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Contra COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS- CEDAE, inscrita no CNPJ sob o n.° 33.352.394/0001-04,
estabelecida à Rua Sacadura Cabral, n.º 103, Centro, Rio de Janeiro-RJ, CEP: 20081-261, com fundamento nos artigos
6°, IV, 14, 39, IV, 42, caput e parágrafo único, todos da Lei n.° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), e nos termos
que se seguem:
PRELIMINARES
O Código de Defesa do Consumidor, Lei Federal nº. 8.078/90, norma especial, de ordem pública e interesse social (art.
1°), deve ser obrigatoriamente aplicado à presente demanda, tendo em vista que a relação existente entre a ré e os
usuários (efetivos e potenciais) do serviço por ela prestado é de consumo, conforme previsto em seus arts. 2°, caput e
parágrafo único, 3º e 29.
Tendo em vista que o CDC é, conforme acima mencionado, norma especial, de ordem pública e interesse social, e por
tratar de matéria processual, mais precisamente, e de forma integral em seu artigo 82, III, sobre a legitimidade ativa ad
causam dos órgãos da administração pública para defender os direitos e interesses dos consumidores através de ações
judiciais coletivas de consumo, deve ser aplicado prioritariamente em relação às demais legislações aplicáveis, como a
Lei n. 7.347/85 e o CPC.
“Examinando agora a questão inicialmente proposta, entendemos que, após a vigência do Código
de Defesa do Consumidor, apenas os entes legitimados pelo art. 82 podem propor ações coletivas
em defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das pessoas equiparadas. Com efeito, o
CDC é lei específica para proteção do consumidor, tout court, e prefere, neste ponto, à Lei da Ação
Civil Pública, que cuida da ação de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente,ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, com
bem maior generalidade”. (ARAÚJO FILHO, Luiz Paulo. Comentários ao código de defesa do
consumidor: direito processual. São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 66/67) (grifos nossos)
“As normas do CPC e da LACP são aplicáveis às ações individuais e coletivas fundadas no CDC,
desde que não sejam incompatíveis com o microssistema do CDC. Caso contrarie dispositivo
expresso do CDC ou seu espírito, a norma do CPC ou da LACP não pode ser aplicada”. (NERY
JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante
em vigor, atualizado até 01.08.1997. São Paulo: RT, 1997, p. 1402) (Grifos nossos)
“As disposições da LACP são integralmente aplicáveis às ações propostas com fundamento no
CDC, naquilo em que não houver colidência, como é curial.
(...)
Há, por assim dizer, uma perfeita interação entre os sistemas do CDC e da LACP, que se completam
e podem ser aplicados indistintamente às ações que versem sobre direitos ou interesses difusos,
coletivos e individuais, observado o princípio da especialidade das ações sobre relações de
consumo, às quais se aplica o Título III do CDC e só subsidiariamente a LACP” (NERY JUNIOR,
Nelson. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. São
Paulo: Forense Universitária, pp. 1032/1033)
Dispõe o artigo 82, III, do CDC que “para fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente” “as
entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos” dos consumidores.
A autora é uma comissão permanente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (arts. 109, da Constituição
do Estado do Rio de Janeiro, e 25, parágrafo único, XXI, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado
do Rio de Janeiro), sem personalidade jurídica, especificamente destinada, de forma ampla, à defesa dos direitos e
interesses do consumidor (art. 26, § 19, alíneas “a” a “c”, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do
Rio de Janeiro), e de forma específica, apesar de não haver qualquer exigência no artigo 82, III, do CDC (exige apenas
que “defenda” os direitos e interesses dos consumidores), à defesa dos direitos e interesses do consumidor através de
ações judiciais coletivas de consumo (art. 26, § 19, alínea “d”, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado
do Rio de Janeiro).
Art. 109. Constituição do Estado do Rio de Janeiro. A Assembléia Legislativa terá comissões permanentes e temporárias,
constituídas na forma e com as atribuições previstas nos respectivos Regimento ou ato legislativo de sua criação.
Art. 25. Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Iniciados os trabalhos de cada
sessão legislativa, a Mesa, dentro do prazo improrrogável de quinze dias, providenciará a organização das comissões
permanentes.
Parágrafo único. As comissões permanentes são:
(...)
XXI – Comissão de Defesa do Consumidor, com cinco membros.
Art. 26. Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Compete às comissões
permanentes:
(...)
§ 19 – À Comissão de Defesa do Consumidor compete:
a) manifestar-se sobre matéria referente à economia popular;
b) manifestar-se sobre composição, qualidade, apresentação, publicidade e distribuição de bens e serviços, relações de
consumo e medidas de defesa do consumidor;
c) acolher e investigar denúncias sobre matéria a ela pertinente e receber a colaboração de entidades e associações
relacionadas à defesa do consumidor;
d) representar a título coletivo, judicialmente ou extrajudicialmente, os interesses e direitos previstos no Parágrafo único
do art. 81, conforme autorização expressa no art. 82, III, todos da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990.
“(...) Desse modo, um Departamento de proteção ao Consumidor, por exemplo, órgão integrante
de determinada Secretaria de governo estadual e, portanto, da administração direta, está
capacitado ao ajuizamento da ação, sem necessidade de ser a capacidade atribuída à própria
entidade federativa estadual em si, como ocorre no sistema geral relativo a esse pressuposto
processual. O mesmo se pode dizer, ainda como exemplo, de um Departamento de Defesa do Meio
Ambiente: embora seja um órgão, e não uma pessoa, poderá habilitar-se como autor da ação civil
pública. É comum, aliás, na estrutura do Executivo ou do Legislativo, a instituição de Procons,
órgãos destinados à proteção dos consumidores”. (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação
Civil Pública: comentários por artigos)
“Além das entidades, o inciso III também legitima os órgãos da administração pública, direta
ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos
interesses e direitos protegidos pelo Código, reconhecendo-lhes a personalidade judiciária e
permitindo, assim, a plena atuação em juízo de órgãos públicos como o Procon e os Núcleos de
Defesa do Consumidor da Defensoria Pública, que podem, agora, sem nenhuma dúvida, propor,
nomine próprio, ações coletivas em defesa dos consumidores (sempre em sentido amplo)”.
(ARAÚJO FILHO, Luiz Paulo. Comentários ao código de defesa do consumidor: direito processual.
São Paulo: Saraiva, 2002, p. 81)
“A norma autoriza a propositura da ação coletiva pelos órgãos públicos de defesa do consumidor,
mesmo que não tenham personalidade jurídica. Têm eles personalidade judiciária, podendo ser
autores de demanda em juízo. Os Procons, por exemplo, podem agir em juízo, em nome próprio,
por meio de seu diretor ou representante legal. O diretor do ente despersonalizado pode conferir
mandato a advogado para que seja proposta a ação, sendo desnecessário que o procurador
da pessoa jurídica de direito (procurador da República, procurador do Estado ou procurador
do Município) subscreva a petição inicial. Caso o diretor ou representante legal do ente
despersonalizado seja advogado, pode lê mesmo subscrever a petição inicial de ação coletiva.
(...)
Não há necessidade de previsão estatutária estrita para que se a entenda legitimada, sendo
suficiente que a associação defenda os direitos do consumidor”. (NERY JUNIOR, Nelson. Código
brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. São Paulo: Forense
Universitária, p. 1396)
Direito Constitucional. Ação Civil Pública. Tutela dos interesses consumeristas. Legitimidade
ad causam do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública para propositura da
ação. A legitimidade da Defensoria Pública, como órgão público, para defesa dos direitos dos
hipossuficientes é atribuição legal, tendo o Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 82,
III, ampliado o rol de legitimados para propositura da ação civil pública àqueles especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código. Constituiria intolerável
discriminação negar a legitimidade ativa de órgão estatal – como a Defensoria Pública – as ações
coletivas se tal legitimidade é tranquilamente reconhecida aos órgãos executivos e legislativos
(como entidades do Poder Legislativo de defesa do consumidor). Provimento do recurso para
reconhecer a legitimidade ativa ad causam da apelante (TJRJ, Ap. Cív. 2003.001.04832, 6ª Câm.
Cív., Rel. Des..Nagib Slaibi Filho).
e) encaminhar as representações mencionadas na alínea “d” para publicação na íntegra no Diário Oficial da ALERJ,
assim como as desistências das representações feitas.
Portanto, inegável a legitimidade da autora para figurar no pólo ativo da presente demanda, assim como de qualquer
demanda judicial coletiva de consumo, conforme reconhecido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e
pelo TRF 2ª Região.
PROCESSO CIVIL. AÇÃO COLETIVA. O CPDC, ao dispor no art. 82, III, que têm legitimidade ativa
nas ações coletivas “as entidades e órgãos da administração pública, direta e indireta, ainda que
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses protegidos por
este Código”, não permite dúvida quanto à legitimação de pessoas formais e se refere aos direitos
metaindividuais, em que inscrevem os individuais homogêneos (id, art. 81, III). Apelo conhecido
e provido. Sentença que se anula. Unânime (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.23959, 3ª Câmara Cível, Rel.
Des. Fernando Foch).
APELAÇÃO CÍVEL – Ação Civil Pública. Defesa do Consumidor em Juízo. Legitimidade ativa para
propositura da ação. Aplicação dos arts. 5°, inc. XXXII da CRFB e art. 82, inc. III do Código de
Defesa do Consumidor. Legitimidade da Comissão de Defesa do Consumidor. Legitimidade da
Comissão de Defesa do Consumidor da ALERJ para propositura de ação coletiva tendente a defesa
de direitos do consumidor objetivando o reconhecimento de aumento abusivo da tarifa cobrada
por transporte marítimo e retorno ao patamar anterior, bem como a condenação à restituição,
em dobro, das tarifas pagas indevidamente pelos consumidores. A mens legis do art. 82 do CDC
quando estabeleceu legitimação para agir atinente ao aforamento de ações coletivas foi a mais
ampla possível não podendo o aplicador da lei dar interpretação restritiva. No inc. III do art. 82,
não se limitou o legislador a ampliar a legitimação para agir. Foi mais além, atribuiu Legitimação
ad causam a entidades e órgãos da Administração Pública direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, o que se fazia necessário para órgãos como PROCON e a Comissão
Apelante, bastante ativos e especializados em defesa do consumidor, pudessem também agir em
juízo. PROVIMENTO DO APELO (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.30582, 4ª Câmara Cível, Rel. Des. Sidney
Hartung Buarque).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR. SENTENÇA QUE EXTINGUE O FEITO SEM
EXAME DO MÉRITO. APLICAÇÃO DO ART. 82, III DO CDC. LEGITIMIDADE DAS ENTIDADES E
ÓRGÃO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU INDIRETA, AINDA QUE SEM PERSONALIDADE
JURÍDICA, DESTINADOS À DEFESA DOS INTERESSES E DIREITOS PROTEGIDOS PELO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PROVIMENTO DO RECURSO (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.39903, 20ª
Câmara Cível, Rel. Desa. Odete Knaack de Souza).
DOS FATOS
A ré é empresa pública fornecedora dos serviços públicos de fornecimento de água e coleta de esgoto e atua em uma
significativa parte do Estado do Rio de Janeiro.
Dizendo-se amparada no artigo 102 do Decreto 553/76, a ré, para poder receber créditos a que tem direito por força da
prestação de serviços, utiliza-se do artifício de que os imóveis aonde há prestação de seus serviços são “responsáveis”
pela remuneração correspondente, ou seja, a obrigação correspondente ao fornecimento de água e coleta de esgoto é
propter rem.
Art. 102. Decreto 553/76. As tarifas de água e esgoto, as indenizações e as multas impostas por infrações deste
regulamento serão devidas pelos usuários, ficando os proprietários dos imóveis respectivos solidários nessas dívidas.
Por força do expediente utilizado pela ré, consumidores (artigos 2º e 29, CDC) vêm, há muito tempo, sendo constrangidos.
Em alguns casos o consumidor passa a conviver com aflições, pela possibilidade de perder seu imóvel por não ter
condições de pagar o débito gerado pelo consumo dos serviços, além de não poder contar com serviços considerados
essenciais para sobrevivência digna; e, em outros casos, devido à essencialidade apontada, o consumidor acaba se
submetendo às imposições da demandante.
Com relação à segunda situação acima mencionada, duas hipóteses vêm ocorrendo com certa freqüência, conforme
documentos em anexo:
A primeira diz respeito às relações de locação (ou relações similares) de imóveis. O proprietário do bem, ao retomar a
posse do mesmo, e verificando que os serviços de fornecimento de água e esgoto encontram-se suspenso em razão
do inadimplemento do locatário (ou parte similar), procura a ré e, ainda que prove, através de documentos idôneos e
adequados, como contrato de locação com assinaturas dos envolvidos devidamente reconhecidas em cartório, não logra
sucesso na busca do restabelecimento dos serviços, salvo se o débito relativo à utilização dos serviços por outrem seja
quitado.
A segunda diz respeito aos contratos de compra e venda de imóveis. O novo proprietário, objetivando efetuar a transferência
da titularidade da matrícula do bem junto aos cadastros da ré, procura a mesma e tem sua pretensão negada, ainda
que apresente a documentação necessária e adequada (escritura pública ou particular, conforme previsto em lei, e/ou
certidão de ônus reais com o devido registro do negócio jurídico), sob a alegação da existência de débito gerado pela
prestação do serviço no imóvel no passado, antes da transferência de propriedade.
Ainda com relação aos contratos de compra e venda, o proprietário, objetivando restabelecer os serviços, suspensos
em razão da inadimplência do possuidor anterior, procura a ré e recebe resposta negativa, ainda que apresente a
documentação necessária e adequada. O restabelecimento “amigável” fica condicionado ao pagamento do débito
existente.
Conforme se verificará adiante, apesar da existência de um Decreto vinculando a dívida originada da prestação do
serviço público de fornecimento de água e esgoto ao imóvel aonde estes foram prestados, o artifício utilizado pela ré
configura prática abusiva, ilícita, e vem obrigando consumidores a efetuar pagamentos indevidos, em razão de cobranças
indevidas, e a experimentar danos morais, por força de cobranças ameaçadoras.
DO DIREITO
Aplicação do CDC
Conforme visto anteriormente, a relação existente entre os usuários (de fato e em potencial) é de consumo.
Para que não reste qualquer dúvida, tendo em vista que o mesmo é prestado por empresa pública, convém fazer algumas
considerações prévias.
De um lado da relação de consumo deve existir um consumidor, definido como “pessoa física ou jurídica que utiliza
produto ou serviço com destinatário final” (artigo 2º, CDC), a vítima de um acidente de consumo (artigo 17, CDC) ou a
submetida às práticas comerciais previstas no Capítulo V do CDC (artigo 29, CDC).
Do outro lado da relação deve estar um fornecedor, definido como “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços” (artigo 3º, CDC).
Note-se que o fato de o fornecedor de serviços se tratar de pessoa jurídica pública não afasta a aplicação do CDC; o
artigo 22 do mesmo diploma legal não deixa dúvidas.
Além da presença dos personagens acima mencionados é necessário verificar o objeto da relação, que, para poder atrair
a incidência do CDC, deve ser o fornecimento de produto ou serviço mediante remuneração (artigo 3º, §§ 1º e 2º, CDC),
um acidente de consumo ou uma prática comercial prevista no Capítulo V do CDC.
Ressalte-se que a doutrina e a jurisprudência entendem que não se enquadram no conceito de serviço “de consumo”
aqueles que são colocados indistintamente à disposição de toda a população e que são objeto de relações de direito
tributário.
“O que se pretende dizer é que o ‘contribuinte’ não se confunde com consumidor, já que no
primeiro caso o que subsiste é uma relação de Direito Tributário, inserida a prestação de serviços
públicos, genérica e universalmente considerada, na atividade precípua do Estado, ou seja, a
persecução do bem comum”. (FILOMENO, José Geraldo Brito. Código brasileiro de defesa do
consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. São Paulo: Forense Universitária, p. 1396)
“Relembre-se que, pela definição de serviços do art. 3º do CDC, somente àqueles serviços pagos,
isto é, como afirma o § 2º, ‘mediante remuneração’, serão aplicadas as normas do CDC. Em uma
interpretação literal da norma, os serviços públicos uti universi, isto é, aqueles prestados a
todos os cidadãos, com recursos arrecadados em impostos, ficariam excluídos da obrigação de
adequação e eficiência previsto pelo CDC. (...).
Assim, aplica-se o CDC, sempre que presente um consumidor, aos serviços públicos referentes
ao fornecimento de água, energia elétrica, gás, telefonia, transportes públicos, financiamento,
construção de moradias populares etc”. (MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa
do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. São Paulo: RT, 2002, pp. 486/487)
Desta forma, serviços, para efeitos de aplicação do CDC, devem ser aqueles cujos destinatários são individualizados,
são os chamados serviços singulares, ou uti singuli, que são remunerados, por serem facultativos, através de tarifa
(preço público). Caso o usuário não o remunere, poderá o prestador suspender o seu fornecimento, o que não ocorre nos
serviços públicos obrigatórios, que são remunerados através de tributo.
“Serviços ‘uti singuli’ ou individuais: são os que têm usuários determinados e utilização particular
e mensurável para cada destinatário, como ocorre com o telefone, a água e a energia elétrica
domiciliares. Esses serviços, desde que implantados, geram direito subjetivo à sua obtenção para
todos os administrados que se encontrem na área de sua prestação ou fornecimento e satisfaçam
as exigências regulamentares. São sempre serviços de utilização individual, facultativa e
mensurável, pelo quê devem ser remunerados por taxa (tributo) ou tarifa (preço público), e não
por imposto.
(...). Há que distinguir entre o serviço obrigatório e o facultativo. Naquele, a suspensão do
fornecimento é ilegal, pois, se a Administração o considera essencial, impondo-o coercitivamente
ao usuário (como é a ligação domiciliar à rede de esgoto e da água e a limpeza urbana), não pode
suprimi-lo por falta de pagamento; neste, é legítima, porque, sendo livre sua fruição, entende-se
não essencial, e, portanto, suprimível quando o usuário deixar de remunerá-lo, sendo, entretanto,
indispensá
No caso em questão há uma pessoa jurídica de direito público fornecendo, mediante remuneração, serviços públicos
a outra pessoa individualizada. Acrescente-se, ainda, que a ré, em virtude da não remuneração pela prestação dos
serviços de fornecimento de água e coleta de esgoto, suspende o fornecimento dos mesmos.
Indiscutível, portanto, que, aos serviços de fornecimento de água e coleta de esgoto prestados pela ré, aplicam-se as
normas do CDC.
Da natureza da obrigação assumida pelo consumidor pela utilização dos serviços de fornecimento de água e
esgoto
A doutrina divide as obrigações, de forma geral, em três tipos: obrigações propriamente ditas ou stricto sensu (vulgarmente
chamadas pessoais); obrigações reais e obrigações propopter rem.
A primeira é a que se estabelece entre sujeitos identificados, em que há dois pólos distintos, um ativo e outro passivo,
facultando ao primeiro exigir do segundo uma prestação positiva ou negativa, como o pagamento de um crédito.
“Partindo, pois, da idéia de que ius et obligatio correlata sunt, forçoso é, na verdade, reconhecer
que ao direito de crédito, aquele direito que tem por objeto uma prestação em espécie, um dare ou
um facere, positivo ou negativo, corresponde a obrigação stricto sensu ou obrigação propriamente
dita”. (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil vol. II. Rio de Janeiro: Forense,
1978, p. 43)
A segunda, em que também há dois pólos, é a que se estabelece entre o titular de um direito real e toda a coletividade.
No pólo ativo encontra-se o titular do direito real e, no pólo passivo, toda a coletividade. À coletividade cabe abster-se de
interferir negativamente no direito real de seu titular.
“Ao outro, ao direito real, que se caracteriza por um dever negativo de todos para com o sujeito,
ou se desenha num pati, corresponde uma obligatio que se insere no dever de todos, mas que,
nem por isso, deixa de ser de cada um, de respeito às faculdades do sujeito”. (PEREIRA, Caio
Mário da Silva. Instituições de direito civil vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 43)
“Os direitos reais não criam obrigações para terceiros. Quando muito, pode-se admitir, com os
partidários da teoria personalista, que geram uma obrigação passiva universal, consistente no
dever geral de abstenção da prática de qualquer ato que os atinja. Alguns, no entanto, importam
para determinadas pessoas a necessidade jurídica de não-fazer alguma coisa. Negativa, portanto,
será, nesses casos, a obrigação que originam”. (GOMES, Orlando. Direitos reais. Rio de Janeiro:
Forense, 2000, p. 12)
A terceira e última é aquela que se impõe ao titular de um direito real em razão desta condição (de titular de um direito
real).
“Se se trata, puramente, de exigir prestação em espécie, com caráter autônomo, o direito é
creditório, e a obrigação correlata o é stricto sensu: se a relação traduz um dever geral negativo,
é um ius in re, e a obrigação de cada um, no puro sentido de abster-se de molestar o sujeito, pode
apelidar-se de obrigação real.
Mas, se há uma relação jurídico-real, em que se insere, adjeto à faculdade de não ser molestado,
o direito a uma prestação específica, este direito pode dizer-se ad rem, e a obrigação é propter
rem.
(...). A obligatio propoter rem somente encorpa-se quando é acessória a uma relação jurídico-
real ou se objetiva numa prestação devida ao titular do direito real, nesta qualidade (ambulant
cum domino)”. (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil vol. II. Rio de Janeiro:
Forense, 1978, p. 44)
“... situações jurídicas propter rem são aquelas em que o sujeito é determinado mediatamente
pela titularidade de um direito real”. (CORDEIRO, Menezes. Direitos reais. Lisboa: Livraria dos
Advogados, 1979, p. 521)
Traço marcante das obrigações propter rem é o fato de que, independentemente da época em que a mesma se originou e
quem era o titular do direito real, aquele que figura como titular do direito real é quem deve cumpri-la. Em outras palavras,
uma vez constituída a obrigação o sujeito passivo será o titular do direito real, pois esta (a obrigação) acompanha a linha
sucessória da titularidade do direito real; havendo transmissão do direito real a obrigação a ele inerente é transmitida ao
novo titular, e assim por diante.
“A natureza jurídica de tais obrigações in rem scriptae, ob ou propter rem não está definida. (...).
Tais obrigações existem quando o titular de um direito real é obrigado, devido a essa condição,
a satisfazer determinada prestação. O direito de quem pode exigi-la é subjetivamente real. Quem
quer que seja o proprietário da coisa, ou titular de outro direito real, é, ipso facto, devedor da
prestação. Pouco importa, assim, a pessoa em quem surgiu pela primeira vez. A obrigação está
vinculada à coisa. Dentre outras, são obrigações ob rem ou propter rem as dos condôminos de
contribuir para a conservação da coisa comum...” (GOMES, Orlando. Direitos reais. Rio de Janeiro:
Forense, 2000, p. 13)
Contudo, para que se possa classificar como propter rem, a obrigação deve estar relacionada diretamente com o direito
real e não com o seu titular, que é o sujeito passivo da mesma somente em virtude de ostentar a condição de titular do
direito real.
As despesas de condomínio de edifícios, de um modo geral, estão relacionadas com o uso do direito real de propriedade
de unidade componente de condomínio, por isso podem ser classificadas como propter rem.
O Imposto Predial e Territorial Urbano está relacionado diretamente ao fato de estar um imóvel localizado em zona urbana.
Por estar relacionado ao imóvel a obrigação de pagá-lo é propter rem, o sujeito passivo é o seu titular, em regra.
O fornecimento de água e esgoto não serve ao imóvel e sim para aquele que dele (do serviço) se beneficia, no caso o
usuário, como ocorre nos serviços de fornecimento de energia elétrica, gás encanado.
Com efeito, a obrigação que decorre da utilização dos serviços de fornecimento de água e esgoto é stricto sensu, é (ainda
que parte da doutrina sustente ser imprópria a classificação) pessoal. Por isso, diz respeito apenas ao usuário e não ao
imóvel aonde foi fornecido.
Acrescente-se que o parágrafo primeiro do artigo 173 da Constituição Federal determina que “a empresa pública, a
sociedade de economia mista e outras entidades que exploram atividade econômica sujeitam-se ao regime jurídico
próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias”, ou seja, é vedado, pela Lei
Maior do ordenamento jurídico pátrio, conferir vantagens às empresas públicas que não existem para as empresas
privadas.
A existência de previsão em Decreto classificando como propter rem a obrigação decorrente de serviço prestado por
empresa pública à pessoa individualizada configura privilégio não permitido pela Constituição, já que assim não se
classificam as obrigações decorrentes do fornecimento de outros serviços públicos prestados nas mesmas condições
(mudando apenas o tipo de prestação) por pessoas jurídicas de direito privado à particulares.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro vem, reiteradamente, reconhecendo o caráter pessoal da obrigação
decorrente do fornecimento dos serviços prestados pela ré.
CEDAE. OBRIGAÇÃO RELATIVA AO PAGAMENTO DE FATURAS PELO FORNECIMENTO DE
ÁGUA E DISPONIBILIDADE DO SERVIÇO DE ESGOTO ANTERIORES À OCUPAÇÃO DO IMÓVEL
PELO USUÁRIO. INIDENTIFICAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PROPTER REM. DESCABIDA A APLICAÇÃO
DO DECRETO ESTADUAL 553/76. AUSÊNCIA DE SOLIDARIEDADE ENTRE ANTIGO E NOVO
PROPRIETÁRIO PELOS DÉBITOS ANTERIORMENTE EXISTENTES. RECURSO IMPROVIDO.
Confirmação do julgado (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.54716, 14ª Câmara Cível, Rel. Des. Nascimento
Povoas Vaz).
Precedentes: “Obrigação de Fazer – Indenização por Dano Moral – CEDAE – Natureza tarifária do
serviço de água e esgoto – Fornecimento de água a estabelecimento comercial – Dívida do antigo
locatário – Não aplicabilidade do Decreto Estadual n.º 553/75 e da Lei 8987/95 – Não configuração
de obrigação propter rem – Vinculação da cobrança ao usuário dos serviços de água e esgoto e,
não, ao proprietário do imóvel – Corte no fornecimento, indevido – Sentença que se mantém em
sede recursal – Desprovimento do recurso” (TJRJ, 16ª CC, AC 17647/07, Rel. Des. Camilo Ribeiro
Ruliere, j. 29/08/2007).
“O Colendo STF já decidiu, reiteradamente, que a natureza jurídica da remuneração dos serviços
de água e esgoto, prestados por concessionária de serviço público, é de tarifa ou preço público,
consubstanciando, assim, contraprestação de caráter não-tributário” (STJ, 1ª Turma, REsp
740.967/RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 28/04/2006).
Desprovimento do recurso (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.53978, 6ª Câmara Cível, Rel. Des. Nagib
Slaibi).
Inegável, portanto, que a obrigação que decorre da utilização dos serviços de fornecimento de água e coleta de esgoto
não é propter rem, e sim pessoal, ou seja, o devedor da obrigação é aquele que efetivamente utilizou o serviço.
O artigo 39 do CDC apresenta rol de práticas consideradas abusivas. Contudo o referido rol não é exaustivo, conforme
se pode concluir da expressão “dentre outras práticas” contida na redação do caput do dispositivo.
“A lista do art. 39 apresenta 12 hipóteses, com redação dada pelas Leis 8.884, de 11.06.1994;
9.008, de 21.03.1995; e 9.870, de 23.11.1999. O antigo inc. X do art. 39, o qual indicava ser a lista
apenas exemplificativa, foi vetado pelo Presidente da República, sob alegação de que este inciso
tornava a norma ‘imprecisa’ e era inconstitucional, tendo em vista a sua ‘natureza penal’. Mesmo
discordando dos argumentos usados para impor o veto, devemos concluir, em uma interpretação
a contrario, que a lista de práticas abusivas do art. 39 com o veto tinha se tornado uma lista
exaustiva, podendo ser apenas complementada por outras normas, do CDC ou de leis especiais.
A Lei 8.884, de 11.06.1994, introduziu no caput a expressão ‘dentre outras práticas abusivas’,
retornando a lista assim a ser exemplificativa, além das várias modificações introduzidas por
outras leis”. (MARQUES, Cláudia Lima. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São
Paulo: RT, 2006, p. 561)
Considerando que o CDC é baseado, também, no princípio da boa-fé objetiva, toda e qualquer prática que o contrarie
é abusiva, independentemente de ser enganosa; muitas vezes o consumidor é obrigado, conscientemente, a aceitar
determinada imposição do fornecedor que flagrantemente lhe é desvantajosa, por não lhe restar alternativa, trata-se de
típica prática contrária ao princípio da boa-fé objetiva, abusiva, portanto.
“Prática abusiva (lato sensu) é a desconformidade com os padrões mercadológicos de boa conduta
em relação ao consumidor. São – no dizer irretocável de Gabriel A. Stiglitz – ‘condições irregulares
de negociação nas relações de consumo’, condições estas que ferem os alicerces da ordem
jurídica, seja pelo prisma da boa-fé, seja pela ótica da ordem pública e dos bons costumes.
... prática abusiva no Código é apenas aquela que, de modo direto e no sentido vertical da relação
de consumo (do fornecedor ao consumidor), afeta o bem-estar do consumidor.
As práticas abusivas nem sempre se mostram como atividades enganosas. Muitas vezes, apesar
de não ferirem o requisito veracidade, carreiam alta dose de imoralidade econômica e de opressão.
Em outros, simplesmente dão causa a danos substanciais contra o consumidor. Manifestam-se
através de uma série de atividades, pré e pós-contratuais, assim como propriamente contratuais,
contra as quais o consumidor não tem defesas , ou, se as tem, não se sente habilitado ou
incentivado a exercê-las”. (BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos. Código brasileiro
de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2005, p. 361/362)
Segundo a autora Cláudia Lima Marques, “boa fé objetiva significa, portanto, uma atuação refletida, uma atuação refletindo,
pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas expectativas
razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva,
cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual e a realização dos interesses
das partes”. (Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. São Paulo: RT,
2002, pp. 181/182)
Com efeito, condicionar o fornecimento de água e esgoto ao pagamento de dívida decorrente de serviço sabidamente
usufruído por outrem contraria o princípio da boa-fé objetiva. A abusividade de tal prática torna-se ainda mais visível se
for considerado que o bem envolvido é essencial para manutenção da dignidade da pessoa humana e prestado por um
único fornecedor, situação em que o consumidor torna-se ainda mais vulnerável às imposições do fornecedor.
Da reparação por danos morais pela recusa ou suspensão indevida do fornecimento do serviço e pelo ilegal
constrangimento
Dispõe o artigo 22, do CDC, que “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias ou sob qualquer outra
forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
contínuos”.
Com relação ao princípio da continuidade dos serviços públicos essenciais, esclarece o artigo 6º, § 3º, II, da Lei n.º
8.987/95, que “não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção ... após prévio aviso, quando: ...
por inadimplemento do usuário, considerando o interesse da coletividade”.
O fornecimento de água e esgoto é, inegavelmente, um serviço essencial para sobrevivência digna da pessoa humana.
De qualquer forma, à míngua de definição específica do que é serviço público essencial, deve-se considerar como
essencial todo e qualquer serviço público, principalmente aqueles que são prestados diretamente pela administração
pública, como o fornecimento de água e coleta de esgoto.
“É sempre muito complicado investigar a natureza do serviço público, para tentar surpreender,
neste ou naquele, o traço de sua essencialidade. Com efeito, cotejados, em seus aspectos
multifários, os serviços de comunicação telefônica, de fornecimento de energia elétrica, água,
coleta de esgoto ou de lixo domiciliar, todos passam por uma gradação de essencialidade, que se
exacerba justamente quando estão em causa os serviços públicos difusos (ut universi) relativos
à segurança, saúde e educação.
Parece-nos, portanto, mais razoável sustentar a imanência desse requisito em todos os serviços
prestados pelo Poder Público”. (DENARI, Zelmo. Código brasileiro de defesa do consumidor:
comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 215)
Serviços públicos: propriamente dito ditos, são os que a Administração presta diretamente à
comunidade, por reconhecer sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência do grupo
social e do próprio Estado (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo:
Maleiros, 1997, p. 298)
O parágrafo único do artigo 22 do CDC prescreve que violado o princípio da continuidade na prestação dos serviços
públicos essenciais “serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma
prevista” no CDC.
Dispõe o artigo 6°, VI, do CDC, que é direito básico do consumidor “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais
e morais, individuais, coletivos e difusos”.
Trata-se de responsabilidade civil objetiva, por força do disposto nos artigos 22 e 14 do CDC, logo os fornecedores de
serviços respondem, independentemente de culpa (presumida em razão do dever de qualidade adequação e segurança
dos serviços colocados no mercado de consumo, e do dever de agir segundo a boa-fé objetiva), pelos danos causados
na prestação dos seus serviços.
De acordo com as regras da responsabilidade civil objetiva prevista no Código de Defesa do Consumidor, cabe ao
ofendido demonstrar a presença de três pressupostos para responsabilizar o fornecedor: defeito do produto ou serviço,
dano e o nexo de causalidade entre o primeiro e o segundo.
Do defeito
Segundo o parágrafo primeiro do artigo 14 do CDC “o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar”. Do serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto legitimamente se espera que
seja contínuo, ou seja, que somente seja interrompido em caso de inadimplência do usuário, ou seja, interrompido por
motivo justo.
Conforme visto condicionar a continuidade do fornecimento de água e coleta de esgoto ao pagamento de débito de
usuário diverso é considerada prática abusiva, expressamente vetada por lei.
Diante disso, não se pode concluir de forma diversa: é defeituoso o serviço cuja prestação e continuidade depende do
pagamento de dívida de terceiro.
Do dano
Segundo Paulo Jorge Scartezzini Guimarães “dano é toda diminuição no patrimônio de uma pessoa, entendendo-se o
termo ‘patrimônio’ em seu sentido lato, abrangendo tanto os bens materiais como os imateriais”. (Vício do produto e do
serviço por qualidade, quantidade e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato. São Paulo: RT, 2004, p. 314)
Acrescenta o mencionado autor que quando ocorre o cumprimento imperfeito de uma obrigação, ou obrigações, “podem
surgir três tipos de dano: O primeiro, concernente às despesas contratuais; o segundo, chamado de dano circa rem,
ligado aos prejuízos causados na coisa ou diretamente relacionados ao cumprimento impefeito; por último, os danos
causados na pessoa ou em outros bens do credor, de terceiros ou ligados indiretamente ao vício, chamados de dano
extra rem”. (Ob. Cit. p. 314)
A primeira questão a ser enfrentada se refere a prova do dano moral, tendo em vista o disposto no artigo 333, I, CPC.
Segundo Yussef Said Cahali “dano moral é tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente
os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-
se, em linha de princípio, como dano moral; não há como enumera-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na
angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente falecido; no desprestígio, na desconsideração social,
no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade, no desequilíbrio da normalidade
psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento
moral” (Dano Moral. São Paulo: RT, 1998, p. 20/21).
Discute-se na doutrina pátria e na jurisprudência dos Tribunais que o inadimplemento de um contrato não é capaz de
causar danos morais indenizáveis, por se tratar de risco esperado pelas partes, que podem, para se resguardarem,
prever penalidades para estas hipóteses.
Porém, reconhece-se pacificamente que existem situações em que o inadimplemento contratual ultrapassa o chamado
“aborrecimento natural”, comum nestes casos, e interferem intensamente no psicológico do prejudicado, causando-lhe
danos morais indenizáveis.
“De forma geral dizem alguns doutrinadores e julgadores, sem maior aprofundamento do
tema, que o descumprimento de um contrato, normalmente, não acarreta dano moral, pos todo
negócio jurídico traz em si um risco e, assim, é inerente a qualquer transação a possibilidade
de aborrecimento. Nestes termos, não se poderia falar em dano moral em decorrência de mero
cumprimento imperfeito.
(...)
O argumento trazido, data máxima vênia, não nos convence, visto que o fato de existir um risco
não exclui – ocorrendo o fato danoso – o direito a posterior indenização. Todo ato ou atividade
traz em si um perigo, e nunca se defendeu que, ao assumi-lo, estar-se-ia abrindo mão de eventual
ressarcimento. Basta supor as relações de vizinhança ou mesmo o ato de dirigir um veículo; há
neles um risco de ofensa e algo acontecendo, por exemplo, se formos humilhados pelo vizinho ou
vítimas de um acidente de trânsito, teremos, teoricamente, direito à indenização por dano moral.
Não temos dúvida em sustentar que o efetivo transtorno e o aborrecimento geram um abalo em
nossa tranqüilidade, em nossa tranqüilidade, em nossa paz, afetando assim o chamado bem-estar
psíquico. Por esse motivo defendemos que tais situações caracterizam um dano”. (GUIMARÃES,
Paulo Jorge Scartezzini. Vícios do produto e do serviço por qualidade, quantidade e insegurança:
cumprimento imperfeito do contrato. São Paulo: RT, 2004, pp. 322/323)
“No direito brasileiro, não obstante a ausência de disposição legal explicita, a doutrina é uniforme
no sentido da admissibilidade de reparação do dano moral tanto originário de obrigação contratual
quanto decorrente de culpa aquiliana, uma vez assente a indenizibilidade do dano moral, não há
fazer-se distinção entre dano moral derivado de fato ilícito relativo; o direito à indenização pode
projetar-se por áreas mais diversas das sociais, abrangendo pessoas envolvidas ou não por um
liame jurídico de natureza contratual: assim, tanto pode haver dano moral nas relações entre
devedor e credor quanto entre caluniador e o caluniado, que nenhuma relação jurídica se acha,
individualmente, com o ofensor.
Na realidade, conforme assinala Viney, toda forma de responsabilidade, qualquer que seja a
causa ou a natureza, induz, a cargo do responsável, o desgosto, os sofrimentos e frustrações
provocados pelo seu autor: sob esse aspecto, impõe-se constatar que a distinção, se ainda posta
em confronto, entre responsabilidade contratual e responsabilidade delitual, não tem hoje senão
uma importância mínima; a obrigação de reparar danos extrapatrimoniais, tende, quase toda,
a assumir o domínio contratual, com a mesma importância que em matéria delitual”. (CAHALI,
Yussef Said. Dano moral. São Paulo: RT, 1998, pp. 462/463)
A prova das aflições, angústias e desequilíbrios experimentados pelos usuários não inadimplentes, que possam interferir
no bem estar de cada um, é de difícil produção, uma vez que tais sentimentos normalmente se manifestam apenas no
“interior” dos indivíduos.
Atentas a este fato, doutrina e jurisprudência sedimentaram, salvo algumas exceções, o entendimento de que o dano
moral é um desdobramento da própria conduta ofensiva, ou seja, basta, em regra, a comprovação da ocorrência de fato
danoso, suficientemente capaz de causar sofrimento ao homem médio, para estar provada a ofensa moral.
No caso em questão não ocorre um mero inadimplemento contratual, nem aborrecimentos comuns do dia a dia, vai muito
além.
Privar o usuário não inadimplente de um serviço essencial à dignidade da pessoa humana, ou pressioná-lo a pagar dívida
de terceiro para poder usufruir de serviços essenciais, configura dano moral, conforme já assentado pela jurisprudência
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
“Apelação interposta pela CEDAE contra sentença que, nos autos de ação ordinária ajuizada
pela apelada, julgou parcialmente procedente o pedido para declarar a inexigibilidade do débito
referente a período anterior a contrato de locação residencial celebrado pela autora, sem prejuízo
da emissão de novas faturas que considerem a média de consumo apurada nos últimos seis meses,
além do pagamento de cinco mil reais a título de danos morais. O responsável pelo pagamento é
o usuário do serviço, e como a autora iniciou seu contrato de locação residencial em julho/2001, é
a mesma responsável pelo pagamento do consumo a partir desta data. A locatária atual, portanto,
não responde por dívida pretérita, eis que a obrigação tem natureza pessoal e não propter rem
como acredita a CEDAE. Débito pendente deve ser cobrado de quem efetivamente utilizou o
serviço. Suspensão injustificada do serviço essencial a caracterizar o dano moral experimentado
pela autora, cujo valor fixado levou em conta os princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
bem como ao intuito punitivo-educativo de tal medida de modo a inibir a reincidência de condutas
tais. Correta a sentença. Não provimento do apelo (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.45548, 15ª Câmara
Cível, Rel. Des. Galdino Siqueira Netto).
Ressalte-se que desempenha uma função social o reconhecimento de que a recusa do fornecimento de água e coleta de
esgoto, ou a suspensão de ambos, em razão da inadimplência de terceiro, configura dano moral indenizável, tendo em
vista que repercutirá de forma positiva para toda a sociedade: a ré irá refletir se é mais vantajoso arcar com indenizações
ou não insistir numa prática reconhecidamente abusiva.
Do nexo de causalidade
Com relação ao nexo de causalidade entre recusa do fornecimento de água e coleta de esgoto e os danos morais que
as vítimas deste tipo de prática experimentam desnecessário tecer mais qualquer comentários, tendo em vista que
flagrante, conforme se pode verificar nas ementas acima transcritas.
“Refere-se o terceiro elemento à relação de causalidade entre o cumprimento imperfeito e o
dano. Assim, o cumprimento imperfeito deve ser a causa, a gênesis, a origem, enquanto o dano,
a sua conseqüência”. (GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Vícios do produto e do serviço por
qualidade, quantidade e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato. São Paulo: RT, 2004,
p. 338)
Dispõe o parágrafo único do artigo 42 CDC que “o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável”.
Como visto, é vedado à ré condicionar o restabelecimento ou a continuidade do fornecimento do serviço para o consumidor
ao pagamento de dívida gerada sabidamente por outrem. Logo, aquele que, para poder usufruir de um serviço essencial
à dignidade da pessoa humana, efetua, por força de imposição do fornecedor, o pagamento de dívida de outrem (a
obrigação de remunerar o serviço prestado pela ré é, conforme visto, pessoal e não propter rem), é indevidamente
cobrado, e o pagamento que efetua é indevido.
O direito de restituição do valor pago indevidamente é inquestionável, dúvida reside se o valor deve ou não ser restituído
em dobro, tendo em vista que a parte final do parágrafo único do artigo 42 do CDC prescreve que será simples a
restituição de quantia cobrada e paga indevidamente nos casos de engano justificável.
Conforme visto anteriormente, e segundo se verificará logo adiante, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
vem, reiteradamente, e de forma uniforme, decidindo que a obrigação decorrente da utilização dos serviços prestados
pela ré é pessoal, e não propter rem. Porém, mesmo diante dessa constatação (a ré é a “pessoa” que melhor sabe do
posicionamento do Tribunal) a mesma continua insistindo com a abusiva prática de condicionar o fornecimento dos
serviços que presta para o consumidor ao pagamento de dívida sabidamente de outrem.
Portanto, não há como alegar, nestes casos, engano justificável, ainda mais se for considerado que a atuação dos
fornecedores de produtos ou serviços, segundo o CDC, deve ser pautada não pelos parâmetros da boa-fé subjetiva, que
significa a crença de estar atuando conforme a lei, mas pelos da boa-fé objetiva.
Da antecipação de tutela
A concessão de medida antecipatória, no sentido de proibir a ré de condicionar, ao usuário que não se encontra
inadimplente, o fornecimento de água e coleta de esgoto ao pagamento de dívida de terceiro que tenha, no passado,
residido no mesmo imóvel e usufruído, nele, dos serviços sem remunerá-los, se mostra necessária e pertinente, salvo se
não provada, adequadamente, a transferência da posse do imóvel.
Dispõe o parágrafo 3º do artigo 84 do CDC que, “sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado
o réu”.
O dispositivo supramencionado cuida da concessão de tutela liminar para garantir a total satisfação do direito do
consumidor nos casos em que a espera pelo provimento final da demanda interfere de forma negativa.
Trata-se, portanto, de verdadeira antecipação de tutela, logo, deve o dispositivo ora em comento ser interpretado em
harmonia com o artigo 273 do Código de Processo Civil, que trata do assunto de forma geral.
O artigo 273 do CPC exige, para que seja concedida a antecipação parcial ou total da tutela pretendida, que exista prova
inequívoca que convença o juiz sobre a verossimilhança das alegações do autor, e que “haja fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação”. A antecipação da tutela não será concedida caso exista “perigo” de irreversibilidade
do provimento antecipado.
A doutrina já se manifestou sobre a contradição existente nas expressões “prova inequívoca” e “que convença da
verossimilhança da alegação”, contidas no artigo 273 do CPC, concluindo que, havendo uma prova inequívoca haverá
certeza, e não simples verossimilhança, cujo real significado é parecer ser verdadeiro o alegado, logo, a melhor
interpretação para o dispositivo é haver probabilidade da existência do direito alegado, para que possa ser concedida a
antecipação da tutela.
“O artigo 273 condiciona a antecipação da tutela à existência de prova inequívoca suficiente para
que o juiz se convença da verossimilhança da alegação. A dar peso ao sentido literal do texto,
seria difícil interpretá-lo satisfatoriamente porque prova inequívoca é prova tão robusta que não
permite equívocos ou dúvidas, infundindo no espírito do juiz o sentimento de certeza e não mera
verossimilhança. Convencer-se da verossimilhança, ao contrário, não poderia significar mais do
que imbuir-se do sentimento de que a realidade fática pode ser como a descreve o autor.
Aproximadas as duas locuções formalmente contraditórias contidas no artigo 273 do Código
de Processo Civil (prova inequívoca e convencer-se da verossimilhança), chega-se ao conceito
de probabilidade, portador de maior segurança do que a mera verossimilhança”. (DINAMARCO,
Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil, 2ª edição, São Paulo 1995, ed. Malheiros,
pp.143)
Portanto, para que a antecipação de tutela possa ser concedida é necessário que: haja prova (ou mesmo indícios)
demonstrando que há probabilidade de as alegações do autor da demanda ser verdadeiras, e o fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação.
Conforme visto, não existe previsão legal válida que autorize a ré condicionar, ao usuário que não se encontra inadimplente,
o fornecimento de água e coleta de esgoto ao pagamento de dívida de terceiro que tenha, no passado, residido no mesmo
imóvel e usufruído, nele, dos serviços sem remunerá-los. Por outro lado, o fornecimento de água e coleta de esgoto é
essencial para a dignidade da pessoa humana. Portanto, presentes os pressupostos e requisitos para a concessão da
medida liminar, conforme já expressado pela jurisprudência deste Tribunal de Justiça em casos análogos.
AGRAVO INOMINADO. ART. 557, § 1º DO CPC. INTERPOSTO CONTRA DECISÃO QUE NEGOU
SEGMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. Decisão de primeiro grau que deferiu tutela
antecipada para determinar que a CEDAE restabeleça o fornecimento do serviço de água, no prazo
de 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de multa diária de R$ 300,00 (trezentos reais). Alegação
de inadimplemento de débitos pretéritos. Todavia, conta de água não tem natureza propter
rem, não se vinculando ao imóvel, trata-se de natureza pessoal do débito. Decisão adequada
do Juiz que não se afigura teratológica. MANTENÇA DA R. DECISÃO AGRAVADA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO (TJRJ, Ag.In. 2008.002.04854, 19ª Câmara Cível, Rel. Des. Ferdinaldo
do Nascimento).
Agravo de Instrumento impugnando a R. Decisão que deferiu a tutela antecipada requerida. Ação
de Obrigação de Fazer em que a Autora, ora Agravada, diante da interrupção do fornecimento
de água à sua residência face a existência de débitos anteriores a aquisição do referido
imóvel, requer a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, para que a Demandada, ora
Recorrente, restabeleça tal serviço. Reconhecimento de que o adquirente do imóvel não pode
ser responsabilizado por dívidas pretéritas relativas a tarifas de água e esgotos cobradas
pela CEDAE, prestações de caráter pessoal, que não podem ser enquadradas na categoria de
obrigações propter rem. Do documento emitido pela Agravante e acostado com a exordial da
demanda se infere que a cobrança em questão se refere a débitos relativos ao fornecimento de
água e recolhimento de esgoto no período de 202 a abril de 2005, sendo certo que a aquisição do
imóvel pela Recorrida só ocorreu em novembro de 2005. R. Decisão impugnada que se baseou
na verossimilhança das alegações autorais e no fundado receio de dano de difícil reparação
que pode advir da falta da prestação de um serviço essencial. Exegese do artigo 273 do C.P.C.
Precedentes deste Colendo Sodalício. Acresce, ainda, que só se revoga deferimento ou não de
antecipação de tutela, se teratológica, contrária à lei ou à evidente prova dos autos. Súmula n.º
59 deste C. Sodalício. Recurso que se apresenta manifestamente improcedente. Aplicação do art.
557 do C.P.C. c.c. art. 31, inciso VIII do Regimento Interno deste E. Tribunal. Negado Seguimento
(TJRJ, Ag.In. 2008.002.15116, 4ª Câmara Cível, Rel. Des. Reinaldo Pinto Alberto Filho).
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, conforme visto, já pacificou o entendimento de que a obrigação que
decorre da utilização de água e coleta de esgoto é pessoal, e não propter rem segundo sustenta insistentemente a ré.
Também é pacifico o entendimento de que a suspensão ou recusa do fornecimento de tais serviços é capaz de gerar
danos irreparáveis ou de difícil reparação.
Todavia, o pacífico entendimento acima mencionado tem sido expressado em demandas judiciais pulverizadas, talvez
por isso a ré continue insistindo em condicionar a prestação de seus serviços aos consumidores não inadimplentes ao
pagamento de dívidas de terceiros que residiam nos imóveis cujas posses foram transmitidas para aqueles posteriormente,
conforme demonstram as respostas que a ré vem dando aos questionamentos formulados pela autora.
O presente procedimento poderá dar um fim à questão, atomizando a solução, em um só procedimento, de diversos
questionamentos sobre o mesmo assunto, presentes e futuros, judiciais e extrajudiciais. Evita-se, a um só tempo, o
abarrotamento dos Tribunais e órgãos de defesa do consumidor e a continuidade da flagrante prática abusiva por parte
da ré e dos danos aos consumidores não inadimplentes.
DOS PEDIDOS
02) a condenação da ré na obrigação de não condicionar a prestação dos serviços de fornecimento de água e
coleta de esgoto para consumidores não inadimplentes que tenham adquirido a posse de imóveis aonde foram
prestados, anteriormente, os serviços sem a correspondente remuneração, salvo nos casos em que não for
apresentada à ré a documentação comprobatória da transmissão da posse que esteja em conformidade com o
exigido em lei;
04) a fixação de multa diária para assegurar o cumprimento da medida liminar e/ou da obrigação definitiva caso
seja concedida;
05) seja a ré condenada a restituir, em dobro, ou de forma simples caso V.Exa. entenda tratar-se de engano
justificável, os valores pagos por aqueles que foram submetidos à prática abusiva que se pretende combater
através da presente demanda;
06) seja a ré condenada a reparar os danos morais experimentados por aqueles que foram submetidos à prática
abusiva que se pretende combater através da presente demanda;
07) a condenação da ré na obrigação de publicar, às suas custas, em dois jornais de grande circulação desta
Capital, em quatro dias intercalados, sem exclusão do domingo, em tamanho mínimo de 20 cm x 20 cm, a parte
dispositiva de eventual procedência, para que os consumidores dela tomem ciência, oportunizando, assim, a
efetiva proteção de direitos lesados;
Protesta por todos os meios de prova admitidos. Dá-se à causa o valor de R$ 25.315,00 (vinte e cinco mil trezentos e
quinze reais).