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Economia Política

Neoliberalismo,
distopias e
Bolsonaro
Lógicas neoliberais. Despolitização e
valores individualistas. Perseguição
judicial e erros do PT. Combinados,
estes ingredientes produziram a
tempestade perfeita e o desastre

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Por Leda Paulani, Outras Palavras

09/11/2018 10:19

Créditos da foto: (Arte: Alex Andreev)

 
A eleição de Jair Bolsonaro para a
presidência da república do Brasil
deixa o mundo estarrecido. Seu
estilo autoritário e agressivo, sua
apologia à tortura, suas
continuadas ofensas a
determinados grupos ao longo de
seus quase 30 anos de vida
parlamentar (mulheres, negros,
LGBTQs) e seu desprezo aos
princípios democráticos são tão
impressionantes que mesmo para
um nome de destaque mundial da
extrema-direita, como a francesa
Marie Le Pen, ele causa repulsa:
“suas declarações são inaceitáveis”,
ela diz. Não por acaso, só Trump
parece relevar tudo isso e louva,
pelo Twitter, a conversa
alvissareira que teve, em 30 de
outubro, com o presidente eleito.

Considerando que o Brasil não é


um país pequeno e sem
importância no cenário mundial,
bem ao contrário, e considerando,
portanto, que essa eleição
significa o voto de mais de 57
milhões de pessoas em alguém
como Bolsonaro (ainda que esse
contingente represente apenas
39,2% dos eleitores do país), cabe
uma re exão profunda e que
mobilize todo o arsenal teórico à
disposição para que se possa
identificar as causas desse
terremoto anticivilizatório.
Evidentemente não é possível
fazê-la no curto espaço de um
artigo e, com certeza,
independentemente do que possa
vir a acontecer a partir de agora,
esse resultado será discutido e
estudado, analisado e dissecado
por décadas a fio. É possível,
contudo, antecipar alguns
elementos, que podem jogar
alguma luz em episódio tão
sombrio.

Um fenômeno dessa magnitude


nunca é isolado, de modo que não
pode ser explicado mobilizando-se
apenas variáveis relativas às
questões sociais e políticas
internas ao país. Além disso, o
mundo é hoje cada vez mais
integrado, seja por conta da forma
que foi tomando o processo de
acumulação de capital desde o
início dos anos 1980, num sistema
econômico que é hoje (depois da
transformação capitalista da
China) verdadeiramente mundial,
seja pelo estupendo
desenvolvimento das assim
chamadas tecnologias de
informação e
comunicação (elemento, por sinal,
de extrema importância no
resultado das eleições brasileiras).
Nosso primeiro olhar vai,
portanto, para o cenário externo.

Depois de mais de três décadas de


ascensão e difusão da cartilha e
das políticas neoliberais mundo
afora (como se sabe, mesmo países
europeus geridos por longos
períodos por partidos social
democratas acabaram por
sucumbir a essas políticas – e o
Brasil comandado pelo Partido dos
Trabalhadores tampouco foi
diferente), o neoliberalismo parece
ter chegado num ponto de
saturação e sem ter entregue
aquilo que prometera. No início
dos anos 1980, as teorias da
“repressão financeira” alegavam
que a estrutura institucional
herdada do pós-segunda guerra
mundial – com seus controles,
regras, tributos e quarentenas –
era deletéria para o
desenvolvimento, e que a
liberalização financeira, ao tornar
mais eficiente a alocação de
capitais no globo, traria melhores
tempos para todos os países,
potenciando o crescimento. O
mesmo se dizia da generalização
da abertura comercial, pois que a
economia mundial viria a ser
então uma harmônica aldeia
global, em que todos os países,
beneficiados por suas vantagens
comparativas mútuas, sairiam
ganhando materialmente.

Mas o resultado dessas políticas,


três décadas depois, foi o aumento
da desigualdade (inclusive entre os
países), o crescimento muito lento
e o surgimento de um desemprego
que tem características
estruturais. Tudo isso piorou
substantivamente com o advento
da crise financeira internacional
de 2008-09, que não só tornou
ainda mais indigestos os
resultados desse modelo, como, ao
longo da última década e graças
aos meios segundo os quais se
tentou equacionar os problemas,
aprofundou as contradições que
estão em sua base. O voto
antissistema é uma consequência
imediata dessa situação. É por aí
que devem ser explicados, a meu
ver, a eleição de Trump nos
Estados Unidos, o Brexit britânico
e a ascensão de partidos e
políticos de extrema direita em
todo o planeta (Hungria, Polônia,
Itália, Filipinas, Turquia, Bulgária,
e agora, infelizmente, também o
Brasil – que já estava nesse
caminho, deve-se notar, desde o
injustificável impeachment da
presidenta Dilma em 2016 e o
início do governo Temer). O
cenário é distópico.

Cabe no entanto perguntar: por


que o sentimento antissistema
vem resultando majoritariamente
numa aposta que parece antes
contribuir para o aprofundamento
do modelo que é o responsável
pela geração dessa situação ruim e
desguarnecida de perspectivas, do
que no sentido contrário? É
verdade que o voto antissistema
também ui para esse último lado:
Bernie Sanders quase se tornou
candidato nas últimas eleições
presidenciais americanas, Obrador
venceu no México, temos a
primavera socializante e
alvissareira de Portugal e a
surpreendente vitória de Jeremy
Corbin no tradicional e ainda
poderosíssimo Labour Party
inglês. O predomínio, contudo,
parece estar no primeiro
movimento. Por que?

A resposta a essa pergunta passa


por caminhos que vão além das
variáveis e análises puramente
econômicas e/ou políticas. É
preciso aqui mobilizar os filosófos,
os pesquisadores de costumes, os
antropólogos urbanos, os
sociólogos. Lendo Pierre Dardot e
Christian Lavall, Nancy Fraser,
Dany-Robert Dufour, Wolfgang
Streeck, Naomy Klein, André Gorz
dentre outros, vai sendo possível
perceber que, na quadra histórica
que se inicia ao final dos anos
1970, não foram apenas as
máximas e as políticas neoliberais
que ganharam proeminência: a
vitória ideológica foi também
retumbante.

A insistente pregação neoliberal,


quase nunca desacompanhada do
mote there is no alternative, foi
transformando corações e mentes
e instituindo, no ideário de boa
parte da população, sobretudo
daqueles mais negativamente
afetados pela ascensão das
políticas neoliberais, os valores da
concorrência, do cada um por si,
do self made man, do mérito
próprio, do empresário de si
mesmo, do cidadão como “cliente”
do Estado. A cooperação, a
solidariedade, a importância do
coletivo, do comum, da
comunidade, foram atirados nos
desvãos da história junto com o
muro de Berlim e os “velhos” e
empoeirados expedientes do
Estado-Nação, da sociedade de
classes, das políticas universais,
dos controles sociais/estatais
impostos à sanha acumulativa.
Como lembra Nancy Fraser,
mesmo as chamadas pautas
identitárias (mulheres, LGBTQs,
minorias raciais) foram
inteiramente capturadas pelo
espírito the winner takes all. Não é
de espantar que a reação às
mazelas do mundo neoliberal,
aprofundadas pela crise de 2008-
2009, se virem “contra” o sistema
na direção errada e acabem por
fortalecê-lo, arrastando para os
mesmos desvãos da história a
própria democracia.

No caso da vitória de Bolsonaro


somaram-se a esse espírito de
época decorrente das quase quatro
décadas de neoliberalismo, alguns
elementos domésticos não menos
importantes para o resultado
funesto produzido em 28 de
outubro. Entre 2003 e meados de
2016 (até o impeachment de Dilma
Roussef) o Brasil foi governado
pelo Partido dos Trabalhadores
(PT). Sob esses governos, a
economia brasileira, apesar de
continuar submetida, em boa
parte do tempo, a uma política
econômica de corte neoliberal, que
beneficiava continuamente a
riqueza financeira, oresceu e
conseguiu resultados positivos
impulsionados pela boa fase da
economia mundial pré-crise e pelo
efeito multiplicador dos massivos
programas de renda
compensatória (Bolsa Família),
associados à substantiva elevação
do valor real do salário mínimo.
Contra o sentido neoliberal, esses
governos também brecaram as
privatizações e, a partir de 2006,
deram forte impulso aos
investimentos públicos. No
mesmo sentido, a política externa
“ativa e altiva” do país ao longo
desse período recusou a ALCA,
fortaleceu os BRICS e o Mercosul e
retirou o país do costumeiro
alinhamento direto com os
interesses dos países centrais,
EUA em destaque.

Apesar do sucesso em termos de


crescimento, nível de emprego e
redução da desigualdade, sem que
os interesses dos muito ricos
tivessem sido afetados, as elites do
país, de feição ainda
extremamente senhorial, nunca
aceitaram o PT e sua maior
liderança, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. O sentimento
de “perda” de poder se instalou e,
no caso das classes médias altas,
esse sentimento foi magnificado
por conta das políticas públicas
dos governos do PT, que
colocaram os mais pobres em
espaços antes exclusivos das
elites: os aeroportos, as
universidades, os shoppings mais
chiques.

Assim, desde pelo menos 2005,


iniciou-se, com a inestimável
colaboração da grande mídia, uma
implacável campanha de
difamação e demonização do
Partido dos Trabalhadores e de
suas principais lideranças. Sempre
ao abrigo da justa demanda social
pelo combate à corrupção, o
sistema judiciário do país, com o
beneplácito das elites econômicas
e dos partidos mais à direita, foi
empreendendo uma “operação de
limpeza” seletiva, que passou a
“julgar” e punir apenas os
políticos e partidos de esquerda,
sobretudo do PT, enquanto os
demais políticos e partidos
continuavam a ser tratados com a
habitual camaradagem. É nesse
sentido que se deve entender a
ação penal 470 (no processo
conhecido como “mensalão”), o
infundado impeachment da
presidenta Dilma, a operação
Lava-Jato, a juridicamente
insustentável prisão de Lula no
bojo da citada operação, e seu
impedimento de concorrer às
eleições – sendo o candidato de
longe favorito e aparecendo com
quase o dobro das intenções de
voto de Bolsonaro no início do
processo eleitoral (e isto mesmo
com a determinação, duas vezes
enviada ao governo brasileiro pelo
Comitê de Direitos Humanos da
ONU, de que se garantisse a Lula o
exercício de todos os seus direitos
políticos).

No corpo a corpo com os eleitores


que as forças democráticas do país
empreenderam nas últimas
semanas do segundo turno para
tentar virar as intenções de voto
em Bolsonaro, um dos argumentos
que mais se ouvia era que o PT era
sim o partido mais corrupto do
país, porque afinal a maior parte
dos políticos condenados era ou
havia sido ligada ao partido.
Mesmo argumentando que o PT,
por qualquer critério que se
escolha (políticos cassados,
processados etc.) está sempre em
9º ou 10º lugar, aparecendo na
frente dele a maior parte dos
partidos de direita e aqueles que
estão hoje no comando do país,
sob o governo Temer, os eleitores
continuavam desconfiados,
preferindo continuar a crer na
imagem do partido em que foram
sendo doutrinados a acreditar por
mais de uma década.

A crise econômica internacional,


que atinge o Brasil a partir de 2011,
ajudou a engrossar as críticas ao
PT e a seus governos. Os
movimentos de maio de 2013,
iniciados por uma juventude de
esquerda horizontalista e
apartidária, tendo como foco
reivindicações ligadas ao
transporte público, foram
rapidamente capturados pela
direita, com o auxílio sempre
determinante da grande mídia. A
quarta vitória consecutiva do PT
nas eleições presidenciais de 2014,
que ainda assim acontece, detonou
a operação conjugada do
judiciário, grande mídia,
empresariado e partidos de direita
para usurpar o poder delegado a
Dilma Rousse pelo voto de mais
de 54 milhões de brasileiros e pôr
em marcha uma agenda
fortemente neoliberal, que havia
sido rechaçada nas urnas
(privatizações, entrega do
patrimônio natural do país, cortes
nos direitos dos trabalhadores).

Os interesses do grande capital


internacional, com destaque para
o petróleo das camadas do pré-sal,
também tiveram papel
determinante. É hoje de
conhecimento público o fato de
magistrados brasileiros como
Sérgio Moro, o todo poderoso juiz
de primeira instância,
comandante da operação Lava
Jato, que quase destruiu a
Petrobrás e a respeitada indústria
de construção pesada do país,
terem sido treinados nos Estados
Unidos e apetrechados com os
instrumentos e as ferramentas da
chamada lawfare. Tampouco é por
acaso que uma das primeiras
medidas do governo de Temer foi
a alteração de algumas regras do
regime de exploração do pré-sal,
buscando dar maior espaço para
as grandes petroleiras mundiais.
Finalmente não se pode deixar de
mencionar a relação despolitizada
da população beneficiada pelas
políticas implantadas pelos
governos do PT com essas mesmas
políticas e programas, por culpa, é
preciso que se diga, do próprio
partido. Combinada com a
irrefreável ascensão das igrejas
pentecostais e sua teologia da
prosperidade (não estranha, muito
ao contrário, ao referido ideário
do neoliberalismo), essa
despolitização foi decisiva para a
aceitação totalmente acrítica do
tsunami de fake news advindo da
campanha de Bolsonaro contra o
candidato do PT no segundo
turno, Fernando Haddad – que ele
incentivaria o incesto, que teria
estuprado uma menina de 11 anos,
para mencionar apenas duas das
incontáveis mentiras sobre ele que
foram sendo persistentemente
propagadas por milhares de robôs,
cujos links apresentavam como
local de origem os EUA.

A dez dias da realização do


segundo turno, a divulgação pela
imprensa do financiamento desse
ataque digital nas fechadas redes
de whatsapp por dinheiro de caixa
2 proveniente de empresas, o que
é proibido pela atual legislação
brasileira e considerado crime
eleitoral, deu alguma esperança de
que o fascismo da campanha de
Bolsonaro seria afinal derrotado,
mas esse desfecho feliz não
aconteceu. O juiz Sergio Moro, que
disse que a corrupção destinada a
caixa 2 de campanha eleitoral é
ainda mais perniciosa do que a
corrupção destinada ao
enriquecimento pessoal porque
constitui um ataque direto à
democracia, acaba de aceitar o
convite de Bolsonaro para ser o
seu ministro da justiça. Não é
preciso dizer mais.

*Publicado originalmente no
Outras Palavras
(https://outraspalavras.net/brasil/
neoliberalismo-distopias-e-
bolsonaro-presidente/)

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