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Agora não havia mais limites entre os diferentes territórios, as diversas culturas e religiões.
Antigamente cada povo cultuava seus próprios deuses, mas com a difusão da cultura grega
tudo se transforma em um grande caldeirão sincrético, no qual misturam-se as mais variadas
visões religiosas, filosóficas e científicas. Alexandria era o grande centro da cultura
helenística, especialmente no campo das artes e da literatura.
Entre os alexandrinos floresceram as mais significativas edificações culturais deste período –
o Museu, que englobava o Jardim Botânico, o Zoológico e o Observatório Astronômico; e a
famosa biblioteca de Alexandria, que abrigava pelo menos 200.000 livros, salas nas quais os
copistas trabalhavam ativamente e oficinas direcionadas para a confecção de papiros. Outro
núcleo cultural importante foi o de Antioquia, capital da Síria, localizado próximo à foz do rio
Orontes, em pleno Mediterrâneo.
A era helenística conheceu o incrível progresso da história, com destaque para Polibius; a
ascensão da matemática e da física, campos nos quais surgem Euclides e Arquimedes; o
desenvolvimento da astronomia, da medicina, da geografia e da gramática. A literatura
conhece o apogeu com o poeta Teocritus, que prepondera especialmente na poesia idílica e
bucólica.
Na filosofia despontaram quatro correntes filosóficas voltadas para a descoberta da fórmula
da felicidade: os cínicos, que cultivavam a idéia de que ser feliz dependia de se liberar das
coisas transitórias, até mesmo das inquietações com a saúde; os estóicos e os epicuristas, que
acreditavam em um individualismo moral; e o neoplatonismo, movimento mais significativo
desta época, inspirado pelos pré-socráticos Demócrito e Heráclito.
Nas artes sobressaíram alguns clássicos da Era Antiga, como a Vênus de Milo, Vitória de
Samotrácia e o grupo do Laocoonte.
estoicismo tira seu nome do Pórtico (Stoa), local de Atenas em que se
reuniam seus adeptos. Diferentemente do epicurismo, o estoicismo não
está ligado a uma autoridade incontestável de um fundador. A doutrina
estoica se constitui progressivamente pelas contribuições sucessivas dos
três primeiros chefes da escola: Zenão de Cício (322 a.C. – 262 a.C.), que
depois de ter sido discípulo de Crates, fundou a escola cerca de 300 a.C.;
Cleanto de Assos (312-232) e Crisipo (227-204 a.C.). O estoicismo médio é
representado essencialmente por Panécio (180-110) e Possidônio (135-
51), que tiveram o grande mérito histórico de introduzir o estoicismo em
Roma. O novo estoicismo se desenvolveu em Roma sob o império e está
ligado a três grandes nomes: Sêneca (0-65 d.C.), Epitecto, um escravo,
(50-125 d.C.) e o imperador Marco Aurélio (121-180).
A filosofia estoica é a primeira da história a considerar-se “sistemática”. A
palavra sistema designava em grego a constituição de um organismo ou
de uma cidade e foram os estoicos que a aplicaram pela primeira vez à
filosofia, querendo significar que a sabedoria é um todo. Sua divisão em
partes somente era possível fazer didaticamente, segundo as
necessidades do ensino, mas com a condição de compreender que cada
parte é solidária às outras e que o abandono de uma só delas provoca a
ruína do conjunto.
Para o estoico, é preciso estar em consonância com a natureza para
atingir a sabedoria. Assim, faz-se necessário entender que o único bem
que existe é a retidão da vontade e o único mal, o vício. O que não é nem
virtude nem vício é indiferente. Assim, a doença, a morte, a pobreza, a
escravidão, por exemplo, não são males, são indiferentes porque o sábio
é, por definição, feliz, mesmo no sofrimento. O mau é sempre infeliz, uma
vez que aflige a si próprio, pelo seu vício. A experiência estoica consiste
na tomada de consciência da situação trágica do homem condicionado
pelo destino. Assim, não estamos absolutamente entregues e sem defesa
aos acidentes da vida, aos revezes da fortuna, nem à doença e à morte,
mas temos, e nada nos pode tirar isso, a vontade de fazer o bem, a
vontade de agir de acordo com a razão.
Segundo o estoicismo, há uma oposição radical entre o que depende de
nós e pode ser bom ou mau, porque objeto de nossa decisão, e o que não
depende de nós, mas de causas exteriores, do destino, e é indiferente.
Isto significa que:
• É na conformação ao destino que está nossa liberdade e onde se
pode exercer a escolha moral;
• Na vontade de fazer o bem é que se encontra a nossa liberdade, a
independência, a invulnerabilidade, o valor eminentemente estoico,
a coerência consigo mesmo;
• Não há diferença entre viver segundo a razão e segundo o destino,
pois a mesma coisa não pode ser universal e constantemente
agradar senão o que é moralmente direito.
A frase de Epiteto “não deseja que o que acontece aconteça como queres,
mas queiras que o que acontece aconteça como acontece e serás feliz”.
Isto significa que:
• Não quer dizer que há um inconformismo indiferente, uma vez que
tudo é determinado pelo destino;
• Quer dizer que há uma indiferença que consiste em não fazer
diferença, mas em querer, em amar mesmo, de modo igual, tudo o
que é determinado pelo destino;
• Não quer dizer que o estoico é indiferente porque não se pode saber
se uma coisa é boa ou má;
• Não quer dizer que há aí uma moral da indiferença.
Por isso, instituíram a teoria dos deveres, entendendo que:
• É preciso agir segundo uma ação apropriada que em parte depende
de nós, pois supõe uma intenção moral e em parte não depende;
• O que importa no agir é a intenção moral e não o resultado;
• A vida política e as demais atividades são apropriadas à natureza
humana e têm um valor;
• O filósofo deve orientar-se na incerteza da vida cotidiana ao propor-
lhes escolhas razoáveis.
Quanto à física, os estoicos propõem:
• Uma física da continuidade;
• Há um princípio ativo que atua no universo (o pneuma = o sopro
vital) que penetra o universo inteiro, tanto nas suas regiões
sublunares como as celestes;
• O pneuma age à maneira de um campo de forças que mantém juntas
as partes do universo e que impede a sua dissipação no vazio
infinito, assegurando de igual modo a individualidade de cada ser à
sua maneira de uma alma;
• Este pneuma, princípio de organização, quando encarado na sua
realidade física, é o próprio Lógos universal;
• O mundo não é governado por Deus, mas é ele próprio deus e o
destino, que liga entre si os acontecimentos do universo, outro
nome para Providência;
• Nada acontece na natureza que seja contra a razão: a
monstruosidade, a doença, o sofrimento, a morte, só
aparentemente são males. O filósofo, capaz de unir o particular ao
todo, reconhece que eles se inscrevem na ordem universal;
• A física culmina com a teologia do deus cósmico;
• A física tem um fundo ideológico: foi concebida em nome das
necessidades de uma causa político-moral;
• Não há nenhum outro mundo para além daquele em que vivemos.
Só existe a realidade que se dá aos nossos olhos.
Assim, a física estoica concebe a ação física a partir da ação de um corpo
que penetra em outro em sua plenitude, constituindo uma espécie de
materialismo espiritual. O pneuma atravessa a matéria para animá-la e
converte-se, no momento mesmo em que a atravessa, em puro espirito