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Entrevista
Com mais de 70: legados de ideias e ideais

Cecília Maria Vieira Helm


Aos 74 anos relata sua trajetória em defesa das terras kaingang

Interessou-me apresentar um tema ainda não tratado que é o valor, o papel do


velho na sociedade indígena. E as pessoas gostaram muito, porque mostro
outra sociedade, que concebe a velhice imitando a nossa, no sentido de achar
que o cacique hoje tem que ser jovem.

Por Alessandra Anselmi


Texto e Fotos

C
ecília Maria Vieira Helm, 74 anos, é natural de Curitiba, Paraná,
professora titular aposentada da Universidade Federal do Paraná.
Especializou-se em Etnologia Indígena no Museu Nacional da
Universidade do Brasil (1962-1963). Realizou docência livre e concurso para
professora titular de Antropologia Social na vaga deixada pelo professor José
Loureiro Fernandes, na década de 1970. Fez o seu pós-doutorado em
Antropologia na Cidade do México, no Ciesas, 1979-1980; foi bolsista do CNPq
recebendo bolsa até 2009 de produtividade em pesquisa durante o período que
atuou nos Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social das

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Universidades Federais do Paraná e de Santa Catarina. É membro da


Academia Paranaense de Letras, APL, eleita por unanimidade em 2010.

Cecília é autora de livros, capítulos de livros e artigos sobre as etnias indígenas


do Sul do Brasil. Entre seus trabalhos recentes: Os 50 anos da Antropologia no
Paraná; Laudo antropológico sobre disputa de terra na Reserva Indígena
Mangueirinha, 2 vls. 1996; Diálogos entre Direito e Antropologia: primeiras
aproximações interdisciplinares, apoio UniBrasil e UFPR; A Etnografia, a
perícia e o laudo antropológico nos processos judiciais; A Antropologia dos
Nativos, publicado pela Universidad Autonoma de La Plata, Argentina; Disputa
na Justiça pelas terras de ocupação kaingang e guarani, a decisão judicial,
2011; Direito histórico indígena de permanência na terra de ocupação
tradicional: o reconhecimento da posse indígena pela Justiça Federal, PR, em
caso de litígio, 2012 em 7º Encontro da Associação Nacional de Direitos
Humanos e Pesquisa, Curitiba; Roberto Cardoso de Oliveira, um professor
exemplar, em Iluminando a Face Escura da Lua, publicação da UNESC, livro
coordenado por Christina de Rezende Rubim, 2012.

Viveu um ano na cidade do Rio de Janeiro, enquanto durou seu curso de


especialização em Antropologia Social, no Museu Nacional; fez viagem de
pesquisa entre os índios Tukuna no Alto Solimões, projeto de responsabilidade
de Roberto Cardoso de Oliveira.

É casada com Édison Helm, publicitário, tem 3 filhas, Cecília Beatriz, Cristiane
e Carolina e 5 netos.

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Recebeu-nos gentilmente para a entrevista nos corredores da PUC-SP durante


a reunião da ABA - Associação Brasileira de Antropologia, que aconteceu de 2
a 5 de julho de 2012.

Portal: professora Cecília, primeiramente poderia se apresentar?

Cecília: Bem, meu nome é Cecília Maria Vieira Helm, sou filha de José
Rodrigues Vieira Netto, professor de Direito Civil da UFPR. Meu pai foi
presidente da OAB/Seccional do Paraná, e em consequência de seu modo de
pensar distinto dos homens que governaram o país durante o golpe militar de
1964, foi cassado e aposentado compulsoriamente do cargo que ocupava na
UFPR. Minha mãe, Irmina Carneiro Vieira, de tradicional família dos Campos
Gerais do Paraná, era professora primária. Tiveram quatro filhas, todas
formadas em cursos na UFPR. Meu pai era descendente de imigrantes
portugueses e espanhóis.

Sou casada com Édison Helm, meu companheiro há 54 anos, de pais alemães.
Ele é publicitário aposentado, trabalhou em vários jornais em Curitiba. Temos
três filhas: Cecília Beatriz, médica veterinária, professora da UFPR, mestra em
Morfologia Celular. Minha segunda filha, Cristiane Vieira Helm, pesquisadora
concursada da Embrapa, Paraná, tem doutorado em Tecnologia de Alimentos,
UFSC. A terceira filha, Carolina Vieira Helm é arquiteta, especialista em
decoração de ambientes, faz especialização em arquitetura de hospitais,
planeja os espaços em hospitais de Curitiba.

Tenho cinco netos. Fernanda está formada e põe em prática a profissão de


médica veterinária, dois netos estudam Direito, Ricardo e Ana Lúcia, um neto
faz Designer na PUC, Curitiba; o caçula cursa o ensino fundamental, muito
estudioso, aspira ser médico, o Gabriel.

Portal: em meio a tantos currículos interessantes e diversificados, algum


descendente pensou em seguir seus passos, se tornar antropólogo?

Cecília: as filhas já estão


encaminhadas, e dos cinco netos
nenhum pensa por enquanto em
ser antropólogo. Minha filha
Carolina me ajudou a elaborar os
desenhos das genealogias
kaingang e guarani e a fazer os
mapas das aldeias, para serem
inseridos nos laudos e relatórios
antropológicos que produzi sobre a
Terra Indígena Mangueirinha. É
dela este mapa genealógico das
facções kaingang (a professora
mostra com orgulho o mapa que sua filha desenhou, inserido no livro de sua
autoria, “Disputa na Justiça pelas terras de ocupação kaingang e guarani – a
decisão judicial”).

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Portal: no início deve ter sido um pouco complicado, não?

Cecília: meu companheiro, Édison, algumas vezes me acompanhou em


viagens a campo. Em outras idas a campo levei alunos da graduação em
Ciências Sociais, que me ajudaram a fazer entrevistas, a gravar os diálogos
que fiz com os indígenas. Hoje não tem mais aquela história de mulher pedir ao
marido para viajar, não é mesmo? Mas antigamente, você pode imaginar, eu
casada, com filha pequena, acho que fui uma das pioneiras em deixar a minha
casa. Fui para o Rio de Janeiro primeiro, e mais tarde fui para o México, num
grande centro de antropologia, estudar e trabalhar com um antropólogo
bastante famoso.

Portal: conte sua trajetória profissional, por favor.

Cecília: fiz meu curso de especialização no Museu Nacional, na Universidade


do Rio de Janeiro em 1962, e nesse mesmo ano tive a oportunidade de ir a
uma aldeia indígena no Alto Solimões, e vi que era aquilo mesmo que queria
fazer na vida: trabalhar, conhecer, pesquisar as populações indígenas. Depois
da especialização, fiz livre-docência pesquisando os índios do Paraná, defendi
tese para ser professora titular pesquisando os índios que vivem perto de
Londrina. Fui ver a questão do índio que trabalha em fazenda - que chamamos
de boia-fria -, pesquisei a identidade indígena. Mais recentemente trabalho
elaborando laudos periciais antropológicos. O Ministério Público Federal
recomenda um antropólogo para a Funai contratar para fazer o laudo, se o
antropólogo é competente e tem conhecimento reconhecido da situação dos
índios que estão tendo problemas com as suas terras, invadidas por não
índios.
Já trabalhei em projetos da Companhia Paranaense de Energia, a Copel.
Quando há a intenção de construir uma hidrelétrica, vou até lá, explico aos
índios quais serão os impactos sociais, ambientais, e se estão de acordo.
Muitos não estão de acordo, o projeto não sai, a não ser que seja uma
determinação como essa recente da dona Dilma, que aprovou a construção da
usina hidrelétrica no rio Tibagi, no Paraná, construída com o apoio do PAC.
Enfim, são 44 anos pesquisando as populações indígenas do Paraná.

Portal: seu trabalho se restringe aos povos kaingang?

Cecília: sim. Meu maior trabalho é com os kaingang, que pertencem à família
linguística jê. São mais de 25 mil indivíduos espalhados pelo Sul e Sudeste,
ocupando terras indígenas administradas pela Funai, em São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e estão entre os cinco povos
indígenas mais populosos do Brasil. Há famílias kaingang vivendo na área rural
e algumas em cidades. Já pesquisei os guarani da Terra Indígena
Mangueirinha, no Paraná, e os xetá, que foram pesquisados e descritos pelo
professor José Loureiro Fernandes, na década de 1950. Escrevi sobre a
história dos grupos indígenas no Paraná.

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Portal: sobre os idosos indígenas, quais as maiores dificuldades que


encontram?

Cecília: os idosos foram muito valorizados, vamos chamar assim, em décadas


passadas. Hoje, os moços passaram a ocupar o lugar no Conselho dos Idosos,
que atualmente é apenas Conselho Indígena. Para mim, pelo tipo de trabalho
que faço, o idoso é muito importante, porque ele tem o conhecimento, a
sabedoria das tradições, da língua, dos casamentos, da patrilinearidade, que é
a classificação ou organização de um povo em que a descendência é contada
em linha paterna, ou seja, o genro vai residir nas proximidades da casa do
sogro. Era a regra dos kaingang, que hoje deixaram de cumpri-la. Quem deve
vestir o morto, quando um índio vem a falecer, é um parente, geralmente mais
velho. Quem pinta a viúva, todo o conhecimento da cultura, é o idoso quem
sabe, ele deve ser ouvido. Enfim, são coisas das quais somente o índio idoso
tem conhecimento.

Portal: essas tradições e saberes se perdem entre os indígenas?

Cecília: estudo as etnias indígenas


desde a década de 1960, e muito do que
observei vem se perdendo por causa do
contato sistemático com elementos da
sociedade nacional. Porém, os idosos
sabem revelar como eram os seus
costumes. Reconhecem que a cultura
sofre transformações. Por exemplo, o
Serviço de Proteção ao Índio, SPI, tinha
uma política de integrar o índio. Com a
Constituição de 1988, isso não mais
acontece. A Funai então teve que rever
essa política, hoje eles têm liberdade de
culto, mas muita coisa da tradição se
perdeu. E os velhos têm esse saber
ainda. Vou dar um exemplo. Em Santa
Catarina, na terra indígena de Chapecó,
encontrei um velho kaingang que sabia
como se organizava a festa do morto.
Chama-se Festa do kiki, que é a principal
atividade cerimonial dos kaingang, que
marca a passagem dos espíritos dos
mortos para outro plano, e durante a
festividade entoam-se cantos e se
consome uma bebida chamada kiki - à
base de mel e cachaça, que os índios
ingerem ao som de danças, cantos e
costumes ancestrais, tudo em
homenagem ao morto. Essa é uma festa que quase não é observada hoje em
dia, e que se pode chamar de reinvenção da tradição. O historiador
Eric Hobsbawm fala sobre a reinvenção da tradição no livro “A invenção das

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tradições”, ou seja, novamente se tem interesse em produzir aquela tradição


abandonada ou deixada de lado pelo autoritarismo do SPI. De forma que essa
Festa do kiki está sendo retomada, não todo ano, mas ocorre nessa região de
Santa Catarina, não no Paraná. Conversei com alguns kaingang de
Mangueirinha, que têm vontade de retomar esses costumes. Estão pedindo
auxílio, porque há várias coisas que fazem parte dos preparativos para a festa
e das quais eles não dispõem.

Portal: há outros exemplos?

Cecília: cito mais um. Consegui, por intermédio dos velhos, refazer toda a
história da ocupação da terra no Paraná, mostrando para o Ministério Público
Federal e para a Justiça Federal que a terra era de fato dos kaingang, pois já
era ocupada, alguns séculos atrás, desde 1815. O governo do Paraná se
apropriou de parte da terra e a vendeu a um fazendeiro rico, que instalou uma
madeireira na fazenda. Os índios não se conformaram e ficaram lutando, até
que veio um jovem, um juiz federal, Mauro Spalding. Ele se sensibilizou pela
questão, leu todo o meu laudo, de 200 páginas, e publicou sua sentença,
curiosamente do mesmo tamanho - 200 páginas, considerando a parte central
da Terra Indígena Mangueirinha como de ocupação tradicional dos kaingang e
guarani. Então, se não fossem os velhos kaingang a me informarem como
chegaram àquela região... O esquema de parentesco estou dando aqui para
você (mostra novamente o mapa de parentesco inserido no livro que escreveu).
Tudo isso favoreceu a se ter a real ocupação, a posse permanente do índio
daquela terra. Antes até de sair a sentença, os índios se organizaram num
movimento e foram de madrugada, em caminhão emprestado, a fim de
expulsar os empregados dos fazendeiros, colocando todo mundo na estrada.

Portal: perdão pelo coloquialismo, mas há um ditado que diz: “pau que dá em
Chico dá em Francisco...”

Cecília: exatamente. Foi muito interessante, porque fizeram o mesmo que os


fazendeiros fizeram com eles anos atrás, quando tiraram algumas famílias do
centro da área. O governo havia dividido a área em A, B e C, e ficou com a B,
porque tinha “apenas” 150 mil pés de araucaria angustifólia, mais conhecida
como pinheiro do paraná.

Portal: aqui na reunião da ABA, a senhora falou sobre isso?

Cecília: frequento a ABA há 33 anos, e me interessou falar sobre isso,


apresentar o valor, o papel do velho na sociedade indígena. As pessoas
gostaram muito, porque é uma sociedade diferente da nossa, e que concebe
hoje a velhice imitando a nossa sociedade, achando que o cacique tem que ser
jovem, que a polícia indígena é composta de gente jovem. Quando falo jovem
quero dizer faixa etária até 50 anos. No Conselho dos Idosos, entre os velhos,
eles falavam: “Só você ouve os velhos, você dá valor para o que os velhos
sabem contar”. Eu dizia: “Mas vocês estão me ensinando como foi ocupada
essa terra. Vocês têm direito histórico sobre esta terra”. Daí eles diziam: “Pois

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é, mas é só a senhora chegar aqui, e manda chamar os velhos para dar o


depoimento para a senhora”.

Portal: eles estavam se sentindo à margem?

Cecília: não diria assim, porque eles não têm a questão de “à margem”, mas
têm o sentido de quem está e quem não está no poder, e sabem que os jovens
estão no poder, que recebem a cesta básica, fazem a distribuição, recebem o
ICMS Ecológico. Os jovens marcam data para eleição de cacique, ou seja, tudo
isso é o jovem índio quem faz hoje. Vou contar um fato interessante. Entre os
kaingang existem facções. O A casa com B e B casa com A. Essas metades
são os kamé e os kairu, divisão social relacionada à descendência. Até
décadas atrás era incestuoso casar A com A. Não podia, tinha que casar com
B, e isso já está se perdendo. Eles mesmos dizem: “Ah, Cecília, você pergunta
isso, é coisa de velho”. Então, somente o velho sabe as tradições, o velho
conhece a cultura tradicional. Hoje, muitos kaingang perceberam que não
podem perder nada disso, nem a língua, nem as tradições, embora saibamos
que as transformações sociais são fortes. A televisão, por exemplo, está
instalada em todas as casas, do moço e do velho, todo mundo quer ter
televisão. É um veículo grande de transformação, embora seja uma sociedade
diferenciada. Os moços estão olhando muito no que diz a nossa televisão, no
que se fala no rádio, nos políticos que dão pouca coisa para o índio, mas vão lá
pedir votos.

Portal: eles saem da aldeia com frequência?

Cecília: saem sim, e há experiências que antes não tinham, como ir a Curitiba
estudar, ir ao hospital, enfim, estão em contato permanente com a nossa
sociedade, isso é bastante intenso.

Portal: como a aldeia encara a saída do índio para estudar fora?

Cecília: alguns índios estão na universidade, e então existem esses contrastes,


o negócio do médico que chega e diz que agora vai curar com medicina do não
índio, aquele que é dentista, tem aquele que é enfermeiro. Aliás, há muitos
anos existem nas áreas indígenas somente enfermeiros índios, escolas nas
quais só tem professor índio, porque é ele quem sabe falar a língua. Então, por
aí podemos notar a importância que esse índio acaba tendo quando retorna à
sua aldeia. Eles são respeitados, passam a ter status, e como são professores
recebem salários, são os que de fato estão melhor na sociedade em termos de
posição social. Mas é interessante, os velhos têm a aposentadoria. É comum
na casa de uma família que tem um casal de aposentados os netos estarem lá,
juntos, porque se alimentam melhor, se vestem melhor.

Portal: na sociedade indígena a proximidade dos netos com os avós é


semelhante ao que acontece na nossa sociedade?

Cecília: isso já era assim quando comecei as pesquisas há 40 anos. Quando o


casal se separava, os avós ficavam com as crianças. Hoje, como a aposentaria

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é mais recente e se estendeu para todos os idosos, é mais comum ainda ir


para a casa do avô, pois lá vai ter a refeição, não digo farta, mas com menos
dificuldade do que eles têm hoje. E, assim como nós, o índio vive mais, até
mesmo por questão de saúde. Em todas as áreas indígenas existem
enfermarias. Uma índia hoje, quando vai ter o filho, é levada ao hospital, o
parto não é mais feito na aldeia.

Portal: qual a importância de se preservar essa cultura?

Cecília: Acho importantíssimo. Pensa-se muito em preservar as matas, os


campos, os rios. Mas e os indígenas?! Muito mais importante. Afinal, o índio é
cidadão, um ser humano. E é importante que se entenda como é a outra
sociedade, como são os valores de outra sociedade, as práticas sociais de
outra sociedade, as festas, os cultos, o respeito ao morto, onde o cemitério é
lugar sagrado. É lindíssimo trabalhar com o outro. Não apenas os analistas
fazem isso, mas o antropólogo o faz com a sociedade.

Portal: há algum projeto novo sobre o qual gostaria de comentar?

Cecília: trabalhei na graduação e pós-graduação durante 30 anos. Quando me


aposentei fiquei na pós-graduação. Em 2009 achei que deveria aproveitar todo
o material que tenho de pesquisa e escrever. Estou escrevendo sobre os
laudos que elaborei agora, com uma etnografia mais aprofundada e mais
extensa. Escrevo sobre esses grupos, as peculiaridades, vendo quais
transformações ocorrem nessa sociedade. Por exemplo, refazer a questão
daquela festa do culto ao morto, eles querem fazer em Mangueirinha, vou
acompanhar para ver se conseguirão.

Portal: depois de ter estudado os índios, e os idosos indígenas, como encara a


própria velhice?

Cecília: vejo a velhice como boa etapa da minha vida. Não acho que a idade
dificultou meu trabalho em gabinete e em campo. Atualmente, devido a um
câncer que comprometeu a saúde do Édison, meu marido, não temos viajado
de carro. Escrevo sobre o material que tenho em meu escritório. Acho que a
idade me tornou mais disciplinada, com melhor visão dos fatos. Continuo
escrevendo diariamente, produzindo, me sinto bem trabalhando, penso que se
deixar de escrever, publicar, viajar, ficarei depressiva. Gosto muito de minha
profissão, de minha família, que sempre apoia meus projetos. Sou muito feliz,
sempre aprendendo coisas novas. Ao escrever sobre um tema pesquiso para
me informar sobre quem já escreveu a respeito do mesmo. Respeito aqueles
que sabem. Entrei há dois anos para a Academia Paranaense de Letras, fui
eleita por unanimidade de votos, e gosto de participar das reuniões, ouvir os
confrades e confreiras. Sou a única antropóloga que atua na APL.

Portal: é uma etapa difícil?

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Cecília: não, não penso assim. Acho que a velhice não deve ser encarada
como etapa difícil. Gosto do meu corpo, das minhas roupas, as quais escolho
atentamente. Vou à cabeleireira uma vez por semana. Meu apartamento é
confortável, tem jardim, flores, comprei com o que economizei de meu salário
na universidade. Tenho diarista apenas, gosto de cozinhar pratos refinados,
gosto de convidar parentes e amigos para almoços e lanches em meu
apartamento. Já operei uma artrose na bacia, às vezes uso bengala para dar
mais segurança. Espero que isso ajude a ver meu perfil traçado, esse da
terceira idade, com qualidade de vida e alegria.

Ao final da entrevista Cecília Helm conversa com Beltrina Côrte, editora do Portal do Envelhecimento

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Alessandra Anselmi - Profissional de Comunicação e Marketing formada em


Relações Públicas pela Metodista em 1996 e em Marketing e Vendas pela
Anhembi Morumbi em 2012. Mais de dez anos de experiência em
Comunicação, Marketing e Eventos, atuando também com Locução e
Fotografia. Atualmente trabalha como repórter fotográfico para o Portal do
Envelhecimento e é responsável também pela Comunicação e Marketing da
Ong OLHE - Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento. E-mail:
a.alesp11@gmail.com

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