as suas instintivamente funguei bem profundo
características tão bem ressaltadas: e senti aquele cheiro repelente
Tinha uma pele meio esverdeada, invadir o meu nariz, percebi também
exalava um miasma do tipo que atiça a as moscas que dançavam em volta
asma de quem passa, os olhos do daquele homem que as ignorava
tamanho de bolas de bilhar eram mesmo que algumas se grudassem
vidrados e seu hálito azedo marcava a em sua pele. E foi assim com o
sua fala enquanto pedia por ​
 Cérebros! chamado das moscas que todos nós
No entanto, não se criou pânico ou se passamos a olhá​
lo com a merecida
teve qualquer sinal de receio por parte curiosidade.
dos outros apenas a usual indiferença “ZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzz
se fez presente e tornou aquele ser zzzz!!!”
especialmente distinto em apenas mais Esse som foi crescendo e tomando
um excluído. Eu também confesso que conta de toda a praça, substituindo o
inconscientemente o ignorei, na "zum​
zum​
zum" tão característico dos
realidade só me dei por conta de sua centros urbanos. Não conseguimos
existência enquanto sentava no banco correr a tempo e tudo ficou negro.
do ônibus, estava demais ocupado Foi como um eclipse marcando o
pensando nos meus horários e alguém início do fenômeno conhecido como
comentou:  Apocalipse
 Que cheiro de morte é esse?
Alberto Neto

23
O Guia de Etiqueta Para Quem Deseja Ser Um Escritor Profissional

4 Dicas De Posturas Essenciais Para Quem Deseja Entrar Para o Mercado Editorial.

Olá escritores, … Ou em horários de intervalos.
“Será que é só ir enviando para Na verdade, até faz parte das
editoras e esperar resposta?  “características da classe” mexer no
“Então o que devemos fazer”? texto dos outros.
Bom… Adote uma postura profissional Mas o pobre editor tem muito mais
antes de mais nada. Confira nesse tarefas dentro do seu dia… E não são
artigo o porquê disso! poucas!
Desde escolher o melhor design para
Esperando A Resposta… capas e diagramação até escrever
textos de apresentação. Passando é
Primeiramente, decidir simplesmente claro por uma “bagalhada” de serviços
enviar um material (do nada assim) é burocráticos como inscrever na ISBN,
pedir para ganhar um eterno chá de fazer contato com distribuidores, ver
cadeira. contratos com autores, acompanhar os
Nunca fui editor “off­line” – euzinho até valores de vendas… Ufa! Me sinto
gerencio sites para meus clientes; cansado só de ler essa lista.
reviso textos e coordeno equipes – mas Entre tantas atividades complexas
sei que a vida de um editor é seria presunção acreditar que esse
complicadíssima. profissional ficaria lá… de braços
Engana­se quem acredita que esse cruzados esperando seu e­mail
profissional passa o dia atrás de uma chegar, né?
mesa, apenas lendo e revisando os Então como levar um editor a ler o seu
originais de jovens autores que chegam original?
por e­mail. Aliás, muitos só chegam a (Calma lá! Não perca as esperanças,
ler material enviado na cabeceira da perca um pouquinho mais de tempo
cama, antes de dormir. lendo a resposta abaixo 

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Dica 1 – Informe­se Sobre o Tipo De
www.revistaliterese.com
Publicação Da Casa

Uma garantia de que você não será
publicado é mandar um livro de fantasia
Como Fazer Um Editor Ler Seu
para uma editora que SÓ publica livros
Original? (Sem Envolver
jurídicos, por exemplo. Informe­se
Ameaças)
primeiro sobre quais tipos de livro a
empresa trabalha, ANTES de mandar seu
Se existe uma coisa que aprendi
e­mail com o original.
com os amigos editores é que eles
Se a editora trabalha APENAS com livros
ficam irritados com muita
esotéricos (exemplo) mandar um livro de
facilidade… principalmente com as
ficção pode resultar em mais um e­mail (o
atitudes profissionais (ou não) de
editor nem vai se dar ao trabalho de
autores (ou ainda não) – sejam
baixar seu anexo).
eles novatos ou velhos.
Ou pior ainda!
O mais difícil e que poucos
Vai que a editora resolve publicar… Aí
autores novatos compreendem é
você terá um livro publicado e direcionado
que cada editor trabalha do seu
para um público que talvez não irá
jeito. Assim como cada autor
consumir o seu material. Perdendo
também trabalha do seu jeito!
visibilidade.
E cada editora (empresa) tem as
Pense bem: a estratégia de divulgação
suas regras.
de uma empresa de publicação de livros
Conhecer como abordar esse
jurídicos é toda voltada para alcançar
editor é uma das façanhas mais
sites, revistas e jornais que tenham um
épicas que um aspirante a escritor
público­alvo interessado em “livros
pode executar… Talvez mais
jurídicos”.
épico do que terminar seu original.
Se essa editora, por algum motivo te
Então, para ajudar os leitores,
publicar, ás chances de seu livro ir parar
organizei 4 atitudes que precisam
nas mãos de um leitor interessado é
ser pensadas por quem quer ser
imensamente menor.
um profissional e ter seu livro
“Ah, mas eu mesmo divulgo meu livro.
publicado por uma editora.
Não preciso do departamento de
São dicas breves, fáceis de pôr
marketing da editora”…
em prática e por mais sutil que
Precisa sim!
sejam, farão você destacar­se.
Sua função como escritor é escrever.
Vamos lá?
Não pense que você pode indicar seu
livro recém­publicado para seus 1.000
amigos no Facebook e que todos eles
vão se interessar pelo seu material (ou
que isso servirá como garantia de venda
para uma editora).

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Editoras Pequenas: Uma Exceção a Todo autor precisa contar com uma
Regra boa equipe. Ou:
• Com um bom editor.
Vale ser dito aqui que há uma • Com um bom ilustrador para a capa.
exceção a essa regra! Se você está • Com um bom revisor.
sendo publicado por uma editora mais • Com uma boa estrutura de
indie ou por uma empresa menor que distribuição de seu livro.
você logo percebe que não conta com • E com um bom setor Marketing ou
uma estrutura de pessoal, nesse caso divulgação.
SIM o escritor também deve divulgar Se você não puder contar com um
seu trabalho com todo o esforço apoio em comunicação da editora,
possível. você terá que divulgar e divulgar muito
O que isso significa? o seu livro… Assim… Meio que bater
Significa participar da divulgação, de porta e porta.
escrever releases para imprensa, E se fizer isso, como espera escrever
recomendar para amigos nas redes uma segunda obra?
sociais e fazer o máximo possível Bem, por falar em amigos nas redes
para que a obra atinja o máximo sociais, veja o tema que vamos
possível de gente. Quando a editora debater no próximo tópico. 
não dispões de equipe para divulgar o
SEU livro, o ideal é você fazê­lo. Mas Dica 2 – Não Marque, Envie E­Mail
não se engana, escritor nem sempre Ou Obrigue Um Editor a Ler o Post
saber ser vendedor ou empreendedor. Sobre O Seu Livro no Facebook
Recomende seu livro, chame amigos
para comprá­lo… Porém, faça com Legal!
moderação. Evite ser um spammer. Agora que você terminou um e­book
Converse com seu editor e pergunte­ sobre o seu livro é só subir para a
lhe sobre a estrutura de divulgação web, criar um link e fazer uma
para saber como você pode ajudar publicação dele no Facebook;
sem prejudicar sua carreira literária. marcando várias pessoas que, você
Isso, é claro, depois que você for sabe, trabalham em editoras, correto?
publicado. Não, errado!
Nada deixa um editor mais fulo da
vida do que ver suatimeline ou caixa
de e­mail abarrotada de mensagens
de pessoas desconhecidas.

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Ações de Novos Autores Que • Participe de Antologias: Ah, e quando
Irritam os Editores: estiver procurando por políticas de
envio, aproveite para tentar descobrir se
• Não envie e­mail para editores editora X abriu concurso para publicar
sem tentar conversar uma Antologia de Contos… Veja o tema
pessoalmente (ou telefone) com dessa antologia e pense se é possível
eles antes. inscrever algum conto seu já escrito
sobre esse tema.E não deixe de
• Não o marque em postagens no mandá­lo.Muitas pessoas acreditam
Facebook sobre o seu livro. E o que não terão visibilidade se
mesmo vale para demais mídias participarem de uma antologia de
digitais. contos com outros autores. Elas
pensam que haverá tantos nomes que o
• Não se aproxime dele nas redes dela será apenas mais um. Que os
sociais com mensagens em inbox leitores lerão seu conto e nem se
pedindo para ler seu original… E lembrarão dela.De fato, nem todos os
se o editor não gostar de ler sobre leitores lembram­se dos nomes dos
trabalho na rede? E se o escritores que escrevem em antologias
Facebook dele for apenas usado – apenas se o conto mexeu com ele de
para lazer? alguma forma – mas editores SIM leem
os nomes de quem escreve bons contos
Como Fazer Seu Original em antologias.Então… Se você quer ser
Chegar Até o Editor... lembrado por um editor que pode te
publicar, vale a pena ter um escrito
• Ter QI: Primeiro tente ter um QI publicado em uma antologia!
(Quem Indica). Tente pedir para
um amigo em comum entre você • Frequente eventos de literatura: É “ok”
e o editor, fazer uma indicação. estar em um evento e durante uma
conversa amigável com um editor,
• Política de Envio: Descubra se a mencionar que você tem um original e
editora em que está interessado aí tentar descobrir como fazer para sua
tem política de envio de originais obra ir parar na caixa de e­mail
(normalmente encontrado no site dele.Isso é claro, se nessa conversa
da editora). E se tiver, mande sua você pedir um contato ou cartão e o
obra seguindo as regras editor parecer positivo quanto ao seu
estabelecidas pela editora. envio.
Tamanho de fonte, data dentro do
prazo, seguindo o tema proposto
pela empresa e tudo mais…

27
www.revistaliterese.com Além:

• Ter uma grande quantidade de
seguidores nas redes sociais e
possível interesse de leitores (nunca
Dica 3 – Saiba Divulgar o Seu
use programas do Facebook ou
Trabalho Do Jeito Certo
Twitter que simulem seguidores);
• Tente anexar outros trabalhos
Que todo escritor é um “pouquinho”
seus (se a política de envio de
egocêntrico, disso não se dúvida.
originais permitir), é sempre válido
Afinal de contas, é preciso de um
indicar seu blog ou antologias em
pouco disso para bater no peito e
que já foi publicado;
dizer “esse livro está realmente
• Nunca entre em discussões nas
sensacional”.
redes sociais com outros escritores
Porém, escrever para a editora
ou editores. Isso pega muito mal
dizendo que sua obra é um “novo
para quem quer ser publicado.
clássico” com uma “aventura
Nenhuma editora quer trabalhar
envolvente” e propenso “best­seller”
com um autor de gênero difícil, mal­
só serve para atrapalhar um editor
educado, mentiroso e encrenqueiro.
de selecionar seu trabalho.
Normalmente, é pedido para que o
Dica 4 – “Poda­se” Que Tem
autor escreva uma sinopse de sua
Revisor, Evite Erros de
obra.
Português!
Então, “uma aventura empolgante
na Terra da Rainha” está fora de
“Ah, mas eu posso escrever de
cogitação, pesquise na internet
qualquer jeito porque as editoras
como se escreve uma sinopse com
contratam revisores…”
qualidade.
Sim! Só que muitos revisores
ganham por erros encontrados. Se
Vale a dica: seja breve, porém
você tem um erro por página no seu
consistente e dê um mínimo de
livro de 500 páginas… Ferrou!
informação da trama para fisgar o
Será um autor desnecessariamente
editor.
caro!
E principalmente: não se preocupe
Por esse motivo, em e­mail de
com rótulos (terror, suspense, etc)
apresentação e sinopse de obra,
tome cuidado com a ortografia,
pontuação, acentuação e
parágrafos.
Pense nesse conteúdo como o
cartão de visitas para o seu livro.

28
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Não Podemos Parar Por
Aqui…
Você Terá Que Comentar
Suas Experiências

Comporte­se como um
profissional desde o primeiro
dia em que decidir ser um
escritor.

Preocupe­se em fazer
amizades, ser bem
relacionado e ser conhecido
pelo que você escreve –
cuidado com as normas
ortográficas e com a maneira
como apresenta seu texto.
É sério gente!
Eu compilei nesse post as
reclamações que meus
amigos editores mais
encontram.
Um texto mal escrito, mas
com potencial é fácil de
contornar. O editor mandará o
novo autor reescrever até
chegar perto da perfeição.

Agora, um autor com uma
personalidade difícil que
pensa ter a redação de um
Fernando Pessoa, isso
ninguém quer aturar. Do
mesmo modo, esqueça o mito
do Hank Moody… de que
você pode ser um escritor que
nunca terá que se preocupar
com etiqueta, quem assistiu
Californication sabe que o
protagonista nunca conseguiu Vagner Abreu
emprego decente…
Se você sonha com a carreira
literária, coloque em práticas
essas dicas e diferencie­se de
outras pessoas que só acham
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ser bons escritores.

29
Loop
A garota abriu os olhos Seus cabelos dos braços e da nuca
subitamente. Suas mãos trêmulas e eriçaram quando desceu o último
pálidas tatearam o criado­mudo a degrau. A garganta seca a
procura do seu celular. 03h02. incomodava, mas os braços, ainda
Passou o antebraço pela testa com o jarro nas mãos,
molhada de suor. Escutou um permaneceram no alto em sinal de
barulho próximo a janela. Seus ataque. Engoliu em seco, silenciou
olhos, atentos, miraram as cortinas ainda mais os passos e estirou o
e o céu escuro da noite. O seu braço esquerdo para girar a
corpo, por mais cansado que maçaneta. A campainha tocou
estivesse, forçou­se a se libertar novamente e ela se afastou com dois
daquele transe que a prendia como passos para trás, assustada.
uma descontrolada em um ­ Que... que... quem é? – ela disse,
manicômio, mas sem as amarras. aproximando­se da porta.
Os pés da garota tocaram o chão Silêncio.
frio do quarto e logo ficou em pé Talvez seja um trote desses garotos
andando em direção  à  janela idiotas. Ela lembrou que isso já tinha
 aberta.  Tentou  lembrar  se  tinha acontecido antes. É, era só isso. Foi
 deixado  à  janela  aberta  na  noite então que abriu a porta, rápido e sem
passada, mas tudo não passava de hesitar. Ninguém. Saiu na varanda,
um borrão. De repente um vulto olhando ao redor e descansou os
passou pelos seus olhos lá embaixo braços finalmente. Todas as casas
em direção à porta da entrada. pareciam dormir. 
Nesse momento, ela pula de susto Não existia sinal de vida na rua. Mas,
quando ouviu o som da campainha. bem perto da cadeira preguiçosa ao
Quem será uma hora dessas? lado da porta, a garota avistou um
Questionou­se de imediato.  Mas pequeno papel. Pegou o papel
decidiu  verificar.  Talvez  fosse a amarelado que tinha a textura de um
 mãe que deixara  a chave em casa simples cartão. Quando o virou
quando saiu com novo namorado. estava escrito em letras  maiúsculas
Já nas escadas, a garota pegou um e elegantes:  “Olhe  aqui atrás.” O
velho jarro de flores que a mãe coração  da garota disparou  de
colocava em pequenas  mesinhas imediato e sua respiração passou de
 espalhadas  por  todo  o  corredor. aliviada para ofegante como se
 Seus  passos  eram  lentos  e estivesse acabado de  correr  em
cautelosos, com um ruído aqui e  uma  maratona..  Sua  cabeça  foi
ali.Sentiu um frio subir por suas  virando  devagarzinho,  ainda  muito
entranhas à medida que seguia hesitante. No entanto, nada viu.
adiante, como se estivesse fazendo Cansou daquela brincadeira que já
uma coisa muito errada. tinha assustado­a demais.

30
Em passos  longos,  entrou  de
imediato  para casa.  Quando  sua
 mão  tocou a maçaneta e ela
fechou a porta, seu grito de
desespero foi calado com uma
facada na garganta por alguém que
se encontrava detrás da mesma.
Uma, duas, três facadas foram
suficientes para fazer o  coração  da
garota parar por completo  enquanto
 aquele ser horripilante  desaparecia
 na  escuridão.  Ela  não  tinha
 entendido  o  bilhete  da  forma
correta.
De repente, a garota abriu os olhos.
Suas mãos trêmulas e pálidas
tatearam o criado­mudo a procura
do seu celular. 03h02. Passou o
antebraço pela testa molhada de
suor. Escutou um barulho próximo a
janela... 

Rivaldo Silva

31
RÉQUIEM PARA UM SONHO

Enquanto a velha mastiga, ele deseja. Revira a papa viscosa. Ouve as mesmas
acusações da gorda entupida. Tempera a refeição com os pensamentos. No meio
de outra mastigada, avança. Arranca o garfo das mãos flácidas e o penetra na
jugular que lhe espirra. Sorri amaldiçoado, mas satisfeito porque comerá carne,
um ano depois. Experimenta a peça cozida, todavia a reprova. Acha melhor a do
entorno aos buracos, ainda cuspindo vermelho. Pega a faca rente e degola a
senhora, que lhe fornece a consumação dos instintos.
­ O que foi, rapaz? Ficou surdo?
­ Hã? Nada, vó... nada.
­ Você sabe que não pode comer carne, né? O médico te proibiu e ...
­ Tá, vó. Tá. Já sei, sei...
Com pouco, se ergue para arrumar a avó. Verifica uma falha nas costuras da boca
e pescoço. A campainha toca. Retira a velha do cômodo, a fim de poupá­la. Sabe
que ela abomina policiais.

Elicio Santos do
Nascimento

32
Mula Sem Cabeça

a rainha flagrada comendo carne morta
a moça que se casou com o padre católico
a virgem para o namorado deu seu corpo
o fim trágico que custou suas cabeças
e foram castigadas no fogo de ardência
na lua cheia perambulam pelos pastos
saem como mula sem cabeça pelas matas
estas pobres almas que ficaram perdidas
que batem seus cascos no chão arrependidas
com fogo no pescoço queimando até sempre
num gemendo e relinchando assustando a gente
pedindo para tirarem o encantamento
furando o seu corpo até ver sangue descendo.

Gentil Poeta Brasileiro

33
Faça-me sangrar
O nome da garotinha encurralada e A menina cresceu retraída, mas
adoecida era Natasha. Sua mãe nutria um narcisismo macabro
havia lido um livro de terror na por sua imagem. O espelho era o
gravidez e gostou do nome da único amigo que jamais tivera,
protagonista cuja vida era rodeada aquele que a admirava também.
por um mistério que envolvia uma Natasha pensou que algumas
caixa. coisas eram assim mesmo,
Natasha foi abandonada ali como bonitas, não porque tinham um
um saco de lixo. público para admirar, porque elas
O orfanato era o último apelo de iam morrer um dia.
uma mãe que não queria o próprio A morte era sua comparsa, seu
bebê. E não era por falta de carrasco. Pensar no poder que a
condições financeiras ou porque era morte exercia sobre sua vida de
má. Seu coração de mãe, imaturo órfã chegava a ser sufocante,
demais para sofrer um golpe tão mas para onde correria, senão
grande das escolhas que fizera na em círculos, por aqueles
vida, sabia que ela estava errada, corredores gelados, sem ter
mas precisava… Deus como quem abraçar?
precisava chutar aquele bebê para Tudo morria perto dela porque
longe. tudo estava morto dentro dela.
E, assim que a freira a viu no chão, Natasha acordou aquela manhã,
viu também a mãe jovem e chorosa olhou­se no espelho pelo tempo
indo embora. Não deu tempo de que gostava, não pelo tempo que
alcançá­la, mas, ela sabia o precisava e viu a imagem que
desespero que amaldiçoava a não queria. Imaginou como era
maioria das mães, se é que se podia seu coração. Se o espelho o
chamar de mãe alguém que alcançasse, seria como um
abandonava o filho daquela forma, e porão abandonado.
as perdoava. Sinceramente as Ela saiu do quarto e seguiu para
perdoava. a aula de música.
A freira pegou o bebê, apaixonada O céu, cinza violento, cinza como
por aqueles olhos azuis, vibrantes e seus pensamentos, inspirava
sedutores como o oceano. Natasha a tocar canções
E um grito invadiu os corredores do fúnebres, mas que encantavam
orfanato, mais potente que um as freiras. Na verdade, eram
alarme de guerra. Era um grito de músicas sacras, mas tudo o que
dor, desespero e angústia. Natasha tocava era triste e
profundo. 

34
A platéia admirava seus belos olhos
Natasha pensava na vida que queria
azuis, mas eles eram intensos,
ter: uma vida sem dor, quando notou
severos, como se contemplasse um
um garoto olhando em sua direção.
abismo.
Podia até não estar olhando para ela,
Concentrada na vida que não podia
ela tentou se convencer, mas assim
ter, Natasha tocou algo doce e
que ela olhou de volta, ele caminhou
primaveril para encantar sua
em sua direção.
pequena e inocente platéia. Ela
A vergonha a manteve debaixo da
insistia para que sempre houvessem
sombra. Bem, mas tinha sido assim a
poucas pessoas presentes com ela.
vida toda… Porém, tudo amadurece,
As freiras também, por precaução.
as maçãs e até o coração de um
Algumas pessoas a julgavam como
amaldiçoado.
arrogante e desprezível. E ela tinha
Foi assim que ela percebeu que, no
que ser.
mundo existia algo proibido, um fruto
A proximidade podia gerar
que ela não podia comer. Ela havia
estranhamento, quem sabe algo pior.
crescido distante do afeto porque era
Quando terminou o concerto para os
necessário, e, mesmo assim,
possíveis futuros pais, sumiu da
reconheceu o poder do desejo
presença de todos. Geralmente, ela
queimar em sua pele. Ela permitiu
era a preferida de todo casal porque
que ele se aproximasse e sentiu calor
tinha olhos azuis e era muito
pela primeira vez na vida.
talentosa, além de silenciosa; pais
Embora a consciência do dever a
não queriam crianças bagunceiras.
obrigasse a ser rude com ele, a
Mas ela preferiu sumir, afastar­se
expulsá­lo dali com vida, Natasha
para o seu lugar preferido.
deixou que o manto vermelho da
Na parte de trás do orfanato havia
paixão a dominasse.  
uma macieira sempre carregada de
Os dois se olharam e, como todo
frutas lindas, coloridas e suculentas.
casal que se deseja ardentemente,
Nenhuma outra macieira era tão
fingiram não sentir nada e apenas
fascinante quanto aquela que
conversaram sobre a dureza da
Natasha gostava. Era como se toda a
orfandade.
vida que parecia não existir na
Vários dias se passaram e o casal se
menina, existisse na macieira.
encontrava escondido sob a macieira
A macieira que todos cobiçavam
radiante de Natasha. Com isso, o
derrubou uma maçã perto dos pés da
desejo os envolvia.
menina. Ela agachou, pegou a fruta,
Até o dia em que Natasha percebeu
sentou­se à sombra da árvore e
que não precisava mais se reprimir.
comeu. Estava uma delícia, uma
Por que seria tão horrível amar
recompensa por se esforçar tanto
alguém? Tocá­lo e saboreá­lo como
para ser boa em algo e compensar a
um doce?
desgraça em sua vida.

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 A única coisa que sabia sobre sua Era esperta para não fazer sexo ali
maldita vida era a insistência das freiras mesmo, mas tinha coragem. Causar
em afastá­las de todos, em mantê­la assombro naquelas megeras era um
distante, como um animal num celeiro. Só prazer também. Então, os dois se
que animais em celeiros recebem abraçaram, despiram­se, deixaram à
carinho… vista de todos sua pele nua e seu
Por que essa frieza? Por que todos desprezo até explodirem em um prazer
podiam ser adotados? intenso, acrescido do prazer da
Ela questionou a madre sobre sua vida, afronta.
as lágrimas eram amargas, a voz, uma Seus corpos arranhavam­se, lambiam­
marcha fúnebre. Mas a madre a se, apertavam­se, queimavam
encarava, dizia que apenas não podia. enquanto as freiras apenas
Apenas negava à ela o que todos tinham esperavam. O que Natasha viu em
direito. Será que ela teria um dia? seus olhos não foi espanto. Foi medo.
A raiva dominou o coração sombrio de Como ninguém ia se esforçar para
Natasha que estava determinada a impedí­la, ela continuou. E foi
receber sua parte da herança de uma justamente quando entregou sua vazia
gorda conta bancária, cujos depósitos alma àquela outra alma, quando seu
foram feitos durante toda sua vida com o corpo queimou, sentiu im líquido
mais puro diamante do desprezo. viscoso e quente escorrer entre suas
O que a impedia de tocá­lo? Se o rapaz a pernas. Sentiu que um pedaço de sua
desejava, era isso que ela também carne se rasgava. Era como se uma
queria. Quem a proibiria? Sua lâmina afiada passasse sobre sua pele
consciência? Senso de bondade? macia. Queimava.
Bondade e justiça eram os argumentos Só se deu conta quando sentiu de
daquelas velhas virgens para manter novo. A dor ainda mais forte, mais
todos em cativeiro! Uma desculpa para aguda.
banir o que para elas era vil. Mas que Céus… aquilo era sangue. Natasha
todos sabiam o nome certo era prazer, sabia que nada que sangrava era
orgasmo, sexo… o nome não importava. saudável. Tudo remetia a sofrimento.
Natasha podia ter bondade, justiça, o Nunca na vida havia acreditado em
paraíso, tudo, e ainda assim ser Deus ou o Diabo, agora implorava
miserável. Se esse era o preço a pagar, internamente para que um milagre a
então, ela se deliciaria. Que perdesse salvasse.
esse tudo em troca do que não tinha, o Ainda agarrada ao corpo nu e
amor de quem ansiava por seu corpo! sangrento de seu amante, não parou,
Saiu ao encontro do rapaz que já a contudo, com aquele prazer infernal.
esperava debaixo da macieira. Seu Agora, sabia o que estava
coração palpitava, a pele ardia, a língua, acontecendo. 
tinha sede. E ao aproximar­se, olhou em
seus olhos e lambeu os lábios olhando
para os lábios dele.
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De sua pele saiam espinhos de no E depois daquele dia, ninguém mais
mínimo dez centímetros que voltou a falar sobre o que viram. O
rasgavam e feriam a carne do caso de Natasha foi colocado em
amante, que gritava mas não uma caixa, tornando­se mais um
conseguia escapar do abraço mortal boato, um conto de terror do que um
da menina de olhos azuis que ela assunto entre os moradores do
tanto desejou. orfanato e da cidade inteira.
Natasha queria mais, precisava de A menina de olhos azuis foi
mais. obrigada a voltar para as sombras
Os espinhos saiam de seu corpo nu de onde nunca devia ter saido. A
e queimava dolorosamente. Mas era desgraça que ela era a tornou ainda
tão maravilhoso quanto fogo no mais sombria, guardou ainda mais
inverno. Espinhos rasgaram a carne raiva em seu coração. Quem no
do amante já morto, o corpo frio. mundo ia querer viver com ódio de
Natasha descobriu, enfim, o motivo si próprio por ter matado a única
que mantinha todos afastados de pessoa que amou na vida? Quem ia
seu abraço. Saboreou o sabor do conseguir viver sabendo que jamais
sangue para guardar em sua poderia abraçar outra pessoa?
memória a lembrança de um Quem dera ela nunca tivesse
momento quente de prazer… pelo perguntado o por quê ninguém a
menos tinha sentido calor um dia. tocava…
Havia prazer na dor. Dor merecida, Dessa vez, ela tinha coragem para
sem culpa, sem pecado. se manter longe.
Deitados ali no meio do sangue, sob E assim viveu Natasha, sozinha. Até
o céu cinza e perfurados com o dia em que teve vontade de comer
espinhos, os corpos pareciam uma uma maçã.
estátua destruída. Ela sorriu… o céu não era mesmo
Natasha sorria… seu objetivo.

Jana Nascimento

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Ralo
Depois do ritual de desfazer a cama, Maldito silêncio matinal! Sem perceber
apago o abajur e espero a escuridão e como, lá estava eu totalmente perdida.
os vultos virem me tragar, devorando­me O ralo foi destampado. E havia muito
em silêncios e pesadelos. Deito e fico mais ressentimentos, dores e
estática esperando o pior. Mas não é a frustrações que insetos e sujeiras.
escuridão que me invade, e sim os raios Aquilo me corroía mais do que esses
de sol da manhã que já se inicia sem que ácidos usados nos banheiros.
eu percebesse. O clima pesa, a luz, não No desespero saí dando tiros ao nada.
impede. Não consigo dormir, não vejo mais
Não consigo mais me assegurar de que nada, mas sinto­me mal, náuseas,
estou acordada, tudo torna­se irreal, dores, vômitos me tomam o dia e início
sinto pavor, corpo em alerta, as más de tarde. Tento dormir.
energias se arrepiam por completo, Sentia­me entregue a isso, não tinha
imobilizo­me na cama, mesmo que eu como lutar, não conseguia pensar, não
queira não posso me mexer. Há pessoas conseguia me ajudar. Não tinha ajuda.
aqui, eu sei. Os meus pensamentos Estava impaciente, a impaciência me
fogem do controle, coisas invadem bastava. Impaciência de mediocridade
minha mente e me atordoam demais. urbana, mediocridade caseira também.
Ouço vozes, minhas? Pensamentos O nosso produto interno bruto familiar.
meus? Não posso dizer, realmente não Tudo isso me rompeu em reflexões.
sei. E era tão clara a saída.
Perdi minha sanidade durante dias. De
repente qualquer toque me parecia
ameaça, meus reflexos andaram
melhorando muito desde então. Consigo
levantar da cama, depois de horas de
medo e angustia. Acendo as luzes e
retorno, ainda insistindo que a claridade
me protegesse de alguma coisa, em vão,
eu sei!

Maluz Medeiros

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Por, Raquel Rasinhas


A História da Estória
O Halloween está chegando e com ele o Uma dupla que fez parte dessa transição
clima perfeito para as estórias de terror, das foram ninguém menos do que os famosos
clássicas, passando pelos séculos e irmãos Grinn, conhecidos por seus “contos
chegando as mais modernas. Mas já de fadas” sem finais felizes e repletos de
pararam para se perguntar como Stephen mensagens de aviso, eventos comuns para
King, Edgar Allan Poe, Bram Stoker, André a sua época.
Vianco, H. P. Lovecraft, Anne Rice, Mery
Shelley e os novos grandes talentos da “Mas o terror é o gênero que só tem
nossa literatura nacional que vem monstros cruéis e assassinos.”
aparecendo como: Macus Debrito, Raphael
Montes, Marcus Barcellos, Jhefferson O terror é muito mais do que isso, na
Passos, Marcio Benjamin, Marcio Neri, verdade o terror é um subgênero da
dentre muitos outros começaram a escrever Literatura Fantástica cuja intenção é causar
esse gênero? medo e repulsa nos leitores. Claro o terror
em sua maioria pende para o sobrenatural
Como o terror realmente começou você com fantasmas, bruxas, vampiros e etc.,
pergunta? Na verdade ele sempre existiu só mas não se limita a isso. O terror também
que essas estórias eram transmitidas pode lidar com os medos psicológicos do
oralmente passando de pai para filho e mundo real.
sobrevivendo através das gerações, tendo Lovecraft, considerado um dos pais do
origem no folclore e em tradições religiosas. terror disse:
Quando a escrita surgiu, muitos desses “A mais antiga e forte emoção da
contos e mitos foram registrados nos humanidade é o medo, e o mais antigo e
mosteiros pelos monges escribas, mais forte tipo de medo é o medo do
tarde elas foram reescritas para o mundo.  desconhecido.”

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O cenário muda, chegando ao
O terror como gênero começou com o
contemporâneo e não tem como não falar
romance gótico no século XVII onde a
de Stephen King, com dezenas de títulos
mocinha era sequestrada e presa em
abordando os mais variados temas, mas
castelos assustadores e sombrios.
seu maior talento está em trazer o pior da
humanidade em suas obras. King era um
FATO INTERESSANTE
leitor fanático dos quadrinhos EC's horror
Grande parte das estórias de terror da
comics incluindo Tales from the crypt, que
época era escrita para o público feminino.
estimulou seu amor pelo terror. Na escola,
Mais para frente a ficção científica e o terror
ele escrevia histórias baseadas nos filmes
começaram a se misturar, isso começou lá
que assistia e as copiava com a ajuda de
pelo século XIX com o clássico de Mary
seu irmão David. Seus livros venderam
Shelley, Frankenstein (1818). Com o tempo
mais de 360 milhões de cópias, com
o nível só foi aumentando, o gênero foi se
publicações em mais de 40 países. Muitas
moldando, trazendo a loucura para o
de suas obras foram adaptadas para o
cotidiano. Edgar Allan Poe introduziu seus
cinema. É o nono autor mais traduzido no
elementos sobrenaturais de conteúdo
mundo.
psicológico, agregando credibilidade e mais
E chegamos a terras tupiniquins onde o
terror.
terror está muito, mas muito bem
Chegamos ao século XX e o terror ganha
representado e um desses representantes é
espaço nas revistas pup magazines, feitas
ninguém menos que André Vianco, autor
de papel barato que substituíram os
dos livros Os Sete, Sétimo, O Senhor da
folhetins, dime novels e penny dreadfuls.
Chuva, O vampiro Rei 1 e 2 entre outros.
Dedicadas à fantasia e ficção científica,
Suas obras sobrenaturais misturam terror,
mas também havia aventura, romance,
suspense, fantasia e romance em histórias
faroeste e claro o terror. Grandes nomes
que geralmente envolvem o tema
como H. P. Lovecraft e M. R. James
Vampiros. 
publicaram nessas revistas. 

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Seu primeiro best­seller foi Os Sete, lançado A maior referencia para Jheferson é o grande
em 2000 de forma independente, deriva Stephen King e os grandes autores clássicos
diretamente do seu primeiro romance O como Edgar Allan Poe e Lovecraft, mas o
Senhor Da Chuva de 1998, em 2001 a editora sonho da publicação cresceu quando
Novo Século se interessou por seu trabalho e conheceu os vampiros da lenda nacional André
republicou o livro. Vianco. Já tentou escrever outros gêneros,
Hoje temos o prazer de ver não só a literatura mas descobriu que o lado negro lhe cai melhor.
brasileira crescer como também esse gênero Sobre o cenário nacional e o gênero terror
que encanta, assusta e nos faz dormir com as Jheferson se diz otimista.
luzes acesas. Novos talentos estão surgindo “Isso se deve as redes sociais que abrangeram
nas plataformas de autopublicação e ganhando e romperam fronteiras em questão de
espaço nas editoras que investem neles. preconceito aos autores nacionais. Lógico que
Atualmente Amazon e Wattpad são as ainda tem muito a melhorar. Os leitores
plataformas de autopublicação mais utilizadas brasileiros ainda leem mais estrangeiros. O
pelos escritores, um deles é o talentosíssimo marketing deles é maior. Isso falta muito aqui
Jhefferson Passos, colunista da revista Litere­ no Brasil, mas estamos no caminho. Com o
se e escritor de terror. Ele vem ganhando surgimento de novos e talentosos autores do
destaque com seu livro de microcontos 100 gênero, aos poucos os leitores estão deixando
Gotas de Sangue com mais de seis mil leituras aquela certa desconfiança com os nossos
e está também no Top 10 de recomendação da nacionais.”
plataforma do Wattpad.Em uma breve Chegamos ao final da nossa primeira jornada
entrevista, Jheferson nos contou que começou por dentro da História da Estória, especial
publicando em outras plataformas e apenas no Halloween. Espero ter ajudado a sanar
ano de 2016 descobriu e começou a utilizar o qualquer dúvida sobre esse gênero incrível que
Wattpad, já possui um livro de contos é o Terror, também espero ter inspirado vocês
publicado Carne e Sangue pela editora para se aventurarem nesse mundo das trevas,
Multifoco onde nove dos contos são de sua suspense e medo. Nos vemos na próxima
autoria. edição de Litere­se.

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O VELHO CAOLHO
Hail, meus queridos amantes das terras A maior diferença entre fantasmas

gélidas e de seus grandes guerreiros e das modernos e o gjenganger é que o

grandiosas sagas!! gjenganger na tradição escandinava

Porém, por aqui não existem somente assumiu uma forma completamente

batalhas, mas há também o sobrenatural, o corpórea. Ele normalmente não tinha

medo, o terror e o horror!! qualidades espectrais como qualquer outro

Os mais variados monstros e criaturas fantasma. Nas tradições mais antigas do

percorrem e circundam esta terra gelada gjenganger, diz­se também que ele foi

em meio a bruma advinda dos reinos de muito malicioso e violento em vida, voltando

Hela nossa Deusa da morte, rainha do do túmulo para atormentar a sua família e

submundo. Que de seu palácio Elivdnir amigos. O medo dos gjenganger já foi tão

bane as almas para o reino da morte gélida. real que as pessoas tomavam medidas

Aproveitando o espírito sombrio do preventivas para que eles não

halloween, vamos falar sobre os mortos­ aparecessem: uma pilha de galhos e pedras

vivos que caminham por aqui. Não aqueles era deixada no local em que a pessoa

apresentados pelos filmes de Holywood, morreu, costumava­se desenhar símbolos

lerdos e famintos por cérebro. Mas sim sagrados, fazer orações e marcarem os

como um Gjenganger! caixões por dentro, tudo isso para evitar

Gjenganger é uma espécie de fantasma que o cadáver se transformasse.

originário da escandinavia. Normalmente, é Gjenganger são mais parecidas com

o espírito de alguém que deixou assuntos vampiros do leste europeu do que

pendentes antes de morrer, sendo fantasmas dos tempos modernos.

geralmente vítimas de assassinato ou
suicídio ou o próprio assassino. 

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Talvez o exemplo mais antigo que temos de espalhando o hematoma rapidamente por todo o
uma tentativa de impedir alguém de voltar como corpo, o que levaria muitas vezes à doença e
um gjenganger é uma inscrição rúnica do século morte para a pessoa acometida. 
seis. Foi escrito no interior da sepultura, de Mais tarde no folclore sueco, é feita uma distinção
frente para os mortos onde se lê: entre o gjenganger tradicional, no chamado
Norueguês: gengångare sueco e outro tipo de fantasma
For Birginga riste broren runer conhecido como gast. Considerando que a
Kjære syster mi, skån meg! gengångare tem a aparência idêntica a um ser
Esta tradição do gjenganger violento remonta à humano vivo, o gast era conhecido por ser
idade Viking, onde eles estão presentes em transparente e/ou esquelético na aparência, às
muitas das sagas islandesas, entre outros: Saga vezes ele também tinha dentes afiados e garras, o
Grettis, Eyrbyggja saga e a saga de Eric, O que tornava impossível reconhecer quem o
Vermelho. Nesta tradição, o Gjenganger era fantasma tinha sido em vida. E enquanto a versão
uma criatura mortal. Um exemplo disso é Grettir sueca do gengångare (ao contrário dos seus
matar o Gjenganger Glámr com sua espada. homólogos de outros países escandinavos) era
Estes Gjengangere da idade Viking foram normalmente dito ser bastante inofensivo, foi o
muitas vezes chamados draugr, e os dois são gast que ficou conhecido por causar
susceptíveis de serem nomes diferentes para o doenças. Uma tradição que merece uma menção
mesmo fenômeno.  especial é a do "varp". O “varp” – como já
Em uma tradição um pouco mais recente, o mencionado ­ é uma pilha de pedras ou galhos
gjenganger continua a ser uma entidade que muitas vezes marca um lugar onde alguém
violenta, embora de uma forma menos direta, a morreu. Acreditava­se que quando você passasse
tornar­se mais um espalhador de doenças. por este lugar deveria jogar outra pedra/galho na
Estes gjengangere atacariam as pessoas com a “varp”, para comemorar o que tinha acontecido lá.
sua chamada dødningeknip que em tradução Ao fazê­lo, por vezes, este ato poderia trazer sorte
literal seria “beliscão do homem morto”. Isso em suas viagens adicionais, e se não o fizesse,
faria com que a pele da vítima se tornasse roxa isto iria resultar em má sorte e acidentes
e infectada,  perigosos.

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Muitos destes “varps” já desapareceram
Móðir mín í kví, kví,
especialmente os feitos de galhos. Mas em Kvíddu ekki því, því,
alguns lugares o “varp” é marcado com um Ég skal ljá þér duluna mína
Að dansa í
sinal ou algo semelhante, e a tradição é
Og dansa í
mantida viva até hoje, embora de forma ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­
muito mais flexível, e muitas vezes como Querida mãe
Não se preocupe porque, porque
uma brincadeira.
Vou dar o meu vestido
E você caro leitor, o que faria se Para dançar
encontrasse em seu caminho algum destes E dançar
“varps”?
Um sábio conselho: preste bem atenção
pelos caminhos que toma, sua viagem pode
acabar em um trágico acidente
“inexplicável”.  
Para os amantes da música:
Existe uma antiga canção islandesa, que
tem como pano de fundo uma história
Elves Boteri
narrada. Uma mulher que carrega sua filha
a uma floresta para deixá­la ali e que a
floresta a leve. É surpreendida tempos mais
tarde quando quer ir a um baile, mas não
possui nenhum vestido adequado para a
ocasião, é então, quando da escuridão da
névoa, ela ouve a voz de sua filha morta,
que lhe diz:
Móðir mín í kví, kví,
Kvíddu ekki því, því,
Ég skal ljá þér duluna mína

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Pensamentos Atravessados

Ainda nem era noite, e ela já pensava no que falar ao travesseiro.
Sabia que muito ­ ou quase tudo ­ do que lhe havia dito ontem, permanecia no ar.
Embora tivesse certeza de que, por baixo da fronha macia, morava um amigo bom de
ouvido,
sentia­se envergonhada por nunca lhe dedicar alvíssaras, apenas alvoroços.

A cabeça que se deitava sobre aquela espuma carregava o peso das almas penadas.
De todos os temores familiares, o terror da hora de ir dormir era o mais tatuado em
seu corpo. Não era mais um temor, mas um tumor com tendência à malignidade.
Impossível fechar os olhos sem reabrir a ferida das frustrações do dia, aliás, diárias.

A mente não mente. ­ Não, mente! Minta, ao menos uma vez! ­ ela implorava.
O problema é que o cérebro não é uma máquina de lavar. Memórias não passam pelo
cano que leva a água suja embora. O cérebro é bastante levado.
Sobrava para o travesseiro, tão cheio de boas intenções, o inferno dos assuntos mal­
resolvidos.

Não se tornou notívaga à toa. Vagava durante o dia, certa da insônia futura.
Pensamentos recorrentes eram como queimaduras de terceiro grau, que atingem
músculos e ossos, necrosando os tecidos.
As terminações nervosas, vítimas desse fogo de pavio curto, acabavam por ocultar a
dor que antes era pulsante.

Sem meias palavras, atirava­se sobre o colchão, vestida de verdades fracionadas.
O único a quem não conseguia ludibriar era o travesseiro, tão lúdico, tão lúcido. A
esse, confessava­se, abnegada, já íntima das penitências.
Mesmo dormente, ela virava o travesseiro de lado. Um lado só não comportaria tantos
medos de tantos amanhãs.

Ana Maria Araújo Ramos

46
Pesadelo
A janela estava fechada, e o quarto, Não havia nada de preocupante naquele
trancado. Ela estava na cama. Só. quarto. As paredes brancas estavam vazias,
não havia pôsteres, nem enfeites. Só havia
O cobertor era um amante que se a cama, o guarda­roupa fechado e ela.
enroscava em suas pernas feias e
mancas. O rosto era de uma criança Para a mãe, ela estava segura.
comum, nem bonita e nem feia, todavia
marcado pelo medo e pelos machucados Para a menina, entretanto, estar segura não
constantes. era uma realidade. Ela  via a última e
terrível presença. Havia o Sombra.  Era um
–Não apague a luz, mamãe! – ser estranho e malvado, com camadas e
Choramingou a menina. A mãe sorriu e mais camadas de escuros e macios pelos.
disse: Todas os dias, ele se escondia entre os
– Não tenha medo. Por acaso não fica últimos resquícios de escuro, mas apenas
escuro quando você fecha os olhos? Ou enquanto a luz se fizesse presente. Quando
agora tem medo de ficar de olhos a noite chagava, ele, enfim, surgia por
fechados? completo.
Não havia onde a menina se refugiar e nem
A criança tentava acreditar no que ela mesmo ela poderia fugir. Tudo estava
dissera e, então, fechou os olhos. trancado. Só havia o Sombra e ela.
A mãe saiu e desligou a luz. Por fora, ela –Vamos jogar, estrelinha! – Soou o Sombra,
trancou a porta, para que a menina, em o melhor amigo e o pior inimigo dela..
um de seus constantes ataques de Em todas as noites era a mesma coisa.
sonambulismo, não se machucasse pela Todas as noites, ele tentava lembrar a
casa. menina de que a noite pertencia aos seres
que não tinham lugar na luz, ou era o que
Agora, sem a mãe, sem a luz, não havia ela achava.
nada que lhe protegesse.
–Não! – Ela ladrou.
Estava protegida, dizia a mãe. O quarto
estava isolado. Estava tudo trancado. A Contudo, não havia escolha.
janela de cerejeira, trancada com
fechadura de aço e ferro; as portas, –Venha.
trancadas com duas chaves. Não havia
nada embaixo da cama. E o guarda­roupa
estava hermeticamente fechado, envolto
por uma corrente e um grande cadeado.

47
Com a rapidez que suas pernas E um dia Sombra decidiu agir de forma
esqueléticas e raquíticas deixaram, ela inesperada, aproximando­se do rosto da
desceu da cama e se aproximou do  menina,  até  que  ela  pode  ver  os
Sombra. Ao contrário do que se acha, era,  terríveis  olhos  da  cor  de  um  impossível
sim, possível ver algo escuro na noite,  Sol noturno.
porque o Sombra era tão escuro que a
própria noite era um Sol a lhe iluminar. – Você quer me esquecer.

–O que eu sou? – A costumeira charada foi A menina acenou com a cabeça, incapaz de
lançada. saber o que dizer.
– Se você me der o que eu sempre quis, eu
–Sombra. lhe deixarei em paz.

A criatura esbofeteou a cara dela, que A garotinha vibrou intimamente, a
acordaria com mais manchas roxas em sua esperança de esquecê­lo crescendo
pele. A mãe, preocupada, perguntaria o que dentro de si.
acontecera, mas ela, para apaziguá­la, diria – O que você quer?
que caíra da cama, como sempre fazia. Sombra  sorriu,  sendo  que  criaturas
 maléficas  não  sentem  alegria,
– De novo... O que eu sou?  apenas prazer.
– Quero sua inocência.
Dessa vez, a criança pensou. Mas como
todas as noites, ela não sabia a resposta.
Embora a menininha não soubesse, ela já
–Eu não sei. Outro tapa. fizera isso a muito tempo, mas enfim
– Você é o escuro. admitia isso a si mesma.
 Tapa.
– Você... – Ela parou e olhou aquilo que
parecia um mostro com asas e chifres.
Aquilo que parecia o pesadelo de qualquer
pessoa. O diabo de todas as religiões. O
terror de todas as crianças. O ser que
ninguém queria observar. – ...É o que todos
querem esquecer.
Danieli Mützenberg
Pelo menos por aquela noite, a criatura a
deixou dormir sem pesadelos. Porém, ele
voltou noite após noite, como a Lua que
não abandona a Terra.

48
UMA TESE ACERCA DA DOR E DO PESADELO

( Você está preparado...vá dormir.)
 Pertuba­o deitar porque está escuro? Não o tema. Enxergue­o como uma cálida mão
acariciando sua face, esperando que você feche os olhos e desconecte.
 O vazio e a solidão te constrange, te inibe, te apavora? Não canse e acalente tua alma,
ao menos agora...
 ...pois por ora você estará em off e será somente teu espírito e tua mente, mergulhados
em planos não existenciais ou lembranças reprimidas num lugar onde nem mesmo
você sabe.
 E não tema os pesadelos, pois você está apto a superar as mais absurdas aventuras e
experiências sem fim que teu inconsciente servir...uma vez que a tua, a minha, a nossa
vida seja por vezes um pesadelo concreto que se estende por horas ou até dias e
meses.
Nossas maiores fobias batem de frente com a maior e mais misteriosa fonte de mágoas
e tristeza. Isto eu digo sem querer me aprofundar no que diz respeito exclusivamente à
maldade.
 Quais monstros assustam mais?
 Uma vez me disseram: "O amor é uma semente que existe dentro de todos nós."
 Eu concordo e acredito no amor. Completamente.
Mas uma coisa é certa, eu penso: Poucas, poucas pessoas querem de fato cultivar as
sementes. E de nada adianta você dar uma planta que você cultivou com dedicação pra
alguém que a regue com ácido ao invés de água.
 Durma...sonhe...tenha pesadelos. Você somente irá acordar, mas teu coração e tua
alma ainda estarão razoavelmente bem.
 Ninguém está a salvo de absolutamente nada, mas sendo mais direto posso te garantir
que talvez até o espaço pertencente aos pesadelos podem ser uma história de ninar se
comparados à terrível realidade que pode nos aguardar. Talvez não hoje, nem amanhã.
Mas de alguma maneira, nalgum dia, estes monstros e estas dores farão você sangrar.
Aproveite esta viagem. Curta este passeio pelas estradas sem fim deste plano não
existencial.
 E...à propósito... O pesadelo pode estar à espreita ao levantar...

(Acordou? Força!!!Os monstros estão à solta por aí...)

Walter Cavalcanti

49
silêncio!
ouço um grito soturno
alguém exasperou
no medo desesperou
seja uma alma perdida
nos dando despedida
alguém vociferou
um breve mas colérico
deturpamento histérico
desabafo gritado
sentimento calado
sombra da inquietação
uma libertação.

Gentil Poeta Brasileiro

50
Psicopata

 
Andarilho coletor de almas                        
Alimento­me tua epiderme Feitiço no solo desfibrilado
Bactéria social doce verme Alicerçado religião e fanatismo
És a presa,sacia e acalmas Trevas escrevo macabro romantismo
Show sangrento batem palmas Preconceito,bullying sou arraigado
Outros enojam vão repudiar Maldade pura,atemporal pecado
Estereótipo tentando rotular Hades grego moderno a queimar
Tu ousas,teimas esconder Lenda,mito,indo concretizar
Psicopata olho a vida escorrer Cobaia instintivamente correr
Minha arte pessoas assassinar Psicopata olho vida escorrer
                      Minha arte pessoas assassinar
Carniceiro sempre a  espreita                      
Cão de caça,instinto farejo Analiso ensaio o vil ataque
O vacilo,deslize,o bocejo Deslocando de carro ou a pé
Selvageria,perfídia a receita Abordagem tua seiva é
Cardápio ovelhinha não aceita Extraída bem após o baque
Corre inutilmente pro altar Olhares se cruzam o tic tac
Lá definha irei sacrificar Do pulsante coração me deliciar
Existência pra outra viver Batidas decrescem até cessar
Psicopata olho vida escorrer Então vira objeto de prazer
Minha arte pessoas assassinar Psicopata olho vida escorrer
                      Minha arte pessoas assassinar
Souvenires coleciono e eternizo                      
Sortuda vítima estilo remete
Páginas policiais vira manchete
Visceras obtenho,exímio,preciso
Igual réptil,sorrateiro deslizo Jonnata Henrique
Na selva de pedra camuflar
Camaleão intempéries adequar
Vontade de matar sobreviver
Psicopata olho vida escorrer
Minha arte pessoas assassinar 

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Perfil

Autor - Márcio Benjamin


Costa Ribeiro
Biografia
Márcio Benjamin Costa Maldito Sertão foi o seu
Ribeiro, um natalense, primeiro livro, de
do Estado do Rio contos. Lançado em
Grande do Norte, tem 2012 pela Editora
36 anos, trabalha como Jovens Escribas, foi
advogado, formado considerado um dos
pela Universidade melhores de 2012 e
Federal do Rio Grande 2013 pelo Troféu
do Norte, e costuma Cultura Potiguar, em
apresentar­se como um breve será
escravo das letras.  quadrinizado pelo
Desde os treze anos é coletivo K­Ótica, e reza
metido com lápis e a lenda que conhecerá
papéis, tentando a tela grande do
mostrar aos outros um cinema. Em 2015 foi
pouco do que se passa lançada a segunda
em sua cabeça. edição com mais
Participante usual de contos.Em 201, foi
antologias de terror convidado pela
(Noctâmbulos, Universidade de
Caminhos do Medo, Sorbonne, e expôs seu
pela Editora Andross), trabalho em Paris bem
também já fez muita como participou do
gente rir com suas Salão do Livro na
peças de teatro capital francesa.
(Hippie­Drive, Flores de Gosta de pensar que
Plástico, Ultraje). poderá escrever pra
Tenta tornar público sempre. Pelo menos é
seus contos exibidos o que prometem as
com uma certa vozes em sua cabeça. 
freqüência no site
www.umanjopornografi
co.blogspot.com. 

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Entrevista
com o autor
2014, e me levou pra Paris esse
ano; fui convidado pela
Universidade de Sorbone para
representar o Brasil, junto com
outros escritores, na Primavera
Literária Brasileira e no Salão do
Livro de Paris. Também virou uma
grapich novel cem por cento
nacional que será lançada dia 10
de novembro, agora próximo mês,
na Feira de Livros e Quadrinhos de
Natal. Eles podem ser encontrados
comigo, frete e autógrafo grátis,
               Você começou no wattpad olha que beleza! (risos).
ou publicava em outro lugar antes?
Quem ou o que te inspirou a
Até tenho wattpad, mas confesso que começar a escrever terror?
o uso muito pouco. Erro meu! Acho
uma ferramenta muito interessante  Olha, eu sou um fã incondicional
para ter contato com os leitores. do terror desde que me entendo
Comecei a escrever e mostrar aos por gente. Acho um gênero muito
amigos, em uma época que nem honesto e criativo, duas qualidades
havia internet, imagine só! (risos). que andam em falta na nossa arte,
Depois passei para o blog, o qual tive e que pode estimular muito a
muito tempo nossa mente, nos fazer refletir.
(www.umanjopornografico.blogspot.c Comecei com os filmes, assim
om), e só depois arrisquei a como a maioria, né? Sexta­feira
publicação 13, A Hora do Pesadelo, e depois
fui conhecendo e me apaixonando
 Fome é o seu primeiro livro pela literatura de terror e suspense,
publicado em físico? Poderia nos como Lovecraft, Poe, e sempre,
informar onde podem ser sempre Stephen King, eterno
compradas suas obras? mestre. A inspiração veio desses
aí, bem como de outros autores, os
2) Na verdade o meu primeiro livro foi quais ainda que não façam terror,
um livro de contos chamado “Maldito transitam pelo fantástico, o que
Sertão”, lançado em 2012 pela também pode ser muito
editora Jovens Escribas, reeditado assustador: Cortázar, Marina
com mais histórias em 2015. Colasanti, García­Marquez,
Também é de terror, formado por Borges, Carlos Fuentes, dentre
uma coletânea de lendas rurais, por outros. Naquela época, havia
assim, dizer (risos): mula­sem­ pouco terror nacional, e agora vejo
cabeça, lobisomem, papa­figo, dentre com muita satisfação as coisas
outros causos que todos já ouvimos, mudando e uma profusão de novos
mas contados como história de terror autores aparecendo, o que é ótimo,
mesmo! Me deixou muito orgulhoso, da mesma forma que o terror
pois foi indicado duas vezes ao nacional cresce também em outros
Troféu Cultura Potiguar, em 2013 e  meios de expressão artísticos,
como o cinema, por exemplo. Nos
 53 resta torcer e apoiar!
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Escreve outros gêneros?

Também sou dramaturgo, e apesar de estar
bem parado, ironicamente, tenho muitas
comédias escritas, tais como Hippie­Drive,
Flores de Plástico (que é uma homenagem
ao universo de um cineasta que curto muito,
Pedro Almodóvar), Luz, câmera, arsênico,
Uma história pra cantar, dentre outras. Se
bem que não tão irônico assim, pois são
comédias não tão leves e doces, como se
espera delas (risos)

Como você vê o crescimento da literatura
de terror no Brasil?

Falei um pouco antes, mas é um prazer
reforçar: acho foda! Acompanhar tanta
gente boa estabelecendo o seu espaço é
uma grande maravilha, até porque é um
absurdo um país como o Brasil tão rico em
cultura, em folclore, não se utilizá­los
artisticamente para recriar o fantástico.
Estamos em algumas batalhas de editais e
habilitações de prêmios e fico muito feliz em
dizer que existem vários projetos na linha do
terror sendo pleiteados, torcemos por eles
desde já! Também tenho contato via redes
sociais com muitos desses artistas e é muito
bom acompanhar o sucesso e qualidade
dos seus trabalhos, não apenas em âmbito
nacional como internacionalmente. Se bem
que ainda falta muito do nosso apoio, por
isso digo e repito: conheça, consuma e
divulgue o nacional! Não só o artista merece
como você, sem a sua cultura, não é nada.

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Resenha do livro Fome


- Márcio Benjamin Costa Ribeiro -

Em uma cidade do interior, o apocalipse já
começou.
Num lugar esquecido pelo tempo, um grupo
de pessoas entenderá o verdadeiro sentido
da palavra medo, ao se encontrarem
ilhados na terra que já chegou a ser seu lar.
Confusos, precisam sobreviver em meio a
uma horda de mortos­vivos, uma vez os
próprios moradores, os quais apenas
conseguem aplacar o seu apetite com
carne humana.
Lutando tanto para sobreviver quanto para
entender o que está acontecendo, os
últimos habitantes precisam se unir para
defender­se, e desvendar aquele mistério é
sua única esperança de saírem vivos.
Fome, um romance de Márcio Benjamin,
autor do sucesso Maldito Sertão, que traz o
mito dos zumbis para o calor do nordeste, e
com uma narrativa ágil, retumbada pelos
tambores do candomblé, procura recontar
uma história que fala tanto de nós mesmos,
ainda que não aceitemos.
O profeta estava certo.
O sertão vai virar mar.
De sangue.

Raquel Rasinhas

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O lado agridoce da Poesia


Por, Luana Melo

Felicidade Roubada A Prostituta 
Ela tinha tudo pra ser feliz.
Ela queria ser médica Deitastes com tantos,
Para cuidar do câncer da mãe. E hoje...
E prolongar seus poucos dias de Resta apenas à solidão.
vida.
Ela queria ser palhaça de circo,   Tantas jóias caras,
Pra trazer de volta o sorriso Bolsas de grifes...
daquelas crianças. Eram apenas máscaras.
Ela queria ser jornalista,
Para entrevistar os verdadeiros
Pra quê tantos disfarces?
heróis da vida.
Por onde andastes à procura do
Ela queria ser escritora
Pra contar muitas histórias. Amor?
Ela queria ser cantora,
Para alegrar a vida No calçadão de Copacabana,
das pessoas. Conhecida como: A poderosa!
Ela queria ser motorista de ônibus,
Pra viajar o mundo e conhecer No recanto do seu quarto,
muita gente. O vazio invade o peito...
Ela queria ser atriz,
Para encenar no palco da vida. Resta apenas a tristeza...
E poder ser todos os
personagens que ela sonhava. Sorrisos na rua,
Ela queria ser dançarina, Lágrimas inundam seu
Sentir­se livre e realizada. travesseiro.
Ela queria...
Ela queria... No vazio do seu quarto,
Mas certo dia, A máscara cai,
Todos os sonhos foram roubados. O disfarce acaba.
Em fração de segundos
Todos os seus sonhos foram
Encolhida na sua cama,
destruídos.
Ela vinha da faculdade Já era tarde Chorosa e triste...
da noite, Sofres com a falta de um amor.
Quando ao passar na faixa de
pedestres
Um carro a atropelou.

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Chá das quatro


Por, Gabriela Villas Bôas Ovídio

"Se meus olhos
Pudessem te devorar
Nenhuma parte de
ti Ia restar
Porque se meus olhos
pudessem te devorar
Eu já teria te comido inteira
Te mastigado
E te engolido
Seria tudo muito peculiar
Te devoraria
Pra gente se misturar
E dentro de mim se embolar
Te observar pra mim é pouco
Eu quero é poder ser você
E ter no meu corpo
Cada átomo do seu."

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Prosa Poética
Por, Diego Guerra

A menina e a janela Raiz

Acordou um dia a bela donzela, A divindade plantada por braços
abriu os olhos olhando a
fortes floresce farta nos átrios, eleva
humanidade, despertada dos seus
sonhos humanos. Acordou numa o ser e estende a oblação. Divino
pequenina casa uma jovem adorado, esculpido em dores de
aspirante, aspirava pelos quatro amor, sopra aos galhos os ventos
cantos do seu quarto o homem das ladainhas.
bom. Homem bom é aquele jovem Escorre em sangue a imagem da
acordado que está a esperá­la pela raiz, grossa e santa, que há de
rua a fora, pacífico, compreensivo e
sustentar a esplandeceste árvore.
a cima de tudo, humano. Um
homem humano é o que faz nossa Árvore de vida. Amor.
doce menina se debruçar sobre a Faz­se adoração a dança das
janela, dias e dias, diante de todos folhas, os ninhos dos pássaros, os
os verbos que cabem aos homens frutos doces, a leve sobra. O
repousarem. Nesta manhã ela sustento.
prende o cabelo e abraça os seus Leve árvore, culto de amor. 
olhos com os olhos do quarto, triste
e quieta se deposita nas bordas de
madeira, na certeza de que dentre
os homens custará a encontrar o
seu homem bom, diante tudo o que
vê, está cada hora mais distante do
que tanto sonhara. Seus olhos
caem sobre os animais abaixo, a
violência consumida no
conservadorismo, sem espaço para
descer, por os pés na rua, a menina
retoma sua pele na cama e lembra­
se de um acalento para descansar,
descansar do cansaço humano.

Dorme um dia a doce jovem
perdida, mal sabia ela que do outro
lado da rua o seu homem bom
estava também a esperar uma doce
mulher.  58
Esquizo

Paulo sai da estação de trem, pega a rua de  Nessa hora, enxerga uma luz, um ponto de
sempre, no final dela, vira à direita e pronto, esperança, que se transforma
está em casa. Mas algo está diferente, ela imediatamente no maior dos seus temores.
está mais deserta que de costume. Está Aquele ponto aumenta e vem em sua
tarde, mas não era para tanto. Ele resolve direção. Ele vê pessoas se aproximando e
pegar a paralela, um tanto mais chamando por ele, as reconhece, são sua
movimentada. família. Eles estavam naquele carro.
Mais estranho ainda, o movimento comum Ele se lembra do dia, se lembra de ter
está lá, mas está tudo mais escuro, uma desistido na última hora. Era para ser um
névoa densa está abaixando. Paulo fica passeio de família, tornou­se o maior
receoso, mas segue o plano. Por um pesadelo da sua vida. Agora estava
momento, tem a impressão de ser revivendo tudo aquilo, e sentindo vultos se
observado. Tudo está diferente, mais escuro, aproximarem, sentindo a névoa mais densa
mais assustador, olhos o seguindo. o apertando, sentindo que deveria ter feito
 Ele começa a se desesperar, aperta os algo. Está tomado por um medo
passos, sente passos atrás dele, sente incontrolável. Sente que a sua hora está por
outras respirações, olhos o olhando, passa a vir, entende de quem se trata aquele vulto.
andar mais rápido ainda. Sem que perceba Até pensa em desistir. Mas sabe que ainda
começa a correr. é cedo, corre mais. Agora para longe da luz,
Os uivos de cachorros que nunca foram mesmo sem saber o rumo certo, sem
ouvidos ali, agora ressoavam em seus direção alguma, apenas corre para longe.
ouvidos, como tubas anunciando a abertura Longe de tudo aquilo, tentando se livrar de
dos portões das trevas. Vultos o circundam, suas angústias, as mesmas que passaram
o envolviam. O medo toma conta. Correndo a persegui­lo assim que saiu daquela
em desespero, atrapalhado pela névoa que estação. Assim que teve a maldita ideia de
já compreende toda a extensão daquela rua. trocar de rua.
Escuta choro entre os uivos, pensa se não é Gritos vêm do quarto 42, três enfermeiros
o próprio, já que suor gélido e lágrimas se entram lá, encontram um homem deitado,
fundem pela face aterrorizada. Passa a apertando a cabeça, dizendo não querer ir
pensar no seu dia, a se arrepender de ter ainda, dizendo que falta muito o que
aceitado aquele vinho, de ter feito aquela consertar. Dizendo que precisa retomar a
piada. Se tivesse voltado antes para a casa. paz, que precisa simplesmente morrer. O
Se não tivesse saído de casa. Tudo passa a homem é levado para a ala de tratamento
revisitá­lo, as dores, as angústias, todo o seu intensivo.
medo sai pela boca, junto da respiração
ofegante. Junto dos sussurros, entre os
rangidos dos seus dentes. Pedro Cotrim / Perla de
Castro

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