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Filme documentário
35mm., color. Duração: 53 min., 41 seg. Diretor: Renato Barbieri. Projeto
e roteiro: Victor Leonardi e Renato Barbieri. Idealização e realização:
Videografia; Instituto Itaú Cultural. Patrocínio: Ministério da Cultura;
GDF-SCE; Pólo de Cinema e Vídeo do DF; Fundação Cultural do Distrito
Federal.
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O docoiiieiitário taiiibéiii 1130cnl)lica :I iiatiireza da rel:içio preexisteriic critre Pai Eticlides e o
Aviinaiijeiioii. iiias posso dizri. qiie se iiiiçioti ein 199.5. qtiaiido, ap6s uina viageiii ao Beiiiii.
levei a Pai Euclides uinn cait:i r uina fotografia do Aviiiiaiijeiioii. assiin coiiio tiin video das
festas celebradas no seu teiiiplo de Llidí. Esse priineiro coiitacto foi segiiido por uma ti-oca de
cartas escritas rili fraiicits e outras fotografias.
que, um dia. a octisião foi dada a seus cendentcs tradicionalmente privado
dcsceritlcntes para se encontrarem. de uma história própria, essa iniciati-
"Esse reencontro seria alguma coisa va deve ser bem vinda. O produto
de inexplicivel. Sua alegria sei$ ines- audiovisual resultante tem qualidades
timável e nós nem poderíainos provadas para atingir o seu objetivo
qualificá-la. É a l p i n a coisa extraor- e deve receber o reconhecimento me-
diiihria". recido.
Como jií Il:i dito, o docuineiit:íric~ Para atingir o alvo primordial dc alta
quer ser uin produto de divulg;iq;ici comunicabilidade. o pro.jeto recorre
dirigido a um público irnplo mris. c111 ao formato do dociinieritdrio televi-
função de sua tcm6ticii e orien~ac;ào sivo. com as vantagens c dcsvatagens
ideol(ígica. esta especialmente dii-igi- que esse método de representa~ão
do à coinun idade afro-brasileir:i. O comporta. Como.já liii ditol tecnica-
filme já foi mostrado na TV GNT e meiite o filme está belamente execu-
vai ser distribuído nas escolas e ou- tado. a qualidade e o colorido das
tras redes institucionais, coino ksti- imagens são ótimos. a montagem, na
vais, congressos, icrrciros, etc. Tain- qual é raro uni plano durar mais de
béin uma vei.s:io li-anccsa deve ser cinco scguj~dos?íein bom ritmo e o
distribuída no Benin. Não foi. por- encnclc:iriieii~odas seqüências narra-
tanto, a intençiío das aiitores produ- tivas flui sem dificuldades. Formal-
zir um filine elnogriifico ciu científi- mente, talvez, deva-se criticar a de-
co para especialistas. mesmo que uti- pendência exçessivli du nnrraçáo ver-
lize material e conteúdos suscetíveis bal. o que dá ao docunientário um
de serem analisados do ponto dc vis- certo toin did6tico. A necessidade de
ta antropológico, sociológico ou his- explicar uma história complexa leva
tórico. Poi-érn o filme pretende unia os autores a util izarem o artifício con-
certa seriedade na claboraqào dos vencional da narração oral. articula-
conteúdos que garanla a legitimida- da nos comentririos dos entrevistados
de do discurso. Prova disso 2 a parti- e na voz do narrados. esi:i scinpre
cipação. coino entrevistados. de re- onisciente c onipotente. imhuida de
levantes especialistas nessas áreas. A uina au~oridadea priori i nques~ioná-
finalidade última do filine C. talvez, vel. Essc recurso relega o visual a
contribuir para a elahoi-açáo de uina mero suporte ilustrativo que, na sua
identidade étnica dos afi-o-descenden- fluida plasticidadc, só serve para hip-
tes. reforqnndo e procurando gerar notizar a atenção do cspcctiidor, sem
uma melhor comprçciisiit~de cerios deixar iis i ~ i i i l ~ c:<e
i ~mostrarem
s por
referentes histórico-culturais. Tendo si sós. O i:isii:tl niio é utilizado como
sido o scgiiieiiio social CIOS nli.o-des- recurso narrativo autononlo. Em ge-
ral, a ripida edição não dá teiiipo ao audiovisual. O diretor de uin docu-
espectador para olhar, para ver ç daí inen~tíriodeve tomar uma inlinidade
elaborar a sua própria iiitei-pretaçáo. de opc;ões de realizaq5o e é no con-
A coinbinaqáo desses fatores faz de junto dcssas escolhas (conscientes ou
Atlhrrtico Negro uin tcxto que, utili- inconscien~es)que rcside o grau de
ando as categorias de Uinberto Eco, fidclidade, autenticidade ou "realis-
poderia ser ç;italogado de "fcchado" mo" do pi-oduto. Uiiia série de esco-
(em oposição a um tcxto "aberto"). lhas. coino a utilixaqão dc planos lon-
já quc o espectadoi-. subinetido coino gos, respeito ao som original das ima-
está à tirania da palavra, não leni es- gcns, podem acrescentar o "índice de
paço para (irar as suas próprias con- etnograficidade" de uin documentá-
clusões.-' Ele fica certamente seduzi- rio. No caso de Atl2ritico Negro, di-
do pelo fluir das irnnycns. mas é a voz rí:iinos que o "índice de etnografiçi-
clue comanda e iiiipòc :is diretrizes cl:itlc". dadas as escolhas rcnli~;id:is,
interpretati \/as. n5o 6 muilo alto. Dado o limite tem-
O gênei-odo documciic;iriodistinguç- poral do documentário. a multiplici-
se p»i- enquadrar-se dentro do que dade de tcinas tiatados impede uina
Olivier de Sardan chama dc "pacto aprescntaçáo detalhada, e é inevitá-
realista".* O suposto "rcnlisiiio". con- vel uma ccrta supei-ficialidade na aná-
veiicioiialrnentc atribuido iis iiiiageiis lise. PorCm, o "índice militante", isto
de docuinentái-ios,coiikrc ao produ- é, a intencionalidade ideológica e po-
LO um grau de autoridade quc pei-rni- lítica subjacenles àconstrução do tex-
te legitiinar certas realidades históri- to audiovisual. a vontade de projetar
cas e culturais dc um modo que o unia inensagciii dc vnloriiaçao da
gêiiero dc ficqr?o. por cxcmplo. rara- cultui-a do afi-o-descendeiitc, parecem
iiitintc aiingc. O espectador tende a prioritárias e mais niarcantes
acreditar na "verdade" das imagens A representac;;So (Ia rcligião está na
documentais. No entanto, o docuinen- base dessa construçáo de identidade.
tário não dcixa de ser uin arteflilo Mas essa repi-esentaqão nao deixa de
construído que utiliza a inesina liii- ser hastantefi-ayinentadae descontcx-
guagcm cineiiiatogi-áfica c ai-tillcios tualizada. às vczcs coni enganosas
do giinero da I'icc;áo. Portanto. f iin- justaposiqões que. do ponto de vista
portante questionar os inCtoclos de do rigor antropológico e também re-
representaqáo e coiistruçiio utilizados ligioso, são questionciveis, como essa
pai-a avaliar a fidelidade do texio maniadepor música ienebrosaquan-