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A complexa Sedução da Matrix

Uma Crítica Conservadora à Real


Escrito por Augusto

Augusto. A complexa sedução da Matrix: uma crítica conservadora à Real. Blog do


Augusto, 2013. Disponível em http://institutoshibumi.org/augusto/2013/12/a-complexa-
seducao-da-matrix-uma-critica-conservadora-a-real.html

Sobre este trabalho:

A Real é um tema controverso no meio conservador. Tratando a Matrix como ilusão, temos na
Real um movimento de homens que alerta para os perigos da Matrix amorosa e da ideologia
feminista. O que há de errado com os relacionamentos modernos? Apresentamos neste
pequeno eBook a teoria realista e analisamos até que ponto ela é precisa na descrição dos
relacionamentos amorosos e útil na guerra cultura.

Diante do emaranhado de mentiras, um conjunto de ilusões a que estamos submetidos,


identificar uma mentira é apenas o primeiro passo. Se uma mentira, contudo, é apenas trocada
por outra, o esforço foi insuficiente. É trocar uma Matrix por outra. Pode até ser o caso de
vencer uma Matrix, mas continuar preso a outra maior. A verdade liberta, mas a falsa
sensação de descobrir a verdade engana.

Como lidar diante de um novo panorama amoroso? De repente começamos a ver e - dando
tapa na cara em si próprio - indagar: "como eu não percebi isso antes? Era tão óbvio". Imerso
em um ambiente de confusão, infelizmente, não é difícil acontecer de trocar um caminho
errado por outro.

Se é verdade que a Real tem uma teoria que consegue fazer uma boa leitura dos
relacionamentos amorosos modernos e um discurso de desmascaramento do feminismo, até
que ponto este conhecimento está sendo usado de modo a beneficiar o homem na luta contra o
feminismo? Adentrando na polêmica, tentamos responder essa importante pergunta.

Palavras Chave:

Real, conservadores, moral, feminismo, relativismo, dialética hegeliana


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................. 4
1 PROPAGA-SE UM MOVIMENTO QUE DIVIDE OPINIÃO ENTRE CONSERVADORES ......... 7
1.1 A DIFICULDADE DE TECER CRÍTICAS À REAL ...................................................................................... 8
1.2 CONTORNANDO A DIFICULDADE ............................................................................................................. 9
2 RESUMO DA REAL ............................................................................................................................... 13
3 O ORGULHO DA REAL ........................................................................................................................ 21
3.1 POR QUE A TEORIA DA REAL FUNCIONA ............................................................................................. 24
3.2 MOTIVAÇÕES E EXAGEROS ..................................................................................................................... 26
3.3 NECESSIDADE DA DISCUSSÃO MORAL ................................................................................................. 31
3.4 A QUESTÃO MORAL DO SEXO ................................................................................................................. 34
3.4.1 Possíveis objeções e melhores esclarecimentos ......................................................................................... 38
3.4.2 Acerto de contas com o Amor .................................................................................................................... 43
4 REAL: O RESULTADO DA DIALÉTICA HEGELIANA.................................................................. 50
4.1 A DIALÉTICA HEGELIANA ........................................................................................................................ 50
4.2 DIALÉTICA HEGELIANA + PRÁXIS (DIAPRAX) .................................................................................... 54
4.2.1 Estruturando a dissociação cognitiva dentro da Diaprax ....................................................................... 56
4.3 DORMINDO COM O INIMIGO DECLARADO........................................................................................... 59
4.3.1 A sutil colaboração com o feminismo ........................................................................................................ 60
4.3.2 Filhos rebeldes de Hebert Marcuse ........................................................................................................... 63
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 65
6 DISCUSSÃO ABERTA: CONTATO..................................................................................................... 67
APÊNDICE I ............................................................................................................................................... 68
APÊNDICE II ............................................................................................................................................. 71
APÊNDICE III ............................................................................................................................................ 75
4

INTRODUÇÃO

Durante a época do Orkut, rede social que foi engolida pelo sucesso do Facebook,
homens reuniram-se em comunidades para tratar do tema mulher. A partir disso, surgiu um
movimento conhecido como Real, impulsionada, entre outras coisas, pelos livros de Nessahan
Alita, por testemunhos e também inspirados por movimentos masculinistas americanos em
denúncia ao feminismo.
É difícil definir o que seria a Real. Entre os participantes desse movimento, o
significado de pertencer a Real assume valores subjetivos de difícil definição. Objetivamente,
podemos colocar a Real no hall de propaganda anti-feminista de pessoas que, através de livros
e testemunhos, opinam e teorizam acerca da dinâmica dos relacionamentos.
Quem estuda a ideologia do feminismo pode ter o conhecimento geral de que o
feminismo investe em uma luta de classes do homem contra a mulher com a intenção de
dividir para conquistar, servindo ao propósito de um projeto de poder político; o efeito prático
do dia a dia que esta ideologia gerou dos relacionamentos, contudo, até mesmo por conta de
um massivo apelo da mídia e demais investimentos culturais, não são tão óbvios à primeira
vista. Neste sentido, a Real intenta realizar leitura crítica do feminismo alertando para
conceitos, idéias e paradigmas propositadamente distorcidos por essa ideologia atualmente
hegemônica, ou seja, já impregnado no “senso comum” das pessoas, e que estão levando o
homem médio à confusão e ao equívoco.
Em geral, o encontro com a Real dá-se quando um homem, desiludido (sacaneado) por
causa de uma paixão amorosa ou por conta da coleção de fracassos no “amor”, está a procura
de respostas. Ao ter encontro com alguma fonte de divulgação „realista‟ (sites, blogs, fóruns,
redes sociais, etc.), identifica o conteúdo propagado com seu drama pessoal, descobrindo seus
erros passados. É quando o homem é convidado a sair da Matrix. Aquilo que aprendera sobre
mulheres e amor, o peso do romantismo e do bom-mocismo tratava-se de uma ilusão. É hora
de mudar seus conceitos, mudar sua filosofia de vida, mudar de paradigma. Desvincular-se do
engano, colocar os pés no chão e encarar a triste realidade em vez de se esconder na doce
ilusão.
A recepção, naturalmente, não é fácil. A verdade, ensinam as grandes religiões e
filosofias, liberta; não é sempre indolor, contudo. Emocionalmente perturbado, o homem
desiludido desenvolve um sentimento de revolta de modo que o conteúdo da aprendido é, em
um primeiro momento, incorporado com uma ferramenta para alcançar vingança, vingança
5

contra as desprezíveis mulheres. Daí que muitos reduzem a Real a um bando de homens
revoltados com mulheres.
No entanto, seria injusto reduzir a Real a definições pejorativas. O conteúdo „realista‟
tem méritos e são fontes de reflexão. Objetivamente falando, a Real, pela sua teoria, consegue
descrever a dinâmica dos relacionamentos modernos. O que o cidadão irá fazer com esse
conhecimento, é a grande fonte de polêmica. Pode ser que a Real, consoante ao jargão
„realista‟, salve vidas. Os membros mais experientes defendem a Real, em grande parte,
porque possuem forte sentimento de gratidão. Foram motivados a mudar seu norte de vida e
vem obtendo êxito em seu desenvolvimento como homem.
Por outro lado, é certo também que há certa propaganda que incomoda o meio
conservador. Os membros da „Real‟, diga-se, são diversos. Pessoas de diferentes credos e
costumes compartilham o espaço „realista‟, que também conta a presença conservadora. Daí a
origem de discussão com atrito entre conservadores de fora e conservadores de dentro da
Real. Este, aliás, é o contexto que motivou este trabalho.
Há no conservador uma veia crítica que não pode morrer. Além disso, o conservador
atenta muito a questão moral dos problemas. A Real, por outro lado, tem na moralidade a
grande fonte de suas polêmicas internas. Abrigando pessoas diferentes, opiniões conflitantes
aparecem e, a fim de manter a unidade, a Real em si não toma “posição oficial”. Pode-se dizer
que a Real é um movimento cuja maioria dos membros é politicamente de direita, mas
certamente não se pode enquadrar como um movimento conservador, mesmo havendo
conservadores em seu meio.
Com conservadores que criticam negativamente e com conservadores que defendem a
Real, este trabalho vai tentar superar preconceitos e expor críticas a Real. No primeiro
capítulo, o modo como a Real é recebida no meio conservador foi abordado. Além disso,
foram feitas considerações que visam suprir o grande problema que surge quando se critica a
Real: sua heterogeneidade. Sendo assim, adianta-se que este é um trabalho de conservador
para conservadores. O restante, se quiser, pode continuar lendo, mas não que não se esqueça
deste importante detalhe.
Uma vez que se objetiva vencer preconceitos, o conteúdo da Real não poderia deixar
de ser abordado. Sendo assim, um resumo do conteúdo da Real com algumas considerações
foi apresentado no segundo capítulo.
A crítica a Real inicia-se no terceiro capítulo. Atenta-se que o ato de criticar aqui não
representa o simples ato de falar mal ou reclamar, mas de exercício do senso crítico. O que foi
6

julgado como positivo, foi elogiado; se negativo, reclamado. A sustentação será


argumentativa, pautada pela honestidade intelectual.
Se o senso crítico está envolvido, temos no quarto capítulo uma investigação do
fenômeno que está por trás de tanta confusão moral acerca da Real. Se no terceiro a crítica foi
voltada ao modo como o conteúdo da Real é encarado, no quarto capítulo, a Real é analisada
sob o âmbito da guerra cultural que ela se esforça em combater.
Por último, em espírito de humildade, foi disponibilizado um canal de diálogo. Um
email onde sugestões, críticas e/ou reclamações podem ser dirigidas. Não estão descartadas
retificações e/ou melhoramentos em edições futuras.
A Real prega, entre outras coisas, o desenvolvimento do homem. O desenvolvimento
passa pela crítica. Além disso, como o próprio nome sugere, a Real quer estar pautada na
realidade. Isso significa que não há interesse em negligenciar a verdade. Sendo assim, menos
do que temer, ela deve desejar o debate, inclusive com seus críticos externos.
Sendo verdade que a Real pode ser uma ferramenta para levar as pessoas ao
conservadorismo, conforme argumentam conservadores „realistas‟, então a discussão moral,
antes de ser evitada, deve ser incentivada. Não está previsto que sejam muitos os leitores, mas
a quem se aventurou em explorar estas anotações, deseja-se que de algum modo o conteúdo
possa servir de contribuição e aprendizado.
7

1 PROPAGA-SE UM MOVIMENTO QUE DIVIDE OPINIÃO ENTRE


CONSERVADORES

É um crítico superficial aquele que não enxerga um eterno rebelde no coração de


um conservador (G. K. Chesterton)

Cresce na internet um movimento intitulado “Real”. A opinião sobre este movimento


é ampla, desde a cega aceitação até a espumosa rejeição. Há presença conservadora no
movimento de modo que vem se tornando freqüentes os atritos ocasionados por opiniões
divergentes sobre este tema no meio de discussão conservadora.
A impressão que é que há basicamente três grupos com opiniões distintas sobre o
movimento da Real no meio conservador1:

 Anti-real: Conservadores que rejeitam a Real por considerarem um


movimento hostil às mulheres composto por moleques carentes e revoltados;
 Críticos da Real: Conservadores que rejeitam a Real por conta do seu
ensinamento moral questionável.
 Guerreiros da Real2: Conservadores que participam da Real, pois vêem nela
um movimento que, apesar da pluralidade de membros, possui muito
ensinamento bom.

Discutiremos a postura desses três tipos classificados mais adiante, ainda neste
capítulo. A observação preliminar é que se trata de uma discussão voltada ao meio
conservador. Também adiantamos que não entraremos no mérito se é conservador de verdade
ou não. A questão é que havendo conservadores dentro e fora da Real, parte-se da premissa de
que o conservador está aberto a críticas e ao aprendizado, uma vez que, dentre os 10
princípios conservadores de Russel Kirk3, encontra-se a prudência4 e a crença em uma ordem

1
É importante fazer a observação de que se trata de uma divisão em tipos ideais (Max Webber). Observa-se na
prática que esses tipos podem se misturar e até mesmo se conflitarem.
2
Há uma espécie de graduação informal dentro da Real, cujo objetivo é chegar a uma espécie graduação que é
chamada no meio como Guerreiro da Real (GDR). Assim, é importante deixar a nota de que é uma coincidência
de nomes, o Guerreiro da Real deste ensaio NÃO tem o mesmo significado interno da Real. Neste trabalho,
refere-se a conservadores que defendem a Real.
3
KIRK, R. Dez princípios conservadores. Tradução de Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior. Fonte:
http://www.kirkcenter.org/kirk/ten-principles.html. Disponível em:
http://participatorio.juventude.gov.br/file/download/19818
4
Prever as conseqüências em longo prazo. Agir após uma reflexão apurada.
8

moral duradoura5. Se o “conservador” não estiver aberto à reflexão e à discussão moral, isto é,
fixar-se em uma polarização e a um relativismo moral, então é correto dizer que não se trata
de um conservador genuíno e, com objetivo de fazê-lo não perder um tempo que talvez seja
precioso, recomendamos que sua leitura não passe desse ponto.

1.1 A DIFICULDADE DE TECER CRÍTICAS À REAL

É difícil uma discussão no Facebook no meio conservador (também ocorre em meios


liberais) não conter um argumento mais ou menos com este conteúdo: a Real é muito plural,
há gente de todo o tipo, não é justo criticá-la por causa de pessoas que não entenderam o que
é a Real.
Esta é a primeira dificuldade em criticar a Real. Esta ponderação dos „realistas‟ é
válida, em partes. A afirmação de que a Real é muito diversificada está correta. Participam da
Real pessoas de diferentes religiões, credos, posições políticas, filosofias de vida, etc. Um
caso emblemático foi o de John Reese. Reese, um bem sucedido homem de negócios, aplicou
– como podemos dizer – os conhecimentos da Real para colocar uma garota de 18 anos que
era virgem e de igreja em um plano sutil de ter sexo por dinheiro. A reação entre os „realistas‟
foi ampla em um espectro que foi desde admiração e aplausos até repulsa e desprezo. Quando
o caso de Reese é trazido à tona como material para criticar a Real, há o desvio de que ele é
de outro setor da Real.
Trouxemos o caso John Reese apenas para ilustrar que de fato a Real é dividida e que,
portanto, parte do que podemos chamar de “estratégia sabão” é aplicável.
Outra dificuldade em discussão é que não está claro sobre o que é a Real. A definição
de tal movimento é subjetiva e cada membro vê de uma forma. Alguns dizem que é sobre
relacionamentos, outros dizem que é sobre o desenvolvimento pessoal, outros que é um
contraponto contra o Marxismo Cultural. Não há clareza. Lawlyet Wallace está escrevendo
um livro provisoriamente intitulado “Filosofia da Real” que tenta justamente suprir esta
dificuldade presente em conflitos internos da Real6. Lemos o preview de 100 páginas que foi

5
A discussão moral será abordada no Capítulo 3.
6
WALLACE, Lawlyet. Filosofia da Real. Preview 04-10-2013.
9

disponibilizado7 e, apesar de mudanças e reformulações a serem feitas, é nítido que se


Lawlyet tenta levar a Real para o conservadorismo.
O fato da Real ser diversificada e maleável não impede que „realistas‟ critiquem
conservadores que se opõe a Real. Os defensores da Real apontam o dedo para os outros, mas
quando é apontado de volta, afirmam que não dá para apontar para algo que não é bem
definido e diversificado (estratégia sabão).
Uma das poucas coisas que os unem de maneira efetiva é a crítica ao feminismo. No
entanto, é irônico observar que este modo de resposta que os defensores da Real recorrem
lembra muito a rotina que feministas usam para defender o feminismo. Tomemos o exemplo
da Jornada Mundial da Juventude que ocorreu no Rio de Janeiro em julho 2013. A marcha das
vadias profanou e quebrou símbolos religiosos em um claro ato de ódio e intolerância. Ao
criticar o feminismo por este tipo de ação, algumas malandras recorreram ao famoso discurso:
há vários tipos de feminismo.
De fato, há vários tipos de feminismo. A marcha das vadias contém feministas
radicais, contudo, as radicais podem agir mais à vontade por causa do escudo que fazem as
moderadas. Ao mesmo tempo em que as feministas moderadas aparentam rejeitar o
radicalismo, elas tentam, na realidade, colocar os fatos em panos quentes por conta de uma
bandeira em comum.
Falta a Real um tipo de hombridade moral. Se um setor deste movimento faz algo
discordante, teria que ser criticado por outro. É um movimento paradoxal por ser unido e
divido ao mesmo tempo. Quando é conveniente, agem conforme uma irmandade concordante.
Na hora de colher críticas, alegam ser indefinidos.
Lembra também a justificativa mais fajuta para a defesa do comunismo. Quando um
esquerdista é confrontado em relação aos milhões de morte do regime que defende, responde
que aquilo não era o verdadeiro comunismo, que ele foi deturpado.

1.2 CONTORNANDO A DIFICULDADE

7
Inicialmente o preview foi divulgado para um projeto de comunidade que Lawlyet está investindo. Como a
Real começou a suscitar discussão, ele disponibilizou o livro argumentando que a Real pode ser uma ótima fonte
para levar as pessoas ao conservadorismo. Confessamos que sua intenção motivou a elaboração deste trabalho.
10

O objetivo deste trabalho é tecer críticas à Real. Não temos aqui a pretensão de usar
falácias emotivas, espantalhos, sofismas, etc. Mas suscitar uma discussão honesta. Um
esforço inicial foi realizado no sentido de catalogar correntes de opinião dos conservadores
em relação ao movimento a que aqui se propõe discutir. Relembremos: Anti-real, Críticos da
Real e Guerreiros da Real.
É verdade, conforme já admitido, que a Real não está bem definida quanto movimento
e que sua composição de seus membros é diversificada em termos de opinião, contudo, é
inverdade que seja isso motivo para inviabilizar críticas. Há na Real certa organização. Ela é
divulgada e discutidas em sites, blogs, fórum, redes sociais e tem até bibliotecas virtuais onde
está disponível o conjunto de material base que sustenta seu conteúdo. Trata-se de um
movimento que está aberto a novos membros, com a ressalva de que não toleram apologia ao
crime (apologistas do nazismo, comunismo e de crimes hediondos são banidos de suas
comunidades). A Real é, portanto, assimilável. Sua análise deve ser feita, portanto, dentro de
seus livros, líderes e organizadores. Sendo um movimento que motiva o homem a ocupar seu
lugar de líder, não seria injusto analisar a Real com base em seus líderes e membros
experientes.
O erro dos conservadores anti-realistas é criticar a real atacando com “golpes
baixos”. Eles atacam os novatos do movimento ou, se preferir, no linguajar „realista‟, os
juvenas. Estes são pessoas que muitas vezes aparecem com relatos bastante tristes. Pessoas
que foram torturadas sentimentalmente por mulheres egoístas e insensíveis, vadias no jargão
„realista‟, que, aproveitando-se do rapaz explorado, fê-lo passar por humilhações e traições.
Pessoas que, por exemplo, com dificuldade, pelo duro esforço do trabalho, deram casa,
comida, ajudaram nos estudos, para depois a namorada o trair com outro homem. Muito
relatado também é o fenômeno da Friendzone, onde a mulher se aproveita do homem
apaixonado para tirar favores e obter vantagens, dando doses suficientes de atenção e
esperança de „algo a mais‟ para que o homem iludido não deixe a zona da paixão. Trata-se,
em suma, de homens emasculados, carentes, ingênuos e fracos que, ao conhecer a Real,
descobrem a sistemática de sua tragédia e estão prontos para esboçar reações. Do fundo do
poço da dor sentimental, os juvenas entram na fase de revolta. Descobriram que as mulheres
não são santas. Bastaria um pouco de fé cristã para ter conhecimento deste não-mistério, mas
o fato é que entram em uma fase de revolta da qual se manifesta um sentimento de vingança e
desprezo pelas mulheres.
11

A revolta dos novatos é real8, é passível de crítica; não é justo, todavia, criticar o
movimento por causas dos “juvenas”. A fase da revolta é característica. O conselho de
membros mais experientes do movimento é feito no sentido de ajudar o jovem a sair desta
fase de orgulho ferido e focar em si.
Os “juvenas” revoltados habitam os espaços da Real, sobretudo o Facebook. O tempo
de duração varia de caso a caso – alguns parecendo ser irreversível – mas é fato que a Real
não age no sentido de alimentar este ódio, mas de auxiliar o novato a superá-lo.
Os conservadores críticos da real, por sua vez, fazem críticas mais profundas.
Geralmente são compostos por pessoas que conhecem a Real, mas discordam de pontos
específicos. Suas críticas estão embasadas, principalmente, na maneira com que é retratada a
mulher. Esses conservadores chamam a atenção para a dose de hostilidade na propaganda e
para o teor gnóstico contido nos livros de Nessahan Alita. O que não facilita o debate entre os
conservadores críticos e os defensores da real é uma certa intransigência. Um lado molda uma
caricatura do movimento e o outro aplica respostas baseadas em rotulagem pejorativas com
termos como “mangina”, “cavaleiro branco”, etc. Coisas de Facebook...
Outra dificuldade é que parte do debate está relacionada com conteúdo de ordem
moral e da natureza humana, algo que é bastante difícil de ser discutido em uma rede social.
Esta dificuldade ajuda a justificar a elaboração deste livro com vistas ao público conservador.
É uma tentativa de elevar o conteúdo crítico para que as discussões possam ser feitas de
maneira mais honesta.
Por último, os Guerreiros da Real que, neste trabalho, estão definidos como
conservadores que defendem a Real. Conforme foi discutido anteriormente, fica claro que,
dado a diversidade de membros, não é possível catalogar a Real como conservadora. É
possível, contudo, catalogá-la como direita no espectro do campo político. A Real tece críticas
ao gayzismo, ao feminismo, ao Marxismo Cultural em geral. Faz discurso de tolerância
religiosa e defende menos interferência do governo na vida das pessoas. Este fato é deduzido
de sua propaganda no Facebook, conteúdo dos blogs e sites e discussão de seus fóruns.
Eis como a Real será abordada neste trabalho: devido à falta de unidade ética e moral
da Real, ela será analisada com base em sua propaganda e intenções presentes em seus líderes
e membros influentes. As críticas serão dirigidas, sobretudo, aos conservadores que defendem
a real, haja vista que o conservador tem por hábito visualizar as crises como resultado de
desvios morais.

8
Trocadilho lúdico.
12

Discorremos a respeito dos problemas em torno da discussão presente no meio


conservador a respeito do movimento da Real. A dificuldade de crítica a este movimento será
então contornada com duas considerações sólidas: honestidade para dirigir as críticas, usando
como base as personalidades influentes do movimento e a não-distorção do conteúdo geral da
Real e fazendo o apelo especialmente ao público conservador, favorável ou contra o
movimento. Este é um trabalho de conservadores para conservadores.
Dito de outro modo: vamos ao máximo evitar esquerdar9 e esperamos postura similar
do lado conservador recíproco10.
Uma vez confessado o norte ético deste trabalho, é preciso que o conteúdo da Real
seja explicado para maior compreensão de conservadores que estejam alheios ao que
efetivamente seja a Real. A crítica deve ser dirigida ao que o movimento seja e não ao “ouvi
dizer que seja”. No próximo capítulo veremos o conteúdo chave da Real.

9
Sabemos que é impossível debater com esquerdistas, pois eles fraudam o debate. Os esquerdistas não se
interessam pela verdade – requisito essencial para haver possibilidade de debater –, mas aproveitam o espaço
para fazer propaganda de suas ideologias e/ou demonizar os oponentes.
A respeito do „verbo‟ esquerdar, vale fazer uma recomendação. Luciano Ayan cataloga as fraudes e
malandragens dos humanistas: http://www.lucianoayan.com.
10
Feministas, esquerdistas, libertários, juvenas da Real... Ou melhor, colocando de outro modo: odiadores do
conservadorismo e fanáticos pela Real, por favor, não percam tempo com seus possíveis nonsenses contra este
trabalho. A crítica deve ser feita por gente grande. Por gente grande, interprete pessoas com juízo intelectual em
ordem. Certamente há pessoas na Real capacitadas para isso, deixe isso para elas.
13

2 RESUMO DA REAL

As críticas aqui contidas não se aplicam às mulheres sinceras (Nessahan Alita)

O ingresso na Real é fácil e hospitaleiro. Você será convidado a sair da Matrix. Esta
figura de linguagem faz alusão à ilusão amorosa pelo qual o homem de coração partido está
imerso. Ele será convidado a escolher entre a pílula vermelha ou azul, podendo escolher se
descobre “a verdade” ou se prefere viver no conto de fadas. Optando pela Real, a leituras de
livros, principalmente as obras de Nessahan Alita, serão recomendadas. Através destes livros
é possível falar com propriedade a respeito do conteúdo da Real.
Em seus livros, Nessahan Alita fala sobre mulheres. Alita inspira-se em psicologia
evolutiva para descrever os problemas do relacionamento moderno. Vale ressaltar que
Nessahan dirige seu livro quanto ao cuidado que os homens devem ter das “mulheres vadias”,
não se aplicando às mulheres sinceras (ou honradas no glossário da Real) destacando que não
irá se responsabilizar pelo uso que será feito do material.
Em nota de rodapé do livro “Como lidar com as mulheres”, Nessahan Alita esclarece
o sentido do termo vadia:

A palavra é aqui empregada apenas no sentido de uma pessoa desocupada e


ociosa, tal como a definem os dicionários Aurélio (FERREIRA, 1995) e
Michaelis (1995), e não em qualquer outro sentido. Para mim, toda pessoa que
brinca com os sentimentos alheios é uma pessoa vadia, independentemente do
sexo e do número de parceiros sexuais. E o que mais poderia ser alguém que
brinca com a sinceridade dos outros senão desocupado por não ter algo mais
importante a fazer? Aqui, a palavra tem um emprego mais ou menos próximo ao
da pa lavra "megera" e também e é quase um equivalente feminino da palavra
"cafajeste", muito comumente utilizada para designar homens que trapaceiam
no amor. Enquadram-se neste termo aquelas pessoas que cometem adultério
sem o cônjuge merecer, que induzem uma pessoa ao apaixonamento com o
exclusivo intuito de abandoná-la em seguida, que retribuem uma manifestação
de amor sincero com uma acusação caluniosa de assédio sexual etc. Esta
palavra não é empregada com o mesmo sentido pejorativo em todos os países
de língua portuguesa e nem possui somente o significado que lhe dá algumas
vezes a cultura popular. Um exemplo típico de "vadia" é a personagem
Teodora, do romance "Amor de Salvação", de Camilo Castelo Branco. Neste
romance, Teodora, uma espertinha dissimulada e manipuladora, se aproveita
dos homens que a amam e os leva ao desespero e à ruína. Afonso, uma de suas
vítimas, afunda-se nos vícios e chega à beira de um suicídio, mas é salvo da
destruição amorosa por sua prima, uma mulher virtuosa e sincera. 11

11
ALITA, Nessahan (2005). Como Lidar com Mulheres: Apontamentos sobre um Perfil Comportamental
Feminino nas Relações Amorosas com o Homem. In: O Sofrimento Amoroso do Homem - Vol I. Edição virtual
independente de 2008, p.12.
14

Feitos os devidos esclarecimentos prévios, vamos à sistemática da Real12:

 As mulheres possuem um “lado obscuro” de natureza hipergâmica. Isso


significa que a mulher tem a tendência de buscar o homem que lhe
proporcionará maior segurança – a busca do melhor homem provedor. Tal
natureza é evolutivamente explicada pela necessidade inconsciente que a
mulher tem em buscar a segurança de sua prole. Daí a justificativa de mulheres
se atraírem por dinheiro, status, porte físico, etc.
 A mulher possui uma inteligência emocional superior à do homem. Ela utiliza
esta inteligência para seduzir o preterido homem, isto é, deixá-lo apaixonado.
 O processo de apaixonamento é realizado através de jogos e apelos
emocionais. São atitudes das mulheres cuja racionalidade masculina não
consegue compreender, mas que almeja o condicionamento do homem aos
seus caprichos. Se bem sucedida no jogo, o homem apaixonado se tornará um
capacho sentimental da mulher.
 Dentre os jogos13, podemos citar o puxa-e-empurra. Primeiro a mulher mostra
interesse no homem, sendo doce e carinhosa, mas repentinamente, sem motivo
aparente, ela se transforma em uma fria e cruel parceira. É quando a mulher te
trata de modo carinhoso em um momento e, de repente, ela passa a tratar o
homem com frieza e desprezo14.
 A mulher é inclinada a agir desta forma para prender o homem
sentimentalmente, mas, paradoxalmente, a mulher interpreta o homem
apaixonado como um fraco, passando então a desprezá-lo como parceiro.
 O motivo das mulheres preferirem os cafajestes está no fato deste tipo de
homem não se apaixonar. Ele vence os jogos emocionais, porque não os joga.
Sendo a vadia do lado masculino, o cafajeste é um egoísta sentimental. Ele só
pensa em si e ignora os sentimentos das mulheres, vencendo os jogos. A
mulher interpreta a não-eficácia de seus jogos como sinal de que aquele
12
As considerações desta sistemática não seguem necessariamente Alita (embora seja a leitura principal dos
membros da Real). Tentamos condensar certos ensinamentos que são difundidos pela Real através de suas redes.
13
Os livros de Nessahan Alita abordam bastante os jogos emocionais. Um resumo pode ser visto em KOERICH,
S. Os 5 jogos emocionais e táticas manipulativas feministas mais frequentes: como vencê-los e bloqueá-los. In:
Machismo Esclarecido (Blog), 11/07/2012. Disponível em
http://machismoesclarecido.blogspot.com.br/2012/07/os-cinco-jogos-emocionais-e-taticas.html
14
Fizemos questão de trazer este exemplo porque além de ser o mais comum em relatos, também será importante
para uma explanação no Capítulo 3.
15

homem é forte, passando então a desejá-lo e cortejá-lo. Sendo o cafajeste


difícil de ser domado, essas mulheres acabam sofrendo e culpando todos os
homens por sua desgraça.
 O sexo é usado pela mulher-vadia como ferramenta de barganha. O impulso
sexual da mulher é menor que o do homem, e elas sabem usar o sexo em seu
favor. Por este motivo, elas rejeitam o sexo para os homens apaixonados, pois
os interpretam como homens fracos, mas abrem as pernas para o cafajeste.
Trata-se de uma tentativa de prender o cafajeste através do sexo de qualidade.
 O mito do amor romântico é combatido. Muito se critica a cultura do
romantismo que condicionam o homem à emasculação.
 Para vencer os jogos emocionais, o homem deve treinar o desapego a fim de
evitar que seja alvo dos jogos sentimentais. Esforço que visa a “morte do ego”.
 O feminismo é criticado, pois fomentou o “lado obscuro da mulher”.
 A natureza da traição do homem é diferente da mulher. O primeiro trai por
ceder a seu impulso sexual. A segunda trai porque se move pela busca de fortes
emoções.
 A mulher vadia procuram ter seu ego inflado. Neste sentido, elas buscam,
através do exibicionismo e drama, a atenção e elogios de outros homens.
 A competição de ego também protagoniza o entendimento da famosa
competição feminina. Fenômeno que se observa quando o atrativo do homem
aumenta pelo fato dele ser compromissado e os famosos casos onde a mulher é
traída pela melhor amiga15.
 Não se deve analisar uma mulher por aquilo que ela diz de si, mas
efetivamente pelo modo como ela age.
 O homem deve focar em seu desenvolvimento pessoal, sendo as mulheres a
conseqüência deste desenvolvimento.

Certamente há mais coisas que poderiam ser citadas, mas estes seriam um núcleo
importante para entender o desenvolvimento do movimento. Trata-se de uma sistematização
que visa explicar a dinâmica dos relacionamentos modernos e que são discutidos pelos

15
Sobre o fenômeno “as mulheres só enxergam outras mulheres” está incluso no material da Real o livro “O
Homem Domado” de Esther Vilar.
16

„realistas‟ através da observação do dia-a-dia, relatos e notícias que são debatidas em seus
fóruns.
Acreditamos que agora esteja mais fácil compreender a revolta que é ocasionada
quando um homem pisado e cruelmente machucado descobre a dinâmica dos relacionamentos
pela ótica da Real. Há quase que uma inevitável polarização. A mulher passa a ser odiada e
todas passam a ser vistas como vadias. E o impulso de vingança e de “vencer o atraso” são
explícitos. Os anti-real não estão errados em suas reclamações quanto ao ódio contra as
mulheres que pode ser visto nas correntes da Real16.
Viktor Frankl reconhece esta natureza humana. Preso e maltratado nos campos de
concentração nazista, Frankl relatou momento de revolta onde os explorados gostariam de se
transformar nos carrascos para pagar na mesma moeda. Contudo, o psiquiatra que criou o
logoterapia salienta que este sentimento deve ser superado e focalizado na busca do seu
sentido da vida, que, segundo a logoterapia, é uma resposta que de depende de um diálogo
honesto consigo: o descobrimento de seu sentido. Escreveu em “Em Busca do Sentido”:

Por longo tempo, durante meio século a psiquiatria tentou interpretar a mente
simplesmente como um mecanismo, e consequentemente a terapia da doença
mental simplesmente foi encarada como uma técnica. Eu acredito que esse
sonho acabou. O que está despontando agora no horizonte não são os
contornos de uma medicina psicologizada, mas antes, de uma psiquiatria
humanizada.
Um médico, entretanto, que continuasse entendendo o seu próprio papel
principalmente como o de um técnico, confessaria que não vê em seu paciente
mais do que uma máquina, em vez de enxergar o ser humano que está por trás
da doença!
O ser humano não é uma coisa entre outras; coisas se determinam
mutuamente, mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo.
Aquilo que ele se torna - dentro dos limites dos seus dons e do meio ambiente - é
ele que faz de si mesmo. No campo de concentração, por exemplo, nesse
laboratório vivo e campo de testes que ele foi, observamos e testemunhamos
alguns dos nossos companheiros se portarem como porcos, ao passo que outros
agiram como se fossem santos. A pessoa humana tem dentro de si ambas as
potencialidades; qual ser concretizada, depende de decisões e não de condições.
Nossa geração é realista porque chegamos a conhecer o ser humano como ele
de fato é. Afinal, ele é aquele ser que inventou as câmaras de gás de Auschwitz;
mas ele é também aquele ser que entrou naquelas câmaras de gás de cabeça
erguida, tendo nos lábios o Pai-nosso ou o Shem Yisraet. 17

16
Elas concentram-se principalmente no Facebook, onde os „realistas‟ mais experientes admitem que possuem
pouco controle e que usam esta rede social com objetivo de propaganda, incentivando as pessoas a buscarem
seus fóruns e sites.
17
FRANKL, V. E. Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. Porto Alegre: Sulina,
1987; São Leopoldo: Sinodal, 1987. 174p.
17

Longe de querer comparar a Real com uma espécie de terapia, mas é necessário
elogiar a preocupação de membros mais velhos em orientar os novatos revoltados. Entretanto,
este trecho não é apenas importante para compreender a revolta de certos membros
revoltados, mas também questionar a Real sobre a busca do sentido dela. Às vezes eles tentam
debater sobre isso, contudo permanece tudo junto e misturado. A Real pode não ter seu
sentido definido, mas os mais experientes orientam que o sentido certamente não pelo
caminho da vingança e o do ódio.
Não queremos com isso sugerir que os “juvenas” da Real devem ser poupados de
críticas, muito pelo contrário. Os “juvenas” da Real devem ser identificados e confrontados. A
Figura 1 ilustra a abordagem carinhosa que deve ser empreendida com esses tipos18. O que
não se recomenda é o “jogo baixo” comentado anteriormente, que seria nivelar toda a Real
como sendo composta inteiramente de “juvenas”.

Figura 1 – Início de diálogo com um “juvena” da Real.

A Real também faz críticas de cunho político e compartilha conteúdos que visam
esclarecer a respeito do Globalismo e do Marxismo Cultural. Quanto aos dois últimos, iremos
fazer críticas à postura prática da Real mais adiante, por enquanto estamos nos limitando a
escrever um resumo e comentar alguns aspectos da Real. No livro que Lawlyet Wallace está
escrevendo (“Filosofia da Real” que foi mencionado no capítulo anterior), ele tenta colocar a
Real como um movimento em busca da verdade, não ignorando algumas fases que devem ser
vencidas:

18
Colocando-os em seus devidos lugares como a escória da Real.
18

1. Conhece a real e busca estudar honestamente seu material;


2. Passa pela fase da revolta;
3. Percebe, em algum momento, que há algo errado em toda essa revolta;
4. Não se entrega. É travada uma luta pela verdade e pelo próprio crescimento;
5. Passa a entender que não deve forçar a Real, que não deve agir de forma
mecanizada. Passa a buscar a internalização da Real, tornando-a uma extensão
de si mesmo;
6. Deixa de se preocupar com o que transmite e com o que os outros pensam.
Sua preocupação não é mais causar impressões, mas em ser uma pessoa
autência, respeitando a própria individualidade, sendo capaz de amar e
valorizar a si mesmo;
7. Ele já não estuda mais a Real buscando algum interesse. Nem mesmo pelo
crescimento pessoal. Ele passa a estudar a Real pelo amor e prazer que tem
nessa atitude. Seu objetivo agora não é descobrir como se beneficiar com a
Real, mas entender verdadeiramente a Real e, se possível, dar sua
contribuição. 19

Wallace não é unanimidade da Real e não é possível fazer grandes previsões a respeito
de como seu livro será recebido no meio. De certo alguns irão concordar, outros rejeitar,
entretanto não dá para saber é em qual proporção isso vai acontecer e quão discutível e
transformador será o material no meio „realista‟20. Estamos em um capítulo onde propomos
fazer um resumo da Real e este trecho do Wallace foi trazido por dois motivos. Primeiro
porque é uma tentativa honesta de descrever os passos até se alcançar em uma meta dentro da
Real, o que já seria um sentido. Não vamos discutir quão precisos ou certos estão esses
passos, apenas destacamos que há uma tentativa honesta de síntese de alguém que pertence ao
meio „realista‟. O segundo motivo, mais importante que o primeiro no contexto deste
trabalho, é que o primeiro passo começa em conhecer a Real. Pode parecer óbvio, mas é
importante explicitar, uma vez que o que nos interessa é adentrar no motivo que leva as
pessoas a conhecerem a Real.
Na imensa maioria das vezes, as pessoas são levadas ao conhecimento da Real por
conta de problemas que tiveram no relacionamento amoroso. A porta de entrada consiste em
estudar os relacionamentos sobre a ótica da Real e para isso recomendam materiais como os
de Nessahan Alita. Mesmo abordando temas políticos e culturais, a porta de entrada está em
sua propaganda em relação à dinâmica dos relacionamentos – os articuladores da Real têm
consciência disso e procuram potencializar esta entrada. Neste sentido, é importante
esclarecer o cunho teórico da por trás dessa principal abordagem da Real:

19
WALLACE, L. Filosofia da Real. Preview 04-10-2013, p. 13.
20
A abordagem de Lawlyet Wallace é mais voltada ao conservadorismo. Chesterton é bastante citado no preview
do livro.
19

Costuma-se falar de má vontade sobre a maldade feminina. A tendência comum


é evitá-la, evadindo-se. Por outro lado, denunciar as várias e inegáveis
crueldades do homem é algo comum, visto pelas pessoas como natural, pois,
como é comum ouvir-se, "os homens não prestam mesmo". Os homens bons,
então, dão um sorriso amarelo e fingem achar graça, ainda que no fundo
saibam que as coisas não são assim tão simples. Daí a necessidade de
trilharmos o caminho oposto para esclarecer o que falta, encarando
frontalmente o problema que todos evitam e denunciando-o como fazer as
feministas justas com os vícios masculinos. Se é verdade que os machos
humanóides animais são maldosos com relação às fêmeas, cobiçando-as,
valorizando-as pela beleza exterior e possuem segundas intenções sexuais, não
é menos verdade que as fêmeas também são maldosas, valorizando-nos por
nossa posição social, nossa atratividade em relação às mulheres bonitas, nosso
dinheiro, nossa fama etc. não nos amando desinteressadamente. São totalmente
utilitaristas e não nos amam pelo que somos, mas apenas pelos benefícios
práticos e emocionais que possam proporcionar. As segundas intenções
masculinas são sexuais: o macho quer copular. As segundas intenções
femininas são práticas e calculistas: ser invejada pelas rivais, transformada em
princesa, ter um escravo, chamar a atenção, ser protegida, ser conhecida, etc.
Portanto, não somente os homens são os vilões da história. 21

Este prisma auxilia no entendimento do porquê alguns conteúdos da Real são muitas
vezes interpretados como hostis às mulheres por alguns conservadores. A Real está
preocupada em alertar os homens sobre os ardis perversos das mulheres que são pouco
abordados na cultura vigente. Denunciam a parcialidade cultural onde a mulher é moldada
como inocente e boa, enquanto os homens são perversos e malvados. Denunciam o
condicionamento cultural que está levando o homem a perda de sua virilidade, principalmente
sobre o mito do amor romântico que faz o homem enxergar as mulheres como seres divinos e
imaculados. A hostilidade da Real em relação às mulheres é, na verdade, em relação às
mulheres vadias que tiram proveito deste ambiente cultural bagunçado. Há um inegável
pessimismo que molda as ações da Real, uma vez que o crescimento da
vadiagem/promiscuidade é visível a céu aberto. A Real não nega que há problema no homem,
mas sua preocupação está mais voltada a criticar as vadias, alertando sobre seu “o lado
obscuro” desperto e ativo.
Procuramos neste capítulo resumir o conteúdo-chave da Real e entender a abordagem
„realista‟ para ingresso de novos confrades22. Nossa abordagem foi mais descritiva evitando
qualquer juízo de valor. Se houve impressão de ataque ou defesa da Real em certo momento
deste capítulo, alegamos que não tivemos a intenção. Recomendamos uma releitura do

21
ALITA, Nessahan (2005). A Guerra da Paixão: As Artimanhas e os Truques Ardilosos das Mulheres no
Amor. In: O Sofrimento Amoroso do Homem - Vol. III. Edição virtual independente de 2008. p. 60.
22
Em termos „realísticos‟, confrade é o modo como os „realistas‟ dirigem-se entre si. É análogo ao
„companheiro‟ dos petistas, ao „camarada‟ dos marxistas-hardcore, ao „colega‟ entre pessoas de mesma
profissão, etc.
20

capítulo com espírito de imparcialidade. Se mesmo assim permanecer tal impressão, avisamos
que não descartamos reescrever ou adicionar notas explicativas em edições futuras a fim de
corrigir esse possível problema. No próximo capítulo, vamos analisar a eficiência da Real de
um modo crítico.
21

3 O ORGULHO DA REAL

Para opinar racionalmente contra algum mal é preciso colocar-nos


intelectualmente acima dele, não apenas escolher uma das posições que ele
mesmo criou; isto só faz agravar a situação (Olavo de Carvalho).

Por que a Real possui relativo sucesso? Por que seus membros são seguros de si? A
investigação dessas questões mostra-nos o que é a maior força da Real, mas também a
possível origem de sua fraqueza.
O sucesso da Real pode ser explicado por dois motivos. Primeiro porque a Real trata
da temática dos relacionamentos amorosos, tema que desperta grande audiência. O segundo
motivo, ligado ao anterior, é que de fato a Real conseguiu construir uma teoria acerca da
dinâmica dos relacionamentos amorosos que apresenta uma precisão apurada em nossa
sociedade.
Grande parte da temática da Real está condensada na discussão sobre sua teoria acerca
dos relacionamentos. É importante reconhecer que não se trata de mero lero-lero, a Real está
envolta em uma aura de estrutura científica (informal). Para evidenciar isso, recorramos às
considerações que Gustavo Corção presta à estrutura e aos métodos da ciência:

Desde a Idade Média, e principalmente desde Santo Tomás, sabemos que


convém distinguir, no cabedal científico a que damos vários nomes, conforme
seus objetos materiais, duas coisas:

a) O acervo dos dados observados e trazidos por observações e


experimentações à prova da evidência sensível. Demos a este principal
património, e principal critério das ciências o nome de "dado fenomênico"
ou de "fenômenos observados", ou ainda lembremos o nome que lhe davam
os escolásticos: "apparentia sensibilia" onde o termo "apparentia" não
quer dizer "o que parece ser..." e muito menos "o que parece ser, mas não
é", e sim "o que é evidente para o conhecimento sensível".
b) A segunda coisa é a síntese interpretativa feita de teorias destinadas a
propor uma explicação conexa aos vários elementos dispersos do dado
observado.

E aqui cabe um reparo importante: a teoria interpretativa, apesar de seu


talhe imponente, é cientificamente sujeita ao observado, aos fenómenos, e
só se mantém enquanto suas articulações e a costura de seu tecido de
hipóteses explicativas conseguem dar conta dos dados observados.23

Em meio em uma cultura de massa onde o ponto de vista do feminismo é hegemônico,


a Real, principalmente impulsionada pelos livros de Nessahan Alita, organizou-se

23
CORÇÃO, G. O Século do Nada. Rio de Janeiro: Record, 1973. p. 123.
22

primeiramente nos espaços do Orkut para discutir a temática dos relacionamentos. Os


diversos relatos, notícias e debates criaram um acervo de dados. A teoria presente em seus
livros é a síntese interpretativa dos eventos observados, resultando na formulação de uma
teoria que tanto os orgulha. O movimento está sustentado na observação da realidade.
A Real consegue explicar os problemas dos relacionamentos modernos por meio de
sua teoria interpretativa, permitindo que o homem possa se defender em um ambiente onde a
informação geral se contextualiza sob a regência de uma hegemonia feminista. Daí que a
expressão “sair da Matrix” signifique levar ao homem a entender sua posição de engano
cultural e lutar para sair de sua situação precária. A teoria da Real, em suma, possibilita que o
homem vença a guerra do “amor”, que deixe de ser enganado pelas “vadias”.
Naturalmente que por se tratar de observações limitadas ao campo de ação humana,
sua teoria não possui abrangência universal. Fazer tal consideração seria cair na tentação
cientificista que resultaria na ruptura da síntese interpretativa24. Alguns „realistas‟ exaltados
podem cometer este grave erro, mas a Real em si25 limita a eficácia de sua leitura às vadias de
ambos os sexos26.
Fazemos estas considerações porque há uma frase recorrente que corresponde a uma
espécie de axioma da Real: não existe mulher exceção. É uma frase imprudente, pois pode ser
facilmente mal-interpretada por quem não está suficientemente interado no assunto (creio que
a maioria dos conservadores). Em uma ótica distorcida, a afirmação de que “não existe
mulher exceção” pode ser entendida como “todas as mulheres são vadias” e, sendo todas
vadias, a Teoria da Real pode ter abrangência universal.
Na realidade, a interpretação da não-existência da mulher exceção está no
entendimento de que todas as mulheres possuem “um lado obscuro”, isto é, não são perfeitas.
Isso não é propriamente uma novidade no meio conservador (princípio da imperfectibilidade
do homem) e cristão (somos todos pecadores). Assim como não existe a mulher exceção,
inexiste também o homem exceção. A polêmica frase é utilizada com objetivo de “dar um
tapa” nos novatos da Real que, ainda imersos na Matrix, permanecem iludidos pelo mito do
amor romântico, carregando consigo a credulidade sobre a lenda da pureza e santidade
feminina e acreditando que a melhor estratégia é ser bondoso, submisso e romântico (miguxo
no jargão ridiculatório dos „realistas‟; paspalho, no provocativo) com vistas a conquista da

24
CORÇÃO, G. O Século do Nada. Rio de Janeiro: Record, 1973. p. 124.
25
Lembrando que estamos mais preocupados em analisar seus membros mais influentes.
26
A vadia-homem é o cafajeste. Na Real, é comumente referido de modo abreviado: cafa.
23

doce, bela, única e bondosa lady. O trágico e lúdico fenômeno da Friendzone (Figura 2) é um
bom exemplo dessa desconfortável situação.

Figura 2 – Friendzone, onde a „amizade‟ é estranha.

Observar a realidade e elaborar uma teoria interpretativa racional é um mérito da Real.


É donde provém sua força e explica o motivo do seu sucesso. Sob a ótica da sua teoria,
determinados comportamentos enigmáticos passam a compreensíveis. Este sucesso, contudo,
também revela uma fraqueza da Real: a arrogância.
Porque a Teoria da Real é funcional, ela desperta admiração e agradecimentos de
membros que conseguiram reverter sua situação de capacho em relação às mulheres. Se
fossem fazer uma apresentação, a Real teria vários exemplos de “case de sucesso”.
24

Provavelmente provém deste identificável sucesso certa arrogância em relação às críticas que
vêm de fora. Os críticos são interpretados como pessoas que estão presas na Matrix e,
portanto, em estado inferior aos „realistas‟ que saíram da lastimável situação. Quem os critica
são catalogados automaticamente como manginas, cavaleiros brancos, matrixianos, miguxos,
etc.
Não sabemos se é por causa deste hábito defensivo, ou se é porque a rotulagem
pejorativa é regra nos debates virtuais, ou se é por causa dos dois, mas é interessante observar
que esta tática de rotulação também está presente nas discussões internas da Real,
principalmente quando um assunto descamba para o campo moral.
É no campo moral que reside a problemática da Real. De fato a Real trabalha com sua
ciência informal que tem seus pés fincados no chão, mas a ciência em si é amoral. Um
conhecimento pode ser usado para o bem ou para o mal. Neste aspecto, cada membro é livre
para fazer o que quiser, contudo, tal saída não condiz com os outros objetivos da Real que
busca combater o esquerdismo no campo político e o Marxismo Cultural no campo cultural.
Como conservadores, devemos rejeitar o “niilismo realista”. Se a Real almeja fins
nobres de mudança, ela não pode ignorar este tipo de debate. O conservador enxerga que as
crises são causadas por problemas morais.
Reconhecemos aqui que a Real fez uma boa leitura em torno da dinâmica dos
relacionamentos amorosos da modernidade. O diagnóstico da Real é bom. É uma ferramenta
funcional ao que tange seu campo de ação. Entretanto, como bem pondera Michael
Oakeshott27, a ferramenta para a execução de trabalho é justamente onde está o cerne da
preocupação conservadora.

3.1 POR QUE A TEORIA DA REAL FUNCIONA

Discutimos anteriormente a teoria da Real e admitimos que ela possui êxito em


explicar a dinâmica dos relacionamentos modernos. Ponderamos, contudo, que seu range não
é universal, limitando-se principalmente – como bem esclarece autores influentes do material
como Nessahan Alita e Esther Vilar – às mulheres vadias.

27
OAKESHOTT, M. Ser Conservador. Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha. 29p.
25

A partir disso, podemos fazer a seguinte afirmação: quanto maior for o índice de
vadiagem da sociedade, maior será a abrangência da Real. Nesta afirmação, não estamos
excluindo a vadiagem masculina, simbolizada na figura do cafajeste.
Então emerge a pergunta: por que a teoria da Real obtém sucesso? Nessahan Alita não
esconde sua sustentação pela psicologia evolutiva. Alita elucida que o comportamento
“vadio” é decorrente do ser humano estar voltado ao seu comportamento mais animalesco.
O filósofo Olavo de Carvalho em artigo intitulado “A moral do Brasil” aponta para a
Teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg (grifos nossos):

Se você quer entender e não tem medo de perceber em que tipo de ambiente
mental está metido nesse nosso Brasil, nada melhor do que estudar um pouco a
Teoria do Desenvolvimento Moral de Lawrence Kohlberg. Enunciada pela
primeira vez em 1958 e depois muito aperfeiçoada, ela mede o grau de
consciência moral dos indivíduos conforme os valores que motivam as suas
ações, numa escala que vai do simples reflexo de autopreservação natural até o
sacrifício do ego ao primado dos valores universais.
Kohlberg, que foi professor de psicologia na Faculdade de Educação em
Harvard, desenvolveu alguns testes para avaliar o desenvolvimento moral, mas
os críticos responderam que isso só media a interpretação que os indivíduos
testados faziam de si mesmos, não a sua motivação efetiva nas situações reais.
Essa dificuldade pode ser neutralizada se em vez de testes tomarmos como
ponto de partida as condutas reais, discernindo, por exclusão, as motivações
que as determinaram.
Os graus admitidos por Kohlberg são seis. No mais baixo e primitivo, em que a
conduta humana faz fronteira com a dos animais, a motivação principal das
ações é o medo do castigo. É o estágio da ―Obediência e Punição‖. No
segundo (―Individualismo e Intercâmbio‖), o indivíduo busca conscientemente
a via mais eficaz para satisfazer a seus próprios interesses e entende que às
vezes a reciprocidade e a troca são vantajosas. No terceiro (―Relações
Interpessoais‖), os interesses imediatos cedem lugar ao desejo de captar
simpatia, de ser aceito num grupo, de sentir que tem ―amigos‖ e distinguir-se
dos estranhos, dos concorrentes e inimigos. No quarto (―Manutenção da
Ordem‖), o indivíduo percebe que há uma ordem social acima dos grupos e
empenha-se em obedecer as leis, em cumprir suas obrigações. No quinto
(―Contrato Social e Direitos Individuais‖), ele se torna sensível à diversidade
de opiniões e entende a ordem social já não como um imperativo mecânico, mas
como um acordo complexo necessário à convivência pacífica entre os
divergentes, No sexto e último (―Princípios Universais‖), ele busca orientar sua
conduta por valores universais, mesmo quando estes entram em conflito com os
seus interesses pessoais, com a vontade dos vários grupos ou com a ordem
social presente.
Essas seis motivações refletem três níveis de moralidade: os dois primeiros
expressam a ―moralidade pré-convencional‖; os dois intermediários a
―moralidade convencional‖, os dois últimos a ―moralidade pós-
convencional‖.
Se não atentamos para os discursos, mas para as escolhas reais que as pessoas
fazem na vida, não é preciso observar muito para notar que os indivíduos que
nos governam, bem como os seus porta-vozes na mídia e nas universidades, não
passam do terceiro estágio, o mais baixo da moralidade convencional, em que a
identidade, a coesão e a solidariedade interna do grupo prevalecem sobre a
ordem social, as leis, os direitos dos adversários e quaisquer valores universais
26

que se possa conceber (e que desde esse nível de consciência são mesmo
inconcebíveis, embora nada impeça que sua linguagem seja macaqueada como
camuflagem dos desejos do grupo). 28

Embora o artigo esteja voltado para uma crítica ao esquerdismo, a teoria de Kohlberg
auxilia na explicação sobre o êxito da teoria da Real: o nível moral da sociedade está baixo,
próximo aos instintos animalescos que Nessahan Alita comenta. Podemos dizer que a
sociedade está se bestializando. Ao traçar os instintos bestiais do homem e da mulher, a Real
consegue êxito teórico na abordagem dos relacionamentos modernos.
Alguns conservadores incomodam-se com o vocabulário presente em sites e blogs
„realistas‟, porque as expressões macho e fêmea são empregadas. Contudo, tais termos são
coerentes com bestialização social, sendo os mais apropriados para explicar a teoria da Real.
O núcleo explicativo da Real está no macho e fêmea, isto é, seus instintos animais
inconscientes e que representam bem a baixeza do nível moral a que tais termos se referem.
Em suma, podemos concluir que a Real funciona porque estamos diante de uma
cultura que demonstra baixo nível moral, que não ultrapassa o terceiro nível de Kohlberg. Há
uma correlação inversamente proporcional entre nível moral e funcionalidade da Real, isto é,
quanto maior o nível moral da população, menos eficiente será a leitura social da teoria
„realista‟.
Aqui jaz novamente o motivo para que este trabalho se dirija, em especial, ao público
conservador. Uma vez que os conservadores encaram a ordem moral com um princípio
importante para o bem estar social, a não-hipocrisia obriga-os a buscar com sinceridade as
virtudes humanas, ascender aos níveis morais Kohlberg, posicionando moralmente acima de
qualquer esquerdista, vadia ou cafajeste.

3.2 MOTIVAÇÕES E EXAGEROS

A abordagem da Real em sua propaganda é de ataque às mulheres vadias. Existe a


preocupação de alertar o homem sobre a hegemonia feminista que é crescente. A Real coloca-
se com a pretensão de combater o feminismo, um dos principais males do Marxismo Cultural.

28
CARVALHO, Olavo de. A Moral do Brasil. Diário do Comércio, 19/10/2003. Disponível em:
http://www.dcomercio.com.br/index.php/opiniao/sub-menu-opiniao/116794-a-moral-do-brasil
27

Se o objetivo é de mudança e de quebra de uma hegemonia, tem-se desde Gramsci


(um dos pais do Marxismo Cultural) que a disputa é pela mudança do “senso comum”. Como
bem observa Olavo de Carvalho, a ironia de Gramsci é que ele defende uma ideologia
coletivista, mas não ignora que esta mudança deva ser feita do modo a mudar a percepção a
nível individual. O objetivo do gramscismo é mudança cultural, uma completa inversão de
valores em benefício de uma força revolucionária:

Para a revolução gramsciana vale menos um orador, um agitador notório, do que um


jornalista discreto que, sem tomar posição explícita, vá delicadamente mudando o teor do
noticiário, ou do que um cineasta cujos filmes, sem qualquer mensagem política
ostensiva, afeiçoem o público a um novo imaginário, gerador de um novo senso comum.
Jornalistas, cineastas, músicos, psicólogos, pedagogos infantis e conselheiros familiares
representam uma tropa de elite do exército gramsciano. Sua atuação informal penetra
fundo nas consciências, sem nenhum intuito político declarado, e deixa nelas as marcas
de novos sentimentos, de novas reações, de novas atitudes morais que, no momento
propício, se integrarão harmoniosamente na hegemonia comunista. 29

Daí que do ponto de vista estratégico da mudança, não está errada a motivação que os
líderes „realistas‟ dão para o fato de que a Real precisa ser internalizada. Isso significa que o
homem deve treinar o “desapego” (blindar-se contra a sedução feminina que tenta provocar
uma paixão irracional)30, focar no desenvolvimento pessoal (trabalho, saúde e finanças31) e
voltar-se para a “honra”.
Colocamos aspas na honra, porque embora muito seja dito a respeito de motivar o
homem a ser honrado, a definição disso não é clara, justamente porque a maior fonte de
divergência „realista‟ dá-se no campo moral. Talvez a maior convergência no campo da honra
seja a instrução de, caso estar em um relacionamento sério, não trair a parceira.
Um Guerreiro da Real não pode ignorar que a honra passa pela autocrítica
masculina32. Muito a Real critica a mulher vadia e o feminismo, mas pouco se aprofunda
sobre a moralidade do homem diante de uma cultura cada vez mais feminista. É daí que pode

29
CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. Disponível
em http://www.olavodecarvalho.org/livros/neindex.htm
30
O conceito de desapego em seu campo de atuação não está aprofundado. Se isso é bom ou ruim, quando é
positivo e quando é negativo, será tratado mais a frente.
31
Livros voltados à administração, à aplicação financeira e dicas de exercícios físicos são compartilhados entre
realistas.
32
Se ignorar, não é por certo um conservador. Lembrando que Guerreiro da Real neste trabalho é o conservador
que defende a Real.
28

ser origem da crítica sobre a Real ser um feminismo com sinal trocado33. É bastante
relembrado que a Real não é sobre pegar mulher, mas sua teoria ensina que o cafajeste é um
imã para atraí-las. Tira-se que uma das autocríticas ao homem é que ele não se torne um
cafajeste. Sendo este conselho pouco difundido, a crítica sobre o sinal trocado não pode ser
totalmente negada.
Outro detalhe relevante é a crítica pela crítica em relação às mulheres feministas. O
comportamento de vadia deve ser atacado, mas tão importante quanto metralhar, é formar. O
que a Real tem a dizer a respeito da mulher honrada, o oposto da mulher vadia? Pode haver
aqui uma objeção de que, mesmo falando pouco, fala-se sobre a mulher honrada e a
importância da família – não negamos –, mas falamos a respeito de uma abordagem visando a
conversão.
Há certo pessimismo na Real. A hegemonia feminista impregnada no “senso comum”
assusta a quem saiu da matrix. A conversão de uma vadia famosa é vista sob a ótica
negativista. Transparece certo sentimento de “uma vez vadia, sempre vadia” que é o resultado
de levar às últimas conseqüências o conceito de “lado obscuro feminino”34.
Um processo de conversão certamente não é fácil, mas se algo é difícil, significa que
deve ser deixado? Logo na introdução de “Filosofia da Crise”, o filósofo Mario Ferreira dos
Santos assinala:

Cavamos abismos, quando já os temos dentro de nós. E eles surgem da nossa


desesperança.
É a desesperança que cava abismos. E o homem desesperado, quando não mais
espera o que esperava, precisa encontrar o que não tem. E o desespero, que
está virtualizado no crente fiel, actualiza-se no homem que duvida. Cavam
abismos os que duvidam.
Mas, dirão, é possivel crer mais? Mas pode, acaso o homem deixar de crer? Ele
procura uma crença no desespero, ele procura uma crença ao aprofundar o
abismo, crença até não crer mais em nada.
E quando não crê e procurar crer, fanatiza-se.
(...)
E esta desesperança trouxe a inversão dos valores mais altos, a inversão nas
hierarquias. E desde aí começou a avassalante marcha da ascensão dos tipos
mais baixos, para cuja ascensão o capitalismo colaborou, e daí, como
decorrência, surgirem o primarismo, a improvisação, a auto-suficiência dos
medíocres.
(...)
Mas, é preciso ter muito cuidado para que não nos ofereçam, com o rótulo de
concreção, velhas visões unilaterais, sectárias, geradoras de novas
brutalidades, que apenas vão repetir a velha monódia da brutalidade humana.

33
Ponto que vai ser aprofundado no próximo capítulo.
34
O “lado obscuro feminino” é um ótimo conceito para fins didáticos, mas não deve sobrepujar o livre-arbítrio,
do contrário cai-se em determinismo.
29

Cuidado com as pseudo-sínteses, com os inóculos substitutos de Deus, como nos


propõem os nossos "religiosos" da matéria e os "religiosos" da existência, ou
outros que julgam que ao substituir os símbolos, substituem os velhos
simbolizados.35

Muito vale refletir este trecho de Mario Ferreira dos Santos. É profundo e possui um
alerta importante: a desesperança e o desespero podem levar à fanatização que procede
daqueles que não crêem, mas procuram crer. Então se encaminha a perigos que resultam na
inversão de valores e a ascensão dos medíocres. Um quadro oposto ao que um conservador
deseja. Além disso, o filósofo faz um alerta que não pode deixar de ser destacado: é preciso
ter muito cuidado para que não nos ofereçam, com o rótulo de concreção, velhas visões
unilaterais, sectárias, geradoras de novas brutalidades, que apenas vão repetir a velha
monódia da brutalidade humana.
O filósofo vem a colaborar com uma crítica à Real que é bastante pertinente: ser um
feminismo com sinal trocado. Há uma mobilização no sentido de usar o conhecimento da Real
para fins de vencer uma guerra usando o conhecimento do inconsciente animalesco do homem
e da mulher. Com a Real, pode agora o homem vencer a barreira onde a vadia lhe tinha na
mão: sexo. O velho sonho de apostar em relacionamentos sérios é, dentro do pessimismo da
Real, convertido no desejo de fazer as mulheres abrir as pernas.
Ao não buscar uma elevação moral, a Real fica naturalmente presa à cultura do
hedonismo que a própria hegemonia feminista ajudou a promover. A teoria da Real alerta o
homem para o famoso jogo do puxa-empurra: a mulher altera seu humor de modo imprevisto
(qual mulher não é bipolar? Pode questionar-se em tom de humor) e isso consegue afetar o
homem de tal maneira que ele se torna um capacho apaixonado. Se o humor não funciona, a
mulher pode usar a variante do sexo. Alternar entre sexo de boa qualidade e censura ao sexo
como forma de controlar o homem.
É um ardil bem interessante que a Real pescou. Vale reforçar ainda que o
condicionamento de estímulos positivos e negativos como forma de controle não é
propriamente algo novo no âmbito da engenharia social. Em “Jardim das Aflições”, Olavo de
Carvalho é categórico quanto a isso:

Quem disse que buscar o prazer e evitar a dor nos liberta do determinismo?
Pavlov dizia exatamente o contrário: o binômio dor-prazer é o comutador que
aciona os reflexos condicionados, por meio dos quais um animal ou um homem
pode ser governado desde fora. O budismo diz a mesma coisa: que só alcança a
liberdade quem se coloca para além da dor e do prazer. Aristóteles o confirma,

35
SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia da Crise. São Paulo: Livraria e Editora Logos, 1959. p. 16-17.
30

mediante a distinção, que se tornou clássica e foi endossada pelo cristianismo,


entre a vontade livre e a obediência ao instinto. E também pelo Dr. Freud, com
o seu ―princípio de realidade‖ que transcende o princípio do prazer. Mas não é
preciso tanta ciência para nos informar aquilo que um carroceiro sabe
perfeitamente: que, fazendo um asno perseguir a prazerosa cenoura e esquivar-
se do doloroso porrete, podemos levá-lo para onde o quisermos, sem que ele
tenha a menor idéia de estar sendo conduzido de fora nem deixe de estar
persuadido de que exerce livremente o seu clinamen36. Não há saída: se os
átomos seguem o clinamen, não são livres: obedecem ao determinismo do
instinto, que é rígido e repetitivo como a lei de queda.37

Adous Huxley em “Regresso ao Admirável Mundo Novo” também assinala a respeito


do puxa-empuxa:

O fato das emoções fortes e negativas tenderem a aumentar a sugestibilidade e


a facilitarem, assim, uma substituição de opiniões, foi anotada e explorada
muito antes de Pavlov. Como assinalou o Dr. William Sargant no seu tão
esclarecedor livro, ―Battle for the Mind‖, o grande êxito de John Wesley como
pregador baseava-se no conhecimento intuitivo do sistema nervoso central.
John Wesley iniciava o seu sermão com uma descrição longa e minuciosa dos
tormentos a que os seus ouvintes seriam, com certeza, condenados para todo o
sempre, a menos que se convertessem. Depois, quando o medo e um sentimento
de culpabilidade torturante levavam o auditório à beira da vertigem, ou até, em
alguns casos, a uma depressão cerebral completa, alterava o tom de voz e
prometia a salvação àqueles que cressem e se arrependessem. Com este método
de pregação, Wesley converteu milhares de seres humanos. O pavor intenso e
prolongado levava-os a soçobrar e gerava um estado de sugestibilidade
extremamente intensificada. Nesta situação, as pessoas eram capazes de
aceitar, sem discussão, as afirmações teológicas do pregador. Depois disso,
eram restabelecidos na sua integridade com palavras de consolação, e saíam da
provação com sistemas de comportamento novos, e geralmente melhores,
implantados de modo indestrutível nos seus espíritos e no seu sistema nervoso.38

Não é interessante observar que a Real consegue êxito em descrever o jogo do “lado
obscuro feminino” e então se armar contra ele, mas tem relativa miopia para perceber que no
âmbito da guerra cultural podem estar sendo vítimas de estratégia similar?
Outra crítica à Real é a transferência de culpa. O conceito de honra da Real certamente
fala sobre o fato do homem arcar com a própria responsabilidade, mas há algo no
comportamento masculino, que é bastante intrigante... Àquela espécie de determinismo sobre
o comportamento feminino parece justificar o estilo de “comer a vadia e jogar fora”. Este é
um dos campos morais onde Nessahan Alita justifica tais comportamentos argumentando que

36
É um princípio do Epicurismo a respeito do movimento livre e indeterminado dos átomos , definido como o
impulso espontâneo de buscar o prazer e fugir da dor.
37
CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições de Epicuro à Ressurreição de César: ensaio sobre o
materialismo e a religião civil. 2 edição. Rio de Janeiro: Topbook, 1998. p. 44.
38
HUXLEY, Aldous. Regresso ao Admirável Mundo Novo. São Paulo: Hemus, 1959.
31

como a vadia busca se relacionar de modo utilitarista, então o homem pode se aproveitar para
passar-lhe a perna. “Olho por olho, dente por dente” que cria uma contradição onde o combate
à promiscuidade feminina é feito mediante o ato de nutrir a promiscuidade feminina. O
homem solteiro transformado no cafajeste, o pólo invertido da vadia. Combatendo fogo com
fogo, encarna-se, literalmente, a guerra dos sexos. A segregação que Mario Ferreira dos
Santos identificou como crisis.
Além disso, a justificativa “moral” de Nessahan Alita é influenciada em um princípio
gnóstico de culpar terceiros. O determinismo pessimista da Real leva a „inevitabilidade‟ da
vadia, fazendo com que errado seja não se aproveitar disso. Aproveitando-se da maré
hedonista promovida pelo feminismo, surfa-se na onda culpando o mar por estar surfando
nela.
Ressalta-se também que o ambiente de relacionamento efêmero e utilitarista é uma
característica de nosso tempo pós-moderno (e a Real não deixa de confirmar este prognóstico
ao descrever a relação vadia-cafajeste). Em “Modernidade Líquida”, o sociólogo Zygmunt
Bauman descreve a características efêmeras e instrumentais da dinâmica pós-moderna, onde o
“querer” é a principal motivação de nosso tempo. O anterior espírito de produtor – seguir
regras e preceitos que agradem ao cliente – transfigurou-se para o espírito de consumidor – a
procura da satisfação em curto prazo. Espírito de consumidor este que é alheio ao pensamento
conservador, cuja prudência prevê analisar as conseqüências em longo prazo.

3.3 NECESSIDADE DA DISCUSSÃO MORAL

A grande praga da pós-modernista é o relativismo moral, não pelo simples fato de que
considera que todas as idéias têm mesmo peso e validade, mas porque também censura o
debate moral.
Em tempos de relativismo, a discussão moral é movida para baixo do tapete, é vista –
e este tipo de papo não escapa ao ambiente da Real – como mera “questão religiosa” que
“deve ser respeitada”39. Oras, este tipo de discurso ignora um detalhe deveras importante: a
discussão moral aponta para critérios de verdade que, respeitados, visam objetivamente buscar
o melhor caminho para uma ordem social.

39
Tipo de discurso, diga-se que é exemplo visível de manifestação relativista.
32

Não esqueçamos que a justificativa “moral” de políticas esquerdistas, como bem


sintetiza Saul Alynsky40, está pautada em abstrações. A mais conhecida é o famoso discurso
pelo “bem comum”. A partir deste fim impreciso, todas as atitudes dos revolucionários
estariam justificadas a priori. Sabemos que este tipo de pensamento não gera a ordem social,
mas seu oposto. Tal ambiente relativista, portanto, preocupa-se menos com o bem estar social
do que adquirir o poder subjugando uma ordem moral vigente.
Os conservadores, por outro lado, estão mais preocupados em discutir os meios para
se chegar a determinado fim. Há certos valores inegociáveis, aprendidos pelo sacrifício de
nossos antepassados. Além disso, devemos nos preocupar por aqueles que virão depois de
nós. Resumidamente, o conservador leva em consideração o fato de sermos uma comunidade
de almas.
Como o relativismo moral é, em termos práticos, uma ferramenta visa subtrair-se de
culpa e/ou responsabilidade – afinal, se não há certo ou errado, verdadeiro ou falso, então
tudo pode ser feito – não é meramente uma surpresa que outra característica presente na pós-
modernidade seja a aplicação do sentimentalismo como critério de verdade, um ambiente
fértil para colher histerias. Como observa Stanley J. Grenz:

Os pós-modernos não estão também, necessariamente, preocupados em provar


que estão "certos" e os outros "errados". Para eles, as crenças são, em última
análise, uma questão de contexto social e, portanto, é bem provável que
cheguem à conclusão de que "o que é certo para nós talvez não o seja para
você" e "O que está errado em nosso contexto talvez seja aceitável ou até
mesmo preferível no seu".41

Na questão moral, este é mais ou menos o espírito das discussões „realistas‟. Não
podendo, como já foi observado anteriormente, ser chamado de um movimento conservador.
Uma vez que há conservadores na Real e sendo este trabalho dirigido ao público conservador,
devemos rejeitar o espírito pós-moderno e abordar a discussão moral em termos racionais. Em
"Inteligência e verdade", Olavo de Carvalho discorre:

O que aconteceria se, numa determinada sociedade, existisse um grande


número de pessoas capazes de julgar por si mesmas e de perceber a verdade,
não sobre todos os pontos, mas sobre os pontos de maior interesse para a
sociedade, ou sobre os que são mais urgentes? Haveria mais sensatez, os
debates levariam a conclusões mais justas, as decisões teriam um sentido mais

40
ALINKY, Saul. Rules of Radicals: A Pragmatic Primer for Realistic Radicals. New York: Random House,
1971.
41
GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo: Vila
Nova, 1997. p. 34.
33

realista. Agora, numa sociedade onde todos estão se persuadindo uns aos
outros de coisas de que eles mesmos não estão persuadidos, onde todos estão
procurando se enganar, ou onde todos estão procurando ajuda dos outros para
se enganar mais facilmente a si mesmos, todas as discussões versam sobre
fantasmas, as decisões se esvanecem em meros sonhos, as frustrações levam o
povo a um estado de exasperação do qual ele procura fugir mediante novas
fantasias, e assim por diante. Isto acontece no campo religioso, político, moral,
econômico e até no campo científico. Podemos partir para uma outra definição,
e dizer que um país tem uma cultura própria quando ele tem um número
suficiente de pessoas capazes de perceber a verdade por si mesmas, e que não
precisam ser persuadidas por ninguém. Estas pessoas funcionam como uma
espécie de fiscais da inteligência42 coletiva. Em nosso país o número de pessoas
assim é escandalosamente reduzido. As pessoas encarregadas de perceber a
verdade por si mesmas devem ter uma inteligência treinada para isto, devem ter
uma inteligência dócil à verdade e ser as primeiras a perceber e compreender o
que se passa. Isto é que constitui uma inteligência nacional, uma
intelectualidade nacional. A intelectualidade autêntica não é constituída
necessariamente pelas pessoas que exercem profissões ligadas à cultura ou à
inteligência, mas sim pelas pessoas que, exercendo ou não essas profissões,
realizam as ações correspondentes a elas. Não é preciso ir muito longe para
dizer que a sorte global de um país depende de que haja uma camada de
pessoas assim, para poder, nos momentos de dificuldade, dar esta contribuição
modesta que é simplesmente dizer a verdade. No Brasil temos um número
assombroso de pessoas que trabalham em atividades culturais, escritores,
professores, artistas, em geral subvencionados pelo governo, mas que nem de
longe pensam em cumprir as obrigações elementares da vida intelectual; tudo o
que fazem é apoiar-se uns aos outros num discurso coletivo, reafirmar as
mesmas crenças de origem puramente egoista e subjetivista, expressar desejos e
preconceitos coletivos e pessoais, promover a moda. Essas pessoas vivem
reclamando de que neste país há poucas verbas para a cultura. Mas, para fazer
isso que elas chamam de cultura, já recebem muito mais dinheiro do que
merecem. Os cineastas, diretores de teatro, etc., constituem uma casta
privilegiada, que é estipendiada pelo governo para exibir em público emoções
baratas, afetar indignação e posar como "pessoas maravilhosas" em
apartamentos da av. Vieira Souto.43

Sendo assim, a discussão moral não pode ser construída em torno da enganação; mas
da verdade. Além disso, é sensato que se aborde os interesses mais urgentes da sociedade.
Dado tais pressupostos, a temática da Real certamente é relevante, pois retrata a dinâmica dos
relacionamentos amorosos. Além disso, o movimento visa fazer um contraponto político e
cultural. Discutiremos então aquilo que hoje é um tabu invertido em nossa sociedade pós-
moderna: a sexualidade. Como este trabalho não é direcionado a esquerdistas ou pessoas
incorporadas do espírito relativista pós-moderno, recordamos que não há receio quanto a
rótulos do tipo “careta”, “retrógrado”, “fanático”, etc.

42
Definição de inteligência: a potência de conhecer a verdade por qualquer meio que seja.
43
CARVALHO, Olavo de. Inteligência e verdade. Apostilas do Seminário de Filosofia. 1994. Disponível em
http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/intver.htm
34

Rejeitando qualquer relativismo ou sentimentalismo, a discussão moral vai ser


empreendida por critérios racionais visando uma ordem moral duradoura para a sociedade.
Nossa sociedade moderna pode ter esquecido a existência do certo e errado e da importância
da hierarquia de valores, mas isso não justifica colaborar com tal inércia, pelo contrário,
desafiar esta censura pós-moderna é fundamental para a sobrevivência do nosso valor humano
e ascensão de nossa inteligência. Como explica Olavo de Carvalho:

Se definimos a inteligência como a capacidade humana de captar o que é


verdade, também entendemos que o essencial do ser humano, aquilo que o
diferencia dos animais, não é o pensamento, não é a razão, nem uma
imaginação ou memória excepcionalmente desenvolvidas, embora tudo isto haja
efetivamente no ser humano. Pois pensar, um macaco também pensa: ele
completa um silogismo e até encadeia silogismos num raciocínio relativamente
perfeito. Imaginação, até um gato possui: os gatos sonham. Por este caminho
não encontraremos a diferença específica humana, aquilo que nos torna homens
em vez de bichos. E, se é importante arraigar o homem no reino animal, para
não fazer dele um ser angélico sem pés no solo, também é importante saber
distingui-lo de uma tartaruga ou de um molusco por alguma diferença que não
seja meramente quantitativa e acidental.
O que nos torna humanos é o fato de que tudo aquilo que imaginamos,
raciocinamos, recordamos, somos capazes de vê-lo como um conjunto e, com
relação a este conjunto, podemos dizer um sim ou um não, podemos dizer: "É
verdadeiro", ou: "É falso". Somos capazes de julgar a veracidade ou falsidade
de tudo aquilo que a nossa própria mente vai conhecendo ou produzindo, e isto
não há animal que possa fazer.44

3.4 A QUESTÃO MORAL DO SEXO

Façamos aqui uma abordagem moral do sexo. Em um dos debates entre conservadores
e „realistas‟, alguém desta perguntou: “o que tem de mal no sexo?”. Ótima pergunta. Ela é
simples, mas exige uma resposta não tão simples. Lá vamos nós.
De qual tipo de sexo estamos falando? A começar, devemos enumerar dois tipos de
sexo, classificando-os quanto ao seu fim. Então, vamos dividi-lo em sexo que visa à
procriação e sexo que visa o prazer. Façamos isso pela constatação óbvia de que o ato sexual
pode gerar filhos (reprodução) e que o prazer é gerado pelo orgasmo. Pode haver uma sagaz
observação: há orgasmo no sexo que daqui a nove meses colocará mais um ser humano no
mundo. Justo, então esclarecemos que o sexo por prazer não tem a intenção gerar filhos. É o
sexo que visa sensação orgásmica com explícito não interesse de ter filho.

44
Idem
35

A primeira questão a ser levantada é: na hierarquia de valores, qual é o tipo de sexo


mais importante? O sexo procriativo, naturalmente. Imaginemos que todo mundo deixe de
fazer este tipo de sexo, em poucos anos acabaria a humanidade. Este tipo de sexo é
fundamental para o ciclo da vida: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Se as pessoas deixam
de fazer o sexo por prazer e só fizerem o procriativo, a vida e a sociedade continuam. A
recíproca, por outro lado, não é verdadeira.
Continuando o raciocínio, haverá uma objeção perspicaz: se for descontrolado em
demasia, muitos filhos nascerão e como eles serão educados? Daí que entra na equação a
família tradicional. O homem casa com a mulher com objetivo de criar um ambiente propício
para a criação dos filhos. Deste comprometimento mútuo, resulta a instituição familiar.
A própria Real atesta que a expansão de mães solteiras não é benéfica para a sociedade
e que, portanto, é preferível que filhos sejam planejados dentro de um projeto de família.
Portanto, verifica-se que, neste contexto desejável, a castidade é uma virtude, enquanto a vida
promíscua está situada em baixos patamares morais, ou melhor, sendo assertivo, na
imoralidade. Para elucidar melhor, podemos definir que o sexo procriativo citado
anteriormente é o sexo realizado dentro do casamento, ou seja, o sexo feito em uma estrutura
que não tem medo de cegonha.
Desta análise constamos que colocar o sexo casual (por prazer) acima do sexo
procriativo (dentro de um projeto de família) é uma clara inversão de valores. Não é à toa que
a libertação sexual resultou no enfraquecimento da família e conseqüentemente no aumento
da desordem social. Certamente há alguém lucrando com isso e é o que sintetiza Jeffrey
Nyquist:

Eis a chave para se entender tudo que está acontecendo nos dias de hoje. Além
disso, o novo regime "administrado" teve como seu maior e mais decisivo feito a
aniquilação do pai de família. Se alguém duvida do impacto dessa revelação,
considere a estatística de 2010 do CDC dizendo que 40.8% de todos os
nascimentos provém de mulheres solteiras.
Meus colegas libertários podem perguntar porque nascimentos fora do
casamento estão relacionados com a destruição do capitalismo. A resposta é
simples. O Estado de bem-estar social alimentou essa catástrofe social da
orfandade paterna. Por conta de o pai não ser mais necessário e o novo regime
prometer dar apoio a todos que passarem por necessidades, a sociedade se
transformou e o espírito da época já não é mais capitalista. Ele é agora
estadista.
E agora, ao invés de milhões de pais tomando conta dos seus filhos e esposas,
temos o governo no lugar. Isso é verdade pelo menos em princípio, pois em
última análise pode se dizer que todas mulheres têm um verdadeiro e firme
esposo. Esse esposo é o Estado.
O capitalismo é um sistema de propriedades, e a paternidade é a fonte
permanente da propriedade. Isso está melhor exposto na sábia obra de Stephen
36

Baskerville, cujo artigo recente, "Porquê estamos perdendo a batalha pelo


casamento" explica que "o casamento existe para ligar o pai à família". O
casamento, segundo ele, não é uma instituição de gênero neutro. É a
propriedade do pai que estabelece a família como unidade econômica e que
possibilita a regeneração da função materna. Sem essa propriedade não pode
haver capitalismo, propriedade efetiva ou uma firme base para sustentar a
economia nacional.
Como mostra Baskerville, onde quer que a paternidade seja descartada ou
diminuída, vemos "matriarcados empobrecidos e dominados pela criminalidade
e pelas drogas". Ao fazer o papel de proprietário, o estado se torna pai desses
"matriarcados". De acordo com Baskerville, "sem a autoridade paterna,
adolescentes viram selvagens e a sociedade descende ao caos". Naturalmente, o
estado tem um número cada vez maior de razões para intervir na sociedade e,
por conseguinte, na economia. O que muitos defensores do capitalismo não
conseguiram entender é que a conexão existente entre a autoridade paterna e o
livre mercado. Eles não conseguiram entender que a erosão do patriarcado
significa o surgimento de um estado leviatã (isto é, um governo cujo controle
sobre a economia é cada vez maior — o socialismo).45

O relacionamento monogâmico é, pela natureza humana, o modo mais efetivo de


organização social. Este é o grande segredo por trás do sucesso de nossa sociedade
ocidental46.
Ao refutar uma sugestão esquerdista sobre o governo ficar com todo o dinheiro da
herança, Milton Friedman responde com uma sagaz observação que tem passado
despercebido nesses tempos pós-modernos:

Receio não conhecer o histórico de sua família, mas enquanto cresce, você
descobrirá que esta é, na verdade, uma sociedade familiar e não uma sociedade
individualista. Nós costumamos falar sobre uma sociedade individualista, mas
na verdade não é. É uma sociedade familiar. E os maiores incentivos de todos,
os incentivos que realmente tem motivado as pessoas são os de se criar uma
família; de estabelecer uma família em um sistema decente. Qual é o resultado
de se ter 100% de imposto sobre herança? 100% de imposto iria estimular as
pessoas a dissipar suas riquezas em uma vida de excessos. E qual é o problema
disso?! O problema disso é que: de onde advém as fábricas? De onde vem as
máquinas? De onde vem o capital para investimento? De onde você consegue o
incentivo para desenvolver tecnologias, se o que você está fazendo é estabelecer
uma sociedade na qual os incentivos para as pessoa - se por acidente elas
acumularem alguma riqueza - levam-nas a desperdiçar tudo em entretenimento
fútil? Quer saber, o fato é que é impressionante que as pessoas não percebem a
dimensão a qual o sistema de mercado tem encorajado e possibilitado às
pessoas trabalharem duro e se sacrificarem - o que eu devo confessar que
frequentemente considero uma ação irracional - em benefício de seus filhos. (...)
Lá estão nossos pais que têm todos os motivos para acreditar que seus filhos

45
NYQUIST, Jeffrey. Espírito de Época. Mídia sem Máscara, 17/04/2013. Disponível em
http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/14049-espirito-de-epoca.html
46
PERNOUD, Régine. Luz da Idade Média.
37

terão uma renda maior do que eles jamais tiveram, apertando e poupando para
deixar algo para seus filhos.47

A família tradicional, o relacionamento monogâmico, é o sacrifício mútuo entre um


homem e uma mulher em função de seus filhos. Em termos da Real, o homem e a mulher
esforçam-se a conter a “vadiagem” para, compartilhando uma vida conjugal, formar uma
família em função da criação dos filhos. Em outras palavras, o sucesso da estrutura familiar
depende do exercício de virtudes.
Eis porque o hedonismo de nossos tempos é corrosivo. A inversão de valores em torno
do sexo fez com que o egoísmo passasse a ser critério de escolha. O sentimento que busca o
prazer sexual em detrimento de um projeto para formação de família.
O curioso é que a Real possui um ótimo material que visa, entre outras coisas,
recuperar conceitos do relacionamento que parecem ter sido enterrados pela cultura feminista.
A Real não nega a natureza feminina de ser submissa ao marido e do homem ser o líder da
relação. Em “Os Princípios que Regem as Interações Social”48, Dr. Ledice e Prof. Plum
orientam o homem a buscar a ordem de um relacionamento pela autoridade e liderança. É um
trabalho da Manshood Academy que tem conseguido, inclusive, salvar casamentos49.
Feitas as devidas observações, podemos afirmar que moralmente a castidade e o
casamento indissolúvel são valores superiores ao hedonismo e a relacionamentos efêmeros
dos quais estamos habituados nos dias de hoje.
Antes de comentar possíveis objeções, vamos abordar um possível “meio-termo”. E o
sexo no namoro, sem ser casado? Seguindo o raciocínio sobre as virtudes, certamente o sexo
no namoro teria um valor superior ao sexo casual, mas inferior à castidade (sexo apenas no
casamento), pois no casamento, ao contrário do namoro, há (ou deveria haver) um
compromisso concretizado. O namoro é, pois, a pré-etapa do casamento, cujo princípio moral
elevado orienta a não colocar a carroça na frente dos bois, ou seja, preservar a castidade.
O namoro seria o desenho e as plantas da casa; o casamento, a construção da casa; e o
sexo, a mobília, reforma e/ou manutenção da casa.

47
Milton Friedman - Redistribuição de Riquezas. Portal Libertarianismo, Youtube. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=g-zgxrO4kWg
48
Dr. LEDICE de Prof. PLUM. Os princípios que regem a interação social. Manhood Academy. Disponível
em http://manhood101br.blogspot.com.br/
49
SPIRIT. Conversa com mulher planejando largar o marido. Manhood Academy Brasil, 22/03/2013.
Disponível em http://manhood101br.blogspot.com.br/2013/03/mulher-desapontada.html
38

Uma vez que o hedonismo e o materialismo são utilitaristas, a castidade não deixa de
ser um parâmetro, embora não infalível50, de fidelidade. Não sendo apenas uma “mera
questão religiosa”, o sexo restrito a vida conjugal do casamento é, moralmente, o melhor
modelo social. A melhoria social, portanto, deveria passar pelo incentivo aos valores
tradicionais (castidade e casamento). Infelizmente, o que vemos hoje é o desdém (defender
esse tipo de coisa em pleno século XXI), ridicularização (virjão, vai pegar mulher, huehue BR
BR) e/ou relativização (isso é a sua opinião ou isso é coisa de religião).

3.4.1 Possíveis objeções e melhores esclarecimentos

Entre possíveis objeções ou comentários retóricos, o objetivo aqui é prestar melhores


esclarecimentos e continuar discorrendo sobre o assunto51.

 Quer dizer que só pode fazer sexo se for com a intenção de ter filho?

Não. Seria um puritanismo besta afirmar isso. O que foi exposto é que o sexo
procriativo é moralmente superior ao sexo masturbativo, não obstante, a sociedade pós-
moderna age de modo contrário.
Neste aspecto, vale a observação sensata que, uma vez escolhida a mãe de seus futuros
filhos (em comum acordo com a mesma, claro), o sexo (reprodutivo ou por prazer) seja feito
em compromisso de fidelidade. Este é o modo mais prudente e ordeiro de lidar com a questão
do sexo. O que não significa, diga-se, que seja fácil.

 Nos tempos de hoje, o casamento não dura. Então não faz sentido a castidade.

É a triste realidade de nosso tempo. O hedonismo enfraquece os laços amorosos


(perde-se a noção de sacrifício, pautando-se em princípios utilitaristas). Agora, uma coisa é
uma coisa, outra coisa é outra coisa. Isso não muda o fato de que a castidade é um valor

50
Quais são as motivações da castidade? Seriam os homens e mulheres virgens de nosso tempo castos por
motivos de consciência moral? Falta de oportunidade, narcisismo religioso, medo, entre outros, seriam
motivações “de risco”.
51
Pode vir a ser atualizado em edições futuras.
39

superior ao come-come. A gasolina, embora líquida, em contato com o fogo não vai apagá-lo.
A respeito deste tipo de pessimismo, já foram feitas considerações neste trabalho.

 Nunca houve na história uma época em que a coisa funcionou de modo perfeito.
Sempre houve putaria. A prostituta é a profissão mais antiga do mundo, por
quê? Este é um discurso que se volta a um idealismo romântico.

É preciso destacar um detalhe de extrema importância nesse tipo de discussão. De


fato, nunca houve, como nunca vai haver, uma sociedade onde todo mundo faça as coisas do
jeito 100% correto. Somos imperfeitos, sendo a perfeição é impossível52. Todavia, uma coisa
é a pessoa errar sabendo que está errando, outra diferente é pregar o falso como verdadeiro.
Está em jogo o peso da consciência. No artigo “A demolição das consciências”, Olavo de
Carvalho alerta (grifos nossos):

Moralidade é consciência, é discernimento pessoal, é busca de uma meta de


perfeição que só aos poucos vai se esclarecendo e encontrando seus meios de
realização entre as contradições e ambigüidades da vida.
Sto. Tomás de Aquino já ensinava que o problema maior da existência moral
não é conhecer a regra geral abstrata, mas fazer a ponte entre a unidade da
regra e a variedade inesgotável das situações concretas, onde freqüentemente
somos espremidos entre deveres contraditórios ou nos vemos perdidos na
distância entre intenções, meios e resultados.
Lutero -- para não dizerem que puxo a brasa para a sardinha católica -- insistia
em que "esta vida não é a devoção, mas a luta pela conquista da devoção".
E o santo Padre Pio de Pietrelcina: "É melhor afastar-se do mundo pouco a
pouco, em vez de tudo de uma vez".
A grande literatura -- a começar pela Bíblia -- está repleta de exemplos de
conflitos morais angustiantes, mostrando que o caminho do bem só é uma linha
reta desde o ponto de vista divino, que tudo abrange num olhar simultâneo.
Para nós, que vivemos no tempo e na História, tudo é hesitação, lusco-fusco,
tentativa e erro. Só aos poucos, orientada pela graça divina, a luz da
experiência vai dissipando a névoa das aparências.
Consciência -- especialmente consciência moral -- não é um objeto, uma coisa
que você possua. É um esforço permanente de integração, a busca da unidade
para além e por cima do caos imediato. É unificação do diverso, é resolução
de contradições.
Os códigos de conduta consagrados pela sociedade, transmitidos pela educação
e pela cultura, não são jamais a solução do problema moral: são quadros de
referência, muito amplos e genéricos, que dão apoio à consciência no seu
esforço de unificação da conduta individual. Estão para a consciência de cada
um como o desenho do edifício está para o trabalho do construtor: dizem por
alto qual deve ser a forma final da obra, não como a construção deve ser
empreendida em cada uma das suas etapas.
Quando os códigos são vários e contraditórios, é a própria forma final que se
torna incongruente e irreconhecível, desgastando as almas em esforços vãos

52
Os cristãos apontam para uma única exceção na história: Jesus Cristo.
40

que as levarão a enroscar-se em problemas cada vez mais insolúveis e, em


grande número de casos, a desistir de todo esforço moral sério. Muito do
relativismo e da amoralidade reinantes não são propriamente crenças ou
ideologias: são doenças da alma, adquiridas por esgotamento da inteligência
moral.
Em tais circunstâncias, lutar por este ou aquele princípio moral em particular,
sem ter em conta que, na mistura reinante, todos os princípios são bons como
combustíveis para manter em funcionamento a engenharia da dissonância
cognitiva53, pode ser de uma ingenuidade catastrófica. O que é preciso
denunciar não é este ou aquele pecado em particular, esta ou aquela forma de
imoralidade específica: é o quadro inteiro de uma cultura montada para
destruir, na base, a possibilidade mesma da consciência moral. O caso de
Tiger Woods, que citei no artigo, é um entre milhares. Escândalos de adultério
espoucam a toda hora na mesma mídia que advoga o abortismo, o sexo livre e o
gayzismo. A contradição é tão óbvia e constante que nenhum aglomerado de
curiosas coincidências poderia jamais explicá-la. Ela é uma opção política, a
demolição planejada do discernimento moral. Muitas pessoas que se
escandalizam com imoralidades específicas não percebem nem mesmo de longe
a indústria do escândalo geral e permanente, em que as denúncias de
imoralidade se integram utilmente como engrenagens na linha de produção. Ou
a luta contra o mal começa pela luta contra a confusão, ou só acaba
contribuindo para a confusão entre o bem e o mal.54

Sempre houve mulher vadia na história, mas elas eram mal vistas. O que o feminismo
está fazendo é inverter isso como que parodiando as ovelhas de “A Revolução dos Bichos”55:
mulher conservadora ruim; periguete bom56. De maneira análoga, parte da Real faz isso em
relação ao sexo. Onde o estilo sexo-sexo é incentivado. O nome disso é inversão de valores,
justamente porque se troca a virtude pelo vício e vice-versa. É o estupro da consciência moral.

 Quem escreveu isso deve ser um baita de um mangina

Provocação de jardim de infância. Seria o caso de relembrar uma nota de rodapé


colocada anteriormente: Feministas, esquerdistas, libertários, juvenas da Real... Ou melhor,
colocando de outro modo: odiadores do conservadorismo e fanáticos pela Real, por favor,
não percam tempo com seus possíveis ‗nonsenses‘ contra este trabalho. A crítica deve ser
feita por gente grande. Por gente grande, interprete pessoas com juízo intelectual em ordem.
Certamente há pessoas na Real capacitadas para isso, deixe isso para elas.

53
A engenharia da dissonância será melhor elucidada no próximo capítulo.
54
CARVALHO, Olavo de. A demolição das consciências. In: O mínimo que você precisa saber para não ser
um idiota. Organização de Felipe Moura Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2013. p. 177-179.
55
ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. São Paulo: Globo, 2000.
56
O comentário que diz que antigamente era possível diferenciar bem a prostituta da mulher e que hoje não dá
para saber mais quem é quem é uma crítica válida aos nossos tempos.
41

 Eu me pergunto se quem escreveu isso é virgem...

Esse tipo de pensamento é, na realidade, exemplo prático da inversão de valores. O


virgem pode – e talvez seja a regra geral – nunca ter feito sexo, porque não consegue lidar
com as mulheres (e teria na Real material para mudar de postura). Este caso seria uma pessoa
casta por motivos errados, cuja angustia reside em não estar conseguindo ser “igual aos
outros”, conforme se é condicionado pela engenharia social feminista.
Se quem escreveu isso é virgem ou não é indiferente. Se a resposta for afirmativa, ele
tem consciência de que a castidade é uma virtude. Se a resposta for negativa, isso não
resultaria em hipocrisia, pois como bem lembra Peter Kreeft57, a hipocrisia não é
caracterizada por não conseguir praticar o que se prega; mas por deixar de acreditar no que se
prega sem deixar de pregá-la, fingindo que se vive de acordo com isso. A hipocrisia é uma
propaganda enganosa. Por exemplo, a pessoa que, vivendo orgulhosamente uma vida regada a
sexo casual, pregasse a castidade como modelo de vida seria hipócrita58. Não seria hipócrita a
pessoa que argumenta em favor da castidade e tenta, com sinceridade, praticá-la e, mesmo
tendo falhado, continuar tentando fazer aquilo que acha certo.

 Está querendo proibir o sexo?

Não. Tal atitude não só seria impossível, como autoritária e imoral. A discussão foi de
ordem moral. Fizemos um raciocínio simples em que se concluiu que castidade e família são
valores morais superiores a respeito da conduta sexual. O que o leitor fará com tal informação
não é da nossa conta.
Em um True Outspeak, Olavo de Carvalho comentou que o pecado de ordem
particular sempre existiu e sempre vai existir. Isso era problema da pessoa e não afetava a
sociedade. O perigo do espírito revolucionário, contudo, está em transformar seus pecados
particulares em condutas públicas e desejáveis. É o convite para o caos social.

57
KREEFT, Peter. Maquiavel: a nova "moral" do poder. Quadrante. Disponível em
http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp?id=125&cat=9
58
A não ser que admitisse estar errado em sua conduta, aí seria um surpreendente caso de cafajeste sincero.
42

 Eu acho que se a pessoa está solteira, ela tem o direito de fazer sexo com quem
quiser (se for consensual, logicamente), mas se começar a namorar, aí tem que
encarar a coisa com seriedade.

O sexo é feito entre duas pessoas59. Se há um homem solteiro, deve haver uma mulher
solteira para concretizar tal filosofia. Tem-se, então, a cultura da vadiagem com o pretexto de
estar solteiro. Os valores de castidade e família permaneceriam superiores. Além disso, este
enunciado não deixa de ser a síntese do pensamento da sociedade atual, resultado da mistura
do hedonismo com moralidade ocidental decadente. O pessimismo da Real quanto ao assunto
traduz bem o resultado prático desse tipo de filosofia.
Esta análise esteve menos preocupada em condutas particulares do que em uma
cultura que visa subverter os valores morais, anestesiando a consciência para distinção de
verdade-mentira e/ou certo/errado. Sabemos que o “viveram felizes para sempre” dos contos
de fadas não condiz com a dura realidade do dia-dia, contudo, os contos de fadas não deixam
de ser importante para educar as crianças para os melhores valores. É como dizia Chesterton:
Contos de fada não dizem às crianças que dragões existem. Crianças já sabem que dragões
existem. Contos de fada dizem às crianças que dragões podem ser mortos. Em suma, os
contos de fadas já são um preparar da consciência. Isso é bem explicado no Vlogoteca 08,
onde Marcela Andrade faz um resumo do livro "Dez maneiras de destruir a imaginação do seu
filho". Um dos métodos para destruir a imaginação das crianças está justamente em substituir
contos de fadas por clichês políticos e modas:

Substitua os contos de fadas por clichês políticos e modas60: Os contos de fadas


e os contos populares trazem personagens fiéis à verdade da vida. Para que seu
filho não aprenda a pintar, prive-o de uma paleta. Para que ele não use a
imaginação a fim de conceber histórias arquetípicas, prive-o da paleta
narrativa. Elimine, corrompa ou subverta todos os tipos, isso será mais fácil de
ser obtido privando-os dos contos de fadas.
Os personagens [dos contos de fadas] vivem num mundo moral, cujas leis são
claras como a lei da gravidade (...). No conto popular, o bem é o bem, o mal é o
mal, e o primeiro sempre triunfará. Isto não é falta de imaginação, mas seu
princípio e fundamento. É isso que possibilitará às crianças, mais tarde,
compreender Macbeth, Dom Quixote ou David Copperfield.61

59
Combinações numéricas mais bizarras estão sendo desconsideradas.
60
O que casa perfeitamente com o conceito de “Escola Unitária” do comunista Antônio Gramsci.
61
Vlogoteca 08 - Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho. Ana Caroline Campagnolo Bellei,
Youtube. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=QFHebzylifE [8:14 - 9:10]
43

Divagamos um pouco, mas a complementação sobre os contos de fadas mostra até que
ponto o empenho que visa a distorção da moralidade pode chegar.

 99% das mulheres são vadias. Está querendo que eu case com uma vadia?

Podemos voltar a um questionamento anterior sobre a autocrítica. Como posso eu


exigir a mudança de uma mulher se eu não estiver disposto a corrigir meus próprios erros?
Pregar a moralidade sendo imoral não é apenas hipocrisia, mas também é a tática de gritar
“pega ladrão” mais alto para vender culpa como inocência.
Há nesse tipo de questionamento provocante certo grau de determinismo. O
pessimismo entra em cena e cria o desespero, agravando a crise (conforme citação anterior de
Mario Ferreira dos Santos). O namoro é a pré-etapa para o casamento, onde o casal deve se
preocupar em conhecer um ao outro, portanto, não deve ser tratado como um tiro no escuro ou
como vencer na loteria. A Real tem o conteúdo que, apesar de não estar livre de críticas,
permite ao homem analisar as coisas como elas são e de ter maior controle sobre o
relacionamento. Com conhecimento e maturidade, é possível engajar um namoro como pé na
realidade e evitando a desinformação da matrix. Se não der certo, parte para outra tentativa.
Desesperar-se e então abrir mão de tentar resulta no agravamento – e não na solução – da
crise.
Sendo o Amor (com A maiúsculo) a solução moral, distanciar-se dele em nome do
amor-mentiroso não é a solução. Por isso, vamos, no próximo item, fazer considerações
importantes sobre o Amor, tão em desuso em nosso tempo.

3.4.2 Acerto de contas com o Amor

O amor está no ar. Infelizmente não. A famosa frase “eu te amo” é ótima para
bilheteria em cinemas ou para drama de novelas, mas em nossos tempos chega a valer tanto
quanto nota de três reais. No Facebook, houve um banner que traduzia bem a realidade
moderna. Uma garota que em uma semana já havia “amado para sempre” três pessoas
diferentes (Figura 3). Por que tantos amores para sempre não vingam?
44

Figura 3 – Como diria Galvão Bueno... Haaaaaja “coração”.

O amor é simplesmente uma palavra banalizada. Em tempos pós-modernos, vale mais


o sentimento do que ações em concreto. O amor que está na mídia e nos relacionamentos
rotineiros não é amor de verdade (Amor). O Pe. Paulo Ricardo faz uma reflexão que é
bastante elucidativa: considerando um casal jovem que se conheceu na balada e que “rolou
aquela química” e um casal de idosos com mais de 50 anos de matrimônio. Em qual dos dois
casos há mais sentimento? Certamente que nos jovens da balada. Em qual dos dois casos há
mais Amor? Certamente que no casal de velhinhos. Desta sagaz ilustração, conclui-se que o
amor não está voltado para o mero sentimentalismo62.
Não fazemos estas observações para os „realistas‟, mas principalmente para
conservadores com grau de romantismo que transgrediu a linha de risco. A Real carrega o
desmascaramento do mito do amor romântico no pacote de saída da matrix. Os „realistas‟
sabem diferir o amor da paixão. Ensinam que a matrix é que faz as pessoas trocarem um pelo
outro. Então entra em cena o „desapego‟, ou seja, o esforço para não se apaixonar e, assim,
vencer a „guerra‟ da dinâmica dos relacionamentos modernos.
Novamente vemos a Real acertar em um ponto importante, mas, no momento de lidar
com o problema, segue para caminhos questionáveis. Os „realistas‟ identificaram uma

62
Amor e Paixão. Destrave Canção Nova, Youtube. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=lcwCSHYLNJc
45

importante farsa. A venda de paixão por amor é denunciada. Permanece, contudo, a seguinte
problemática: o que é o Amor (a maiúsculo)?
No artigo “Amor, casamento, divórcio”, Gustavo Corção atribui o fracasso dos
casamentos principalmente à imaturidade, ao despreparo:

As causas da infelicidade são pois numerosíssimas. São entrelaçadas,


combinadas, variadas, convergindo todas para o mesmo epílogo de lágrimas.
Não pretendo deixar aqui uma receita de paraíso conjugal, nem pretendo que o
problema seja fácil. A vida conjugal sempre foi difícil; e sempre o será. Mas o
que se pode dizer sem erro, e sem ridículo otimismo, na atual conjuntura em que
vivemos, é que o desvario ultrapassou seus razoáveis limites, e que alguma
coisa pode e deve ser tentada no sentido de uma recuperação. E para isto
cumpre isolar, no emaranhado de causas, aquela que mais influi na aceleração
do mal.
Torno a dizer que é a imaturidade, o despreparo. As outras causas são todas
tributárias dessa imensa bacia hidrográfica da frivolidade. As pessoas se casam
por motivos oblíquos; se casam sem saber o que é o casamento; fundam família
sem conhecer o que é a família; mudam de estado com ponderações menores do
que os motivos de escolha de uma carreira, e às vezes tão leves como as que
determinam a escolha de uma gravata. Ignoram a natureza do novo estado;
desconhecem-se mutuamente os que se propõem viver unidos; e se ignoram a si
mesmos, seus próprios recursos, seus novos deveres, suas responsabilidades
novas.63

Mais a frente, no mesmo artigo, Corção então lembra a importância da racionalidade


para superação de problemas e que, por conseguinte, está diretamente relacionado com a
moralidade:

É claro que a vida está cheia de imprevistos. A própria criança é um destes, e


dos mais terríveis. Mas dizer que a vida é somente formada de imprevistos,
diante dos quais o homem é impotente, equivale rigorosamente a denunciar toda
a validez da moral. Convém firmar este ponto: a pessoa que admitir a
incompetência da razão nos atos mais graves da vida está admitindo
tacitamente a falência total dos princípios de moralidade. Bem sei que já muita
gente admite essa falência, e que seria preciso deslocar a origem das
coordenadas, e escrever um outro livro para discutir esse problema. Neste que
agora escrevo suponho no leitor esse mínimo — a confiança na ordem
moral.64

Em seguida, o jornalista conservador adentra na temática do Amor e dá um tiro de


misericórdia na matrix do amor romântico, chamando-o de amor-próprio. Em linguajar
„realista‟, seria aquele amor matrixiano que prefere a ilusão à verdade (grifos nossos):

63
CORÇÃO, Gustavo. Amor, casamento, divórcio. Permanência. Disponível em
http://permanencia.org.br/drupal/node/52
64
Idem
46

O amor, o verdadeiro amor advinha, penetra, descobre, simpatiza, faz suas as


aflições do outro, dá ao outro suas próprias alegrias. É compreensivo. Mas não
é ―compreensivo‖ no sentido que se dá a esse vocábulo, quando quer significar
uma tolerância que fecha os olhos. Não. O amor verdadeiro é compreensivo
num sentido maior, que não fecha os olhos, mas que também não fecha o
coração. Vê as falhas do outro, vê as misérias do outro, com uma generosa
inquietação, com uma piedosa solicitude. Mas vê. Vê com amor. Mas vê. E é
nessa visão que ele encontra as forças de paciência para os dias difíceis, e que
se defende das amargas decepções. A miséria, o defeito, a falha, apresentados
pelo amor, conservam sempre a dignidade do contexto em que foram
apreendidos, sem sacrifício da veracidade. Porque o amor é veraz; é verídico; é
essencialmente amigo da verdade. E como compete à razão guiar a alma nos
caminhos da verdade, segue-se com lógica irresistível que a razão é o piloto do
amor.
Mas há um amor que é efetivamente cego; um amor que não é verídico; um
amor que não é compreensivo; um amor que não é transformante, e que não
ressoa, que não simpatiza, que não advinha, que é inimigo da verdade. É o
amor-próprio. Cegueira voluntária, o amor-próprio se compraz nas mentiras
que agradam as paixões. Princípio de divisão interna, o amor-próprio divide o
homem de si mesmo.
A maioria dos dramas consiste no equívoco com que se rotula de amor a triste
pantomima do amor-próprio. Esses romances de amor são comédias de erros
em que cada um engana o outro, e a si mesmo se engana, com o jogo gracioso
que se convencionou ser próprio da juventude e da esgrimagem dos sexos. O
centro de todos os disparates é o amor-próprio, a divisão do eu, o divórcio
interno entre a vontade e a inteligência, em torno do qual se forma a
constelação de tendências que Karen Horney chamou de ‗pride system‘.
O rapaz que descobre, um ano depois do casamento, que foi pescado por causa
do padrão O, e que sua mulher casou-se efetivamente com o casado de pele,
dificilmente poderá alegar a obnubilação produzida pelos encantamentos do
noivado. Sua decepção é injusta. Não viu porque não quis ver. Cegou-se por
amor-próprio. Enganou-se a si mesmo, e por conseguinte faltou com a devida
veracidade, isto é, com o verdadeiro amor. Estenda pois a si mesmo a decepção,
e procure dar-lhe os nomes de humildade e paciência. E sobretudo procure,
agora em bases mais autênticas, recuperar a lealdade ferida pela comédia do
amor.65

Reconhecemos que o conceito de „desapego‟ da Real é abstrato. Dependendo de como


for interpretado, pode ser algo positivo ou negativo. O exercício do egoísmo, ou seja, amor-
próprio a que Gustavo Corção se refere, em um contexto fora da matrix, desembarca
justamente para o conceito do homem-cafajeste. O cafajeste é, por definição, desapegado,
pois pensa principalmente em si. É alheio à compreensão do outro.
Em uma situação de matrix romântica, o egoísmo é manifestado em preferir viver de
ilusão, excluindo a compreensão da realidade. O resultado desse tipo de vida está bastante
presente nos relatos da Real. O alerta é que ao vencer o romantismo meloso, o amor-próprio
entra em cena para guiar a pessoa excessivamente ao interesse próprio (transforma-se no
homem-cafajeste), ausentando-se a compreensão para com o outro.

65
Idem
47

O „desapego‟ como ferramenta do amor-próprio é, pois, nocivo. Podemos, contudo,


considerar outro aspecto do „desapego realista‟: o exercício dele para vencer os jogos
femininos e dominar o relacionamento. Isto é, o homem ocupar o seu espaço de líder do
relacionamento. Neste caso o aspecto é positivo, pois existe a compreensão de que a
autoridade masculina é o melhor ajuste para o relacionamento tendo em vista as diferentes
naturezas do homem e da mulher.
Portanto, o desapego como ferramenta para exercer a liderança é bem-vindo. O
homem emasculado, por conta de seu carente apego, desenvolve um medo neurótico pela
perda da mulher e acaba tornando-se submisso na mão de uma vadia cheia de amor-próprio. A
paixão torna a pessoa irracional e incapaz de tomar as melhores decisões, impossibilitando
uma competente liderança.
Liderar, ensina James C. Hunter66, não é o mero ato de mandar. A liderança é mais
profunda e difícil que isso, ela significa servir àqueles que lhe são submissos. O líder serve a
seus subordinados preenchendo suas necessidades.
Precisamos, contudo, ficar atento para não confundir necessidade com vontade. Nem
sempre o que queremos é o que necessitamos. A discussão com a namorada, muitas vezes, é
perda de tempo, pois a mulher se foca mais em discussão emocional do que racional. Mesmo
ela estando nitidamente errada, ela tentará fazer valer a máxima de que “não importa quão
certo você esteja, você está errado”. Brecar os desejos irracionais da mulher é uma
necessidade, embora a mulher não admita. Dominar a relação é, portanto, compreender e
satisfazer as necessidades da mulher, ou seja, exercer a autoridade. É pela justa autoridade que
está contextualizada a famosa submissão feminina que o feminismo insiste em distorcer67.
No anteriormente mencionado “Os princípios que regem as interações sociais”, a
comparação de uma mulher com uma criança é bastante recorrente. Não é feito com intuito de
ofensa, mas de elucidar melhor a questão sobre a necessidade feminina da autoridade
masculina. A imposição de limites à mulher deve ser feito em benefício da mesma. Tais
atitudes de liderança demandam autodisciplina e controle. É difícil, mas o homem honrado
não deve fugir dessa responsabilidade.
A Real, portanto, possui instrumentos para ajudar na conquista do equilíbrio do
relacionamento, mas prefere, em grande parte, optar pelo caminho “mais fácil”: vencer o “cu

66
HUNTER, James C. O Monge e o Executivo: Uma história sobre a Essência da Liderança. 18. ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2004.
67
O feminismo cria uma confusão proposital ao interpretar submissão como sinônimo de opressão.
48

doce” das vadias. Vencer o amor-próprio sentimental feminino com amor-próprio


racionalista.
Inspirado pelo pensamento de Nelson Rodrigues, Luiz Felipe Pondé, em “Filosofia da
Adúltera”, reflete:

Os jovens sempre têm razão porque são jovens, e com isso se destrói a própria
possibilidade da juventude, que é se enganar e pedir desculpas pela falta de
experiência da vida. De Nelson para cá a situação só piorou. Psicólogos,
sociólogos, filósofos, pais e mães, padres, todos temem o jovem. Justificam-no
em sua ignorância normal de jovem. Mães que querem aprender com suas
filhas, deixando estas ao sabor do desespero do envelhecimento. Toda mãe que
quer parecer a filha mata o futuro da filha, mostra que ela será uma ridícula
como a mãe o é agora.
O discurso da morte da família é o discurso da morte da juventude. A invenção
do direito de ser jovem inaugura o direito da imaturidade como lei no mundo. A
única possibilidade de alguém ser jovem é que alguém o diga que está errado,
que nada sabe. Por isso, Nelson repete várias vezes que, quando indagado
sobre o que teria a dizer aos mais jovens, ele dizia: ―envelheçam‖. Mas quando
envelhecer é apodrecer (como em nossa época, em que todos querem ser jovens
para sempre), não há futuro para os mais jovens. A criação do ―jovem‖ como
conceito revolucionário é a pior coisa que aconteceu para os mais jovens.68

Neste mesmo livro, há ainda um apelo que reflete bem o principal teor da crítica que é
dirigido pelos conservadores a Real:

(...) O mundo do sexo tornou-se árido como três desertos e a mulher,


descartável com como uma barata seca que se empurra para o lado.
Os piores homens são os que mais lucraram com a emancipação feminina
porque nunca se preocuparam com as mulheres e agora têm a benção dos
tempos modernos e das feministas, que impede que ela se sinta mulher diante de
um homem com medo de trair sua liberdade para o nada. Não se pode amar e
ser livre ao mesmo tempo. Nelson sabia disso.69

Por falar em Nelson Rodrigues, aproveitando para fazer um gancho com a discussão
moral anterior, escreveu na crônica “Ser para sempre fiel”:

Hoje, na minha casa, penso de vez em quando no Meireles. E o gesto suicida


parece tornar-se no mais transparente dos mistérios. Na época toda a Aldeia
Campista perguntava: — ―Por quê?‖. Ninguém entendia nada. Mas o Meireles
está diante de mim, tão nítido. Morreu do amor livre e, pois, de falta de amor.
Tudo é falta de amor. O câncer no seio ou qualquer outra forma de câncer. É
falta de amor. As lesões do sentimento. A crueldade. Tudo, tudo falta de amor.

68
PONDÉ, Luiz Felipe. O Jovem. In: A filosofia da adúltera: ensaios selvagens. São Paulo: Leya, 2013. p. 51-
52.
69
PONDÉ, Luiz Felipe. O desinteresse pelas mulheres. In: A filosofia da adúltera: ensaios selvagens. São
Paulo: Leya, 2013. p. 75-76.
49

E o Meireles separou o amor e o sexo. E sempre há os que apodrecem em vida


porque separaram o sexo e o amor. A toda hora esbarramos com sujeitos que
praticam a variedade sexual. Esses vão morrer na mais fria, lívida, espantosa
solidão. Por vezes, de madrugada, começo a jogar com as palavras. ―Quem tem
uma tem todas. Quem tem todas não tem ninguém.‖
Depois do suicídio andaram fazendo na rua Alegre um censo das mulheres de
Meireles. Falou-se em ―duzentas‖. Porque teve duzentas, o Meireles morreu
virgem como uma solteirona de Garcia Lorca.70

Não ignorando a importância do amor, questionando inclusive o não-ensinamento de


educação amorosa na escola e criticando a submissão aos instintos animalescos, Nelson
escreveu em “A última „mulher fatal‟”:

Teria eu meus onze anos quando me infligiram as primeiras aulas de


―Educação Sexual‖. De vez em quando lê-se que a doméstica Fulana, parda, foi
arrancada do namorado e seviciada não sei em que terreno baldio. Pois foi esta
a minha sensação. Eu me sentia violado quando o professor falava em Sexo (e,
de amor, nenhuma palavra).
Por que dizer aquilo a meninos e meninas e não a cabras, bezerros e vira-latas?
O Sexo, estritamente Sexo, nada tem a ver com o pobre e degradado ser
humano. É, repito, um problema dos já referidos bezerros, vira-latas e cabras.
E nunca ninguém se dispôs a ensaiar uma ―Educação Amorosa‖.
Não me venham falar dos instintos (até hoje não sei por que os temos e não sei
por que os suportamos). O homem começa a ser homem depois dos instintos e
contra os instintos.71

Neste capítulo, analisamos o conteúdo da Real de modo mais crítico. No próximo,


saindo um pouco do âmbito moral, vamos analisar a Real no contexto da guerra cultural que
fortalece o esquerdismo e que tem nos movimentos feministas um importante ativismo
subversivo.

70
RODRIGUES, Nelson. Ser para sempre fiel. In: RODRIGUES, Nelson; CASTRO, Ruy (coord.). O Óbvio
Ululante: primeiras confissões (crônicas). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 75.
71
RODRIGUES, Nelson. A Última “Mulher Fatal”. In: RODRIGUES, Nelson; CASTRO, Ruy (coord.). O
Óbvio Ululante: primeiras confissões (crônicas). São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 78.
50

4 REAL: O RESULTADO DA DIALÉTICA HEGELIANA

De acordo com os psicólogos sociais, a transformação não pode ocorrer sem que
antes sejam cumpridas as duas primeiras fases dos fatos e sentimentos, sem o que
o terreno comum não pode ser encontrado. Com o terreno comum, ou o consenso,
os psicólogos sociais procuram resolver a dicotomia de crença/ação que vêem na
vida. Essa dicotomia ocorre quando declaramos que acreditamos em uma coisa e
agimos de modo diferente. Nossos fatos e sentimentos nem sempre estão em
harmonia. Mesmo que digamos que certa regra "é" correta, isso não significa que
não podemos achar que "isto deveria ser" diferente. Todos temos nos comportado
de acordo com nossos sentimentos, indo atrás do que convém, em vez do que
sabemos ser o certo. No que se refere às leis de Deus, esse comportamento é
conhecido como pecado (Dean Gotcher).

Chegamos ao ponto crítico do trabalho. O confronto da Real com a Real. Eis a


questão: estaria a Real em conformidade com suas intenções declaradas de luta contra o
esquerdismo e o Marxismo Cultural? Vimos anteriormente que o diagnóstico da Real em
relação à problemática dos relacionamentos modernos é preciso, mas, de modo geral, a Real
faz bom uso deste conhecimento?
A Real ensina que não devemos avaliar uma mulher pelo que ela diz de si, mas
conforme suas ações. Queremos agora analisar a Real não pelo que o movimento diz de si,
mas pelas ações que ela efetivamente prega e faz.

4.1 A DIALÉTICA HEGELIANA

Olavo de Carvalho refere-se à dialética hegeliana como sendo a lógica da destruição.


O filósofo chama a atenção de que os conservadores, entre outros, estão habituados a pensar
de acordo com a lógica formal e que os esquerdistas, por outro lado, carregados de espírito
revolucionário, raciocinam em termo de contradições:

Os adversários do esquerdismo, por sua vez, estão de tal modo habituados a


esquemas de pensamento lógico-formais, absorvidos seja das ciências naturais,
seja da economia austríaca, seja mesmo da formação escolástica no caso dos
católicos, que tendem incoercivelmente a explicar a conduta esquerdista em
termos da coerência linear entre doutrina e prática, ou entre fins e meios, e
assim perdem de vista o que há de mais característico no movimento
revolucionário, que é justamente o aproveitamento sistemático das
contradições. Só isso pode explicar que seus repetidos sucessos no campo
51

econômico e tecnológico sejam acompanhados de derrotas cada vez mais


espetaculares na cultura e na política. 72

Quem já se aventurou a debater com esquerdistas, percebeu que eles não possuem
capacidade de formar silogismos. Não possuem capacidade lógica. Costumamos subestimá-
los, catalogando-os como burros, quando está justamente no contraditório o segredo do
progresso do movimento revolucionário. Podemos vencer o debate, mas não levamos:

O movimento revolucionário, enfim, não obedece às leis da ―ação racional


segundo fins‖ conforme as definia Max Weber e pelas quais o adversário
procura em vão explicá-la. Na ação normal humana, a distinção entre meios e
fins é essencial ao ponto de que o predomínio dos meios serve como prova de
que os fins não foram atingidos. Quando, ao contrário, o objetivo é
nebulosamente indefinido e tudo quanto conta é a unidade profunda do
movimento em si, os meios transformam-se incessantemente em fins e os fins em
meios e pretextos. Alguns estudiosos de Hegel disseram que sua Lógica não é
propriamente uma lógica, mas uma ontologia, uma teoria sobre a estrutura da
realidade. Acreditei nisso durante algum tempo, mas hoje vejo que não pode
haver uma teoria do ser quando se começa por dissolver a substância do ser na
idéia do processo. A lógica de Hegel é nada mais que uma psicologia, um
estudo dos processos cognitivos que orientam (ou melhor, desorientam) o
movimento da história humana. Sob certos aspectos, é mesmo uma
psicopatologia – a lógica interna do desvario revolucionário.73

A dialética hegeliana é, em suma, um método permite promover a dissociação


cognitiva do ser humano. Em “Maquiavel Pedagogo”, Pascal Bernadin alerta para o incentivo
e expansão de políticas pedagógicas que carregam consigo diversas técnicas de manipulação
psicológica que visam à subversão da consciência de estudantes:

A teoria da dissonância cognitiva, elaborada em 1957 por Festinger, permite


perceber o quanto nossos atos podem influenciar nossas atitudes, crenças,
valores ou opiniões. Se é evidente que nossos atos, em medida mais ou menos
vasta, são determinados por nossas opiniões, bem menos claro nos parece que o
inverso seja verdadeiro, ou seja, que nossos atos possam modificar nossas
opiniões. A importância dessa constatação leva-nos a destacá-la, para que, a
partir dela, se tornem visíveis as razões profundas da reforma do sistema
educacional mundial. Verificamos anteriormente que é possível induzir diversos
comportamentos, apelando-se à autoridade, à tendência ao conformismo ou às
técnicas do ―pé na porta‖ ou da ―porta na cara‖. Os fundamentos que servem
de base a esses atos induzidos repercutem em seguida sobre as opiniões do
sujeito, modificando-as (dialética psicológica). Assim, encontramo-nos diante
de um processo extremamente poderoso, que permite a modelagem do
psiquismo humano e que, além disso, constitui a base das técnicas de lavagem
cerebral.

72
CARVALHO, Olavo de. A lógica da destruição. Diário do Comércio, 06/08/2007. Disponível em
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070806dc.html
73
Idem
52

Uma dissonância cognitiva é uma contradição entre dois elementos do


psiquismo de um indivíduo, sejam eles: valor, sentimento, opinião, recordação
de um ato, conhecimento etc. (...) A experiência prova que um indivíduo numa
situação de dissonância cognitiva apresentará forte tendência a reorganizar seu
psiquismo, a fim de reduzi-la. Em particular, se um indivíduo é levado a
cometer publicamente (na sala de aula, por exemplo) ou frequentemente (ao
longo do curso) um ato em contradição com seus valores, sua tendência será a
de modificar tais valores, para diminuir a tensão que lhe oprime. Em outros
termos, se um indivíduo foi aliciado a um certo tipo de comportamento, é muito
provável que ele venha a racionalizá-lo. Convém notar que, nesse caso, trata-se
de uma tendência estatística evidente, e não de um fenômeno sistematicamente
observado; as teorias que referimos não pretendem resumir a totalidade da
psicologia humana, mas sim fornecer técnicas de manipulação aplicáveis na
prática. Dispõe-se, assim, de uma técnica extremamente poderosa e de fácil
aplicação, que permite que se modifiquem os valores, as opiniões e os
comportamentos e capacita a produzir uma interiorização dos valores que se
pretende inculcar. Tais técnicas requerem a participação ativa do sujeito, que
deve realizar atos aliciadores os quais, por sua vez, os levarão a outros,
contrários às suas convicções. Tal é a justificação teórica tanto dos métodos
pedagógicos ativos como das técnicas de lavagem cerebral.74

A dissociação cognitiva pode ser comparada a estratégica mais conhecida do demônio.


O diabo que ao mesmo tempo é o tentador e acusador. A pessoa, ao cair no erro, é então
acusada pelo diabo. Surge a vergonha, que tão logo é jogada para baixo do tapete através da
moldagem do orgulho. Através dessa tática, o pai da mentira convida ao erro e depois oferece
o caminho do orgulho para potencializar a rebeldia e livrar-se da culpa.
Em termos „realísticos‟, a dissociação cognitiva é conhecida como hamster da
racionalização. Trata-se da capacidade da mulher blindar seu ego e colocar-se como imune de
cometer erros. Alguns exemplos comuns: se um homem não dá bola para ela, assume que ele
seja gay. Se ela junto com o vizinho presenteiam o marido com um par de chifres, a culpa
passa a ser do homem que a abandonava por causa do futebol com amigos. Se ela é traída pelo
cafajeste, então todos os homens não prestam. Enfim, toda aquela infantilidade que não cansa
de ser apontada nas discussões e propaganda „realista‟. Talvez o caso mais grave de
dissociação cognitiva do feminismo seja a tal “cultura do estupro”, onde o conceito de estupro
é flexibilizado para basicamente qualquer abordagem que a mulher não goste.
Temos até aqui que a dialética hegeliana é a força motriz para modificação da
consciência humana produzida pela dissociação cognitiva. Cabe então evidenciarmos a
sistematização deste método e como ele está sendo aplicado de modo a promover o Marxismo

74
BERNARDIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo: ou o ministério da reforma psicológica. Campinas: CEDET,
2013. p. 23-24.
53

Cultural. Para este fim, faremos uso do livro de Dean Gotcher intitulado “Dialética Hegeliana
e Práxis: Diaprax e o Fim dos Tempos”75.
A dialética hegeliana está sistematizada na tese (idéia inicial), antítese (idéia oposta)
que do confronto resulta na (síntese):

A estrutura da dialética, composta pelas fases da TESE, ANTÍTESE e SÍNTESE,


é usada pelos psicólogos sociais para representar diferentes facetas da
sociedade (tradicional, transicional, transformacional; ou capitalista,
anarquista, socialista). A estrutura também pode representar a forma como
reagimos e pensamos quando lidamos com problemas em nossas vidas (tese:
obedecer as regras e confiar nos fatos; antítese: seguir os sentimentos; ou
síntese: simplesmente se comportar de acordo com as técnicas de raciocínio).
A TESE pode representar sua opinião original sobre qualquer assunto —
obedecer aos fatos, acreditar "que é sempre errado mentir". A ANTÍTESE seria
então uma opinião inversa ou diferente do mesmo assunto — seguir os
sentimentos, acreditar que "é correto mentir para se livrar de uma situação
ruim". Logo, a SÍNTESE representa então uma contemporização, a busca da
união apesar das opiniões divergentes para resolver um problema comum —
racionalmente justificar um determinado comportamento, acreditar que "é certo
mentir desde que isso seja justificável em determinadas situações, se beneficiar
outras pessoas e não fizer mal a ninguém".76

O pensamento coletivista, por exemplo, é moldado pela confrontação da tese eu, com
a antítese não-eu, induzindo a resolução para a síntese nós. Isso também ajuda a entender o
porquê dos coletivistas possuírem aquele característico espírito de bando em que muito bem
o Lobão assinala com a frase “frouxos unidos jamais serão vencidos”:

Sentado em uma sala com outras pessoas, você pode classificar a si próprio,
primeira pessoa, ou "eu", como TESE, as outras pessoas, não primeiras
pessoas, ou "não eu", como ANTÍTESE, e o que todos possuem em comum,
inclusive você, primeira pessoa e não primeira pessoa "nós", como SÍNTESE.
Portanto, TESE é aquilo que você acredita ser verdade para si mesmo;
ANTÍTESE é o que todos acreditam ser verdade para eles próprios; e SÍNTESE
é o que você e outros podem racionalmente vir a concordar ser verdade para
todos. É assim que os socialistas ou marxistas criaram seu lema e agenda de
"Um por todos e todos por um", em que a verdade individual é relativa às
necessidades sociais dos muitos e a verdade dos muitos deve considerar as
necessidades pessoais dos poucos, ou de um só. Neste ciclo dialético, tudo é
relativo, mutável e harmoniosamente desviante. Isso é o que os psicólogos
sociais chamam de ‗heurística‘, a palavra deles para mudança.
Por exemplo, enquanto você está sentado em uma sala com sua mente
raciocinando sobre suas próprias preocupações pessoais (TESE — "minhas
preocupações'), os outros estão na mesma sala com suas mentes, raciocinando
sobre suas próprias necessidades particulares. (ANTÍTESE — "as preocupações
deles" ou "preocupações que não são minhas"). Portanto, para que todas as

75
GOTCHER, Dean. Dialética Hegeliana e Práxis: Diaprax e o Fim dos Tempos, 1996. Disponível em
http://www.espada.eti.br/diaprax.asp
76
Idem.
54

pessoas na sala encontrem harmonia social (SÍNTESE — "nossas


preocupações"), elas precisam primeiro ser confrontadas ou serem facilitadas a
encontrar alguma questão ou problema comum para enfocar sua atenção,
depois serem dirigidas a uma experiência grupal (práxis) racional ou científica
(dialética) em que aquilo possa ser solucionado pelo consenso (com as
emoções, ou sentimentos).77

Discutimos no capítulo anterior a respeito do relativismo e o quanto é nocivo à


discussão de uma ordem moral. A promoção do relativismo passa pelo processo da dialética
hegeliana. A tese que os fatos representam a realidade passa a ser confrontada com a antítese
a verdade é aquilo que eu sinto, sendo então moldada para a síntese a realidade é aquilo que
eu imagino. Não é à toa que o relativismo é acompanhado por seguidores histéricos:

Esses três diferentes modos de pensar, quando resolvem as diferenças, de


acordo, com diaprax, são tradicional, transicional e transformacional, ou seja,
pensar com fatos, pensar com sentimentos e pensar com habilidades de
raciocínio.
No modo tradicional de pensar, a realidade está baseada em evidências ou em
fatos externos, e o conhecimento é a acumulação desses fatos (quantidade) bem
como o respeito e a obediência a eles. No modo transicional de pensar, os
sentimentos determinam a realidade. E no modo transformacional de pensar,
somente o que pode ser racionalizado é real. Dito de forma bem simples, o
pensamento tradicional vê a realidade como fatos, estabelecidos para todos os
tempos e lugares; o pensamento transicional vê a realidade no coração, onde os
fatos podem ser negligenciados na busca do prazer e onde os problemas podem
ser resolvidos simplesmente indo-se para algum lugar que o faça se sentir
melhor, e o pensamento transformacional vê a realidade na mente, onde os fatos
e os sentimentos estão sujeitos à mudança harmoniosa por meio das habilidades
de pensamento de alta ordem [relativismo].78

4.2 DIALÉTICA HEGELIANA + PRÁXIS (DIAPRAX)

Toda a engenharia social promovida pelo Marxismo Cultural acontece em um


ambiente real, ou seja, a práxis. Por este motivo, Gotcher nomeia de Diaprax o método para
mudança de comportamento e promoção do relativismo. O elemento chave da Diaprax está no
facilitador, que pode ser uma autoridade de um grupo (ex: professor) ou personalidades
influentes (ex: mídia, “especialistas”, etc.):

77
Idem.
78
Idem.
55

Parece haver uma correlação entre os significados dos fatos, o quanto a pessoa
acredita ou se fundamenta em fatos, e sua posição dentro do processo. Na
medida em que alguém se afasta de sua posição original, em que os fatos são
absolutos (fé), em direção à outra extremidade do espectro, os fatos tornam-se
relativos. Na medida em que o processo leva uma pessoa de sua 1) posição
original, em que os fatos são mais importantes, TESE/tese, a uma condição
em que ela 2) sente ressentimento em relação a eles, uma vez que eles se
interpõem à sua aceitação e às suas novas amizades, ANTÍTESE/antítese,
ao ponto em que ela é 3) capaz de justificar a mudança deles, por meio
da "capacidade de raciocínio"79, quando eles não se ajustam ou não
ajudam a melhorar os relacionamentos humanos, SÍNTESE/síntese, os fatos
tornam-se triviais. Qualquer um nesta fase de transformacionalismo vê a
pessoa que defende sua posição com fatos, o tradicionalista, como ignorante,
tacanho, irracional, ofensivo, ou cheio de ódio, dependendo de sua persistência
no uso dos fatos.80

Dutcher ainda sistematiza três fases, cada qual com seu conjunto de tese, antítese e
síntese. No primeiro conjunto, o facilitador promove o questionamento dos valores
tradicionais, condicionando o grupo de pessoas a, pelo menos, “abrir a mente”. No segundo
conjunto dialético, chamado por Dutcher de „controle do clima‟, o facilitador conduz o grupo
a questionar os valores estabelecidos, as antigas regras e/ ou as antigas autoridades buscando
estipular um consenso onde, por força da “coesão de grupo”, os valores antigos são rejeitados.
Por último, no terceiro conjunto, a pessoa adere ao automatismo e busca ajudar as pessoas
“menos esclarecidas”. Transformam-se, então, nos propagadores da “nova mensagem”.
Pode parecer que estamos divagando, mas a sistematização da dialética hegeliana é
importante para entender em linhas gerais como funciona o processo de mudança de valores,
de modo a elucidar o mecanismo da engenharia social do Marxismo Cultural. Trataremos
então da Real, fazendo um paralelo com o socialismo.
Façamos então árvores gerais em relação à Diaprax:

 Tese: Conhecimento
 Antítese: Sentimento
 Síntese: Relativismo
 Práxis: Consenso de grupo
 Resultado: Mudança de valores (propagação do materialismo)

79
Em linguajar da Real, conforme já comentado, podemos chamar de Hamster da Racionalização. Esta figura de
linguagem pretende descreve o raciocínio por absurdo que muitas vezes são feitos para que se fuja de arcar com
a realidade.
80
GOTCHER, Dean. Dialética Hegeliana e Práxis: Diaprax e o Fim dos Tempos, 1996. Disponível em
http://www.espada.eti.br/diaprax.asp
56

 Tese: Ordem moral duradoura/tradição


 Antítese: Niilismo/amoralidade
 Síntese: Relativismo moral/Nova ordem
 Práxis: Luckas, Gramsci, Escola da Frankfurt
 Resultado: Socialismo humanista e globalista

 Tese: Moralidade judaico-cristã


 Antítese: Feminismo
 Síntese: Hedonismo
 Práxis: Pragmatismo/Relativismo moral
 Resultado: Real antropocêntrica81

A Real, em grande parte, não deixa de ser um produto da dialética hegeliana


proveniente do confronto dos valores tradicionais com o feminismo. Ao mesmo tempo em
que argumenta em favor de valores tradicionais, também tem em seu meio de discussão
valores revolucionários, principalmente no que tange a moral sexual, já discutida no capítulo
anterior.
Não cabe aqui uma mera sistematização da Diaprax e um suposto enquadramento
arbitrário da Real dentro deste sistema. Por isso continuaremos aprofundando a questão a
respeito do contexto cultural a qual a Real se apresenta.

4.2.1 Estruturando a dissociação cognitiva dentro da Diaprax

Conforme explicado anteriormente, a Diaprax como ferramenta para promoção da


dissociação cognitiva funciona em três fases, cada qual com seu conjunto dialético. Antes de
expor o mecanismo da Real, devemos esquematizar o contexto cultural a qual estamos
inseridos.

 Fase 1: Interrogação da Tese


o Tese: Castidade
81
Conforme esclarecido anteriormente, a teoria da Real em si é amoral, o uso que se faz dela é que o tema aqui
discutido. A Real antropocêntrica refere-se à problemática que foi discutida no capítulo anterior.
57

o Antítese: Estamos em pleno século XXI... Não podemos ser retrógrados...


o Síntese: São tempos modernos, os valores podem estar ultrapassados.
 Fase 2: Controle do clima/Construção de relacionamentos
o Tese: Não sou obrigado a concordar com a castidade
o Antítese: Sexo é bom, dá prazer
o Síntese: Concorda-se que sexo é melhor que castidade
 Fase 3: "Libertação"
o Tese: Viver conforme o novo valor
o Antítese: É necessário que mais pessoas sejam modernas
o Síntese: Ser propagador e ridicularizador da castidade.

É mais ou menos em um quadro deste tipo que se encontra a nossa geração. Os valores
tradicionais simplesmente foram abandonados da mídia de massa em benefício da idolatria do
jovem libertino. Diante deste cenário cultural, a mera tentativa de discutir elevados valores
morais será entreposto pelo discurso relativista (“hoje os tempos são outros”) ou
ridicularizado por rótulos pejorativos (“retrógrado”, “careta”). O fato do virgem, atualmente,
estar relacionado ao fracasso, torna nítido o avanço da agenda da libertina.
Quando a agenda revolucionária obtém sucesso em modificar o “senso comum”, a
origem, causas e discussões anteriores ao fenômeno são destinadas ao esquecimento. As
novas crenças que foram inoculadas são falsamente creditadas a um mero processo de
evolução que ocorreu naturalmente e os discordantes são vistos como “ultrapassados”.
Muito do discurso da Real advém da importância dada ao sexo em um relacionamento.
O ressentimento é que o cafajeste recebe sexo de qualidade, enquanto os homens tidos como
inferiores pela mulher, o sexo é feito de forma escalonada ou mesmo extinguido.
Da confrontação entre Real (tese) e feminismo (antítese), permanece a mudança
cultural anterior (hedonismo). Não se pode omitir que na Real há um claro apelo contra a
infidelidade uma vez que se esteja em um relacionamento sério. É uma situação da qual já foi
apontada anteriormente. Façamos então a sistematização:

 Fase 1: Questionando o romantismo emasculado


o Tese: Mito do amor romântico como forma de “conquistar” a mulher e ser
feliz.
58

o Antítese: Por mais que eu seja “um cara legal”, as mulheres por quem eu me
apaixono me abandonam. Elas procuram se relacionar com aqueles que não
dão o valor que ela merece.
o Síntese: Há algo de errado, as coisas não funcionam como me ensinaram.
 Fase 2: Descobrindo a Real
o Tese: Por mais que as mulheres digam que “homem não presta”, elas se atraem
pelos piores.
o Antítese: Mudei de postura, foquei no desenvolvimento pessoal e hoje mulher
não é mais problema.
o Síntese: A Real funciona.
 Fase 3: "Libertação"
o Tese: Agradecimento a Real
o Antítese: Precisamos divulgar mais a Real
o Síntese: O problema da sociedade é que está cheio de manginas, o feminismo
precisa ser denunciado e os valores masculinos resgatados.

O roteiro descrito acima é mais ou menos o panorama geral dos integrantes da Real. O
feminismo é, de fato, confrontado, mas o veneno libertino permanece. Deste modo, a Real
pode ser catalogada como detentora de um espírito semi-contrarevolucionário, que vai se
levando lentamente pela marcha revolucionária, embora mantenha alguns princípios básicos
inalterados. Plínio Corrêa de Oliveira explica:

O que distingue o revolucionário que seguiu o ritmo da marcha rápida, de quem


se vai paulatinamente tornando tal segundo o ritmo da marcha lenta, está em
que, quando o processo revolucionário teve início no primeiro, encontrou
resistências nulas, ou quase nulas. A virtude e a verdade viviam nessa alma de
uma vida de superfície. Eram como madeira seca, que qualquer fagulha pode
incendiar. Pelo contrário, quando esse processo se opera lentamente, é porque
a fagulha da Revolução encontrou, ao menos em parte, lenha verde. Em outros
termos, encontrou muita verdade ou muita virtude que se mantêm infensas à
ação do espírito revolucionário. Uma alma em tal situação fica bipartida, e vive
de dois princípios opostos, o da Revolução e o da Ordem.
Da coexistência desses dois princípios, podem surgir situações bem diversas:
* a. O revolucionário de pequena velocidade: ele se deixa arrastar pela
Revolução, à qual opõe apenas a resistência da inércia.
* b. O revolucionário de velocidade lenta, mas com “coágulos” contra-
revolucionários. Também ele se deixa arrastar pela Revolução. Mas em algum
ponto concreto recusa-a. Assim, por exemplo, será socialista em tudo, mas
conservará o gosto das maneiras aristocráticas. Conforme o caso, ele chegará
até mesmo a atacar a vulgaridade socialista. Trata-se de uma resistência, sem
dúvida. Mas resistência em ponto de pormenor, que não remonta aos princípios,
toda feita de hábitos e impressões. Resistência por isto mesmo sem maior
59

alcance, que morrerá com o indivíduo, e que, se se der num grupo social, cedo
ou tarde, pela violência ou pela persuasão, em uma geração ou algumas, a
Revolução em seu curso inexorável desmantelará.
* c. O ―semicontra-revolucionário‖: diferencia-se do anterior apenas pelo fato
de que nele o processo de ―coagulação‖ foi mais enérgico, e remontou até a
zona dos princípios básicos. De alguns princípios, já se vê, e não de todos. Nele
a reação contra a Revolução é mais pertinaz, mais viva. Constitui um obstáculo
que não é só de inércia. Sua conversão a uma posição inteiramente contra-
revolucionária é mais fácil, pelo menos em tese. Um excesso qualquer da
Revolução pode determinar nele uma transformação cabal, uma cristalização
de todas as tendências boas, numa atitude de firmeza inabalável (...).82

Sendo a Real um ambiente que abriga conservadores e cristãos, a livre defesa da Real
sem as devidas ponderações parece um ato imprudente. Se há o interesse de combate ao
Marxismo Cultural, isto é, o espírito revolucionário, uma defesa da Real pela Real é um ato
menos conservador do que “progressista”:

Com o ―semicontra-revolucionário‖, como aliás também com o revolucionário


que tem ―coágulos‖ contra-revolucionários, há certas possibilidades de
colaboração, e esta colaboração cria um problema especial: até que ponto é ela
prudente? A nosso ver, a luta contra a Revolução só se desenvolve
convenientemente ligando entre si pessoas radical e inteiramente isentas do
vírus desta. Que os grupos contra-revolucionários possam colaborar com
elementos como os acima mencionados, em alguns objetivos concretos,
facilmente se concebe. Mas, admitir uma colaboração onímoda e estável com
pessoas infectadas de qualquer influência da Revolução é a mais flagrante das
imprudências e a causa, talvez, da maior parte dos malogros contra-
revolucionários.83

Resgatemos, pois, a prudência. Até que ponto a Real deve ser defendida. Até que
ponta ela é efetiva ao que tange o combate contra o Marxismo Cultural?

4.3 DORMINDO COM O INIMIGO DECLARADO

Uma vez apresentado toda a fundamentação anterior, vamos deixar evidente a grande
ironia. Infelizmente, a Real não é uma resistência contra aquilo que alega lutar. A propaganda
pode ser seu tom nobre e esclarecedor, mas suas ações e discussões práticas mostram que os
fins abordados estão em concordância com o inimigo declarado.

82
OLIVEIRA, Plinio Corrêa. Revolução e Contra-Revolução. 4. Ed. São Paulo: Artpress, 1998. p. 13.
83
OLIVEIRA, Plinio Corrêa. Revolução e Contra-Revolução. 4. Ed. São Paulo: Artpress, 1998. p. 33.
60

4.3.1 A sutil colaboração com o feminismo

A Real declara que combate o feminismo. Culpam, com razão, a perversão moral e
social que tais movimentos causaram e estão causando na sociedade. É necessário, contudo,
levantar uma importante questão: quão distante está a Real de determinados fins feministas?
É recomendado a leitura de um Best seller chamado “A Cama na Varanda”84, escrito
pela feminista Regina Navarro Lins. É um livro longo, cheio de fraude histórica e opiniões
macabras, mas que em um ponto acerta em cheio: o problema dos relacionamentos modernos
está no individualismo (no sentido de egoísmo). Lins ainda estipula que a duração de quatro
anos para os casamentos é decorrente ao fim do efeito da paixão.
No desenvolvimento do livro, contudo, a feminista inverte o efeito pela causa e culpa
os valores religiosos e a monogamia pela frustração moderna. Usando de meia-verdade,
afirma que os homens e as mulheres modernos são individualistas (egoístas) e que por isso
não se ajustam aos velhos valores tradicionais. Exame de consciência para resgatar os valores
seria a solução? Nada disso. Pior para os valores tradicionais. Colocando gasolina no fogo,
argumenta que sociedade é outra e então a velha idéia de relacionamento monogâmico deve
ser questionada e o conceito de família deve ser modificado.
O menino dos olhos de ouro de Regina Navarro Lins é o “poliamor”, que consiste em
tolerar a infidelidade do cônjuge. Se grande parte dos relacionamentos acaba por causa de
traição, tire-se a condenação moral do adultério. O argumento em pró do “poliamor” consiste
em dizer que há diversos tipos de “amor”, então se a mulher ama seu marido, mas sente
atração sexual pelo vizinho, não há problema em pular a cerca, já que o
namorado/noivo/marido ainda terá o amor da mulher. A recíproca, homem brincar com a
vizinha, é válida. Para tornar o ponto “irrefutável”, Lins aponta para o crescimento das casas
de swing.
Enfim, com o pretexto de salvar relacionamentos, de forma não tão sutil, o “poliamor”
simplesmente colocaria fim da família tradicional. Um detalhe tácito é que esta abordagem
“romântica” está baseada na já mencionada idolatria do jovem: a promessa de um
relacionamento sério, mas com passe livre para fazer sexo com terceiros. A possibilidade de
estar em um relacionamento sério, mas podendo ser eternamente um solteiro libertino. É o
hedonismo passando como um trator em cima da moralidade judaico-cristã.
84
LINS, Regina Navarro. A Cama na Varanda: arejando nossas idéias a respeito de amor e sexo. Edição
revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Bestseller, 2007.
61

O que a Real tem a ver com isso? Pode indagar o leitor. Oras, não é interessante
observar que a premissa da Real e de Regina partem de uma mesma constatação
(desmascaramento do mito do amor romântico) e que, embora o desenvolvimento seja
diferente, a “solução” para o problema não está assim tão distante?
Parte da Real adota, por exemplo, o discurso de desincentivo ao casamento. É um
tópico polêmico, há inclusive membros que são casados, pode-se retrucar. Verdade, mas o
fato é que existem os adeptos do marriage striker. Há razão para este tipo de decisão. Os
motivos são: perda de respeito, perda de frequência sexual, perda de amigos, perda de espaço,
pode perder os filhos e dinheiro, perda no tribunal, perda de liberdade e é mais fácil ser
solteiro85. Bom, não apenas confirma o individualismo moderno como também alcançam o
mesmo fim: o fim do casamento tradicional.
Ainda podemos comparar o “poliamor” com a dinâmica do relacionamento aberto.
Não pode ser ocultada da Real o fenômeno conhecido como marmita zone. É o ato do homem
se relacionar com uma vadia com o objetivo de sexo casual, sem compromisso, de modo
eventual. A sutil diferença com o “poliamor” é que a marmita zone deixa seu pretexto mais
claro. Enquanto o “poliamor” tolera a traição sexual aceitando um relacionamento dito sério e
dito “estável” (com o adendo de estuprar o significado de amor), a zona da marmita deixa
claro que se trata de um relacionamento aberto, cuja finalidade é o sexo.
Quando as estratégias convergem com o interesse do inimigo (feminismo), é esperado
que o comichão86 apareça. O paralelo feito com as idéias de uma das feministas mais
influentes do país está estruturado em uma análise da práxis, sendo recomendável também
abordar as bases teóricas da ideologia feminista. Para isso, recorramos ao paper “The Gender
Agenda” de Dale O‟Leary87.
O desmantelamento da família monogâmica favorece o sonho marxista do Estado
como educador. Estratégia oriunda do marxismo clássico (“Origem da Família, Propriedade
Privada e Estado” de Engels):

A primeira condição para libertação da esposa é trazer de volta todo o sexo


feminino para a indústria pública e que isso, por sua vez, suponha a abolição da
família monogâmica como unidade econômica da sociedade (Engels, p.66).

85
SMITH, Helen. 8 razões pelas quais os homens não se casam mais. Canal do Búfalo, 11/07/2013.
Disponível em http://canal.bufalo.info/2013/07/8-razoes-pelas-quais-os-homens-nao-se-casam-mais/
86
Comichão é o jargão „realista” que aponta para uma intuição de que algo não está certo ou indo bem.
87
O'LEARY, Dale. The Gender Agenda: Redefining Equality. Vital Issue Press, 1997.
62

Com a transferência dos meios de produção para a propriedade comum, a


família deixa de ser a unidade econômica da sociedade. As tarefas domésticas
privadas se transformam em uma indústria social. O cuidado e a educação dos
filhos se convertem em assunto público. A sociedade cuida de todos os filhos por
igual, sejam legítimos ou não. Isso suprime toda ansiedade sobre as
"conseqüências" que hoje é o fato social mais essencial - moral além de
econômico - que evita que uma mulher se entregue completamente ao homem
que ama. Não será suficiente provocar o crescimento gradual de encontros
sexuais e com eles uma opinião pública mais tolerante com relação à honra de
uma donzela e a vergonha de uma mulher?

A “ideologia de gênero”, atual discurso defendido pelo feminismo, já era estratégia


para desmantelar a tradição ocidental. Em 1978, no livro "Dialética do Sexo" de Shulamith
Firestone, estava escrito:

Da mesma forma que para assegurar a eliminação das classes econômicas é


necessário que haja a rebelião da classe marginalizada (o proletário) e que, em
uma ditadura temporal, se tome os meios de produção, para assegurar a
eliminação das classes sexuais é necessário que haja a rebelião da classe
marginalizada (as mulheres) e que se tomem os meios de reprodução: a
restituição a mulher da propriedade de seus próprios corpos e também do
controle feminino da fertilidade humana, que inclui tanto a nova tecnologia
como todas as instituições sociais de maternidade e de criação de filhos. E
como o objetivo final da revolução socialista não era apenas a eliminação do
privilégio da classe econômica, mas sim a eliminação da distinção das classes
econômicas em si, posta-se que o objetivo da revolução feminista deve ser, a
diferença do primeiro movimento feminista, não só a eliminação do privilégio
masculino, mas também da distinção de sexos. A distinção de sexo entre seres
humanos não importa culturalmente.

Segundo Firestone, a liberação sexual seria o motor para impulsionar a liberação


política e econômica (marxismo):

Se a atual repressão sexual é o mecanismo básico pelo qual se produzem as


estruturas de caráter que respaldam a atividade política, ideológica e
econômica, o fim do tabu do incesto, por meio da abolição da família, poderia
ter profundos efeitos. A sexualidade libertar-se-ia de sua camisa de força para
erotizar toda nossa cultura, mudando sua definição.

A “libertação” da mulher passa, como ficou evidente, pelo fim do patriarcado. A


estratégia para isso é desmantelamento da família através da erotização da cultura. Atenta-se
que se trata de uma erotização, ou seja, estão inclusos homens e mulheres. Embora a Real
ateste que o patriarcado é, por natureza, a melhor configuração para o relacionamento entre
homem e mulher, sua prática caminha mais para a “libertação” do homem. Aproveitando-se
de que a mulher necessita da liderança masculina, muitos „realistas‟ estão menos preocupados
em liderar relacionamentos do que simular uma postura de “macho-alfa”. Imersos na desejada
63

cultura erotizada, busca-se menos uma mãe para seus filhos do que um belo par de pernas
abertas.
Quando Regina Navarro Lins acusa o individualismo (egoísmo), não está errada. A
malandragem dela está na tentativa de culpar o inocente (típico do feminismo, diga-se). Com
essa mentira, esconde que o individualismo foi, na verdade, promovido, propositadamente,
pela cultura hedonista tão cara aos interesses do feminismo.

4.3.2 Filhos rebeldes de Hebert Marcuse

“Eros e Civilização” é uma obra de leitura obrigatória para melhor compreensão do


Marxismo Cultural. Ela foi escrita por Hebert Marcuse, psiquiatra e membro da Escola de
Frankfurt. Realizando um sincretismo de Freud com o Marxismo, Marcuse pôde arquitetar a
“libertação” sexual. “Eros e Civilização” foi um embrião socialista que influenciou
significativamente a guerra cultural da qual a Real anuncia combater.
Freud chamava a atenção para o “princípio de realidade”, onde determinados instintos
humanos, incluso os sexuais, deveriam ser reprimidos em benefício de uma ordem social;
Marcuse, porém, não quis saber disso. A repressão sexual seria vista como um ardil do
malvado capitalismo para escravizar e frustrar os inocentes dos proletários. Porque
explorados, a energia desprendida no trabalho fragmentaria o desejo sexual. Não basta o
coitado do trabalhador ser explorado, o lazer – isso mesmo o lazer – também é vítima do
opressor capitalismo, já que estaria atrelado ao consumo. Sendo assim o cheat code de
conciliar o racionado tempo de lazer com pornografia e sexo só produziria um falso
sentimento de liberdade sexual. Falso porque, veja bem, você continuaria mais preocupado
com o que precisa produzir no trabalho.
Esta alienação malvada do capitalismo de controlar lazer através do consumo e a
repressão moral da sexualidade exercida pela classe opressora produz, segundo o terrorismo
de Marcuse, efeitos catastróficos na psique humana. Tomemos nota a respeito do desastroso
mega-recalque causado pela opressão contra a libido: ela geraria o “princípio de destruição”,
onde a falta de prazer sexual consegue justificar sistema tirânicos como nazismo e fascismo,
além das guerras. Não apenas isso, na opinião de Marcuse, o comunismo não deu certo não
porque “foi mal interpretado” ou porque “traíram Marx”, segundo ele a justificativa para o
fracasso das revoluções está na repressão sexual, que conferiria uma auto-sabotagem uma vez
64

que estivessem no poder. Sem se livrar dessa repressão moral burguesa, portanto, não há
como fazer valer a tão sonhada revolução socialista.
Não podemos parar por aí. O que seria analisar uma idéia esquerdista sem o elemento
da inveja? Marcuse também discorda de Freud quanto a abrangência do “principio de
realidade”. Na cabeça do comunista, o burguês não trabalha, seu hobby é ficar maquinando
em como aumentar a exploração contra o pobre coitado do trabalhador. Como o rico lucra em
cima da exploração do pobre, Marcuse afirma que a repressão sexual só age neste, enquanto
aquele pode copular livremente. Livre da repressão sexual, os favorecidos pelo capitalismo
lucram psicologicamente ao preço de manter os trabalhadores alienados. Essa alienação, já
vimos, fomentaria a agressividade que geraria guerra e esta, por sua vez, beneficiaria os ricos.
Enfim, Marcuse é um dos principais promotores da revolução sexual. Poucos sabem
disso, pois, como foi comentado, quanto mais a revolução cultural avança, maior o
esquecimento sobre sua origem. O “faça amor, não faça guerra” é, como mostra a realidade,
uma empulhação. Não vemos mais hippies por aí, a moda não vingou. Não vingou, mas a
contribuição cultural deles permanece. Cumpriram seu papel. Estamos sendo governados,
como bem observa o Pe. Paulo Ricardo, pelos filhos de Woodstock.
A libertação dos instintos sexuais é uma pseudo-ciência marxista. Seja para fomentar a
luta de classe ou demonizar o capitalismo, a libertinagem sexual foi propositadamente
promovida pela revolução cultural marxista. Se existem „realistas‟ que desconhecem ou
desconsideram tal informação, não é certamente papel de um conservador ignorar tal
informação.
65

5 CONCLUSÃO

Do ponto de vista conservador, acreditamos que a Real deva ser encarada como uma
das máximas de São Paulo: analisar tudo e reter o que é bom. Não se pode catalogá-la como
uma simples estupidez, ignorando por completo a teoria 'realista' a respeito dos
relacionamentos modernos (quando o que está presente no mass media é o viés feminista da
mulher ser a vítima social do homem, culminando, em casos mais extremos, mas já em fase
de divulgação, na ideologia do gênero), uma vez que ela pode ser aferida no dia a dia, na mera
observação em barzinhos, baladas e/ou shoppings.
Não apenas isso, a atual juventude de colégio, já com valores afetados pela mistura de
imaturidade, canalhice e doutrinação, oferecem também um ótimo cenário de análise do
fenômeno amoroso pós-moderno. Neste sentido, a Real não apenas confirma que o "bonzinho
só se ferra", como também ajuda explicar por que os destacados e "bullies" conseguem ficar
com as menininhas. A inversão cultural erra propositadamente quando diz que os jovens são
os modelos a serem seguidos, mas isso não indica que eles não devem ser analisados. Trata-se
de uma geração e, queiramos ou não, estarão eles a espalhar os valores a geração seguinte, tal
é o ciclo do decaimento moral. Pais pior que avós, filhos piores que os pais. Neste aspecto,
vale a observação de que a geração no poder são os filhos de Woodstock, isto é, filhos criados
pelas máximas libertinas: sexo, drogas e rock‟n‟roll. Os dois primeiros continuam firmes e
fortes, o último hoje está sendo vencido pelo funk.
A Real, em suma, acerta em seu diagnóstico ao esboçar a dinâmica de um
relacionamento pautado no individualismo egoísta. Esta leitura da realidade pode ser de
grande valor para reconhecer a realidade, ainda mais em um ambiente pós-moderno que,
contaminado pela hegemonia feminista, é modelado por um campo de percepção histérico e
fraudulento.
Dentro de uma guerra cultural, o desmascaramento da visão do oponente é
fundamental. Ao apresentar uma boa leitura dos relacionamentos pós-modernos, a Real
contribui em termos de dados. Por outro lado, seria um tiro no pé usar esses dados em termos
de contribuir com a agenda do inimigo. É esta contribuição, que acreditamos não ser
proposital, que o conservador deve se contrapor.
O ardil feminista é colocar o homem contra a mulher. Fazendo o homem ter vergonha
de ter homem e fazendo a mulher sofrer de egolatria em relação a si. Isso simplesmente mina
a possibilidade de relacionamentos duradouros e desestrutura o importante núcleo da família.
66

É a clássica estratégia de dividir para conquistar. O caminho oposto, então, passa pela união e
respeito mútuo.
A conclusão deste trabalho é que a Real apresenta ferramentas importantes para o
combate ao subversivo marxismo cultural, mas que, infelizmente, observando de modo geral,
não está fazendo bom uso deles.
67

6 DISCUSSÃO ABERTA: CONTATO

Este trabalho teve como objetivo tecer críticas a Real. Não se limitou a isso, porém.
Na realidade, a Real foi um pretexto. Este trabalho teve antes o objetivo de organizar e
registrar certos pensamentos que vinham ocupando um setor de minhas reflexões, por isso ele
não está fechado, o estudo continua.
Não sei se os conservadores de fora da Real continuarão exagerando na dose da crítica
ou se conservadores de dentro continuarão defendendo a Real apesar dos pesares dentro do
que aqui chamei de “estratégia sabão”. De minha parte, registrei meus pensamentos e
fundamentei minhas opiniões.
Não estou fechado a críticas. Deixo meu contato aberto para que se possa abrir um
canal de diálogo, permitindo que este trabalho e minhas reflexões sejam acrescidos. Meu
email para contato é polaaugusto@gmail.com. Que uma nova edição possa ser feita.

http://institutoshibumi.org/augusto/
68

APÊNDICE I

Antes de lançar este humilde trabalho, fui colocado em um grupo „realista‟ do


Facebook onde se poderia fazer críticas a Real. Como foi observado neste trabalho, uma
estratégia de defesa é alegar ao mesmo tempo que a Real é uma só, mas plural. A Real é,
inegavelmente, aplicada de diferentes maneiras, mas catalogá-la, insistem absurdamente os
„realistas‟ seria proibido, uma vez que, segundo uma espécie de dogma „realista‟, ela é única.
Para piorar, fui surpreendido com o argumento de que, ao buscar catalogar a Real, estaria
querendo dividi-la.
Tendo em vista a insistência nessa estratégia sabão e todo um chororô recíproco entre
conservadores „realistas‟ e conservadores anti-real, faço um adendo sobre este atrito com o
seguinte texto:

A unidade „realista‟ e a oposição a Real

Se você [caro „realista‟] acha que eu busco [catalogar como forma de tentar dividir a
Real], isso não significa que eu busco. Se você acha que a Real é única, isso não significa, na
realidade, (e isso é tão evidente que até me assusta não querer perceber, embora se perceba)
que ela é aplicada de maneira única. São distinções básicas!
[Foi me perguntado] O que categorizaria a “Real do Lawlyet”? Neste caso, ele tem o
preview de um livro bem interessante e que, confesso, motivou a escrever o meu. Ele tornou
as idéias dele clara, provavelmente seja por isso que usaram esse termo88.
Catalogar por nome é um modo. Poder-se-ia catalogar por ideologia. No meu livro,
dirijo-me aos conservadores, ou seja, aos „realistas‟ conservadores.
Se é verdade que a Real é única, eu estaria caindo em “heresia” ao restringir o público
conservador. Isso é absurdo, pois é confessado que a Real "abriga de tudo", logo posso me
dirigir a um público específico („Realistas‟ cristãos seriam outro exemplo de público
específico dentro da Real).
Para deixar claro. O fato de existir a Real significa - e não está se negando isso - que
as pessoas partem de certas premissas. Contudo, o desenvolvimento paira por caminhos
88
O livro não foi ainda lançado, mas Lawlyet deixou claro que idéia geral dele sobre a Real estaria sintetizada
nos primeiros capítulos (ou seja, o núcleo geral foi ser relevado). Aliás, ele disponibilizou o preview no grupo
liberalismo-conservador justamente para tentar diminuir a “treta” devido a certas discussões sobre a Real que
estavam tendo por lá.
69

diferentes, por aplicações diferentes, tornando, por óbvio, diversificada (este inclusive é o
recurso mais usado para defendê-la quando criticada pelos abusos). Sendo assim, para haver
intenção de divisão, teria que se atacar as premissas. O restante "real do fulano", por exemplo,
são análises mais voltadas ao campo ético-moral – o modo como usar o conhecimento. Uma
vez que, o conhecimento teórico da Real é, em si, amoral.
Sendo assim, essa blindagem da Real ser uma coisa só na hora da propaganda e ela ser
diversificada na hora de lidar com críticas é uma tentativa de querer tapar o sol com a peneira.
Mais atrapalha do que ajuda em relação à oposição conservadora externa à Real.
Não há problema na Real ser diversa, sendo moralmente divergente entre membros,
mas ao se vender como uma coisa só, isso dá munição para colocar tudo num balaio só e
medir, por exemplo, os „guerreiros‟ pelos „juvenas‟. É a consequência de se adotar tal estilo
de divulgação e propaganda.
Para rebater a ironia [que me foi dirigida] de "boa sorte querendo catalogar", eu
respondo de maneira igualmente irônica "boa sorte com a reclamação quanto a críticas, sem
estar disposto a receber crítica quanto a questão de propaganda e da contradição da unidade-
desunida".
É fácil chamar opositores de consermanginas, ignorantes, desonestos, ego-ferido
(atitude, ora essa, que dai sim causa a desonrosa divisão!)... Mais difícil é avaliar como isso
pode ser amortizado (já que a extinção é praticamente impossível). E quando há pistas para o
motivo da comunicação ser difícil, teima-se em achar que o problema está apenas com os
outros.
Eu sou da mesma opinião do Lawlyet, acho que a Real pode ser uma excelente fonte
para levar pessoas ao conservadorismo. Não pense que eu me alegro com a divisão que
ocorre. Mas não tomo partido só de um lado. Existe truculência de ambas as partes.
E há algo implícito que está não está sendo relevado. Um conservador se preocupa
menos com o fim do que com os meios. Sendo a Real carregada de certo conhecimentos que
são comuns a todos, os meios empregados, dado a diversidade de membros, são diferentes e
podem [de preferência devem] ser alvos de críticas. Querer blindar essas críticas alegando que
"é uma coisa só" é trocar a preocupação conservadora, invertendo o fim (intenção) pelos
meios (como obter determinado fim).
Expandir a unidade da teoria [„realista‟] para o campo da ação (sendo que o campo de
ação não é unido, justamente porque cada membro é livre usar a teoria da maneira que quiser)
não é apenas um tiro no pé da própria Real, como é fonte de divisão dentro do meio
conservador (que medem a Real pelos juvenas). A truculência recíproca não é ao acaso.
70

O problema de comunicação é bastante evidente. Usem o desapego para observar isso:

 O lado 'realista' reclama que o lado conservador oposicionista não conhece a


Real a fundo para tecer crítica.
 O lado conservador-oposicionista reclama de certas atitudes que visualizam
nos meios da Real.

Como essa crise pode ser amenizada? Ah, isso daria um debate bom. Mas adianto,
permanecer nessa censura sutil de "um por todos e todos por um" não resolve o problema,
agrava-o. Ao vender-se como unanimidade e não ponderar que esta unanimidade só é
referente a certas premissas (que é justamente o que faz uma pessoa ser da Real, apesar de
aplicar o conhecimento de modo bastante diferente), isso abre margem para o outro lado aferir
erroneamente a Real.
Optar pelo "foda-se" também não ameniza o impasse, no mínimo o choramingo de
ambas as partes irão continuar.
A situação é, de modo superficial, esta (no livro, foi feita uma análise mais profunda).
A criação deste grupo [de Facebook] e o convite de "consermangina" para tentar o diálogo são
aplaudíveis, mas não vai adiantar se houver insistência em confundir coisas que são simples.
Defender a unidade teórica da Real é uma coisa. Confundir com o modo de como ela é
aplicada é uma discussão de natureza bem diferente...
71

APÊNDICE II

Em meu blog eu fiz um texto onde abordei a questão da consciência, marxismo


cultural e feminismo. Por ter relação com a temática deste livro, trago como o artigo como
complemento e material de reflexão.

A Prisão da Consciência89

Ontem, no hangout 'A Civilização Ocidental', foi muito bem comentado que o
Marxismo Cultural trava uma briga contra os conceitos. Conceitos estes que são fundamentais
para a estrutura do pensamento, uma vez que - como bem explicaram - o raciocínio passa por
nosso sistema cognitivo, que é imaginativo, que é donde provém nossas idéias90.
Os conceitos são abstrações importantes que usamos para ordenar nossa percepção e
descrição da realidade. De fato, se temos conceitos deturpados, nosso código de leitura é
alterado e nosso modo de pensar e expressar são danificados e, por conseguinte, a descrição
da realidade é trocada por histeria.
Eu arrisco a ir mais fundo. Diria que o Marxismo Cultural trava uma guerra contra a
consciência. Neste prisma, a finalidade é o fim da culpa. Ao louvar o relativismo, não apenas
se perde o senso de proporção, como também se almeja excluir qualquer possibilidade de
culpa.
Parece uma história bonita. Você elimina a culpa individual que, segundo o conceito
marxista de libertação, levaria a uma vida feliz através da busca do mero prazer.
A premissa, contudo, é invalidada por causa da existência de nossa consciência. Por
mais que se diga que a verdade é relativa, por mais que se diga que não existe certo ou errado,
por mais que diga que "gosto não se discute", há não apenas uma hierarquia de valores, como
também a existência da verdade e do certo e errado.
Por mais que se invista em uma hipnose cultural, a consciência continuará existindo. É
intrínseco do ser humano. Resta que o tributo para a ausência de culpa é, então, o confronto
"místico" com a consciência que, naturalmente, não trás bons resultados. Olavo de Carvalho

89
Adaptado de AUGUSTO. A Prisão da Consciência. Blog do Augusto, 11/12/2013. Disponível em
http://institutoshibumi.org/augusto/2013/12/a-prisao-da-consciencia.html
90
Terceiro Hangout de 'A Civilização Ocidental'. Thomas Alex, Youtube, 09/12/2013. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=GgaSc0L-c8k
72

replica bastante a lição que aprendeu de um amigo seu psiquiatra: a neurose é originada por
conta de uma mentira.
O Marxismo Cultural, em suma, não apenas promove uma guerra social, mas uma luta
individual. Na página Mulheres Inteligentes91, onde se percebe que são de fato mulheres
inteligentes, há dois textos de Fabina Bernotti que traduzem quão triste pode ser a revogação
da consciência.
No primeiro texto, mais "light", remonta a um episódio que ocorreu com a jornalista
que respondeu a uma feminista nos seguintes termos:

"(...)Bom, já que teve liberdade para me jogar seu discurso, peço licença para
explicar rapidamente o meu. Vejo em tudo quanto é publicação, de revistas,
livros à panfletos, passando por televisão e vídeos no YouTube, ―especialistas‖
que pregam o prazer livre feminino. Encorajam o sexo casual e constante com
qualquer macho que lhe corte a frente como forma de autoconhecimento, de
exercer a liberdade conquistada com a fumaça dos sutiãs. Daí vejo amigas e
colegas se esfregando à noite, para chorar de manhã o seu valor que sente
diminuir por entregar o corpo a quem não quer sua alma. A dividir a cama com
quem não quer dividir a vida, a expor sua intimidade a quem não liga para sua
fragilidade. E uma estudiosa como você vem dizer que isto é mais avançado que
ter sexo sadio e constante com o marido com quem você jurou viver diante de
Deus? (...)"92

O segundo texto, mais dramático, é uma reflexão sobre o episódio da menina libertina
que se suicidou. Este caso foi trazido pela mídia como resultado do vazamento de um vídeo
fazendo sexo que vazou na internet. A realidade é que foi, conforme investigou Bernotti,
resultado de uma profunda depressão. Ter vídeos dela circulando por pessoas era mais
corriqueiro do que a mídia deixou a entender. Detalhe que a investigação nem foi profunda,
bastou ler as mensagens da garota nas redes sociais e declarações de amigas próximas93.
O fato é que a consciência cobra seu preço - cedo ou tarde. E já no desenvolvimento
de uma vida desenfreada, como genialmente discorre Mario Ferreira dos Santos em 'Filosofia
da Crise', nasce o desespero que leva ao fanatismo. Quanto mais a consciência tenta alertar,
mais alto precisa-se gritar para continua o caminho da inversão de valores.
Independente do que se acredita, a consciência sabe discernir. Quando tivemos as
manifestações de junho, vimos todo um povo gritando e protestando na rua. A população

91
Mulheres Inteligentes - http://www.facebook.com/mulher.mulher.inteligente
92
BERTOTTI, Fabiana. Mais sexo, por favor! Fabiana Bertotti - Meu cantinho, 01/10/2013. Disponível em
http://fabianabertotti.com/2013/mais-sexo-por-favor/
93
BERTOTTI, Fabiana. Júlia Rebeca. Fabiana Bertotti - Meu cantinho, 19/11/2013. Disponível em
http://fabianabertotti.com/2013/julia-rebeca/
73

sentia que as coisas não iam bem, por mais que carecessem de conhecimento para explicar o
que está errado.
Desesperados, os manifestantes só puderam expressar segundo aquilo que dispunham:
um conjunto de palavras-gatilho da qual somos inundados dia-a-dia. "Mais educação", "mais
saúde", "mais segurança", "mais honestidade"... Fins recheados de nobreza, mas com meios
carentes de preenchimento. Por mais que, ao gigante, falte uma estrutura saudável de
conceitos importantes para organizar idéias como modo de tentar propor alternativas eficazes
para resolver os problemas, lá estava a consciência apontando que algo não está certo. É
mentira que o gigante estivesse dormindo, ele está sofrendo de mal-estar na verdade.
Daí que provém também o ódio irracional aos conservadores. A característica da
mente conservadora, ensinava Russell Kirk, é a ordem do pensamento. O exercício de um
conservador é pensar. Ao contrário dos promotores do Marxismo Cultural, o conservador não
negligencia a voz da consciência.
Se os fanáticos (que surgem do desespero) querem ignorar a existência da culpa, o
conservador deve relembrar da importância da responsabilidade. Se querem promover a
libertinagem, o conservador deve lembrar da existência da ordem moral. Se querem
relativizar, o conservador deve lembrar a existência de critérios universais. Se querem a
igualdade absoluta, o conservador deve lembrar da existência e importância da hierarquia. Se
querem ser impulsivos, o conservador lembra sobre a prudência e racionalidade. Se querem
mergulhar em vícios, o conservador deve apontar para o caminho das virtudes.
Enfim, o conservador deve tentar emular uma consciência dentro de uma sociedade
caótica e desesperada. Por conta do fanatismo histérico que segue junto à campanha pela
promoção da inversão da valores, o papel do conservador será alvo de diferentes fontes de
ódios. Lembrar aquilo que quer ser esquecido, mesmo que seja para o bem, nunca é agradável,
embora seja essencial para a construção de uma sociedade mais harmônica94.
Sendo assim, antes de ser arrogante, o conservador deve buscar a humildade. A
batalha crucial acontece dentro do indivíduo. Se o conservador dá atenção à moralidade, ele
deve ser o primeiro a tentar segui-la. Pode e vai tropeçar incontável vezes, mas deve
continuamente e sinceramente persistir em tentar alcançar as altas virtudes.
Preocupa-me, então, os conservadores arrogantes, pois, como se pode concluir, ele
deveria procurar ser humilde, combativo e construtivo.
94
Aqui pode se tomar como exemplo o freqüente fracasso que é relatado quando pessoas que conhecem a Real
tentam alertar amigos que estão desonrosamente presos na Matrix. Tentando ajudar, passará por malvado,
invejoso, dentre outras repulsas típicas daqueles que preferem uma mentira adocicada a enxergar a azeda
verdade.
74

O Marxismo Cultural tenta vencer à consciência minando a percepção sensível. A


morte da consciência, todavia, é impossível. Mesmo porque, sua morte representaria o fim
daquilo que nos distingue dos demais seres do mundo, e que, ao mesmo tempo, faz alcançar a
única igualdade possível e desejável: a dignidade humana.
75

APÊNDICE III

O artigo que vai abaixo foi escrito um dia depois do dia mundial contra a violência.
Um dos objetivos foi expor a hegemonia feminista já impregnada em nossa cultura, ou seja,
acusar todo o ardil cultural que vem prejudicando nossa sociedade. Em minha opinião, de
todas as vertentes da guerra cultura marxista, o feminismo é o que tem obtido maior êxito em
termos da corrupção da mente (conforme pede a estratégia gramscista). Trago este artigo para
este apêndice porque ele passa rapidamente por algumas questões que foram abordadas na
discussão deste livro.

A Hegemonia Cultural do Feminismo95

Na disputa pela hegemonia do senso comum, arrisco a dizer que o feminismo é o


movimento que tem conseguido obter maior sucesso. É característico dos grupos de pressão
das minorias usar de vitimismo como forma de conquistar adesão e adeptos para a engenharia
social do politicamente correto. O feminismo, por sua vez, é o que tem dado sinal de melhor
sucesso nessa estratégia.
O motivo é até simples de entender. O homem é o natural protetor da mulher e tem em
seu instinto a necessidade de protegê-la. Homem não pode ver mulher chorar. O homem, em
geral, quer a segurança da mulher; como líder, servi-la. A mulher, por sua vez, quer
segurança. Ambos concordam, portanto, que a mulher merece proteção contra os malvados.
Deste modo, o drama sentimentalista junto ao revisionismo histórico que
costumeiramente é alardeado por feministas impregna na alma do homem de modo a
sobrecarregá-lo em culpa. A virilidade masculina é posta como vilão e muitos homens, por
acreditar no discurso, emasculam-se. O vocabulário também é alterado. Submissão passa a ter
conotação negativa (quando é algo fundamental para qualquer sistema hierárquico).
Libertinagem passa a ser confundida com liberdade e direitos (quando é o oposto da liberdade
e pouco tem de relação positiva com o direito). Amor confundido com paixão. Romantismo
com servidão cega. Filho como fardo, e por aí vai.
Outro sinal de que é a ideologia cultural com maior sucesso hegemônico é que
comentaristas inteligentes como Luiz Carlos Prates e Rachel Sheherazade abraçam o
95
Adaptado de AUGUSTO. A hegemonia cultural do feminismo. Blog do Augusto, 26/11/2013. Disponível em
http://institutoshibumi.org/augusto/2013/11/a-hegemonia-cultural-do-feminismo.html
76

automatismo do discurso vitimista. Em relação ao primeiro, a contradição chega a ser cômica.


Defende com unhas e dentes a família, moralizando, com razão, a responsabilidade dos pais
sobre os filhos. Mas quando o assunto é formar família, o mesmo passa a dizer que primeiro a
mulher deve pensar em si.
Esta contradição pode não ser evidente, mas isso é novamente ideologia feminista
enraizada no senso comum. A família tem por princípio o sacrifício em favor dos filhos. É
uma ação oposta ao egoísmo. Não é à toa que a Igreja a coloca como força santificante, pois
ali é onde o amor de verdade, a capacidade de dar a vida por outro, é exercida em máximo
grau. Sim, o feminismo também foi o grande responsável pela distorção da definição de
família.
Falta temperança. Nem o homem deve ser moldado com o suprassumo da maldade;
nem a mulher, da injustiça. Se ontem foi o dia mundial contra a violência, o senso de
proporção pediria o exame urgente a respeito do índice de homicídios que no Brasil, que
supostamente não está em guerra, já passa dos 50 mil, sendo a grande maioria homens. O que
vimos, contudo, foi toda uma discussão sobre violência doméstica contra as mulheres.
Em tempo: sobre a violência doméstica, as estatísticas vão contra o senso comum. O
homem é que é mais violentado.
Homem que bate em mulher merece um belo de um xilindró (e vice versa). Nem
homem e nem mulheres de bem são contra isso. É o discurso de chover no molhado. Já a
população brasileira, homens e mulheres, acuada pela violência e império dos bandidos,
merece segurança. É, o feminismo além de promover a guerra dos sexos, tem a capacidade de
furar fila na hora de discutir o problema da violência.

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