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A Real é um tema controverso no meio conservador. Tratando a Matrix como ilusão, temos na
Real um movimento de homens que alerta para os perigos da Matrix amorosa e da ideologia
feminista. O que há de errado com os relacionamentos modernos? Apresentamos neste
pequeno eBook a teoria realista e analisamos até que ponto ela é precisa na descrição dos
relacionamentos amorosos e útil na guerra cultura.
Como lidar diante de um novo panorama amoroso? De repente começamos a ver e - dando
tapa na cara em si próprio - indagar: "como eu não percebi isso antes? Era tão óbvio". Imerso
em um ambiente de confusão, infelizmente, não é difícil acontecer de trocar um caminho
errado por outro.
Se é verdade que a Real tem uma teoria que consegue fazer uma boa leitura dos
relacionamentos amorosos modernos e um discurso de desmascaramento do feminismo, até
que ponto este conhecimento está sendo usado de modo a beneficiar o homem na luta contra o
feminismo? Adentrando na polêmica, tentamos responder essa importante pergunta.
Palavras Chave:
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................. 4
1 PROPAGA-SE UM MOVIMENTO QUE DIVIDE OPINIÃO ENTRE CONSERVADORES ......... 7
1.1 A DIFICULDADE DE TECER CRÍTICAS À REAL ...................................................................................... 8
1.2 CONTORNANDO A DIFICULDADE ............................................................................................................. 9
2 RESUMO DA REAL ............................................................................................................................... 13
3 O ORGULHO DA REAL ........................................................................................................................ 21
3.1 POR QUE A TEORIA DA REAL FUNCIONA ............................................................................................. 24
3.2 MOTIVAÇÕES E EXAGEROS ..................................................................................................................... 26
3.3 NECESSIDADE DA DISCUSSÃO MORAL ................................................................................................. 31
3.4 A QUESTÃO MORAL DO SEXO ................................................................................................................. 34
3.4.1 Possíveis objeções e melhores esclarecimentos ......................................................................................... 38
3.4.2 Acerto de contas com o Amor .................................................................................................................... 43
4 REAL: O RESULTADO DA DIALÉTICA HEGELIANA.................................................................. 50
4.1 A DIALÉTICA HEGELIANA ........................................................................................................................ 50
4.2 DIALÉTICA HEGELIANA + PRÁXIS (DIAPRAX) .................................................................................... 54
4.2.1 Estruturando a dissociação cognitiva dentro da Diaprax ....................................................................... 56
4.3 DORMINDO COM O INIMIGO DECLARADO........................................................................................... 59
4.3.1 A sutil colaboração com o feminismo ........................................................................................................ 60
4.3.2 Filhos rebeldes de Hebert Marcuse ........................................................................................................... 63
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 65
6 DISCUSSÃO ABERTA: CONTATO..................................................................................................... 67
APÊNDICE I ............................................................................................................................................... 68
APÊNDICE II ............................................................................................................................................. 71
APÊNDICE III ............................................................................................................................................ 75
4
INTRODUÇÃO
Durante a época do Orkut, rede social que foi engolida pelo sucesso do Facebook,
homens reuniram-se em comunidades para tratar do tema mulher. A partir disso, surgiu um
movimento conhecido como Real, impulsionada, entre outras coisas, pelos livros de Nessahan
Alita, por testemunhos e também inspirados por movimentos masculinistas americanos em
denúncia ao feminismo.
É difícil definir o que seria a Real. Entre os participantes desse movimento, o
significado de pertencer a Real assume valores subjetivos de difícil definição. Objetivamente,
podemos colocar a Real no hall de propaganda anti-feminista de pessoas que, através de livros
e testemunhos, opinam e teorizam acerca da dinâmica dos relacionamentos.
Quem estuda a ideologia do feminismo pode ter o conhecimento geral de que o
feminismo investe em uma luta de classes do homem contra a mulher com a intenção de
dividir para conquistar, servindo ao propósito de um projeto de poder político; o efeito prático
do dia a dia que esta ideologia gerou dos relacionamentos, contudo, até mesmo por conta de
um massivo apelo da mídia e demais investimentos culturais, não são tão óbvios à primeira
vista. Neste sentido, a Real intenta realizar leitura crítica do feminismo alertando para
conceitos, idéias e paradigmas propositadamente distorcidos por essa ideologia atualmente
hegemônica, ou seja, já impregnado no “senso comum” das pessoas, e que estão levando o
homem médio à confusão e ao equívoco.
Em geral, o encontro com a Real dá-se quando um homem, desiludido (sacaneado) por
causa de uma paixão amorosa ou por conta da coleção de fracassos no “amor”, está a procura
de respostas. Ao ter encontro com alguma fonte de divulgação „realista‟ (sites, blogs, fóruns,
redes sociais, etc.), identifica o conteúdo propagado com seu drama pessoal, descobrindo seus
erros passados. É quando o homem é convidado a sair da Matrix. Aquilo que aprendera sobre
mulheres e amor, o peso do romantismo e do bom-mocismo tratava-se de uma ilusão. É hora
de mudar seus conceitos, mudar sua filosofia de vida, mudar de paradigma. Desvincular-se do
engano, colocar os pés no chão e encarar a triste realidade em vez de se esconder na doce
ilusão.
A recepção, naturalmente, não é fácil. A verdade, ensinam as grandes religiões e
filosofias, liberta; não é sempre indolor, contudo. Emocionalmente perturbado, o homem
desiludido desenvolve um sentimento de revolta de modo que o conteúdo da aprendido é, em
um primeiro momento, incorporado com uma ferramenta para alcançar vingança, vingança
5
contra as desprezíveis mulheres. Daí que muitos reduzem a Real a um bando de homens
revoltados com mulheres.
No entanto, seria injusto reduzir a Real a definições pejorativas. O conteúdo „realista‟
tem méritos e são fontes de reflexão. Objetivamente falando, a Real, pela sua teoria, consegue
descrever a dinâmica dos relacionamentos modernos. O que o cidadão irá fazer com esse
conhecimento, é a grande fonte de polêmica. Pode ser que a Real, consoante ao jargão
„realista‟, salve vidas. Os membros mais experientes defendem a Real, em grande parte,
porque possuem forte sentimento de gratidão. Foram motivados a mudar seu norte de vida e
vem obtendo êxito em seu desenvolvimento como homem.
Por outro lado, é certo também que há certa propaganda que incomoda o meio
conservador. Os membros da „Real‟, diga-se, são diversos. Pessoas de diferentes credos e
costumes compartilham o espaço „realista‟, que também conta a presença conservadora. Daí a
origem de discussão com atrito entre conservadores de fora e conservadores de dentro da
Real. Este, aliás, é o contexto que motivou este trabalho.
Há no conservador uma veia crítica que não pode morrer. Além disso, o conservador
atenta muito a questão moral dos problemas. A Real, por outro lado, tem na moralidade a
grande fonte de suas polêmicas internas. Abrigando pessoas diferentes, opiniões conflitantes
aparecem e, a fim de manter a unidade, a Real em si não toma “posição oficial”. Pode-se dizer
que a Real é um movimento cuja maioria dos membros é politicamente de direita, mas
certamente não se pode enquadrar como um movimento conservador, mesmo havendo
conservadores em seu meio.
Com conservadores que criticam negativamente e com conservadores que defendem a
Real, este trabalho vai tentar superar preconceitos e expor críticas a Real. No primeiro
capítulo, o modo como a Real é recebida no meio conservador foi abordado. Além disso,
foram feitas considerações que visam suprir o grande problema que surge quando se critica a
Real: sua heterogeneidade. Sendo assim, adianta-se que este é um trabalho de conservador
para conservadores. O restante, se quiser, pode continuar lendo, mas não que não se esqueça
deste importante detalhe.
Uma vez que se objetiva vencer preconceitos, o conteúdo da Real não poderia deixar
de ser abordado. Sendo assim, um resumo do conteúdo da Real com algumas considerações
foi apresentado no segundo capítulo.
A crítica a Real inicia-se no terceiro capítulo. Atenta-se que o ato de criticar aqui não
representa o simples ato de falar mal ou reclamar, mas de exercício do senso crítico. O que foi
6
Discutiremos a postura desses três tipos classificados mais adiante, ainda neste
capítulo. A observação preliminar é que se trata de uma discussão voltada ao meio
conservador. Também adiantamos que não entraremos no mérito se é conservador de verdade
ou não. A questão é que havendo conservadores dentro e fora da Real, parte-se da premissa de
que o conservador está aberto a críticas e ao aprendizado, uma vez que, dentre os 10
princípios conservadores de Russel Kirk3, encontra-se a prudência4 e a crença em uma ordem
1
É importante fazer a observação de que se trata de uma divisão em tipos ideais (Max Webber). Observa-se na
prática que esses tipos podem se misturar e até mesmo se conflitarem.
2
Há uma espécie de graduação informal dentro da Real, cujo objetivo é chegar a uma espécie graduação que é
chamada no meio como Guerreiro da Real (GDR). Assim, é importante deixar a nota de que é uma coincidência
de nomes, o Guerreiro da Real deste ensaio NÃO tem o mesmo significado interno da Real. Neste trabalho,
refere-se a conservadores que defendem a Real.
3
KIRK, R. Dez princípios conservadores. Tradução de Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior. Fonte:
http://www.kirkcenter.org/kirk/ten-principles.html. Disponível em:
http://participatorio.juventude.gov.br/file/download/19818
4
Prever as conseqüências em longo prazo. Agir após uma reflexão apurada.
8
moral duradoura5. Se o “conservador” não estiver aberto à reflexão e à discussão moral, isto é,
fixar-se em uma polarização e a um relativismo moral, então é correto dizer que não se trata
de um conservador genuíno e, com objetivo de fazê-lo não perder um tempo que talvez seja
precioso, recomendamos que sua leitura não passe desse ponto.
5
A discussão moral será abordada no Capítulo 3.
6
WALLACE, Lawlyet. Filosofia da Real. Preview 04-10-2013.
9
7
Inicialmente o preview foi divulgado para um projeto de comunidade que Lawlyet está investindo. Como a
Real começou a suscitar discussão, ele disponibilizou o livro argumentando que a Real pode ser uma ótima fonte
para levar as pessoas ao conservadorismo. Confessamos que sua intenção motivou a elaboração deste trabalho.
10
O objetivo deste trabalho é tecer críticas à Real. Não temos aqui a pretensão de usar
falácias emotivas, espantalhos, sofismas, etc. Mas suscitar uma discussão honesta. Um
esforço inicial foi realizado no sentido de catalogar correntes de opinião dos conservadores
em relação ao movimento a que aqui se propõe discutir. Relembremos: Anti-real, Críticos da
Real e Guerreiros da Real.
É verdade, conforme já admitido, que a Real não está bem definida quanto movimento
e que sua composição de seus membros é diversificada em termos de opinião, contudo, é
inverdade que seja isso motivo para inviabilizar críticas. Há na Real certa organização. Ela é
divulgada e discutidas em sites, blogs, fórum, redes sociais e tem até bibliotecas virtuais onde
está disponível o conjunto de material base que sustenta seu conteúdo. Trata-se de um
movimento que está aberto a novos membros, com a ressalva de que não toleram apologia ao
crime (apologistas do nazismo, comunismo e de crimes hediondos são banidos de suas
comunidades). A Real é, portanto, assimilável. Sua análise deve ser feita, portanto, dentro de
seus livros, líderes e organizadores. Sendo um movimento que motiva o homem a ocupar seu
lugar de líder, não seria injusto analisar a Real com base em seus líderes e membros
experientes.
O erro dos conservadores anti-realistas é criticar a real atacando com “golpes
baixos”. Eles atacam os novatos do movimento ou, se preferir, no linguajar „realista‟, os
juvenas. Estes são pessoas que muitas vezes aparecem com relatos bastante tristes. Pessoas
que foram torturadas sentimentalmente por mulheres egoístas e insensíveis, vadias no jargão
„realista‟, que, aproveitando-se do rapaz explorado, fê-lo passar por humilhações e traições.
Pessoas que, por exemplo, com dificuldade, pelo duro esforço do trabalho, deram casa,
comida, ajudaram nos estudos, para depois a namorada o trair com outro homem. Muito
relatado também é o fenômeno da Friendzone, onde a mulher se aproveita do homem
apaixonado para tirar favores e obter vantagens, dando doses suficientes de atenção e
esperança de „algo a mais‟ para que o homem iludido não deixe a zona da paixão. Trata-se,
em suma, de homens emasculados, carentes, ingênuos e fracos que, ao conhecer a Real,
descobrem a sistemática de sua tragédia e estão prontos para esboçar reações. Do fundo do
poço da dor sentimental, os juvenas entram na fase de revolta. Descobriram que as mulheres
não são santas. Bastaria um pouco de fé cristã para ter conhecimento deste não-mistério, mas
o fato é que entram em uma fase de revolta da qual se manifesta um sentimento de vingança e
desprezo pelas mulheres.
11
A revolta dos novatos é real8, é passível de crítica; não é justo, todavia, criticar o
movimento por causas dos “juvenas”. A fase da revolta é característica. O conselho de
membros mais experientes do movimento é feito no sentido de ajudar o jovem a sair desta
fase de orgulho ferido e focar em si.
Os “juvenas” revoltados habitam os espaços da Real, sobretudo o Facebook. O tempo
de duração varia de caso a caso – alguns parecendo ser irreversível – mas é fato que a Real
não age no sentido de alimentar este ódio, mas de auxiliar o novato a superá-lo.
Os conservadores críticos da real, por sua vez, fazem críticas mais profundas.
Geralmente são compostos por pessoas que conhecem a Real, mas discordam de pontos
específicos. Suas críticas estão embasadas, principalmente, na maneira com que é retratada a
mulher. Esses conservadores chamam a atenção para a dose de hostilidade na propaganda e
para o teor gnóstico contido nos livros de Nessahan Alita. O que não facilita o debate entre os
conservadores críticos e os defensores da real é uma certa intransigência. Um lado molda uma
caricatura do movimento e o outro aplica respostas baseadas em rotulagem pejorativas com
termos como “mangina”, “cavaleiro branco”, etc. Coisas de Facebook...
Outra dificuldade é que parte do debate está relacionada com conteúdo de ordem
moral e da natureza humana, algo que é bastante difícil de ser discutido em uma rede social.
Esta dificuldade ajuda a justificar a elaboração deste livro com vistas ao público conservador.
É uma tentativa de elevar o conteúdo crítico para que as discussões possam ser feitas de
maneira mais honesta.
Por último, os Guerreiros da Real que, neste trabalho, estão definidos como
conservadores que defendem a Real. Conforme foi discutido anteriormente, fica claro que,
dado a diversidade de membros, não é possível catalogar a Real como conservadora. É
possível, contudo, catalogá-la como direita no espectro do campo político. A Real tece críticas
ao gayzismo, ao feminismo, ao Marxismo Cultural em geral. Faz discurso de tolerância
religiosa e defende menos interferência do governo na vida das pessoas. Este fato é deduzido
de sua propaganda no Facebook, conteúdo dos blogs e sites e discussão de seus fóruns.
Eis como a Real será abordada neste trabalho: devido à falta de unidade ética e moral
da Real, ela será analisada com base em sua propaganda e intenções presentes em seus líderes
e membros influentes. As críticas serão dirigidas, sobretudo, aos conservadores que defendem
a real, haja vista que o conservador tem por hábito visualizar as crises como resultado de
desvios morais.
8
Trocadilho lúdico.
12
9
Sabemos que é impossível debater com esquerdistas, pois eles fraudam o debate. Os esquerdistas não se
interessam pela verdade – requisito essencial para haver possibilidade de debater –, mas aproveitam o espaço
para fazer propaganda de suas ideologias e/ou demonizar os oponentes.
A respeito do „verbo‟ esquerdar, vale fazer uma recomendação. Luciano Ayan cataloga as fraudes e
malandragens dos humanistas: http://www.lucianoayan.com.
10
Feministas, esquerdistas, libertários, juvenas da Real... Ou melhor, colocando de outro modo: odiadores do
conservadorismo e fanáticos pela Real, por favor, não percam tempo com seus possíveis nonsenses contra este
trabalho. A crítica deve ser feita por gente grande. Por gente grande, interprete pessoas com juízo intelectual em
ordem. Certamente há pessoas na Real capacitadas para isso, deixe isso para elas.
13
2 RESUMO DA REAL
O ingresso na Real é fácil e hospitaleiro. Você será convidado a sair da Matrix. Esta
figura de linguagem faz alusão à ilusão amorosa pelo qual o homem de coração partido está
imerso. Ele será convidado a escolher entre a pílula vermelha ou azul, podendo escolher se
descobre “a verdade” ou se prefere viver no conto de fadas. Optando pela Real, a leituras de
livros, principalmente as obras de Nessahan Alita, serão recomendadas. Através destes livros
é possível falar com propriedade a respeito do conteúdo da Real.
Em seus livros, Nessahan Alita fala sobre mulheres. Alita inspira-se em psicologia
evolutiva para descrever os problemas do relacionamento moderno. Vale ressaltar que
Nessahan dirige seu livro quanto ao cuidado que os homens devem ter das “mulheres vadias”,
não se aplicando às mulheres sinceras (ou honradas no glossário da Real) destacando que não
irá se responsabilizar pelo uso que será feito do material.
Em nota de rodapé do livro “Como lidar com as mulheres”, Nessahan Alita esclarece
o sentido do termo vadia:
11
ALITA, Nessahan (2005). Como Lidar com Mulheres: Apontamentos sobre um Perfil Comportamental
Feminino nas Relações Amorosas com o Homem. In: O Sofrimento Amoroso do Homem - Vol I. Edição virtual
independente de 2008, p.12.
14
Certamente há mais coisas que poderiam ser citadas, mas estes seriam um núcleo
importante para entender o desenvolvimento do movimento. Trata-se de uma sistematização
que visa explicar a dinâmica dos relacionamentos modernos e que são discutidos pelos
15
Sobre o fenômeno “as mulheres só enxergam outras mulheres” está incluso no material da Real o livro “O
Homem Domado” de Esther Vilar.
16
„realistas‟ através da observação do dia-a-dia, relatos e notícias que são debatidas em seus
fóruns.
Acreditamos que agora esteja mais fácil compreender a revolta que é ocasionada
quando um homem pisado e cruelmente machucado descobre a dinâmica dos relacionamentos
pela ótica da Real. Há quase que uma inevitável polarização. A mulher passa a ser odiada e
todas passam a ser vistas como vadias. E o impulso de vingança e de “vencer o atraso” são
explícitos. Os anti-real não estão errados em suas reclamações quanto ao ódio contra as
mulheres que pode ser visto nas correntes da Real16.
Viktor Frankl reconhece esta natureza humana. Preso e maltratado nos campos de
concentração nazista, Frankl relatou momento de revolta onde os explorados gostariam de se
transformar nos carrascos para pagar na mesma moeda. Contudo, o psiquiatra que criou o
logoterapia salienta que este sentimento deve ser superado e focalizado na busca do seu
sentido da vida, que, segundo a logoterapia, é uma resposta que de depende de um diálogo
honesto consigo: o descobrimento de seu sentido. Escreveu em “Em Busca do Sentido”:
Por longo tempo, durante meio século a psiquiatria tentou interpretar a mente
simplesmente como um mecanismo, e consequentemente a terapia da doença
mental simplesmente foi encarada como uma técnica. Eu acredito que esse
sonho acabou. O que está despontando agora no horizonte não são os
contornos de uma medicina psicologizada, mas antes, de uma psiquiatria
humanizada.
Um médico, entretanto, que continuasse entendendo o seu próprio papel
principalmente como o de um técnico, confessaria que não vê em seu paciente
mais do que uma máquina, em vez de enxergar o ser humano que está por trás
da doença!
O ser humano não é uma coisa entre outras; coisas se determinam
mutuamente, mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo.
Aquilo que ele se torna - dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente - é
ele que faz de si mesmo. No campo de concentração, por exemplo, nesse
laboratório vivo e campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos
alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros
agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as
potencialidades; qual ser concretizada, depende de decisões e não de condições.
Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele
de fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz;
mas ele é também aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça
erguida, tendo nos lábios o Pai-nosso ou o Shem Yisraet. 17
16
Elas concentram-se principalmente no Facebook, onde os „realistas‟ mais experientes admitem que possuem
pouco controle e que usam esta rede social com objetivo de propaganda, incentivando as pessoas a buscarem
seus fóruns e sites.
17
FRANKL, V. E. Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. Porto Alegre: Sulina,
1987; São Leopoldo: Sinodal, 1987. 174p.
17
Longe de querer comparar a Real com uma espécie de terapia, mas é necessário
elogiar a preocupação de membros mais velhos em orientar os novatos revoltados. Entretanto,
este trecho não é apenas importante para compreender a revolta de certos membros
revoltados, mas também questionar a Real sobre a busca do sentido dela. Às vezes eles tentam
debater sobre isso, contudo permanece tudo junto e misturado. A Real pode não ter seu
sentido definido, mas os mais experientes orientam que o sentido certamente não pelo
caminho da vingança e o do ódio.
Não queremos com isso sugerir que os “juvenas” da Real devem ser poupados de
críticas, muito pelo contrário. Os “juvenas” da Real devem ser identificados e confrontados. A
Figura 1 ilustra a abordagem carinhosa que deve ser empreendida com esses tipos18. O que
não se recomenda é o “jogo baixo” comentado anteriormente, que seria nivelar toda a Real
como sendo composta inteiramente de “juvenas”.
A Real também faz críticas de cunho político e compartilha conteúdos que visam
esclarecer a respeito do Globalismo e do Marxismo Cultural. Quanto aos dois últimos, iremos
fazer críticas à postura prática da Real mais adiante, por enquanto estamos nos limitando a
escrever um resumo e comentar alguns aspectos da Real. No livro que Lawlyet Wallace está
escrevendo (“Filosofia da Real” que foi mencionado no capítulo anterior), ele tenta colocar a
Real como um movimento em busca da verdade, não ignorando algumas fases que devem ser
vencidas:
18
Colocando-os em seus devidos lugares como a escória da Real.
18
Wallace não é unanimidade da Real e não é possível fazer grandes previsões a respeito
de como seu livro será recebido no meio. De certo alguns irão concordar, outros rejeitar,
entretanto não dá para saber é em qual proporção isso vai acontecer e quão discutível e
transformador será o material no meio „realista‟20. Estamos em um capítulo onde propomos
fazer um resumo da Real e este trecho do Wallace foi trazido por dois motivos. Primeiro
porque é uma tentativa honesta de descrever os passos até se alcançar em uma meta dentro da
Real, o que já seria um sentido. Não vamos discutir quão precisos ou certos estão esses
passos, apenas destacamos que há uma tentativa honesta de síntese de alguém que pertence ao
meio „realista‟. O segundo motivo, mais importante que o primeiro no contexto deste
trabalho, é que o primeiro passo começa em conhecer a Real. Pode parecer óbvio, mas é
importante explicitar, uma vez que o que nos interessa é adentrar no motivo que leva as
pessoas a conhecerem a Real.
Na imensa maioria das vezes, as pessoas são levadas ao conhecimento da Real por
conta de problemas que tiveram no relacionamento amoroso. A porta de entrada consiste em
estudar os relacionamentos sobre a ótica da Real e para isso recomendam materiais como os
de Nessahan Alita. Mesmo abordando temas políticos e culturais, a porta de entrada está em
sua propaganda em relação à dinâmica dos relacionamentos – os articuladores da Real têm
consciência disso e procuram potencializar esta entrada. Neste sentido, é importante
esclarecer o cunho teórico da por trás dessa principal abordagem da Real:
19
WALLACE, L. Filosofia da Real. Preview 04-10-2013, p. 13.
20
A abordagem de Lawlyet Wallace é mais voltada ao conservadorismo. Chesterton é bastante citado no preview
do livro.
19
Este prisma auxilia no entendimento do porquê alguns conteúdos da Real são muitas
vezes interpretados como hostis às mulheres por alguns conservadores. A Real está
preocupada em alertar os homens sobre os ardis perversos das mulheres que são pouco
abordados na cultura vigente. Denunciam a parcialidade cultural onde a mulher é moldada
como inocente e boa, enquanto os homens são perversos e malvados. Denunciam o
condicionamento cultural que está levando o homem a perda de sua virilidade, principalmente
sobre o mito do amor romântico que faz o homem enxergar as mulheres como seres divinos e
imaculados. A hostilidade da Real em relação às mulheres é, na verdade, em relação às
mulheres vadias que tiram proveito deste ambiente cultural bagunçado. Há um inegável
pessimismo que molda as ações da Real, uma vez que o crescimento da
vadiagem/promiscuidade é visível a céu aberto. A Real não nega que há problema no homem,
mas sua preocupação está mais voltada a criticar as vadias, alertando sobre seu “o lado
obscuro” desperto e ativo.
Procuramos neste capítulo resumir o conteúdo-chave da Real e entender a abordagem
„realista‟ para ingresso de novos confrades22. Nossa abordagem foi mais descritiva evitando
qualquer juízo de valor. Se houve impressão de ataque ou defesa da Real em certo momento
deste capítulo, alegamos que não tivemos a intenção. Recomendamos uma releitura do
21
ALITA, Nessahan (2005). A Guerra da Paixão: As Artimanhas e os Truques Ardilosos das Mulheres no
Amor. In: O Sofrimento Amoroso do Homem - Vol. III. Edição virtual independente de 2008. p. 60.
22
Em termos „realísticos‟, confrade é o modo como os „realistas‟ dirigem-se entre si. É análogo ao
„companheiro‟ dos petistas, ao „camarada‟ dos marxistas-hardcore, ao „colega‟ entre pessoas de mesma
profissão, etc.
20
capítulo com espírito de imparcialidade. Se mesmo assim permanecer tal impressão, avisamos
que não descartamos reescrever ou adicionar notas explicativas em edições futuras a fim de
corrigir esse possível problema. No próximo capítulo, vamos analisar a eficiência da Real de
um modo crítico.
21
3 O ORGULHO DA REAL
Por que a Real possui relativo sucesso? Por que seus membros são seguros de si? A
investigação dessas questões mostra-nos o que é a maior força da Real, mas também a
possível origem de sua fraqueza.
O sucesso da Real pode ser explicado por dois motivos. Primeiro porque a Real trata
da temática dos relacionamentos amorosos, tema que desperta grande audiência. O segundo
motivo, ligado ao anterior, é que de fato a Real conseguiu construir uma teoria acerca da
dinâmica dos relacionamentos amorosos que apresenta uma precisão apurada em nossa
sociedade.
Grande parte da temática da Real está condensada na discussão sobre sua teoria acerca
dos relacionamentos. É importante reconhecer que não se trata de mero lero-lero, a Real está
envolta em uma aura de estrutura científica (informal). Para evidenciar isso, recorramos às
considerações que Gustavo Corção presta à estrutura e aos métodos da ciência:
23
CORÇÃO, G. O Século do Nada. Rio de Janeiro: Record, 1973. p. 123.
22
24
CORÇÃO, G. O Século do Nada. Rio de Janeiro: Record, 1973. p. 124.
25
Lembrando que estamos mais preocupados em analisar seus membros mais influentes.
26
A vadia-homem é o cafajeste. Na Real, é comumente referido de modo abreviado: cafa.
23
doce, bela, única e bondosa lady. O trágico e lúdico fenômeno da Friendzone (Figura 2) é um
bom exemplo dessa desconfortável situação.
Provavelmente provém deste identificável sucesso certa arrogância em relação às críticas que
vêm de fora. Os críticos são interpretados como pessoas que estão presas na Matrix e,
portanto, em estado inferior aos „realistas‟ que saíram da lastimável situação. Quem os critica
são catalogados automaticamente como manginas, cavaleiros brancos, matrixianos, miguxos,
etc.
Não sabemos se é por causa deste hábito defensivo, ou se é porque a rotulagem
pejorativa é regra nos debates virtuais, ou se é por causa dos dois, mas é interessante observar
que esta tática de rotulação também está presente nas discussões internas da Real,
principalmente quando um assunto descamba para o campo moral.
É no campo moral que reside a problemática da Real. De fato a Real trabalha com sua
ciência informal que tem seus pés fincados no chão, mas a ciência em si é amoral. Um
conhecimento pode ser usado para o bem ou para o mal. Neste aspecto, cada membro é livre
para fazer o que quiser, contudo, tal saída não condiz com os outros objetivos da Real que
busca combater o esquerdismo no campo político e o Marxismo Cultural no campo cultural.
Como conservadores, devemos rejeitar o “niilismo realista”. Se a Real almeja fins
nobres de mudança, ela não pode ignorar este tipo de debate. O conservador enxerga que as
crises são causadas por problemas morais.
Reconhecemos aqui que a Real fez uma boa leitura em torno da dinâmica dos
relacionamentos amorosos da modernidade. O diagnóstico da Real é bom. É uma ferramenta
funcional ao que tange seu campo de ação. Entretanto, como bem pondera Michael
Oakeshott27, a ferramenta para a execução de trabalho é justamente onde está o cerne da
preocupação conservadora.
27
OAKESHOTT, M. Ser Conservador. Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha. 29p.
25
A partir disso, podemos fazer a seguinte afirmação: quanto maior for o índice de
vadiagem da sociedade, maior será a abrangência da Real. Nesta afirmação, não estamos
excluindo a vadiagem masculina, simbolizada na figura do cafajeste.
Então emerge a pergunta: por que a teoria da Real obtém sucesso? Nessahan Alita não
esconde sua sustentação pela psicologia evolutiva. Alita elucida que o comportamento
“vadio” é decorrente do ser humano estar voltado ao seu comportamento mais animalesco.
O filósofo Olavo de Carvalho em artigo intitulado “A moral do Brasil” aponta para a
Teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg (grifos nossos):
Se você quer entender e não tem medo de perceber em que tipo de ambiente
mental está metido nesse nosso Brasil, nada melhor do que estudar um pouco a
Teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg. Enunciada pela
primeira vez em 1958 e depois muito aperfeiçoada, ela mede o grau de
consciência moral dos indivíduos conforme os valores que motivam as suas
ações, numa escala que vai do simples reflexo de autopreservação natural até o
sacrifício do ego ao primado dos valores universais.
Kohlberg, que foi professor de psicologia na Faculdade de Educação em
Harvard, desenvolveu alguns testes para avaliar o desenvolvimento moral, mas
os críticos responderam que isso só media a interpretação que os indivíduos
testados faziam de si mesmos, não a sua motivação efetiva nas situações reais.
Essa dificuldade pode ser neutralizada se em vez de testes tomarmos como
ponto de partida as condutas reais, discernindo, por exclusão, as motivações
que as determinaram.
Os graus admitidos por Kohlberg são seis. No mais baixo e primitivo, em que a
conduta humana faz fronteira com a dos animais, a motivação principal das
ações é o medo do castigo. É o estágio da ―Obediência e Punição‖. No
segundo (―Individualismo e Intercâmbio‖), o indivíduo busca conscientemente
a via mais eficaz para satisfazer a seus próprios interesses e entende que às
vezes a reciprocidade e a troca são vantajosas. No terceiro (―Relações
Interpessoais‖), os interesses imediatos cedem lugar ao desejo de captar
simpatia, de ser aceito num grupo, de sentir que tem ―amigos‖ e distinguir-se
dos estranhos, dos concorrentes e inimigos. No quarto (―Manutenção da
Ordem‖), o indivíduo percebe que há uma ordem social acima dos grupos e
empenha-se em obedecer as leis, em cumprir suas obrigações. No quinto
(―Contrato Social e Direitos Individuais‖), ele se torna sensível à diversidade
de opiniões e entende a ordem social já não como um imperativo mecânico, mas
como um acordo complexo necessário à convivência pacífica entre os
divergentes, No sexto e último (―Princípios Universais‖), ele busca orientar sua
conduta por valores universais, mesmo quando estes entram em conflito com os
seus interesses pessoais, com a vontade dos vários grupos ou com a ordem
social presente.
Essas seis motivações refletem três níveis de moralidade: os dois primeiros
expressam a ―moralidade pré-convencional‖; os dois intermediários a
―moralidade convencional‖, os dois últimos a ―moralidade pós-
convencional‖.
Se não atentamos para os discursos, mas para as escolhas reais que as pessoas
fazem na vida, não é preciso observar muito para notar que os indivíduos que
nos governam, bem como os seus porta-vozes na mídia e nas universidades, não
passam do terceiro estágio, o mais baixo da moralidade convencional, em que a
identidade, a coesão e a solidariedade interna do grupo prevalecem sobre a
ordem social, as leis, os direitos dos adversários e quaisquer valores universais
26
que se possa conceber (e que desde esse nível de consciência são mesmo
inconcebíveis, embora nada impeça que sua linguagem seja macaqueada como
camuflagem dos desejos do grupo). 28
Embora o artigo esteja voltado para uma crítica ao esquerdismo, a teoria de Kohlberg
auxilia na explicação sobre o êxito da teoria da Real: o nível moral da sociedade está baixo,
próximo aos instintos animalescos que Nessahan Alita comenta. Podemos dizer que a
sociedade está se bestializando. Ao traçar os instintos bestiais do homem e da mulher, a Real
consegue êxito teórico na abordagem dos relacionamentos modernos.
Alguns conservadores incomodam-se com o vocabulário presente em sites e blogs
„realistas‟, porque as expressões macho e fêmea são empregadas. Contudo, tais termos são
coerentes com bestialização social, sendo os mais apropriados para explicar a teoria da Real.
O núcleo explicativo da Real está no macho e fêmea, isto é, seus instintos animais
inconscientes e que representam bem a baixeza do nível moral a que tais termos se referem.
Em suma, podemos concluir que a Real funciona porque estamos diante de uma
cultura que demonstra baixo nível moral, que não ultrapassa o terceiro nível de Kohlberg. Há
uma correlação inversamente proporcional entre nível moral e funcionalidade da Real, isto é,
quanto maior o nível moral da população, menos eficiente será a leitura social da teoria
„realista‟.
Aqui jaz novamente o motivo para que este trabalho se dirija, em especial, ao público
conservador. Uma vez que os conservadores encaram a ordem moral com um princípio
importante para o bem estar social, a não-hipocrisia obriga-os a buscar com sinceridade as
virtudes humanas, ascender aos níveis morais Kohlberg, posicionando moralmente acima de
qualquer esquerdista, vadia ou cafajeste.
28
CARVALHO, Olavo de. A Moral do Brasil. Diário do Comércio, 19/10/2003. Disponível em:
http://www.dcomercio.com.br/index.php/opiniao/sub-menu-opiniao/116794-a-moral-do-brasil
27
Daí que do ponto de vista estratégico da mudança, não está errada a motivação que os
líderes „realistas‟ dão para o fato de que a Real precisa ser internalizada. Isso significa que o
homem deve treinar o “desapego” (blindar-se contra a sedução feminina que tenta provocar
uma paixão irracional)30, focar no desenvolvimento pessoal (trabalho, saúde e finanças31) e
voltar-se para a “honra”.
Colocamos aspas na honra, porque embora muito seja dito a respeito de motivar o
homem a ser honrado, a definição disso não é clara, justamente porque a maior fonte de
divergência „realista‟ dá-se no campo moral. Talvez a maior convergência no campo da honra
seja a instrução de, caso estar em um relacionamento sério, não trair a parceira.
Um Guerreiro da Real não pode ignorar que a honra passa pela autocrítica
masculina32. Muito a Real critica a mulher vadia e o feminismo, mas pouco se aprofunda
sobre a moralidade do homem diante de uma cultura cada vez mais feminista. É daí que pode
29
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. Disponível
em http://www.olavodecarvalho.org/livros/neindex.htm
30
O conceito de desapego em seu campo de atuação não está aprofundado. Se isso é bom ou ruim, quando é
positivo e quando é negativo, será tratado mais a frente.
31
Livros voltados à administração, à aplicação financeira e dicas de exercícios físicos são compartilhados entre
realistas.
32
Se ignorar, não é por certo um conservador. Lembrando que Guerreiro da Real neste trabalho é o conservador
que defende a Real.
28
ser origem da crítica sobre a Real ser um feminismo com sinal trocado33. É bastante
relembrado que a Real não é sobre pegar mulher, mas sua teoria ensina que o cafajeste é um
imã para atraí-las. Tira-se que uma das autocríticas ao homem é que ele não se torne um
cafajeste. Sendo este conselho pouco difundido, a crítica sobre o sinal trocado não pode ser
totalmente negada.
Outro detalhe relevante é a crítica pela crítica em relação às mulheres feministas. O
comportamento de vadia deve ser atacado, mas tão importante quanto metralhar, é formar. O
que a Real tem a dizer a respeito da mulher honrada, o oposto da mulher vadia? Pode haver
aqui uma objeção de que, mesmo falando pouco, fala-se sobre a mulher honrada e a
importância da família – não negamos –, mas falamos a respeito de uma abordagem visando a
conversão.
Há certo pessimismo na Real. A hegemonia feminista impregnada no “senso comum”
assusta a quem saiu da matrix. A conversão de uma vadia famosa é vista sob a ótica
negativista. Transparece certo sentimento de “uma vez vadia, sempre vadia” que é o resultado
de levar às últimas conseqüências o conceito de “lado obscuro feminino”34.
Um processo de conversão certamente não é fácil, mas se algo é difícil, significa que
deve ser deixado? Logo na introdução de “Filosofia da Crise”, o filósofo Mario Ferreira dos
Santos assinala:
33
Ponto que vai ser aprofundado no próximo capítulo.
34
O “lado obscuro feminino” é um ótimo conceito para fins didáticos, mas não deve sobrepujar o livre-arbítrio,
do contrário cai-se em determinismo.
29
Muito vale refletir este trecho de Mario Ferreira dos Santos. É profundo e possui um
alerta importante: a desesperança e o desespero podem levar à fanatização que procede
daqueles que não crêem, mas procuram crer. Então se encaminha a perigos que resultam na
inversão de valores e a ascensão dos medíocres. Um quadro oposto ao que um conservador
deseja. Além disso, o filósofo faz um alerta que não pode deixar de ser destacado: é preciso
ter muito cuidado para que não nos ofereçam, com o rótulo de concreção, velhas visões
unilaterais, sectárias, geradoras de novas brutalidades, que apenas vão repetir a velha
monódia da brutalidade humana.
O filósofo vem a colaborar com uma crítica à Real que é bastante pertinente: ser um
feminismo com sinal trocado. Há uma mobilização no sentido de usar o conhecimento da Real
para fins de vencer uma guerra usando o conhecimento do inconsciente animalesco do homem
e da mulher. Com a Real, pode agora o homem vencer a barreira onde a vadia lhe tinha na
mão: sexo. O velho sonho de apostar em relacionamentos sérios é, dentro do pessimismo da
Real, convertido no desejo de fazer as mulheres abrir as pernas.
Ao não buscar uma elevação moral, a Real fica naturalmente presa à cultura do
hedonismo que a própria hegemonia feminista ajudou a promover. A teoria da Real alerta o
homem para o famoso jogo do puxa-empurra: a mulher altera seu humor de modo imprevisto
(qual mulher não é bipolar? Pode questionar-se em tom de humor) e isso consegue afetar o
homem de tal maneira que ele se torna um capacho apaixonado. Se o humor não funciona, a
mulher pode usar a variante do sexo. Alternar entre sexo de boa qualidade e censura ao sexo
como forma de controlar o homem.
É um ardil bem interessante que a Real pescou. Vale reforçar ainda que o
condicionamento de estímulos positivos e negativos como forma de controle não é
propriamente algo novo no âmbito da engenharia social. Em “Jardim das Aflições”, Olavo de
Carvalho é categórico quanto a isso:
Quem disse que buscar o prazer e evitar a dor nos liberta do determinismo?
Pavlov dizia exatamente o contrário: o binômio dor-prazer é o comutador que
aciona os reflexos condicionados, por meio dos quais um animal ou um homem
pode ser governado desde fora. O budismo diz a mesma coisa: que só alcança a
liberdade quem se coloca para além da dor e do prazer. Aristóteles o confirma,
35
SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia da Crise. São Paulo: Livraria e Editora Logos, 1959. p. 16-17.
30
Não é interessante observar que a Real consegue êxito em descrever o jogo do “lado
obscuro feminino” e então se armar contra ele, mas tem relativa miopia para perceber que no
âmbito da guerra cultural podem estar sendo vítimas de estratégia similar?
Outra crítica à Real é a transferência de culpa. O conceito de honra da Real certamente
fala sobre o fato do homem arcar com a própria responsabilidade, mas há algo no
comportamento masculino, que é bastante intrigante... Àquela espécie de determinismo sobre
o comportamento feminino parece justificar o estilo de “comer a vadia e jogar fora”. Este é
um dos campos morais onde Nessahan Alita justifica tais comportamentos argumentando que
36
É um princípio do Epicurismo a respeito do movimento livre e indeterminado dos átomos , definido como o
impulso espontâneo de buscar o prazer e fugir da dor.
37
CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições de Epicuro à Ressurreição de César: ensaio sobre o
materialismo e a religião civil. 2 edição. Rio de Janeiro: Topbook, 1998. p. 44.
38
HUXLEY, Aldous. Regresso ao Admirável Mundo Novo. São Paulo: Hemus, 1959.
31
como a vadia busca se relacionar de modo utilitarista, então o homem pode se aproveitar para
passar-lhe a perna. “Olho por olho, dente por dente” que cria uma contradição onde o combate
à promiscuidade feminina é feito mediante o ato de nutrir a promiscuidade feminina. O
homem solteiro transformado no cafajeste, o pólo invertido da vadia. Combatendo fogo com
fogo, encarna-se, literalmente, a guerra dos sexos. A segregação que Mario Ferreira dos
Santos identificou como crisis.
Além disso, a justificativa “moral” de Nessahan Alita é influenciada em um princípio
gnóstico de culpar terceiros. O determinismo pessimista da Real leva a „inevitabilidade‟ da
vadia, fazendo com que errado seja não se aproveitar disso. Aproveitando-se da maré
hedonista promovida pelo feminismo, surfa-se na onda culpando o mar por estar surfando
nela.
Ressalta-se também que o ambiente de relacionamento efêmero e utilitarista é uma
característica de nosso tempo pós-moderno (e a Real não deixa de confirmar este prognóstico
ao descrever a relação vadia-cafajeste). Em “Modernidade Líquida”, o sociólogo Zygmunt
Bauman descreve a características efêmeras e instrumentais da dinâmica pós-moderna, onde o
“querer” é a principal motivação de nosso tempo. O anterior espírito de produtor – seguir
regras e preceitos que agradem ao cliente – transfigurou-se para o espírito de consumidor – a
procura da satisfação em curto prazo. Espírito de consumidor este que é alheio ao pensamento
conservador, cuja prudência prevê analisar as conseqüências em longo prazo.
A grande praga da pós-modernista é o relativismo moral, não pelo simples fato de que
considera que todas as idéias têm mesmo peso e validade, mas porque também censura o
debate moral.
Em tempos de relativismo, a discussão moral é movida para baixo do tapete, é vista –
e este tipo de papo não escapa ao ambiente da Real – como mera “questão religiosa” que
“deve ser respeitada”39. Oras, este tipo de discurso ignora um detalhe deveras importante: a
discussão moral aponta para critérios de verdade que, respeitados, visam objetivamente buscar
o melhor caminho para uma ordem social.
39
Tipo de discurso, diga-se que é exemplo visível de manifestação relativista.
32
Na questão moral, este é mais ou menos o espírito das discussões „realistas‟. Não
podendo, como já foi observado anteriormente, ser chamado de um movimento conservador.
Uma vez que há conservadores na Real e sendo este trabalho dirigido ao público conservador,
devemos rejeitar o espírito pós-moderno e abordar a discussão moral em termos racionais. Em
"Inteligência e verdade", Olavo de Carvalho discorre:
40
ALINKY, Saul. Rules of Radicals: A Pragmatic Primer for Realistic Radicals. New York: Random House,
1971.
41
GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo: Vila
Nova, 1997. p. 34.
33
realista. Agora, numa sociedade onde todos estão se persuadindo uns aos
outros de coisas de que eles mesmos não estão persuadidos, onde todos estão
procurando se enganar, ou onde todos estão procurando ajuda dos outros para
se enganar mais facilmente a si mesmos, todas as discussões versam sobre
fantasmas, as decisões se esvanecem em meros sonhos, as frustrações levam o
povo a um estado de exasperação do qual ele procura fugir mediante novas
fantasias, e assim por diante. Isto acontece no campo religioso, político, moral,
econômico e até no campo científico. Podemos partir para uma outra definição,
e dizer que um país tem uma cultura própria quando ele tem um número
suficiente de pessoas capazes de perceber a verdade por si mesmas, e que não
precisam ser persuadidas por ninguém. Estas pessoas funcionam como uma
espécie de fiscais da inteligência42 coletiva. Em nosso país o número de pessoas
assim é escandalosamente reduzido. As pessoas encarregadas de perceber a
verdade por si mesmas devem ter uma inteligência treinada para isto, devem ter
uma inteligência dócil à verdade e ser as primeiras a perceber e compreender o
que se passa. Isto é que constitui uma inteligência nacional, uma
intelectualidade nacional. A intelectualidade autêntica não é constituída
necessariamente pelas pessoas que exercem profissões ligadas à cultura ou à
inteligência, mas sim pelas pessoas que, exercendo ou não essas profissões,
realizam as ações correspondentes a elas. Não é preciso ir muito longe para
dizer que a sorte global de um país depende de que haja uma camada de
pessoas assim, para poder, nos momentos de dificuldade, dar esta contribuição
modesta que é simplesmente dizer a verdade. No Brasil temos um número
assombroso de pessoas que trabalham em atividades culturais, escritores,
professores, artistas, em geral subvencionados pelo governo, mas que nem de
longe pensam em cumprir as obrigações elementares da vida intelectual; tudo o
que fazem é apoiar-se uns aos outros num discurso coletivo, reafirmar as
mesmas crenças de origem puramente egoista e subjetivista, expressar desejos e
preconceitos coletivos e pessoais, promover a moda. Essas pessoas vivem
reclamando de que neste país há poucas verbas para a cultura. Mas, para fazer
isso que elas chamam de cultura, já recebem muito mais dinheiro do que
merecem. Os cineastas, diretores de teatro, etc., constituem uma casta
privilegiada, que é estipendiada pelo governo para exibir em público emoções
baratas, afetar indignação e posar como "pessoas maravilhosas" em
apartamentos da av. Vieira Souto.43
Sendo assim, a discussão moral não pode ser construída em torno da enganação; mas
da verdade. Além disso, é sensato que se aborde os interesses mais urgentes da sociedade.
Dado tais pressupostos, a temática da Real certamente é relevante, pois retrata a dinâmica dos
relacionamentos amorosos. Além disso, o movimento visa fazer um contraponto político e
cultural. Discutiremos então aquilo que hoje é um tabu invertido em nossa sociedade pós-
moderna: a sexualidade. Como este trabalho não é direcionado a esquerdistas ou pessoas
incorporadas do espírito relativista pós-moderno, recordamos que não há receio quanto a
rótulos do tipo “careta”, “retrógrado”, “fanático”, etc.
42
Definição de inteligência: a potência de conhecer a verdade por qualquer meio que seja.
43
CARVALHO, Olavo de. Inteligência e verdade. Apostilas do Seminário de Filosofia. 1994. Disponível em
http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/intver.htm
34
Façamos aqui uma abordagem moral do sexo. Em um dos debates entre conservadores
e „realistas‟, alguém desta perguntou: “o que tem de mal no sexo?”. Ótima pergunta. Ela é
simples, mas exige uma resposta não tão simples. Lá vamos nós.
De qual tipo de sexo estamos falando? A começar, devemos enumerar dois tipos de
sexo, classificando-os quanto ao seu fim. Então, vamos dividi-lo em sexo que visa à
procriação e sexo que visa o prazer. Façamos isso pela constatação óbvia de que o ato sexual
pode gerar filhos (reprodução) e que o prazer é gerado pelo orgasmo. Pode haver uma sagaz
observação: há orgasmo no sexo que daqui a nove meses colocará mais um ser humano no
mundo. Justo, então esclarecemos que o sexo por prazer não tem a intenção gerar filhos. É o
sexo que visa sensação orgásmica com explícito não interesse de ter filho.
44
Idem
35
Eis a chave para se entender tudo que está acontecendo nos dias de hoje. Além
disso, o novo regime "administrado" teve como seu maior e mais decisivo feito a
aniquilação do pai de família. Se alguém duvida do impacto dessa revelação,
considere a estatística de 2010 do CDC dizendo que 40.8% de todos os
nascimentos provém de mulheres solteiras.
Meus colegas libertários podem perguntar porque nascimentos fora do
casamento estão relacionados com a destruição do capitalismo. A resposta é
simples. O Estado de bem-estar social alimentou essa catástrofe social da
orfandade paterna. Por conta de o pai não ser mais necessário e o novo regime
prometer dar apoio a todos que passarem por necessidades, a sociedade se
transformou e o espírito da época já não é mais capitalista. Ele é agora
estadista.
E agora, ao invés de milhões de pais tomando conta dos seus filhos e esposas,
temos o governo no lugar. Isso é verdade pelo menos em princípio, pois em
última análise pode se dizer que todas mulheres têm um verdadeiro e firme
esposo. Esse esposo é o Estado.
O capitalismo é um sistema de propriedades, e a paternidade é a fonte
permanente da propriedade. Isso está melhor exposto na sábia obra de Stephen
36
Receio não conhecer o histórico de sua família, mas enquanto cresce, você
descobrirá que esta é, na verdade, uma sociedade familiar e não uma sociedade
individualista. Nós costumamos falar sobre uma sociedade individualista, mas
na verdade não é. É uma sociedade familiar. E os maiores incentivos de todos,
os incentivos que realmente tem motivado as pessoas são os de se criar uma
família; de estabelecer uma família em um sistema decente. Qual é o resultado
de se ter 100% de imposto sobre herança? 100% de imposto iria estimular as
pessoas a dissipar suas riquezas em uma vida de excessos. E qual é o problema
disso?! O problema disso é que: de onde advém as fábricas? De onde vem as
máquinas? De onde vem o capital para investimento? De onde você consegue o
incentivo para desenvolver tecnologias, se o que você está fazendo é estabelecer
uma sociedade na qual os incentivos para as pessoa - se por acidente elas
acumularem alguma riqueza - levam-nas a desperdiçar tudo em entretenimento
fútil? Quer saber, o fato é que é impressionante que as pessoas não percebem a
dimensão a qual o sistema de mercado tem encorajado e possibilitado às
pessoas trabalharem duro e se sacrificarem - o que eu devo confessar que
frequentemente considero uma ação irracional - em benefício de seus filhos. (...)
Lá estão nossos pais que têm todos os motivos para acreditar que seus filhos
45
NYQUIST, Jeffrey. Espírito de Época. Mídia sem Máscara, 17/04/2013. Disponível em
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/14049-espirito-de-epoca.html
46
PERNOUD, Régine. Luz da Idade Média.
37
terão uma renda maior do que eles jamais tiveram, apertando e poupando para
deixar algo para seus filhos.47
47
Milton Friedman - Redistribuição de Riquezas. Portal Libertarianismo, Youtube. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=g-zgxrO4kWg
48
Dr. LEDICE de Prof. PLUM. Os princípios que regem a interação social. Manhood Academy. Disponível
em http://manhood101br.blogspot.com.br/
49
SPIRIT. Conversa com mulher planejando largar o marido. Manhood Academy Brasil, 22/03/2013.
Disponível em http://manhood101br.blogspot.com.br/2013/03/mulher-desapontada.html
38
Uma vez que o hedonismo e o materialismo são utilitaristas, a castidade não deixa de
ser um parâmetro, embora não infalível50, de fidelidade. Não sendo apenas uma “mera
questão religiosa”, o sexo restrito a vida conjugal do casamento é, moralmente, o melhor
modelo social. A melhoria social, portanto, deveria passar pelo incentivo aos valores
tradicionais (castidade e casamento). Infelizmente, o que vemos hoje é o desdém (defender
esse tipo de coisa em pleno século XXI), ridicularização (virjão, vai pegar mulher, huehue BR
BR) e/ou relativização (isso é a sua opinião ou isso é coisa de religião).
Quer dizer que só pode fazer sexo se for com a intenção de ter filho?
Não. Seria um puritanismo besta afirmar isso. O que foi exposto é que o sexo
procriativo é moralmente superior ao sexo masturbativo, não obstante, a sociedade pós-
moderna age de modo contrário.
Neste aspecto, vale a observação sensata que, uma vez escolhida a mãe de seus futuros
filhos (em comum acordo com a mesma, claro), o sexo (reprodutivo ou por prazer) seja feito
em compromisso de fidelidade. Este é o modo mais prudente e ordeiro de lidar com a questão
do sexo. O que não significa, diga-se, que seja fácil.
Nos tempos de hoje, o casamento não dura. Então não faz sentido a castidade.
50
Quais são as motivações da castidade? Seriam os homens e mulheres virgens de nosso tempo castos por
motivos de consciência moral? Falta de oportunidade, narcisismo religioso, medo, entre outros, seriam
motivações “de risco”.
51
Pode vir a ser atualizado em edições futuras.
39
superior ao come-come. A gasolina, embora líquida, em contato com o fogo não vai apagá-lo.
A respeito deste tipo de pessimismo, já foram feitas considerações neste trabalho.
Nunca houve na história uma época em que a coisa funcionou de modo perfeito.
Sempre houve putaria. A prostituta é a profissão mais antiga do mundo, por
quê? Este é um discurso que se volta a um idealismo romântico.
52
Os cristãos apontam para uma única exceção na história: Jesus Cristo.
40
Sempre houve mulher vadia na história, mas elas eram mal vistas. O que o feminismo
está fazendo é inverter isso como que parodiando as ovelhas de “A Revolução dos Bichos”55:
mulher conservadora ruim; periguete bom56. De maneira análoga, parte da Real faz isso em
relação ao sexo. Onde o estilo sexo-sexo é incentivado. O nome disso é inversão de valores,
justamente porque se troca a virtude pelo vício e vice-versa. É o estupro da consciência moral.
53
A engenharia da dissonância será melhor elucidada no próximo capítulo.
54
CARVALHO, Olavo de. A demolição das consciências. In: O mínimo que você precisa saber para não ser
um idiota. Organização de Felipe Moura Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2013. p. 177-179.
55
ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Globo, 2000.
56
O comentário que diz que antigamente era possível diferenciar bem a prostituta da mulher e que hoje não dá
para saber mais quem é quem é uma crítica válida aos nossos tempos.
41
Não. Tal atitude não só seria impossível, como autoritária e imoral. A discussão foi de
ordem moral. Fizemos um raciocínio simples em que se concluiu que castidade e família são
valores morais superiores a respeito da conduta sexual. O que o leitor fará com tal informação
não é da nossa conta.
Em um True Outspeak, Olavo de Carvalho comentou que o pecado de ordem
particular sempre existiu e sempre vai existir. Isso era problema da pessoa e não afetava a
sociedade. O perigo do espírito revolucionário, contudo, está em transformar seus pecados
particulares em condutas públicas e desejáveis. É o convite para o caos social.
57
KREEFT, Peter. Maquiavel: a nova "moral" do poder. Quadrante. Disponível em
http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp?id=125&cat=9
58
A não ser que admitisse estar errado em sua conduta, aí seria um surpreendente caso de cafajeste sincero.
42
Eu acho que se a pessoa está solteira, ela tem o direito de fazer sexo com quem
quiser (se for consensual, logicamente), mas se começar a namorar, aí tem que
encarar a coisa com seriedade.
O sexo é feito entre duas pessoas59. Se há um homem solteiro, deve haver uma mulher
solteira para concretizar tal filosofia. Tem-se, então, a cultura da vadiagem com o pretexto de
estar solteiro. Os valores de castidade e família permaneceriam superiores. Além disso, este
enunciado não deixa de ser a síntese do pensamento da sociedade atual, resultado da mistura
do hedonismo com moralidade ocidental decadente. O pessimismo da Real quanto ao assunto
traduz bem o resultado prático desse tipo de filosofia.
Esta análise esteve menos preocupada em condutas particulares do que em uma
cultura que visa subverter os valores morais, anestesiando a consciência para distinção de
verdade-mentira e/ou certo/errado. Sabemos que o “viveram felizes para sempre” dos contos
de fadas não condiz com a dura realidade do dia-dia, contudo, os contos de fadas não deixam
de ser importante para educar as crianças para os melhores valores. É como dizia Chesterton:
Contos de fada não dizem às crianças que dragões existem. Crianças já sabem que dragões
existem. Contos de fada dizem às crianças que dragões podem ser mortos. Em suma, os
contos de fadas já são um preparar da consciência. Isso é bem explicado no Vlogoteca 08,
onde Marcela Andrade faz um resumo do livro "Dez maneiras de destruir a imaginação do seu
filho". Um dos métodos para destruir a imaginação das crianças está justamente em substituir
contos de fadas por clichês políticos e modas:
59
Combinações numéricas mais bizarras estão sendo desconsideradas.
60
O que casa perfeitamente com o conceito de “Escola Unitária” do comunista Antônio Gramsci.
61
Vlogoteca 08 - Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho. Ana Caroline Campagnolo Bellei,
Youtube. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=QFHebzylifE [8:14 - 9:10]
43
Divagamos um pouco, mas a complementação sobre os contos de fadas mostra até que
ponto o empenho que visa a distorção da moralidade pode chegar.
99% das mulheres são vadias. Está querendo que eu case com uma vadia?
O amor está no ar. Infelizmente não. A famosa frase “eu te amo” é ótima para
bilheteria em cinemas ou para drama de novelas, mas em nossos tempos chega a valer tanto
quanto nota de três reais. No Facebook, houve um banner que traduzia bem a realidade
moderna. Uma garota que em uma semana já havia “amado para sempre” três pessoas
diferentes (Figura 3). Por que tantos amores para sempre não vingam?
44
62
Amor e Paixão. Destrave Canção Nova, Youtube. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=lcwCSHYLNJc
45
importante farsa. A venda de paixão por amor é denunciada. Permanece, contudo, a seguinte
problemática: o que é o Amor (a maiúsculo)?
No artigo “Amor, casamento, divórcio”, Gustavo Corção atribui o fracasso dos
casamentos principalmente à imaturidade, ao despreparo:
63
CORÇÃO, Gustavo. Amor, casamento, divórcio. Permanência. Disponível em
http://permanencia.org.br/drupal/node/52
64
Idem
46
65
Idem
47
66
HUNTER, James C. O Monge e o Executivo: Uma história sobre a Essência da Liderança. 18. ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2004.
67
O feminismo cria uma confusão proposital ao interpretar submissão como sinônimo de opressão.
48
Os jovens sempre têm razão porque são jovens, e com isso se destrói a própria
possibilidade da juventude, que é se enganar e pedir desculpas pela falta de
experiência da vida. De Nelson para cá a situação só piorou. Psicólogos,
sociólogos, filósofos, pais e mães, padres, todos temem o jovem. Justificam-no
em sua ignorância normal de jovem. Mães que querem aprender com suas
filhas, deixando estas ao sabor do desespero do envelhecimento. Toda mãe que
quer parecer a filha mata o futuro da filha, mostra que ela será uma ridícula
como a mãe o é agora.
O discurso da morte da família é o discurso da morte da juventude. A invenção
do direito de ser jovem inaugura o direito da imaturidade como lei no mundo. A
única possibilidade de alguém ser jovem é que alguém o diga que está errado,
que nada sabe. Por isso, Nelson repete várias vezes que, quando indagado
sobre o que teria a dizer aos mais jovens, ele dizia: ―envelheçam‖. Mas quando
envelhecer é apodrecer (como em nossa época, em que todos querem ser jovens
para sempre), não há futuro para os mais jovens. A criação do ―jovem‖ como
conceito revolucionário é a pior coisa que aconteceu para os mais jovens.68
Neste mesmo livro, há ainda um apelo que reflete bem o principal teor da crítica que é
dirigido pelos conservadores a Real:
Por falar em Nelson Rodrigues, aproveitando para fazer um gancho com a discussão
moral anterior, escreveu na crônica “Ser para sempre fiel”:
68
PONDÉ, Luiz Felipe. O Jovem. In: A filosofia da adúltera: ensaios selvagens. São Paulo: Leya, 2013. p. 51-
52.
69
PONDÉ, Luiz Felipe. O desinteresse pelas mulheres. In: A filosofia da adúltera: ensaios selvagens. São
Paulo: Leya, 2013. p. 75-76.
49
70
RODRIGUES, Nelson. Ser para sempre fiel. In: RODRIGUES, Nelson; CASTRO, Ruy (coord.). O Óbvio
Ululante: primeiras confissões (crônicas). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 75.
71
RODRIGUES, Nelson. A Última “Mulher Fatal”. In: RODRIGUES, Nelson; CASTRO, Ruy (coord.). O
Óbvio Ululante: primeiras confissões (crônicas). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 78.
50
De acordo com os psicólogos sociais, a transformação não pode ocorrer sem que
antes sejam cumpridas as duas primeiras fases dos fatos e sentimentos, sem o que
o terreno comum não pode ser encontrado. Com o terreno comum, ou o consenso,
os psicólogos sociais procuram resolver a dicotomia de crença/ação que vêem na
vida. Essa dicotomia ocorre quando declaramos que acreditamos em uma coisa e
agimos de modo diferente. Nossos fatos e sentimentos nem sempre estão em
harmonia. Mesmo que digamos que certa regra "é" correta, isso não significa que
não podemos achar que "isto deveria ser" diferente. Todos temos nos comportado
de acordo com nossos sentimentos, indo atrás do que convém, em vez do que
sabemos ser o certo. No que se refere às leis de Deus, esse comportamento é
conhecido como pecado (Dean Gotcher).
Quem já se aventurou a debater com esquerdistas, percebeu que eles não possuem
capacidade de formar silogismos. Não possuem capacidade lógica. Costumamos subestimá-
los, catalogando-os como burros, quando está justamente no contraditório o segredo do
progresso do movimento revolucionário. Podemos vencer o debate, mas não levamos:
72
CARVALHO, Olavo de. A lógica da destruição. Diário do Comércio, 06/08/2007. Disponível em
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070806dc.html
73
Idem
52
74
BERNARDIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo: ou o ministério da reforma psicológica. Campinas: CEDET,
2013. p. 23-24.
53
Cultural. Para este fim, faremos uso do livro de Dean Gotcher intitulado “Dialética Hegeliana
e Práxis: Diaprax e o Fim dos Tempos”75.
A dialética hegeliana está sistematizada na tese (idéia inicial), antítese (idéia oposta)
que do confronto resulta na (síntese):
O pensamento coletivista, por exemplo, é moldado pela confrontação da tese eu, com
a antítese não-eu, induzindo a resolução para a síntese nós. Isso também ajuda a entender o
porquê dos coletivistas possuírem aquele característico espírito de bando em que muito bem
o Lobão assinala com a frase “frouxos unidos jamais serão vencidos”:
Sentado em uma sala com outras pessoas, você pode classificar a si próprio,
primeira pessoa, ou "eu", como TESE, as outras pessoas, não primeiras
pessoas, ou "não eu", como ANTÍTESE, e o que todos possuem em comum,
inclusive você, primeira pessoa e não primeira pessoa "nós", como SÍNTESE.
Portanto, TESE é aquilo que você acredita ser verdade para si mesmo;
ANTÍTESE é o que todos acreditam ser verdade para eles próprios; e SÍNTESE
é o que você e outros podem racionalmente vir a concordar ser verdade para
todos. É assim que os socialistas ou marxistas criaram seu lema e agenda de
"Um por todos e todos por um", em que a verdade individual é relativa às
necessidades sociais dos muitos e a verdade dos muitos deve considerar as
necessidades pessoais dos poucos, ou de um só. Neste ciclo dialético, tudo é
relativo, mutável e harmoniosamente desviante. Isso é o que os psicólogos
sociais chamam de ‗heurística‘, a palavra deles para mudança.
Por exemplo, enquanto você está sentado em uma sala com sua mente
raciocinando sobre suas próprias preocupações pessoais (TESE — "minhas
preocupações'), os outros estão na mesma sala com suas mentes, raciocinando
sobre suas próprias necessidades particulares. (ANTÍTESE — "as preocupações
deles" ou "preocupações que não são minhas"). Portanto, para que todas as
75
GOTCHER, Dean. Dialética Hegeliana e Práxis: Diaprax e o Fim dos Tempos, 1996. Disponível em
http://www.espada.eti.br/diaprax.asp
76
Idem.
54
77
Idem.
78
Idem.
55
Parece haver uma correlação entre os significados dos fatos, o quanto a pessoa
acredita ou se fundamenta em fatos, e sua posição dentro do processo. Na
medida em que alguém se afasta de sua posição original, em que os fatos são
absolutos (fé), em direção à outra extremidade do espectro, os fatos tornam-se
relativos. Na medida em que o processo leva uma pessoa de sua 1) posição
original, em que os fatos são mais importantes, TESE/tese, a uma condição
em que ela 2) sente ressentimento em relação a eles, uma vez que eles se
interpõem à sua aceitação e às suas novas amizades, ANTÍTESE/antítese,
ao ponto em que ela é 3) capaz de justificar a mudança deles, por meio
da "capacidade de raciocínio"79, quando eles não se ajustam ou não
ajudam a melhorar os relacionamentos humanos, SÍNTESE/síntese, os fatos
tornam-se triviais. Qualquer um nesta fase de transformacionalismo vê a
pessoa que defende sua posição com fatos, o tradicionalista, como ignorante,
tacanho, irracional, ofensivo, ou cheio de ódio, dependendo de sua persistência
no uso dos fatos.80
Dutcher ainda sistematiza três fases, cada qual com seu conjunto de tese, antítese e
síntese. No primeiro conjunto, o facilitador promove o questionamento dos valores
tradicionais, condicionando o grupo de pessoas a, pelo menos, “abrir a mente”. No segundo
conjunto dialético, chamado por Dutcher de „controle do clima‟, o facilitador conduz o grupo
a questionar os valores estabelecidos, as antigas regras e/ ou as antigas autoridades buscando
estipular um consenso onde, por força da “coesão de grupo”, os valores antigos são rejeitados.
Por último, no terceiro conjunto, a pessoa adere ao automatismo e busca ajudar as pessoas
“menos esclarecidas”. Transformam-se, então, nos propagadores da “nova mensagem”.
Pode parecer que estamos divagando, mas a sistematização da dialética hegeliana é
importante para entender em linhas gerais como funciona o processo de mudança de valores,
de modo a elucidar o mecanismo da engenharia social do Marxismo Cultural. Trataremos
então da Real, fazendo um paralelo com o socialismo.
Façamos então árvores gerais em relação à Diaprax:
Tese: Conhecimento
Antítese: Sentimento
Síntese: Relativismo
Práxis: Consenso de grupo
Resultado: Mudança de valores (propagação do materialismo)
79
Em linguajar da Real, conforme já comentado, podemos chamar de Hamster da Racionalização. Esta figura de
linguagem pretende descreve o raciocínio por absurdo que muitas vezes são feitos para que se fuja de arcar com
a realidade.
80
GOTCHER, Dean. Dialética Hegeliana e Práxis: Diaprax e o Fim dos Tempos, 1996. Disponível em
http://www.espada.eti.br/diaprax.asp
56
É mais ou menos em um quadro deste tipo que se encontra a nossa geração. Os valores
tradicionais simplesmente foram abandonados da mídia de massa em benefício da idolatria do
jovem libertino. Diante deste cenário cultural, a mera tentativa de discutir elevados valores
morais será entreposto pelo discurso relativista (“hoje os tempos são outros”) ou
ridicularizado por rótulos pejorativos (“retrógrado”, “careta”). O fato do virgem, atualmente,
estar relacionado ao fracasso, torna nítido o avanço da agenda da libertina.
Quando a agenda revolucionária obtém sucesso em modificar o “senso comum”, a
origem, causas e discussões anteriores ao fenômeno são destinadas ao esquecimento. As
novas crenças que foram inoculadas são falsamente creditadas a um mero processo de
evolução que ocorreu naturalmente e os discordantes são vistos como “ultrapassados”.
Muito do discurso da Real advém da importância dada ao sexo em um relacionamento.
O ressentimento é que o cafajeste recebe sexo de qualidade, enquanto os homens tidos como
inferiores pela mulher, o sexo é feito de forma escalonada ou mesmo extinguido.
Da confrontação entre Real (tese) e feminismo (antítese), permanece a mudança
cultural anterior (hedonismo). Não se pode omitir que na Real há um claro apelo contra a
infidelidade uma vez que se esteja em um relacionamento sério. É uma situação da qual já foi
apontada anteriormente. Façamos então a sistematização:
o Antítese: Por mais que eu seja “um cara legal”, as mulheres por quem eu me
apaixono me abandonam. Elas procuram se relacionar com aqueles que não
dão o valor que ela merece.
o Síntese: Há algo de errado, as coisas não funcionam como me ensinaram.
Fase 2: Descobrindo a Real
o Tese: Por mais que as mulheres digam que “homem não presta”, elas se atraem
pelos piores.
o Antítese: Mudei de postura, foquei no desenvolvimento pessoal e hoje mulher
não é mais problema.
o Síntese: A Real funciona.
Fase 3: "Libertação"
o Tese: Agradecimento a Real
o Antítese: Precisamos divulgar mais a Real
o Síntese: O problema da sociedade é que está cheio de manginas, o feminismo
precisa ser denunciado e os valores masculinos resgatados.
O roteiro descrito acima é mais ou menos o panorama geral dos integrantes da Real. O
feminismo é, de fato, confrontado, mas o veneno libertino permanece. Deste modo, a Real
pode ser catalogada como detentora de um espírito semi-contrarevolucionário, que vai se
levando lentamente pela marcha revolucionária, embora mantenha alguns princípios básicos
inalterados. Plínio Corrêa de Oliveira explica:
alcance, que morrerá com o indivíduo, e que, se se der num grupo social, cedo
ou tarde, pela violência ou pela persuasão, em uma geração ou algumas, a
Revolução em seu curso inexorável desmantelará.
* c. O ―semicontra-revolucionário‖: diferencia-se do anterior apenas pelo fato
de que nele o processo de ―coagulação‖ foi mais enérgico, e remontou até a
zona dos princípios básicos. De alguns princípios, já se vê, e não de todos. Nele
a reação contra a Revolução é mais pertinaz, mais viva. Constitui um obstáculo
que não é só de inércia. Sua conversão a uma posição inteiramente contra-
revolucionária é mais fácil, pelo menos em tese. Um excesso qualquer da
Revolução pode determinar nele uma transformação cabal, uma cristalização
de todas as tendências boas, numa atitude de firmeza inabalável (...).82
Sendo a Real um ambiente que abriga conservadores e cristãos, a livre defesa da Real
sem as devidas ponderações parece um ato imprudente. Se há o interesse de combate ao
Marxismo Cultural, isto é, o espírito revolucionário, uma defesa da Real pela Real é um ato
menos conservador do que “progressista”:
Resgatemos, pois, a prudência. Até que ponto a Real deve ser defendida. Até que
ponta ela é efetiva ao que tange o combate contra o Marxismo Cultural?
Uma vez apresentado toda a fundamentação anterior, vamos deixar evidente a grande
ironia. Infelizmente, a Real não é uma resistência contra aquilo que alega lutar. A propaganda
pode ser seu tom nobre e esclarecedor, mas suas ações e discussões práticas mostram que os
fins abordados estão em concordância com o inimigo declarado.
82
OLIVEIRA, Plinio Corrêa. Revolução e Contra-Revolução. 4. Ed. São Paulo: Artpress, 1998. p. 13.
83
OLIVEIRA, Plinio Corrêa. Revolução e Contra-Revolução. 4. Ed. São Paulo: Artpress, 1998. p. 33.
60
A Real declara que combate o feminismo. Culpam, com razão, a perversão moral e
social que tais movimentos causaram e estão causando na sociedade. É necessário, contudo,
levantar uma importante questão: quão distante está a Real de determinados fins feministas?
É recomendado a leitura de um Best seller chamado “A Cama na Varanda”84, escrito
pela feminista Regina Navarro Lins. É um livro longo, cheio de fraude histórica e opiniões
macabras, mas que em um ponto acerta em cheio: o problema dos relacionamentos modernos
está no individualismo (no sentido de egoísmo). Lins ainda estipula que a duração de quatro
anos para os casamentos é decorrente ao fim do efeito da paixão.
No desenvolvimento do livro, contudo, a feminista inverte o efeito pela causa e culpa
os valores religiosos e a monogamia pela frustração moderna. Usando de meia-verdade,
afirma que os homens e as mulheres modernos são individualistas (egoístas) e que por isso
não se ajustam aos velhos valores tradicionais. Exame de consciência para resgatar os valores
seria a solução? Nada disso. Pior para os valores tradicionais. Colocando gasolina no fogo,
argumenta que sociedade é outra e então a velha idéia de relacionamento monogâmico deve
ser questionada e o conceito de família deve ser modificado.
O menino dos olhos de ouro de Regina Navarro Lins é o “poliamor”, que consiste em
tolerar a infidelidade do cônjuge. Se grande parte dos relacionamentos acaba por causa de
traição, tire-se a condenação moral do adultério. O argumento em pró do “poliamor” consiste
em dizer que há diversos tipos de “amor”, então se a mulher ama seu marido, mas sente
atração sexual pelo vizinho, não há problema em pular a cerca, já que o
namorado/noivo/marido ainda terá o amor da mulher. A recíproca, homem brincar com a
vizinha, é válida. Para tornar o ponto “irrefutável”, Lins aponta para o crescimento das casas
de swing.
Enfim, com o pretexto de salvar relacionamentos, de forma não tão sutil, o “poliamor”
simplesmente colocaria fim da família tradicional. Um detalhe tácito é que esta abordagem
“romântica” está baseada na já mencionada idolatria do jovem: a promessa de um
relacionamento sério, mas com passe livre para fazer sexo com terceiros. A possibilidade de
estar em um relacionamento sério, mas podendo ser eternamente um solteiro libertino. É o
hedonismo passando como um trator em cima da moralidade judaico-cristã.
84
LINS, Regina Navarro. A Cama na Varanda: arejando nossas idéias a respeito de amor e sexo. Edição
revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Bestseller, 2007.
61
O que a Real tem a ver com isso? Pode indagar o leitor. Oras, não é interessante
observar que a premissa da Real e de Regina partem de uma mesma constatação
(desmascaramento do mito do amor romântico) e que, embora o desenvolvimento seja
diferente, a “solução” para o problema não está assim tão distante?
Parte da Real adota, por exemplo, o discurso de desincentivo ao casamento. É um
tópico polêmico, há inclusive membros que são casados, pode-se retrucar. Verdade, mas o
fato é que existem os adeptos do marriage striker. Há razão para este tipo de decisão. Os
motivos são: perda de respeito, perda de frequência sexual, perda de amigos, perda de espaço,
pode perder os filhos e dinheiro, perda no tribunal, perda de liberdade e é mais fácil ser
solteiro85. Bom, não apenas confirma o individualismo moderno como também alcançam o
mesmo fim: o fim do casamento tradicional.
Ainda podemos comparar o “poliamor” com a dinâmica do relacionamento aberto.
Não pode ser ocultada da Real o fenômeno conhecido como marmita zone. É o ato do homem
se relacionar com uma vadia com o objetivo de sexo casual, sem compromisso, de modo
eventual. A sutil diferença com o “poliamor” é que a marmita zone deixa seu pretexto mais
claro. Enquanto o “poliamor” tolera a traição sexual aceitando um relacionamento dito sério e
dito “estável” (com o adendo de estuprar o significado de amor), a zona da marmita deixa
claro que se trata de um relacionamento aberto, cuja finalidade é o sexo.
Quando as estratégias convergem com o interesse do inimigo (feminismo), é esperado
que o comichão86 apareça. O paralelo feito com as idéias de uma das feministas mais
influentes do país está estruturado em uma análise da práxis, sendo recomendável também
abordar as bases teóricas da ideologia feminista. Para isso, recorramos ao paper “The Gender
Agenda” de Dale O‟Leary87.
O desmantelamento da família monogâmica favorece o sonho marxista do Estado
como educador. Estratégia oriunda do marxismo clássico (“Origem da Família, Propriedade
Privada e Estado” de Engels):
85
SMITH, Helen. 8 razões pelas quais os homens não se casam mais. Canal do Búfalo, 11/07/2013.
Disponível em http://canal.bufalo.info/2013/07/8-razoes-pelas-quais-os-homens-nao-se-casam-mais/
86
Comichão é o jargão „realista” que aponta para uma intuição de que algo não está certo ou indo bem.
87
O'LEARY, Dale. The Gender Agenda: Redefining Equality. Vital Issue Press, 1997.
62
cultura erotizada, busca-se menos uma mãe para seus filhos do que um belo par de pernas
abertas.
Quando Regina Navarro Lins acusa o individualismo (egoísmo), não está errada. A
malandragem dela está na tentativa de culpar o inocente (típico do feminismo, diga-se). Com
essa mentira, esconde que o individualismo foi, na verdade, promovido, propositadamente,
pela cultura hedonista tão cara aos interesses do feminismo.
que estivessem no poder. Sem se livrar dessa repressão moral burguesa, portanto, não há
como fazer valer a tão sonhada revolução socialista.
Não podemos parar por aí. O que seria analisar uma idéia esquerdista sem o elemento
da inveja? Marcuse também discorda de Freud quanto a abrangência do “principio de
realidade”. Na cabeça do comunista, o burguês não trabalha, seu hobby é ficar maquinando
em como aumentar a exploração contra o pobre coitado do trabalhador. Como o rico lucra em
cima da exploração do pobre, Marcuse afirma que a repressão sexual só age neste, enquanto
aquele pode copular livremente. Livre da repressão sexual, os favorecidos pelo capitalismo
lucram psicologicamente ao preço de manter os trabalhadores alienados. Essa alienação, já
vimos, fomentaria a agressividade que geraria guerra e esta, por sua vez, beneficiaria os ricos.
Enfim, Marcuse é um dos principais promotores da revolução sexual. Poucos sabem
disso, pois, como foi comentado, quanto mais a revolução cultural avança, maior o
esquecimento sobre sua origem. O “faça amor, não faça guerra” é, como mostra a realidade,
uma empulhação. Não vemos mais hippies por aí, a moda não vingou. Não vingou, mas a
contribuição cultural deles permanece. Cumpriram seu papel. Estamos sendo governados,
como bem observa o Pe. Paulo Ricardo, pelos filhos de Woodstock.
A libertação dos instintos sexuais é uma pseudo-ciência marxista. Seja para fomentar a
luta de classe ou demonizar o capitalismo, a libertinagem sexual foi propositadamente
promovida pela revolução cultural marxista. Se existem „realistas‟ que desconhecem ou
desconsideram tal informação, não é certamente papel de um conservador ignorar tal
informação.
65
5 CONCLUSÃO
Do ponto de vista conservador, acreditamos que a Real deva ser encarada como uma
das máximas de São Paulo: analisar tudo e reter o que é bom. Não se pode catalogá-la como
uma simples estupidez, ignorando por completo a teoria 'realista' a respeito dos
relacionamentos modernos (quando o que está presente no mass media é o viés feminista da
mulher ser a vítima social do homem, culminando, em casos mais extremos, mas já em fase
de divulgação, na ideologia do gênero), uma vez que ela pode ser aferida no dia a dia, na mera
observação em barzinhos, baladas e/ou shoppings.
Não apenas isso, a atual juventude de colégio, já com valores afetados pela mistura de
imaturidade, canalhice e doutrinação, oferecem também um ótimo cenário de análise do
fenômeno amoroso pós-moderno. Neste sentido, a Real não apenas confirma que o "bonzinho
só se ferra", como também ajuda explicar por que os destacados e "bullies" conseguem ficar
com as menininhas. A inversão cultural erra propositadamente quando diz que os jovens são
os modelos a serem seguidos, mas isso não indica que eles não devem ser analisados. Trata-se
de uma geração e, queiramos ou não, estarão eles a espalhar os valores a geração seguinte, tal
é o ciclo do decaimento moral. Pais pior que avós, filhos piores que os pais. Neste aspecto,
vale a observação de que a geração no poder são os filhos de Woodstock, isto é, filhos criados
pelas máximas libertinas: sexo, drogas e rock‟n‟roll. Os dois primeiros continuam firmes e
fortes, o último hoje está sendo vencido pelo funk.
A Real, em suma, acerta em seu diagnóstico ao esboçar a dinâmica de um
relacionamento pautado no individualismo egoísta. Esta leitura da realidade pode ser de
grande valor para reconhecer a realidade, ainda mais em um ambiente pós-moderno que,
contaminado pela hegemonia feminista, é modelado por um campo de percepção histérico e
fraudulento.
Dentro de uma guerra cultural, o desmascaramento da visão do oponente é
fundamental. Ao apresentar uma boa leitura dos relacionamentos pós-modernos, a Real
contribui em termos de dados. Por outro lado, seria um tiro no pé usar esses dados em termos
de contribuir com a agenda do inimigo. É esta contribuição, que acreditamos não ser
proposital, que o conservador deve se contrapor.
O ardil feminista é colocar o homem contra a mulher. Fazendo o homem ter vergonha
de ter homem e fazendo a mulher sofrer de egolatria em relação a si. Isso simplesmente mina
a possibilidade de relacionamentos duradouros e desestrutura o importante núcleo da família.
66
É a clássica estratégia de dividir para conquistar. O caminho oposto, então, passa pela união e
respeito mútuo.
A conclusão deste trabalho é que a Real apresenta ferramentas importantes para o
combate ao subversivo marxismo cultural, mas que, infelizmente, observando de modo geral,
não está fazendo bom uso deles.
67
Este trabalho teve como objetivo tecer críticas a Real. Não se limitou a isso, porém.
Na realidade, a Real foi um pretexto. Este trabalho teve antes o objetivo de organizar e
registrar certos pensamentos que vinham ocupando um setor de minhas reflexões, por isso ele
não está fechado, o estudo continua.
Não sei se os conservadores de fora da Real continuarão exagerando na dose da crítica
ou se conservadores de dentro continuarão defendendo a Real apesar dos pesares dentro do
que aqui chamei de “estratégia sabão”. De minha parte, registrei meus pensamentos e
fundamentei minhas opiniões.
Não estou fechado a críticas. Deixo meu contato aberto para que se possa abrir um
canal de diálogo, permitindo que este trabalho e minhas reflexões sejam acrescidos. Meu
email para contato é polaaugusto@gmail.com. Que uma nova edição possa ser feita.
http://institutoshibumi.org/augusto/
68
APÊNDICE I
Se você [caro „realista‟] acha que eu busco [catalogar como forma de tentar dividir a
Real], isso não significa que eu busco. Se você acha que a Real é única, isso não significa, na
realidade, (e isso é tão evidente que até me assusta não querer perceber, embora se perceba)
que ela é aplicada de maneira única. São distinções básicas!
[Foi me perguntado] O que categorizaria a “Real do Lawlyet”? Neste caso, ele tem o
preview de um livro bem interessante e que, confesso, motivou a escrever o meu. Ele tornou
as idéias dele clara, provavelmente seja por isso que usaram esse termo88.
Catalogar por nome é um modo. Poder-se-ia catalogar por ideologia. No meu livro,
dirijo-me aos conservadores, ou seja, aos „realistas‟ conservadores.
Se é verdade que a Real é única, eu estaria caindo em “heresia” ao restringir o público
conservador. Isso é absurdo, pois é confessado que a Real "abriga de tudo", logo posso me
dirigir a um público específico („Realistas‟ cristãos seriam outro exemplo de público
específico dentro da Real).
Para deixar claro. O fato de existir a Real significa - e não está se negando isso - que
as pessoas partem de certas premissas. Contudo, o desenvolvimento paira por caminhos
88
O livro não foi ainda lançado, mas Lawlyet deixou claro que idéia geral dele sobre a Real estaria sintetizada
nos primeiros capítulos (ou seja, o núcleo geral foi ser relevado). Aliás, ele disponibilizou o preview no grupo
liberalismo-conservador justamente para tentar diminuir a “treta” devido a certas discussões sobre a Real que
estavam tendo por lá.
69
diferentes, por aplicações diferentes, tornando, por óbvio, diversificada (este inclusive é o
recurso mais usado para defendê-la quando criticada pelos abusos). Sendo assim, para haver
intenção de divisão, teria que se atacar as premissas. O restante "real do fulano", por exemplo,
são análises mais voltadas ao campo ético-moral – o modo como usar o conhecimento. Uma
vez que, o conhecimento teórico da Real é, em si, amoral.
Sendo assim, essa blindagem da Real ser uma coisa só na hora da propaganda e ela ser
diversificada na hora de lidar com críticas é uma tentativa de querer tapar o sol com a peneira.
Mais atrapalha do que ajuda em relação à oposição conservadora externa à Real.
Não há problema na Real ser diversa, sendo moralmente divergente entre membros,
mas ao se vender como uma coisa só, isso dá munição para colocar tudo num balaio só e
medir, por exemplo, os „guerreiros‟ pelos „juvenas‟. É a consequência de se adotar tal estilo
de divulgação e propaganda.
Para rebater a ironia [que me foi dirigida] de "boa sorte querendo catalogar", eu
respondo de maneira igualmente irônica "boa sorte com a reclamação quanto a críticas, sem
estar disposto a receber crítica quanto a questão de propaganda e da contradição da unidade-
desunida".
É fácil chamar opositores de consermanginas, ignorantes, desonestos, ego-ferido
(atitude, ora essa, que dai sim causa a desonrosa divisão!)... Mais difícil é avaliar como isso
pode ser amortizado (já que a extinção é praticamente impossível). E quando há pistas para o
motivo da comunicação ser difícil, teima-se em achar que o problema está apenas com os
outros.
Eu sou da mesma opinião do Lawlyet, acho que a Real pode ser uma excelente fonte
para levar pessoas ao conservadorismo. Não pense que eu me alegro com a divisão que
ocorre. Mas não tomo partido só de um lado. Existe truculência de ambas as partes.
E há algo implícito que está não está sendo relevado. Um conservador se preocupa
menos com o fim do que com os meios. Sendo a Real carregada de certo conhecimentos que
são comuns a todos, os meios empregados, dado a diversidade de membros, são diferentes e
podem [de preferência devem] ser alvos de críticas. Querer blindar essas críticas alegando que
"é uma coisa só" é trocar a preocupação conservadora, invertendo o fim (intenção) pelos
meios (como obter determinado fim).
Expandir a unidade da teoria [„realista‟] para o campo da ação (sendo que o campo de
ação não é unido, justamente porque cada membro é livre usar a teoria da maneira que quiser)
não é apenas um tiro no pé da própria Real, como é fonte de divisão dentro do meio
conservador (que medem a Real pelos juvenas). A truculência recíproca não é ao acaso.
70
Como essa crise pode ser amenizada? Ah, isso daria um debate bom. Mas adianto,
permanecer nessa censura sutil de "um por todos e todos por um" não resolve o problema,
agrava-o. Ao vender-se como unanimidade e não ponderar que esta unanimidade só é
referente a certas premissas (que é justamente o que faz uma pessoa ser da Real, apesar de
aplicar o conhecimento de modo bastante diferente), isso abre margem para o outro lado aferir
erroneamente a Real.
Optar pelo "foda-se" também não ameniza o impasse, no mínimo o choramingo de
ambas as partes irão continuar.
A situação é, de modo superficial, esta (no livro, foi feita uma análise mais profunda).
A criação deste grupo [de Facebook] e o convite de "consermangina" para tentar o diálogo são
aplaudíveis, mas não vai adiantar se houver insistência em confundir coisas que são simples.
Defender a unidade teórica da Real é uma coisa. Confundir com o modo de como ela é
aplicada é uma discussão de natureza bem diferente...
71
APÊNDICE II
A Prisão da Consciência89
Ontem, no hangout 'A Civilização Ocidental', foi muito bem comentado que o
Marxismo Cultural trava uma briga contra os conceitos. Conceitos estes que são fundamentais
para a estrutura do pensamento, uma vez que - como bem explicaram - o raciocínio passa por
nosso sistema cognitivo, que é imaginativo, que é donde provém nossas idéias90.
Os conceitos são abstrações importantes que usamos para ordenar nossa percepção e
descrição da realidade. De fato, se temos conceitos deturpados, nosso código de leitura é
alterado e nosso modo de pensar e expressar são danificados e, por conseguinte, a descrição
da realidade é trocada por histeria.
Eu arrisco a ir mais fundo. Diria que o Marxismo Cultural trava uma guerra contra a
consciência. Neste prisma, a finalidade é o fim da culpa. Ao louvar o relativismo, não apenas
se perde o senso de proporção, como também se almeja excluir qualquer possibilidade de
culpa.
Parece uma história bonita. Você elimina a culpa individual que, segundo o conceito
marxista de libertação, levaria a uma vida feliz através da busca do mero prazer.
A premissa, contudo, é invalidada por causa da existência de nossa consciência. Por
mais que se diga que a verdade é relativa, por mais que se diga que não existe certo ou errado,
por mais que diga que "gosto não se discute", há não apenas uma hierarquia de valores, como
também a existência da verdade e do certo e errado.
Por mais que se invista em uma hipnose cultural, a consciência continuará existindo. É
intrínseco do ser humano. Resta que o tributo para a ausência de culpa é, então, o confronto
"místico" com a consciência que, naturalmente, não trás bons resultados. Olavo de Carvalho
89
Adaptado de AUGUSTO. A Prisão da Consciência. Blog do Augusto, 11/12/2013. Disponível em
http://institutoshibumi.org/augusto/2013/12/a-prisao-da-consciencia.html
90
Terceiro Hangout de 'A Civilização Ocidental'. Thomas Alex, Youtube, 09/12/2013. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=GgaSc0L-c8k
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replica bastante a lição que aprendeu de um amigo seu psiquiatra: a neurose é originada por
conta de uma mentira.
O Marxismo Cultural, em suma, não apenas promove uma guerra social, mas uma luta
individual. Na página Mulheres Inteligentes91, onde se percebe que são de fato mulheres
inteligentes, há dois textos de Fabina Bernotti que traduzem quão triste pode ser a revogação
da consciência.
No primeiro texto, mais "light", remonta a um episódio que ocorreu com a jornalista
que respondeu a uma feminista nos seguintes termos:
"(...)Bom, já que teve liberdade para me jogar seu discurso, peço licença para
explicar rapidamente o meu. Vejo em tudo quanto é publicação, de revistas,
livros à panfletos, passando por televisão e vídeos no YouTube, ―especialistas‖
que pregam o prazer livre feminino. Encorajam o sexo casual e constante com
qualquer macho que lhe corte a frente como forma de autoconhecimento, de
exercer a liberdade conquistada com a fumaça dos sutiãs. Daí vejo amigas e
colegas se esfregando à noite, para chorar de manhã o seu valor que sente
diminuir por entregar o corpo a quem não quer sua alma. A dividir a cama com
quem não quer dividir a vida, a expor sua intimidade a quem não liga para sua
fragilidade. E uma estudiosa como você vem dizer que isto é mais avançado que
ter sexo sadio e constante com o marido com quem você jurou viver diante de
Deus? (...)"92
O segundo texto, mais dramático, é uma reflexão sobre o episódio da menina libertina
que se suicidou. Este caso foi trazido pela mídia como resultado do vazamento de um vídeo
fazendo sexo que vazou na internet. A realidade é que foi, conforme investigou Bernotti,
resultado de uma profunda depressão. Ter vídeos dela circulando por pessoas era mais
corriqueiro do que a mídia deixou a entender. Detalhe que a investigação nem foi profunda,
bastou ler as mensagens da garota nas redes sociais e declarações de amigas próximas93.
O fato é que a consciência cobra seu preço - cedo ou tarde. E já no desenvolvimento
de uma vida desenfreada, como genialmente discorre Mario Ferreira dos Santos em 'Filosofia
da Crise', nasce o desespero que leva ao fanatismo. Quanto mais a consciência tenta alertar,
mais alto precisa-se gritar para continua o caminho da inversão de valores.
Independente do que se acredita, a consciência sabe discernir. Quando tivemos as
manifestações de junho, vimos todo um povo gritando e protestando na rua. A população
91
Mulheres Inteligentes - http://www.facebook.com/mulher.mulher.inteligente
92
BERTOTTI, Fabiana. Mais sexo, por favor! Fabiana Bertotti - Meu cantinho, 01/10/2013. Disponível em
http://fabianabertotti.com/2013/mais-sexo-por-favor/
93
BERTOTTI, Fabiana. Júlia Rebeca. Fabiana Bertotti - Meu cantinho, 19/11/2013. Disponível em
http://fabianabertotti.com/2013/julia-rebeca/
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sentia que as coisas não iam bem, por mais que carecessem de conhecimento para explicar o
que está errado.
Desesperados, os manifestantes só puderam expressar segundo aquilo que dispunham:
um conjunto de palavras-gatilho da qual somos inundados dia-a-dia. "Mais educação", "mais
saúde", "mais segurança", "mais honestidade"... Fins recheados de nobreza, mas com meios
carentes de preenchimento. Por mais que, ao gigante, falte uma estrutura saudável de
conceitos importantes para organizar idéias como modo de tentar propor alternativas eficazes
para resolver os problemas, lá estava a consciência apontando que algo não está certo. É
mentira que o gigante estivesse dormindo, ele está sofrendo de mal-estar na verdade.
Daí que provém também o ódio irracional aos conservadores. A característica da
mente conservadora, ensinava Russell Kirk, é a ordem do pensamento. O exercício de um
conservador é pensar. Ao contrário dos promotores do Marxismo Cultural, o conservador não
negligencia a voz da consciência.
Se os fanáticos (que surgem do desespero) querem ignorar a existência da culpa, o
conservador deve relembrar da importância da responsabilidade. Se querem promover a
libertinagem, o conservador deve lembrar da existência da ordem moral. Se querem
relativizar, o conservador deve lembrar a existência de critérios universais. Se querem a
igualdade absoluta, o conservador deve lembrar da existência e importância da hierarquia. Se
querem ser impulsivos, o conservador lembra sobre a prudência e racionalidade. Se querem
mergulhar em vícios, o conservador deve apontar para o caminho das virtudes.
Enfim, o conservador deve tentar emular uma consciência dentro de uma sociedade
caótica e desesperada. Por conta do fanatismo histérico que segue junto à campanha pela
promoção da inversão da valores, o papel do conservador será alvo de diferentes fontes de
ódios. Lembrar aquilo que quer ser esquecido, mesmo que seja para o bem, nunca é agradável,
embora seja essencial para a construção de uma sociedade mais harmônica94.
Sendo assim, antes de ser arrogante, o conservador deve buscar a humildade. A
batalha crucial acontece dentro do indivíduo. Se o conservador dá atenção à moralidade, ele
deve ser o primeiro a tentar segui-la. Pode e vai tropeçar incontável vezes, mas deve
continuamente e sinceramente persistir em tentar alcançar as altas virtudes.
Preocupa-me, então, os conservadores arrogantes, pois, como se pode concluir, ele
deveria procurar ser humilde, combativo e construtivo.
94
Aqui pode se tomar como exemplo o freqüente fracasso que é relatado quando pessoas que conhecem a Real
tentam alertar amigos que estão desonrosamente presos na Matrix. Tentando ajudar, passará por malvado,
invejoso, dentre outras repulsas típicas daqueles que preferem uma mentira adocicada a enxergar a azeda
verdade.
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APÊNDICE III
O artigo que vai abaixo foi escrito um dia depois do dia mundial contra a violência.
Um dos objetivos foi expor a hegemonia feminista já impregnada em nossa cultura, ou seja,
acusar todo o ardil cultural que vem prejudicando nossa sociedade. Em minha opinião, de
todas as vertentes da guerra cultura marxista, o feminismo é o que tem obtido maior êxito em
termos da corrupção da mente (conforme pede a estratégia gramscista). Trago este artigo para
este apêndice porque ele passa rapidamente por algumas questões que foram abordadas na
discussão deste livro.