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ANTONIO MAMMI
DE SÃO PAULO
03/10/2017 00h00
Em discurso representando os estudantes brasileiros da Universidade de Coimbra, o jovem Fernando Albuquerque Mourão saudou o
presidente Café Filho, que visitava Portugal em 1955.
Muitos bacharéis em direito teriam construído uma carreira jurídica ou política a partir de uma formalidade dessas. A fala de Mourão,
no entanto, se deu em um momento de ruptura em sua trajetória pessoal –paulatinamente, ele se afastava do estudo das leis para
imergir na pesquisa sobre a África.
O contexto era propício: movimentos nacionalistas afloravam naquele continente e Mourão vivia na metrópole. Era integrante da Casa
dos Estudantes do Império, agremiação da qual participaram nomes como Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, e Amílcar
Cabral, líder da independência de Guiné Bissau.
Seus membros foram perseguidos pela ditadura salazarista, acuada pela iminente descolonização. Mourão regressou ao Brasil.
Por aqui, revolucionou a forma de se estudar a África, antes baseada em modelos europeus. Em 1965, ajudou a fundar o Centro de
Estudos Africanos da USP. Em 1971, tornou-se titular da cadeira de sociologia da universidade.
Também antecipou a necessidade criar uma política externa voltada aos países de lá. "Foi interlocutor de alto nível dos governos
brasileiros com africanos. Sua presença em toda África, Angola em especial, é notável", diz Alysson Mascaro, professor de filosofia do
direito da USP.
Morreu no último dia 30, aos 83. Deixa mulher, dois filhos, netos e bisneto.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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