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Supremo Tribunal Federal

RECLAMAÇÃO 32.206 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. LUIZ FUX


RECLTE.(S) : DISTRITO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
RECLDO.(A/S) : PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) : NÃO INDICADO

RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL.
ADMINISTRATIVO. PRECATÓRIOS.
REGIME ESPECIAL DE PAGAMENTO.
EMENDA CONSTITUCIONAL 62/2009.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO ÀS
DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL PROFERIDAS NAS AÇÕES
DIRETAS DE
INCONSTITUCIONALIDADE 4.357, 4.425
E 5.679. SUPERAÇÃO DOS
PARADIGMAS COM A EDIÇÃO DAS
EMENDAS CONSTITUCIONAIS 94/2016
E 99/2017. ALEGAÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DO PLANO DE
PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS.
INVIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA
RECLAMAÇÃO PARA REVOLVIMENTO
DE PROVAS. RECLAMAÇÃO A QUE SE
NEGA SEGUIMENTO.

DECISÃO: Trata-se de reclamação, com pedido de medida liminar,


ajuizada pelo Governo do Distrito Federal contra ato do Presidente do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, sob a alegação de
ocorrência de desrespeito à autoridade do que decidido pelo Supremo
Tribunal Federal nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 4.357, 4.425 e
5.679.

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RCL 32206 / DF

Narra o Governo do Distrito Federal que apresentou Plano de


Pagamento de Precatórios para o ano de 2018, elaborado por sua
Procuradoria-Geral a partir das inovações trazidas pela Emenda
Constitucional 99/2018, o qual foi devidamente homologado pelo TJDFT.
Esclarece que, em que pese tal fato, a Presidência do Tribunal de
Justiça local determinou ao reclamante que efetuasse o depósito da
quantia de R$ 32.112.681,15 – referente a 1/12 dos aportes decorrentes do
Plano de Pagamento de Precatórios 2018 – mês de agosto –, até o dia
11/10/2018, sob pena de sequestro do referido valor, bem como para que,
no prazo de 5 (cinco) dias, depositasse a quantia de R$ 32.386.978,31 –
referente a 1/12 dos aportes decorrentes do Plano de Pagamento 2018 –
mês de setembro, sob pena de sequestro também deste valor.
Aduz que, ao assim proceder, o ato reclamado violou não só as
decisões tomadas por esta Corte quando do julgamento das ADIs 4.357,
4.425 e 5.679, como também o próprio plano de pagamento previamente
aprovado.
Argumenta que “o TJDFT, ao exigir que o Distrito Federal realize
repasses mensais de 1/12 (um doze avos) sob pena de sequestro, em nítido
desrespeito ao Plano de Pagamento de Precatórios do DF já homologado pela
Presidência do próprio Tribunal, ofende a autoridade das decisões da Suprema
Corte nas ADIs 4357 e 4425, pois desconsidera, na prática, a constitucionalidade
reconhecida aos demais instrumentos (sobretudo, acordo direto e compensação)
aptos a viabilizar a quitação da dívida de precatório, reduzindo-lhes
exclusivamente ao repasse mensal de percentual majorado da Receita Corrente
Líquida”.
Continua sua defesa afirmando que “essa violação impacta no cálculo
do valor devido em 2018, com base no art. 101 do ADCT, o qual dispõe que o
percentual não pode ser inferior ao adotado no período anterior à vigência do
referido dispositivo (01.01.2017), qual seja, o exercício de 2017”.
Houve pedido de concessão de medida liminar para que se
determine “a suspensão do ato reclamado (decisão do Presidente do TJDFT no
Processo Administrativo SEI nº 16695/2018) ou, caso efetivado o sequestro antes
da apreciação desse pedido liminar, para determinar o bloqueio do(s) respectivo(s)

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valor(es) eventualmente sequestrados, até o julgamento final da reclamação”.


Ao final, formula pedido principal nos seguintes termos, in verbis:

“No mérito, que o pedido seja julgado procedente, para cassar o


ato reclamado, determinando:
a) o cumprimento, em seus exatos termos, do Plano de
Pagamento do Distrito Federal para o ano de 2018, com base no art.
101 do ADCT e na perspectiva eleita pelo Ente Federativo para
quitação de sua dívida de precatórios;
b) que se abstenha de impor requisitos adicionais aos fixados na
medida cautelar na ADI 5679 para que o Reclamante possa utilizar os
depósitos judiciais assegurados pelo art. 101 do ADCT para quitação
de suas obrigações com o referido Regime Especial de Pagamento de
Precatórios e mais especificamente com o Plano de Pagamento de
Precatórios do Distrito Federal para o ano de 2018;
c) o fornecimento de certidão de regularidade no pagamento de
precatórios e a abstenção da prática de sequestro das contas do
Reclamante em decorrência dos vícios discutidos nesta reclamação.”

A Presidência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios,


por intermédio da Petição STF 72.388/2018, prestou informações.

É o relatório. DECIDO.

Ab initio, pontuo que a reclamação, por expressa determinação


constitucional, destina-se a preservar a competência desta Suprema Corte
e a garantir a autoridade de suas decisões, ex vi do artigo 102, inciso I,
alínea l, além de salvaguardar a estrita observância de preceito constante
em enunciado de Súmula Vinculante, nos termos do artigo 103-A, § 3º,
ambos da Constituição Federal. A propósito, a jurisprudência desta
Suprema Corte fixou diversas condições para a utilização da via
reclamatória, de sorte a evitar o uso promíscuo do referido instrumento
processual. Disso resulta: i) a impossibilidade de utilização per saltum da
reclamação, suprimindo graus de jurisdição; ii) a impossibilidade de se
proceder a um elastério hermenêutico da competência desta Corte, por

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estar definida em rol numerus clausus; e iii) a observância da estrita


aderência da controvérsia contida no ato reclamado e o conteúdo dos
acórdãos desta Suprema Corte apontados como paradigma.
Pretendeu o legislador evitar que a reclamação fosse utilizada de
forma indiscriminada e para finalidades que não são adequadas à sua
previsão constitucional. Nesse sentido, esta Corte já assentou que “a
reclamação, vocacionada a cumprir a dupla função a que alude o art. 102, I, l, da
Carta Política (RTJ 134/1033), não se qualifica como sucedâneo recursal nem
configura instrumento viabilizador do reexame do conteúdo do ato reclamado, eis
que tal finalidade revela-se estranha à destinação constitucional subjacente à
instituição dessa medida processual” (Rcl 4.381-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, Tribunal Pleno, DJe de 05/08/2011).
Quanto à aderência do caso sub examine aos paradigmas desta Corte
apontados como violados, requisito processual essencial à legitimidade
da via reclamatória, assevere-se que esta Corte, ao apreciar Questão de
Ordem formulada nas ADIs 4.357 e 4.425, determinou a modulação dos
efeitos da decisão que declarou a inconstitucionalidade do artigo 97 do
ADCT, que trata do regime especial de pagamento de precatório previsto
na EC 62/2009.
Dessa forma, modulados os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, prorrogou-se pelo prazo de 5 (cinco) anos a
sistemática do artigo 97 do ADCT, permitindo aos entes públicos a
permanência no regime especial de pagamento de precatórios da EC
62/2009.
Nada obstante, verifica-se que, com o advento da EC 94/2016, os
paradigmas apontados pelo reclamante foram superados. A referida
Emenda à Constituição alterou a sistemática de pagamento de
precatórios, ao acrescentar ao ADCT o artigo 101, com a seguinte redação:

“Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que,


em 25 de março de 2015, estiverem em mora com o pagamento de seus
precatórios quitarão até 31 de dezembro de 2020 seus débitos vencidos
e os que vencerão dentro desse período, depositando, mensalmente,
em conta especial do Tribunal de Justiça local, sob única e exclusiva

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administração desse, 1/12 (um doze avos) do valor calculado


percentualmente sobre as respectivas receitas correntes líquidas,
apuradas no segundo mês anterior ao mês de pagamento, em
percentual suficiente para a quitação de seus débitos e, ainda que
variável, nunca inferior, em cada exercício, à média do
comprometimento percentual da receita corrente líquida no período de
2012 a 2014, em conformidade com plano de pagamento a ser
anualmente apresentado ao Tribunal de Justiça local.” (Grifei)

De acordo com a nova sistemática instituída pela EC 94/2016, o


prazo final para quitação integral dos débitos vencidos ficou estipulado
em 31/12/2020, sendo que o pagamento será feito mensalmente, a partir
da vinculação de percentual sobre a receita corrente líquida do ente
público.
Ressalte-se que, em que pese a existência de Ação Direta de
Inconstitucionalidade em face da EC 94/2016 (ADI 5.679, Rel. Min.
Roberto Barroso), presume-se a constitucionalidade da referida emenda,
uma vez que é fruto do próprio Poder Constituinte derivado. Nesse
sentido, cito trecho da decisão proferida pelo Ministro Roberto Barroso,
ao apreciar a medida cautelar na referida Ação Direta de
Inconstitucionalidade:

“19. As normas nascem com presunção de constitucionalidade e


de legitimidade. E, no caso das emendas constitucionais, a presunção
de constitucionalidade é reforçada pelo quórum qualificado exigido
para a sua aprovação, de 3/5 dos votos dos membros de cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Trata-se de situação
em que o Congresso atua na condição de Poder Constituinte derivado,
e na qual a norma aprovada tem legitimidade democrática qualificada
pela elevada maioria política exigida para sua aprovação. Se se exige a
demonstração da plausibilidade da inconstitucionalidade alegada para
suspender a eficácia de leis, a exigência deve ser ainda mais rigorosa
em se tratando de emenda constitucional.
[…]
20. No caso em exame, cabe registrar, ainda, que esta é a terceira

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tentativa do Poder Constituinte Derivado de tratar da mora do Poder


Público no pagamento dos precatórios. As duas tentativas anteriores –
EC 30/2000 e EC 62/2009 – foram rejeitadas pelo STF. Ao que tudo
indica, no entanto, a presente iniciativa procurou justamente atender
às considerações tecidas por esta Corte quando do julgamento da
questão de ordem das ADIs 4357 e 4425, em que se assinalou a
necessidade de que os precatórios atrasados fossem quitados no prazo
de cinco exercícios financeiros (prazo da modulação dos efeitos da
decisão). Destaca-se, ainda, a situação de crise por que passa o país, o
que torna improvável o pagamento de tais débitos sem o referido
mecanismo.” (ADI 5.679-MC, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de
09/06/2017)

Saliente-se que o termo ad quem para a aplicação da sistemática


especial de pagamento discutido no conteúdo da decisão liminar
proferida nos autos da ADI 5.679 tornou-se objeto da EC 99/2017, cujo
teor modificou parte do regime instituído pela EC 94/2016, alterando o
prazo final para quitação integral dos débitos vencidos para 31/12/2024.
Tornaram-se aplicáveis, portanto, as novas regras instituídas pela EC
99/2017 às questões referentes ao pagamento de precatórios pelos entes
públicos.
Com efeito, a atuação superveniente do legislador constitucional
derivado parece se tratar de típico caso de reação legislativa ao exercício
do judicial review. É que, apesar de se assegurar ao Supremo Tribunal
Federal a guarda da Constituição (artigo 102 da CRFB), o
pronunciamento da Corte não encerra o debate sobre as questões
constitucionais, estimulando iniciativas de diálogos institucionais e de
uma “sociedade aberta dos intérpretes da Constituição”. É o que assenta Peter
Häberle, artífice da tese, ao prever que “no processo de interpretação
constitucional estão potencialmente vinculados todos os órgãos estatais, todas as
potências públicas, todos os cidadãos e grupos, não sendo possível estabelecer-se
um elenco cerrado ou fixado numerus clausus de intérpretes da Constituição
[…] quem vive a norma acaba por interpretá-la ou pelo menos por cointerpretá-
la” (HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta aos

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intérpretes da Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e


procedimental da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997, p.
13).
Há que se destacar que a referida reação legislativa se deu não por
legislação ordinária, mas por Emenda Constitucional, mediante atuação
do constituinte derivado. Destarte, tal qual assentado em doutrina por
Abhner Youssif Mota Arabi, há que se diferenciar esse tipo peculiar de
atuação parlamentar, já que a reação legislativa por emenda
constitucional implica na alteração do próprio parâmetro de controle:

“Aliás, [...] o modelo brasileiro parece estar em um meio termo


parcimonioso: nem se tem um sistema como o canadense, no qual,
apesar de tal característica ser cada vez mais atenuada, é
relativamente simples a superação de um entendimento judicial; nem
um como o americano, no qual as respostas legislativas às decisões da
Suprema Corte são dificultadas pelo complicado processo de reforma
constitucional e pela característica de descentralização do poder
político pelo sistema federativo lá existente. Em um cotejo entre os
extremos, se o único modo de efetiva interação institucional entre
Legislativo e Judiciário for a edição de emendas constitucionais, ter-se-
á um quadro tendente à supremacia judicial material. Por outro lado,
se as decisões de uma Suprema Corte puderem sempre ser superadas
pelo processo legislativo ordinário, aproximar-se-á de um modelo de
alta flexibilidade constitucional e de supremacia legislativa. O modelo
brasileiro, embora mais próximo do primeiro cenário, parece estar
entre estes extremos, de modo que se entende institucionalmente
positivo o modo como se tem desenvolvido a atuação do STF.
[…]
Embora não exista entre nós a previsão formal de dispositivo
semelhante à notwithstanding clause canadense, fica claro que há
no sistema brasileiro mecanismos que possibilitam a superação
legislativa de decisões do STF [...], identificando os casos em que,
considerando as peculiaridades de cada um, seu entendimento possa
ser superado por lei ordinária ou apenas por emenda constitucional.”
(ARABI, Abhner Youssif Mota. A tensão institucional entre
Judiciário e Legislativo: controle de constitucionalidade, diálogo e

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legislativo: controle de constitucionalidade, diálogo e a legitimidade da


atuação do Supremo Tribunal Federal. Curitiba: Editora Prismas,
2015, p. 90/92)

Deveras, a matéria foi enfrentada por esta Corte na ADI 5.105, de


minha relatoria, em que se concluiu que: (i) o Tribunal não subtrai ex ante
a faculdade de correção legislativa pelo constituinte reformador ou
legislador ordinário; (ii) no caso de reversão jurisprudencial via emenda
constitucional, a invalidação da emenda somente ocorrerá nas hipóteses
estritas de ultraje aos limites preconizados pelo artigo 60, caput e seus
parágrafos, da Constituição; e (iii) no caso de reversão jurisprudencial por
lei ordinária, excetuadas as situações de ofensa chapada ao texto magno,
a Corte tem adotado um comportamento de autorrestrição e de maior
deferência às opções políticas do legislador. A propósito, destaco o
seguinte excerto da ementa do acórdão, in verbis:

“5. Consectariamente, a reversão legislativa da jurisprudência


da Corte se revela legítima em linha de princípio, seja pela atuação do
constituinte reformador (i.e., promulgação de emendas
constitucionais), seja por inovação do legislador infraconstitucional
(i.e., edição de leis ordinárias e complementares), circunstância que
demanda providências distintas por parte deste Supremo Tribunal
Federal.
5.1. A emenda constitucional corretiva da jurisprudência
modifica formalmente o texto magno, bem como o fundamento de
validade último da legislação ordinária, razão pela qual a sua
invalidação deve ocorrer nas hipóteses de descumprimento do art. 60
da CRFB/88 (i.e., limites formais, circunstanciais, temporais e
materiais), encampando, neste particular, exegese estrita das cláusulas
superconstitucionais.
5.2. A legislação infraconstitucional que colida frontalmente
com a jurisprudência (leis in your face) nasce com presunção iuris
tantum de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador
ordinário o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção
do precedente faz-se necessária, ou, ainda, comprovar, lançando mão

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de novos argumentos, que as premissas fáticas e axiológicas sobre as


quais se fundou o posicionamento jurisprudencial não mais subsistem,
em exemplo acadêmico de mutação constitucional pela via legislativa.
Nesse caso, a novel legislação se submete a um escrutínio de
constitucionalidade mais rigoroso, nomeadamente quando o
precedente superado amparar-se em cláusulas pétreas.”

Dessarte, pela superveniência das ECs 94/2016 e 99/2017 e a


implantação de novo regime de pagamento de precatórios, verifica-se que
a discussão trazida pelo reclamante acerca da forma de pagamento de
precatórios com base na EC 62/2009 restou prejudicada. É dizer: o próprio
paradigma invocado parece ter sido, até que eventualmente se decida em
contrário, suplantado pela atuação do constituinte derivado.
Nesse sentido, cito trecho da decisão proferida pelo Ministro Marco
Aurélio na Rcl 25.857, DJe de 24/05/2017, in litteris:

“Não se observa o alegado desrespeito. Com a superveniência da


Emenda Constitucional nº 94, de 15 de dezembro de 2016, o quadro
acabou alterado, relativamente à sistemática de pagamento de
precatórios pendentes. Atentem para o teor do artigo 101 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, introduzido mediante a
referida Emenda:
[…]
Consoante se verifica, presente a situação inaugurada a partir
da conclusão do julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade
nº 4.357 e nº 4.425, o Poder Constituinte derivado antecipou-se ao
término do lapso de sobrevida do regime especial instituído por meio
do artigo 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para
normatizar, até o final do ano de 2020, a quitação integral do saldo de
requisitórios pendentes. Estabeleceu, então, novo mecanismo a
viabilizar o adimplemento da totalidade da dívida existente, a partir
da vinculação de ‘percentual suficiente’, a incidir sobre a receita
corrente líquida do ente público. Em síntese, com a novidade
legislativa, acabou superado o que decidido pelo Supremo na questão
de ordem suscitada nos mencionados processos objetivos, no tocante
aos parâmetros de vinculação de receita objetivando a quitação de

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requisitórios.”

Destarte, se as decisões proferidas no âmbito desta Corte, as quais o


reclamante aponta como paradigma, não mais subsistem, pelo que deram
espaço ao que estabelecido na EC 94/2016 e na EC 99/2017, padece a
presente reclamação de fundamento jurídico válido que a legitime, haja
vista inexistir decisão do Supremo Tribunal Federal sendo objeto de
violação.
Demais disso, em que pese a afirmação do reclamante de que o ato
reclamado estaria descumprindo o Plano de Pagamento de Precatórios
para 2018, previamente homologado pelo próprio TJDFT, a Presidência
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, ao apreciar o
pedido de reconsideração formulado pelo Governo do Distrito Federal,
expressamente asseverou, in litteris:

“O Governo do Distrito Federal vem descumprindo,


repise-se, desde 29 de junho de 2018, a determinação para
quitar, mensalmente, o duodécimo previsto no Plano de
Pagamentos de Precatórios. A mora relativa ao mês de agosto há
muito configurada, como, igualmente já está o GDF em mora em
relação ao mês de setembro.
A decisão vergastada, tão somente, abriu nova e última
possibilidade de cumprimento natural do depósito dos valores devidos
relativos ao mês de agosto. Todavia, a previsão de intimação nos
moldes da Resolução 115/2010 do c. CNJ foi cumprida já em 29 de
junho, conforme acima esclarecido.
Não merece, portanto, prosperar a tese de
descumprimento do rito previsto, inclusive por estar o GDF
descumprimento o Plano de Pagamentos que foi por ele mesmo
apresentado, em clara afronta ao princípio da boa-fé.
[...]
Válido trazer à baila, como argumento de reforço, os exatos
termos da homologação do Plano, para, em definitivo, espantar
qualquer dúvida acerca do deferido alhures. Dispôs o decisum:
[...]

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Não houve, como visto, qualquer autorização para que o valor


decorrente de aportes diretos fosse depositado, em exclusivo, no final
do semestre.
Por todo exposto, não há verossimilhança na tese aventada pelo
GDF, que busca, tão somente, protelar o aporte mensal ao qual se
obrigou.” (Grifei)

Saliente-se, ainda, que a pretensão do reclamante de execução do


Plano de Pagamento de Precatórios a partir de repasses semestrais de
percentuais consolidados da receita corrente líquida não guarda qualquer
pertinência com o texto constitucional. Com efeito, nos termos do artigo
101 do ADCT, os depósitos nas contas especiais de precatório devem ser
realizados mensalmente, não havendo margem de interpretação apta à
corroborar a possibilidade de pagamento de forma semestral ou anual.
Além disso, o Plano de Pagamento de Precatórios é novidade concebida
pelas ECs 94/2016 e 99/2017, motivo pelo qual o pedido formulado na
presente reclamação não possui qualquer aderência com aquilo que ficou
decidido nas ADIs 4.357 e 4.425, que dizem respeito à EC 62/2009.
Ao prestar informações, a Presidência do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios (Petição STF 72.388/2018), consignou:

“A fim de dar cumprimento ao art. 101, caput, do ADCT, com


redação dada pela Emenda Constitucional 99/2017, o Distrito
Federal apresentou ao TJDFT o seu plano de pagamento de
precatórios para o exercício de 2018 (documentos de ID 0499956 e
0501534), o qual foi homologado por essa Presidência, nos
termos da Decisão GPR 0515996, a seguir transcrita:
[…]
O plano de pagamento em referência foi elaborado e homologado
de acordo com a Emenda Constitucional 99/2017, valendo destacar
que foi o próprio Distrito Federal quem indicou o número de
1,85% da receita corrente líquida como o percentual suficiente
para a quitação de seus débitos de precatórios no exercício de
2018.
No referido plano de pagamento, a dívida de precatórios

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consolidada à época foi reduzida em 32% em razão do mecanismo de


compensação tributária, sendo que, na apuração do valor a ser pago
pelo Distrito Federal neste ano de 2018, dividiu-se o débito total e com
desconto por sete, que é o número de anos que falta para a ultimação
do prazo previsto na Emenda Constitucional 99/2017 (2024).
Assim, de acordo com a Decisão GPR 0515996, essa
Presidência: a) fixou que, no ano de 2018, deve o Distrito Federal
efetuar pagamentos mensais no percentual de 1,85% da sua receita
corrente líquida, o que representa o valor anual de cerca de R$
369.142.857,14 (trezentos e sessenta e nove milhões, cento e quarenta
e dois mil, oitocentos e cinquenta e sete reais e quatorze centavos); e b)
autorizou o Distrito Federal a utilizar-se dos valores de depósitos
judiciais em estoque nas instituições bancárias, até o limite de R$
210.000.000,00 (duzentos e dez milhões), a serem prontamente
depositados após a liberação pelas instituições bancárias, de molde a
servir de abatimento do montante a ser saldado, conforme acima
discriminado, no corrente ano de 2018.
Ou seja, foi o próprio Distrito Federal que
voluntariamente majorou de 1,5% para 1,85% o
comprometimento da sua receita corrente líquida para
quitação de precatórios, bem como indicou, em seu plano de
pagamento, instrumentos, como depósitos judiciais e compensação
tributária, previstos na Emenda Constitucional 99/2017 e inexistentes
na Emenda Constitucional 62/2009 ou declarados inconstitucionais
pelo STF nas ADI´s 4.357 e 4.425.
[…]
O Distrito Federal, regido pelo regime especial a que alude os
artigos 101 e seguintes do ADCT, com redação dada pela Emenda
Constitucional 99/2017, descumpriu o plano anual de pagamento
de precatórios do exercício de 2018, encontrando-se em mora
quanto aos repasses para a conta de precatórios.
[…]
De fato, a mitigação pretendida pelo Distrito Federal, além de
não encontrar respaldo jurídico, também reflete negativamente na
redução do estoque da dívida de precatórios.
Primeiramente, frisa-se que a proposta de ‘repasses de

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percentuais consolidados da receita corrente líquida em


recortes semestrais’ (grifo nosso), indicada em manifestações
anteriores do Distrito Federal e na reclamação ora em exame, não
possui respaldo constitucional. De acordo com o art. 101 do
ADCT, os depósitos nas contas especiais de precatório devem
ser realizados pelo ente devedor mensalmente. Dessa forma, não
há autorização constitucional para que os recursos
orçamentários próprios sejam utilizados apenas ao final de um
semestre. A questão da periodicidade mensal dos depósitos nas contas
especiais dos Tribunais de Justiça, a serem realizados pelos entes
devedores, para quitação de precatórios no regime especial de
pagamento, é bem clara na Constituição, não podendo ser objeto de
flexibilização.
Em relação à questão do acordo direto (Edital n.1 da Câmara de
Conciliação de Precatórios), não há indicativos seguros de que,
realmente, será alcançado o valor de R$ 100.000.000,00 (cem milhões
de reais) em acordos diretos. De todo modo, mesmo que se tenha
sucesso com esse primeiro edital de acordo direto, a economia prevista
de R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de reais) não será suficiente
para cobrir a dívida gerada, neste ano de 2018, com correção
monetária e juros de mora sobre o estoque de precatórios existentes.
Quanto à utilização de crédito de precatórios para compensação
tributária, esta Coordenadoria reitera que, no plano de pagamento
apresentado pelo Distrito Federal, já foi prevista uma redução de 32%
(trinta e dois por cento) da dívida consolidada de precatórios com essa
modalidade de pagamento, de modo que, no momento, não parece
razoável e adequado, por ausência de evidências concretas, que esse
percentual de redução deva ser aumentado.
Por fim, a existência de saldo nas contas de precatórios não é
motivo para impedir a cobrança dos depósitos mensais previstos no
art. 101 do ADCT, justamente porque a dívida total de precatórios do
Distrito Federal, que deve ser quitada até 2024, é bastante superior
aos valores atualmente existentes nas contas especiais.” (Grifei)

Dessa forma, divergir do entendimento da Presidência do Tribunal


de Justiça do Distrito Federal e Territórios demandaria o reexame do

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conjunto fático–probatório, o que se revela inadmissível na via


reclamatória. É que, se a Presidência do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios valorou bem ou mal as provas apresentadas
administrativamente, tais matérias não podem ser submetidas à
jurisdição do Supremo Tribunal Federal em sede de reclamação,
porquanto não se pode aqui revolver matéria fática.
Ainda que assim não o fosse, o mero descumprimento do Plano de
Pagamento de Precatórios, mercê de ter sido elaborado com base na EC
99/2017, não atrai a competência originária desta Suprema Corte para
análise do feito, tampouco legitima o cabimento do instituto da
Reclamação, nos moldes do artigo 988 do CPC/2015.
Por fim, observo que a parte reclamante não cumpriu integralmente
os requisitos da petição inicial, uma vez que não atribuiu valor à causa na
forma exigida pelo artigo 292 do Código de Processo Civil de 2015. Na
eventualidade de interposição de recurso desta decisão, seu
conhecimento fica condicionado ao saneamento do defeito juntamente
com a peça recursal, oportunidade em que se procederá à análise de sua
correção e eventual juízo de adequação (artigo 292, § 3º, do CPC/2015).
Ex positis, com fundamento nos artigos 932, inciso VIII, do CPC/2015
e 161, parágrafo único, do RISTF, NEGO SEGUIMENTO à presente
reclamação, ficando prejudicado o pedido de medida liminar.
Publique-se.
Brasília, 09 de novembro de 2018.
Ministro LUIZ FUX
Relator
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