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A escritura poética presta muita atenção nos sonhos. E toda forma de construção de
conhecimento humano, talvez seja isso. Sonhar outras existências.
É escritura que não se quer estagnada. Que se move buscando outros pontos. Que se
modifica pelas pessoas que encontra. Pelos textos lidos nos olhos cansados. Que só
aceita entrar na academia se carregar a poeira da rua. Textos que habitam corpos.
Pesquisa que se faz em estações e avenidas, radiais, marginais. Nas páginas
rebocadas das casas periféricas, referências bibliográficas. No fone de ouvido que
embala a viagem, filosofia contemporânea.
Devemos batalhar pelo terreno da imaginação, pois até esta terra foi colonizada,
controlada e manipulada. Num mundo que consome imagens e narrativas num ritmo
frenético, a literatura é um espaço de resistência de imaginários. Uma literatura que
seja tudo, menos chique. Chique é um adjetivo que marca um conceito elitista que
perdura em nossa sociedade estruturada na criminalização da pobreza. E se os
pobres não escreverem suas próprias narrativas sempre serão culpabilizados.
A poesia quer ser silêncio.A escrita quer ser voz. Nascidas da impossibilidade, quando
se esgotam as palavras explicativas, quando a vida toca o sem sentido é só por meio
da palavra poética que algo sutil se reconstitui como o canto de uma benzedeira que
impede que uma ferida continue sua trilha pelo corpo.
Num mundo cada vez mais enfermo, onde pessoas tomam doses cavalares de ódio
diário (entregues em domicílio), recitar um verso olhando para os olhos de alguém é
uma medida preventiva revolucionária. A poesia é capaz de curar.