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Atlântico Negro - Na rota dos orix6.s. Brasília, 1997.

Filme documentário
35mm., color. Duração: 53 min., 41 seg. Diretor: Renato Barbieri. Projeto
e roteiro: Victor Leonardi e Renato Barbieri. Idealização e realização:
Videografia; Instituto Itaú Cultural. Patrocínio: Ministério da Cultura;
GDF-SCE; Pólo de Cinema e Vídeo do DF; Fundação Cultural do Distrito
Federal.

Ein 17 de novembro de 1998, urna giosos -, o que lhe confere um inte-


terça-feira, foi aprcscnt:iclo n o ICBA resse intrínseco. Executado em fonna-
de Salvador o filme Ailiirrtico Negro to dcdocumentirio televisivo. possui
- Na rota dos ori.i.~í.v.tli ripido poi- uma boa qualidiide tdcnica e demostra
Renaio Barbieri e Victor Leonardi. A u profissionalismo e domínio da lin-
estréia do filme na Bahia fez parte dos guagem cineinatogiáfica do diretor e
eventos organizados pelo rnovimen- da equipe de produq;io. Uina boa So-
to negro ein torno do Dia daconsciên- togralia, de grande plasticidade,.junto
cia Negra. Estavam presentes nesse com urna nionlagein rápida conferem
evento pcsscas do MNU, do 116 Aiyê ao produto um ritmo fluido compará-
e outras oiganizaç6es do ativisnin nc- vel, às vezes, com a estética conteni-
gro baiano. Depois da mosti-a,quc sus- porânea do videoclipe. Esses fatores
citou o entusiasmo gcral da audiilncia. fazem do filme um produto de allo
falaram o diretor Renato Barbieri e a potencial comunicalivo que deve fa-
ialorixá Mãe Stella. quc deu apoio ao cilitar a sua ampl:i divu1gac;ào.
projeto. O documentário. corno suge- A noçúo de um Atlântico Negro, cx-
re o título. ti-ata das relações histcíri- pressáo surgida a partir do livi-o de
cas e culturais que existcrn entre o Paul Gilroy, TIle B1ar.k Atlanric:
Brasil e a África. com especial alen- and n~oclernity,
~ 1 0 ~ hcon.sciou.sr~e.s,s
lc
ção para aspectos da religião dos sobre a diáspor~id a comunidade
orixas. O trabalho já incr-ece reconhe- c;ii-ihcnhano Reino Unido, tein recen-
cimento por ser urn dos poucos até ternenle ganho grande aceitac;ão nos
agora produzidos na Lírea do audiovi- meios intelectuais afro-americanos. '
sua1 tratando daquestão afi-o-hrasilei- Pelo seu caráter abrangente, resulta
ra na sua diinensúo transatlântica. Ele num paradigna conceitual que permite
conta com a par1icipnc;ão. através de i-eforiiiular muitas das dicotomias
entrevistas. de eminentes e signilica- surgidas em torno da dualidade entre
tivos especialistas do lema - antro- a África e suas diásporas transatlân-
pólogos, historiadores e líderes rcli- ticas. A noção de um Atlântico Ne-

I Paiil Giiriiy. Tlie BI<i(,k A / l ~ i i i r i i . .< l n i i h l ~r.ori.v(~iu~~.vri<.ss Cairihridge. Horvard


(rir<l i i i o < l c i . i i i / , ~

Uiiiversity Press. 1903.


gro, como uina área cultural única e nalismo negro que, alérn das frontei-
inlerlig;lda, coloca a cultura dos afro- ras dos países, é capaz de comunicar
descendentes nas Américas e na Eu- e articular uma diversidade de gru-
ropa em pé de igualdade com a cul- pos da diáspora negra em um diálo-
tura africana de origem, e lhe5 coiil'e- go Frutílèro, na procura de uma cons-
re um status de autonomia q ~ i csc ciCncia comunitária.
opõe iquela visão nostálgica de uma É nessa ordem ideológica que se si-
África idealizada como [erra-mãe, tua o filme de Barbieri e Leonardi.
como origem perdida. A noqão de um Não é por acaso que o documentário
Atlânlico Negro é, antes que tudo. inicia o scii pcrciirso com a apresen-
unia reivindicayiio cla tli:íspoi-a, urna tação de um caso contemporâneo des-
nova proposta de relacionainento sa comunicaçllo ir;iiis;itl5ntica estabe-
coin a sua história. O conceito. ela- lecida entre dois lídcics religiosos. um
borado inicialrnenie por inlelectuais do Maranhão e o outro do Benin. Vai
de fala inglcsa. não reivindica ne- ser a história desse inlcrcâmbio, pri-
cessnri:linente a descontinuidade da meiro de mensagens gravadas em ví-
diáspora coin o seu passado aíi-ica- deo e depois de presentes rituais entre
no. como delènderia o inodelo inter- os dois líderes religiosos, o leitmntiv
prciaiivo "creolizanle", mas, ao con- que vai pontuar e demarcar o discurso
trário, pressupõe, sobretudo, a exis- substantivo do Filme. Na primeira
tência de uma rede de comunicac;ão cena, cronologicarnente :I última que
intensa entre as coniunidades da foi gravada, Pai Euclidcs, babalorixii
diaspóra e a África, aliás, entre elas da Casa Fanti Ashanti, em São Luís,
próprias tamb6m. O Atlântico Negro lê uina mensageii-i de agradecimento
nau vê mais uin só moviinento histó- em língua africana enviada ao seu
rico de este a oeste, da ASrica para as amigo, o i ) o d ~ ~ n Aviinanjenon,
on che-
An~kricas,iniis ;ipoiita ~:imhcinpara fe do Templo de Avimanje. em Uidá.
o sentido inverso. pai-a as apoi-taçõcs Essa abcrtura einbleinática vai intro-
da diáspoi-a na África e para o contí- duzir toda uma série de seqüências
nuo fluxo e refluxo que sempre exis- onde, através da voz de um narrador,
tiu entre as duas costas. O mar. alé comentários dos entrevistados e ima-
recentemente visto como fronteira ex- gens da vida, riluais e f'eslas ora do
cluden~ee divisor de culturas, asso- Benin, ora do Brasil, se faz uma apre-
ciado ao corte traumático do trál'ico, senta@~.ou melhor. rcpresentaqão da
é visto agora, na época da glohnliza- história e vínculos culturais entre os
@o, coino laqo de união e, iinplicita- dois países.
mente talvez, coino o novo rimbito Os conteúdos apresentados no docu-
territorial de um potencial internacio- mentário são variados mas orbitam
ein Lorno de ti-Es grandes tein:is: a re- Depois dessa parte, através dos co-
l igião dos orixás, o trifico de esc ra- mentários de Alberto da Costa e Sil-
vos e a comunidade dos Agudii (ties- va. historiador e ex-embaixador bra-
cendentes dos escravos africnrios sileiro na Nigéria, que atuou como
retornados à África). A primeira par- consultor de assuntos africanos no
tc apresenta, de uma forma gei161-ica, documentário, e do historiador beni-
a natureza do culto dos voduris e nense Eminanuel Karl, há informa-
orixás. Uina explicação mais deino- qões sobre o tráfico de escravos e o
rada, dada por vários Iídei-es religio- funcionamento do sistema escravo-
sos. é dedicada a Exu. a entidade in- crata na Costa dos Escravos nos sé-
tennediAria ri-lre homens e divinda- culos 18 e 19. Antes de serem em-
des, tantas vczes associada erronea- barcados para as AmCricas, os cscra-
mente ao diabo cristão. Através des- vos de Uidá ci-:im obrigados a dar
se exemplo, o espectador reconhece várias voltas em torno de uma árvo-
a similitude conceitual existente cn- re. conhecida como l ' a r b r e de
tre a religizo africana e a brasileira. I'ouhlie (a árvore do esquecimenlo),
Cabe notar que as imagens dc divcr- onde, supostainenle. os escravos de-
sas atividades rituais qiic tlào supor- viam esqiicccr o scti passado. o que
tc ao discurso oral sáci h;,si;inie des- efetivamente nunca aconteceu, já que.
conexas e estão mon~adasnuin ritino apesar de todas as dificuldades, con-
rápido. que ern algum momento leva seguiram preservar e reconstituir par-
a certa confusão. Quando se fala. por te da sua cultura, especialmente a sua
exemplo, d o culto dos orixás e religião. Pzssa-se depois a introduzir
voduns, mostram-se inlagens dos a figura do baiano Felix de Souza, o
egunpuns, culto de origem ioruhrí clos Chachá, provavelmente o maior tra-
anccsirnis. qiic 1150C considerado pro- ficantc de escravos de toda a história
priamente culto de orixás; quando se que, morador ern Uidá e com a cola-
I'ala de Exu, mostrarn-se imagens de boração do rei daorneano Guêzo, es-
um Heviosso, vodun do ti-ovão. Es- labeleceu, no inicio do século 19, um
sas imprecisões podem passar desper- grande império comercial, deixando
cebidas nos olhos do não-cspecialis- importante descendência nessa cicia
ta. e poderiam ser consideradas licen- de. Milton Guran. fotógrafo e antro-
ças criativas a serviço da narrativa pólogo que trabalhou no docurnentii-
verbal, mas. na verdade, s k i csses rio como consultor na parte do Benin,
de~alhesque põem em quest5o a fi- comenla sobre essa polêmica figura
delidade etnogrática do docunient:(- histcirica.
rio e que podem suscitar críticas das Salta-se de novo para o Brasil, numa
participantes da religião. seqüência um tanLo confusa, onde al-
ternain-se irnagens de Salvador e de que é obvia a consciCncia dos parti-
São Luís. 1iii:igciis rle grupos sccula- cipantes de estarem sendo filmados,
res, corno o bloco [lê Aiyê. sáo justa- ela serve para explicitar no filme a
postas a festas re1igios;is tle Taiiibor presenqa da crliiipc de rcaliza+lo, uin
de Mina, no Maranhão, o que, impli- ponto de reflexividade que ajuda a
citamente. leva o espectador leigo a relativizar a usual invisibilidadc dos
pensar erroneamente que. sendo mú- autores. .4 cena sci.ve tambi.111para
sica e dança. trata-se tudo da mesma introduzir os Agiidh. a comunidade
coisa. Passa-se logo a apresentar,bre- formada pelos descendentes dos tra-
venientc. algumas das casas mais (;i- ['icarites brasileiros e os libertos afri-
inosas do caiidoinblé baiano, como o canos que voltara111à África no sécu-
Gantois e o Axé Op6 Ati)n.j:í. M5c lo 19. Milion Guran, professor da
Stella. ialorixá do últiiiio terreiro. UNB que escreveu uma tese stihrc o
comenta a genealogia das ialor-ixás assunto, e a Agudh Madame AiiiCgan,
daquela casa. De novo salta-se a SRo entre outros informantes, comentam
Luís, à Casa das Minas, onde a atual sobre esse segmento da sociedade be-
zeladoi-a, Dona Deiii Prata Jardim, ninense e sobre a sua funçáo como
fala da fundadora desse rerreiro, a intermediários en~r-e a populacão au-
africana Maria Jesuína que, segundo tóctone e a administrai;:?~francesa
a Iiipótese de Pierre Verger, seria a durante a época colonial. Comple-
incsina Na A~otiine,rainha daomca- menta-sc essa parte com comentários
na. mãe do rei Guêzo. vendida como sohre a influência brasileira na ar-
escrava pelo rei Adandonzan. Snbe- quitetura de Porlo Novo, onde a mes-
se que Guêzo enviou várias einbai- quita construída pelos Açudá islami-
xadas à AmÊrica à procura de sua zados reproduz os padrões estéticos
innc, c essa estória é confirmada por das igrejas católicas brasileiras. Esse
tzsieiniiiih:~~no Bciiin. fato serve de ponte para voltar à Bahia
Depois dessa parte sohre a cscravi- e comentar a presenqa dos Malês em
dão c os seus vínculos com a religião, Salvador e sua participação na revol-
o narrador do docuinentário protesta ta de 1835. O historiador João Reis
contra as representações da África explica que foi a partir desses acon-
que não mostram o lado colidiano da tecimentos que muitos escravos e li-
vida tlos seus habitantes e, como al- bertos alricanos foram deportados
leriiaii va a essa tendência. passa-se a para a Áli-ica. Sem aparcnte conexão
inostr:ir a Festa de rccehiiiieiiio d;idn com a narrativa, a não ser o nome,
à equipe do filme pela comunidade nessa parte mostriim-se imagens do
Agud6 ein Uidá. Apesar de a espon- bloco Malê de Balê.
taneidade dessa cena ser enganosa: já De volta ao Benin, as imagens d5c;
conta da presença dos Apudá no tas do Atlântico. em que o wpecta-
Benin atravCs dc unia breve eritrevis- dor foi informado de variados aspec-
ta com o respoiisiível pelo vodun pes- 10s histcíricos e culturais, segue unia
soal de Felix de Souza. de uin dis- parte. talvcz o ninis original do ponto
curso do atual Cliochrí VI11 (líder da de vistade um documentário, em que
coniiinidade dos Asudá e herdeiro do se mostra o intei-câmbio de inensa-
iitiilo lionorífico de Felix de Souza). gcns ai~diovisuaisentre líderes reli-
c da cclebrnqão. em Porto Novo, tl:i gios:)s do Benin e do Brasil. Esse
Festa do Boniiiii e d o tlesfile da evento Iùnciona, na narrativa do fil-
Bourian (réplica Aguda d;is lkstas do me, como evidencia c confiiiiiaç5o de
bumba-meu-hoi). A ênl'iisc dida à re- que o diLilogo entre as duas bandas
pi-eseni;iqàorlos A~ucliiC . iiilvcz. uin do inar (mesmo que gerenciado pela
dos aspectos inais notríveis d o docu- cquipe d o filiiic) scgue vivo. Pai
nieiitário. já quc, ein consonância Euclides e a mãe pctliiena do terreiro
çoin a ideologia do Atlântico Nçgro. cantam uma caniipn cm I'on em São
;iponta para as repercussões da dirís- Luís. Intercalaiii-sc imagens d o
pora brasileira na Áfi-ica e aprescntii Aviinanjenon e do Adjah6 Houmassé
uiil tema pouco conhecido do públi- frente ao inonitor de vídeo vendo essa
co brasileiro. Porém cssa 61itàse no mensagem, o priineiro no seu lemplo
lado africano. tanto na clucstão da de Uidá, o segundo na sua residência
escravidão coriio no teiiia dos AgudL. em Abomey. Significativainente, o
ininiiniza importantes aspectos hist6- Avimanjenon diz que entendeu a can-
ricos do lado brasileiro. coiiio, por tiga, e o vellio Adjah6 também a re-
exemplo. o processo de adaptação e conhece e começa a caiitá-Ia, o que
resistência dos ati-o-descendentes no confere a esse belo inomento um alto
Brasil, e a iniciativa de alguns dcsses tom emotivo. Segundo comenlários
al'ro-brasileiros, coino Martiniano do diretor Barbieri, quando chegou
Eliseu do Boiil'irn. na dinâiiiica de co- ao Beniii e descobriu que a criritig~r
municnc;iir~trniisallântica c a sua con- ei-;i reconhecida por várias pesso:is loi
tribuiyão iid configui-aç5od o cancloin- cl11cse deu conta da iniportânciri do
blé contemporâneo. i-riaierial gravado em São Luis. Foi
Depois da parte dos Agudá, scguern. esse fato que o levou a concentrar
a modo de inicrlúdio. imagens do mar seus esforços no Benin e n-ao na
que nos lev;iiii de volta à Bc'1 h'ia. nes- Nigéria. coino estava planejado ini-
sa ocasiso 5 tradicional festa de cialmente, e, depois, a dar especial
leinanji, no bairro do Rio Verniclho, relevinciii ;i essa pai-te na estrutura
onde vemos os pi-esentes às Liguas. do filme, o que tainbéin não figurava
Após esse ir e vil- enti-e as duas cos- no roteiro original. O Aviinanjenon
responde coin outra mensagem riamenle negativa, .j;i que, às vezes.
audiovisual que inclui uina outra can- pode levar a gerar si rua~õescapazes
tiga, e com um presenle, uin bastão de revelar informaçiirs que não seri-
cerimonial que a equipe do filme leva am acessíveis de ouiro modo. Esse E
ao Maranhào, Pai Euclides recebe o o caso do chamado cinema participa-
presenic de forma ritual, coin várias tivo, do qual Jean Rouch é um dos
filhas do casa vestidas para a ocasião mais claros expoentes. N o entanto, do
dc Tobossi (a moda do Jqje inaranhen- ponto de vista etnográfico e a serviqo
se), jogando o obi e lavando o bastão do rigor científico, é preciso quco do-
com uma mistura de folhas macei-adas. cumenlái-io seja explícito quanto b
Esse emblemático inlercâinbio é con- suas cstraibgias de construção no pro-
siderado pelo narradoi- como uin cesso de representaqão,já que, por trás
exemplo do "respeito e adniii.ac;ãoinú- das imagens montadas. existe sempre
tua que o Brasil e a África mantem oulra história que não é contada.
entre si". O filme termina com o leitnzotiv de que
Certo, mas é aí que a linguagem ci- "o mar. em vez de separar, uniu povos
iieinatogriífica. com sua inevitável e culturas diferentes", e com virios dos
construçGti c rccoric ~ l realidade,
a joga entrevistados enunciando frases con-
a favor da intencionalidade ideol6gi- clusivas. Aparece a antropóloga
ca do filine. O documentário não Tala, Juanita Elbein dos Santos reivindican-
por exemplo, que foi Pai Euclides do a necessidade de superar a memó-
quem pediu o bastão ceriinonial. e que ria traumitica da escravidão e de con-
foi a equipe do Iilme que teve que pa- siderar os aspectos positivos do lega-
gar o presenle. e assiin por dianíe.' A do da ancestralidade. O antropólogo
cena de recepção do bastão cerimo- Júlio Braga salienta que na época da
nial foi obviamente represenlada para globalizayãc~só vão se salvar aqueles
ser filmada e não parece responder a que puderem conservar a sua identi-
nenhuma tradiy,?) ritual da casa. o quc, dade. Talvez o comentário mais
de novo. e\/idencia a capacidade que emotivo se.ja o do Adjah6 que, em
tem a produção de um docuinentríi-io bela metáfora, resume a história das
para alterar ou gerar novas realidades. relaçóes entre Ál'rica e América como
Essa capacidade intrínseca e manipu- a de duas crianças que foram separa-
ladora do filme não deve scr iiccessa- das e que nunca mais se viram, mas

-
O docoiiieiitário taiiibéiii 1130cnl)lica :I iiatiireza da rel:içio preexisteriic critre Pai Eticlides e o
Aviinaiijeiioii. iiias posso dizri. qiie se iiiiçioti ein 199.5. qtiaiido, ap6s uina viageiii ao Beiiiii.
levei a Pai Euclides uinn cait:i r uina fotografia do Aviiiiaiijeiioii. assiin coiiio tiin video das
festas celebradas no seu teiiiplo de Llidí. Esse priineiro coiitacto foi segiiido por uma ti-oca de
cartas escritas rili fraiicits e outras fotografias.
que, um dia. a octisião foi dada a seus cendentcs tradicionalmente privado
dcsceritlcntes para se encontrarem. de uma história própria, essa iniciati-
"Esse reencontro seria alguma coisa va deve ser bem vinda. O produto
de inexplicivel. Sua alegria sei$ ines- audiovisual resultante tem qualidades
timável e nós nem poderíainos provadas para atingir o seu objetivo
qualificá-la. É a l p i n a coisa extraor- e deve receber o reconhecimento me-
diiihria". recido.
Como jií Il:i dito, o docuineiit:íric~ Para atingir o alvo primordial dc alta
quer ser uin produto de divulg;iq;ici comunicabilidade. o pro.jeto recorre
dirigido a um público irnplo mris. c111 ao formato do dociinieritdrio televi-
função de sua tcm6ticii e orien~ac;ào sivo. com as vantagens c dcsvatagens
ideol(ígica. esta especialmente dii-igi- que esse método de representa~ão
do à coinun idade afro-brasileir:i. O comporta. Como.já liii ditol tecnica-
filme já foi mostrado na TV GNT e meiite o filme está belamente execu-
vai ser distribuído nas escolas e ou- tado. a qualidade e o colorido das
tras redes institucionais, coino ksti- imagens são ótimos. a montagem, na
vais, congressos, icrrciros, etc. Tain- qual é raro uni plano durar mais de
béin uma vei.s:io li-anccsa deve ser cinco scguj~dos?íein bom ritmo e o
distribuída no Benin. Não foi. por- encnclc:iriieii~odas seqüências narra-
tanto, a intençiío das aiitores produ- tivas flui sem dificuldades. Formal-
zir um filine elnogriifico ciu científi- mente, talvez, deva-se criticar a de-
co para especialistas. mesmo que uti- pendência exçessivli du nnrraçáo ver-
lize material e conteúdos suscetíveis bal. o que dá ao docunientário um
de serem analisados do ponto dc vis- certo toin did6tico. A necessidade de
ta antropológico, sociológico ou his- explicar uma história complexa leva
tórico. Poi-érn o filme pretende unia os autores a util izarem o artifício con-
certa seriedade na claboraqào dos vencional da narração oral. articula-
conteúdos que garanla a legitimida- da nos comentririos dos entrevistados
de do discurso. Prova disso 2 a parti- e na voz do narrados. esi:i scinpre
cipação. coino entrevistados. de re- onisciente c onipotente. imhuida de
levantes especialistas nessas áreas. A uina au~oridadea priori i nques~ioná-
finalidade última do filine C. talvez, vel. Essc recurso relega o visual a
contribuir para a elahoi-açáo de uina mero suporte ilustrativo que, na sua
identidade étnica dos afi-o-descenden- fluida plasticidadc, só serve para hip-
tes. reforqnndo e procurando gerar notizar a atenção do cspcctiidor, sem
uma melhor comprçciisiit~de cerios deixar iis i ~ i i i l ~ c:<e
i ~mostrarem
s por
referentes histórico-culturais. Tendo si sós. O i:isii:tl niio é utilizado como
sido o scgiiieiiio social CIOS nli.o-des- recurso narrativo autononlo. Em ge-
ral, a ripida edição não dá teiiipo ao audiovisual. O diretor de uin docu-
espectador para olhar, para ver ç daí inen~tíriodeve tomar uma inlinidade
elaborar a sua própria iiitei-pretaçáo. de opc;ões de realizaq5o e é no con-
A coinbinaqáo desses fatores faz de junto dcssas escolhas (conscientes ou
Atlhrrtico Negro uin tcxto que, utili- inconscien~es)que rcside o grau de
ando as categorias de Uinberto Eco, fidclidade, autenticidade ou "realis-
poderia ser ç;italogado de "fcchado" mo" do pi-oduto. Uiiia série de esco-
(em oposição a um tcxto "aberto"). lhas. coino a utilixaqão dc planos lon-
já quc o espectadoi-. subinetido coino gos, respeito ao som original das ima-
está à tirania da palavra, não leni es- gcns, podem acrescentar o "índice de
paço para (irar as suas próprias con- etnograficidade" de uin documentá-
clusões.-' Ele fica certamente seduzi- rio. No caso de Atl2ritico Negro, di-
do pelo fluir das irnnycns. mas é a voz rí:iinos que o "índice de etnografiçi-
clue comanda e iiiipòc :is diretrizes cl:itlc". dadas as escolhas rcnli~;id:is,
interpretati \/as. n5o 6 muilo alto. Dado o limite tem-
O gênei-odo documciic;iriodistinguç- poral do documentário. a multiplici-
se p»i- enquadrar-se dentro do que dade de tcinas tiatados impede uina
Olivier de Sardan chama dc "pacto aprescntaçáo detalhada, e é inevitá-
realista".* O suposto "rcnlisiiio". con- vel uma ccrta supei-ficialidade na aná-
veiicioiialrnentc atribuido iis iiiiageiis lise. PorCm, o "índice militante", isto
de docuinentái-ios,coiikrc ao produ- é, a intencionalidade ideológica e po-
LO um grau de autoridade quc pei-rni- lítica subjacenles àconstrução do tex-
te legitiinar certas realidades históri- to audiovisual. a vontade de projetar
cas e culturais dc um modo que o unia inensagciii dc vnloriiaçao da
gêiiero dc ficqr?o. por cxcmplo. rara- cultui-a do afi-o-descendeiitc, parecem
iiitintc aiingc. O espectador tende a prioritárias e mais niarcantes
acreditar na "verdade" das imagens A representac;;So (Ia rcligião está na
documentais. No entanto, o docuinen- base dessa construçáo de identidade.
tário não dcixa de ser uin arteflilo Mas essa repi-esentaqão nao deixa de
construído que utiliza a inesina liii- ser hastantefi-ayinentadae descontcx-
guagcm cineiiiatogi-áfica c ai-tillcios tualizada. às vczcs coni enganosas
do giinero da I'icc;áo. Portanto. f iin- justaposiqões que. do ponto de vista
portante questionar os inCtoclos de do rigor antropológico e também re-
representaqáo e coiistruçiio utilizados ligioso, são questionciveis, como essa
pai-a avaliar a fidelidade do texio maniadepor música ienebrosaquan-

Uiiibeiin Eco. TIIPi . 0 1 ~o/ tlr<, ~ r t r < l r iBlooiiiiiigtci~i,


: Iiitliaiin Uiiiveisiry Press. 1970.
Jeaii Picriv Ol ivier de Snr(liiii, "Piicie etliiiopriiphiqiie cr tiliii tiocuiiieiiiaire". Xo<rii<r. Iiirri,q<,.se1
,sor~itrlr.s.2 ( 1 01)4).
.st~ic~rit.<,.s pp 5 1-64.
do se mostram os altares dos voduns, conhecida no Benin. Esse protagonis-
mosti-aros eguiiguiis da Nig8ria quan- mo de um habaloi-ixá maranhense
do se fala de voduns, passar das ima- poderia, até certo ponto, ser ressenti-
gcns clo 'ilê Aiyê a uiii larliboi- de do por alguns religiosos baianos. mas,
Miiia. ciç. A religião, sendo o aspec- na verdade, favorece a representação
to cul~uraldestacado, recebe, ao me- da religião afro-brasileira na sua
nos visualinente. um tratamento mais heterogeneidade e riqueza. É evidente
bem impressionista. o que poderia ser clueurn documentrírio de conteúdo
considerado conti-aproducenle. se o tão nrnplo vai deixar sempi-c alguns
que se quer é uin melhor conheciineii- insatisfeitos por não ter comentado ou
to e valorizaçáo dessa realidade. mostrado este ou acluele outro aspec-
Feitas essas rcss;~lvas,vale salientar to. Porém, no seu con.junto, o traba-
que A t l 2 r l t ; ~ oN ~ g i - oapresenta lho é um esforc;o coniproinetido e
enl'oques novos, coiiio a cnl'ase nos sério que vai contribuir coin elicácia
Agud2í e incsino o provagonismo dado para a divulgeqão de alguns dos as-
ao Tambor de Miiia do Maranháo suntos iriais i-clcvantes da culiura
frente ao hcgemonico Candoiiihlt5 afro-brasileira. e que, sem dúvida,
baiano. A seleçào. no docuinenririo. tein um impoi-tante potencial educa-
de Pai Euclides corno o principal re- tivo.
prescritanle religioso no Brasil. Luis Nicolau
coino jrí I'oi apotiiacio. i-csultou da Universidade Fedei-;i1do Bahia
convenicncia inesperada dos seus 1:i- Professor Visitante
ços coin o Avimanjenon e do falo de na Faculdade de Corriunicaçáo
que a cantiga por ele cantada fosse

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